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segunda-feira, 23 de maio de 2011

21 de maio de 2011 - O GLOBO


PANORAMA POLÍTICO
Ilimar Franco

Passivo Democrático
O governo quer votar na Câmara, logo após o Código Florestal, a criação da Comissão da Verdade. O ministro Nelson Jobim (Defesa), na foto, almoçou anteontem com parlamentares do DEM para discutir o assunto. Pelo PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já deu sinal verde, mas Jobim ainda vai conversar com as bancadas tucanas. A expectativa é que a comissão sistematize os documentos já revelados sobre a ditadura, verifique as contradições e lacunas, e faça uma prestação de contas à sociedade.


FORÇA DE PACIFICAÇÃO
Troca de fardas no Alemão
PM começa em agosto a assumir complexo ocupado pelo Exército, que sai em 1º de novembro

Antônio Werneck

Dentro de três meses, o cinza e o preto dos uniformes da Polícia Militar começam a se misturar com o verde das fardas do Exército nos complexos de favelas da Penha e do Alemão. A Secretaria de Segurança Pública já tem pronto o planejamento para implantar dez Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nos dois complexos, que estão sob o controle das Forças Armadas desde novembro passado. A transferência das comunidades para a polícia será gradual, ainda com a presença dos soldados nas favelas. O primeiro passo será dado em agosto, seguindo até 1º de novembro, quando os militares deixam o comando da Força de Pacificação e a PM assume.
Segundo fontes da cúpula da secretaria ouvidas pelo GLOBO, a entrada definitiva da polícia nos complexos começa com homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM, numa ação pente-fino no início de agosto. Atuarão conjuntamente com agentes da Polícia Civil para identificar traficantes ainda escondidos e procurar armas, drogas e munição. Também já está certo que, enquanto o Bope estiver esquadrinhando as favelas, militares patrulharão os dois complexos com apoio de novos PMs que começam a chegar à região em agosto. Serão 1.500 novos policiais militares - 500 por mês - até o início de novembro. Depois que o Exército deixar a área, o planejamento prevê mais 400 homens do Bope, totalizando 1.900 policiais. Atualmente o Exército emprega 1.700 soldados e oficiais.

Militares poderão atuar em outras favelas
Mesmo com a saída do Alemão e da Penha, não está descartado o uso das Forças Armadas em outras ocupações, como a Rocinha e o Vidigal. Pelo que deixou claro o ministro da Defesa, Nelson Jobim, basta para isso o governador Sérgio Cabral solicitar ao governo federal. O assunto pautou ontem almoço do general Adriano Pereira Júnior, comandante Militar do Leste (CML), e o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame. Participaram também do encontro, na na sede do CML, no Centro, a chefe de Polícia Civil, delegada Martha Rocha, e o coronel Mário Sérgio Duarte, comandante-geral da PM.
O CML informou ontem, por meio de nota, que está investigando o desaparecimento de um fuzil usado por militares do patrulhamento dos complexos da Penha e do Alemão. O sumiço foi constatado na semana passada, durante a contagem de armas feita de forma rotineira, na troca de guarnições. Os militares trabalham com a possibilidade de a arma ter sido desviada para traficantes. Na nota, o CML declarou que foi instaurado um inquérito policial-militar (IPM) para "apurar as circunstâncias dos fatos e as responsabilidades sobre o ocorrido".
Durante a troca de comando da Força de Pacificação na semana passada, o general Cesar Leme Justo, que deixou o cargo, admitiu que o tráfico continua atuando nas favelas depois da ocupação. Um tráfico que agiria "pontualmente" e sem o "uso ostensivo de armas", segundo ele. O policiamento da região passou a ficar sob a responsabilidade do general Carlos Sarmento, do comando Militar do Sudeste. Foi a equipe dele que deu pela falta do fuzil.

OPINIÃO
Ameniza e não muda

Cristovam Buarque - Cristovam Buarque é senador (PDT-DF)

O Brasil é um país de alta criatividade em políticas sociais, com saídas para amenizar, não para mudar a realidade. A criatividade começou na escravidão, ao invés de aboli-la recorremos à Lei do Ventre Livre. Os escravos sexagenários, os velhos, eram libertados, um eufemismo para abandonados. Até a Abolição da Escravatura aconteceu sem oferecer educação nem terra para os ex-escravos e seus filhos. A Abolição foi um eufemismo para a expulsão dos escravos das fazendas para as favelas. Modernamente também temos sido campeões de imaginação para soluções parciais.
Como o salário não era suficiente para pagar o transporte do trabalhador até o local de trabalho, ao invés de aumento salarial, criamos o vale-transporte, como se fosse um grande benefício social, quando, na verdade, foi um serviço à economia: garantir a presença do trabalhador na fábrica. A regra é a mesma para o vale-refeição. O salário não era suficiente para assegurar a alimentação mínima de um trabalhador, então a solução foi garantir a alimentação do trabalhador, mesmo que suas famílias continuassem sem comida.
Quando a inflação ficou endêmica, ao invés de combatê-la (só enfrentada em 1994), criou-se a correção monetária, que garantia moeda estável para quem tivesse acesso às artimanhas do mercado financeiro, enquanto o povo continuava com seus salários cada vez mais desvalorizados.
Hoje, quando o país vive um apagão de mão de obra qualificada, corremos para fazer escolas técnicas, esquecendo que sem o ensino fundamental os alunos não terão condições de aproveitar os cursos profissionalizantes.
A Bolsa Escola foi criada para revolucionar a escola. Como isso não foi feito, ela se transformou na Bolsa Família, sendo mais uma das soluções compensatórias agregada ao vale-alimentação e ao vale-gás.
As universidades boas e gratuitas são reservadas para os que podem pagar escolas privadas no ensino básico. No lugar de fazer boas escolas para todos, criamos o ProUni e cotas para negros e índios. O Brasil melhora com essas medidas, mas não enfrenta o problema e acomoda a população, como se agora todos já fossem iguais. Promovem-se benefícios com soluções provisórias, como se elas resolvessem o problema.
A solução adiada seria uma revolução que assegurasse escola de qualidade para todas as crianças, em um programa que se espalharia pelo país, onde todas as escolas fossem federais, como o Colégio Pedro II, as escolas técnicas militares, os colégios de aplicação das universidades.
Quando a desigualdade social força a separação entre pobres e ricos que se estranham, ao invés de superar a desigualdade constroem-se muros em shoppings e condomínios, separando as classes sociais. Para impedir a convivência de classes, impedimos estações de metrô em bairros ricos, o que mostra um total desinteresse desses habitantes pelo transporte público.
Falta professor de Física, retira-se Física do currículo escolar. Os alunos não aprendem, adotamos a progressão automática. O Congresso não funciona, o STF passa a legislar. A população fala português errado, em vez de ensinar o correto a todos legitimamos a fala errada para a parte da população sem acesso à educação. Adotamos dois idiomas: o português dos ricos educados e o português dos pobres sem educação; o português dos condomínios e o português das ruas. Ao invés de combater o preconceito e a desigualdade, legalizamos a desigualdade.
Ao invés de fazer as mudanças da estrutura para construir um sistema social eficiente, equilibrado, integrado e justo, optamos por simples lubrificantes das engrenagens desencontradas da sociedade. Nossas soluções podem até ser criativas, mas são burras e injustas. É a sociedade acomodando suas deficiências. Ao invés de enfrentar e resolver os problemas, nossa criatividade ajusta a sociedade a conviver com eles. E adia e agrava os problemas porque ilude a mente e acomoda a política.


VOO 447
Dados das caixas-pretas do voo 447 vão ser divulgados na sexta-feira
Agência francesa quer evitar a circulação de ‘informações contraditórias’

O Escritório de Investigação e Análise (BEA, na sigla em francês), responsável pela avaliação dos dados das caixas-pretas do voo AF 447, decidiu divulgar na próxima sexta-feira as circunstâncias do acidente que matou 228 pessoas em 2009, quando o Airbus caiu no Oceano Atlântico, na rota do Rio para Paris. Em entrevista à agência de notícias France Presse (AFP), um porta-voz do órgão afirma que os motivos seriam as informações contraditórias publicadas pela imprensa na última semana: “Informação fragmentada e mais ou menos contraditória divulgada na imprensa esta semana que (....) só pode perturbar as famílias, e afeta a serenidade da investigação”, disse à AFP o porta-voz.
Apesar de divulgar a cadeia de eventos registrados nas caixas-pretas, os investigadores não vão emitir um parecer sobre as causas do acidente. O BEA mantém o prazo divulgado anteriormente, junho — verão europeu e inverno brasileiro —, para apontar as causas da queda do Airbus.
Famílias queriam análise nos Estados Unidos O presidente da Associação de Vítimas, Nelson Faria Marinho, acha melhor que os dados da caixa-preta sejam divulgados logo:
— A caixa-preta causou uma polêmica danada, pedimos que ela fosse analisada nos Estados Unidos, mas foi para França. Agora, vamos ver o que acontece. Quanto mais transparência houver, melhor.
O jornal francês “’Le Parisien” usou dados preliminares da caixa-preta para concluir, anteontem, que os pilotos do voo AF 447 evitaram zonas de turbulência. A evidência coloca em dúvida a hipótese de que a aeronave havia enfrentado uma forte tempestade.
Na última quarta-feira circulou a informação de que a primeira análise dos dados das caixas-pretas do avião havia apontado a ausência de qualquer problema sério na aeronave. Em entrevista à AFP, o diretor de investigações técnicas do BEA, Alain Bouillard, chegou a dizer que, nessa primeira leitura, fica claro que não houve nenhum problema “ incompreensível para os pilotos.
Bouillard, no entanto, lembrou que isso não significa que não tenham ocorrido problemas menos importantes na aeronave. A Air France e a Airbus foram indiciadas em março por homicídio culposo pela morte das 228 pessoas que estavam a bordo da aeronave.


NOTAS

Fumaça em navio
Um teste de máquina do porta-aviões São Paulo, que está passando por reparos no 1o- Distrito Naval, provocou uma cortina de fumaça na Baía de Guanabara ontem à tarde, assustando quem passava pela Praça Quinze. Em nota, a Marinha informou que a fumaça foi emitida “durante experimento para verificar as obras efetuadas no porta-aviões e realizar ajustes finais no sistema de propulsão”. A nota informa também que estão sendo realizadas inspeções para aprimorar o treinamento das equipes do navio para que a embarcação volte a operar com aeronaves.

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