ELEIÇÕES
Doações com retorno rápido
Três das cinco empreiteiras que mais financiaram partidos na disputa de 2010 já receberam em contratos governamentais o valor entregue para a campanha eleitoral
Leandro Kleber
As principais empresas doadoras da campanha de 2010, a eleição mais cara da história do país, já receberam de volta do governo o dinheiro que desembolsaram, segundo levantamento realizado pelo Correio. As maiores doações do setor privado vieram de empreiteiras, seguidas pelos bancos. Todas têm grandes contratos com o governo, incluindo os empreendimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
As cinco empreiteiras com os maiores contratos receberam R$ 227 milhões neste ano. Entre os grandes empreendimentos estão a construção da Ferrovia Norte-Sul e a transposição do Rio São Francisco, duas das principais obras do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixadas para a gestão de Dilma Rousseff, a manutenção de rodovias federais, principalmente da BR-101 em diversos estados do país, e a implantação de sistemas de irrigação em municípios em regiões áridas. No ano passado, as cinco construtoras doaram R$ 220 milhões para campanhas eleitorais de candidatos a deputado, senador, governador, presidente da República de diferentes partidos políticos e para comitês e diretórios das siglas.
As construtoras Queiroz Galvão, OAS e Odebrecht figuram entre as que já superaram, em faturamento do governo, o que doaram em 2010. As empreiteiras Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, ainda em “deficit”, deverão em breve recuperar o que gastaram com as eleições. Isso porque a primeira toca trechos da Ferrovia Norte-Sul, que deverá ter, quando pronta, extensão de 1.980km cortando os estados de Goiás, Maranhão, Pará e Tocantins. A Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S.A., empresa pública vinculada ao Ministério dos Transportes, é a responsável pelo empreendimento.
As doações das empreiteiras não denotam preferência por um partido ou por ideologia que abarque várias legendas. Todas as empreiteiras, sem exceção, pulverizam a verba em siglas que vão desde as que se denominam comunistas ou socialistas, como o PCdoB e o PSB, até as consideradas mais conservadoras e de direita, como o DEM. Mas o PT, que conseguiu eleger o presidente da República nas últimas três eleições, domina os financiamentos. Em 2010, do total recebido pela legenda na conta partidária, 34% dos recursos vieram de empreiteiras e 13% de bancos.
Mesmo sendo beneficiados por grandes empresas, no Congresso, os parlamentares petistas defendem que a reforma política proíba verba privada de campanha. Alegam que o financiamento público seria mais justo e colaboraria para diminuir a corrupção. O tema está em debate e encontra defensores em outros partidos e em analistas políticos, que consideram as campanhas eleitorais brasileiras muito caras para padrões internacionais.
Infraestrutura
Desde 2007, as cinco empreiteiras consideradas no levantamento já receberam cerca de R$ 5 bilhões do governo federal por prestar serviços na área de infraestrutura. Só a Norberto Odebrecht foi contemplada com quase R$ 2 bilhões. Neste ano, R$ 9,3 milhões entraram nos cofres da empresa principalmente por meio do programa de reaparelhamento e adequação da Marinha. A empresa está envolvida com a construção dos submarinos do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), que inclui ainda a construção de um estaleiro e de uma base naval em Itaguaí (RJ). Nas eleições do ano passado, o PSDB foi o partido que mais recebeu recursos da empreiteira.
Já a Queiroz Galvão, que executa prioritariamente obras em rodovias, como a BR-448 e a BR-101 no Rio Grande do Sul, e a BR-235, em Sergipe, já levou R$ 103 milhões este ano, sendo a maior parcela destinada pelo Ministério dos Transportes. Ao financiar os partidos políticos nas eleições de 2010, os representantes da empresa optaram por PT e PMDB preferencialmente, mas sem se esquecer do PSDB e do PSB. No total, foram R$ 65 milhões em doações.
Para o cientista político Antônio Flávio Testa, da Universidade de Brasília (UnB), há uma aliança estratégica entre empreiteiras e partidos políticos. Segundo ele, direcionamento de obras pós-eleições invariavelmente validam o investimento feito durante o pleito. “A força das empreiteiras é enorme no processo político brasileiro, uma vez que boa parte dos parlamentares é eleita por conta das doações. Essa estratégia de cooptação deve crescer, já que os investimentos em infraestrutura, logística e construção civil ensejarão bons negócios para os parceiros: empreiteiras e partidos políticos”, avalia.
Procuradas pela reportagem, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez informaram que as doações aos partidos políticos em 2010 foram realizadas de acordo com a legislação vigente e com as normas da Justiça Eleitoral, sendo devidamente registradas. A assessoria de imprensa da Odebrecht informou ainda que faz “suas doações dentro de uma visão republicana e em prol da democracia e do desenvolvimento econômico e social do país”. A empresa ressaltou também que os contratos com o governo federal foram obtidos por meio de licitações, “seguindo rigorosamente as normas previstas”. “Em 2010, apenas 1,15% da receita da Odebrecht S.A é oriunda de contratos com o governo federal”, conclui.
Já a Camargo Corrêa informou que “apoia candidatos, comitês e partidos comprometidos com o país e que o montante doado é compatível com as receitas do grupo”. Até o fechamento desta edição, a construtora OAS não se manifestou.
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