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quinta-feira, 5 de maio de 2011

05 de maio de 2011 - JORNAL DO BRASIL


COISAS DA POLÍTICA
Mauro Santayana

Os pilares da mentira
Em suas memórias, Known and Unknown, a Memoir, recém-publicadas (Nova York, 2011), Donald Rumsfeld conta, nas páginas 208-209, o momento patético da Queda de Saigon. Ele era chefe de gabinete de Gerald Ford, que assumira o governo depois da renúncia de Nixon e devia administrar a humilhante derrota.
Segundo Rumsfeld, Kissinger assegurava, no Salão Oval, que a evacuação de Saigon já se completara, com a saída do embaixador Graham Martin que – tal como os comandantes dos navios que naufragam – devia ser o último a escapar, quando se soube que não era verdade. O diplomata escapara antes que personalidades do governo títere e derrotado de Saigon invadissem a embaixada e esbaforidas, tentassem ocupar os últimos helicópteros, disputando espaço com os norte-americanos em fuga. Antes da reunião, o fotógrafo da Casa Branca, David Kennerly, veterano do Vietnã, saudara Ford com duas frases: “A boa notícia é que a guerra acabou. A má notícia é que a perdemos”.
Segundo o autor, alguém sugeriu que não se devia corrigir a falsa informação de Kissinger, e se ajustasse nova versão ao pronunciamento do secretário de Estado. Rumsfeld diz ter sido contra, lembrando que tudo o que havia sido dito ao povo norte-americano não fora simplesmente a verdade. “Esta guerra tem sido marcada por muitas mentiras e evasivas, e, assim, não há o direito de terminá-la com uma última mentira” – ele teria dito. Ford mandou o secretário de imprensa, Ron Nessen, dizer a verdade aos jornalistas.
No passado, a mentira podia durar muito, embora sempre tivesse pernas curtas. Em nosso tempo, os segredos podem ser guardados, como os da morte de Kennedy, mas a suspeita da mentira é tão danosa quanto a sua revelação. Os Estados Unidos sempre mentiram, a fim de tentarem legitimar sua política agressiva. Todos os golpes de Estado, patrocinados pelos norte-americanos em países estrangeiros, ocorreram sob pretextos falsos. Não é necessário ir muito longe: a guerra contra o Afeganistão e o Iraque foi montada sobre os pilares das mentiras mais reles. Saddam Hussein podia ter sido cruel com os inimigos, mas o seu governo era o mais laico e menos obscurantista da região. Depois da guerra contra o Irã, ele abandonara todas as armas químicas. Não dispunha de recursos técnicos para a produção de bombas atômicas. Fotos foram adulteradas, indicando reatores clandestinos, forjaram-se depoimentos, e essas “provas” arranjadas levaram um homem tido como sério, o general Colin Powell, a mentir diante das Nações Unidas.
Poucas horas depois da morte de Bin Laden, começam a se confirmar suspeitas iniciais e perturbadoras. O saudita foi morto desarmado – e poderia ter sido capturado vivo. No avesso da lógica e da ética, Washington diz que não é preciso que o suspeito esteja armado para resistir à prisão. Osama “resistiu”, de mãos nuas, aos soldados protegidos por uniformes à prova de bala e dotados de armas potentes. O saudita tinha que ser morto, antes que pudesse dizer qualquer coisa ao mundo.
O bom senso internacional, passado o entusiasmo frenético diante da execução, começa a prevalecer, para qualificar o ato como agressão criminosa contra o povo do Paquistão e seu governo. Obama declara que agiu em defesa de seu país – e ponto. Foi como dissesse: “tenho o poder e dele faço o que quiser”.
Conta-se que, em Ialta, Churchill propôs que Hitler fosse executado tão logo reconhecido pelas tropas aliadas. Com ironia, Stalin se opôs: na União Soviética se respeitava o direito a um julgamento, conforme “o devido processo da lei”.
Como se sabe, Hitler se antecipou, matou-se com sua pistola, depois de determinar aos auxiliares que queimassem o cadáver – o que fizeram, em uma pira de molambos embebidos de gasolina.


ATUALIDADE
Desarmamento em debate

José Dirceu

Surpreendentemente, a tragédia na Escola Municipal Tasso de Oliveira, ocorrida no começo do mês passado, não causou a onda de conservadorismo de sempre. Ao invés dos apelos por medidas como a redução da maioridade penal, recorrentes depois de situações dessa natureza, a reação da sociedade foi pela rediscussão do desarmamento.
Afinal, chegou-se à conclusão (acertada) de que Wellington Menezes de Oliveira não teria conseguido ceifar as vidas das 12 jovens que estavam na escola se não tivesse comprado armas e munição tão facilmente.
O assunto praticamente saiu do radar da mídia no último mês, mas não podemos deixar o episódio passar sem resposta, ainda mais se houver mobilização para o debate.
Há seis anos, em 2005, o plebiscito pelo banimento das armas de fogo para uso civil enfrentou uma oposição virulenta e mentirosa, que nos impediu de avançar tanto quanto gostaríamos na questão. Basta verificar as conclusões as quais já é possível alcançar a partir das investigações realizadas pelos integrantes da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) das Armas, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Hoje, o Estado não tem fiscalização suficiente na rua para todas as armas de fogo no Brasil, mas o trabalho é muito dificultado pela legislação falha que temos: colecionadores, por exemplo, que são mais de 4 mil só no Rio de Janeiro, podem comprar armas sem as modificações necessárias para que elas não sejam capazes disparar —legislação presente em outros países com o objetivo de evitar que o crime possa fazer uso dessas peças, mas que ficou de fora do nosso Estatuto do Desarmamento.
Esse é o tipo de ação que reforça que, aliado ao fundamental rigor na vigilância de fronteiras para impedir a entrada de armamento ilegal no país, um controle maior das armas à disposição de civis também é imprescindível para reduzir os índices de criminalidade. Melhor ainda se o seu banimento for completo.
A ideia de reeditar a consulta pública sobre o tema, via convocação de um plebiscito pelo desarmamento neste momento marcado por maior amadurecimento político e pelo choque após o primeiro ataque armado com esse perfil a uma escola no Brasil, pode ser extremamente salutar para o país e para o Rio de Janeiro, onde a cultura de enfrentamento do crime por meio de alternativas pacíficas, como as UPPs (Unidades Pacificadoras de Polícia), é cada vez mais reconhecida pela população como maneira de combater o tráfico e as milícias.
O argumento de que já fizemos um referendo há pouco tempo não se aplica no presente momento, porque a democracia pede que sejam feitas tantas consultas populares o Congresso Nacional ou a população julgarem necessárias.
A Comissão Parlamentar de Inquérito das Armas foi instaurada antes do caso na Escola Municipal Tasso de Oliveira, para apurar tantos outros casos, que infelizmente ainda ocorrem no Estado.
Não podemos deixar que esse debate caia no esquecimento, como aconteceu em outros momentos marcados por episódios de violência. O Brasil, que ainda é um dos países mais violentos do mundo, exige ação por parte do poder público, mas também da população, para impedir a formação de arsenais nas mãos do crime organizado. As soluções estão ao nosso alcance.


ANNA RAMALHO

Jogos Militares
A Embratur participará da 66ª Assembléia e Congresso Geral do Conselho Internacional de Esporte (CISM), dias 10 e 12. na Coréia do Sul. O objetivo do Instituto Brasileiro de Turismo é a divulgação dos jogos Mundiais militares de 2011, marcado para o período de 16 a 24 de julho, no Rio de Janeiro.

Em cima do laço
Estão sendo esperadas delegações de 133 países para acertar os detalhes do evento no Rio – um tanto tardiamente, vamos combinar – e decidir a cidade e país que receberão a edição de 2015.


INFORMAÇÕES
Computadores de Bin Laden são ‘mina de ouro’ contra a Al Qaeda

Agência AFP
Mathieu Rabechault

Os agentes de inteligência, que analisam os computadores e discos-rígidos tirados do local onde Bin Laden foi morto, provavelmente encontrarão um tesouro de informações sobre possíveis novos ataques, localização de chefes da Al-Qaeda e fontes de financiamento, estimam fontes americanas.
A quantidade é ‘impressionante’, reconheceu o diretor da CIA, Leon Panetta.  ‘Uma dezena de computadores e discos-rígidos e cerca de 100 CDs, DVDs e arquivos USB’, confirmou à AFP uma autoridade americana que pediu para não ter o nome divulgado.   
A IA formou rapidamente um grupo de trabalho com membros das agências governamentais e da justiça para ‘fazer estes computadores falarem’ e rastrear os milhares de documentos que poderiam conter. "Ficarei muito surpreso se não encontrarmos uma verdadeira mina de ouro’, disse McLaughlin, ex-número 2 da CIA.

Caso anterior
McLaughlin deu como exemplo o computador de Ahmed Ghailani, um dos autores dos atentados contra as embaixadas americanas no Quênia e Tanzânia em 1998, que permitiu prevenir um atentado contra as instituições financeiras em Nova York.
"Com certeza encontraremos elementos sobre alvos em potencial e sobre o financiamento. Poderemos também nos inteirarmos de aspectos sobre seus principais pontos de apoio’, detalhou MacLaughlin à CNN. 
"Trata-se sobretudo de detectar as ameaças que estão em marcha e de alcançar outros objetivos no seio da Al-Qaeda, como o número 2 da Al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri’, explicou Michael Leiter, diretor do Centro Nacional Antiterrorismo dos Estados Unidos.

Novos nomes
O procurador-geral dos Estados Unidos, Eric Holder, disse no Senado que ‘provavelmente’ aparecerão novos nomes que se somarão à lista negra do antiterrorismo dos Estados Unidos.
Para James Lewis, ex-militar especializado em inteligência, os serviços ‘tentarão extirpar tudo o que puderem desses documentos’. 
Segundo este membro do Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos dos Estados Unidos, alguns elementos poderão ser analisados rapidamente, mas outros necessitarão de estudos mais detalhadas para que sejam úteis.
Sem internet nem telefone em sua residência, Bin Laden -consciente dos riscos de interceptação por parte dos Estados Unidos- recorria a emissários. Um deles foi foi abatido junto dele. ‘Ele fazia assim há 10 anos. Os CDs permitiam evitar as redes de informática’, explica Lewis, para quem é muito provável que uma parte dos dados esteja criptografada.

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