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segunda-feira, 23 de maio de 2011

21 de maio de 2011 - ZERO HORA


AMEAÇA NO AR
Passageiro provoca tumulto em voo

Um passageiro de um voo da TAM, que saiu de Porto Seguro (BA) em direção a Guarulhos (SP) com escala em Salvador, foi detido pela Polícia Federal na noite de ontem depois que ele ameaçou explodir o avião em pleno no ar. Nenhum explosivo foi encontrado pela PF.
Segundo a Infraero, os pilotos do voo 3063 pediram à torre de controle que fosse dada prioridade ao pouso no Aeroporto Luís Eduardo Magalhães, em Salvador. A aeronave ficou num local isolado do pátio do aeroporto até a chegada das autoridades.
O passageiro, de identidade não revelada, foi detido logo após o pouso, às 18h47min, e encaminhado à sede da PF. Ele é natural de São Paulo e reside em Arraial D’Ajuda, região de Porto Seguro (BA). As operações no aeroporto não foram interrompidas durante o incidente, segundo a Infraero. Em nota, a TAM lamentou o incidente e pediu desculpas aos clientes.


ADESÃO À CAMPANHA
RS começa a recolher armas
Acordo entre governo e Ministério da Justiça prevê devolução de armamento em delegacias da PF

Usando óculos protetores para os olhos, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o governador Tarso Genro destruíram a marretadas, ontem, um revólver calibre 22 entregue voluntariamente por um morador. O ato simbólico, ocorrido no Salão Negrinho do Pastoreio do Palácio Piratini, em Porto Alegre, marca a adesão oficial do Rio Grande do Sul à Campanha Nacional do Desarmamento e o início do recolhimento de armas.
O Estado foi o segundo a aderir, depois do Rio de Janeiro. As delegacias da Polícia Federal (PF) estão preparadas para receber armas, de acordo com as novas regras, entre elas, garantia de anonimato e pagamento em até 30 dias de valores entre R$ 100 e R$ 300.
No país, o Ministério da Justiça pretende gastar pelo menos R$ 10 milhões com a devolução de armas, o que permitiria recolher 100 mil unidades – considerando o pagamento mínimo – número bem abaixo de campanhas anteriores. Desde a aprovação do Estatuto do Desarmamento, em dezembro de 2003, cerca de 550 mil armas já foram recolhidas, 45,5 mil no Rio Grande do Sul.
Inicialmente, apenas as delegacias da PF estão recebendo armas, mas está prevista a ampliação para unidades da Brigada Militar e Polícia Civil. Ainda não há prazo para a criação desses postos.
Apesar de se mostrar preocupada com o avanço das armas de uso restrito das polícias no país, a secretária nacional de Segurança Pública, Regina Miki, afirmou que o foco da campanha são as armas de pequeno calibre:
– As armas que queremos tirar de circulação são as de pequeno calibre, o 38, o 32. São as armas que o cidadão, em um momento de desvio de conduta, acaba usando para cometer um crime.


CRESCIMENTO VERTIGINOSO
Vietnã é um país, não uma guerra
Integrante da comitiva de deputados gaúchos que visitou o Vietnã conta como está o país hoje, 36 anos após a sua unificação

Há 36 anos, em um 30 de abril, o exército viet­cong ocupou Saigon, então capital do Vietnã do Sul, e unificou o país sob o controle político dos comunistas. Alguns anos antes, os EUA haviam retirado suas tropas, mas continuavam a apoiar o governo de Saigon, dominado por uma elite corrupta e cada vez mais carente de legitimidade popular. O último presidente sul-vietnamita já não estava em Saigon no momento em que os tanques vietcongs irromperam o portão do palácio presidencial, mas refugiado em Londres, para onde se deslocou com a família e... o banco central.
No último dia 30 de abril, eu estava lá. Em Saigon, agora Ho Chi Minh, mas que as pessoas nas ruas continuam a chamar teimosamente pelo nome original. Estava lá no meio de milhares de vietnamitas, nas margens do Rio Saigon, esperando a queima de fogos que em todos os dias 30 de abril relembra a vitória dos vietcongs. Eram milhares, todos sentados nos selins de suas motos de baixa potência.
Os fogos duraram 15 minutos, não mais. De repente, como se tudo fosse muito comum, aquelas motos começaram a se dispersar, umas para lá, outras para cá, eu no meio. Atravessar uma rua em Saigon ou em Hanói não é uma ação simples. O secretário da embaixada brasileira nos ensinou logo: “O segredo é manter o ritmo. Siga caminhando que eles se adaptam”. Buzinam a toda hora, não para pedir passagem, mas para informar que estão ali.
Saigon é uma cidade de muitos contrastes, em que construções francesas do período colonial convivem com habitações milenares e com os prédios de 80 andares do novo ciclo de investimentos urbanísticos. Um local em que os automóveis começam lentamente a disputar lugar com as motocicletas, que, por sua vez, já substituíram as bicicletas. Uma cidade com 9 milhões de habitantes e 2 milhões de moradores flutuantes, em que europeus, americanos e asiáticos convivem em um aglomerado de línguas, etnias e costumes.
Antes, estive em Hanói, capital nacional, menos ocidentalizada do que Saigon, com ainda muitos hábitos típicos, como sentar em bancos nas calçadas e comer um caldo feito de legumes e carnes variadas, a qualquer hora. Uma cidade de mil anos, que mantém um modo de vida baseado na produção de arroz e na paciência. Paradoxalmente, o Estado não é explícito em Hanói. Quase não se veem guardas nas ruas e as sinaleiras, este sinal do Estado que está em todas as esquinas porto-alegrenses, são raras por lá. O resultado é um trânsito caótico para os nossos padrões, mas, paradoxalmente, sem conflitos visíveis. Todos com quem se fala sorriem, mesmo quando negociam suas mercadorias, que podem chegar à metade do preço ao final de uma longa conversa.
Estive no Vietnã com uma comitiva de deputados gaúchos. Fomos para conhecer o segredo do crescimento vertiginoso vivido pelo país nos últimos anos. Encontramos uma sociedade em transição, em busca de autoafirmação. “O Vietnã é um país, não uma guerra”, estava bordado em uma camiseta que se repetia nas milhares de pequenas lojas de lembranças do país.
A história do Vietnã é marcada por conflitos militares. Primeiro, os Kinh (a etnia dominante) derrotaram os chineses e iniciaram a construir a autonomia de seu espaço nacional. Depois, a luta contra os franceses e seu colonialismo, que durou até a metade do século 20; em seguida, os japoneses, com sua política de ocupação dos espaços coloniais europeus, durante a II Guerra; e, por fim, os americanos e sua estratégia de contenção do comunismo nos anos 1960 e 1970. Em todos esses conflitos, os vietnamitas foram vitoriosos.
Com esse histórico, é natural que a guerra seja um elemento constitutivo do ethos vietnamita e as marcas dos conflitos estão lá para serem vistas, ouvidas, tocadas e sentidas. “Perdoar sim, esquecer jamais” é o refrão oficial, embora a sensação que se tenha, ao passear por lá é que o esforço de todos é olhar cada vez mais para o futuro e menos para o passado. A própria guerra foi transformada em mercadoria turística. Ao sul de Saigon, pode-se visitar as lendárias galerias subterrâneas de Cu Chi, onde os vietcongs sustentaram uma guerra de guerrilhas sem nunca terem sido desbaratados. Ao final do passeio, por US$ 15, é possível atirar com um fuzil russo AK47 ou uma metralhadora americana M15.
Os vietnamitas são orgulhosos de sua história e falam calorosamente de eventuais experiências na guerra. Nosso tradutor, o senhor Pham Tien Tu, por exemplo, contava, com uma ponta de orgulho mal disfarçada, do título que recebeu ao derrubar um F5 americano durante a defesa de Hanói. Os EUA despejaram quatro vezes mais bombas sobre o Vietnã do que em toda a II Guerra. Usaram também as bombas incendiárias – as terríveis Napalms – e jogaram toneladas de litros do agente laranja, cujos efeitos até hoje atormentam a sociedade vietnamita. Podemos ver isso, de várias formas, no Museu da Guerra, em Saigon, uma experiência dolorosa mas fundamental para que se entenda a coesão nacional que ainda hoje caracteriza a sociedade vietnamita.
O sistema político é de partido único. A Assembleia Nacional é composta por 493 membros, e apenas 17% deles não têm vínculos orgânicos com o partido comunista. Os candidatos à Assembleia Nacional são definidos por organizações populares, em cada comuna (na área rural) ou bairros (nas cidades) e se apresentam por meio da Frente Patriótica, em listas. A escolha é feita com voto direto e secreto num sistema próximo ao modelo distrital.
Claramente, há uma preocupação em institucionalizar o país, criando um Estado de direito que dê garantias legais aos novos investimentos que vêm de fora. Isso passa, também, por um fortalecimento do parlamento, que cada vez mais ocupa parcelas de poder, diminuindo o protagonismo direto do partido na condução do país. O processo, claro, é demorado e controlado, como, aliás, é típico em sociedades com essas características. Mas é evidente que se trata de uma sociedade em transição também neste aspecto.
A economia é, como eles dizem, de mercado com orientação socialista. Desde 1986, os vietnamitas adotaram a política do Doi Moi, que quer dizer “renovação”. Os resultados são espantosos: nos últimos 15 anos, o Vietnã é o país que mais cresce no sudeste asiático, entre 7% e 8% ao ano, tendo diminuído os índices de pobreza, que eram de 75%, em 1986, para cerca de 9,5%, em 2010.
A nova política econômica, baseada em investimentos estrangeiros, está reorganizando o país e isso fica evidente nas grandes obras de infra-estrutura. Do aeroporto de Hanói até o centro da cidade, o deslocamento é feito em uma estrada recentemente duplicada pelos japoneses. Ao longo da via, grandes complexos industriais sediam as principais marcas da indústria nipônica de equipamentos eletro-eletrônicos. Milhares de trabalhadores chegam às fábricas em ônibus locados pelas empresas ou em motocicletas. No Vietnã contemporâneo, as cidades ainda não contam com sistemas públicos de transporte eficientes. O resultado é um mar de motocicletas de baixa potência.
Taiwan, Coreia do Sul, Japão e Cingapura são os principais financiadores dessa modernização, mas há, também, investimento norte-americano. O plano é aprofundar isso. Mesmo com as mudanças ocorridas nos últimos 20 anos, a sociedade vietnamita ainda é majoritariamente rural, com 70% da população morando no campo. Mas é explícito o incentivo para a transferência de mão de obra da produção de arroz, café e outros produtos para os setores da indústria e do serviço, principalmente o turismo. O Vietnã recebe 5 milhões de turistas por ano, apenas 1 milhão a menos que o Brasil, sendo que nosso país é 25 vezes maior.
O resultado dessa transferência de mão de obra será a necessidade de uma mecanização da agricultura, hoje baseada em trabalho humano, e investimentos maiores em infraestrutura urbana, já que a tendência é a concentração de pessoas nas áreas mais desenvolvidas. Hanói e Saigon têm cerca de 18 milhões de habitantes, mais da metade da população urbana do país. No futuro próximo, o Vietnã vai precisar de mais ônibus, tratores e implementos agrícolas. É aí que nós podemos entrar. O Brasil, apesar da distância, é visto como um parceiro estratégico do desenvolvimento do país.
Por João Ferrer Jornalista

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