Pesquisar

segunda-feira, 23 de maio de 2011

22 de maio de 2011 - JORNAL DO COMMERCIO


AEROPORTO
Aeroportos do País já estão no limite

Angela Fernanda Belfort

Uma simples viagem de Recife a Goiânia, capital de Goiás, me fez passar também pelos aeroportos do Rio de Janeiro, Guarulhos e Congonhas (os dois últimos em São Paulo). Em todos, constatei algo em comum: falta infraestrutura para mais pessoas usarem os serviços dos principais aeroportos do País, que estão, visivelmente, no seu limite. Neste cenário, o mínimo que ocorre é um atraso no voo. Após este tour forçado, pensei: como um País assim vai realizar uma Copa em 2014 ? Voltando a minha viagem, achei que a ida a Goiânia seria fácil e rápida, porque o voo era direto, numa companhia regional com saída às 14h40m da quinta-feira (dia 12) e a chegada quase três horas depois. Após os procedimentos de embarque, inclusive com o comandante avisando que estávamos preparados para decolar, a aeronave voltou para a área de embarque e o comandante disse que teríamos que trocar de avião, porque a turbina quebrou.
Pensei: ainda bem que não foi no ar. No entanto, me lembrei que durante o embarque os técnicos entraram várias vezes na cabine do piloto, o que me levou a pensar que a tripulação já tinha percebido algum tipo de problema antes que o avião fosse para a pista. Resultado: cheguei em Goiânia à 0h50m da sexta-feira. Na volta, no domingo dia 15, embarquei num Boeing 737 em Guarulhos. Depois de 40 minutos dentro do avião, o comandante informou: “para a segurança dos senhores não será possível realizar este voo”. Outro avião que não tinha condições de voar. Inicialmente, o voo deveria chegar ao Recife às 21h40. Desembarquei por volta de meia-noite.
Com a coincidência de dois problemas parecidos em menos de quatro dias não pude deixar de pensar: será que a manutenção desses aviões está sendo feita como deveria ? Se esses problemas ocorressem no ar que consequências trariam ? A assessoria da companhia regional informou que o avião da Embraer tem condições de voar por quilômetros com uma turbina, mas a distância que pode percorrer depende da quantidade de combustível, passageiros, entre outros. Ainda em São Paulo, questionei a atendente do check-in de uma das companhias aéreas, sobre como seria quando chegasse a Copa. Ela respondeu: “Não temos a mínima ideia. Congonhas não pode ver um pingo de água, pois fecha. Quando isso ocorre, sobrecarrega o aeroporto de Campinas e Guarulhos”.
Os aeroportos parecem rodoviárias lotadas, os voos atrasam pelos mais diversos motivos, incluindo falta de espaço para estacionar aeronave. A atual infraestrutura não atende bem nem os passageiros rotineiros imagine os milhares de visitantes da Copa, acostumados com um serviço que funciona, exatamente, dentro do horário...


CLÁUDIO HUMBERTO

O problema de Angra 3
O Brasil gasta US$ 20 milhões por ano só para manter equipamentos adquiridos à Alemanha, há 27 anos, para a usina nuclear de Angra 3, segundo apurou a Comissão de Meio Ambiente da Câmara. O material, encaixotado desde 1984, será usado na usina cujas obras somente foram iniciadas em 2010, com operação prevista para 2016. Neste período, a tecnologia do setor foi aprimorada e, após vários acidentes, o próprio governo alemão decidiu rever seu programa nuclear. A manutenção dos equipamentos encaixotados de Angra 3, hoje certamente obsoletos, até agora custou US$ 520 milhões ao Brasil. Os deputados da Comissão de Meio Ambiente estão estarrecidos com a vulnerabilidade das usinas de Angra e o autoritarismo dos dirigentes. Othon Silva preside a Eletronuclear desde sua criação, há 14 anos, e é acusado pelos deputados como se a estatal fosse de sua propriedade. O presidente da Eletronuclear só vai à Comissão de Meio Ambiente, quinta (26), obrigado pelo ministro Edison Lobão (Minas e Energia).

Aeroporto no DF
O governo do Distrito Federal decidiu tocar as obras de um novo aeroporto, para cargas e jatos executivos, na cidade de Planaltina, a 43 quilômetros de Brasília. A intenção é torná-lo operacional antes da Copa do Mundo de 2014.

ENTREVISTA - CARLOS ZAMORA
'Dissidentes são mercenários'

Wagner Sarmento wsarmento@jc.com.br Há um ano e meio no cargo, o embaixador de Cuba no Brasil, Carlos Zamora Rodríguez, visitou Pernambuco pela primeira vez esta semana. Na última quinta-feira, ele encontrou-se com o governador Eduardo Campos no Palácio do Campo das Princesas. Eduardo, para o diplomata, é o neto do socialista e ex-governador Miguel Arraes, a quem classificou como amigo do ex-líder Fidel Castro. Zamora também participou da 4ª Convenção de Solidariedade a Cuba, promovida pela Associação Político-Cultural Brasil/Cuba e pelo Grupo Parlamentar Brasil/Cuba, evento preparatório para a Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba, de 21 a 26 de junho, em São Paulo. No Recife, Zamora conversou por meia hora com o Jornal do Commercio. Falou sobre o processo de abertura econômica vivido pela ilha comunista, classificado por ele como “democrático”. O embaixador também criticou os dissidentes, dizendo que as vozes mais críticas sobre o governo vêm dos que apoiam o regime. Zamora ainda classificou como “absurdo” o embargo comercial mantido pelos Estados Unidos e destacou, por fim, a boa relação de Cuba com o Brasil.

JORNAL DO COMMERCIO – Qual o motivo da visita do senhor a Pernambuco?
CARLOS ZAMORA – Há muito tempo eu tinha o interesse de conhecer e visitar Pernambuco, por conta do laço histórico de carinho e amizade entre Cuba e o Estado, que vem desde a época colonial, de relações comerciais, e se reforçou na história recente, particularmente pelo vínculo de apreço e amizade dos cubanos pelo senhor Miguel Arraes, fundador do Partido Socialista Brasileiro e amigo pessoal de Fidel Castro. Conhecer o neto de Arraes na condição de governador foi uma motivação a mais para vir. É uma família amiga. É uma grande satisfação e honra para mim. Um dos objetivos da visita é incrementar a cooperação e o intercâmbio entre Cuba e o Brasil, sobretudo entre Cuba e Pernambuco. Também vim por conta do convite para participar da Convenção de Solidariedade a Cuba, que servirá de preparação para a Convenção Nacional, a qual acontecerá em São Paulo no próximo mês de junho.

JC – Como o senhor avalia este momento de mudanças vivenciado por Cuba, com a ampliação das oportunidades da iniciativa privada como forma de manter o país equilibrado economicamente?
ZAMORA – Cuba está em um momento muito peculiar e particular de sua história, um momento de impulso importante no aprofundamento do processo revolucionário, dentro da nova realidade mundial. O 6º Congresso do Partido Comunista de Cuba (PCC), que foi preparado durante 16 meses, serviu para uma atualização do modelo social e econômico do país.

JC – Como se deu todo esse processo?
ZAMORA – O Projeto de Diretrizes da Política Econômica e Social conta hoje com 311 propostas de mudança e isso foi fruto de discussão popular, não apenas do partido. Mais de 8,5 milhões de pessoas participaram, dos 11 milhões que compõem a população cubana. Foram 200 mil reuniões populares por vários meses para discutir propostas. Daí surgiu o documento aprovado no congresso. Foi um processo democrático e participativo.

JC – Qual o nível da participação popular no regime cubano?
ZAMORA – O que caracteriza a revolução é a participação popular. Qualquer mudança que fazemos conta com o consenso do povo. A revolução é popular, sua força está no respaldo do povo, sem ele a revolução não sobrevive. Estamos muito perto dos americanos, são menos de 90 milhas (em torno de 200 quilômetros) de distância. O que determina que os Estados Unidos não acabaram com a gente é a força popular. Não fosse isso, o governo teria desaparecido. O povo está unido.

JC – Qual o papel dos dissidentes dentro desse processo? É importante ter vozes críticas e dissonantes dentro do país?
ZAMORA – Olha, as vozes mais críticas e de maior análise são as nossas. São elas que nos transformam, nos dizem o que temos que mudar, e não os dissidentes. Os maiores críticos somos nós.

JC – E os dissidentes?
ZAMORA – Os dissidentes são mercenários pagos pelo governo dos Estados Unidos e não representam nada. Mas eles podem participar de todas as discussões. Como cidadãos, têm direitos. Por que não aparecem? A gente sabe a que eles se dedicam. E são quatro ou cinco gatos pingados. Não te minto, sou o representante oficial do governo de Cuba, temos o apego à verdade. Quando nos equivocamos, assumimos.

JC – O dissidente cubano Juan Wilfredo Soto morreu há duas semanas em condições estranhas. Opositores alegam que ele foi agredido pela polícia e faleceu em decorrência disso. A versão oficial informa que ele foi vítima de uma pancreatite. O que o senhor tem a dizer?
ZAMORA – Em primeiro lugar, ele não era nenhum dissidente. Este senhor estava enfermo e morreu em virtude disso. Até a família dele nega isso, sua irmã deu entrevista negando.

JC – Então não houve agressão?
ZAMORA – Foi mais uma mentira fabricada. É falso.

JC – É possível sobreviver com o embargo americano?
ZAMORA – Temos mostrado que podemos viver por muitos anos, mesmo sob o embargo dos Estados Unidos. Estamos preparados para resistir. Temos resistido há 50 anos ao bloqueio americano e estamos prontos para resistir por mais 50, se necessário. A política do embargo é fracassada.

JC – Por quê?
ZAMORA – É uma política impopular, mesmo no interior dos Estados Unidos. Há 19 anos, nas Nações Unidas, a comunidade internacional condena o bloqueio, à exceção dos Estados Unidos e de Israel. Por que os americanos mantêm o embargo? Dizem que respeitam a comunidade internacional, mas só quando lhes convém. É um descaso ao direito internacional. Se eles o respeitam, deveriam levantar o bloqueio, mas o mantêm de maneira absurda. O embargo isola os Estados Unidos, e não Cuba. É ilegal. É genocida.

JC – O que esperar das relações com o Brasil de Dilma Rousseff pelos próximos quatro anos? Qual o nível das relações entre os dois governos?
ZAMORA – As relações com o Brasil são muito boas, excelentes. Em junho, completam-se 25 anos desde que os dois países retomaram as relações diplomáticas, após a ditadura militar. Este foi o primeiro ato de política internacional do presidente José Sarney. Uma medida simbólica, de grande valor. Desde então, as relações bilaterais estão cada vez melhores, crescendo e se enriquecendo. É uma relação de Estados, de povos, que não está sujeita a vai e vem partidário. Há interesses vitais para os dois povos.



Nenhum comentário:

Postar um comentário