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quinta-feira, 5 de maio de 2011

05 de maio de 2011 - ESTADO DE SÃO PAULO


DESTAQUE DE CAPA
Obama veta divulgação das imagens chocantes do cadáver de Bin Laden
Aconselhada pelo Pentágono e pelo Departamento de Estado, Casa Branca torna documentação que registrou morte de líder da Al-Qaeda confidencial para evitar retaliações e garantir segurança de cidadãos americanos pelo mundo; oposição republicana critica

Denise Chrispim Marin - O Estado de S.Paulo
CORRESPONDENTE / WASHINGTON

Por ordem do presidente dos EUA, Barack Obama, as fotos e vídeos que registraram a morte do terrorista saudita Osama bin Laden foram arquivados como material confidencial e não serão liberados para divulgação.
A medida foi tomada com base nos argumentos dos secretários de Defesa, Robert Gates, e de Estado, Hillary Clinton. Para eles, as imagens poderiam inflamar extremistas e causar riscos à segurança nacional e aos cidadãos americanos no exterior. O terrorista mais procurado pelos EUA nos últimos dez anos foi baleado no rosto e no peito por militares das forças especiais da Marinha americana durante uma operação no último domingo em Abbottabad, no Paquistão.
Em entrevista ao programa 60 Minutos, que irá ao ar no domingo na rede de televisão CBS, e cujo trechos foram divulgados ontem, Obama afirmou não haver dúvidas de que o líder da Al-Qaeda foi morto. "Vocês não verão Bin Laden caminhar na Terra de novo", afirmou. "Nós não mostramos troféus."

Autodefesa. Segundo o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, apenas os relatos escritos sobre o funeral de Bin Laden poderão ser divulgados. A descrição mostrará, ainda de acordo com ele, que os EUA tiveram mais respeito com o corpo de Bin Laden do que ele teve com as vítimas dos ataques de 11 de setembro de 2001. Carney disse também que a missão militar em Abbottabad ocorreu dentro da legalidade. "Foi uma operação de autodefesa do país", disse. A equipe de militares das forças especiais da Marinha teria oferecido a Bin Laden a rendição, mas tinha, autorização para matá-lo.
"Não há dúvidas de que ele está morto. A divulgação das fotos é desnecessária. Haveria um potencial perigo na divulgação de imagens tão medonhas", completou.

Reação republicana. A decisão da Casa Branca provocou a reação da oposição republicana. O senador Lindsey Graham, da Carolina do Sul, afirmou ser um erro não divulgar as fotos. "O propósito de enviar nossos soldados à fortaleza em vez de bombardeá-la foi obter provas irrefutáveis da morte de Bin Laden. Eu respeitosamente discordo da decisão do presidente ", afirmou. "Eu sei que Bin Laden está morto. Mas a melhor forma de proteger e defender os nossos interesses no exterior é provar esse fato ao restante do mundo."

Vazamentos. A exposição pública de um documento com o selo "confidencial", nos EUA, pode acarretar processo por traição e conspiração ao responsável pelo vazamento e ao meio de comunicação, conforme a Lei de Espionagem. Dois casos foram significativos dessa atitude.
Em 1971, o New York Times foi processado por ter publicado reportagens sobre os Papéis do Pentágono, um conjunto de 47 volumes de análises históricas e de documentos oficiais sobre o conflito no Vietnã. Os documentos foram entregues ao jornal por um funcionário civil do Pentágono, Daniel Ellsberg, que chegou a ser processado por conspiração, mas foi absolvido .
Em março passado, o soldado Bradley Manning foi preso pelo Exército americano sob a acusação de ter deixado vazar documentos militares confidenciais ao site WikiLeaks. Entre os 22 crimes a que responde está o de "ajudar o inimigo". A punição prevista é a pena de morte.

Primeiras imagens
Corpo de um dos homens que estariam no complexo de Abbottabad com Bin Laden. Militante não foi identificado pelos EUA


CENÁRIO
Divulgar foto do corpo indicaria arrogância ao mundo muçulmano

*Helene Cooper e Mark Landler - O Estado de S.Paulo

Depois de discussões intensas com sua equipe de segurança nacional, o presidente americano, Barack Obama, decidiu que as fotos do corpo de Osama bin Laden eram explícitas demais e poderiam estimular seus seguidores a planejar retaliações. Segundo o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, liberar as imagens passaria uma imagem de arrogância dos EUA. "Não somos assim", disse. O debate sobre a divulgação das imagens tomou conta da Casa Branca nos últimos dois dias. Para alguns assessores de alto escalão, a liberação seria inevitável. Na terça-feira, o diretor da CIA, Leon Panetta, disse que a fotografia acabaria sendo apresentada ao público.
No Pentágono e no departamento de Estado, no entanto, houve receio em apresentar fotos abomináveis do corpo de Bin Laden coberto de sangue. Ontem, quando a decisão foi tomada, a maioria das opiniões era favorável à retenção das fotos, informou Carney.
Outra corrente argumentou que a divulgação das fotos não silenciaria as dúvidas sobre a execução de Bin Laden no Paquistão, o que a Casa Branca considera indiscutível. "O fato é que você não verá Osama bin Laden andando por este planeta outra vez", disse Obama em uma entrevista à rede de TV CBS, que deve ser exibida no domingo. O porta-voz do presidente acrescentou que a liberação das imagens não era necessária para comprovar a morte de Bin Laden. Ainda de acordo com Carney, Obama considerou desnecessário e imprudente divulgá-las.
Alguns parlamentares expressaram opiniões similares. Para eles, a medida teria um retorno pequeno e colocaria em perigo as tropas americanas no Iraque e no Afeganistão. "Imagine como o povo americano reagiria se a Al-Qaeda matasse um de nossos soldados ou líderes militares e colocasse a foto na internet?", questionou o republicano Mike Rogers, presidente do Comitê de Inteligência da Câmara dos Representantes. "Bin Laden não é um troféu. Ele está morto e vamos nos concentrar em continuar a luta contra a Al-Qaeda."

*REPÓRTERES DO THE NEW YORK TIMES


ESPAÇO ABERTO
Lugar melhor?

*Eugênio Bucci

 Declaração de Barack Obama na segunda-feira: "Podemos todos concordar que é um dia bom para os Estados Unidos. Nosso país manteve o compromisso de buscar a justiça, que foi feita. O mundo é um lugar melhor e mais seguro por causa da morte de Osama bin Laden".
Comecemos pelo começo. Quanto a ter sido um dia bom para os Estados Unidos, podemos concordar com Obama. Nada menos que 69% dos americanos apoiam o modo como ele vem conduzindo a cruzada antiterror. A morte do líder da Al-Qaeda elevou em nove pontos a sua taxa de aprovação. O povo americano aplaudiu. "A notícia de que Osama bin Laden foi localizado e morto por forcas americanas nos trouxe, a nós e a todos os americanos, uma grande sensação de alívio", resumiu editorial do jornal The New York Times anteontem.
Duas razões explicam o alívio. A primeira é de ordem prática: o homem que assumiu a autoria de alguns dos mais horrendos atentados terroristas da História e lançava ameaças constantes a todos os americanos simplesmente saiu de cena. Se ele está morto, o risco que ele representava deixou de existir. Elementar. A segunda razão tem que ver com honra: o criminoso que perpetrou o mal contra tanta gente, de modo tão selvagem, sofreu finalmente a pena que os ofendidos desejavam que ele sofresse. Os ofendidos sentem-se vingados. E festejam. Mas, a partir daqui, já não se pode concordar silenciosamente com Obama.
Será que podemos chamar isso de justiça? Por mais compreensível que seja a caçada americana, a execução sumária de Bin Laden pode ser entendida como a realização da justiça?
É verdade que a justiça traz uma reparação que aplaca a dor do ultrajado. É verdade, portanto, que uma das faces da justiça atende ao anseio de vingança. Mas não é correto dizer que a justiça se reduza a uma forma elaborada de vingança. Ela é bem mais do que isso. Ao longo de milênios, a civilização foi descobrindo que, para se realizar, a justiça não se pode confundir com a ira vingadora; ela se põe acima e a salvo das paixões e dos ressentimentos dos ofendidos, é cega às paixões das partes e, só por isso, consegue dimensionar o dano, estipular a pena, serenar o espírito dos que sofreram com o crime e, principalmente, pacificar a sociedade. Vem daí a noção - civilizada - de que ninguém faz justiça com as próprias mãos. Faz-se a guerra - mas não se faz justiça.
A morte de Osama bin Laden, ainda que traga alívio a milhões de pessoas, não pacificará nada. Todos sabem disso, inclusive as autoridades do governo americano. O mundo está mais tenso. Essa morte, mais que uma solução, expõe um grande problema para o qual parece não haver uma saída imediata. Bin Laden eliminado e desaparecido não prenuncia a superação de um conflito, mas nos escancara um limite da convivência pacífica entre os povos. A comunidade internacional, na ordem precária em que se equilibra, talvez não tivesse como julgá-lo. Tampouco os Estados Unidos. Onde ele ficaria preso? Em que cidade? Como garantir a segurança da população próxima? São essas perguntas que escancaram o nosso limite. A nossa era, que começou com o julgamento formal e justo dos piores criminosos do nazismo, chega, assim, a esta beira de abismo: não tem como julgar o líder de uma organização terrorista. Então, Obama diz que matar Osama foi uma forma de justiça, pois, deixa subentendido, não haveria outra.
Talvez seja isso mesmo. Mas isso não é "melhor". A supressão física, sumária, de um ser humano, por pior que ele seja, seguida, aliás, do desaparecimento de seu cadáver, não é solução "melhor". Um mundo em que a justiça se faz pelas armas de um destacamento militar que invade um país estrangeiro, toma de assalto uma residência, mata seu ocupante, transporta o corpo para alto-mar, onde some com ele, não é um mundo "melhor". Um mundo em que a presidência dos Estados Unidos age e fala como o tribunal do mundo não é melhor. Além de ser mais sombrio, mais incerto e um tanto tenebroso.
As versões - as versões oficiais, todas elas - sobre o que se passou na mansão paquistanesa se sucedem e caem em contradições sobre contradições. Primeiro, o guia da Al-Qaeda teria resistido a bala. Depois, estava desarmado. Nem mesmo os autores do assalto conseguem explicar o que houve. A ONU solicita imagens para esclarecer detalhes da ação. Obama resiste a mostrá-las. A legalidade do ato - seria um "assassinato seletivo"? - é seguidamente contestada em esferas distintas. O quadro ganha novas conturbações.
O pior é que, no bojo da notícia espetacular, a linha mais dura e mais truculenta que mora na América se vai afirmando mais e mais. Barack Obama não é Bush, mas, por esses caminhos tortos, vai prolongando Bush. As torturas praticadas em prisões como a de Guantánamo - um "desastre legal e moral criado por George W. Bush", no dizer de editorial do New York Times de 26 de abril, desastre que "agora é um problema de Mr. Obama" - saem malignamente reabilitadas do episódio. Segundo Leon Panetta, diretor da agência de inteligência americana, informações obtidas mediante tortura por afogamento nas prisões secretas da CIA ajudaram na operação. Desse modo, sai fortalecida a narrativa que enxerga utilidade nos interrogatórios degradantes e bárbaros. Isso, por acaso, é "melhor"?
A justificativa final que resta ao governo americano é a de que ele se encontra em guerra, uma guerra atípica, mas uma guerra. A guerra autoriza-o a impor sua justiça - e nenhum organismo supranacional será capaz de enquadrá-lo. É verdade que um mundo assim, que mistura traços de imperialismo, de civilização e de cangaço, é menos aterrorizante que um mundo ao sabor da Al-Qaeda. Mas, definitivamente, não é um "lugar melhor". Nesse horizonte plúmbeo, mesmo sem que exista um cadáver, vai ganhar mais corpo o culto antiamericano do terrorista promovido a mártir.

*JORNALISTA, É PROFESSOR DA ECA-USP E DA ESPM



NACIONAL
Governo dribla regras para aprovar MPs

Denise Madueño - O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA

O governo vem usando alguns truques para aprovar com mais facilidade as propostas de seu interesse e reduzir as discussões durante as votações no Legislativo. No lugar de editar medidas provisórias específicas, o governo manda um texto para ser incluído em uma MP já em tramitação. Com isso, atua em duas frentes: a MP tem prazo para ser votada e, ao mesmo tempo, a ação impede que a oposição apresente emendas à proposta.
O artifício consiste em anexar o texto de contrabando a uma medida provisória que já passou pela fase de apresentação de emendas. Sem a oportunidade de apresentar mudanças ao texto, resta à oposição e ao deputado votar contra ou a favor ou apresentar um pedido para suprimir parte da proposta.
Isso ocorre, por exemplo, com a proposta de criar novas regras de licitação para as obras de infraestrutura nos aeroportos para a Copa do Mundo de 2014 e para a Olimpíada de 2014. O governo decidiu incluir o Regime Diferenciado de Contratações na MP 521, que trata de regras da atividade de médico-residente. Essa MP está trancando a pauta do plenário da Câmara desde o dia 19 de março e terá de ser votada pelo Congresso até o dia 1.º de junho ou perderá a validade.
O mesmo acontece com o aumento de 20% para 49% do capital estrangeiro nas companhias aéreas. Essa proposta do governo será incluída na MP 527 que já está na pauta do plenário. O governo tem adotado outra artimanha. Para facilitar a aprovação, o relator inclui artigos defendidos pelos deputados em troca do voto favorável. O texto, no entanto, é feito de forma a separar esses pontos e permitir que a presidente vete esses itens, sem prejudicar o conteúdo que o governo quer aprovar.


AVIAÇÃO
Sem estrutura, ''céu aberto'' não decola
Acordos que ampliam número de voos internacionais e diminuem preços das passagens não se concretizam por falta de infraestrutura nos aeroportos

Edna Simão e Renata Veríssimo / Brasília - O Estado de S.Paulo

Os gargalos na infraestrutura dos aeroportos tornam praticamente sem efeito acordos internacionais de céus abertos entre Brasil e outros países, como Estados Unidos, na ampliação da quantidade de voos internacionais e redução dos preços das passagens áreas.
Esses acordos retiram o limite de voos internacionais semanais permitidos. Isso significa que as companhias aéreas - tanto brasileiras quanto estrangeiras - ficam "livres" para elevar os números de voos conforme a demanda de passageiros.
Nesse sentido, técnicos do governo e analistas de mercado consideram a medida positiva para a expansão do setor no País. Para a Agência Nacional de aviação Civil (Anac), os acordos - que precisam de aprovação do Congresso - trazem benefícios aos passageiros, como maior concorrência, ampliação de ofertas de horário e de destinos.
O problema, no entanto, é que o Brasil esbarra na falta de horários disponíveis (principalmente no aeroporto de Guarulhos), pistas, terminais e balcões para atendimentos. Sem contar os longos embates judiciais que paralisam obras de expansão dos aeroportos.
Em março, o País fechou acordo de céus abertos com os Estados Unidos. A parceria começa a vigorar em outubro, o que pode ampliar a atual frequência de 154 voos semanais em 14 para o Rio de Janeiro e 14 para outros destinos (exceto São Paulo). Até 2014, ano da Copa do Mundo, se houver demanda, poderá ser feito um acréscimo de 100 voos entre os países. A previsão é de que não haja limites de frequências a partir de outubro de 2015. Os aeroportos de São Paulo estão fora dos acordos, justamente por não ter mais capacidade para ampliar a quantidades de voos.

União Europeia. Em junho, o governo brasileiro deve assinar acordo semelhante com a União Europeia. Antes dessa negociação, o Brasil fazia parcerias com cada país da Europa separadamente. Com o acordo, haverá um aumento gradual das frequências com todos os membros da comunidade até sua liberação total após 36 meses da data de assinatura do acordo.
Assim que a parceria for concretizada, a previsão da Anac é de que a quantidade de voos para a Europa tenha uma elevação de 10%, excluindo os aeroportos de São Paulo. O Brasil já fez acordos desse tipo com Bahrein, Canadá, Catar, Chile, Cingapura, Coreia do Sul, Costa Rica, Emirados Árabes, Etiópia, Gana, Hong Kong, Islândia, Jamaica, México, Oman, Quênia e Zimbábue.
"Os acordos são positivos. Mas, no cenário atual, não tem como implementá-los", diz a economista da consultoria Tendências, Amarillys Romano, que acompanha o setor. "Nosso problema é infraestrutura. Isso vai fazer com que as companhias estrangeiras busquem outros aeroportos", completa o ex-presidente da Infraero, Adyr da Silva.
Para o presidente da Gol, Constantino Júnior, os acordos são positivos para o setor. Ele ressaltou que a falta de infraestrutura adequada não impacta apenas a ampliação dos voos internacionais para o País. O mercado doméstico já vem sendo prejudicado, por causa da demanda, que cresce acima da marca dos 20%.

Expansão
De 2009 para 2010, o número de passageiros no País, de acordo com a Infraero, saltou de 113 milhões para 155 milhões. A estimativa é chegar a 180 milhões no fim deste ano.

POUCA UTILIDADE
Acordos permitem a liberalização total das operações aéreas entre Brasil e outros países, mas a falta de infraestrutura pode atrapalhar

Estados Unidos
Aumento gradual das frequências semanais, que atualmente é de 154 por semana, tanto dos Brasil-Estados Unidos quanto Estados Unidos-Brasil. A liberação total está prevista para 2015

Cronograma:

Outubro de 2011:
Além das 154 frequências atuais, mais 14 voos para o Rio de Janeiro e 14 para outros destinos (exceto São Paulo)

Outubro de 2012:
Mais 14 voos para RJ e 14 para outros destinos (exceto SP)

Outubro de 2013:
Mais 14 voos para o RJ, 21 para outros destinos (exceto SP) e 14 para São Paulo (condicionado a ter infraestrutura disponível)

Outubro de 2014:
Mesmo quantidade de 2013

Outubro de 2015:
Sem limites de frequência

União Europeia
Negociações já foram finalizadas e a previsão é de assinatura do acordo em junho

A eliminação do limite de capacidade (quantidade de voos semanais) entre o País e os 27 Estados-membros do bloco europeu deve acontecer em três anos, com aumento gradual do número de voos semanais

O que já existe
Acordos de céus abertos assinados pelo Brasil, além de EUA, BAHREIN, CANADÁ, CATAR, CHILE, CINGAPURA, COREIA DO SUL, COSTA RICA, EMIRADOS ÁRABES, ETIÓPIA, GANA, HONG KONG, ISLÂNDIA, JAMAICA, MÉXICO, OMAN, QUÊNIA, ZIMBÁBUE


OPINIÃO
Ainda os aeroportos... vamos esperar

*Josef Barat

Recente Nota Técnica elaborada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que, em 2010, 14 dos 20 maiores aeroportos administrados pela Infraero operaram acima da sua capacidade nominal. Isso porque, de 2003 a 2010, o número de passageiros/ano passou de 71 milhões para 154 milhões - um crescimento médio anual acima de 10%. Mas os investimentos realizados nesse período não removeram os enormes gargalos que travam o desenvolvimento do transporte aéreo e infernizam a vida de passageiros e tripulantes.
Embora atingindo R$ 8,8 bilhões (média anual de R$ 1,1 bilhão), as aplicações feitas por Infraero e Orçamento Fiscal não solucionaram as insuficiências ou deficiências nos diversos componentes da infraestrutura aeroportuária (pistas, pátios, controle de tráfego, acessos e estacionamentos e terminais de passageiros e cargas) diante do acelerado crescimento da demanda. Os planos, projetos e ações de longo alcance foram preteridos em favor de medidas paliativas e pontuais, dificultando o encaminhamento de soluções mais duradouras. A nota ressalta que o nível mais elevado de investimentos (R$ 1,5 bilhão) ocorreu em 2006, justamente no auge do "apagão aéreo". Neste ano, o custo dos congestionamentos provocados pelo apagão foi estimado em R$ 1 bilhão.
Vários estudos realizados em 2009 e 2010 - entre eles um mais amplo, feito pelo Ipea; um da Coppe-UFRJ; um feito pela MacKinsey para o BNDES; e um da Fiesp - apontaram, em horizontes variáveis de tempo, uma futura média anual de investimentos em torno de R$ 1,5 bilhão, pouco mais elevada que a de 2003 a 2010. São previsões otimistas, tendo em vista a pressão decorrente da realização da Copa e da Olimpíada, eventos importantes para mobilizar a opinião pública em relação ao problema dos aeroportos e pressionar o governo.
Mas cabe lembrar que o planejamento e a remoção dos gargalos não podem ter a Copa como horizonte temporal. Até porque a nota do Ipea aponta para a saturação dos principais aeroportos logo depois de realizados os investimentos previstos para o evento. Para ficar num exemplo, se a capacidade de Guarulhos passar dos atuais 20,5 milhões de passageiros/ano para 35 milhões em 2014, a tendência de crescimento da demanda aponta, para este ano, uma movimentação de 39 milhões. Da mesma forma, Brasília, Confins, Porto Alegre e outros já estariam saturados finda a Copa. Se, para cada 1% do crescimento do PIB, a demanda pelo transporte aéreo respondeu com 3,2%, entre 2003 e 2010, as previsões consideraram uma elasticidade-renda bem inferior, de 2%. O quadro é preocupante e exige mudanças radicais de atitude do governo.
Um sistema complexo com vários segmentos que se articulam, como o da aviação civil, impõe uma competente coordenação e gestão de riscos. A restrição de capacidade num dos segmentos afeta a capacidade dos demais. Se as empresas aéreas atenderam a um crescimento de 80% da demanda com acréscimo de 20% nas frotas, isso é sinal de que operam com melhores modelos operacionais e utilização das aeronaves. Mas, se as infraestruturas, aeroportuária ou Aeronáutica, não oferecem condições de acompanhar as novas formas de operação, o sistema como um todo corre o risco contínuo de colapso.
A criação da Secretaria de Aviação Civil pode ser uma solução, mas traz um problema: tirou do sistema uma unidade alcançada no Ministério da Defesa com a vinculação da Infraero, Anac, Decea e Cenipa à mesma autoridade. Por outro lado, se a participação do capital privado é bem-vinda, não se têm ainda modelagens consistentes, capazes de dar sustentação aos processos licitatórios em tão curto espaço de tempo.
O debate provocado pela nota do Ipea faz lembrar uma entrevista do rabino Sobel. Sua resposta sobre a pendência de dois milênios entre judeus e cristãos quanto ao Messias foi: "Vamos esperar! Se, ao chegar, disser que está vindo pela primeira vez, os judeus tinham razão. Se disser que está voltando, os cristãos tinham razão". Esperemos, pois, a Copa para ver quem tem razão...

*PRESIDENTE DO CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO DA FECOMÉRCIO, FOI DIRETOR DA ANAC


VOO 447
ENTREVISTA: JEAN-PAUL TROADEC, diretor do escritório de investigações da França
''Crítica é por má-fé ou desconhecimento''
Responsável pelo BEA festeja sucesso na busca das caixas-pretas e diz que resgate de corpos é problema da Justiça

Andrei Netto, Correspondente / Paris - O Estado de S.Paulo

Localizadas as caixas-pretas do Airbus que realizava há quase dois anos o voo 447, entre Rio e Paris, uma etapa ainda mais complexa e delicada está em curso. O governo francês confirmou que, por ordem da Justiça francesa, está tentando resgatar os corpos das vítimas do acidente no Oceano Atlântico.
Segundo o embaixador Philippe Vinogradoff, diplomata destacado pelo Ministério das Relações Exteriores da França para manter contato com as famílias de vítimas, uma tentativa será realizada com um dos corpos. Só então, diante do sucesso ou não da iniciativa, será tentado o resgate dos restantes. "A decisão não foi tomada pelo governo francês, mas pela Justiça."
Na França, a questão é tratada com a maior discrição possível e o assunto traumatiza as famílias - algumas das quais avessas à operação. No Rio, ao contrário, Nelson Faria Marinho, presidente da Associação de Familiares de Vítimas, mostra-se inconformado com a demora. "Queremos todos os corpos, porque as famílias precisam disso para realizar os sepultamentos. Caso contrário, a operação só vai trazer mais indignação e sofrimento a todos."
As críticas se concentram no Escritório de Investigações e Análise da Aviação Civil (BEA). Dentro da instituição, que desde a queda vive seu momento de maior tensão, há expectativa. Em no máximo dez dias, as caixas-pretas serão inspecionadas em Le Bourget, arredores da capital francesa. Só então se saberá se seus microchips resistiram aos dois anos de corrosão, a 3,9 mil metros de profundidade no Oceano Atlântico. Para o diretor Jean-Paul Troadec, a hora é de esperança, mas também de cautela, como destacou ao Estado.

As duas caixas-pretas foram localizadas. O senhor está otimista em relação à descoberta das causas do acidente?
Sim. Pela análise visual que nossos experts puderam fazer, os dois gravadores estão em bom estado, ou seja, não foram destruídos ou gravemente atingidos durante a queda do avião. Mas é preciso ser prudente neste momento. Não sabemos se os dados das caixas-pretas foram preservados depois de dois anos imersos a 3,9 mil metros de profundidade. Ainda que não possamos extraí-los em um primeiro momento, teremos recursos para fazer novas tentativas. Mas, neste instante, ainda vivemos a total incerteza sobre as caixas-pretas.

Também por isso a expedição no mar continua, em busca de outros destroços, de outras peças do avião?
Nós já identificamos outras peças da aeronave que consideramos importantes e vamos tentar pescá-las nos próximos dias. É o caso dos navegadores e dos calculadores (sistemas informáticos da aeronave), onde ficam armazenadas certas informações do voo. Vamos tentar localizar outros elementos no cockpit que podem nos ajudar a explicar o acidente. Se tivermos condições técnicas, vamos tentar pescar todo o cockpit.

Esta quinta fase estava prevista para durar dois ou até três meses. Qual é a perspectiva atual, agora que as duas caixas-pretas foram localizadas?
Nossa perspectiva é de que fiquemos até 8 ou 9 de junho na região do Atlântico onde estamos trabalhando. Depois disso, começaríamos a ter problemas logísticos, como combustível, suprimentos, etc. Mas até lá poderemos executar todo o nosso trabalho.

Uma questão delicada sobre a operação em curso no Atlântico é a busca dos corpos...
Eu não me pronuncio sobre esse assunto. A questão do içamento dos corpos eventualmente será feita por uma outra equipe técnica, que obedecerá as instruções dos oficiais de Justiça presentes a bordo do navio Ile de Sein.

As vítimas de famílias de vítimas no Brasil e na Alemanha e alguns experts independentes na França são muito críticos em relação ao BEA e aos dois anos de buscas no mar. Como o senhor responde a essas críticas?
Desde que localizamos as caixas-pretas, eu não paro de receber parabéns e de ouvir elogios à atuação do BEA. O desafio de encontrar os destroços da aeronave era imenso. Para que se tenha uma ideia, a superfície que vasculhamos representa um trilhão de vezes o tamanho de uma caixa-preta. Insistimos nas buscas e tivemos sucesso. Acho que isso é o mais importante. A meu ver, essas críticas ou são feitas com má-fé, ou com desconhecimento.

Os críticos também contestam a autonomia do BEA, uma vez que o escritório é controlado pelo governo francês, também acionista da Air France, da Airbus e da Thales, empresas envolvidas no processo. O que o senhor diz a respeito?
O BEA é um escritório independente, cuja autonomia é assegurada por lei na França. Nós nunca recebemos nenhum tipo de orientação em relação a nossos trabalhos de perícia de quem quer que seja. Além disso, para realizar nosso trabalho contamos regularmente com a colaboração de especialistas de centros de outros países, como Grã-Bretanha, que é um parceiro próximo, dos Estados Unidos e mesmo do Cenipa, do Brasil.

Eu imagino que o senhor, como diretor do BEA, tem uma hipótese para explicar as causas do acidente...
Na verdade, o BEA não trabalha com hipóteses, mas com fatos, com informações, com elementos. Eu não tenho hipóteses.



Justiça do Rio aumenta indenização a família

Tiago Rogero / RIO - O Estado de S.Paulo

A Justiça do Rio aumentou de R$ 1,2 milhão para R$ 1,6 milhão o valor das indenizações por danos morais para os familiares de uma das vítimas do AF 447. A 11.ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça negou o pedido da Air France de limitar o valor pago em 300 mil (cerca de R$ 711 mil).
Desembargadores analisaram dois recursos: um da companhia e outro da família da vítima Luciana Clarkson Seba. Segundo o advogado dos familiares, João Tancredo, as indenizações para os pais, Osvaldo Bulos Seba e Laís Clarkson Seba, foram aumentadas de R$ 510 mil para R$ 600 mil, cada. O valor a ser pago aos avós passou de R$ 102 mil para R$ 200 mil, cada. A decisão manteve a pensão vitalícia paga mensalmente à mãe, de R$ 5 mil.
Por ainda caber recurso, a Justiça não estipulou um prazo para que a companhia pague as indenizações. O advogado justificou a ação movida por danos morais: "Luciana era filha e neta única, o que já é uma coisa muito grave já que, com o acidente, a família foi aniquilada, não existe mais a possibilidade de descendentes."
Além da família de Luciana, outras sete foram beneficiadas por decisões semelhantes com a obtenção de pensões e indenizações. A Air France recorreu de todas, mas os recursos ainda não foram julgados. A companhia informou que não se manifesta sobre as indenizações.


França faz expedição para resgatar corpos de vítimas
04 de maio de 2011 | 20h 51

AE - Agência Estado

A polícia francesa iniciou hoje uma operação destinada a recuperar os corpos dos passageiros do voo 447 da Air France, que caiu no Oceano Atlântico, enquanto voava do Rio de Janeiro à Paris, em 2009. Até agora, nenhum corpo foi encontrado, declarou uma fonte próxima da equipe de busca, informou a agência France Presse.
A operação está em dia com o plano anunciado no mês passado pela França. "O problema com os corpos é penoso. Há o aspecto traumatizante, pois não sabemos em que estado eles estão", disse Robert Sulas, vice-presidente da associação de vítimas francesas, há um mês. Mas os parentes brasileiros das vítimas pediram hoje também que os investigadores recolham todos os restos do fundo do oceano independentemente do estado em que estejam e que a caixa preta seja analisada fora da França.
"Queremos todos os corpos ou partes deles, qualquer seja o estado, para analisarmos e devolvê-los às suas famílias", disse o presidente da associação brasileira de familiares das vítimas, Nelson Faria Marinho.
O Airbus 330 caiu na rota entre o Rio de Janeiro e Paris em 1º de junho de 2009, matando as 228 pessoas a bordo. Os pesquisadores anunciaram que encontraram o principal destroço no mês passado a uma profundidade de 4 mil metros. Ontem, eles anunciaram que a causa do desastre continua obscura, mas parte da culpa do acidente tem sido creditada ao funcionamento defeituoso dos sensores de velocidade do Airbus. A fabricante europeia e a empresa aérea estão sendo investigadas por homicídio involuntário. As informações são da Dow Jones.


França resgata primeiro corpo de destroços de avião da Air France
Investigadores franceses informaram que corpo foi içado ainda preso ao assento
05 de maio de 2011 | 7h 57

PARIS - A polícia francesa anunciou o resgate do primeiro corpo içado dos destroços do avião da Air France que caiu no Atlântico em 2009.
"Submerso durante quase dois anos a uma profundidade de 3,9 mil metros, o corpo, ainda preso ao assento do avião, está deteriorado", diz um comunicado da Direção Geral da Polícia Militar francesa (DGGN, na sigla em francês).
As autoridades militares, que realizam as tentativas de resgate dos corpos do avião da Air France, informaram que "os restos mortais de um dos passageiros foram levados a bordo do navio Ile de Sein no início da manhã desta quinta-feira".
"Coletas foram efetuadas pelos investigadores da polícia a bordo e serão encaminhadas na próxima semana, juntamente com as caixas-pretas do avião, a um laboratório de análises a fim de determinar a possibilidade de uma identificação por meio do DNA", acrescenta a DGGN.

Condições 'inéditas'
O comunicado afirma ainda que a tentativa de resgate dos corpos está sendo efetuada em condições "particularmente complexas e inéditas".
"Grandes incertezas continuam existindo em relação às possibilidades técnicas de levar os corpos à superfície", diz o texto.
Segundo os especialistas, os corpos podem não resistir às mudanças de temperatura da água durante o içamento.
Além disso, a fortíssima pressão da água a quase 4 km de profundidade mantém a estrutura corporal coesa na água.
A diminuição da pressão, quando o corpo é içado, pode causar o deslocamento dos ossos, disse recentemente à BBC Brasil o coronel François Daust, diretor do Instituto de Pesquisas Criminais da Polícia Militar francesa (IRCGN, na sigla em francês).

Famílias
O resgate dos corpos divide os familiares das vítimas. Alguns preferem que os restos mortais de seus parentes sejam deixados no local do acidente e consideram que o resgate seria "uma violação de suas sepulturas".
Oito membros da polícia militar francesa estão a bordo do navio Ile de Sein, entre militares da polícia dos transportes aéreos, marítima e do Instituto de Pesquisas Criminais da Polícia Militar, especializado na identificação de vítimas de catástrofes.
O resgate de corpos está sob a responsabilidade da Justiça francesa. O acidente com o avião da Air France, que fazia a rota Rio e Paris, matou 228 pessoas.
Apenas 50 corpos foram encontrados logo após o desastre, sendo 20 deles de brasileiros.
A operação para tentar levar os corpos a superfície foi iniciada na quarta-feira.
O navio Ile de Sein, que realiza a quinta fase de buscas, durante a qual as caixas-pretas do avião da Air France foram localizadas, está a cerca de 1,1 mil quilômetros da costa brasileira.

BBC Brasil



ENCHENTES NO NORDESTE
Um ano depois, AL e PE voltam a sofrer inundações
Em uma semana, os dois Estados já têm 3 mortos, 14 cidades em situação de emergência e mais de 51 mil pessoas prejudicadas

Ricardo Rodrigues / Maceió e Angela Lacerda / Recife - O Estado de S.Paulo

Cidades de Alagoas e Pernambuco que foram devastadas pela chuva no ano passado voltaram a sofrer com temporais nesta semana. No primeiro Estado, uma criança morreu e pelo menos 6 mil pessoas foram afetadas pelas enchentes. Dez municípios decretaram situação de emergência, a maioria na Zona da Mata e no litoral. Já no segundo foram registradas duas mortes e 45 cidades atingidas - quatro também estão em emergência. Há 75 mil pessoas afetadas.
A cidade de Jacuípe, em Alagoas, é um exemplo das que viram os transtornos se repetir. Lá, 70% das casas estão inundadas. Apesar da cheia do ano passado, muitos moradores continuavam morando em áreas de risco. No ano passado, 19 municípios do Vale dos Rios Mundaú e Paraíba foram afetados pelas chuvas. Além de Jacuípe, Japaratinga, Colônia Leopoldina, Jundiá, Novo Lino, São Luis do Quitunde, São Miguel dos Milagres, Campestre, Porto de Pedras e Paripueira decretaram situação de emergência.
A situação das famílias que moram nos municípios atingidos é dramática. Além das perdas materiais, moradores sofrem com a falta de água potável e energia elétrica. Muitos foram levados para abrigos coletivos. O governo do Estado aguarda a chegada de 18 toneladas de alimentos que foram comprados e a Defesa Civil Nacional também informou que enviará ajuda, mas o problema é emergencial. "Quando as pessoas deixam suas casas, tomadas pelas águas, saem com a roupa do corpo. Não dá tempo de levar água, alimentos, agasalho, colchões. Nos abrigos, todos precisam de tudo", diz o capitão Rômulo Guedes, coordenador de Comunicação do Corpo de Bombeiros. "A Defesa Civil tem barracas e caixas d"água que sobraram das doações de 2010, mas é material de infraestrutura. Não temos nada para atendimento imediato, como água potável, cobertores e remédios."

Outro Estado. Em Pernambuco, menos de um ano depois de transbordarem e deixarem 26 mil desabrigados e 20 mortos, os rios da Zona da Mata e da região metropolitana - Una, Capibaribe, Pirangí e Mundaú, entre eles - voltaram a subir. Duas mortes foram confirmadas. "A situação não chega a se comparar com 2010, mas é muito grave", afirmou o prefeito de Água Preta, Eduardo Passos (PSB). Em emergência, o município já tem cerca de dois mil desabrigados. "Na parte baixa da cidade, cerca de 70% das casas foram inundadas pelo Rio Una", disse.
Otacílio Alves Cordeiro (PSB), prefeito de Catende, também em emergência, prevê dificuldades. "Com a nova cheia, as pessoas me cobram as casas que foram prometidas para quem perdeu suas moradias no ano passado", disse. Foram prometidas 1.035 casas, mas o terreno ainda não foi desapropriado. Em Barreiros, dez bairros foram inundados e o comércio foi invadido pelas águas. Muitos moradores tiveram de ir para a casa de parentes e amigos no município vizinho de São José da Coroa Grande. Outra parte está em 18 abrigos.

R$ 1 bi de verba federal
O plenário do Senado aprovou ontem medida provisória que prevê ajuda de R$ 1 bilhão a municípios de Pernambuco, Alagoas, Rio e outros Estados atingidos por desastres naturais.

Afetados
3.934 famílias estão desabrigadas em Pernambuco. Já as desalojadas somam 7.184

27 pessoas morreram em virtude das chuvas em Alagoas no ano passado. Em Pernambuco, foram registradas 20 mortes em 2010

114 imóveis ficaram totalmente destruídos em Alagoas




DESARMAMENTO
Capitão Nascimento pedirá arma na TV
Ator vai estrelar Campanha do Desarmamento, que arrecadará revólveres e pistolas em ONGs e igrejas, sem identificar os doadores

Vannildo Mendes / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

O ator Wagner Moura, que interpreta o capitão Nascimento, "herói" do cinema brasileiro promovido a coronel em Tropa de Elite 2, será a estrela da Campanha do Desarmamento, que será desencadeada amanhã em todo o País. Moura emprestou a voz ao vídeo da campanha, de 30 segundos, que será divulgado nas emissoras de rádio e televisão de todo o País. A coleta de armas se estenderá até 31 de dezembro. O governo vai pagar de R$ 100 a 300 por peça devolvida, conforme o calibre.
O filme usa imagens da campanha de 2009, que mostra a trajetória de uma bala perdida, passando de raspão ao lado de crianças que brincam em um parque, com pedestres nas ruas. Moura dirá que "não é à bala que se resolvem as coisas". O slogan da campanha será "Tire uma arma do futuro do Brasil".
O ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, explicou que a colaboração do ator é valiosa, porque ele desfruta de carisma e credibilidade pessoal, além de ter voz reconhecida pelo grande público das cidades em todo o País. Moura não cobrou cachê pela participação, que será veiculada gratuitamente por uma rede nacional de emissoras de TV e rádio. Só a TV Bandeirantes não aceitou integrar o pool. A assessoria do ator informou que, desde o início, ele se mostrou solidário à campanha pelo seu "conteúdo civilizatório". Moura tem participado de outras campanhas, como as que combatem trabalho escravo e crimes ambientais.
Nas versões anteriores, mais de 550 mil armas foram recolhidas. Desta vez, foram introduzidas modificações para dar agilidade à iniciativa. A terceira edição da Campanha do Desarmamento desde 2004 incluirá igrejas e ONGs entre os locais de recolhimento de armas. O objetivo é que todos os municípios tenham postos.
Na hora da entrega, o proprietário receberá um voucher para sacar o dinheiro no Banco do Brasil, em um prazo máximo de 30 dias. Anteriormente, o pagamento poderia demorar meses.
Desta vez, o proprietário da arma também não precisará deixar nome, endereço ou o número do CPF quando for entregar a arma nos postos de coleta. E a arma entregue será imediatamente destruída, para evitar o risco de voltar às mãos de criminosos.
A campanha será lançada oficialmente às 10 horas, em solenidade na Prefeitura do Rio, pelo ministro da Justiça, o governador do Estado, Sérgio Cabral, e o prefeito Eduardo Paes, além de representantes de entidades parceiras, como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e as ONGs Viva Rio e Instituto Sou da Paz. A segunda parte do evento será a incineração de mil armas apreendidas pela polícia, no forno da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), às 12 horas.

Realengo. A nova campanha estava prevista para junho, mas foi antecipada, para coincidir com um mês da tragédia na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio. Doze estudantes foram mortos a bala no local.
Dados do governo mostram que mais de 70% dos homicídios no País são cometidos com arma de fogo de fabricação nacional, sobretudo o revólver calibre 38. Grande parte dos assassinatos decorre de acidentes domésticos e de causas banais, como brigas de trânsito.

Recursos
Segundo o Ministério da Justiça, o governo federal reservou R$ 10 milhões para indenizar quem devolver armas e conseguirá crédito suplementar se a adesão surpreender.




RIO
Justiça do Rio afasta dois vereadores de Caxias envolvidos com milícia
Políticos foram presos durante uma operação deflagrada pela Procuradoria-Geral de Justiça, em dezembro de 2010, suspeitos de envolvimento em cerca de 50 assassinatos

Priscila Trindade - Central de Notícias

SÃO PAULO - O Juízo da 3ª Vara Cível de Duque de Caxias afastou da Câmara Municipal de Caxias, no Rio de Janeiro, os vereadores Jonas Gonçalves da Silva e Sebastião Ferreira da Silva, presos na Operação Capa Preta, por suposto envolvimento com uma milícia. O pedido de afastamento foi feito pelo Ministério Público (MP) do Rio de Janeiro.
Os vereadores foram presos durante uma operação deflagrada pela Procuradoria-Geral de Justiça, em dezembro de 2010. Outros 32 homens foram presos na ocasião. Todos são acusados de envolvimento com uma milícia que teria praticado cerca de 50 homicídios desde 2007.
Segundo o MP, no grupo estão 13 policiais militares, um policial civil, um militar do Exército e outro da Marinha, que também foram afastados de suas funções públicas. A liminar, deferida na última quinta-feira, 28, determina também a quebra dos sigilos bancário e fiscal dos réus, assim como a indisponibilidade dos seus bens.
De acordo com a Ação Civil Pública ajuizada pela 2ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva do Núcleo de Caxias, o grupo atuava em atividades ilegais como a cobrança de taxas de "segurança" e o fornecimento clandestino de gás, internet e TV a cabo. Os presos também exploravam o transporte clandestino de passageiros e o controle do uso de máquinas de jogos de azar.
Os crimes ocorriam nas localidades de Gramacho, São Bento, Lote XV, São José, Parque Fluminense, Parque Muisa, Pantanal, Jardim Leal, Guaíra, Sarapuí, Vila Rosário e Parque Suécia, todas em Duque de Caxias.




INTERNACIONAL
ORIENTE MÉDIO
Palestinos encerram quatro anos de divisões
No Cairo, Abbas rejeita críticas de Israel à aproximação com o Hamas e afirma que facções continuarão lutando por dois Estados para dois povos

Nathalia Watkins - O Estado de S.Paulo
ESPECIAL PARA O ESTADO / TEL-AVIV

À sombra de divergências de última hora, as facções palestinas assinaram ontem o acordo de reconciliação que acaba com a divisão de quatro anos entre o partido secular Fatah e o movimento islâmico Hamas. Na cerimônia, o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, rebateu as críticas israelenses ao acordo e disse que o Hamas é parte da arena política palestina, rejeitando "intervenções nos assuntos internos".
Abbas, que também é dirigente do Fatah, ressaltou que a Autoridade Palestina está comprometida com os acordos previamente assinados com Israel e reiterou o compromisso com a solução de dois Estados.
O governo israelense pediu que a Autoridade Palestina cancelasse o pacto e disse que Abbas deveria escolher entre a paz com Israel ou a aliança com o Hamas. Como resposta, o líder palestino afirmou que Israel teria de escolher entre a paz e os assentamentos em territórios palestinos.
Em visita a Londres, o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, voltou a rejeitar o acordo, que qualificou como "tremendo golpe para a paz e prêmio para o terror". Israel recusa-se a dialogar com uma liderança que inclua o Hamas, grupo que define como terrorista.

Impasses. Apesar do fim da cisão política, os palestinos ainda se dividem quanto as chances de sucesso do acordo. Enquanto o pacto foi amplamente comemorado na Faixa de Gaza, reduto do Hamas, na Cisjordânia apenas algumas dezenas de pessoas festejaram em Ramallah.
"O difícil não é assinar o acordo e sim implementá-lo. Há muitas questões importantes que continuam sem resposta. Quem será o primeiro-ministro? Como haverá integração das forças de segurança?", questiona Abd Al-Nasser Al-Najjar, diretor do jornal palestino Al Ayyam. Para ele, Gaza comemorou o acordo porque acredita ser um primeiro passo para dar fim ao isolamento que vive nos últimos quatro anos. Mas o analista duvida que haja uma ideologia comum por trás da aliança.
"O Hamas assinou o acordo por temer a crise na Síria, seu aliado. Abbas cansou de insistir no estagnado processo de paz e queria legitimidade para alcançar o reconhecimento internacional de um Estado palestino", avalia.



ARTIGO
Adeus, ''Geronimo'': a vitória dos árabes moderados
Osama bin Laden viveu tempo suficiente para ver sua comunidade repudiar sua ideologia e derrubar governos de forma pacífica

*Thomas L. Friedman, The New York Times - O Estado de S.Paulo

Só há uma coisa boa no fato de Osama bin Laden ter sobrevivido por quase dez anos após o assassinato em massa planejado por ele no World Trade Center e no Pentágono. Ele viveu tempo suficiente para ver tantos jovens árabes repudiarem sua ideologia. Para ver árabes da Tunísia ao Egito, no Iêmen e na Síria, levantarem-se pacificamente para conquistar dignidade, justiça e conquistas que Bin Laden afirmava que só poderiam ser obtidas pela violência e a volta ao islamismo puro.
Fizemos a nossa parte. Matamos Bin Laden com uma bala. Agora os povos árabes e muçulmanos têm a chance de fazer a deles - matar o bin-ladenismo com o voto. Isto é, com eleições reais, com constituições reais, partidos políticos reais e uma política progressista real.
Sim, os vilões foram golpeados em todo o mundo árabe nos últimos meses - não só a Al-Qaeda, mas toda a galeria de ditadores, cujo fanatismo brando de baixas expectativas para seu povo manteve o atraso do mundo árabe. Agora, questão é se as forças da decência conseguirão se organizar, escolher e começar a construir um futuro árabe diferente. O resto é ruído.
Para compreender esse desafio, precisamos lembrar a origem do bin-ladenismo. Ele surgiu de uma negociata do diabo entre países consumidores de petróleo e ditadores árabes. Nós todos - Europa, América, Índia, China - tratamos o mundo árabe como uma coleção de grandes postos de gasolina, e enviamos a mesma mensagem aos petro-ditadores: mantenham o petróleo fluindo, os preços baixos e não perturbem Israel e poderão tratar seus povos como quiserem.
Bin Laden e seus seguidores foram um produto de todas as patologias que prosperaram no escuro - déficits incapacitantes de liberdade, direitos de mulheres e educação por todo o mundo árabe. Esse déficits nutriram um profundo senso de humilhação entre os árabes pelo tanto para trás que haviam ficado, uma fome profunda de controle sobre seus próprios futuros e um senso penetrante de injustiça em seu cotidiano.
Esses aspectos foram os mais espantosos nos levantes árabes no Egito e na Tunísia. Eles foram quase apolíticos, não envolveram ideologia. Foram impulsionados por anseios humanos básicos por dignidade, justiça e controle da própria vida. Lembrem, uma das primeiras coisas que os egípcios fizeram foi atacar seus próprios postos policiais - os instrumentos da injustiça do regime. E como milhões de árabes compartilham esses anseios por dignidade, justiça e liberdade, as revoluções não vão desaparecer.
Durante décadas, porém, os líderes árabes eram muito adeptos de recolher toda essa raiva fermentando e redirecioná-la para os Estados Unidos e Israel. Sim, o comportamento particular de Israel às vezes alimentou o senso de humilhação e impotência árabe, mas não foi sua causa principal. Pouco importa. Enquanto os autocratas chineses diziam a seu povo, "Tiraremos a sua liberdade e, em troca, lhe daremos educação e nível de vida crescentes", os autocratas árabes diziam "Tiraremos sua liberdade e lhe daremos o conflito árabe-israelense".
Foi nesse cenário tóxico que surgiu Bin Laden. Psicopata e falso messias, pregou que somente pela violência - destruindo esses regimes árabes e seus apoiadores americanos - o povo acabaria com a humilhação, restauraria a justiça e construiria um califado mítico impoluto.
Pouquíssimos árabes apoiavam ativamente Bin Laden, mas no início ele atraiu um apoio passivo importante por seu punho erguido contra os EUA, os regimes árabes e Israel. À medida que a Al-Qaeda começava a ser perseguida e a gastar a maior parte de suas energias matando outros muçulmanos que não rezavam pela sua cartilha, até seu apoio passivo se desfez.
Nesse vazio, sem qualquer esperança de alguém sair em seu socorro, parece que os públicos árabes na Tunísia, Egito, Iêmen e outras partes se despiram de seus medos e decidiram assumir o controle de forma pacífica. É o exato oposto do bin-ladenismo. Alguns preferem identidades mais religiosas e sectárias. É aí que estará a luta.
Não podemos prever o desfecho. Haverá uma luta de ideias - em uma região onde os extremistas ganhavam todas e os moderados se omitiam. Desta vez será diferente. Os moderados serão tão passionais e comprometidos como os extremistas. Se isso ocorrer, tanto Bin Laden como o bin-ladenismo estarão sepultos no fundo do oceano. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

*É COLUNISTA E ESCRITOR



ARGENTINA
Cristina evita encontro com missão da SIP
Entidade que representa empresas jornalísticas avalia liberdade de imprensa na Argentina

Ariel Palacios - O Estado de S.Paulo
CORRESPONDENTE / BUENOS AIRES

A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, na sigla em espanhol) está em Buenos Aires para avaliar a liberdade de imprensa na Argentina. Desde ontem, uma missão mantém reuniões com políticos e associações jornalísticas na capital do país. Mas, apesar dos pedidos do presidente da SIP, Gonzalo Marroquín, Cristina Kirchner não aceitou se reunir com a entidade.
No entanto, a SIP - que representa 1,3 mil empresas de mídia de todo o continente - foi recebida ontem pelo secretário de Comunicação Pública, Juan Manuel Abal Medina. No encontro, ele afirmou que o governo de Cristina promove "níveis máximos de liberdade de expressão".
No entanto, na contramão de Abal Medina - possível vice-presidente em uma chapa de reeleição de Cristina -, as organizações de imprensa argentinas afirmam que sua relação com o governo deteriora-se já há vários anos. Os maiores jornais do país destacam que Cristina destina a maior parte da verba de publicidade oficial (controlada por Abal Medina) para os meios de comunicação alinhados com o governo. A preferência pela mídia aliada também ficou evidente na distribuição das verbas nos canais de TV.
O presidente da SIP sustenta que "os governos toleram as críticas cada vez menos". Segundo Marroquín, "é preciso entender que sem liberdade de imprensa a democracia fica em perigo".
O Freedom Forum, de Washington, fez um alerta sobre as pressões sofridas pelo jornalismo argentino. Segundo a fundação, que defende a liberdade de expressão, há uma "liberdade (de imprensa) parcial" no país.
O casal Kirchner manteve uma relação tensa com os meios de comunicação argentinos desde a posse do presidente Néstor Kirchner, em 2003. Mas a tensão ficou mais evidente a partir de 2008, quando, em meio a um conflito do governo com o setor agropecuário, a presidente Cristina acusou os principais jornais do país de estarem por trás de um "golpe cívico-midiático".

TENSÃO

Evidência
Em 2008, quando enfrentava problemas com o setor agropecuário, Cristina acusou os jornais argentinos de golpismo

Constrangimento
Militantes pró-governo realizam protestos contra jornalistas críticos de Cristina espalhando cartazes com seus rostos e nomes

Piquetes
Há três anos, apoiadores de Cristina vêm tentando impedir a circulação de jornais argentinos realizando protestos; como nos dias 29 de março, em Buenos Aires, e 3 de abril, em Córdoba


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