ENTREVISTA | PEDRO SIMON
Não tenho mais atividade partidária
Ana Paula Siqueira
O senador Pedro Simon (PMDB-RS) parece não ter mais nenhuma ilusão quanto à própria classe política. Depois da escolha dos membros do Conselho de Ética do Senado, que inclui nomes como do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e Gim Argello (PTB-DF), ambos envolvidos em recentes escândalos, Simon acredita que era melhor que o órgão permanecesse sem funcionar, como já estava há algum tempo. Ele mantem sua posição com relação ao PMDB – partido que ele ajudou a criar – e diz que não muda de legenda por pura falta de opções. “Ir para onde?”, questiona. Se, por um lado, Simon vê os governos de FHC e Lula como duas faces de uma mesma moeda, ele diferencia os estilos de Dilma e de seu antecessor. Mas teme que ela se deixe levar pelo peso da governabilidade. Sempre lembrado como um político exemplar, Simon foi alvo de duras críticas, por 20 anos depois de deixar o governo do Rio Grande do Sul, ter solicitado aposentadoria como ex-governador. E confessa ter sido pressionado pela opinião pública a abrir mão do benefício.
Após o episódio envolvendo o senador Roberto Requião que tomou o gravador de um jornalista o Senado, enfim, empossou-se o Conselho de Ética. Como viu a indicação de nomes como Renan Calheiros (PMDB-AL) e Gim Argello (PTB-DF) para compor o órgão?
– É uma instituição que não tem o que fazer. Seria muito interessante que, se não fosse extinta, que continuasse sem funcionar. Falo como uma pessoa que jamais quis pertencer ao Conselho de Ética. Sou um advogado e na minha vida só fiz defesa. Não sei acusar. Mas se tu entras, tens que cumprir tua missão. Agora, entrar já com a determinação de não apurar é muito triste. Ninguém ganhou com isso. Diria que foi um dos episódios mais trágicos do Congresso. Não escolhermos pessoas com a mais absoluta isenção é uma pena.
O senhor acha que o Conselho de Ética deveria ser extinto?
–A funcionar como funciona... Não extinto. Poderia ficar como estava, sem ser preenchido.
O senhor não quis fazer parte do Conselho?
– Não faz meu estilo. Acho que julgar é uma coisa muito importante e eu gosto de debater, discutir, apresentar os fatos com emoção. Tentar convencer que alguém deve ser cassado é muito ruim e alguém tem que fazer. Que não seja eu. Alguém tem que ser cirurgião. Mas eu não teria coragem de cortar a barriga de ninguém.
Como avalia a relação entre governo e oposição no governo Dilma Rousseff?
– Fizemos um governo de oito anos com Fernando Henrique e o PSDB. Foi um bom presidente, governo forte e democrático. O PT teve uma atuação excepcional como partido de oposição. Aí ganhou o Lula. Nada mais semelhante ao PSDB e ao Fernando Henrique do que o PT e o Lula. Todas aquelas coisas que eles combatiam fizeram igual. O governo Lula teve o pior escândalo da história do Brasil, o mensalão. Todas as entidades sociais estão ligadasao governo. Nenhuma tem autonomia. O líder do governo FHC e do governo Lula foi o senador Romero Jucá (PMDB-RR). E o Jucá não mudou nada. É por isso que se fala que hoje a oposição é uma interrogação.
Como o senhor avalia o governo de Dilma Rousseff?
– Ela é uma continuação do Lula, mas o estilo é diferente. Mostrou isso quando o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) queria impor que continuasse o homem dele em Furnas e ela disse que não. A pergunta que se faz é até onde ela vai poder ir. O medo que eu tenho é que, em nome da chamada governabilidade, vale tudo. Dilma ainda não entrou nessa, mas tenho receio que fique refém. Temos que dar cobertura para Dilma, sinto que ela pode fazer um bom governo.
Como o senhor vê a oposição hoje?
– Coitadinha da oposição. Perdeu chance de avançar nos equívocos do governo Lula. Lula fez muitas coisas boas no governo. E o PSDB não soube fazer o debate das coisas negativas. Não apresentou nenhuma proposta.
O senhor cobrou que o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AC), se retratasse com a família de Ulisses Guimarães por dizer que ele era um “político menor”. O que o motivou?
– Recebi um pedido da filha do doutor Ulisses. Nunca vi ele falar aquilo do Ulisses. Ele nunca tocou naquele assunto. Ninguém mais que o Sarney sabe a seriedade do Ulisses. Eu tenho convicção que o Sarney vai pedir desculpa para a família do doutor Ulisses.
Como avalia o trabalho realizado pela Comissão da Reforma Política no Senado?
– O Sarney e o Francisco Dornelles (PP-RJ) fizeram um projeto de reforma política. O objetivo é mostrar que “nós já fizemos”, mas não vai sair nada. Não é para valer, é de mentirinha. Tanto que líderes (partidários) já começaram a dizer que não tem compromisso com o que foi decidido na comissão.
O senhor acredita que alguma proposta será aprovada ?
– O que eles querem que passe sim, como a janela para a troca de partido. Mas tudo o que nós estamos fazendo é de mentirinha porque tem que começar a ser votado na Câmara.
No início do ano o senhor foi criticado por ter solicitado aposentadoria como ex-governador do Rio Grande do Sul. O senhor se sentiu pressionado a abrir mão do benefício?
– Eu diria que sim,porque eu deixei o governo do estado em 1980. Tive uma série de problemas porque, como senador, eu não recebia verba de representação. Durante oito anos não se aumentou o salário dos senadores, só a verba de representação porque é isenta de Imposto de Renda. Resolvi receber a aposentadoria. Naqueles dois meses sofri muitas críticas, inclusive de amigos.
Uma das críticas é pelo fato do senhor abrir mão da verba indenizatória no Senado, mas solicitar a aposentadoria como ex-governador. Isso não seria incoerente?
–Como a imprensa só falou da aposentadoria, ninguém disse que continuo a não receber a verba de representação.
O senhor criticou o ex-presidente FHC por ter dito que a oposição deve “envolver” a classe média. Esse não pode ser um caminho para a oposição?
– Com toda a sinceridade, entendo o que ele quis dizer. Acho que foi muita maldade em cima dele. Mas ele deu margem a essa interpretação. Ele quis dizer que nesta área ninguém vai tirar o voto do PT. Mas não dá para dizer isso. O Fernando Henrique pisou na bola.
Em 2009, o senhor endossou as críticas feitas pelo senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) ao PMBD. Como o senhor vê o partido hoje? Continua secundário, sempre de olho em cargos?
– Eu terminei meu mandato de presidente do PMDB do Rio Grande do Sul e hoje não tenho mais atividade na vida partidária. Foram 50 anos e estou me sentindo mais leve. Acho que o MDB viveu um momento histórico muito importante. Mas depois, a morte do Tancredo Neves nos tirou todas as chances de ser um partido. Não é nem culpa do Sarney. O partido tinha 27 governadores – exceto em Sergipe –, tinha 60% da Assembleia NacionalConstituinte e não teve peito de apresentar uma candidatura.
Então Ulisses, que não era o momento dele, foi candidato e perdeu. Depois veio o Collor. Quando ganhou o Fernando Henrique, o PMDB passou oito anos trocando de cargos. Ganhou o Lula e mais oito anos trocando de cargo. Perdeu toda a consistência partidária.
O que o faz permanecer no PMDB?
– Eu tenho 81 anos, 60 de vida política. Sempre tive a mesma linha. E agora vou fazer o quê? Não tenho para onde ir. Só para a Ordem Franciscana, fora disso não tem alternativa.
Como é sua relação com outros membros do PMDB?
– Nós temos um grupo que converge, onde está o Luiz Henrique (PMDB-SC), o Requião, apesar do jeitão dele, o Jarbas Vasconcelos, o Waldemir Moka (PMDB-MS). Se nós conseguíssemos no Congresso um grupo de parlamentares que pudesse votar a favor ou contra um projeto da Dilma, poderíamos ter maioria para dar autoridade para a presidente Dilma. Esse é o meu sonho.
INFORME JB
AF447
Em decisão de primeira instância, a 11ª Câmara Cível do TJ do Rio mandou a Air France pagar R$ 1,6 milhão de indenização à família da psicóloga Luciana Clarkson Seba, que morreu com o marido na queda do vôo AF447.
...e no ar
E não ficarão só nos trilhos. O processo de concessão de aeroportos brasileiros, já anunciado pelo governo federal, entrou na mira de grupos germânicos. Eles já enviaram equipes para o Brasil semana passada.
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