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sexta-feira, 20 de maio de 2011

20 de maio de 2011 - O GLOBO


PRIMEIRA PÁGINA
Manchete: Obama defende Palestina com fronteiras pré-1967
Israel e Hamas rejeitam discurso histórico sobre revoltas árabes

O presidente dos EUA, Barack Obama, conseguiu o que poucos julgavam possível: juntou Israel e o grupo radical Hamas do mesmo lado - nas críticas ao seu histórico pronunciamento sobre as revoltas árabes, em que apoiou a criação de um Estado palestino baseado nas fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias, em 1967. Foi a primeira vez que um presidente americano fez uma declaração explícita nesse sentido, numa guinada na política de alinhamento automático com Israel. "A viabilidade do Estado palestino não pode ser às custas da existência de Israel", reagiu em nota o premier israelense, Benjamin Netanyahu. No discurso, Obama fez um mea culpa da política americana para o Oriente Médio, ressaltando que os EUA priorizaram a estabilidade na região, em detrimento das aspirações da população local por democracia, e garantiu apoio às revoltas árabes.


DESMATAMENTO DA AMAZÔNIA
Exército contra desmatamento
Militares participarão de operações na Amazônia, e mais nove municípios vão para lista suja

Catarina Alencastro e Isabel Braga



Um dia depois de anunciar crescimento de 27% no desmatamento da Amazônia, o governo decidiu mobilizar o Exército na estratégia de combate à devastação, que cresce muito rapidamente, principalmente no Mato Grosso. A decisão foi tomada pelo gabinete de crise, que reuniu ontem, por mais de duas horas, cinco ministros: Izabella Teixeira (Meio Ambiente), José Eduardo Cardozo (Justiça), Nelson Jobim (Defesa), Fernando Bezerra (Integração Nacional) e o general José Elito Carvalho Siqueira (Gabinete de Segurança Institucional). Izabella Teixeira não quis revelar detalhes das novas operações com a presença de militares do Exército, para evitar que os desmatadores se preparem para reagir à ofensiva.
- Sufocar o desmatamento ilegal é ordem da Presidência. Todas as instituições estão voltadas para sufocar o desmatamento na Amazônia. A determinação é ir para acabar com o desmatamento ilegal. Teremos ação do Exército. Todo o governo federal estará com esforço concentrado para combater o crime ambiental - disse a ministra.
Nove municípios serão incluídos na lista dos que mais desmatam a floresta amazônica. A lista suja hoje conta com 22 municípios, que estão proibidos de conceder novas autorizações de desmatamento. Izabella classificou de inaceitável o desmatamento registrado em Mato Grosso, que teve 733 quilômetros quadrados de floresta derrubados. Para lá, já foram deslocados mais de 500 homens de Ibama, Força Nacional de Segurança e Polícia Federal. Ela não quis estabelecer nenhuma relação entre o enorme aumento da devastação e a iminência da reforma do Código Florestal, que está prestes a ser votada na Câmara.

Aldo culpa fiscalização
Segundo Izabella, a Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso está preparando um relatório sobre possíveis causas do aumento das infrações. No entanto, fiscais que estão em campo disseram que o desmatamento foi feito às pressas por produtores que esperam ver essas novas áreas abertas legalizadas, após a mudança da legislação. ONGs ambientalistas também disseram haver clara ligação entre a perspectiva de impunidade que a votação do Código tem provocado e os dados divulgados na quarta-feira.
O relator do projeto na Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), refutou esta interpretação, afirmando que o desmatamento ocorreu porque a fiscalização do Ibama contra o crime ambiental é ineficaz. Ele desafiou Izabella a encontrar a justificativa para explicar o que aconteceu na Amazônia, onde o desmatamento vinha caindo desde 2008:
- Espero que ela (Izabella) arranje uma resposta cabível e que o Ibama se torne uma burocracia mais eficaz para fiscalizar desmatamento ilegal, o que não tem conseguido. O que aconteceu na Amazônia é que há um órgão responsável pela fiscalização que, lamentavelmente, não tem eficácia para coibir o desmatamento ilegal, que ele sabe aonde acontece todo ano. Um órgão que, em vez de fiscalizar o desmatamento ilegal, está mais preocupado em multar pequenos agricultores, que sobrevivem de seu trabalho.
A ministra evitou polemizar com Aldo, com quem ainda negocia o Código Florestal. Mas negou que o Ibama falhe em combater o problema:
- Dizer que o governo não agiu está errado, tanto que o desmatamento foi localizado, concentrado em áreas privadas. Saímos de um desmatamento de 24 mil quilômetros quadrados (em 2003 a taxa superou 25 mil quilômetros quadrados) para seis mil quilômetros quadrados em 2010. O Brasil tem um Plano de Combate às Mudanças Climáticas que vem sendo cumprido.
Os dados do Ministério do Meio Ambiente dão conta de que nos últimos nove meses houve um incremento de 27% no desmatamento da Amazônia Legal, que compreende oito estados de Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, foram derrubados pelo menos 1.848 quilômetros quadrados de floresta - área maior do que a da cidade de São Paulo. Com relação ao Código Florestal, ontem prosseguiram as conversas sobre o texto que deverá ser votado na terça-feira. Em nome da base aliada do governo, o PMDB fechou um acordo com a oposição sobre o destaque que será apresentado ao texto do relator. Ficou acertada, com o consentimento de Aldo, uma emenda que possibilita a manutenção de uma série de atividades agropecuárias em Áreas de Preservação Permanente (APPs) e ainda dá aos estados a prerrogativa de fazer novas concessões. O Programa de Regularização Ambiental (PRA), que define regras sobre onde pode haver pastos e lavouras e como recuperar o que continua proibido, deixa de ser exclusividade da União, como o governo queria, e passa a poder ser elaborado também pelos estados.
- A emenda passou a ser da oposição e da base - explicou Aldo.
A ministra do Meio Ambiente evitou comentar o acerto fechado na Câmara, argumentando desconhecer a emenda acordada entre os parlamentares:
- Estou mergulhada no gabinete de crise. Não sei o que está acontecendo no Congresso.
Embora já haja acerto, o líder do governo, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), afirmou que o governo continuará tentando convencer a base aliada de que o melhor é a aprovação do texto apresentado pelo relator. Na versão do relatório apresentada em plenário no último dia 11, não constavam esses pontos. A emenda vem sendo chamada pelo Greenpeace como "emenda da anistia".


FORÇA DE PACIFICAÇÃO DO EXÉRCITO
Sinal verde e rosa para a UPP
Policiais fazem operação na Mangueira, abrindo caminho para a pacificação do morro

Duilo Victor, Liane Gonçalves e Sérgio Ramalho

Uma operação que envolveu 115 policiais militares ontem de manhã na Mangueira abriu caminho para a ofensiva contra tráfico que antecede a instalação de mais uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no Rio. O resultado da incursão, que envolveu homens de quatro batalhões e do Batalhão de Operações Especiais (Bope), foi a apreensão de drogas e a descoberta de um túnel de 200 metros, com revestimento e iluminação para abrigar traficantes. A mobilização foi ordenada pelo comando-geral da PM e faz parte da estratégia de enfraquecimento do tráfico para a retomada daquele território. Hoje já são 17 UPPs instaladas, além da ocupação dos complexos do Alemão e da Penha, que devem ganhar dez unidades até o fim do ano.
Com a futura UPP da Mangueira, fecha-se o cinturão de segurança no entorno do Maciço da Tijuca. A unidade pacificadora na favela permitirá também que o trajeto entre a Zona Sul, o Centro e o Estádio do Maracanã - arena da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016 - seja percorrido sem que se passe ao lado de favelas sob o domínio de traficantes. O Morro da Mangueira fica a menos de 1km do estádio e da Uerj.

Rota de fuga por galeria pluvial
Na operação de ontem, o túnel foi descoberto nos fundos de uma fábrica desativada na Rua Visconde de Niterói. De acordo com a delegada Monique Vidal, da 17ª DP (São Cristóvão), peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) constataram, preliminarmente, que os traficantes usaram uma antiga galeria de águas pluviais de uma fábrica de cerâmica desativada, transformando o canal num túnel com saídas para diferentes pontos da comunidade. Uma delas fica próximo ao Buraco Quente, principal ponto de venda de drogas da favela. Segundo a delegada, os bandidos elevaram o piso, que ganhou revestimento de madeira, e iluminaram a galeria. No túnel, os policiais do Bope encontraram uma metralhadora .30 (antiaérea) e 157 projéteis, além de três barracas de camping. Os policiais também acharam 25 tabletes de maconha no Buraco Quente, perto de uma das entradas do morro. Não houve troca de tiros.
De acordo com o comandante do 4º BPM (São Cristóvão), tenente-coronel Vinícius Melo, o objetivo da operação era cumprir 25 mandados de prisão e checar informações passadas ao Disque-Denúncia sobre esconderijos de drogas e armas. Mas nenhum mandado foi cumprido. Há suspeita de que os bandidos tenham fugido para o vizinho Morro do Tuiuti, onde o tráfico de drogas é controlado pela mesma facção. Por volta das 17h, segundo o comandante, policiais militares foram checar a informação de que os mesmos bandidos estariam voltando à Mangueira, o que não se confirmou.
Na operação, policiais prenderam um homem identificado como Capoeira, mas sem ligação com as ordens de prisão emitidas pela Justiça. Segundo a polícia, ele roubava pertences de estudantes nas proximidades do Maracanã e da Uerj. Com ele foram encontrados joias, relógios, cordões, anéis e um laptop.
O túnel serviria de esconderijo para o traficante Alexander Mendes da Silva, o Polegar da Mangueira, que está foragido e é apontado pela polícia como um dos criminosos mais perigosos do Rio. De acordo com investigações, foi Polegar quem recebeu a ordem do traficante Marcinho VP, que estava no Presídio de Catanduvas (PR), para organizar na cidade uma onda de violência em novembro do ano passado. Sobrinho do traficante Francisco Paulo Testas Monteiro, o Tuchinha, que durante anos comandou o tráfico na Magueira e está preso, Polegar ficou conhecido por uma ação ousada, em 2001, quando comandou o ataque ao prédio da Polinter, na Zona Portuária, permitindo a fuga de 14 presos. Segundo a polícia, Polegar esteve escondido no Alemão até o complexo ser ocupado pelas Forças Armadas, em novembro do ano passado. A casa onde o traficante vivia foi transformada em posto de segurança da Força de Pacificação do Exército.
Em setembro passado, ao anunciar uma UPP na Mangueira, o governador Sérgio Cabral se emocionou ao falar da favela, onde fica a escola de samba pela qual torce:
- Eu hei de voltar ao Buraco Quente para tomar uma cerveja depois do samba, como eu fazia no passado.
Ainda na Zona Norte, policiais do 41º BPM (Irajá) fizeram uma operação no Morro do Cajueiro, em Madureira. Um traficante foi preso, e uma carabina calibre 9mm foi apreendida pelo 41º BPM (Irajá). Segundo o comandante do batalhão, tenente-coronel Alexandre Fontenelle, o traficante identificado como Marcola era um dos alvos da operação. O oficial disse que ele é o segundo na hierarquia do tráfico nessa favela.


Chefe do tráfico no Borel é preso no Alemão

Apontado pela polícia como chefe do tráfico do Morro do Borel, na Tijuca, onde existe uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) desde junho do ano passado, Moisés Timóteo da Silva Lisboa, de 23 anos, escolheu outra área pacificada para se esconder. Ele foi preso ontem num bar, na Rua Canitar, na Fazendinha, no Complexo do Alemão, onde estava com a mulher.
O criminoso seria o responsável pelo ataque sofrido pelo médico Lídio Toledo Filho, em dezembro de 2008, na subida do Alto da Boa Vista, após uma tentativa de assalto. Segundo a polícia, que vinha monitorando os passos de Moisés, a casa escolhida pelo traficante no Alemão fica perto de uma das bases do Exército, que ocupa o complexo. Os policiais pediram autorização aos militares para cumprir três mandados de prisão contra Moisés, por tráfico, roubo e receptação. Na delegacia, ele admitiu que abandonou o Borel há um mês para se esconder no Alemão.
No complexo, anteontem uma família teve que retirar todos os seus móveis e utensílios de casa porque estava sendo ameaçada pelo tráfico após a morte de um de seus membros, o eletricista Wallace Moreira Amorim, executado com 13 tiros em 4 de maio.


Um plano para inclusão das favelas
Iniciativa do Fórum Nacional pretende integrar asfalto e 20 comunidades do Rio

Danielle Nogueira

Foi lançado ontem, durante o XXIII Fórum Nacional, no Rio, o Plano de Desenvolvimento Para Inclusão Social, que pretende promover a integração socioeconômica entre o asfalto e 20 comunidades cariocas, entre elas Rocinha, Complexo do Alemão e Maré. Uma das ideias é articular projetos de qualificação de mão de obra que permitam aos moradores serem incorporados à cadeia produtiva de atividades e serviços fora das favelas.
A iniciativa foi anunciada pelo ex-ministro do Planejamento João Paulo Reis Veloso, que organiza o fórum, e pretende promover o desenvolvimento das comunidades de forma sustentável e com a participação dos moradores. Ela surgiu justamente a partir da constatação de que muitas intervenções do Estado nas favelas se dá de forma descontinuada e fragmentada.
- As intervenções públicas nas favelas se caracterizam por ações pontuais e descontínuas. E a participação dos moradores, em geral, existe apenas para legitimar decisões - disse o sociólogo Paulo Magalhães, um dos coordenadores do plano e que participou ontem do fórum.
Para ilustrar a descontinuidade e a falta de articulação das ações públicas, Magalhães citou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que tem entre suas ações a construção de moradias populares. Muitos moradores, diz, recebem as casas, mas acabam as abandonando pois o programa habitacional não é acompanhado de um programa de geração de renda. Nas novas casas eles têm de pagar por luz, água e outros serviços aos quais tinham acesso informalmente (os "gatos"). Como o aumento das despesas - ainda que com tarifas sociais - não se dá em paralelo à elevação da renda, o resultado, muitas vezes, é o retorno à informalidade.
Ainda estão sendo estudadas possibilidades de financiamento para o plano. Entre as opções estão BNDES, empresas (como a mineradora Vale) e entidades como a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).


FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL
Reserva em Guaratiba com ares de fortaleza
Unidade terá 200 soldados do Exército como guarda-parques, mais que o dobro dos 80 que protegem outras 13 no estado

Cláudio Motta

A Reserva Biológica de Guaratiba, com 3.600 hectares, é a unidade de conservação mais bem protegida do estado. No local, vão atuar 200 soldados do Exército: um homem para cada 18 hectares. Os militares do Centro Tecnológico do Exército (CTEx), que fica na Avenida das Américas e é cercado pela reserva, concluíram ontem o treinamento do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) para atuar como guarda-parques no local. Além de combaterem focos de incêndio e pesca irregular, eles promoverão ações de educação ambiental e farão inspeções diárias para impedir invasões.
O panorama nas outras unidades de conservação, no entanto, é bem diferente. No total, são 12 estaduais e duas municipais (incluindo a de Guaratiba), ocupando 166.800 hectares. Porém, há somente 80 guarda-parques, todos bombeiros. Portanto, a relação é de um homem para cada 2.085 hectares. O diretor de Biodiversidade do Inea, André Ilha, reconhece a falta de pessoal, mas alega que um concurso público será realizado ainda em 2011 para 220 novos profissionais. Mesmo quando houver a contratação, serão 556 hectares para cada agente.
- Não está formalmente descrito na parceria do Inea com o Exército, mas, se houver necessidade, poderemos pedir ajuda dos militares para combater grandes incêndios em outras unidades - disse Ilha, lembrando que bombeiros do Rio já combateram fogo em matas de Roraima, ao lado de militares.
O Inea manterá sua responsabilidade sobre a reserva de Guaratiba. Mas o Exército fará o trabalho de campo. Quando houver qualquer ocorrência, o Inea será chamado e assumirá o caso.
- Vamos ter condições excepcionais de fiscalização em Guaratiba. A pesca clandestina é um grande problema na unidade. Contaremos com uma nova embarcação e instalaremos cabos de aço para impedir a navegação de pesqueiros. Além disso, há o combate a incêndios, que geralmente vêm de fora da reserva - disse Ilha.

Visitas só podem ser feitas com objetivos educacionais
Quem passa pela Avenida das Américas, depois da Grota Funda, no sentido Campo Grande, muitas vezes não percebe que, do lado esquerdo, há uma importante reserva, que protege o manguezal do fundo da Baía de Sepetiba. Para aumentar a visibilidade, 14 placas informativas estão sendo colocadas ao longo dos 18km de cerca da unidade. Outro fator que pode contribuir para o isolamento da reserva é seu regime de preservação - proteção integral -, que só permite visitas com objetivo educacional. Ou seja, visitantes em busca de atividades de lazer não podem entrar.
Com a construção do Túnel da Grota Funda e o esperado crescimento da região de Guaratiba, a expectativa dos ambientalistas é que aumente a pressão sobre a unidade. Outro fator considerado estratégico é a formação dos soldados em combate a incêndio antes da estação das secas.
Responsável pela área ambiental do CTex, o capitão Tércio Brum diz que não é possível dizer quanto será gasto no novo trabalho do Exército, uma vez que não haverá um orçamento novo ou diferente do custo de manutenção da unidade.
- Vamos estar sempre de prontidão. O militar sabe que pode ser acionado a qualquer hora. O Exército precisa de áreas para treinamento. Nossa preocupação é manter o bem público. Temos a tarefa de preservar o meio ambiente - diz Brum.
A sede da reserva de Guaratiba fica na Estrada da Matriz 4.485. Caracterizada pelos manguezais, um dos mais preservados do estado, a unidade foi o último local de ocorrência do guará, ave que originou o nome Guaratiba (abundância de guarás), segundo o Inea. Foram encontrados no local 34 sambaquis, nos quais há vestígios de grupos pré-históricos.


JOGOS MILITARES
Ronaldo e Dimba na seleção que teve Pelé
Equipe das Forças Armadas que vai representar o país, em julho, conta com ex-atletas profissionais incorporados à rotina dos quarteis

Ary Cunha

É possível que Ronaldo seja  titular no amistoso contra a Holanda. Para isso,  terá de roubar a vaga de Dimba. Numa seleção brasileira que já teve Pelé, a camisa 10 hoje pertence a Fábio Augusto. Quem escala o time é um oficial de alta patente das Forças Armadas, que promoveu um sargento a capitão, e ninguém se atreveu a reclamar. Ontem, enquanto Mano Menezes anunciava, num hotel da Zona Sul, a  lista de convocados para dois amistosos que antecedem a Copa América, o tenente-coronel Davi Teixeira comandava, num quartel da Marinha, na Avenida Brasil, mais um coletivo da equipe que representará a delegação anfitriã nos V Jogos Mundiais Militares, de 16 a 24 de julho, no Rio.
Ronaldo e Dimba, é bom que se explique,  têm muito pouco a ver com seus homônimos dos gramados. No caso do camisa 9  da  tropa, o  físico  esbelto contrasta com a  forma  roliça do Fenômeno,  que  fará seu  jogo  de despedida da seleção contra a Romênia, dia 7. Morador de São João de Meriti, o sgt. Ronaldo disputa competições militares desde 2005, mas seus gols nunca lhe garantiram status de ídolo.
— Aqui ninguém tem regalia. Para mim, Ronaldo e Romário foram os melhores. No caso do meu xará, a maior diferença é mesmo na conta bancária — brinca.
Já o potiguar cabo Alexandre  jura que seu apelido surgiu quando Dimba desandou a fazer gols pelo Goiás. Há outra versão no quartel.
— Ele é feio demais, como o Dimba — alfineta o sgt. Diógenes, preparador físico e tio do goleiro Felipe, do Flamengo.
— Meu irmão fez de tudo para ele ser militar. Mas o Felipe era muito chorão.
Dentro de campo, nem sempre as patentes prevalecem. Já  campeão do mundo, o soldado Pelé  integrou a seleção militar, em 1959. No grupo atual há de soldado a capitão, com média salarial de R$2.500. Para quem viveu dias de glória em clubes, a rotina militar é uma experiência singular.
— Aqui não tem roupeiro. Cada um leva seu uniforme para lavar, sua chuteira. Presto continência para todo mundo. Vai que é oficial e eu não sei... — brinca o ex-lateral Bruno Carvalho, ex-Vasco e seleção. Recuperado de lesão, ele está na reserva. — É que nem clube. Tem que brigar pela vaga.
Ele e Fábio Augusto, que defendeu Corinthians e Flamengo, são os mais conhecidos entre os ex-jogadores das Forças Armadas. A braçadeira de capitão ficou com sgt. Luiz Fernando, ex-zagueiro do Bahia:
— Não há vaidade. Se o cara faz três gols, no dia seguinte continua sendo soldado.
O goleiro titular é Brás, ex-Americano e campeão da Taça GB, no Caixão-2002.
— O Caixa d’Água era torcedor ferrenho do Americano. Tinha jogo em Campos que o apito ajudava — admite.

Teste nada animador
O Brasil está no Grupo A dos Jogos, com Argélia, Emirados Árabes e Suriname. No fim do mês, o time viaja para jogar amistosos na Holanda. No confronto mais recente, faltou munição à tropa de elite: 5 a 1 para os reservas do Vasco.
— Estávamos há 24 partidas invictos. Foi bom para a rapaziada baixar um pouco a bola — justificou o treinador


DEMANDA POR VOOS
Procura por voos cresce mais de 30% em abril
Alta foi maior que no mês anterior. Alitalia e Emirates criam rotas diretas para Roma e Dubai

Num cenário de aeroportos já saturados, a demanda por voos no mercado doméstico acelerou em abril, pressionando ainda mais a infraestrutura do setor no país. O aumento foi de 31,45% em abril, em comparação com o mesmo mês do ano passado, segundo  dados da Agência Nacional  de Aviação Civil (Anac) divulgados ontem. A alta  foi maior que a registrada  em março  (25,48%). A TAM  abocanhou  fatias  de mercado  das  concorrentes Gol/Varig, Azul  e Webjet  e consolidou a liderança. Em abril, a companhia  ficou com 44,52% dos voos domésticos, ante 41,84% do mês anterior (os dados incluem a Pantanal). As outras três perderam espaço. A participação da Gol/Varig no mercado doméstico caiu de 38,83% em março para 36,47% em abril. A da Azul recuou de 7,71% para 7,47%. E a da Webjet, de 5,41% para 5,19%.
A demanda nos voos internacionais operados por empresas brasileiras cresceu 34,88% em abril ante alta de 17,24% em março. A  taxa de ocupação nos aviões  foi de 81,13% mês passado. Nos voos domésticos,  ficou em 73,37%. Em ambos os casos, os índices superaram os de março.
Acompanhando a demanda, a oferta de voos  também está crescendo. A Alitalia começa em 2 de  junho a voar para Roma, diretamente do Rio. A rota foi interrompida em 2001, depois que os atentados de 11 de Setembro afetaram em cheio as companhias aéreas. Serão quatro voos semanais e, no ano que vem, a frequência deve ser diária:
— No mesmo dia começa uma rota direta para Pequim. Não por acaso, são dois países dos Brics (Brasil, Rússia, Índia,
China e África do Sul) — afirmou Alessandro Innocenzi, vice-presidente de Vendas para a América Latina da Alitalia.
Segundo a empresa, 70% dos voos para junho já estão lotados e 80% para  julho. As passagens de ida e volta custam de US$989 na econômica a US$3.664 na primeira classe
A Emirates também anunciou rotas diretas do Rio para Dubai. Serão voos diários a partir de janeiro de 2012. Para Dubai, o preço varia de US$2.264 a US$15.025.


TRAGÉDIA DO VOO 447
Pilotos do 447 evitaram turbulência
Segundo ministro francês, acidente será esclarecido até o fim de junho

A análise das caixas-pretas do voo AF 447, que caiu no Oceano Atlântico em 2009 matando 228 pessoas, mostrou que os pilotos do avião da Air France evitaram zonas de  turbulência. A informação é do  jornal francês  “Le Parisien” e põe em dúvida a hipótese de que a aeronave enfrentou uma tempestade. Citando uma fonte próxima à investigação, a rádio Europe 1 também informou ontem que a tripulação conseguiu contornar as nuvens (áreas de turbulência).
Os investigadores afirmaram que havia um aglomerado de nuvens cúmulos-nimbos na região no dia do acidente. Várias aeronaves que passaram pelo local, antes e depois do Airbus da Air France, também alteraram seu curso para evitar a área de turbulência. Uma reportagem do jornal “Le Monde” concluiu ontem que não houve erro de pilotagem e  levantou duas hipóteses: a empresa Airbus não teria levado em conta a possibilidade de o A330 perder altitude de repente ou a Air France não teria treinado os pilotos para tal cenário.
As  causas  do acidente  poderão  ser  finalmente conhecidas  no mês  que vem. A  informação,  do ministro  francês  de Transportes, Thierry Mariani, foi dada a uma rádio francesa.
— Penso que saberemos no final de junho — declarou Mariani à emissora France Info.
As previsões iniciais apontavam para uma resposta durante o verão francês, que começa em finais de junho e termina na última semana de setembro. Ontem, em entrevista coletiva realizada em Paris, o diretor-geral da Air France, Pierre-Henri Gourgeon, lembrou que um acidente é sempre a combinação de vários elementos e que ainda não é possível determinar os responsáveis pela queda  do  avião.  Perguntado  se  isso  significava  que  o  inquérito  estava  se  encaminhando  para  uma  partilha  de responsabilidades, Gourgeon disse que, em segurança de aviação, não se trata de quem é responsável, mas sim de garantir que um acidente não aconteça novamente.


PARCERIA DOS CORREIOS COM A EMBRAER
Correios investirão até R$1 bi para criar aérea com aviões da Embraer
CorreiosLog poderão comprar fatia de companhias já existentes ou formar PPP

Geralda Doca

BRASÍLIA. Os Correios investirão entre R$800 milhões e R$1 bilhão, inicialmente, na criação de sua empresa aérea de transporte de carga, já batizada de CorreiosLog. Já está certo que a estatal vai comprar aviões da Embraer (com prazo de dois anos para entrega) para fazer a subsidiária decolar. A fabricante fará a manutenção da frota - que poderá ser de 15 aeronaves. O objetivo da parceria dos Correios com a Embraer é reduzir custos, incentivar a indústria nacional e gerar empregos.
A logística de transporte é um dos problemas mais graves da estatal postal. Estudos dos Correios indicam que a capacidade da empresa de entregar as correspondências (faturas, contas e boletos) dentro do prazo se esgotará em um ano e meio.
Para colocar a CorreiosLog no ar, existem sobre a mesa dois caminhos. O mais rápido é comprar 20%, ou mais, de empresas que já operam no ramo. O outro é abrir uma licitação para formar uma Parceria Público-Privada (PPP), o que exigiria o cumprimento de ritos como audiência pública e leilão.
A equipe técnica dos Correios defende a compra de parte de empresas, porque elas já dispõem de terminais de carga, autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), aviões e tripulação. O plano não prevê que a estatal detenha o controle dessas companhias, mas participe da gestão, com assento nos conselhos de administração.
Já o Ministério das Comunicações avalia que o melhor caminho seria criar uma PPP. Ainda que mais demorado, esse processo asseguraria investimentos por parte do parceiro privado. Caso os Correios optem por comprar parte de empresas com as quais já têm contrato, por exemplo, precisariam gastar para renovar a frota.
Devido a limites ao capital estrangeiro (20%), não se cogitam parcerias com concorrentes internacionais, como a Fedex e a DHL, por exemplo. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, deu prazo de seis meses para que a direção dos Correios defina o modelo e aprove o plano de negócios, de forma que a subsidiária cargueira comece a operar até o primeiro semestre de 2012.

Trechos importantes estão sem cobertura para entregas
Atualmente, há linhas importantes, em termos de demanda, que estão sem cobertura: os Correios não têm contrato regular com cargueiras para levar encomendas de São Paulo para o Nordeste, bem como Brasília e o restante do Centro-Oeste.
No trecho São Paulo-Brasília-Manaus, um dos mais importantes do país devido à Zona Franca, só há um avião operando, segundo fontes da empresa. Sem parceiros fixos, os Correios são obrigados a contratar diariamente espaços nos aviões de transporte de passageiros, o que gera um gasto mensal de R$4,6 milhões. Um estudo concluído recentemente pela empresa aponta que a criação de uma subsidiária aérea, com hub (centro de distribuição de rotas) em São Paulo, onde se concentram 50% das cargas, é o melhor caminho para reduzir despesas e aumentar a participação no mercado de encomendas. O Rio responde por 8%, e os demais destinos, 42%.
O novo plano de negócios prevê a conquista de 50% do mercado de encomendas até 2014, com operações noturnas domésticas e internacionais. O objetivo é transformar os Correios em uma companhia de classe internacional até 2020. Segundo um relatório dos Correios, a maior empresa do mundo em termos de volume de carga, a Fedex, faz 165 voos por dia e entrega 1,5 milhão de encomendas em vários países. Os correios americanos operam em parceria com a empresa, que é sua concorrente. Já os correios da Alemanha e da Holanda se transformaram em corporações internacionais, a DHL e a TNT Air Way, respectivamente.


ANCELMO GOIS

Céu engarrafado
Acredite: 47  jatos foram para a  Ilha de Comandatuba, BA, para o 9º Encontro de Empresários da América Latina-Pais e Filhos, aberto por Lula, quarta. Foi um caos aéreo. Muitos vips esperaram horas a autorização para decolar rumo à Bahia.

Segue...
Na Copa de 14 e nas Olimpíadas de 16, este tipo de engarrafamento ameaça ocorrer.  Na Copa da África, no jogo Brasil x Portugal, cinco aviões comerciais, com cerca de 1.000 torcedores, não conseguiram pousar em Durban por causa do excesso de jatos de bacanas.


FALSO MILITAR
Falso coronel é preso em frente ao CML
Ele é acusado de matar a mulher

Marcelo Dutra

Integrantes da Polícia do Exército prenderam ontem à  tarde, em  frente à sede do Comando Militar do Leste (CML), no Centro, um falso oficial. Ao ser abordado, ele se identificou como “coronel do Exército em missão sigilosa”. Usava camiseta e  calça de  camuflagem,  além de  coturnos marrons,  da  Brigada Paraquedista. O  que o  denunciou  foi  o  fato de  estar ostentando  insígnias  de unidades militares diferentes  e até  da Polícia Federal. Na  4ª DP  (Central do Brasil), policiais descobriram que o falso coronel é, na verdade, o engenheiro David Torres Monteiro, de 30 anos, acusado de assassinar a facadas a mulher, Ana Lúcia de Mello Homem, de 40. O crime ocorreu em Itaguaí, em 2010. David responde em liberdade ao inquérito sobre o caso.
Com David Monteiro os policiais civis encontraram ainda documentos falsos que o identificavam como  juiz do Superior Tribunal Militar e também corregedor-geral de Justiça.
— Ele aparenta ter distúrbios mentais. Recebia salários de R$8 mil em carteira antes de surtar. Agora, vai  responder a inquérito por falsidade ideológica e confecção ilegal de documentos. Só por esses crimes, pode ser punido com seis anos de cadeia — afirmou o delegado Henrique Pessoa.


TRÁFICO EM AEROPORTO
Traficantes são presos no Santos Dumont
Grupo despachou em malas 66kg de maconha; em outra operação, mulher foi detida com 5kg de cocaína

Em duas ações raras, por não se tratar de uma porta usual de entrada de drogas, seis pessoas foram presas ontem no por tráfico no Aeroporto Santos Dumont. Cinco traziam de São Paulo 88 tabletes de maconha em seis malas, enquanto uma mulher vinha de Campo Grande (MS) com cerca de cinco quilos de cocaína. As operações foram realizadas por inspetores da Superintendência Geral de Inteligência do Sistema Penitenciário (Sispen), com apoio da 21a- Promotoria de Investigação Penal (PIP), do Ministério Público.
Segundo agentes que participaram da ação, a apreensão de maconha foi possível graças a escutas telefônicas, autorizadas pela Justiça, nas quais um preso foragido negociava as drogas com um intermediário. O nome do criminoso não foi divulgado. Com base nessas informações, a primeira apreensão aconteceu por volta das 12h30m, quando pousou o voo 6761 da empresa Webjet, vindo de São Paulo.

Grupo foi abordado ainda na pista do aeroporto
Ainda na pista, os inspetores abordaram cinco passageiros e revistaram suas bagagens de mão.
— Achei estranho o fato de um deles, por exemplo, estar levando todas as roupas na bagagem de mão. Fomos pegar as malas (despachadas) deles e encontramos as seis, cada uma com 14 quilos maconha — contou um dos agentes.
O bando era formado por três mulheres e dois homens. Os presos são Adrian Gouveia, de 18 anos; Michele Madureira, de 22; Juliana Regina Estanislau; Dênnis Negreiros Gama, de 31; e Uenilson Braga, de 29 anos, este último com uma passagem pela polícia por assalto à mão armada.
Resultado de uma investigação distinta, inspetores da Sispen prenderam, no início da noite de ontem, também no Santos Dumont, Kátia de Souza Silva, de 44 anos, com cerca de cinco quilos de cocaína, após desembarcar do voo 4233, da empresa Azul, vindo de Campo Grande (MS). Kátia e os integrantes do bando preso com maconha foram autuados por tráfico na 5a- DP (Mem de Sá).


IMPOSTO DE RENDA
Queda de braço federal
Petrobras vai à Justiça contra Receita para não pagar R$4,6 bi de impostos em plataformas

Ramona Ordoñez

A Petrobras decidiu ir à Justiça contra a cobrança de R$4,6 bilhões que a Receita Federal está exigindo da estatal. Os recursos se referem ao Imposto de Renda (IR) na fonte que o Fisco diz ser devido sobre o afretamento (aluguel) no exterior de plataformas de perfuração, no período de 1999 a 2002. Mas a Petrobras entende que não deve esse dinheiro, uma vez que as plataformas são embarcações, que têm direito ao Regime de Admissão Temporária. A regra isenta de IR produtos e equipamentos vindos do exterior que vão ficar no país por prazo determinado, como, por exemplo, obras de arte para exposição. A Receita, por sua vez, não considera as plataformas como embarcações e, portanto, quer cobrar o imposto.
-- Agora, a gente vai recorrer no nível judicial. Se plataforma não é embarcação, porque a Marinha do Brasil nos dá licença para operar? A Petrobras vai defender o ponto de vista dela em todos os níveis que forem necessários - revelou ontem o gerente de Relações com Investidores da Petrobras, Hélder Moreira Leite, em reunião com investidores para apresentar o balanço da companhia no primeiro trimestre.

Produção nos EUA ainda não começou
O valor de R$4,6 bilhões não foi provisionado no balanço, mas consta em nota técnica. Isto porque a estatal considera que a discussão em torno do assunto ainda está no início. O executivo afirmou que antes a Receita classificava as plataformas de produção de petróleo como embarcações, o que as isentava de IR. Mas agora a Receita teria mudado a interpretação e passado a entender a plataforma como sendo um equipamento do setor de petróleo, o que exigiria a cobrança. Procurada, a Receita Federal não quis comentar o assunto. Segundo Moreira Leite, a empresa discorda da cobrança e tentou negociar inicialmente, sem sucesso, em nível administrativo com a Receita. Agora, todas as possibilidades de recursos não-judiciais já foram esgotadas.
Na área internacional, a Petrobras ainda não conseguiu as autorizações dos órgãos reguladores americanos para iniciar a produção de petróleo nos campos de Cascade e Chinook no Golfo do México, nos Estados Unidos. Moreira Leite diz que a demora está ocorrendo porque as autoridades americanas aumentaram as exigências para conceder as autorizações, após o acidente do poço da BP na região ano passado. O enorme vazamento da BP tornou-se o maior desastre ambiental da história dos EUA.


NOTAS

Argentino será extraditado
O Supremo Tribunal Federal autorizou a extradição do major do Exército argentino Norberto Raul Tozzo. Ele é acusado de participar do chamado Massacre de Margarita Belén, cidade da província do Chaco, em 1976. No episódio, 22 presos políticos foram executados numa operação conjunta entre o Exército argentino e a polícia local. Os corpos de quatro presos continuam desaparecidos. 
NELSON MOTTA

A lista de Dilma
Uma lista de 120 nomes de companheiros de partido desempregados - porque perderam as eleições ou não sabem fazer nada - para ocupar cargos bem pagos no governo e em estatais não é só uma afronta a 120 profissionais de alto nível, concursados que estudaram, trabalharam, dedicaram sua vida à carreira e se tornaram os melhores em suas áreas. É um prejuízo incalculável ao país.
Os que sabem mais, os mais competentes, que conhecem mais as estruturas e os problemas da área, serão atropelados pela ignorância e a voracidade dos dirigentes partidários e preteridos, na melhor hipótese, por incompetentes, e, na pior, pelos corruptos de sempre, que apodrecem a máquina estatal por dentro.
Como o partido vai falar em democracia, justiça social, direitos humanos, ética, cidadania, igualdade de oportunidades, sem provocar risos e constrangimentos? Encurralados pela evidência dos danos morais e materiais que essa política faz à nação e às instituições, sem argumentos além das "causas" do partido, eles repetem Lula justificando o mensalão: todo mundo faz.
Dizem que Dilma flambou a lista com as labaredas que saíam de sua boca, com adjetivos que não ficavam nada a dever aos piores de Lula. Companheiros, tremei.
É bom demais para ser verdade, ou para durar, mas o suficiente para alegrar os corações democráticos. O provável é que, pressionada, ameaçada e acuada pelo partido, ela acabe cedendo, ao menos em parte, pela governabilidade. Mas já terá sido um avanço para a ética e a eficiência. Dá-lhe, Dilmão!
O aparelhamento partidário do Estado na era Lula provocou novos comportamentos oportunistas entre funcionários de carreira, que se filiaram aos partidos na expectativa de se beneficiarem de cargos e promoções. Assim, quando eles são indicados aos melhores salários e atropelam colegas mais competentes, podem ser apresentados publicamente como funcionários de carreira. Uma mão suja a outra e todos ficam contentes. Só o país perde.
Instituir a meritocracia em todos os níveis da administração pública é muito mais barato e viável, mas muito mais difícil do que acabar com a miséria no Brasil.
NELSON MOTTA é jornalista.


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