BRASÍLIA-DF
Liberado
Outro que anda meio “gauche” é o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), insatisfeito com o tratamento dado pelo governo federal ao Espírito Santo. Na quinta-feira, engrossou a comitiva de senadores que foi à OAB reclamar contra as medidas provisórias. A situação do Aeroporto de Vitória desmoraliza os políticos capixabas.
Negociações
O vice-presidente da República, Michel Temer, tem viagem programada para a Rússia na próxima semana. Ele se encontrará com o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, para discutir as restrições tarifárias na compra da carne suína brasileira. Em troca, os russos querem voltar à disputa no projeto FX-2.
ARQUIVOS SECRETOS
Ovnis no Planalto Central
Aeronáutica revela que objetos voadores não identificados já foram avistados no DF
Edson Luiz
Na noite de 29 de maio de 1977, um fenômeno alertou a Força Aérea Brasileira (FAB). Foi registrada a presença de um objeto voador não identificado (Ovni), que sobrevoou o céu de Brasília, passando sobre o Palácio da Alvorada e a Esplanada dos Ministérios. A conversa entre o piloto de um caça da FAB e a torre de comando, relatada em documentos mantidos secretos pelas Forças Armadas por décadas, mostrava que algo anormal estava ocorrendo no espaço aéreo do país. “Confirme se avista tráfego na sua proa. Velocidade pequena, altitude e tipo desconhecido”, questionou a torre. “Negativo, nada avistado”, retornou o aviador, sem perceber a presença de um Ovni que também foi detectado pelos controladores de voo do aeroporto de Brasília. “Apareceu novamente, está sobre o aeroporto”, informou a torre. “Positivo, consigo vê-lo. Tem uma luz azul, como se fosse uma estrela, mas está se deslocando”, emendou o piloto, que ainda tentou alvejar o objeto, mas não conseguiu atingi-lo. Foi então que o Ovni desapareceu no horizonte, em alta velocidade.
Oito dias antes dessa ocorrência, outra aparição foi notificada. Dessa vez, por um avião comercial que havia saído de Belo Horizonte em direção a Brasília. Quando a aeronave estava próxima de Anápolis (GO), o piloto reportou à torre que dois pontos no radar indicavam aparelhos se aproximando. Logo depois, foram avistados dois Ovnis, que brilhavam nas cores branca e vermelha. “Os objetos aproximaram-se da gente”, relatou o comandante. “Há uma luz muita intensa, parece um farol”, acrescentou.
Um depoimento semelhante ocorreu no mesmo instante, por outro piloto que também teria visto o Ovni, a menos de 200km de Brasília. “Parece ser Vênus”, sugeriu o comandante do avião. Porém, o piloto que fez a primeira observação afirmou a seu colega, por rádio, que continuava a ver o aparelho, e também Vênus, concluindo que se tratava de um “disco voador”, e não do planeta. O objeto chegou a ser detectado pelos radares do Centro de Aproximação (APP) do aeroporto de Brasília, mas até hoje ninguém sabe o que era. Esses e muitos outros relatos sobre o tema constam em documentos secretos das Forças Armadas que foram tornados públicos no ano passado. Hoje, esses papéis estão no Arquivo Nacional, em Brasília.
Discrição
Em 1977 e nos seguintes, foram registrados diversos casos de Ovnis no Distrito Federal e no Entorno pelas torres de controle do aeroporto de Brasília, por aeronaves que sobrevoavam a região e também pela FAB. Mas somente em 1989 a Aeronáutica admitiu a existência desse tipo de fenômeno, que estava sendo discutido na sociedade “lastreado por testemunhas de relativa insuspeição”.
A Força procurou tratar do assunto de forma discreta, mas realista: “A Aeronáutica não deve ficar alheia ao problema, embora deva evitar explicá-los sem base científica ou expor-se ao ridículo desnecessariamente”, recomendou a chefia do Estado Maior, por meio de um boletim externo secreto. No entanto, apesar de reconhecer a ocorrência do fenômeno no espaço aéreo brasileiro, os militares não comentam o assunto atualmente.
DITADURA
Delírios da censura
Documentos da Aeronáutica, obtidos pelo Correio, mostram que o regime militar tentou desqualificar a peça Abajour lilás, de Plínio Marcos, distribuindo cópias da obra para avaliação dos subordinados e suas famílias
Edson Luiz
Incomodado com a pressão da imprensa, dos artistas e dos intelectuais que contestavam o cerceamento imposto pela censura durante a década de 1970, o regime militar decidiu adotar um procedimento diferente ao avaliar a produção cultural naquele período. E o primeiro teste ocorreu em setembro de 1975, com a peça Abajour lilás, de Plínio Marcos. Dias antes, o autor havia protestado na Comissão de Comunicação da Câmara contra a não liberação de sua obra e a criação do Conselho Federal de Censura. Os militares decidiram que o roteiro da peça seria lido para seus subordinados, que depois o discutiriam com seus familiares e, dessa forma, teriam respaldo para justificar a proibição, alegando que se tratava realmente de um material pornográfico.
Um documento reservado, produzido pelo Centro de Informações da Aeronáutica (Cisa), mostra um certo incômodo da ditadura com as manifestações contra a proibição de algumas produções. “Manifestaram-se sobre esse assunto com perseverança cotidiana, jornalistas, educadores, sociólogos, escritores, religiosos, deputados, senadores, artistas, autores, cineastas, intelectuais, pseudos-intelectuais, comunistas, cripto-comunistas, compositores e estudantes, condenando a censura, reverberando contra a censura, acusando o governo de querer amordaçar a cultura, taxando a censura de instrumento da ditadura”, relatam os analistas do Cisa. “A julgar pelo que se lê nos jornais, que a extinção de censura encontra respaldo popular”, acrescenta a análise.
A discussão estava sendo feita por causa da possível criação do Conselho Federal de Censura e das declarações de Plínio Marcos sobre a proibição de sua peça teatral. O autor declarou que só poderia aceitar o veto se ele fosse do povo que vai ao teatro e tem capacidade para julgar o que é encenado. Segundo o relatório do Cisa, o protesto de Plínio ganhou o apoio de algumas personalidades do mundo da cultura e da política, como do embaixador Paschoal Carlos Magno. “É uma perfídia, uma patifaria e uma safadeza o que estão fazendo com este autor”, teria declarado o diplomata, conforme o documento.
Para conquistar respaldo popular, os militares optaram por uma estratégica diferente. A área de informações enviou para outros integrantes da corporação uma cópia da peça Abajour lilás, uma encenação que se passava em um bordel, o que motivou a proibição. “A amostra enviada espelha o que é a constante em toda a peça que se passa em um prostíbulo: a desavença entre prostitutas e o pederasta dono da casa de tolerância”, explicaram os censores. E justificaram o envio: “Solicita-se aos srs. comandantes a possibilidade de reunirem seus oficiais, suboficiais e sargentos, e após uma introdução que pode ser baseada na informação, determinarem que seja a peça teatral lida para os militares reunidos”.
Palavrões
Na cópia do roteiro haviam palavras marcadas, principalmente palavrões ou sobre sexo, que deveriam ser mostrados pelos militares a seus subordinados. “Sugere-se que após a leitura, sejam os ouvintes consultados se achariam razoável que suas famílias, ou a família de quem quer que seja, assistisse a esta peça, que a julgar pelo título “Abajour lilás”, nada teria de inconveniente”, ressalta o informe da Aeronáutica, acrescentando que o assunto deveria ser debatido em outros lugares. “Sugere-se, outrossim, que se recomende aos mesmos ouvintes que comentem em casa e com seus amigos civis, que esta peça é sumamente pornográfica, mas que mesmo assim, seu autor não a admite ser censurada, “porque toda a censura é imoral”.
A censura de Abajour lilás — por ter sido considerada um atentado à moral e aos bons costumes — provocou uma grande mobilização da classe artística do país em favor de sua liberação. Entretanto, ela só foi encenada, sem cortes, em 1980, com boa recepção crítica na época e até hoje figura entre as melhores peças escritas por Plínio Marcos.
MARCOS COIMBRA
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
A eficácia da tortura é o argumento dos ditadores e dos torturadores. Com relação a ela, não cabe qualquer tolerância.
Tolerância zero
Para um país como o Brasil, um aspecto da caçada e morte de Osama bin Laden é mais grave que para outros. Talvez não devesse ser assim, pois diz respeito a valores e a princípios universais.
Não haveria motivo para que algumas sociedades fossem mais e outras menos tolerantes com a tortura. O repúdio deveria ser igual, independentemente das particularidades de cada uma.
Não é universal a reprovação de traços culturais bárbaros, mesmo quando fazem parte de tradições milenares? Alguém admite práticas como o apedrejamento ou a ablação de mulheres? Alguém as justifica com base em algum tipo de argumentação, incluindo a invocação da ideia de relativismo?
À medida que a globalização nos torna mais parecidos, muita coisa boa corre o risco de se perder, mas muita coisa ruim desaparece. Se não fosse assim, só haveria a lamentar que o mundo esteja ficando culturalmente menos heterogêneo.
Mas cada sociedade é única e tem uma experiência específica. E coisas que algumas toleram são radicalmente inaceitáveis para outras.
Em quase todos os países da América do Sul, a tortura foi uma presença constante ao longo dos últimos 100 anos. Dezenas de milhares de pessoas foram submetidas às suas formas mais cruéis e muitos milhares morreram. Quem as infligiu foram governos quase sempre de direita e que quase sempre chegaram ao poder por meio de golpes militares.
Faz pouco tempo, em termos históricos, o Brasil viveu uma experiência traumática com ela, da qual não se recuperou totalmente, pois muitas feridas continuam abertas. A anistia apagou diversas coisas, mas a tortura, não (e nem deveria).
Parte fundamental de nossa elite política foi torturada durante o período militar. Hoje, temos uma presidente da República, bem como governadores, prefeitos, senadores, deputados e ministros que sofreram brutalidades nas mãos de agentes públicos. Em nome do risco que representavam para a “segurança nacional”, foram marcados para sempre. Aquilo em que se tornaram, passados 30 anos, é, em si, uma condenação de quem os torturou (ou mandou torturar, pois dá no mesmo).
A trajetória americana é diferente. Lá, por mais belicosa que seja a cultura, não havia uma experiência com ela. Até quando a “guerra ao terror” passou a justificá-la, os americanos podiam se orgulhar dela não fazer parte de sua vida como país civilizado. Nunca houve nos EUA uma Operação Bandeirantes ou um delegado Sérgio Fleury (ainda que o governo os conhecesse e tolerasse seus congêneres mundo afora).
Logo após a execução de Bin Laden, a imprensa americana voltou à discussão dos “métodos extremos de interrogatório”, como eufemisticamente designam a tortura que praticaram contra militantes do radicalismo islâmico, para obter confissões ou colher informações. Como bons burocratas, anotaram até o número de sessões de sevícias a que submeteram algumas lideranças: 183, no caso do segundo na hierarquia da Al-Qaeda, para dar um exemplo.
Com o sucesso da operação, muitos críticos da tortura ficaram sem argumentos e se calaram. Inversamente, os criticados se sentiram vindicados. A morte de Bin Laden desculpou, retrospectivamente, a tortura que o aparato militar e de contra-terrorismo ordenou. Os fins justificaram os meios. Seus porta-vozes se rejubilaram.
Tanto nossas lideranças, quanto nossos jornais preferiram evitar o assunto. Ninguém subscreveu a tese de que, no caso, a tortura era aceitável (salvo os Fleurys da imprensa). Houve declarações de repúdio, mas foram poucas.
A eficácia da tortura é o argumento dos ditadores e dos torturadores. Com relação a ela, não cabe qualquer tolerância. O mundo civilizado já disse que não a aceita, em qualquer intensidade ou proporção: ela é inadmissível. Admitida, quem estiver no comando pode querer usá-la, do fanático ao brutamontes.
Os americanos ficaram felizes quando o prefeito de Nova Iorque disse que teria tolerância zero para com as pequenas infrações, pois, se as aceitasse, não teria como dizer um basta às grandes. Quem jogasse um papel de bala no chão era um infrator e como tal deveria ser penalizado.
É triste ver onde chegaram. Ou tomam cuidado, ou, daqui a pouco, estarão achando natural que qualquer um faça justiça com as próprias mãos. Para que leis, se nem o Estado, quando se sente moralmente justificado, as obedece?
ARI CUNHA
VISTO, LIDO E OUVIDO
Trabalho
Impressionante localizar a caixa-preta do avião da Air France. A queda no Oceano Atlântico parecia anular esperanças de encontrar corpos e as informações gravadas. A persistência e a organização venceram.
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