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quarta-feira, 11 de maio de 2011

11 de maio de 2011 - O GLOBO


DESTAQUE DE CAPA - OS ARQUIVOS DAS FARC
Governo Chávez pediu que Farc matassem opositores

Altos funcionários do governo de Hugo Chávez pediram às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) que treinassem milícias, fizessem atentados e assassinassem opositores do presidente da Venezuela. A revelação foi feita em Londres pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, com base em arquivos eletrônicos de um comandante das Farc, apreendidos no Equador em 2008. A autenticidade dos documentos foi confirmada pela Interpol. Segundo o dossiê, lançado como livro, nada indica que os assassinatos se realizaram e que as negociações ocorreram com o conhecimento de Chávez. O presidente do Equador, Rafael Correa, teria recebido US$ 400 mil para a campanha de 2006. Chávez cancelou viagem ao Brasil sob alegação de problemas no joelho esquerdo.


Relações mais do que perigosas
Governo Chávez pediu que guerrilha treinasse milícias e matasse opositores, revela dossiê

Fernando Duarte

Um dossiê de 240 páginas publicado como livro ontem pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), de Londres, contradiz as afirmações do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, de que as ligações de seu governo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) teriam sido obra de ações individuais isoladas ou mesmo invenções para desestabilizá-lo. Com base em arquivos eletrônicos de um comandante da guerrilha apreendidos numa ação do Exército colombiano no Equador, em 2008, o dossiê diz que Chávez não só prometeu verbas às Farc como membros de seu governo pediram apoio para treinamento de milícias e o assassinato de opositores.
Compilado após a análise de milhares de emails e documentos - cuja autenticidade foi confirmada pela Interpol em 2008 - o dossiê estabelece que Chávez via nas Farc um aliado nas divergências com a Colômbia e um fator de distração nas operações de cooperação militar entre Bogotá e Washington. Em 2007, o presidente teria prometido US$300 milhões ao grupo para a compra de armas para enfrentar o Exército colombiano. Segundo o IISS, a promessa não foi adiante pela falta de um canal mais discreto para a transferência de fundos. Ainda que o livro afirme que a chegada das Farc à Venezuela ocorreu antes da Presidência de Chávez, sua ascensão ao poder, em 1999, fortaleceu os laços e abriu novas portas à guerrilha, como a possibilidade de obter armas de parceiros comerciais do país, incluindo a China, por meio de acordos triangulares.
O material também reacende a polêmica envolvendo o atual presidente do Equador, Rafael Correa: as Farc teriam contribuído financeiramente para a eleição dele, em 2006. No entanto, o que a guerrilha viu como um grande passo nos esforços de infiltração na política e território equatorianos acabou não se concretizando.
- Foi a Venezuela, ainda no início da década de 1990, que se transformou num elemento central para a estratégia de sobrevivência das Farc - afirmou ontem Nigel Inkster, diretor do IISS.
Embora algumas das informações já tivessem sido divulgadas, boa parte da documentação está caindo pela primeira vez em domínio público. O material foi entregue ao IISS pelo Ministério da Defesa colombiano, em 2009, ainda no governo de Álvaro Uribe. O centro também se utilizou de outras fontes, como relatos de ONGs internacionais. O material faz parte de uma série de arquivos encontrados em poder de Raúl Reyes, então o número 2 das Farc, morto no bombardeio a um acampamento das Farc no Equador - que resultou no rompimento das relações entre Quito e Bogotá por dois anos.

Caracas afirma que material não é confiável
Em Londres, a Embaixada da Venezuela declarou que o informe era pouco confiável, lembrando que a Suprema Corte colombiana resolveu não considerar o conteúdo dos computadores. O vice-chanceler equatoriano, Kintto Lucas, por sua vez, afirmou que a informação sobre o financiamento para a campanha de Correa era "totalmente falsa". Já o governo colombiano disse que não se pronunciaria por algo que não escreveu.
Os emails falam de um encontro entre Reyes e Chávez, em 2000, em que o guerrilheiro obteve a garantia de um empréstimo para a compra de armas. Há detalhes também sobre negociações com o alto escalão da inteligência venezuelana para o treinamento de milícias e para conduzir assassinatos e atentados a bomba em Caracas por volta de 2002 e 2003, período em que Chávez sobreviveu a uma tentativa de golpe - ainda que essas conversações, segundo o material, tenham ocorrido sem o conhecimento do presidente. Funcionários teriam pedido, por exemplo, a morte de um ex-agente do serviço de segurança, Henry López Sisco, então chefe da segurança do governador Manuel Rosales, um opositor.
Os arquivos mostram também sinais de tensões entre as Farc e Caracas, revelando que antes da reaproximação com Bogotá, Chávez teria traído a confiança dos guerrilheiros. O dossiê se refere à interceptação de um comboio com uniformes roubados do Exército colombiano, em 2002, após militares venezuelanos terem dado permissão à entrada no país. Chávez é citado num email por um integrante do secretariado das Farc como "divisivo e ardiloso"".


CORPO-A-CORPO - JAMES LOCKHART SMITH
'Farc desenvolveram relação estratégica com Venezuela'

LONDRES. Autor do dossiê do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, o pesquisador James Lockhart Smith afirma que a divulgação de informações ligando o governo Chávez às Farc foi desprovida de ideologia. Ele afirma que os paramilitares é quem foram mais expostos pelos documentos, ainda que eles provem a duplicidade do presidente venezuelano.

Os Arquivos Reyes são bastante embaraçosos para Caracas, não?
JAMES LOCKHART SMITH: Sim, pois ainda que estejamos analisando informações decorrente de diálogos entre guerrilheiros, as evidências de que o governo Chávez vem jogando com os dois lados (governo colombiano e Farc) é bastante convincente. Mas não queria condenar ninguém com o dossiê, não há objetivos ideológicos. Só creio que é um material de interesse público e que deveria ser divulgado.

O quão envolvido o presidente estava?
SMITH: Há relatos de um encontro pessoal do presidente com Reyes, mas as comunicações estão repletas de menções a reuniões com diplomatas, ministros e militares venezuelanos. Não se pode dizer que o presidente sabia de todos os detalhes, mas me parece estabelecido o envolvimento de seu governo.

Como lidar com dúvidas sobre a autenticidade dos documentos?
SMITH: Não há razão para duvidar de sua autenticidade e mesmo a Interpol já endossou os documentos. Como as pessoas vão interpretá-los é outra questão. Daí eu reafirmar que não preparei um dossiê contra Chávez, mas sim um documento mostrando como a organização desenvolveu um relacionamento estratégico com o governo venezuelano.

Seu dossiê também aponta para o uso da comunidade internacional para propaganda por parte das Farc...
SMITH: A organização se aproveitou bastante da atenção despertada internacionalmente, especialmente quando seus representantes foram recebidos por autoridades europeias. Ganhou valor de marca usando um discurso de política da paz ao mesmo tempo em que jamais pareceu realmente estar disposta a negociar um acordo. Em todo o material que passei os últimos dois anos analisando, em nenhum momento encontrei evidências de que os integrantes da Farc pensavam em aceitar um compromisso.

O senhor acredita, então, que a organização também foi exposta com o dossiê?
SMITH: Certamente houve danos de imagem, pois o público poderá ver a diferença entre o discurso e as operações. Mas não quer dizer enfraquecimento. Se esse material tivesse vindo à tona no início da década passada, quando as Farc começavam a ganhar projeção nacional e internacional, as coisas poderiam ser diferentes.
(Fernando Duarte)



Em 1992, ajuda a movimento de tenente-coronel golpista

Sergio Gómez Maseri
Do El Tiempo

WASHINGTON. Embora às vezes se afirme que a  relação das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia com a Venezuela se inicia com a ascensão de Hugo Chávez, os emails de Raúl Reyes mostram que ela começa em governos anteriores. Mas fica claro que foi desde sua ascensão que adquiriu uma dinâmica diferente.
As Farc — que  em 1998  já contavam com seis  frentes na  fronteira — estabeleceram contatos de  alto nível com os governos de Rafael Caldera (1994 a 1999) e com o anterior, de Carlos Andrés Pérez. Os contatos denotam o interesse em se infiltrar na vida política venezuelana e, em relação aos governos, de minimizar seu impacto na fronteira.
O primeiro contato  formal das Farc com Chávez ocorre na época de sua  tentativa de golpe contra Pérez, em 1992, quando era tenente-coronel. Embora a guerrilha privilegiasse as relações com o governo oficial, via Chávez como uma promessa e, por isso, decidiu apoiá-lo. Após sua prisão na fracassada tentativa de golpe, as Farc destinaram cerca de US$150  mil,  que  supostamente  foram  utilizados  pelo  MBR-200 —  movimento  de  Chávez —  para  a  compra  de equipamentos de telefonia por rádio e outros materiais que necessitavam.
As Farc, durante muitos anos, não souberam se todos os fundos haviam chegado a seu destino até obterem a confirmação de Ramón Morales, assessor de segurança de Chávez, em 2004.
 “Excelente a conversa com o amigo Morales. É bom saber que alguém confirma que recebeu nossa solidariedade com Chávez e seus amigos tantos anos antes. Se Morales conhece a história e é seu assessor de segurança, então temos uma boa ligação que nos aproxima mais de Chávez”, escreve Reyes a Rodrigo Granda, representante da guerrilha na Venezuela.
Nos emails aparece também, à frente dos contatos, Ramón Rodríguez Chacín, colaborador próximo de Chávez e número 2 na Disip (a Direção Nacional de Inteligência). Nos arquivos há 19 emails entre Reyes e Chacín.


No Brasil, chanceler de Chávez evita comentar
Patriota minimiza acusações contra o governo da Venezuela, ressaltando bom entendimento entre o país e a Colômbia

Eliane Oliveira

BRASÍLIA. Em visita ao Brasil, o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, evitou comentar a notícia divulgada ontem, em Londres, de que em 2007 o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, prometera US$300 milhões às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Maduro preferiu abordar o tema na reunião fechada com seu colega, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota que, por sua vez, minimizou o fato.
- O que é importante sublinhar aqui, e que o chanceler Maduro sublinhou, é o novo ambiente de entendimento entre Colômbia e Venezuela, pois houve extradição de lado a lado, independentemente da pressão interna para que não ocorresse. Esse clima é muito importante para que trabalhemos para a integração regional - afirmou Patriota, acrescentando não ter lido o texto a respeito do assunto.
Segundo um alto funcionário que acompanhou parte das conversas, Maduro teria dito a Patriota que o clima entre seu país e a Colômbia é de paz e reaproximação. Ele revelou, porém, que tanto Chávez sofre pressões da extrema esquerda quanto Juan Manuel Santos, presidente colombiano, enfrenta forte resistência da ultradireita.
- Tanto é assim que Venezuela e Brasil decidiram se empenhar para atrair a Colômbia para o Mercosul - disse essa fonte.

Venezuelano adia visita a Brasília para o mês que vem
Maduro não falou sobre o tema aos jornalistas que aguardavam o fim do encontro. Respondeu a apenas três perguntas, duas delas da imprensa venezuelana e uma de um jornalista brasileiro. Demonstrando pressa, foi retirado por sua equipe do recinto onde dava entrevista, antes de responder à quarta indagação da imprensa brasileira, como havia sido acertado previamente. Ele saiu sem ouvir a questão sobre a ligação de Chávez com as Farc.
O chanceler brasileiro relatou que partiu de seu colega venezuelano o primeiro comentário a respeito da divulgação do documento "Dossiê das Farc: os arquivos secretos de Venezuela, Equador e Raúl Reyes".
Impossibilitado de vir ao Brasil devido a uma lesão no joelho esquerdo - segundo alegou o governo de Caracas - o presidente da Venezuela telefonou para Nicolás Maduro no momento em que este se reunia com o ministro brasileiro. Chávez lamentou a ausência em rápida conversa com Patriota, mas assegurou que visitará Brasília até o fim de junho. O líder venezuelano pretende se reunir com a presidente Dilma Rousseff antes do encontro de cúpula de chefes de Estado na América Latina e no Caribe.




Dossiê: US$400 mil para Correa

BOGOTÁ. Funcionários da campanha de Rafael Correa à Presidência do Equador teriam buscado o financiamento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, em 2006, com o conhecimento do candidato, de acordo com o livro do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos. Embora já houvesse rumores de uma suposta ligação entre Correa e as Farc, esta é a primeira vez em que surgem relatos de um envolvimento direto do homem que hoje governa o Equador.
O livro sugere que US$400 mil podem ter sido destinados à campanha. Há um extrato bancário em que aparecem US$100 mil - o que coincide com a cifra e a data citadas como financiamento das Farc. O dinheiro teria sido entregue a Jorge Brito, ligado à campanha. Mas o dossiê acrescenta que outros US$300 mil teriam sido entregues por "amigos da Frente 48". Seriam os irmãos Jefferson, Miguel e Edison Ostaiza, ligados ao tráfico de drogas colombiano. O governo equatoriano nega as acusações.
As conclusões sobre Correa não vêm dos arquivos do computador do guerrilheiro Raúl Reyes, mas do testemunho de um membro das Farc no Equador em 2006. O guerrilheiro, que mais tarde deixou as Farc, diz ter sido "assediado pela equipe de campanha de Correa, falando primeiro com um intermediário; depois em pessoa com Ricardo Patiño (atual chanceler); e, finalmente, com Correa, numa série de três ligações telefônicas". Segundo o livro, "evidências circunstanciais e diretas indicam que Correa estaria envolvido na decisão".
O ex-guerrilheiro disse que não podia confirmar se a contribuição se concretizou porque foi preso. Mas o IISS afirma que registros bancários obtidos pela autoridade eleitoral equatoriana são "a mais forte indicação de que as contribuições foram usadas na campanha".
- Nunca na minha vida vi alguém das Farc - respondeu Patiño ontem.


CORPO-A-CORPO: JOSÉ CARRASQUERO
'Chávez já não tem tanta audiência como antes'

De tudo o que os emails de Raúl Reyes revelaram, o que mais surpreendeu os venezuelanos foram os supostos pedidos para a guerrilha assassinar figuras da oposição. Para o analista político venezuelano José Carrasquero, a repercussão deve ser maior fora do país, minando o projeto político de Hugo Chávez no exterior.

Cristina Azevedo

Como esse dossiê vai influenciar as relações entre Colômbia e Venezuela?
JOSÉ CARRASQUERO: Tenho a sensação de que não deve alterar as relações entre (Juan Manuel) Santos e Chávez, porque os documentos foram entregues ao instituto anos atrás. Não se pode atribuir isso ao atual governo colombiano. Por outro lado, uma reação negativa da Venezuela em relação à Colômbia seria como validar o que sempre negou: Caracas nunca reconheceu que a informação (dos computadores) fosse válida. É certo que pode haver um certo mal-estar. Mas não creio que vá provocar uma reação adversa.

Como isso se reflete dentro da Venezuela?
CARRASQUERO: Há uma forte presença de informações, sobretudo em jornais e na web. Mas não é a primeira vez que ouço falar disso. Há algumas coisas novas, como o pedido de funcionários venezuelanos (para as Farc) assassinarem duas pessoas. Se houve ou não a tentativa, não aparece. A ajuda com dinheiro e armas já aparecia na primeira vez em que se falou sobre a apreensão dos computadores. Certamente vai haver um questionamento ao governo. Mas ele vai se limitar a contestar a validade dos documentos, como já fez (no passado) através de campanhas de comunicação, perguntando como um computador poderia resistir a um bombardeio.

No caso de Rafael Correa, quais as consequências?
CARRASQUERO: Isso é novo para mim. E chega para Correa em má hora, num momento em que tenta aprovar um referendo para ter maior controle sobre os meios de comunicação. A pergunta que vai surgir é se, com uma imprensa controlada, esse tipo de assunto seria divulgado como está sendo. Creio que vai haver uma discussão importante sobre o papel dos meios de comunicação e as democracias.

Como os documentos vão influenciar a relação de Chávez com a América Latina?
CARRASQUERO: Já causaram impacto. Creio que Chávez já não tem tanta audiência como tinha antes. Basicamente porque depois do bombardeio da Colômbia (ao acampamento de Raúl Reyes), a reação de Chávez foi desproporcional, o que de alguma forma colocou em questão a neutralidade do presidente. Parecia a reação de uma pessoa afetada. Creio que a audiência do presidente frente a outros presidentes latino-americanos se deteriorou, reduziu-se mais a intercâmbio comercial do que político, que ele pretendia.


OBRAS DE AMPLIAÇÃO DE AEROPORTOS
PPPs de Guarulhos e Brasília terão R$ 1,7 bi
Modelo de parceria com iniciativa privada manterá prestação do serviço ao usuário nos aeroportos nas mãos da Infraero

Geralda Doca

BRASÍLIA. A concessão das obras de ampliação dos aeroportos de Guarulhos (SP) e Brasília - que vão demandar pelo menos R$1,74 bilhão em investimentos - será feita por intermédio de Parcerias Público-Privadas (PPPs) administrativas. O modelo vai assegurar que a prestação do serviço ao usuário (passageiros e companhias aéreas) continue nas mãos do Estado, por intermédio da Infraero. Caberá ao investidor privado construir a infraestrutura (novos terminais, estacionamentos) e responder pela manutenção, limpeza e segurança das áreas.
A iniciativa privada terá como contrapartida as receitas comerciais (aluguel de lojas, espaços publicitários e estacionamento), por, no máximo, 35 anos. Já a estatal continuará responsável pelo embarque de passageiros, sistema de raios X, serviço informativo de voo e recebimento das tarifas operacionais.
Os projetos básicos de engenharia elaborados pela Infraero estão servindo de base para a modelagem das concessões. Os trabalhos apontam que as intervenções em Guarulhos sairão por, no mínimo, R$1 bilhão, e, em Brasília, por R$740 milhões. Os estudos preveem que boa parte das obras esteja concluída em dezembro de 2013, para atender à demanda da Copa de 2014.
- É uma PPP administrativa porque receita comercial não é tarifa (remuneração nas PPPs tradicionais). Na prática, a Infraero vai pagar o investidor para construir e prestar um serviço associado - disse uma fonte do governo.
O modelo de PPP foi sugerido pela própria Infraero, depois que o governo anunciou a participação do setor privado nos aeroportos. Além de ser um regime mais rápido, por não envolver a concessão do serviço aeroportuário (o que exigiria a definição prévia de indicadores de desempenho para as atividades operacionais), não causa prejuízos ao seu processo de abertura de capital. Ou seja, mantendo o empreendimento sob poder da empresa, a Infraero continua atraente para futuros investidores.
Questões ideológicas, sobre a privatização na gestão do PT, e sindicais também pesaram na definição da escolha por PPP, segundo fontes. Para vencer a resistência por parte dos trabalhadores da Infraero, o sindicato da categoria recebeu a garantia de que todas as atividades operacionais ficarão nas mãos da estatal. Portanto, não haverá qualquer alteração no quadro de pessoal.
Depois de o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, ter dito, numa reunião na semana passada com autoridades do setor, que a presidente Dilma Rousseff vetaria o cronograma para o lançamento do edital de Guarulhos em meados de 2012, os responsáveis pelo processo apertaram o calendário e correm para concluí-lo até a virada deste ano. A nova previsão é realizar o leilão - pelo menos da construção do terceiro terminal paulista - em fevereiro. Para isso, a ideia é aproveitar projetos básicos de engenharia da Infraero para a expansão dos terminais de Guarulhos e Brasília. Caberá aos vencedores da concorrência elaborar os projetos executivos.


ANCELMO GOIS

Rádio Aeroporto
Primeiro foi a TAM que comprou um pedaço da Trip. Agora, fala-se que a Gol sonha com um naco da Passaredo, outra miúda. A conferir.

Au, au, au
O voo 3945 da TAM (Rio-São Paulo) que deveria ter partido às 17h15m, ontem, ficou retido no Santos Dumont porque a pista foi invadida por... um cachorro. Acredite. Três carros do Corpo de Bombeiros foram mobilizados para resgatar o totó. A operação durou 15 minutos.


A SECA de 2005 provoca matança de peixes no Lago do Rei, na Amazônia: o fenômeno se repetiu, e ainda mais devastador, apenas cinco anos depois
Eventos extremos mudam cenário da Amazônia
Grandes estiagens e chuvas intensas serão mais frequentes, provocando impactos na produção pesqueira e nas hidrelétricas

Renato Grandelle

Uma das mais famosas paisagens da Amazônia, o Rio Negro tem andado irreconhecível. Em julho de 2009, atingiu seu maior nível histórico - 29,7 metros, desalojando milhares de pessoas. Pouco mais de um ano depois, uma seca intensa fez seu curso d"água desabar para 13,6 metros, batendo um novo recorde. Seu sobe-e-desce é retrato fiel do quanto as mudanças climáticas têm alterado aquele bioma. As transformações foram alvo de um estudo, divulgado ontem, que leva a assinatura do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Met Office, o órgão de meteorologia do governo britânico. Ambos constataram sinais de que, até 2080, o índice de pluviosidade local pode ser reduzido em até 41%, provocando impactos econômicos, inclusive na produção de energia elétrica, e ameaçando a sobrevivência de outros ecossistemas do país.
Nos últimos cinco anos, a Amazônia passou por três eventos extremos: uma enchente (2009) e duas grandes estiagens (2005 e 2010). São fenômenos que desafiam a ocupação humana e qualquer possibilidade de adaptação. Até porque, segundo o novo relatório, a seca será cada vez mais frequente.
- Uma estiagem como a de 2005 ocorre, em média, uma vez a cada duas décadas. Mas, em 2025, ela poderá acontecer ano sim, outro não - alerta José Marengo, climatologista do Inpe e um dos autores do relatório. - O mundo não está preparado para esta sucessão de eventos extremos. Se alguém nos disser com antecedência que o índice de chuvas cairá 10% nas próximos cem anos, conseguimos nos adaptar. Mas é difícil acostumar-se com uma sequência de enchentes e secas.

Índice de chuvas cairá até 41%
Nos últimos 50 anos, a temperatura média no Brasil aumentou 0,7 grau Celsius. Este índice pode se multiplicar até 2080. Seja qual for o aumento, deixará os céus amazônicos menos úmidos. Se a elevação das temperaturas globais for de 2 graus Celsius - cenário otimista -, a precipitação pluviométrica da floresta cairá 11%. Se, no entanto, subir 6,2 graus Celsius, o bioma perderá 41% de chuvas.
Por enquanto, ressalta Marengo, a tendência de seca da Amazônia é restrita a algumas áreas, especialmente nos estados do Pará e Amazonas. Mas o efeito, mesmo localizado, pode provocar estragos consideráveis no país inteiro.
- Se chover menos em uma área de hidrelétrica, a produção de energia terá resultado menor do que o ideal - ressalta. - O potencial de geração de energia da Amazônia, assim, não seria alto como gostaríamos. É recomendável ter um plano de contingência e investir, também, em outras fontes limpas, como a eólica e a solar.
Se repetidas em série, as estiagens transformarão as florestas secundárias do leste da Amazônia, a partir de 2040, em savanas. Para atingir este cenário, o desmatamento precisa derrubar 40% da floresta, o que tornaria o bioma irrecuperável.
A Amazônia pode não ser conhecida por solos rachados e rios convertidos em filetes, mas já existem sinais de que o bioma está mais seco. No ano passado, a produção pesqueira caiu de dez para apenas uma tonelada mensal.
- As companhias de turismo se queixavam porque seus navios ficavam parados - lembra Marengo. - As embarcações que transportam grãos também não conseguiam passar, paralisando a economia. A floresta, quanto está mais seca, fica vulnerável a incêndios, e os aeroportos volta e meia têm de fechar por causa da fumaça. Também devido a ela, aumentam os problemas respiratórios e a procura por hospitais. São, enfim, inúmeros impactos.
Os revezes não conhecem fronteiras. Uma seca no maior bioma brasileiro afetará os vizinhos. As precipitações do sul da floresta são as responsáveis por alagar as planícies pantaneiras, nutrindo toda sua vida na estação de chuvas. A umidade amazônica também viaja para o Centro-Sul do país, Cerrado e Caatinga.
Nem todas as mudanças climáticas, ressalte-se, são influenciadas pelo homem. Algumas vistas na Amazônia são resultado de ciclos naturais, que duram até 30 anos.
- Passamos por períodos de El Niño muito rigoroso, e este fenômeno faz chover menos na Amazônia. Teoricamente, deveríamos entrar em uma época mais chuvosa agora - anuncia Marengo.
O problema é que, devido à ação humana, existe uma tendência de aquecimento global, o que seca a floresta. Qual será, então, o futuro da Amazônia? Os pesquisadores ainda procuram a resposta.

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