DESTAQUE DE CAPA
Bin Laden estava desarmado, dizem EUA
Casa Branca muda versão inicial e diz que líder terrorista não reagiu com tiros ao ataque que o matou, domingo
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
O governo americano recuou ontem da versão inicial sobre a morte do terrorista Osama bin Laden, líder e fundador da Al Qaeda, afirmando que ele estava desarmado no momento da ação ocorrida na noite de domingo em Abbottabad, Paquistão.
Os primeiros relatos diziam que o ex-terrorista número 1 do mundo havia sido alvejado na cabeça depois de atirar contra os agentes especiais americanos que invadiram o complexo onde morava havia anos.
Surgiram novos detalhes sobre a ação, mas a Casa Branca reiterou que Bin Laden "ofereceu resistência", sem dar detalhes.
A confusão sobre a ação levou a ONU a cobrar explicações dos EUA, destacando que as operações de antiterrorismo devem respeitar o direito internacional.
A morte do terrorista acirrou tensões com o Paquistão, suspeito de ter sido cúmplice do esconderijo de Bin Laden. A popularidade do presidente Obama disparou nove pontos após o anúncio do fim da caçada.
OPINIÃO
Hora de declarar vitória e encerrar a guerra global contra o terror
GIDEON RACHMAN
DO "FINANCIAL TIMES"
George W. Bush costumava perguntar "por que nós ainda não encontramos Bin Laden?" com tanta regularidade que um de seus subordinados, exasperado, certa vez sugeriu o envio de uma resposta sucinta ao presidente: "Por ele estar escondido".
Passada quase uma década do 11 de Setembro, Osama bin Laden foi, por fim, localizado e morto.
Sua morte oferece a oportunidade de declarar o fim da "guerra ao terror". Isso não significa que EUA e Europa possam deixar de se preocupar com o terrorismo. O Ocidente precisará de políticas sérias de combate ao terrorismo por muitos anos mais.
Mas os esforços capitaneados por Bush para fazer disso peça-chave da política externa do país foram um erro.
A "guerra ao terror" distorceu a política externa americana e resultou em guerras no Iraque e no Afeganistão que consumiram bilhões e geraram uma imensa estrutura burocrática secreta.
É difícil colocar a ameaça terrorista em perspectiva. Os ataques a Nova York e Washington foram tão assustadores que ficaram gravados em todas as memórias. Também está claro que a Al Qaeda gerou afiliadas que podem ser tão perigosas quanto a original, dirigida por Bin Laden.
Os serviços de inteligência afirmam que existem complôs perigosos sendo preparados pelas filiais da Al Qaeda no Iêmen, Somália e África do Norte -e não temos motivo para desacreditar.
No entanto, se considerarmos os números, teremos de admitir que a ameaça terrorista foi exagerada.
Em livro publicado há dois anos, o acadêmico John Mueller disse que o total de americanos mortos em atentados desde os anos 60 é "mais ou menos igual ao de mortos em acidentes causados por cervos, neste período".
Em 2010, os serviços de informações americanos gastavam US$ 75 bilhões por ano -avanço de mais de 2.000% desde o 11 de Setembro.
Enquanto os EUA despejavam dinheiro nessa guerra, mudanças verdadeiramente decisivas estavam em curso no leste da Ásia. A ascensão de novas potências econômicas como a China e a Índia influenciará o novo século de forma mais decisiva do que a ameaça terrorista.
FRONTEIRA
Afeganistão diz que matou combatentes
Ao menos 26 combatentes estrangeiros, incluindo árabes, tchetchenos e paquistaneses foram mortos ou feridos pelas forças de segurança afegãs ao tentar entrar clandestinamente ontem no Afeganistão, onde pretendiam lançar ataques para vingar Osama bin Laden. A notícia foi dada por autoridades afegãs.
Companhias aéreas reforçam uso de seguranças em voos
Homens armados são usados por empresas estrangeiras no Brasil
RAPHAEL MARCHIORI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Após o anúncio da morte de Osama bin Laden, companhias aéreas internacionais intensificaram o uso de seguranças armados à paisana [os "air marshals"] em alguns voos partindo do Brasil ou chegando ao país. A notícia foi divulgada por Robson Bertolossi, presidente da Jurcaib -uma junta que representa 42 companhias aéreas internacionais que operam no Brasil. "Essa prática sempre existiu, mas pode ter sido relaxada por algumas empresas devido a uma situação mais calma. Agora, com esse novo fato [anúncio da morte do líder da rede terrorista Al Qaeda], a segurança armada nos voos foi intensificada."
Questionado sobre o risco para os passageiros em um eventual tiroteio dentro da aeronave, Bertolossi disse que os seguranças "não atiram por qualquer motivo". "São pessoas preparadas. Eles não vão sair atirando a torto e a direito", afirmou. De acordo com o presidente da Jurcaib, essa segurança é realizada por agentes contratados pelas companhias estrangeiras no exterior.
A presença dos agentes nas aeronaves, segundo Bertolossi, é mais recorrente em voos que partem ou têm como destino potenciais alvos de ataques terroristas, como Reino Unido, Estados Unidos, França e Israel. "Nem todos os voos têm esses agentes. Eles são um número pequeno e reduzido", disse Bertolossi -que não informou quais companhias se valem desse expediente de segurança.
A Gol, que opera voos internacionais para a América Latina e Caribe, disse que não utiliza seguranças armados em seus voos. Já a TAM, que tem voos para os Estados Unidos e Europa, informou que a regulamentação brasileira não permite o uso desses seguranças nas aeronaves.
MÔNICA BERGAMO
EM BLOCO
O DEM, que tem vários integrantes que participaram dos governos militares, deve apoiar a Comissão da Verdade que o governo quer criar para investigar violações aos direitos humanos na ditadura. O líder ACM Neto (DEM-BA) afirma que os deputados votarão a favor. E que já foi iniciado um debate entre os senadores. "Até o fim da semana decidiremos por uma posição comum. A tendência é apoiar. A gente vê o projeto com simpatia."
PRIVATIZAÇÃO DOS AEROPORTOS
Obra do 3º terminal em Guarulhos começa neste ano, diz governo
Após licitação, empresa vencedora deverá repor o montante gasto na construção
DE BRASÍLIA
A Infraero vai começar as obras do terceiro terminal do aeroporto de Guarulhos até o fim do ano, antes mesmo da licitação que passará sua futura administração para o setor privado.
Com essa medida, o governo espera evitar atrasos na obra, considerada essencial para aumentar a capacidade do aeroporto paulista para atender o crescimento da demanda até a Copa, em 2014. Depois de feita a licitação, a empresa vencedora deverá devolver ao governo federal o montante gasto na obra até o momento em que ela for assumida pelo setor privado.
Além disso, o Palácio do Planalto foi informado, durante reunião ontem, que as obras de reforma da pista de Guarulhos estarão finalizadas até agosto. O governo também decidiu que a primeira "prefeitura" de aeroporto, responsável pela governança e segurança do local, será também em Guarulhos.
Depois de reunião com as companhias aéreas, na manhã de ontem, o presidente da Infraero, Gustavo do Vale, afirmou que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) deve concluir o estudo de viabilidade sobre as concessões dos cinco novos terminais de aeroportos em até 60 dias. Com o estudo, o governo espera ter uma ideia de qual modelo é mais rápido e atende melhor ao interesse público e privado, para lançar os editais até o fim de 2011. Mas ainda não há garantia de que os editais serão publicados neste ano.
O estudo vai definir como será a parceria entre as empresas privadas e o governo na construção e na operação dos terminais nos aeroportos de Brasília, Guarulhos, Viracopos (Campinas), Galeão (Rio de Janeiro) e Confins (Belo Horizonte). Segundo Vale, vários modelos são possíveis: concessão integral, PPP (Parceria Público-Privada) ou concessão administrativa. O governo tem a avaliação prévia de que uma PPP seria mais ágil, pois provavelmente não precisaria da atuação da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Além de Vale, participaram da reunião com as empresas o ministro da Aviação Civil, Wagner Bittencourt, Infraero e a Anac.
(VALDO CRUZ e SOFIA FERNANDES)
Colaborou NATUZA NERY, de Brasília
TRAGÉDIA DO VOO 447
Teste define resgate de corpos do voo 447
Equipe faz simulações para verificar viabilidade da operação; segunda caixa-preta do avião é localizada por robô
Corpos de ocupantes do avião que caiu em maio de 2009 no oceano Atlântico estão a 4.000 metros de profundidade
ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
Os corpos dos ocupantes do avião da Air France, que caiu no Atlântico quando fazia a rota Rio-Paris podem começar a ser retirados do mar hoje, menos de 48 horas após investigadores franceses terem localizado a segunda caixa-preta da aeronave. "A previsão era a de que os primeiros testes fossem realizados assim que se encontrasse as caixas-pretas", disse à Folha o coronel François Daust, diretor do Instituto de Investigações Criminais da Polícia Militar francesa.
Para ele, testes irão determinar se será possível elevar os corpos à superfície sem que sejam muito danificados. O avião levava 228 ocupantes quando aconteceu o acidente. "Teremos que avaliar se o robô vai conseguir puxar os corpos sem que os ossos sejam desarticulados", explicou Daust. "Nesse caso, ou decidimos retirar as ossadas ou deixamos os corpos no mar".
Os primeiros resultados devem sair ainda amanhã. A segunda peça encontrada -o Cockpit Voice Recorder (CVR)- é fundamental para explicar as causas do acidente. Ela contém registros das conversas dos pilotos, das comunicações feitas por rádio e dos ruídos na cabine. Outra peça essencial, o Flight Data Recorder (FDR), que registra dados técnicos do voo, já havia sido localizada no último domingo.
"Se conseguirmos ler as caixas-pretas, acreditamos que poderemos explicar o acidente", disse Jean-Paul Troadec, diretor-geral do BEA, órgão que investiga o desastre.
Segundo ele, a caixa-preta foi encontrada em bom estado, mas há riscos de que os dados não possam ser explorados. Nunca na história da aviação civil uma caixa-preta ficou tanto tempo submersa antes de ser encontrada. "Estamos confiantes, mas a situação é inédita", disse.
CRISE EM HONDURAS
Chanceler brasileiro elogia anulação de ações contra Zelaya
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS - O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse que a anulação dos processos por corrupção contra o ex-presidente de Honduras Manuel Zelaya permite "começar a ver luz no fim do túnel" em relação à volta do país à Organização dos Estados Americanos.
"É importante", afirmou aos jornalistas sobre a decisão, anunciada ontem pela Justiça do país centro-americano. Mas deixou claro que ainda faltam alguns detalhes para a normalização das relações entre Brasil e Honduras.
O relacionamento entre os dois países está estremecido, já que Brasil não reconhece a legitimidade do governo do presidente Porfirio Lobo.
Lobo chegou ao poder em eleições realizadas há pouco mais de um ano. O pleito foi organizado pelo grupo político que derrubou o antigo presidente Zelaya por meio de um golpe de Estado, em 2009.
"Esperamos um processo que leve à plena reintegração de Honduras ao sistema interamericano", disse Patriota após reunião no Paraguai.
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