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segunda-feira, 16 de maio de 2011

15 de maio de 2011 - FOLHA DE SÃO PAULO


ROYALTIES
Rio teme caos social com nova riqueza do petróleo
Falta de planejamento pode desperdiçar royalties e repetir erros de Macaé
Projeção aponta que os homicídios podem quadruplicar em novo polo petroquímico; migração é desordenada

ITALO NOGUEIRA - DO RIO

Dez anos após a chegada dos royalties e a explosão de homicídios em Macaé (RJ), "capital do petróleo", o Rio de Janeiro se prepara para tentar conter uma nova onda de violência que pode surgir a reboque dos principais investimentos no Estado. O governo e moradores temem que a migração em massa de trabalhadores atraídos pelos novos empregos gerem ocupação desordenada, mais desigualdade social e violência.
Em Itaboraí, cidade-sede do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio), estudo feito pelo ISP (Instituto de Segurança Pública), da Secretaria Estadual de Segurança, concluiu que, se nada for feito, a taxa de homicídios pode quadruplicar em nove anos. O aumento pode se estender a São Gonçalo, município vizinho. O empreendimento, cuja obra começou em 2008, entra em operação em 2014. Na ilha da Madeira, em Itaguaí, moradores temem que os investimentos do Superporto Sudeste, do empresário Eike Batista, e o estaleiro da Marinha acabem com a vida pacata do local.
O ISP quer fazer projeções sobre o impacto na violência urbana desse empreendimento, bem como do Porto do Açu, em São João da Barra e do Arco Metropolitano, via expressa que atravessa oito cidades. O trabalho aguarda recursos orçamentários. Em Macaé, a chegada do investimento no setor petrolífero, na década de 80, iniciou a alta dos homicídios, intensificada no final da década de 90 com os royalties. A cidade não se preparou para o aumento da população, que triplicou entre 1980 e 2010. A taxa de homicídios, que era de 12 por 100 mil habitantes em 1980 alcançou 95 por 100 mil em 2007, segundo dados do ISP. O estudo aponta áreas em Itaboraí já sob controle de traficantes. A taxa de homicídios foi de 44 por 100 mil habitantes em 2010, acima da média estadual (29,8). Em 2020, pode chegar a cerca de 180, aponta projeção do ISP. "Em Itaboraí já temos um cenário violento. Mas diagnosticar e planejar é o início para melhorar esse cenário", disse o diretor do ISP, tenente-coronel Paulo Augusto Teixeira.


Investimento na ilha da Madeira é de R$ 5 bilhões
Superporto Sudeste já está em execução

CIRILO JUNIOR - DO RIO

Empregos, geração de renda, novos negócios de um lado. Risco de aumento da violência, favelização e poluição de outro. Moradores da pacata ilha da Madeira, em Itaguaí, a 70 quilômetros do Rio, se mostram divididos sobre o futuro que está sendo imposto à região. Na ilha estão sendo erguidos empreendimentos de grande porte, como o Superporto Sudeste, do empresário Eike Batista, e o estaleiro da Marinha para a fabricação de submarinos nucleares. Ambos deverão estar operando em até três anos. A Usiminas já acena com um novo projeto no terreno da antiga mineradora Ingá, e a Petrobras avalia montar ali uma base logística para operações na camada pré-sal. Juntos, todos os investimentos devem ultrapassar R$ 5 bilhões. Silêncio e tranquilidade foram substituídos pelo barulho de máquinas, explosões e poeira. O temor agora é que a violência chegue na esteira do progresso. "Deixávamos nossas casas abertas, mas já não fazemos isso mais. Tem muita gente estranha circulando aqui", diz o pescador Valter Marinho, 52.
O empreendimento de Eike, o de maior porte, está em execução. Apesar de pagar valores acima dos estimados para os imóveis, encontra resistência de moradores. "As pessoas deveriam ficar. Ninguém é obrigado a sair. Estão pagando bem, mas não é o preço da minha liberdade, de viver no meu lugar", afirma o comerciante Marco Antônio da Silva Rocha, 46. Batizada em homenagem à ilha homônima, em Portugal, a ilha da Madeira tem na pesca o motor de sua economia. Às margens da baía de Sepetiba, sua atividade pesqueira teve queda significativa nos últimos anos por conta da entrada de indústrias, como a CSA (Companhia Siderúrgica do Atlântico). Presidente da Associação de pescadores da ilha da Madeira, Sérgio Hiroshi não é desfavorável à chegada de empresas na região, mas questiona se não seria prudente limitar seu número.

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