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quarta-feira, 25 de maio de 2011

25 de maio de 2011 - ESTADO DE SÃO PAULO


DESTAQUE DE CAPA
Lula lidera tática para defender Palocci
Ex-presidente vai a Brasília articular estratégia para manter ministro no cargo, janta com Dilma e marca encontro com base aliada no Congresso

Vera Rosa, de O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - No auge da crise envolvendo o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu, na prática, a articulação política do governo Dilma Rousseff. Lula almoçou nesta terça-feira, 24, com senadores do PT, jantou com Dilma e Palocci, no Palácio da Alvorada, deu voz de comando para a defesa do ministro e nesta quarta-feira, 25, tomará café da manhã, na casa do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), com os líderes da base aliada no Congresso.
"Estão testando o governo da Dilma. Quiseram me intrigar com ela e não conseguiram. Agora, se o governo entregar a cabeça do Palocci, vai cometer um grande erro", disse Lula, segundo relato de três senadores que participaram do almoço com o ex-presidente, na casa de Gleisi Hoffmann (PT-PR) e do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.
Preocupado com o prolongamento da crise, Lula traçou ali a estratégia da reação, mas ouviu queixas sobre a falta de articulação política do Palácio do Planalto. Os petistas disseram a ele que, com Palocci alvejado por denúncias de multiplicação do patrimônio e suspeita de tráfico de influência, a situação só piorou. Eles reclamaram não apenas da lentidão para a montagem do segundo escalão como da ausência de argumentos para defender Palocci e o governo.
Lula mostrou-se disposto a preencher o vácuo político, mas longe dos holofotes, nos bastidores. Disse que conversaria com Dilma, Palocci e com o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio. "Essa queixa é justa e vamos melhorar o diálogo", afirmou o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho.
Com o argumento oficial de que vai tratar da empacada reforma política, Lula também pedirá empenho a Sarney e aos líderes da base aliada para evitar constrangimentos ao Planalto no Congresso.
"A posição do Lula é semelhante à nossa: até o momento não há acusação frontal que vá abalar nossa confiança em Palocci. E, daqui a alguns dias, o ministro enviará os esclarecimentos ao Ministério Público Federal", disse o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), referindo-se ao pedido da Procuradoria-Geral da República para que Palocci explique as denúncias contra ele.
De factoide a monstro. Na tentativa de obter mais subsídios para reforçar a blindagem a Palocci, a bancada do PT no Senado convidou o ministro para uma conversa, a portas fechadas. "Precisamos tratar da crise no nascedouro, antes que o factoide vire um monstro", resumiu Wellington Dias (PT-PI).
Durante almoço com 12 dos 14 senadores do PT, Lula disse que falará com Dilma sobre a necessidade de se expor mais para defender Palocci. "O papel de um presidente é dialogar, animar, induzir a sociedade", afirmou. Ele também lembrou a crise política enfrentada em seu governo, que começou com o caso Waldomiro Diniz, assessor da Casa Civil acusado de cobrar propina de um bicheiro, em 2004, e ganhou força com o escândalo do mensalão, no ano seguinte. "Eu enfrentei um ano e meio de crise e sei do que estou falando. Vocês têm de ter em mente o seguinte: na dúvida, defendam o companheiro", insistiu o ex-presidente.
Na conversa, tendo como prato principal peixe ao molho de maracujá, Lula deu tapinhas nas costas nos companheiros e os animou a apoiar o ministro da Casa Civil. Para o ex-presidente, a oposição não está apenas no Congresso, mas também em setores da imprensa. Depois do almoço, muitos parlamentares seguiram para o Senado e, da tribuna, elogiaram Palocci.



Na esteira da operação abafa, governo acusa PSDB de vazar dados de Palocci

Vera Rosa / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

Na tentativa de reverter o desgaste provocado pela crise política que ameaça o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, o governo decidiu apontar o dedo para o PSDB. Em estratégia combinada com a presidente Dilma Rousseff e com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, acusou ontem a Secretaria de Finanças de São Paulo de violar o sigilo fiscal de Palocci.
"Temos informações de que dados do Imposto sobre Serviço (ISS) da empresa de Palocci vazaram na Secretaria de Finanças da Prefeitura", afirmou Carvalho ao Estado.
Na tática para desviar o foco da crise e transferir para o colo do PSDB o rumoroso escândalo, que tem como epicentro a evolução patrimonial de Palocci nos últimos quatro anos, o discurso do governo, agora, é o de que o faturamento de R$ 20 milhões da empresa de consultoria Projeto, do ministro da Casa Civil, só poderia ser obtido por meio de arapongagem na Prefeitura.
Lula adotou o mesmo tom ao almoçar, ontem, com senadores do PT. "Quem acusa tem de provar", disse o ex-presidente, dando a senha de como deve ser a reação petista. Mesmo sem citarem em público o nome do secretário de Finanças, Mauro Ricardo Costa, auxiliares de Dilma fazem questão de lembrar, nos bastidores do Planalto, que ele é homem da confiança do ex-governador José Serra (PSDB). Mauro Ricardo foi secretário da Fazenda quando Serra era governador.
Na semana passada, o presidente do PT, Rui Falcão, conversou com o prefeito Gilberto Kassab (ex-DEM) sobre a suspeita de quebra do sigilo fiscal da Projeto. Antes disso, um emissário de Palocci também telefonou para Kassab e o alertou sobre os riscos de vazamentos dos valores de tributos municipais recolhidos pela Projeto, entre 2006 e 2010. A informação daria um "cálculo aproximado" sobre o faturamento da empresa. Kassab escalou assessores para acompanhar o caso. O prefeito, que deixou o DEM para fundar o PSD, tem boa interlocução com o governo Dilma e o novo partido pode vir a integrar a base aliada.
Em nota, a Secretaria de Finanças informou que "todos os acessos ao ambiente da empresa Projeto no sistema da Nota Fiscal Eletrônica de Serviços, no período de 1.º de janeiro de 2010 a 17 de maio de 2011, foram realizados pela própria empresa ou por servidores, de forma motivada para realização de procedimentos demandados pelo próprio contribuinte (retificação de lançamento e pagamento de tributo)". A Prefeitura também disse lamentar que as afirmações do secretário-geral da Presidência tenham sido feitas "sem a correspondente comprovação dos fatos".

Mérito. Sem entrar no mérito das denúncias contra Palocci, Carvalho fez ontem uma analogia entre a situação atual e a da campanha do ano passado, quando amigos e parentes de Serra, então candidato do PSDB à Presidência, tiveram o sigilo fiscal violado. À época, surgiram denúncias de que arapongas contratados pela campanha de Dilma montaram dossiê contra Serra.
"Em 2010 houve a quebra de sigilo dos dados de familiares de Serra e o foco do noticiário foi a quebra de sigilo em si, e não o conteúdo", insistiu Carvalho. "Agora, com Palocci, a situação é inversa: é tudo para o conteúdo e nada para a quebra de sigilo." O Planalto alega que as acusações contra Palocci se resumem a "luta política" para atingir Dilma. Com base nesse argumento, o governo barra iniciativas da oposição para convocá-lo a prestar esclarecimentos ao Congresso. "Nessa luta não podemos baixar a cabeça. Temos de seguir trabalhando", comentou Carvalho.
Coordenador da campanha de Dilma, Palocci não revela os clientes da Projeto, o que motiva suspeitas de tráfico de influência. Segundo a Folha de S. Paulo, dos R$ 20 milhões faturados em 2010 pela Projeto, R$ 10 milhões entraram entre novembro e dezembro. A empresa não confirmou os valores, mas informou que o maior volume de recursos ocorreu por causa da quitação de contratos quando Palocci ingressou no governo.



NOTAS & INFORMAÇÕES
A simbologia de um naufrágio

Até ontem ninguém tinha condições de apontar, com segurança, os motivos do naufrágio de uma embarcação, a "Imagination", com mais de 100 pessoas a bordo, no Lago Paranoá, em Brasília, que resultou na morte de pelo menos oito passageiros. Mas as circunstâncias já conhecidas do trágico acidente e o completo desencontro até agora predominante de informações sobre o ocorrido dão uma ideia muito clara de quanto ainda nos falta, num país que ambiciona se ombrear com as grandes potências do chamado Primeiro Mundo, para ser percorrido na longa e desafiadora via do processo civilizatório. O exemplo da triste ocorrência nas águas plácidas de um lago da Capital Federal pode parecer desimportante quando se pretende traçar um perfil amplo da atualidade e das perspectivas do País em que vivemos, mas não discrepa, ao contrário, ratifica amplamente as piores mazelas da mentalidade de governantes e governados.
Uma constatação desde logo se impõe: o acidente só pode ter acontecido por culpa da desídia, da irresponsabilidade de todos os envolvidos. Todos têm sua parcela de responsabilidade, desde os poderes públicos aos quais cabia fiscalizar as condições de segurança da embarcação, passando pelos proprietários e tripulantes do barco, cuja obrigação de manter o equipamento em perfeitas condições de uso é elementar, até mesmo os próprios passageiros, que embarcaram despreocupados com a própria segurança, como revela o depoimento do garçom Everaldo Sales da Silva, que admitiu não ter recebido nem solicitado qualquer orientação de segurança por parte da tripulação, embora a passageira Vanda Pereira Dornel, promotora da festa que se realizava a bordo, tenha afirmado o contrário.
De acordo com informações da Marinha, uma das causas do naufrágio pode ter sido uma rachadura constatada por um mergulhador, após o acidente, em um dos flutuadores do barco. Mas a mesma Marinha, em nota, havia informado que o "Imagination" passara por inspeção em novembro sem que nenhum problema tivesse sido constatado. E revelou ainda que no momento do acidente a embarcação, com capacidade para transportar 90 passageiros e 2 tripulantes, tinha mais de 100 pessoas a bordo. Irregularidade que passou despercebida pelos quatro agentes que, segundo a Marinha, eram responsáveis pela fiscalização no Paranoá no momento do acidente. O comandante Rogério Leite, da Delegacia Fluvial de Brasília, explicou que esses quatro agentes são "suficientes" para o trabalho, mas, contraditoriamente, admitiu que não conseguem vistoriar, ao mesmo tempo, todos os barcos. Já o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, fez um apelo aos proprietários de barcos para que "cumpram com rigor as normas" e manifestou firme convicção no óbvio: é necessário "um grau de fiscalização muito grande em todo tipo de embarcação".
Por outro lado, o proprietário e o comandante do "Imagination" garantem que estava tudo na mais perfeita ordem com o barco e não se manifestaram sobre a rachadura constatada em um dos flutuadores. Parece mais preocupado, o primeiro, com os lucros cessantes, e o segundo, com a possibilidade de vir a ser indiciado por homicídio culposo, como já cogitaram fontes da Polícia Civil.
Essa "despreocupação" geral, a negligência indiscriminada em relação a direitos e deveres, cujos efeitos se manifestam diariamente em todas as áreas e níveis de atividade - veja-se a política -, costuma ser sociologicamente explicada como fruto do paternalismo que aqui reina desde a era colonial. Governantes se consideram donos e não servidores do bem comum e os governados se conformam com a condição de beneficiários das concessões de quem pode. Pior do que este retrospecto são as evidências de que nada indica uma perspectiva de mudança, até onde a vista alcança. Ao contrário, a história recente do País demonstra que se está enraizando um paternalismo cada vez mais autoritário. Pode parecer que uma coisa não tem nada a ver com outra, mas o naufrágio do Lago Paranoá tem uma enorme dimensão simbólica.


Promiscuidade tripartite

O governo deve tomar cuidado quando vê empresários e sindicalistas unir-se para reivindicar redução de juros e de impostos e também para propor a formação de um fórum tripartite - setor público, empregadores e trabalhadores - para discutir política econômica. Esse tipo de experiência já foi tentado, com câmaras setoriais, e a sociedade jamais ganhou com isso. Quando surgiu alguma vantagem, foi para grupos privados - sindicatos e empresas - participantes do acordo. É útil lembrar esses episódios, agora, quando mais um empreendimento desse tipo é proposto pelo presidente da Fiesp, Paulo Skaf, pelo presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva, e por sindicalistas ligados à CUT.
A nova aliança corporativa do setor industrial foi anunciada oficialmente na segunda-feira, em evento na Fiesp. Skaf e os sindicalistas apresentaram uma lista de reivindicações comuns: corte dos juros, ampliação do prazo de recolhimento de tributos, isenção do Imposto de Renda sobre participação nos lucros, desoneração da folha de pagamentos e barreiras à entrada de capitais, para conter a valorização do real - entre outros pontos.
As boas ideias apresentadas no encontro já estavam em discussão e nenhuma delas é novidade para o governo. A desoneração da folha de pessoal foi proposta pelo Executivo e a ideia foi criticada por líderes sindicais. Se mudaram de ideia, agora, deram um passo adiante e isso é uma boa notícia. Só falta saber por que mudaram.
Os ministros da Fazenda, do Planejamento e do Desenvolvimento conhecem a lista de medidas necessárias para aliviar o peso dos tributos sobre o investimento, a produção e a exportação. A relação entre a carga tributária e a competitividade foi discutida muitas vezes. O governo decidiu tentar uma reforma fatiada. Essa estratégia pode evitar os impasses de uma reforma ampla, mas também tem custos apreciáveis. O problema do Executivo, nesta altura, é traçar o roteiro político de cada item da reforma. Não precisa de um fórum tripartite para definir a lista de mudanças necessárias. Muito menos deve ter interesse em negociar com empresários e sindicalistas o apoio a cada proposta. O mais difícil, para o governo central, será convencer os governadores a aceitar inovações no ICMS. Para que incluir mais gente, mais entidades - e mais apetites - na mesa de negociações?
Quanto aos juros, empresários e sindicalistas têm o direito de reivindicar taxas menores. Qualquer cidadão tem esse direito. Mas política monetária é assunto das autoridades. Nas economias mais organizadas, é assunto exclusivo do banco central. Os condutores da política monetária podem ter de se explicar aos congressistas, periodicamente, mas, enquanto exercem o mandato, têm autonomia para manejar seus instrumentos. A presidente Dilma Rousseff cometerá um erro de proporções incomuns, se concordar com a formação de um fórum tripartite para a discussão de juros e de outros assuntos de responsabilidade estrita do poder público.
A promiscuidade entre interesses públicos e privados nunca deu certo. O governo pode, em nome de uma estratégia de desenvolvimento, conceder benefícios temporários a setores e a regiões. Mas deve estar preparado para eliminá-los, quando deixarem de ser funcionais. Negociações e barganhas com empresários e sindicalistas apenas amarram as autoridades, dificultam a gestão de programas e políticas e acabam, quase inevitavelmente, propiciando benefícios injustificáveis a grupos privados. Benefícios como esses foram distribuídos em proporções assustadoras nos últimos anos, por meio de bancos estatais. Não se deve continuar nesse caminho, mas abandoná-lo com urgência.
Para aliviar a carga de impostos, investir mais e favorecer os ganhos de competitividade, o governo terá de rever seus gastos, eliminar desperdícios e cortar subsídios injustificáveis. Para fortalecer a economia, precisará ser austero e desagradar a grupos. Discutir austeridade em câmaras setoriais é como propor moderação aos convivas de um banquete.


CÓDIGO FLORESTAL
Base se opõe a Dilma em votação do Código
Deputados se preparavam ontem à noite para votar a reforma da lei ambiental

Marta Salomon
Eugenia Lopes
Brasília

À revelia da presidente Dilma Rousseff, deputados aliados e da oposição se preparavam ontem à noite para aprovar a reforma do Código Florestal, de autoria do deputado Aldo Rebelo (PC do B - SP). A versão proposta libera a ocupação de cerca de 420 mil km² de Áreas de Preservação Permanentes (APPs) - às margens de rios e em encostas de morros -que foram desmatadas até 2008.
É a primeira vez em quase cinco meses do governo Dilma que a base aliada decide confrontar o Palácio do Planalto. O PMD B, segundo maior partido da Câmara e legenda do vice-presidente Michel Temer, se rebelou.
O texto do Código Florestal deveria ser aprovado por votação simbólica. Somente o PT, o PV e o Psol se oporiam à Anistia aos desmatadores defendida pelo PMDB, com apoio da base governista e da oposição.
Integrantes da base governista ainda tentaram um acordo em várias reuniões durante o dia, em meio a muita confusão. No início da noite, a derrota do governo se tornara inevitável. E o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), voltava a falar em veto presidencial. "A presidente Dilma não hesitará em usar suas prerrogativas constitucionais para proteger o meio ambiente", disse.
Antes de ser submetida à sanção presidencial, a proposta ainda seguira para o Senado. O governo espera que a etapa represente urna nova oportunidade para fazer ajustes na proposta. Durante meses de negociação, a governo concordou em flexibilizar regras de recomposição das áreas de preservação permanente e de reserva legal.
A proposta beneficiaria a maioria dos produtores rurais, que detém pequenas propriedades. São a maioria os produtores em número, mas não em área dos imóveis.
A pressão de ruralistas na própria base do governo foi mais forte. Mas o líder do governo resistia em reconhecer a derrota. "Não existe derrota da base governista. É um tema que desperta paixões e a base esta encaminhando por conta própria, com a oposição", resumiu. "E se a moda pega?", questionou um repórter. “Essa moda não pegará", respondeu Vaccarezza.
O líder do PT, Paulo Teixeira (SP), previu que a presidente Dilma Rousseff teria cerca de 100 votos, contra 400 vindos da base governista e da oposição. O PT tentaria modificar o texto no plenário, sem chance de sucesso.
A oposição reagiu à possibilidade de veto. "Estamos considerando que não será vetada uma posição conflitante, que detém a maioria dos votos do plenário", disse o líder do PSDB, deputado Duarte Nogueira (SP). A senadora Kátia Abreu (TO), a caminho do PSD, também desacreditou a ameaça do Planalto. "Não acredito que a presidente vai vetar e arrancar os produtores rurais da beira do rio como se fossem ervas daninhas", disse. A senadora participou da última reunião de líderes antes da votação, na presidência da Câmara.
À porta da reunião, o deputado Ronaldo Caiado (DEM - GO) bradava que o eventual veto da presidente vai levar produtores rurais às ruas. "Será uma explosão social, as manifestações desses dias na Espanha vão parecer fichinha."
Na base governista, a posição do PMDB foi determinante. Apesar dos apelos do Planalto, o líder do partido, Henrique Eduardo Alves (RN), não abriu mão do apoio aos ruralistas. Candidato à presidência da Câmara em fevereiro de 2013, ele alegou a palacianos que não poderia romper com palavra dada à bancada e aos aliados. “Ele (Henrique) terá de optar pelo Planalto ou pela Câmara", observou Valdir Colatto(PMDB-SC), um dos líderes dos ruralistas.

Manifestantes. Nas galerias da Câmara havia mais ruralistas que ambientalistas. O acesso foi permitido por credenciais distribuídas pelos partidos. A entrada do Congresso foi tomada desde cedo por manifestantes. De um a lado, ficaram cerca de 200 integrantes da Central Única de Trabalhadores (CUT), contrários a proposta ruralista. De outro, 50 pessoas com camisetas da Confederação Nacional da Agricultura, presidida par Kátia Abreu (PSD- TO).

Principais pontos

Áreas de Preservação Permanentes
São áreas às margens de rios e em encostas que devem manter a vegetação nativa para proteger rios e evitar erosão do solo. O projeto libera a manutenção das atividades que desmataram até julho de 2008, assim como o corte da vegetação em caso de utilidade pública, interesse social e de baixo impacto, assim como nas atividades agrícolas ou da pecuária. O dispositivo equivale a uma Anistia aos desmatadores.

Reserva legal
Porcentual da propriedade, entre 20% e 80%, que deve ser mantido com vegetação nativa. Projeto isenta propriedades de até 4 módulos fiscais (entre 20 e 400 hectares) da exigência de recuperar a vegetação nativa que tenha sido desmatada.

Regularização ambiental
Novas autorizações para desmate vão depender de autorização do órgão estadual. Os proprietários de terra devem ter Cadastro Ambiental Rural. Há prazo de um ano para aderir a programas de regularização ambiental a serem criados pela União e Estados. Os proprietários poderão compensar a inexistência de reserva legal em outros Estados, desde que no mesmo bioma ou por meio de compra de cotas de reserva.

Desmatamento
O corte de vegetação nativa feito sem autorização poderá ser punido com o embargo, que dificulta a comercialização da produção. O projeto não prevê que as instituições financeiras ficarão impedidas de conceder empréstimos aos desmatadores.

PARA LEMBRAR
Gabinete foi criado para conter desmate
A ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente) decidiu instalar um gabinete de crise na semana passada, após o anúncio do aumento de 473% na destruição da floresta na Amazônia em março e abril deste ano, em comparação com o mesmo período de 2010. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe); foram cortados 593 quilômetros quadrados de floresta sendo 480,3 quilômetros quadrados em Mato Grosso. Um ofício assinado pelo secretário do Meio Ambiente de Mato Grosso Alexander Torres Maia, e enviado ao gabinete de crise, relaciona o aumento do ritmo das motosserras à reforma do Código Florestal. O documento diz que se criou a expectativa entre proprietários de terra de que não seriam concedidas novas autorizações para desmatamento e que os responsáveis seriam Anistiados.


Ativistas ambientais são executados no Pará
Casal, que era conhecido como ""defensor da floresta"", foi surpreendido por pistoleiros e morto a tiros na cabeça e no peito; polícia ainda não tem pistas

Carlos Mendes - O Estado de S.Paulo
ESPECIAL PARA O ESTADO / BELÉM

Um casal que desde 2008 lutava contra a devastação Florestal e a exploração ilegal de madeira no entorno da comunidade de Maçaranduba, sudeste do Pará, foi assassinado na manhã de ontem em uma estrada da região. José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo foram atingidos por tiros na cabeça e no peito. A polícia abriu inquérito para apurar o caso, mas ainda não tem pistas dos criminosos.
De acordo com testemunhas, o casal foi surpreendido por pistoleiros na estrada que leva ao assentamento agroextrativista Praia Alta Pirandeira, uma área de 22 mil hectares à margem do lago da usina hidrelétrica de Tucuruí. No local vivem cerca de 500 famílias. José Cláudio e Maria eram conhecidos na região como defensores da floresta.
Familiares afirmaram que nos últimos dias alguns homens "em atitudes estranhas" estavam rondando a residência do casal, principalmente à noite. Eles contaram ainda que, para intimidar, os suspeitos disparavam tiros para o alto e depois desapareciam.
Há suspeita de que os homens estariam a serviço de madeireiros incomodados com a vigilância que o casal exercia para que as florestas em volta do assentamento não fossem derrubadas. Segundo os familiares, até animais da propriedade do casal foram mortos como aviso para que eles parassem com as denúncias de desmatamento.
O secretário de Segurança Pública, Luiz Fernandes Rocha, enviou uma equipe de peritos e um grupo de policiais civis para apurar as circunstâncias dos crimes. Segundo Rocha, o governo do Pará realizará todos os esforços necessários para que os assassinatos não fiquem impunes.
"O Estado não vai tolerar mais esse tipo de violência em nosso território. Mobilizamos uma grande equipe para ir até o local e investigar o problema e, se possível, voltar com os responsáveis presos", afirmou o secretário. O delegado-geral adjunto de Polícia Civil, Rilmar Firmino, está coordenando a equipe e chefiará pessoalmente as investigações.

Vigilância. Toda a área da reserva extrativista do assentamento é rica em espécies de madeira nobre, como angelim e jatobá. A propriedade do casal tinha 80% da mata preservada. Eles viviam há 24 anos na região e faziam parte da Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), uma organização não governamental criada por Chico Mendes, assassinado no Acre na década de 80 por também defender a floresta amazônica.
Para o diretor da Regional Belém do CNS, Atanagildo Matos, as vítimas deixam uma lição: permitir que o povo da floresta possa viver com qualidade, de forma sustentável, com o meio ambiente. Ele pediu que o Ministério Público Federal e a Polícia Federal investiguem o caso.
Em nota, o Fórum da Amazônia Oriental (FAOR) condenou o assassinato, afirmando que o casal estava "marcado" para morrer. "Mais uma vez tombam aqueles que insistem em defender a floresta", diz o manifesto, exigindo que as autoridades investiguem com seriedade o crime e prendam os mandantes e executores para que o fato "não faça parte da imensa lista de impunidade que assola o Pará".

Investigação
O Ministério Público Federal enviou ofício para a Polícia Federal pedindo que acompanhe as investigações sobre o assassinato do castanheiro José Cláudio Ribeiro da Silva e de sua mulher.



Dilma pede que Polícia Federal investigue o caso

Tânia Monteiro / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

A presidente Dilma Rousseff determinou ontem ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que acionasse imediatamente a Polícia Federal (PF) para investigar a morte do casal de extrativistas, José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo.
Segundo informações do Palácio do Planalto, a presidente foi informada do crime pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e, em seguida, pediu a Cardozo para que tomasse as providências necessárias junto à PF.
Em nota oficial, Carvalho disse que há tempos o casal vinha denunciando o desmatamento e a extração ilegal de madeira na região amazônica.
A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que se reuniu com a presidente Dilma para discutir o Código Florestal, comentou que a flexibilização das regras ambientais vai deixar desamparados líderes ambientais como esses que têm a lei como instrumento de luta. Marina lembrou ainda que esses líderes trabalhavam contra o desmatamento no Pará e sucederam a irmã Dorothy, assassinada em 2005, no combate aos crimes ambientais na região.

Crime bárbaro. Também em nota oficial, a Secretaria de Direitos Humanos classificou o assassinato como "bárbaro" e afirmou que não se trata de um caso isolado, "mas com o objetivo de calar a voz de lutadores de uma justa e honrosa causa".
Segundo o documento, levantamento da Ouvidoria Agrária Nacional mostram que, entre 2001 e 2010, 58 pessoas foram assassinadas no Pará por conta de conflitos de terra e outras 62 mortes estão sob investigação.
O texto diz ainda que a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos entrou em contato com a Polícia Civil do Pará e com a PF e que "o governo brasileiro não aceita que esse tipo de prática ocorra em nosso país e não poupará esforços para identificação e responsabilização dos criminosos".



AVIAÇÃO
Avião passou a apenas 3,5 km de aeronave

Um avião da TAM, que fazia o voo JJ3712 (São Paulo-Brasília), teve de fazer uma manobra de segurança na noite de anteontem, quando se aproximava do aeroporto na capital federal. A Aeronáutica investiga o caso. Análise preliminar mostra que o avião esteve a apenas 3,5 quilômetros de uma aeronave de pequeno porte na área terminal do aeroporto, menor que a distância mínima de 8 km recomendada pelos padrões de segurança. A Aeronáutica informou, em nota, que as duas aeronaves não estavam em rota de colisão.



SÃO PAULO RECLAMA

LEITORA ARCA COM PREJUÍZO ENQUANTO ESPERA
Bagagem extraviada
Voltei de Orlando (EUA), em 25/4, num voo da TAM. Uma das malas foi extraviada e registrei a perda no Relatório de Irregularidade de Bagagem (RIB). Dentro dela havia remédios suficientes para 270 dias (pelos quais gasto R$ 180 por mês) para o tratamento que minha filha faz e não pode ser interrompido. Havia também vitaminas que não existem no Brasil, 4 pares de calçados Crocs, 2 mochilas novas, 1 capa de chuva, 2 pares de tênis novos, 1 calça legging, 2 biquínis e 2 pares de sandálias Havaianas. Quando entro em contato com a TAM, a resposta é de que "as buscam continuam", mas com o passar do tempo as chances de encontrá-la diminuem. Para piorar, a TAM não sabe informar o valor da indenização, caso não a encontre.

ANNA PAULA VILLELA PUYNEERS / SÃO PAULO

A TAM, por meio do Fale com o Presidente, entrou em contato por e-mail com a sra. Anna Paula para informá-la de que está monitorando as buscas da bagagem e que dará informações assim que tiver novidades. Esclarece que, após a abertura do RIB, são feitas buscas primárias pela bagagem (entre as cidades envolvidas) e buscas secundárias (entre todas as bases operadas pela TAM). Por meio de um sistema chamado World Tracer, é feito um rastreamento entre as bagagens faltantes e uma comparação entre as características das malas registradas para que a identificação ocorra. Após 30 dias da data do extravio, inicia-se o processo de indenização.

A leitora diz: Arquei com as despesas relacionadas ao extravio da mala. Avisar que as buscas continuam pode até dar esperanças. Mas os funcionários da empresa afirmam que, depois de uma semana, a chance de localizar a bagagem é mínima.




VOO 447
França retira 29 corpos do local da queda do 447
Escritório responsável por investigar causa do acidente não confirma nem desmente hipóteses sobre erros dos pilotos

Andrei Netto - O Estado de S.Paulo
CORRESPONDENTE / PARIS

Equipes de resgate a bordo do navio francês Ile de Sein já recuperaram 29 corpos de vítimas do voo AF-447, que caiu no Oceano Atlântico em 31 de maio de 2009. A informação foi revelada às associações de familiares no Brasil e na França pelo embaixador Philippe Vinogradoff. Com a nova etapa de resgates, iniciada em 21 de maio, 81 dos 228 corpos de passageiros e tripulantes já foram recuperados.
A operação foi retomada nesta semana, depois que exames de DNA realizados nos dois primeiros corpos retirados do mar em abril indicaram que seria possível fazer seu reconhecimento. Com isso, o Tribunal de Grande Instância de Paris determinou que uma equipe da Direção de Pesquisas Criminais da França viajasse no Ile de Sein ao local do acidente com a missão de resgatar mais vítimas.
As investigações sobre as causas da queda continuam a causar especulações. Ontem, o Wall Street Journal publicou uma reportagem afirmando que os pilotos teriam tomado decisões equivocadas ao se defrontarem com as falhas mecânicas e eletrônicas, provocadas pelos tubos de pitot, as sondas de velocidade.
A informação já havia sido publicada pela revista alemã Der Spiegel, mas na prática nenhuma reportagem traz novidades. Há pouco menos de dois anos, o Escritório de Investigações e Análises para a Aviação Civil (BEA) confirmou que os sensores de velocidade falharam durante o voo.
Por sua parte, o BEA se negou ontem, mais uma vez, a confirmar ou desmentir as informações. A entidade promete divulgar na sexta-feira um comunicado revelando as circunstâncias da queda do 447.



NAUFRÁGIO
Aumenta para oito o número de mortos no naufrágio no Paranoá
Polícia vê em excesso de passageiros e falhas na estrutura do barco provas para indiciamento de
responsáveis por passeio

Vannildo Mendes / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

Mais quatro corpos de vítimas do naufrágio do barco Imagination foram resgatados ontem no Lago Paranoá, em Brasília. Com eles, chega a oito o número de mortos no acidente, que ocorreu na noite de domingo.
Ainda há um desaparecido, mas a Polícia Civil admite que possa haver mais vítimas, porque alguns passageiros entraram no barco de última hora e não constavam da lista oficial. O barco afundou uma hora após ter zarpado de um clube; 93 pessoas foram resgatadas com vida. Entre os mortos há um bebê de sete meses, João Antônio, retirado sem vida na mesma noite da tragédia e sua mãe, Valdelice Fernandes, cujo corpo foi encontrado ontem à tarde.

Investigação. A polícia já sabe que, além do excesso de passageiros, o barco Imagination, que afundou no Lago Paranoá no domingo, estava com a estrutura comprometida por provável falta de manutenção. Também houve imperícia no socorro e negligência na segurança. O conjunto de erros deve render o indiciamento do dono do barco, do comandante e da responsável pela festa por homicídio culposo.
"Eu já tenho uma convicção formada e ela aponta para crime culposo, mas só vou tratar dos indiciamentos depois que a perícia técnica for concluída", disse o delegado Adval Cardoso Matos, da 10.ª DP, após ouvir mais de 30 sobreviventes até ontem.
Os depoimentos de ontem confirmaram que houve duas panes elétricas antes que o barco começasse a afundar. A perícia encontrou uma rachadura em um dos tubos de flutuação do barco, que pode ter se agravado com o sobrepeso e causado o acidente.
O dono do barco, Marlon José de Almeida, negou negligência com as revisões e disse que seu barco tinha toda a documentação em ordem.
A responsável pela festa, Vanda Pereira Dornel, participou ontem do enterro da irmã, Flávia, uma das vítimas, e será ouvida hoje.


ORIENTE MÉDIO
Netanyahu afirma no Congresso dos EUA que não desocupará Cisjordânia
Em discurso ovacionado por democratas e republicanos, premiê reconhece que deverá ser ''generoso'' na concessão de território aos palestinos, mas exige que Israel mantenha parte dos assentamentos e presença militar no Vale do Rio Jordão

Gustavo Chacra - O Estado de S.Paulo
CORRESPONDENTE / NOVA YORK

Aplaudido por republicanos e democratas, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin "Bibi" Netanyahu, descartou ontem, em discurso no Congresso dos EUA, a possibilidade de negociar com um governo do qual faça parte o Hamas e estabelecer um Estado palestino nas fronteiras pré-1967.
O líder israelense insistiu ainda que Jerusalém não será dividida, os refugiados palestinos precisarão de uma solução fora das fronteiras de Israel e o Estado judeu manterá presença militar no Vale do Rio Jordão. "Se voltássemos às fronteiras de 1967, Israel teria apenas 15 quilômetros de largura", disse o premiê. "Milhões de judeus vivem há décadas em assentamentos que ficarão foram de Israel, algo que meu país não está disposto." Para autoridades palestinas, o discurso de Bibi foi uma "declaração de guerra" (mais informações nesta página).
O discurso foi feito menos de uma semana após o presidente dos EUA, Barack Obama, ter delineado seus parâmetros para as negociações ao se dirigir ao mundo árabe. Segundo Obama, as divisões pré-1967 devem servir de base para as fronteiras do futuro Estado palestino, com os ajustes necessários que levem em consideração as mudanças demográficas dos últimos 44 anos.
Na sexta-feira, Netanyahu criticou as propostas do presidente americano. No domingo, após Obama explicar melhor seu plano na Aipac, o mais poderoso lobby pró-Israel dos EUA, o premiê adotou um tom mais conciliatório e ontem tentou evitar confrontos com a Casa Branca.
No seu pronunciamento, Netanyahu admitiu, pela primeira vez, que alguns assentamentos talvez fiquem de fora das fronteiras de Israel caso haja um acordo com os palestinos. "Precisamos ser honestos. Em qualquer acordo de paz que encerre esse conflito, alguns assentamentos ficarão de fora das fronteiras de Israel. As linhas exatas precisam ser negociadas."
Segundo o premiê, a opção pela paz está nas mãos do presidente palestino, Mahmoud Abbas. "Eu disse ao meu povo, e não foi fácil, que aceitava o Estado palestino. Agora, chegou a vez de Abbas dizer ao seu povo: "Eu aceito o Estado judaico"", disse.
O líder palestino já reconheceu Israel no passado, mas nunca como Estado judaico. Na avaliação dele, isso iria contra a minoria árabe cristã e muçulmana de Israel, além de ser uma abdicação do direito de retorno dos refugiados palestinos.
Ao longo de seu discurso, no qual há uma defesa quase unânime de Israel, Netanyahu elogiou a atual administração palestina, citando a evolução econômica da Cisjordânia, a modernização das cidades e deu a entender que considera o premiê palestino, Salam Fayyad, que se recupera de um ataque cardíaco, um parceiro nas negociações.
Já o Hamas, afirmou o premiê, "não é um parceiro para a paz". Para Netanyahu, a facção islâmica está comprometida "com o terrorismo e a destruição de Israel". "Eu disse ao presidente Abbas para romper com o Hamas. Sente-se e negocie. Faça a paz com o Estado judeu. Se você fizer, prometo que Israel não será o último país a reconhecer o Estado palestino como novo membro da ONU. Será o primeiro."
Além de falar do conflito com os palestinos, Netanyahu insistiu no perigo que o Irã representa para a região e disse apoiar os levantes por democracia no mundo árabe, apesar de o egípcio Hosni Mubarak, que foi derrubado pelos protestos, ter sido aliado de Israel. / COM AP


ANÁLISE
Os dois lados colocaram suas cartas sobre a mesa

*Dan Perry - O Estado de S.Paulo

Após uma reunião tensa na Casa Branca e quatro discursos dos líderes de Israel e dos Estados Unidos, o quadro do conflito palestino-israelense está cada vez mais claro: uma retomada das negociações de paz é improvável e os palestinos provavelmente tentarão obter reconhecimento da ONU.
O discurso de ontem do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, diante de um Congresso americano benevolente foi notável à sua maneira. O direitista que um dia se opôs até mesmo a medidas tímidas pela paz promete ser o primeiro a reconhecer a "Palestina" algum dia. Mas ele também deixou claro aos palestinos que a visão que tem de seu futuro Estado está muito aquém do que eles querem. A reação árabe foi, previsivelmente, cáustica.
Os palestinos enfrentam também um desafio dos Estados Unidos. Embora se tenha falado muito da tensão entre Netanyahu e o presidente americano, Barack Obama, na reunião da semana passada, os palestinos também ouviram uma mensagem idêntica de ambos: a paz deve ser negociada, por isso, não recorram às Nações Unidas.
Eles poderão desistir da manobra se concluírem que ela promete provocar confusão e um desfecho vago. Mas quase ninguém que lida com o assunto acredita que negociações podem levar a um acordo. E ambas as partes estabeleceram condições de cumprimento que praticamente impedem a retomada do diálogo.
Primeiro, Netanyahu está propondo que o presidente palestino, Mahmoud Abbas, cancele o acordo que fez com o grupo radical islâmico Hamas no mês passado. Apesar de sinais ocasionais de moderação, é improvável que o Hamas, em algum momento próximo, se curve às demandas para aceitar Israel, abandonar o terrorismo e acatar acordos anteriores. Segundo, palestinos continuam a pedir que Israel congele a expansão de assentamentos - em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia. Isso significa parar a construção em áreas onde vivem cerca de meio milhão de israelenses.
Essa equação poderia ter mudado se os palestinos encontrassem o suficiente para ser tentados nas visões de paz delineadas nos quatro pronunciamentos: os de Obama na quinta-feira e domingo e os de Netanyahu na segunda-feira e ontem. TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

*É REPÓRTER DA "ASSOCIATED PRESS"



BOGOTÁ
Libertados na Colômbia 200 reféns das Farc
Vítimas ficaram cerca de 48 horas em poder dos guerrilheiros; conflito começou quando rebeldes atacaram embarcações de passageiros e outra da Marinha

Efe

Cerca de 200 pessoas recuperaram sua liberdade na terça-feira, 24, após permanecerem 48 horas em poder de guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em uma região de floresta do noroeste colombiano, informou a imprensa local.
Segundo estes veículos, os aldeões chegaram a Quibdó, capital do departamento de Chocó, custodiados pelo Exército, Marinha e Força Aérea.
Na manhã de terça-feira, o prefeito da aldeia de Beté e Médio Atrato, Luis Moreno, assinalou que a situação dessas pessoas, retidas desde domingo, tendia a piorar, já que estavam ficando sem alimento.
O conflito começou no domingo, quando um grupo de rebeldes, supostamente da frente 34 das Farc, matou três civis e um policial e feriu outros dois aldeões e um militar em três ataques consecutivos contra duas embarcações de passageiros e outra da Marinha.
O defensor público de Chocó Víctor Mosquera denunciou à RCN Radio que entre três e quatro mil pessoas permanecem confinadas devido à pressão exercida pelas Farc em Médio Atrato e em outros municípios ribeirinhos do rio Atrato, a principal artéria fluvial do departamento.
Além disso, segundo camponeses da região, os insurgentes estão distribuindo à população panfletos contendo ameaças para convocar uma greve armada por ocasião do 47º aniversário de fundação da guerrilha, a mais antiga da América Latina.
Em Bogotá, o ministro de Defesa colombiano, Rodrigo Rivera, disse que cerca de 200 militares foram enviados à zona para resolver o conflito o mais rápido possível.



WASHINGTON
EUA impõem sanções a petrolífera venezuelana
Segundo Washington, medida impedirá a PDVSA de participar de contratos diretos com o governo americano; Caracas avalia impacto de punição

Os Estados Unidos anunciaram ontem a imposição de sanções contra sete entidades estrangeiras, entre elas a petrolífera estatal Petróleos de Venezuela S. A. (PDVSA), pelas relações comerciais que mantêm com o Irã.
Com as sanções, a PDVSA não poderá participar de nenhum contrato direto com o governo americano, nem ter acesso a programa de financiamento ou tecnologia americanos. No entanto, a estatal poderá continuar vendendo petróleo aos EUA e vender refinados por meio de sua filiar CITGO, disse o subsecretário de Estado James Steinberg.
Cerca de 10% das importações americanas de petróleo proveem da Venezuela, seu quinto maior exportador mundial com 1 milhão de barris diários, segundo dados oficiais.
A Venezuela manifestou ontem seu profundo repúdio pela sanção "hostil" dos EUA à PDVSA e indicou que avaliará o impacto da medida sobre o fornecimento de petróleo a esse país, declarou o chanceler Nicolás Maduro. Por meio de sua conta na rede social Twitter, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, um estreito aliado do governo iraniano, criticou as sanções americanas. "Sanções contra a pátria de (Simon) Bolívar? Impostas pelo governo imperialista gringo? Pois, boas-vindas Mr. Obama! Não esqueça que somos os filhos de Bolívar", declarou Chávez.
Washington também impôs sanções contra outras 16 entidades e indivíduos estrangeiros, entre elas empresas da China e de outros países por suas relações comerciais com Irã, Síria e Coreia do Norte, vinculadas à produção de armas de destruição em massa ou de mísseis.
A PDVSA entregou ao menos duas cargas de produtos refinados de petróleo no valor de US$ 50 milhões ao Irã entre dezembro e março, informou o Departamento de Estado. Outra empresa venezuelana, a Companhia de Indústrias Militares de Venezuela, já foi sancionada em 2008. / AFP

DEPENDÊNCIA

10% das importações americanas de petróleo proveem da Venezuela



LONDRES
Nuvem de cinzas cancela cerca de 500 voos na Europa
Atividade de vulcão na Islândia faz com que britânicos recomendem suspensões e restrinjam espaço aéreo do país

A nuvem de cinzas do vulcão islandês Grimsvotn - que se espalhava entre a Groenlândia e a Rússia ontem - causou o cancelamento de cerca de 500 voos na Europa. Milhares de passageiros foram prejudicados, enquanto algumas companhias aéreas criticaram as agências responsáveis pela segurança do setor, afirmando que as medidas preventivas teriam sido exageradas.
Nove empresas que operam a partir da Grã-Bretanha e da Irlanda anunciaram cancelamentos que afetaram pelo menos sete aeroportos da região. O British Met Office, escritório meteorológico britânico, alertava que as cinzas se espalhariam do norte da Escócia para todo o país ao longo do dia. Segundo o instituto, no entanto, a situação deve melhorar hoje, pois a previsão é a de que a nuvem se dissipe.
O governo da Islândia afirmou ontem que a quantidade de partículas expelidas pelo Grimsvotn está diminuindo. De acordo com especialistas, os passageiros deverão ser poupados de uma paralisação aérea semelhante à do ano passado, quando a erupção do vulcão islandês Eyjafjallajökull provocou o cancelamento de milhares de voos, prejudicando milhões de pessoas.
Segundo o Met Office, havia uma "alta densidade" de cinzas na atmosfera ontem. Especialistas alertaram para o risco de que as partículas poderiam estilhaçar janelas ou até paralisar turbinas de aviões.
A companhia aérea irlandesa Ryanair, porém, contestou a informação do instituto meteorológico, afirmando que uma aeronave sem passageiro enviada pela empresa ao espaço aéreo escocês não encontrou sinais de cinzas na atmosfera.
"Exatamente como havíamos previsto, não encontramos absolutamente nenhum problema. Não há nuvem sobre a Escócia. Não há traços de cinzas na fuselagem ou nas asas. O espaço aéreo não deveria ter sido restringido", disse o diretor executivo da Ryanair, Michael O"Leary.
O espaço aéreo britânico não chegou a ser fechado ontem, mas algumas companhias preferiram não arriscar e seguiram as recomendações oficiais.
A Associação Internacional de Transporte Aéreo também reclamou da atitude das autoridades britânicas, afirmando que o governo do país deveria ter realizados testes com pequenos aviões antes de recomendar os cancelamentos.
O problema também afetou a Suécia, onde dez voos domésticos acabaram cancelados. No dia anterior, a British Airways, que suspendeu 92 partidas, e a KLM, que registrou 42 cancelamentos, já haviam anunciado as medidas preventivas.
"Não temos razão para questionar o conselho oferecido pelas autoridades de aviação nesse momento. Precisamos aceitar o que os especialistas nessa área nos estão dizendo", afirmou Declan Kearney, porta-voz da companhia aérea irlandesa Air Lingus, que cancelou 22 voos.
Em Edimburgo, na Escócia, centenas de pessoas passaram a noite no aeroporto ou foram encaminhadas a hotéis. Os cancelamentos afetaram também o aeroporto de Aberdeen.
Autoridades alemãs disseram ontem que o espaço aéreo de cidades do norte do país será fechado na manhã de hoje. Os aeroportos mais afetados seriam os de Bremen e Hamburgo. Os de Berlim e Hannover funcionarão, mas com restrições. / AP




Cinzas de vulcão levam Alemanha a fechar aeroportos
Espaço aéreo no norte do país foi fechado; ministro britânico diz ter 'otimismo cauteloso' para os próximos dias.

A Alemanha fechou nesta quarta-feira, 25, parte de seu espaço aéreo ao norte do país em consequência da passagem da nuvem de cinzas do vulcão islandês Grimsvotn.
O aeroporto de Bremen foi fechado às 5h (0h de Brasília), e o de Hamburgo às 6h (1h de Brasília). O espaço aéreo sobre Berlim e Hanover também poderia ser afetado ao longo do dia.
Na terça-feira, a nuvem de cinzas já havia provocado a interrupção dos voos em partes do espaço aéreo de Noruega, Dinamarca e Grã-Bretanha.
Os voos na Escócia, na Irlanda do Norte e no norte da Inglaterra começavam a ser retomados na manhã desta quarta-feira, após cerca de 500 cancelamentos na véspera.
A agência europeia de controle de tráfego aéreo, Eurocontrol, disse que há uma grande possibilidade de que a nuvem de cinzas passe por partes da Dinamarca, da Noruega e da Suécia, mas avalia que o impacto sobre os voos deve ser limitado.
Segundo o correspondente da BBC em Berlim Stephen Evans, as autoridades de transporte alemãs adotaram uma posição mais cautelosa que a de outros países ao decidir pelo fechamento do espaço aéreo.
A autoridade de aviação civil da França disse esperar muito poucos distúrbios ao tráfego aéreo e que não esperava ter de fechar nenhuma parte do espaço aéreo do país.

'Otimismo cauteloso'
O secretário britânico dos Transportes, Philip Hammond, disse que há um "otimismo cauteloso" quanto à situação nos próximos dias no país.
Segundo ele, a nuvem de cinzas baixou em altura e intensidade, e ventos provavelmente a levarão para longe da Grã-Bretanha nos próximos dois dias.
A entidade que controla a aviação civil britânica dividiu o espaço aéreo em áreas de alta, média e baixa densidade de cinzas - e companhias aéreas que queiram voar nas regiões de média ou alta densidade necessitam de autorização para isso.
Hammond rejeitou alegações da empresa Ryanair de que, após ter feito testes, considera seguro viajar em áreas de alta densidade. "Nossa responsabilidade primordial é a segurança", disse o secretário.
Na noite desta terça, a empresa British Airways iniciou um teste sobre os efeitos das cinzas. Um Airbus A320 partiu de Manchester rumo a Londres, e sua performance será examinada por engenheiros.
No ano passado, as cinzas de outro vulcão islandês, o Eyjafjallajokull, provocaram o cancelamento de cerca de 100 mil voos na Europa ao longo de quase um mês, causando um prejuízo estimado em US$ 1,7 bilhão (cerca de R$ 2,75 bilhões).
Especialistas dizem, porém, que o Grimsvotn não deve causar tantos problemas: além de a erupção atual (iniciada no sábado) ter menor escala, suas cinzas têm partículas maiores e, por isso, caem mais rapidamente no chão.


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