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quarta-feira, 4 de maio de 2011

04 de maio de 2011 - JORNAL DO COMMERCIO


VOO 447
Encontrada 2ª caixa-preta
Equipes de buscas localizaram e recolheram equipamento que registra diálogos entre pilotos do Airbus

PARIS  

O Escritório de Investigação e Análise para a Aviação Civil (BEA), órgão do governo da França que apura as causas do acidente com o voo 447, informou ontem que foi encontrada e recuperada a segunda caixa-preta com informações do Airbus A330 da Air France que caiu no Oceano Atlântico em 31 de maio de 2009 quando fazia a rota entre o Rio de Janeiro e Paris, matando as 228 pessoas que estavam a bordo. Segundo a BEA, esta caixa-preta, considerada a mais importante por registrar os diálogos entre os integrantes da tripulação, encontra-se inteira e em bom estado.
No último domingo, já havia sido localizada a primeira caixa-preta, que contém os parâmetros técnicos do voo, como a altitude, a velocidade, o desempenho do motor e a trajetória do avião. A equipe de investigação localizou e identificou o gravador de voz do cockpit (CVR, na sigla em inglês), afirmou o BEA em comunicado. A descoberta ocorreu no fim da noite de anteontem e o anúncio foi feito na madrugada. O material foi içado até o navio Ile de Sein na manhã de ontem.
A descoberta, feita pelo submarino robô Remora 6000, poderá resultar em grandes avanços para a investigação do acidente. A caixa-preta deve conter dados cruciais, que podem permitir aos investigadores do BEA a determinação das causas do desastre. Se conseguirmos ler os dados da caixa-preta, em três semanas conheceremos pelo menos parte da verdade sobre o acidente, disse o ministro dos Transportes da França, Thierry Mariani.
O diretor do BEA, Jean-Paul Troadec, disse que as duas caixas-pretas permitirão aos especialistas montar uma cronologia sobre os acontecimentos nos sistemas do avião e da reação da tripulação. Ele afirmou que outras peças da aeronave serão retiradas do fundo do mar e ajudarão a reconstituir como foi o acidente. A condição das gravações, contudo, ainda não está clara. Funcionários do BEA alertaram que as caixas-pretas podem ter sido danificadas, após ficarem quase dois anos no fundo do oceano.
O governo da França vai convocar técnicos do Brasil, da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos, além de oficiais de Justiça, para assegurar a lisura na transcrição das gravações. A participação de técnicos estrangeiros atende à pressão crescente de familiares das vítimas, de técnicos independentes e da imprensa, que colocam em questão a independência do BEA.
A desconfiança decorre do fato de que o escritório é controlado pelo governo francês, também acionário das empresas envolvidas no acidente: a Air France, a Airbus e a Thales, fabricante das sondas pitot, os sensores de velocidade do avião. As suspeitas sobre a lisura do BEA, levantadas por famílias de vítimas brasileiras e alemãs, também são compartilhadas na França por técnicos independentes.


Retirada de corpos deve começar hoje

 Os corpos de vítimas do voo 447 podem começar a ser retirados do fundo do mar a partir de hoje. A previsão era que os primeiros testes fossem realizados assim que se encontrassem as caixas-pretas, de acordo com o coronel François Daust, diretor do Instituto de Investigações Criminais da Polícia Militar da França, responsável pela operação.
Segundo ele, testes irão determinar se será possível elevar os corpos à superfície sem que sejam muito danificados. O risco é que os restos mortais não resistam à manipulação e que os ossos se soltem na subida. Teremos que avaliar se o robô vai conseguir puxar os corpos sem que os ossos sejam desarticulados. Nesse caso, teremos que escolher: ou decidimos retirar as ossadas, ou deixamos os corpos no fundo do mar, explicou.
O resgate divide opiniões. O problema dos corpos é um pouco espinhoso. Há um aspecto traumatizante, não sabemos em que estado estão, disse Robert Soulas, vice-presidente da Associação Ajuda Mútua e Solidariedade AF447, entidade francesa de parentes de vítimas. É muito estimulante para nós que estávamos sem notícias e ainda tínhamos esperança de encontrar os corpos. Vamos poder enfim enterrá-los, afirmou, por sua vez, o brasileiro Nelson Marinho, presidente da associação brasileira.



CHUVA NO ESTADO
Em pânico e debaixo dágua mais uma vez
Dez meses e 15 dias após a cheia de 2010, a Mata Sul voltou a viver grande drama. Em Jaqueira, houve morte

Tudo de novo. Foram apenas dez meses e 15 dias para o medo tomar conta outra vez do povo da Mata Sul de Pernambuco. Medo de perder o pouco que conseguiu, de ter que reconstruir, de perder vidas, de ver planos e sonhos evaporarem de novo. Nem um ano se passou desde o trágico 18 de junho de 2010, quando 20 pessoas morreram no Estado e 26 mil ficaram desabrigadas, e a Mata Sul percebeu que os próximos dias deverão ser difíceis se as chuvas continuarem como prevê a meteorologia. Ontem, o dia foi de medo em algumas cidades e de pânico em outras. A chuva não deu trégua o dia inteiro, fazendo o nível de rios subir. Principalmente o Una, que corta a maior parte das cidades da região. Ele passou de quatro metros para nove metros em cinco horas. Famílias abandonaram casas inundadas. Outras fugiram até de imóveis instalados em vias asfaltadas, temendo o pior mais uma vez. No Sítio Tenório, zona rural de Jaqueira, Cícero Moraes, 47 anos, morreu em deslizamento de barreira sobre residência. Até agora são dois óbitos provocados pelas chuvas no Estado, este ano.
Municípios como Palmares, Água Preta e Catende amanheceram em baixo d água. Outros, como Barreiros, foram abandonados pelos moradores. Ninguém queria viver tudo de novo. Ver casas serem encobertas, perder móveis, eletrodomésticos, correr risco de morte. O sentimento de abandono dominava os moradores. Era visível na pressa que tinham em reunir objetos e roupas para fugir da água. O povo não acreditava mais no poder público, nesse caso as prefeituras e o governo do Estado, acusados de prometer muito e nada fazerem para evitar que a tragédia de 2010 se repetisse. Sentindo-se sozinhos, os moradores arregaçaram as mangas e começaram a se virar como podiam ainda de madrugada, apoiados apenas por parentes e vizinhos.
Esse sentimento foi retratado pela aposentada Nair Eugênio dos Santos, 65 anos. Assim como outros moradores de Água Preta, ela esperava, resignada e sob a chuva, que alguém tivesse a boa vontade de levá-la, com o neto de 15 anos e os poucos móveis que conseguiu reunir, para qualquer lugar seguro. Perdi tudo no ano passado e, desde cedo, minha casinha está quase coberta pela água. Não quero perder minha vida. Não vou arriscar. Tirei o que pude com meu neto e estou esperando que um filho de Deus me ajude. Se não tiver jeito, vou deixar tudo para trás, dizia, olhando para a pequena casa quase submersa às margens da PE-96, rodovia que liga Palmares, Água Preta e Barreiros.
Não teve defesa civil, prefeitura ou secretaria. O povo foi alertado pelo medo de sofrer de novo. Ninguém dormiu após as 23h de anteontem, quando a chuva ganhou força na região. Em Palmares, Glebson Augusto da Silva, 30, dono de uma pequena frota de transporte intermunicipal, monitorou a chuva, mas foi traído pela força da água. Três dos dez ônibus e a residência de três quartos, localizada numa chácara no bairro de Santa Rosa, ficaram encobertas pela água. Perdeu tudo. O prejuízo chegou a R$ 300 mil. É triste, muito triste ver o que é nosso assim. A gente constrói com dificuldade e perde tudo. Nos sentimos impotentes, resumiu. Parecia que falava pela maioria do povo da Mata Sul.


Tráfego interrompido em BR
Ponte perto de Xexéu foi interditada após queda da cabeceira, afetando ligação entre Pernambuco e Alagoas, pela BR-101 Sul

A ponte sobre o Rio Santo Antônio, no quilômetro 196 da BR-101, perto do município de Xexéu, na Mata Sul, foi interditada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) depois que parte de uma das cabeceiras caiu. O acidente ocorreu ontem de manhã e comprometeu a estrutura da construção. A rodovia é a principal ligação terrestre entre Pernambuco e o Sul do País.
Os motoristas que quiserem seguir para Alagoas de carro têm três caminhos alternativos. Um deles é a PE-60, que deve ser acessada ainda no Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife. Na divisa com Alagoas, a rodovia muda de nome para AL-101. Outro caminho é pegar a BR-232 e seguir até Caruaru, onde o motorista deve acessar a BR-104 até chegar ao Estado vizinho. Nessa rota, o percurso aumenta cerca de 70 quilômetros. O motorista pode, ainda, pegar a BR-232 e seguir até São Caetano, onde acessa a BR-423. Em Garanhuns, é preciso pegar a BR 424. Na divisa com Alagoas, a rodovia muda de nome para AL-110. A viagem fica aproximadamente 100 quilômetros mais longa.
Segundo a assessoria de imprensa do Dnit, o tráfego no local voltará ao normal amanhã, com a instalação de uma ponte metálica do Exército. A estrutura, de fabricação inglesa, está no Rio Grande do Norte. A ponte danificada, que tem 150 metros de extensão, fica no trecho em duplicação da rodovia, entre a cidade de Palmares e o Estado de Sergipe. A recuperação da estrutura será feita paralelamente ao serviço na estrada.
No Agreste, parte de uma barreira deslizou no quilômetro 65 da BR-232, próximo ao viaduto da cidade de Pombos. O acidente ocorreu por volta das 7h30 e interditou uma das faixas de rolamento da pista. O tráfego foi liberado às 16h30. Outro deslizamento, de menor proporção, ocorreu no quilômetro 69, perto da entrada do túnel, em Gravatá, mas o trânsito não foi afetado. Em Vitória de Santo Antão, o antigo trecho da rodovia, que passa por dentro da cidade, alagou, prejudicando o tráfego no município.
De acordo com o assessor de comunicação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Éder Rommel, não haverá reforço no efetivo da corporação para o período de chuvas. Não temos pessoal suficiente para isso. Trata-se de um período longo e sem prazo definido. Preferimos orientar os motoristas a ser mais prudentes quando estiverem dirigindo na chuva, explicou. Entre os cuidados que os motoristas devem tomar estão dirigir mais devagar e prestar atenção aos buracos e acúmulo de água na rodovia. O condutor pode perder o controle do veículo e provocar um acidente. Além disso, é mais seguro dirigir em uma velocidade menor, pois reduz os riscos, acrescenta Rommel. O inspetor pediu também que a população evite fazer viagens desnecessárias.
O Departamento de Estradas de Rodagem (DER) mobilizou equipes para trabalhos emergenciais. O secretário de transportes, Isaltino Nascimento, baixou uma portaria colocando todos os servidores da pasta em regime de prontidão a partir de hoje. Foram registrados problemas em várias rodovias estaduais. A PE-96, em Palmares, ficou alagada e houve queda de árvores. Os danos só poderão ser avaliados quando o nível do Rio Una baixar.


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