DESTAQUE DE CAPA - VIDA URBANA
As sete pragas no cotidiano do brasiliense
São muitas e constantes as agruras dos moradores de Brasília. A cidade planejada e conhecida pela suposta qualidade de vida acumula problemas de infraestrutura, trânsito, crescimento desordenado. Em sentido horário, o Correio relata o drama da fila nos hospitais apesar da promessa de melhorar a saúde; a demora no Aeroporto JK; a via-crúcis no transporte; a procura por uma vaga de estacionamento; a paralisação de autoescolas e da rede pública de ensino; o congestionamento; o custo de vida nas prateleiras do supermercado. Não faltam motivos para os brasilienses ficarem irritados quando notam que o pagamento de impostos não impede as falhas do Poder Público.
PROGRAMA NUCLEAR
Caetité não quer o urânio da Marinha
Moradores de cidade baiana barram a entrada de material radioativo que seria enviado à Europa para ser enriquecido
Vinicius Sassine
Pela primeira vez na história do programa nuclear brasileiro, uma carga com 92t de urânio percorreu por terra um percurso de 1,5 mil quilômetros entre Iperó (SP) e Caetité (BA). O material radioativo, transportado em nove carretas, foi emprestado pelo Centro Experimental de Aramar, da Marinha, para as Indústrias Nucleares do Brasil (INB), estatal responsável pela extração do urânio e pela fabricação do combustível usado nas usinas nucleares Angra 1 e Angra 2, em Angra dos Reis (RJ). A carga, no entanto, chegou sem qualquer aviso à cidade baiana na noite de domingo, o que gerou um protesto dos moradores. Cerca de 3 mil pessoas formaram um cordão humano e impediram a entrada do material radioativo na cidade.
Diante do bloqueio, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a Polícia Militar conduziram o comboio de carretas para o Batalhão da PM em Guanambi, a 40 quilômetros de Caetité. A carga de urânio está parada no local e, até o início da noite de ontem, não se sabia o que fazer com o minério. “A cidade está em pânico. Aqui não se produz urânio e não queremos isso”, afirma o prefeito de Guanambi, Charles Fernandes.
O empréstimo foi a saída improvisada pelo governo para contornar a necessidade de importação de 220t de urânio em razão de licenças travadas na Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), como o Correio revelou em março. A INB decidiu transportar o urânio até Caetité para colocá-lo em tambores e, então, encaminhá-lo à Europa, onde seria convertido, enriquecido e retornaria ao Brasil.
O urânio é usualmente extraído da mina em Caetité e levado diretamente para o porto em Salvador, de onde segue para a Europa. A necessidade de o Brasil importar urânio, a um custo de R$ 25 milhões, chegou à mesa da presidente Dilma Rousseff logo no início de seu mandato. O atraso do licenciamento levou à necessidade de importação, o que gerou uma crise no programa nuclear brasileiro.
Comboio acompanhado
Para evitar a compra de todo o urânio, a Marinha e a INB assinaram um contrato de empréstimo. As 92 toneladas devem retornar ao Centro de Aramar entre 2011 e 2016. O objetivo do programa nuclear em Aramar é construir um reator nuclear para propulsão de submarinos. “Não há recursos financeiros envolvidos nesse acordo”, informa o diretor do Centro de Comunicação Social da Marinha, o contra-almirante Paulo Mauricio Farias Alves. O presidente da INB, Alfredo Tranjan Filho, afirma que o transporte do urânio foi licenciado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e pela Cnen. “O que houve foi um mal-entendido em Caetité. A população achou que era lixo atômico.”
O Ibama não confirmou a emissão da licença à INB. Já a Cnen diz, por meio de nota, que a transferência do urânio foi “devidamente aprovada”. “A Cnen aprovou o plano de proteção física da operação de transporte e também emitiu a autorização para transferência de material nuclear.” Ainda segundo o órgão, a PRF e “equipes de proteção radiológica” acompanharam o comboio de caminhões.
VOO 447
Gravações das caixas recuperadas
As informações técnicas da viagem e as duas últimas horas de conversa entre os pilotos não sumiram dos equipamentos tirados do oceano
Os investigadores que trabalham na elucidação das causas do acidente da aeronave da Air France que caiu, no Oceano Atlântico, durante uma viagem que fazia, em 31 de maio de 2009, entre o Rio de Janeiro e Paris, conseguiram recuperar os dados das duas caixas-pretas do Airbus, localizadas no início do mês em um ponto a 3,9km de profundidade. O Escritório de Investigações e Análises (BEA, pela sigla em francês) informou, na manhã de ontem, que foi possível recolher na íntegra os dados contidos no gravador sobre os parâmetros técnicos do voo e todos os registros sonoros das duas últimas horas da viagem.
Desde a última quinta-feira, quando os objetos chegaram a Paris, os investigadores retiraram vestígios de sal e secaram os cartões de memória internos das caixas-pretas. A ação foi filmada e acompanhada por dois investigadores alemães, um americano, dois ingleses, dois brasileiros — do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) —, um oficial da polícia francesa e um representante da Justiça. A expectativa é de que a análise do conteúdo recuperado consiga explicar o que causou o acidente que resultou na morte de 228 pessoas.
Todo o processo, no entanto, demorará várias semanas, segundo o BEA. Um comunicado preliminar está previsto para o verão francês, que começa no fim de junho. O documento deverá indicar como ocorreu a queda do avião, mas o Escritório de Investigações afirma que não será possível a curto prazo esclarecer todas as causas do acidente. Até o momento, a hipótese que a investigação sustenta é de que um defeito nos pitots — sensores de velocidade do avião — foi um dos principais causadores da queda.
Restos mortais
Mesmo após a polícia militar da França anunciar que havia retirado dois corpos do fundo do mar com sucesso e dito que seria possível recuperar todos os restantes, ainda há um impasse a respeito do resgate dos restos mortais das vítimas que foram localizados próximos à fuselagem do avião. Um novo grupo com 12 especialistas do Instituto de Pesquisa Criminal da Gendarmerie Nationale (IRCGN) e da Gendarmerie dos Transportes Aéreos (GTA) será enviado para o navio Ile de Sein, que está ancorado a 1,1 mil quilômetros da costa brasileira. Mas o sinal verde para que eles comecem a trabalhar dependerá da possibilidade de identificação por exame de DNA das vítimas já içadas. O material genético recolhido está em análise.
O trabalho de içamento dos demais restos mortais está suspenso pelo menos até o próximo dia 21, quando os profissionais devem chegar à embarcação. A Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 447 defende que todos os corpos sejam retirados para que os parentes possam fazer um enterro e resolver questões legais, como a emissão de certidão de óbito e a entrada no pedido de indenização. Poucos dias após o acidente, 50 corpos foram localizados e identificados.
Pilotos do Legacy são condenados
Os pilotos americanos do jato Legacy que se chocou, em setembro de 2006, contra um avião da Gol foram condenados, ontem, a quatro anos e quatro meses de prisão pelo crime de atentado contra a segurança do transporte aéreo. De acordo com a decisão, proferida pelo juiz federal Murilo Mendes, da Justiça Federal em Sinop (MT), Joseph Lepore e Jan Paul Paladino, acusados de ter cometidos os erros que resultaram na queda da aeronave — como não se comunicar com a torre de controle —, devem cumprir a pena em regime semiaberto e terão os documentos de habilitação para voo suspensos. O avião da Gol voava de Manaus para o Rio de Janeiro quando foi atingido pelo jato da empresa americana ExcelAire. Em seguida, caiu em mata fechada em Peixoto de Azevedo (MT). Cento e cinquenta e quatro pessoas morreram.
BRASÍLIA-DF
Por Luiz Carlos Azedo
Contrabando
A prioridade do governo na Câmara não é votar o novo Código Florestal, mas a mudança na Lei de Licitações para as obras da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, incluída na MP n° 521/10. Originalmente, a MP trata do valor da bolsa de médicos residentes. A oposição estrila: hoje, o líder do DEM, o baiano ACM Neto (foto), protocola um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar impedir a aprovação da medida.
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