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terça-feira, 3 de maio de 2011

03 de maio de 2011 - ESTADO DE SÃO PAULO


DESTAQUE DE CAPA
Após a morte de Bin Laden, EUA mantém guerra ao terror
Obama diz que "justiça foi feita" e "mundo está mais seguro", mas Casa Branca alerta americanos. Hillary afirma que país "redobrará" esforços na luta antiterror. Washington pede que Taleban abandone Al-Qaeda e entre no processo político

O presidente dos EUA, Barack Obama, disse ontem que “a justiça foi feita" e "o mundo está mais seguro", um dia depois que forças especiais americanas mataram Osama Bin Laden, o terrorista saudita responsável pelo 11 de Setembro. Apesar disso, o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, John Brenner, afirmou que a Al-Qaeda, organização de Bin Laden, é um "tigre ferido, ainda com vida". Por isso, o governo alertou os americanos sobre o risco de novos ataques. A secretária de Estado Hillary Clinton disse que as EUA vão “redobrar esforços" na guerra ao terror e enviou mensagem ao Taleban: “Vocês não podem nos derrotar. Mas podem abandonar a Al-Qaeda e participar do processo político."


"Morte de Bin Laden não põe fim à guerra ao terror"
Secretária Hillary Clinton lembra que risco da Al-Qaeda se mantém. Ação espetacular foi acompanhada de perto por Obama. Corpo de terrorista foi lançado ao mar

Osama bin Laden, o homem mais odiado dos EUA, foi executado com um tiro na cabeça em uma operação impecável realizada por 24 homens da Equipe 6 da Força Seal, grupo de elite da Marinha americana. Quase dez anos depois, Washington consegue abater o mentor dos ataques do 11 de Setembro em pleno território de um país aliado, o Paquistão. A morte foi uma vitória política dos EUA e de seu presidente, Barack Obama - que acompanhou de perto cada detalhe da ação, da Sala de Situação, na Casa Branca. Os americanos, que há algum tempo davam sinais de abatimento em razão da crise econômica e da perda de confiança no governo, saíram às ruas para celebrar o triunfo dos EUA. Como o presidente que matou Bin Laden, Obama deve ver sua popularidade aumentar e ter o caminho para a reeleição em 2012 facilitado.
O Pentágono anunciou ontem que o corpo de Bin Laden foi lançado no Mar da Arábia, em obediência ao preceito islâmico. Mas clérigos muçulmanos afirmam que o lançamento do corpo ao mar contraria a tradição religiosa. Os EUA alegam que dificilmente algum país aceitaria o cadáver do líder do terrorismo global e quiseram evitar que seu túmulo virasse um santuário do radicalismo.
Embora Obama tenha afirmado que o "mundo está mais seguro sem Bin Laden", a secretária de Estado Hillary Clinton lembrou que a morte do terrorista "não deve frear o combate ao terror". Leon Panetta, diretor da CIA, lembrou o risco de atentados como forma de retaliação pela morte do saudita: "Bin Laden está morto, mas a Al-Qaeda, não", lembrou.


NACIONAL
Médico pede repouso, mas Dilma volta ao trabalho
Infectologista David Uip afirma que estado de saúde da presidente, que foi diagnosticada com pneumonia leve no fim de semana, apresentou melhora

Fausto Macedo, Tânia Monteiro e Gustavo Uribe - O Estado de S.Paulo

O médico infectologista David Uip, do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo, afirmou ontem que o estado de saúde da presidente Dilma Rousseff (PT) apresentou melhora do quadro de pneumonia que atingiu seu pulmão esquerdo e que ela poderá retomar, gradativamente, a rotina de trabalho. "Melhorou bem, foi muito objetiva a melhora", declarou Uip, às 19 horas.
Mas, apesar da recomendação médica para que repousasse, Dilma reuniu-se, na tarde de ontem, de volta a Brasília, com o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, e com o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson Hubner, por quase três horas, para discutir diversos problemas do setor.
Pela manhã, por cerca de meia hora, Uip acompanhou a junta que examinou Dilma no apartamento em que ela estava hospedada em um hotel nos Jardins, na capital paulista. A presidente foi submetida a um exame clínico, sob coordenação de seu médico, o cardiologista Roberto Kalil Filho, e do doutor Raul Cutait, cirurgião e gastroenterologista.
Ainda no domingo, ao informar o diagnóstico, Kalil Filho disse que "é uma pneumonia leve e que a presidente está se tratando com antibióticos". Kalil decidiu trocar o medicamento recomendado pelo médico da Presidência, Cleber Ferreira, que é ortopedista de formação.
Dilma foi aconselhada a reduzir o ritmo de trabalho.
Ela chegou sábado à noite em São Paulo. No domingo, submeteu-se a uma bateria de exames no hospital. "Ela está bem, muito melhor", declarou Uip, ontem. "Nós orientamos para que ela diminua as horas de trabalho", acrescentou. "Algumas horas de trabalho por dia, um pouco no período da manhã, um pouco à tarde."

Vacina. O infectologista observou ainda que Dilma está sendo medicada com dois tipos de antibióticos. Segundo ele, a pneumonia, "em hipótese nenhuma, pode ter sido causada pela vacina da gripe".
Dilma tomou a vacina no último dia 25. Conforme Uip, a substância possui um vírus morto, que não provoca a doença. Sobre a origem da pneumonia, o médico disse: "Estamos tentando descobrir o agente". Um indício é o ar-condicionado de uma sala do Planalto, sob temperatura muito baixa, onde Dilma se reuniu na quarta-feira.
A investigação se dará por dois caminhos, explicou. Primeiro, por meio da coleta de sangue já realizada. "A sorologia pareada vai permitir verificar se houve aumento dos títulos de anticorpos específicos." Os resultados da pesquisa deverão ser conhecidos na próxima semana.
"O importante é que a escolha dos antibióticos deu certo", afirmou o médico, em referência aos medicamentos que ela começou a tomar em Brasília, antes de se deslocar para São Paulo.
A presidente Dilma quer reduzir a maratona de compromissos oficiais. No Planalto, há uma preocupação em demonstrar que ela está trabalhando normalmente e gozando de bom estado de saúde, para afastar qualquer relação com retorno dos problemas de câncer que enfrentou no passado.

02 DE MAIO DE 2011 | 19H 43

Dilma interrompe repouso e reúne-se com Lobão

TÂNIA MONTEIRO - Agência Estado

Apesar da recomendação médica para que repousasse, a presidente Dilma Rousseff reuniu-se hoje à tarde com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e com o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson Hubner, por quase três horas, para discutir diversos problemas do setor. Depois de ser submetida a uma nova avaliação médica em São Paulo, Dilma embarcou para Brasília e seguiu direto para o Palácio da Alvorada. Mesmo realizando reuniões no Alvorada em dia que era para descansar, a ideia da presidente é reduzir a sua agenda e a maratona de compromissos oficiais.
Para amanhã, a presidente deverá, finalmente, fazer uma nova rodada de reuniões para tratar do problema dos aeroportos com o ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil, Wagner Bittencourt.
O médico da Presidência, Cléber Ferreira, que desde a quinta-feira diagnosticou a pneumonia no pulmão esquerdo da presidente, chegou ao Palácio da Alvorada na mesma hora que Dilma, mas em outro carro. Ele não foi visto saindo, onde a presidente passou o resto do dia.
A agenda da presidente foi mudada três vezes pela assessoria durante o dia. Primeiro, a que informava que ela teria uma reunião com Lobão pela manhã e com Bittencourt à tarde foi retirada do site, e a nova passou a dizer, apenas, que não havia agenda para este dia. Depois, por volta das 15 horas, uma nova agenda dizia apenas que ela chegou a Brasília às 12h20 e que não tinha compromissos oficiais à tarde. No entanto, às 16h30, o ministro das Minas e Energia chegou ao Alvorada para uma reunião sobre diversos assuntos do setor elétrico, que durou cerca de três horas. Esta informação só foi repassada, oficialmente, às 18h15.


Gestão de terra indígena terá programa nacional

Alvo de movimentos indigenistas que criticam o impacto do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a presidente Dilma Rousseff deve lançar nesta semana o Programa Nacional de Gestão Ambiental e Territorial de Terras Indígenas (PNGAT).
O texto regulamenta as ações nessas áreas. A ideia é criar, com participação dos índios, um conselho para definir políticas públicas. A expectativa de lançamento do programa coincide com a realização do Acampamento Terra Livre, que começa hoje, em frente ao Congresso. Cerca de 500 lideranças indígenas prometem permanecer até quinta-feira para exigir garantias do governo de que poderão ficar em suas terras. Representantes dos mais de 230 Povos Indígenas pretendem transformar a Esplanada em uma "grande aldeia".
Iniciado na gestão Luiz Inácio Lula da Silva, o programa perambulou por vários setores e agora vai ao Ministério do Meio Ambiente. O Planalto pretende, após sua definição, aprová-lo rapidamente no Congresso.

FÓRUM DOS LEITORES

Fatos e versões
Enfim, alguém com coragem de mostrar uma realidade muito pouco lembrada ultimamente: "Se não fosse o patriotismo da maior parte das nossas Forças Armadas, em 31 de março de 1964 o Brasil teria dado um dos passos mais tristes da sua História". Parabéns a Sandra Cavalcanti pela precisão de seu artigo O Brasil dos fatos e das versões (2/5, A2), lembrando que "agosto não nos traga desgosto". Estamos cansados dos atos escandalosos do PT, como a readmissão de Delúbio, etc., etc.

ESTHER ANGRISANI - estherangrisani@terra.com.br - São Paulo


ECONOMIA
Projetos mal feitos param obras do PAC
Má qualidade dos estudos apresentados dá margem a questionamentos jurídicos

Renée Pereira - O Estado de S.Paulo

Não são apenas os processos ambientais que atrasam o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A falta de cuidado na elaboração dos projetos básicos e executivos - ou a ausência deles - também tem sido uma pedra no sapato do governo federal. Além de esticar o cronograma de obras, a má qualidade dos estudos pode provocar brigas judiciais intermináveis.
Os relatórios do Tribunal de Contas da União (TCU) estão recheados de relatos e reclamações de projetos de baixa qualidade, sem informações necessárias para a obra, técnicas ultrapassadas de construção e valores inadequados. Na maioria dos casos, os ministros paralisam as obras e exigem novos estudos. Foi o que ocorreu, por exemplo, com o Porto de Itaqui, importante rota para escoar a safra de grãos da Região Norte do País.
O contrato para a dragagem dos berços 100 a 103 e a construção de uma área nos berços 100 e 101 foi suspenso por causa de inconsistências no projeto. A Empresa Maranhense de Administração Portuária terá de fazer novos levantamentos de campo e redefinir a metodologia para dragagem e construção da área de apoio ao porto.
"O projeto será readequado às condições de campo", afirmou a administradora, destacando que a conclusão dos estudos ocorrerá até o fim do mês. Somente após essa data será possível definir um novo cronograma de obras. A expectativa inicial era que o empreendimento ficasse pronto até dezembro de 2009. Enquanto isso, boa parte dos produtores da nova fronteira agrícola Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) tem de transportar a safra por algumas centenas de quilômetros até os portos do Sul e Sudeste.
Outra área que sofre com projetos de baixa qualidade é o de saneamento básico, em que as prefeituras são responsáveis pelos estudos. O diretor da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base, Newton Azevedo, afirma que os municípios têm grande dificuldade para executar e contratar empresas que façam o trabalho conforme as exigências da legislação. "Com projetos ruins, o processo licitatório na maioria dos casos não vai para frente ou é embargado por decisões judiciais."
O presidente do instituto Trata Brasil, Édison Carlos, explica que a origem do problema está nas duas décadas perdidas pelo setor de saneamento no Brasil. Com a criação do marco regulatório em 2006, os investimentos começaram a voltar lentamente. Em 2007, com o lançamento do PAC, o governo federal destinou uma quantia significativa para novos empreendimentos na área - cerca de R$ 40 bilhões. Mas, para conseguir o dinheiro, as prefeituras precisavam apresentar um projeto básico.
"Na correria para ficar com uma fatia dos recursos, os municípios apresentaram o que tinham em mãos. Mas os projetos estavam desatualizados", afirma Carlos. Os estudos consideravam, por exemplo, terrenos que já haviam sido vendidos como públicos. Ou seja, não levavam em conta a quantia que teria de ser desembolsada para desapropriação. Além disso, em alguns casos, o projeto antigo previa a construção de rede de esgoto em uma área, mas a cidade acabou crescendo para o outro lado.
O resultado disso, afirma o presidente do Trata Brasil, é que apenas 4% das obras lançadas no início do PAC foram concluídas. Cerca de 30% dos empreendimentos estão parados, atrasados ou não iniciados. "Há um apagão de projetos no setor de saneamento. Durante as décadas perdidas, os profissionais foram para outras áreas e os grandes projetos ficaram limitados a empresas de maior porte."

No ar. No setor aéreo, os problemas se arrastam há anos. As obras do Aeroporto de Vitória estão paradas desde 2008 por determinação do TCU, que encontrou 16 irregularidades graves, como sobrepreço, superfaturamento e inadequação do projeto básico. Os estudos estão sendo revisados. Segundo um especialista do setor, a variação de preços das obras aéreas é uma das grandes falhas dos projetos.
Em vários casos, diz ele, os orçamentos constantes nos estudos não continham todos os itens. Por isso, os preços começavam a subir no meio da obra e paravam no TCU. Para o presidente do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco), José Roberto Bernasconi, o segredo de uma obra bem feita num rápido espaço de tempo é a qualidade dos estudos. Um bom projeto, avalia o executivo, reduz até os impactos ambientais de um empreendimento.
Outro problema detectado entre as obras do PAC é a demora para conseguir concluir os estudos. No Aeroporto de Brasília, o cronograma para a entrega do projeto básico está atrasado desde abril de 2010. No caso de Guarulhos, a Infraero apenas conseguiu contratar a elaboração dos projetos de engenharia para construção do terceiro terminal em meados do ano passado.


AVIAÇÃO
Japão questiona política de incentivos à Embraer

Jamil Chade - O Estado de S.Paulo

O Japão cobra explicações do Brasil sobre o financiamento às exportações dos jatos da Embraer e, mais uma vez, os países ricos questionam a política industrial do País na Organização Mundial do Comércio (OMC). Estados Unidos, Canadá, Austrália e Japão pediram esclarecimentos sobre a legalidade de instrumentos como o BNDES, programas de incentivo e isenção de impostos.
Hoje, o tema entrará na agenda da OMC. Porém, o embaixador do Brasil em Genebra, Roberto Azevedo, disse que o Itamaraty já respondeu a quase todo o questionamento por escrito antes mesmo da reunião. As perguntas do Japão, por terem sido enviadas há apenas dez dias, ainda estão sendo respondidas.
Os governos que cobraram respostas poderão hoje pedir novos esclarecimentos durante a reunião do Comitê de Subsídios da entidade. Não se trata, portanto, de uma disputa legal nos tribunais da entidade. Pelas regras da OMC, os subsídios à indústria são regulamentados e governos têm espaço relativamente limitado para atuar. Uma das obrigações de cada governo é notificar a OMC cada um dos programas de incentivo.
O Brasil, portanto, vê o exercício com "naturalidade". Os números indicaram que o volume de recursos públicos para incentivar o setor produtivo no Brasil mais que dobrou entre 2005/6 e 2007/8, passando de R$ 17, bilhões para R$ 35 bilhões.

Embraer. Para os governos de países ricos, o Brasil deixou de fora vários mecanismos de incentivo à indústria em seu exercício de transparência. O governo do Japão quer saber, por exemplo, como programas de isenção de impostos e PIS/Cofins e outros benefícios industriais têm ajudado as exportações da Embraer.
O Japão está se preparando para uma ambiciosa entrada no mercado de jatos regionais, hoje dominado por Brasil e Canadá. Até 2014, deverá lançar um jato com capacidade para 92 pessoas. Mas, quatro anos antes de entrar em operação, já recebeu 200 encomendas. Um dos focos da empresa japonesa é abocanhar um terço do mercado japonês no médio prazo, reduzindo a margem de mercado da Embraer.
O pedido japonês vem poucos meses depois que o Brasil questionou na OMC os subsídios da Japão ao setor de jatos. O Brasil enviou um questionário ao Japão para que explique o dinheiro dado pelo governo à Mitsubishi Regional Jet. Para o governo brasileiro, há a suspeita de que a ajuda do governo não está dentro das regras da OMC e prejudicará as exportações da Embraer.

02 DE MAIO DE 2011 | 20H 32

Embraer: aviação comercial representa 71,2% da receita

SILVANA MAUTONE - Agencia Estado

SÃO PAULO - A participação da aviação comercial na receita líquida total da Embraer passou de 61,7% no primeiro trimestre do ano passado para 71,2% no primeiro trimestre deste ano, totalizando R$ 1,25 bilhão. No mesmo período, a área de defesa e segurança passou de 23% da receita para 16%, somando R$ 282 milhões.
O segmento de jatos executivos representou 11% do faturamento, contra 13,2% ante os três primeiros meses de 2010, totalizando R$ 192,7 milhões. Outras fontes de respeita responderam por 1,8% do faturamento - no primeiro trimestre de 2010 eram 2,1%.
A Embraer passou a detalhar a partir do primeiro trimestre deste ano quanto do seu faturamento foi obtido com serviços aeronáuticos em cada um dos seus segmentos. A aviação comercial obteve nos três primeiros meses deste ano R$ 173,6 milhões com a prestação de serviços. Na área de defesa e segurança, foi obtida receita de R$ 67,3 milhões com serviços, enquanto o segmento de aviação executiva gerou receitas de R$ 29,9 milhões.
02 DE MAIO DE 2011 | 15H 18

Aeroporto no RS reabre para pousos depois de três horas

SOLANGE SPIGLIATTI - Agência Estado

O Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, voltou a operar para pousos depois de três horas de interrupção em consequência da forte chuva que cobria a região hoje, segundo a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero).
As operações para pousos foram canceladas às 11h08 devido às chuvas. O aeroporto voltou a abrir para chegadas às 14h08, quando passou a operar com auxílio de instrumentos. Por conta da suspensão das operações, foram registrados 23 cancelamentos.
Entre as 47 chegadas programadas para o período, 12 foram cancelados e sete registraram atrasos. Já entre as 61 decolagens, 11 foram canceladas e seis tiveram seus horários alternados.

02 DE MAIO DE 2011 | 16H 54

Aeronave de pequeno porte faz aterrissagem forçada no Rio
Falha no trem de pouso obrigou piloto a fazer pouso de emergência no Santos Dumont; não houve feridos

Tiago Rogero - Estadão.com.br

RIO - Uma pane no trem de pouso levou um avião de pequeno porte a fazer uma aterrissagem forçada na tarde desta segunda-feira, 2, no Aeroporto Santos Dumont, no Centro do Rio.
Segundo o Corpo de Bombeiros, quatro pessoas - dois tripulantes e dois passageiros - estavam na aeronave, mas ninguém ficou ferido.
O voo partiu de Búzios, na região dos Lagos, e seguia para o aeroporto de Jacarepaguá, na zona oeste do Rio. O avião pousou de 'bico'.
Segundo a Infraero, a aeronave prefixo PA-32 fez o pouso de emergência na pista auxiliar do Santos Dumont, sem prejudicar a operação dos demais voos. As causas da falha estão sendo apuradas.


OPINIÃO
Nossas hidrelétricas amazônicas

*Adriano Pires e Abel Holtz - O Estado de S.Paulo

Ontem, todo um açodamento num ano de eleições presidenciais para estruturar o projeto Belo Monte de forma voluntariosa e de qualquer jeito, ao tempo em que artistas internacionais davam palpites sem nenhum embasamento; depois, a revolta nos canteiros de Jirau sob múltiplas queixas; e, agora, um órgão internacional querendo imiscuir-se em decisões soberanas sobre a construção das hidrelétricas na Amazônia.
Em resumo é o que podemos pinçar do movimento contra o direito legítimo e indelével de virmos a explorar nossos recursos naturais na Amazônia brasileira de forma soberana e cuidadosa, pois sabemos que o futuro do País interessa precipuamente aos brasileiros e energia e meio ambiente são de nosso interesse e base para a manutenção de nossa independência.
Salientando que entre os chamados Brics o Brasil é o único que possui independência energética, o que poderia estar por trás desse cenário de agressões à nossa soberania?
Uma das possibilidades estaria ligada à nossa competitividade internacional, dada pela energia elétrica das nossas hidrelétricas ser mais competitiva - resolvido o problema de tributos e encargos -, que nos permitiria alcançar mercados para nossos produtos industrializados, antes dominados por outros países.
Outra possibilidade poderia ser dada pela idílica percepção de que a energia das eólicas e a biomassa poderiam suprir a energia demandada na base da carga do sistema elétrico. Sabendo da sazonalidade de uma e da intermitência da outra, só a ingenuidade levaria a supor que elas poderiam substituir as hidrelétricas, assegurando a energia necessária ao crescimento econômico. Não estaríamos, em momento algum, desconsiderando o desenvolvimento dessas duas fontes e sua complementaridade às hidrelétricas. Mas, como hoje está definido, essas fontes se constituem em energia de reserva.
Com os recentes eventos ocorridos no Japão, as nucleares passarão por um período de rediscussão sobre sua ampliação na matriz energética mundial. Enquanto se aguarda o seu retorno, já que o mundo não pode abrir mão de qualquer forma de energia, vai ocorrer um crescimento das térmicas a gás natural e a carvão, tendo em vista que as térmicas solares ainda precisam de muitos investimentos para se tornarem fonte de geração de energia confiável e economicamente viável.
Pelo que se pode depreender desse cenário, é preciso que sejamos competentes para analisar com serenidade e objetividade a construção das nossas hidrelétricas na Amazônia, bem como das respectivas linhas de transmissão para assegurar o aproveitamento dos mais de 60 mil MW. Mas, para que isso ocorra de forma a usufruir dessa riqueza, é preciso voltar a construir reservatórios compatíveis com as mudanças climáticas e plurianuais que nos permitam contar com a geração nessas hidrelétricas durante todo o ano.
Logicamente estamos falando de hidrelétricas com reservatórios compatíveis à acumulação de volumes consideráveis de água, respeitada a preservação ambiental de maneira consequente, tendo sempre presente o baixo impacto que estariam causando ao meio ambiente. Os atuais reservatórios a fio d"água, como se quer hoje impor, causam prejuízos econômicos que se pode depreender da derivação do grande investimento para uma quantidade de energia assegurada pequena e poucos benefícios ambientais - já que necessariamente as térmicas terão de ser acionadas.
A visão idílica, ingênua, que dá projeção midiática, tem de ser revertida para que o País ofereça preços de energia elétrica competitivos, aproveitando sua vantagem comparativa vis-à-vis a outros países dada pela construção de suas hidrelétricas.
Assim nosso governo deve interpretar a ação dos órgãos contrários ao nosso desenvolvimento com a abrangência que nos inquieta.
*RESPECTIVAMENTE, DIRETOR DO CENTRO BRASILEIRO DE INFRAESTRUTURA (CBIE) E ENGENHEIRO, CONSULTOR NA ÁREA DE ENERGIA E NEGÓCIOS E DIRETOR DA ABEL HOLTZ & ASSOCIADOS


ACIDENTE
Cantor Marrone está internado na UTI em observação

CHICO SIQUEIRA - Agência Estado

Com ferimentos leves causados por escoriações, o cantor Marrone, da dupla sertaneja Bruno e Marrone, está internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), em observação, no Hospital de Base de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. O primo de Marrone e secretário, Jardel Alves Borges, corre o risco de morrer. Alegando pedidos de familiares, o hospital se recusou a passar informações sobre a saúde de Borges, mas a assessoria da dupla sertaneja informou que ele apresentou fraturas expostas e traumatismo craniano, o que levou a equipe de médicos a sedá-lo.
O cantor e o primo dele ficaram feridos na queda de um helicóptero, nas proximidades da cabeceira da pista do Aeroporto Professor Eribelto Manoel Reino, em São José do Rio Preto, a 440 quilômetros de São Paulo. O acidente ocorreu por volta das 14h40, quando o aparelho apresentou problemas depois de ser abastecido no aeroporto.
O piloto, Almir Carlos Bezerra, tentou fazer a aeronave retornar à pista, mas não conseguiu. Segundo testemunhas, o helicóptero perdeu altura e bateu numa árvore, caindo nas dependências do Recinto de Exposições de Rio Preto, a 500 metros da pista do aeroporto. Ainda de acordo com testemunhas, Marrone saiu caminhando do helicóptero.
Bezerra teve a perna esquerda decepada na altura da canela e os médicos tentavam a reconstituição, em cirurgia, na Santa Casa de Rio Preto. O hospital informou que o piloto, que estava consciente após o acidente, não corre risco de perder a vida. A cirurgia de reconstituição não havia terminado até as 18h40.
A assessoria do cantor informou que Marrone viajava para São Paulo para visitar a filha recém-nascida. Marrone, cujo nome verdadeiro é José Roberto Ferreira, havia comprado o helicóptero porque tinha medo de voar de avião e por isso seu colega, Bruno, não estava com ele.
"Ele tinha acabado de fazer um show em Curitiba com o Bruno e ia para São Paulo visitar a filha que nasceu na última segunda-feira", contou Sílvia Colmenero, assessora. Depois de visitar a filha, o cantor assistiria ao casamento de Jorge, da dupla Jorge e Matheus, amanhã, em São Paulo. Bruno, que deixou Curitiba num voo convencional, estava em Uberlândia (MG), onde mora.
Uma equipe da 4.ª região do Serviço de Investigação e Prevenção de Acidentes Aéreos (Seripa-4), da Força Aérea, investiga as possíveis causas do acidente com o aparelho. O Centro de Comunicação Social da Aeronáutica informou que as investigações têm apenas objetivo de prevenir novos acidentes e que, por isso, não tem prazo para serem concluídas.


02 DE MAIO DE 2011 | 12H 48

VOO AF 447
Franceses vão precisar de até 15 dias para avaliar danos a caixa-preta
Cartão de memória pode ter sido corroído por água, o que pode alterar processo de análise.

Os investigadores franceses só deverão descobrir nos próximos 15 dias se os dados da caixa-preta encontrada no domingo, do voo AF 447 da Air France, poderão ser extraídos e analisados, segundo o Escritório de Investigações e Análises (BEA, na sigla em francês), que apura as causas da queda do avião no Atlântico, em 2009.
"Externamente, o estado do módulo de memória parece bom. Ele não foi esmagado pelo choque. Mas não sabemos nada sobre os dados (técnicos do voo) gravados no cartão de memória situado na parte interna do aparelho. Talvez ele possa ter sofrido corrosão. Só saberemos isso quando o aparelho chegar ao BEA, nos próximos dias", afirmou no domingo Jean-Paul Troadec, diretor do órgão.
Na prática, o BEA só saberá se os dados do voo da Air France têm chances de terem sido preservados quando abrir o módulo de memória da caixa-preta onde eles ficam gravados.
"Se o cartão de memória estiver em bom estado, saberemos rapidamente, no prazo de alguns dias, se os dados do voo poderão ser explorados. Se houver corrosão, será necessário utilizar métodos mais sofisticados do que os utilizados normalmente para extrair as informações. E isso poderá levar mais tempo", disse Troadec.
Um navio da Marinha francesa já está a caminho da área onde está sendo realizada a quinta fase de buscas dos destroços, a cerca de 1,1 mil quilômetros da costa brasileira, para recuperar a unidade de memória encontrada em uma das duas caixas pretas do avião, que será enviada à França para ser analisada.
O navio, que partiu de Caiena, na Guiana Francesa, deverá retornar ao seu porto de origem. Em seguida, a caixa-preta deverá ser enviada à França por avião, disse nesta segunda-feira à BBC Brasil Martine Del Bono, porta-voz do BEA.
A previsão é de que o equipamento, que foi selado por se tratar de uma prova em uma investigação judicial, chegue a Paris no prazo de oito a dez dias. Ele será analisado no laboratório do BEA, em Le Bourget, nos arredores da capital francesa.

Aspectos técnicos
A caixa-preta encontrada no domingo, chamada Flight Data Recorder (gravador de dados de voo, FDR, na sigla em inglês), contém os parâmetros técnicos do voo, como a altitude, a velocidade, o desempenho do motor e a trajetória do avião.
Essa descoberta marca uma etapa crucial nas investigações para tentar descobrir as causas da catástrofe que matou 228 pessoas. O Airbus da Air France caiu no Atlântico em 31 de maio de 2009, quando fazia a rota Rio-Paris.
As buscas submarinas do robô Remora 6000 continuam para tentar localizar a segunda caixa-preta do avião, chamada Cockpit Voice Recorder, que contém as conversas dos pilotos na cabine.
"Se conseguirmos ler os primeiros dados (do módulo de memória dos parâmetros do voo, já encontrado) será um grande passo. Mas, sem a segunda caixa-preta, não teremos informações essenciais sobre como os pilotos reagiram e as razões de tomar essa ou aquela medida de emergência", afirma Troadec.
As operações de buscas, iniciadas no dia 26 de abril, estão sendo realizadas a 3,9 mil metros de profundidade a apenas cerca de dez quilômetros ao norte da última posição do avião conhecida nos radares.
BBC Brasil

03 DE MAIO DE 2011 | 6H 09

Caixa-preta do AF 447 com gravação de pilotos está em bom estado, diz França
Segunda caixa-preta traz gravações feitas na cabine de pilotagem; caixas estão a caminho da França para serem analisadas.

A segunda caixa preta do Airbus 330 da Air France, que caiu no Oceano Atlântico em 2009, resgatada nesta terça-feira está em bom estado e deve poder ser analisada. A informação foi dada por Jean-Paul Troadec, diretor do Escritório de Investigações e Análises (BEA, na sigla em francês), que apura as causas do acidente que matou 228 pessoas.
De acordo com Troadec, é "pouco provável" que os dados da segunda caixa-preta "não possam ser explorados".
A segunda caixa-preta encontrada e resgatada nesta terça-feira, segundo comunicado do BEA, é o Cockpit Voice Recorder, que grava as conversas dos pilotos e qualquer outro som emitido na cabine.
"Essa caixa-preta está inteira. O módulo de memória está preso ao chassi, diferentemente da primeira encontrada. De um modo geral, o aspecto externo do equipamento está em bom estado", afirmou o diretor do BEA.
Ele ressalta, no entanto, que somente será possível saber se o cartão de memória situado na parte interna, que contém os dados de voz, teria sofrido corrosão quando a caixa-preta for aberta, na sede do BEA, nos arredores de Paris.

Primeira caixa-preta
No domingo, os investigadores franceses encontraram o módulo de memória da caixa-preta chamada Flight Data Recorder (gravador de dados do voo, FDR, na sigla em inglês), que contém os parâmetros técnicos do voo, como a altitude, a velocidade, o desempenho do motor e a trajetória do avião.
"Se conseguirmos analisar as duas caixas-pretas, conseguiremos entender o que ocorreu", disse Troadec.
Os dados técnicos do voo e as conversas dos pilotos são considerados fundamentais para desvendar as causas do acidente com o Airbus da Air France que fazia a rota Rio- Paris, ocorrido em 31 de maio de 2009.
Um navio da marinha francesa está a caminho da área onde está sendo realizada a quinta fase de buscas dos destroços, a cerca de 1,1 mil quilômetros da costa brasileira, para recuperar as duas caixas pretas do avião, que foram imersas em água doce para evitar a corrosão e seladas, já que se tratam de provas em uma investigação judicial.
Em seguida, elas serão levadas a Caiena, na Guiana Francesa, e enviadas à França por avião.
Segundo o BEA, as caixas-pretas deverão chegar à França nos próximos dez dias. Depois, deverá levar mais alguns dias para saber se os dados, que ficaram submersos quase dois anos a 3,9 mil metros de profundidade, poderão ser analisados.
"Se os gravadores estiverem em ótimo estado, bastará conectá-los a um aparelho para que eles sejam lidos. Se não for o caso, será mais difícil, será preciso ter acesso a cada um dos cartões de memória, por meio de técnicas sofisticadas, para reconstituir o conjunto dos dados", afirmou o diretor do BEA.
Troadec disse ainda que os investigadores a bordo do navio Ile de Sein já identificaram todas as peças do avião que deverão ser resgatadas por serem úteis às investigações, como os motores e as asas da aeronave.
Essas operações de resgate devem começar "muito em breve", afirmou.
Segundo o comunicado divulgado pelo BEA nesta terça, a caixa-preta com os dados de voz da cabine de pilotagem foi localizada às 21h50 GMT (18h50 em Brasília) na segunda-feira e resgatada pelo robô Remora 6000 às 2H40 GMT (23h40 em Brasília).
BBC Brasil


TRIUNFO AMERICANO
Assalto à fortaleza foi marcado por imprevistos
Mau tempo obrigou Obama a adiar operação para matar Bin Laden e tropas especiais invadiram mansão sem saber onde estava o saudita

Adriana Carranca e Denise Chrispim Marin - O Estado de S.Paulo

O lançamento ao mar do corpo de Osama bin Laden, às 2h10 da madrugada de ontem (horário de Brasília), pôs fim a uma operação cheia de imprevistos e autorizada no dia 29 pelo presidente dos EUA, Barack Obama.
Previsto para sábado, o assalto à casa de Bin Laden em Abbottabad, no Paquistão, teve de ser adiado para o dia seguinte por causa do mau tempo. O helicóptero usado para transportar a força especial Seal, da Marinha, falhou pouco antes de pousar no alvo. A tropa entrou no edifício principal, de três andares. Ao todo, a ação durou 40 minutos.
"Claro que foi muito tenso. Muitos prenderam a respiração", disse John Brenner, assessor de Obama. A operação fora aprovada pelo presidente, apesar do risco da invasão ser mais elevado do que seria um simples bombardeio.
A ação, no entanto, foi o resultado de informações obtidas desde 2007, principalmente por meio de presos de Guantánamo, que denunciaram a existência de um mensageiro de Bin Laden. Depois de anos de tentativas frustradas, agentes americanos conseguiram localizá-lo, em agosto, na fortaleza da Abbottabad, local tão fortificado que levantou suspeitas de que tivesse sido construído para abrigar alguém mais importante do que um peão da Al-Qaeda. Desconfiando da possibilidade de se tratar de Bin Laden, os americanos construíram uma réplica da fortaleza, onde o assalto foi exaustivamente ensaiado.
Depois de autorizada, a invasão foi comandada por Leon Panetta, diretor da CIA. Desde as 14 horas de domingo (horário de Brasília), Obama acompanhou a missão na Sala de Situação, temeroso de uma repetição de operações desastrosas, como na Somália e no Irã, nos anos 80.
Seis horas depois, o presidente recebeu a confirmação da morte - e da identidade - de Bin Laden. Enquanto a operação transcorria a 35 quilômetros de Islamabad, a capital do Paquistão, caças de combate, aviões não tripulados e helicópteros dos EUA posicionavam-se fora do espaço aéreo do país, para o caso de necessidade de ataque à fortaleza.
A construção em Abbottabad, avaliada em US$ 1 milhão, era rodeada por muros de até 5,5 metros de altura, com arame farpado no topo. Havia dois portões de acesso, altamente protegidos, e todo o lixo produzido pelos 22 residentes era queimado.
O líder da Al-Qaeda foi encontrado com o rosto modificado, para evitar perseguição. Estava em um cômodo do terceiro andar do edifício junto a mulheres e crianças. Segundo Brennan, Bin Laden reagiu e usou uma de suas esposas como escudo. Além da mulher, um filho adulto do chefe da Al-Qaeda e dois de seus mensageiros morreram no ataque.
Duas outras mulheres ficaram feridas. Antes de ser levado do Paquistão para o porta-aviões USS Carl Vinson, de onde foi lançado ao mar, o corpo foi fotografado e submetido a coleta de material para exame de DNA. Segundo Brennan, a Casa Branca fará tudo para "não haver dúvidas" de ter pego Bin Laden. Posteriormente, o exame apontou 99,9% de certeza de sua identidade e, assim como outras inúmeras provas, será divulgado oportunamente. Uma das mulheres presas na operação também teria confirmado ser ele o terrorista mais procurado pelos EUA.
No USS Carl Vinson, a cerimônia durou uma hora. O corpo foi lavado e envolvido em um lençol branco, como manda o islamismo. Um oficial fez uma prece, traduzida para o árabe, e o corpo foi despejado ao mar. "A melhor maneira de dar-lhe um sepultamento de acordo com os requisitos muçulmanos foi lançá-lo ao mar", resumiu Brennan.
O anúncio da morte de Bin Laden foi comemorado nas ruas de Cabul. Para os afegãos, a descoberta de que Osama estava escondido perto de uma base militar do Paquistão foi uma espécie de acerto de contas com a comunidade internacional.
"A presença de Bin Laden no Paquistão prova ao mundo que o Afeganistão estava certo quando falava que a luta contra o terrorismo não deveria estar em nosso país", disse o presidente do Afeganistão, Hamid Karzai. Em uma critica direta aos EUA, Karzai disse que os militares devem agora "parar com as buscas em casas afegãs".





Al-Qaeda já agia sem comando de Bin Laden
Morte de saudita tira arma de propaganda, mas não capacidade operacional do grupo

AFP, NYT e Efe - O Estado de S.Paulo

Com Osama bin Laden fora de cena, cresce o debate sobre o futuro da organização que ele fundou e liderou por duas décadas, a Al-Qaeda. Para analistas, a ideologia irradiada pelo grupo a radicais de todo o mundo perde força sem a figura carismática do líder. No entanto, a morte do saudita, que já estava afastado do comando operacional da Al-Qaeda, teria pouco impacto na capacidade militar da organização.
O primeiro na linha de sucessão da rede terrorista é o egípcio Ayman al-Zawahiri. Ex-integrante da Irmandade Muçulmana, Zawahiri é o principal teórico da Al-Qaeda e, segundo os EUA, teria proposto a Bin Laden os ataques de 11 de Setembro. Além de "vice" do grupo, ele é também o número 2 na lista dos mais procurados do governo americano e estaria em território afegão.
Há ainda outras figuras importantes no "segundo escalão" da rede montada por Bin Laden. Khalid al-Habib é considerado um dos comandantes da rede terrorista no território afegão. No Norte da África, Abou Mossab Abdelwadoud comanda a Al-Qaeda do Magreb Islâmico, enquanto Nasser al-Wuhayshi teria o mesmo posto na Al-Qaeda da Península Arábica. O americano Adam Gadahn é um dos chefes da rede na Somália.
Segundo interrogatórios feitos na base americana de Guantánamo, divulgados há duas semanas pelo site WikiLeaks, Bin Laden passou o comando da Al-Qaeda a um conselho de jihadistas logo após o 11 de Setembro. A decisão teria sido tomada antes de ele se esconder nas montanhas de Tora Bora.
Para o analista Max Boot, do centro de pesquisa Council on Foreign Relations, de Washington, as "filiais regionais" da Al-Qaeda no Norte da África e no Oriente Médio já operavam de forma independente em relação a Bin Laden. "Sua morte é uma derrota simbólica, mas não fatal para a rede islâmica. No máximo, poderá levar ao declínio da Al-Qaeda e à emergência de outras organizações concorrentes."
Boot afirma que grupos como o Lashkar-i-Taiba, responsável pelos atentados de 2008 em Mumbai, ou o Taleban paquistanês, acusado de matar a ex-premiê Benazir Bhutto, em 2007, podem tentar preencher o espaço antes ocupado pela Al-Qaeda.
O jornalista britânico Jason Burke, autor de Al-Qaeda: a verdadeira história do radicalismo islâmico (Editora Jorge Zahar), concorda com a avaliação de Boot. Segundo ele, a Al-Qaeda foi criada para ser um "guarda-chuva" capaz de concentrar grupos radicais jihadistas que atuavam no mundo árabe nos anos 90.
"Isso funcionou por algum tempo, mas as principais organizações regionais - Al-Qaeda na Península Arábica, Al-Qaeda no Magreb e Al-Qaeda no Iraque - são independentes da liderança central", diz Burke. De acordo com ele, essas organizações tinham "raízes em aspectos locais e históricos específicos". "A aliança delas com a Al-Qaeda era, geralmente, uma questão semântica."
No entanto, o que fez de Bin Laden uma marca na política internacional foi menos sua capacidade militar e mais a habilidade do saudita em espalhar a mensagem do terror islâmico pelo mundo. Nesse aspecto, dizem especialistas, a morte do líder representa um importante revés para a Al-Qaeda.

Guerra de ideias. "O maior sucesso de Bin Laden foi fazer sua interpretação do Islã radical mundialmente conhecida", afirma Burke. Ele explica que, nos anos 90, havia outras formas de pensamento fundamentalista islâmico, mas, por meio da propaganda, o militante saudita conseguiu tornar a sua versão "dominante", criando uma "subcultura jihadista".
O psiquiatra forense Marc Sageman, que trabalhou na estação da CIA no Paquistão nos anos 80, afirma que a Al-Qaeda deixou de ser uma organização centralizada após os atentados do 11 de Setembro para se transformar em uma "fonte de inspiração" a radicais islâmicos, de bairros sunitas em Bagdá a cibercafés em Manchester.
Os atentados de Madri, em 2004, e de Londres, em 2005, cometidos por muçulmanos com cidadania europeia que nunca tiveram contato com a cúpula da rede de Bin Laden, seriam exemplos do novo papel da Al-Qaeda. O nome do livro de Sageman resume sua teoria: Leaderless Jihad ("Jihad sem líder", em tradução livre).
O analista Heni Ozi Cukier, da faculdade ESPM, de São Paulo, afirma que as questões ideológicas e operacionais do grupo terrorista não podem ser separadas. "Quem dá o poder à ideologia é a base, a organização", explica. "Os vídeos da Al-Qaeda distribuídos na internet tinham lições de islamismo, mas também de como montar uma bomba."



NOTAS & INFORMAÇÕES
O fim de Bin Laden

Osama bin Laden, o homem mais procurado do mundo, não estava entocado numa remota região afegã, sob a proteção do Taleban, como durante anos os serviços de inteligência dos Estados Unidos pareciam acreditar e os seus colegas paquistaneses asseguravam. O líder da organização terrorista Al-Qaeda, responsável, entre outros atentados, pelos ataques suicidas de 11 de setembro de 2001 em território americano que deixaram perto de 3 mil mortos, vivia com familiares e asseclas em fortificado casarão de 3 andares em Abbottabad, cidade paquistanesa de 500 mil habitantes, cerca de 120 quilômetros ao norte da capital Islamabad e sede da principal academia militar do país, abrigando diversas unidades do Exército paquistanês.
Eis por que nem mesmo o justificado júbilo pelo êxito da invasão do bunker de Bin Laden por forças especiais americanas levadas de helicóptero, que culminou com a eliminação de Bin Laden no começo da madrugada de domingo (hora local), pode disfarçar o mal-estar de Washington com a exposição pública do duplo papel do Paquistão na chamada guerra ao terror declarada pelo então presidente George W. Bush nos escombros do 11 de Setembro. Nestes quase 10 anos que se seguiram, os Estados Unidos elevaram a níveis sem precedentes os gastos militares com o seu aliado histórico no subcontinente asiático, além de despejar ali bilhões em programas de ajuda econômica e social.
Ainda assim, o pais islâmico, peça-chave no tabuleiro diplomático americano, nunca chegou a ser o parceiro confiável que os EUA desejavam ter na tentativa de golpear a Al-Qaeda, cujos militantes se acostumaram a cruzar, sem ser molestados, áreas da fronteira afegã-paquistanesa, enquanto agentes do temível serviço secreto de Islamabad, o ISI, olhavam para o outro lado. Em agosto passado, quando a CIA finalmente conseguiu mapear a localização de Bin Laden - dois anos depois de descobrir que o seu principal mensageiro vivia no Paquistão -, as relações entre os dois países já iam de mal a pior. Ao relutante engajamento paquistanês no combate à Al-Qaeda somavam-se graves divergências sobre o futuro do Afeganistão quando - ou se - o Taleban for neutralizado.
No pronunciamento em que anunciou a morte de Bin Laden, tarde da noite de domingo, o presidente Barack Obama se referiu à participação paquistanesa na busca do paradeiro do terrorista. Na realidade, os serviços americanos de espionagem fizeram eles próprios todo o trabalho - e Washington não compartilhou os resultados com ninguém. Mas os EUA continuam a depender do Paquistão (assim como da Rússia, por exemplo) para a logística da guerra afegã. Esse dado da realidade será inevitavelmente invocado nas novas pressões sobre a Casa Branca pela retirada americana, sob o argumento de que o fim de Bin Laden representa um divisor de águas na agenda contraterrorista do país.
Na verdade, a única certeza a emergir da formidável proeza de anteontem é que o combalido Obama saiu das cordas onde a oposição republicana parecia tê-lo confinado direto para a consagração - e a perspectiva da reeleição. Na campanha de 2008, ele prometeu repetidas vezes que Osama seria morto no seu governo. Agora, poderia metaforicamente socar o ar e proclamar "Yes, we can!". (No que diz respeito à desacreditada CIA, é a pura verdade.) Mas não precisará fazer isso, como não fez na sóbria fala de domingo, quando preferiu conclamar os americanos a reencontrar o "senso de unidade" forjado pelo 11 de Setembro. A menos que o mundo vire de ponta-cabeça, nunca mais os detratores do presidente poderão acusá-lo de ser um "líder fraco" aos olhos do mundo.
A ainda incerta recuperação da economia americana, com o nível de emprego se mantendo teimosamente num patamar inaceitável, constitui um obstáculo de monta para quem quer que fosse o titular de turno da Casa Branca. Em 1992, a economia fez Bush-pai perder a reeleição para Bill Clinton, um ano depois de vencer a Guerra do Golfo. Mas isso não se compara, no plano simbólico, ao impacto da liquidação da figura provavelmente mais odiada pelo povo americano em todos os tempos. "Fez-se justiça", disse Obama. No imaginário do país, foi ele quem a fez.


EUA entram em estado de alerta
Temendo reação após morte de Bin Laden, Departamento de Estado emite alerta e orienta seus cidadãos a ter cautela no exterior

Denise Chrispim Marin - O Estado de S.Paulo

O sentimento de "missão cumprida" e a comemoração pela morte de Osama Bin Laden - diante da Casa Branca e em várias cidades dos EUA - foram substituídos ontem pelo alerta contra novos ataques da organização terrorista ao país. O Departamento de Estado emitiu nota sobre a possível reação violenta contra cidadãos americanos residentes ou em viagem ao exterior, sobretudo ao Paquistão e ao Afeganistão.
Na Casa Branca, o assessor de Segurança Nacional, John Brenner, afirmou que a morte de Bin Laden transformou a Al-Qaeda em um "tigre ferido". A secretária de Estado, Hillary Clinton, reiterou a necessidade de os EUA "redobrarem seus esforços" na guerra contra o terror, iniciada em 2001.
"Nós cortamos a cabeça da serpente. A Al-Qaeda ficou quebrada. Mas é como um tigre ferido, ainda com vida", advertiu Brennan, para quem o novo líder da organização, o egípcio Ayman al-Zawahiri, não tem o carisma de Bin Laden e enfrenta oposição em suas próprias fileiras.
"Nossa mensagem ao Taleban continua a mesma, hoje com ressonância ainda maior: vocês não podem nos derrotar. Mas vocês podem abandonar a Al-Qaeda e participar do processo político de forma pacífica", declarou Hillary, referindo-se aos militantes do antigo regime do Afeganistão e aliados do grupo de Bin Laden.
Em cerimônia de entrega póstuma da Medalha de Honra a dois veteranos da Guerra da Coreia, o presidente americano, Barack Obama, afirmou ter sido ontem "um bom dia para a América". "Nosso país manteve seu compromisso de assegurar com que a Justiça fosse feita. O mundo está mais seguro, é um lugar melhor porque Bin Laden foi morto", declarou, omitindo sua advertência, na noite anterior, sobre inevitáveis ataques da Al-Qaeda e de seus aliados contra interesses dos EUA.
A Casa Branca evitou comentar os rumores de que setores do governo paquistanês teriam dado guarida ao número 1 da Al-Qaeda. A fortaleza de Bin Laden estava localizada em Abbottabad, a apenas 122 quilômetros da capital paquistanesa, Islamabad. A vizinhança era composta, sobretudo, por militares aposentados. Brennan deixou no ar dúvidas sobre a omissão do Paquistão e assinalou ser "essencial" a tarefa de não permitir novos ataques da Al-Qaeda a partir de bases nesse país.
Desconfiança. Há anos os EUA criticam a posição ambígua do Paquistão diante da guerra ao terror. Mas, ontem, cuidadosamente, Brennan esquivou-se de responsabilizar o governo paquistanês e de qualificá-lo como "desonesto", como foi sugerido por um jornalista, por não ter prendido Bin Laden antes. A mesma linha foi seguida por Hillary, ao enfatizar a tão criticada cooperação bilateral.
"Nossas parcerias, incluindo nossa cooperação próxima com o Paquistão, permitiu colocar uma pressão extraordinária sobre a Al-Qaeda e seus líderes. Manter essa cooperação será importante daqui para frente porque, mesmo com esse marco, não podemos nos esquecer que a batalha para conter a Al-Qaeda e sua união do terror não termina com a morte de Bin Laden", afirmou Hillary.
Em princípio, os EUA não deverão alterar seu plano de retirar boa parte de suas tropas do Afeganistão em virtude da ameaça latente de novos atentados terroristas, em represália à morte de Bin Laden.
A questão deverá abrir uma nova fonte de desavenças entre a Casa Branca e a maioria republicana na Câmara dos Deputados neste período de definição das candidaturas à eleição presidencial de 2012. Obama é candidato à reeleição. O republicano John Boehner, presidente da Casa, admitiu que a morte de Bin Laden "unificou o país". No entanto, ele alertou que o fato aumenta ainda mais a importância do engajamento dos EUA no Afeganistão e no Paquistão.
Ao assumir a presidência, Obama enviou mais 30 mil homens ao Afeganistão. Agora, ele planeja começar a retirada das tropas do país, sem que o Taleban consiga retomar o terreno.


Analistas questionam ''assassinato seletivo''
Ataques direcionados, como o que matou o líder da Al-Qaeda, são motivo de intenso debate entre juristas e militares

Gustavo Chacra - O Estado de S.Paulo

As Convenções de Genebra, que regulam os conflitos internacionais, não falam sobre o "assassinato seletivo" - ataques em território estrangeiro direcionados contra uma pessoa específica, como o que matou Osama Bin Laden. A legalidade, a moralidade e mesmo a eficiência estratégica dessa forma de ação militar dividem juristas e acadêmicos.
Durante a Segunda Intifada (levante palestino), em 2000, Israel matou dois líderes do Hamas em assassinatos seletivos. O próprio presidente Barack Obama recentemente autorizou forças dos EUA a matar Anwar al-Awlaki, um cidadão americano que integra o comando da Al-Qaeda no Iêmen.
"Levando em conta a exigência para um processo penal e a proibição de uma execução extrajudicial, a única maneira de justificar os assassinatos seletivos é a autodefesa", afirma Michael Gross, da Universidade de Haifa. Ele defende a legalidade de ataques seletivos quando, por exemplo, há informações de que um terrorista está a caminho de cometer um atentado.
Essa linha também é defendida por David Kretzmer, da Universidade Hebraica de Jerusalém. O professor alerta, porém, que essas ações "abrem as portas para violações do direito à vida em conflitos internacionais". Gregory McNeal, da Universidade Pepperdine, disse em uma conferência sobre assassinato seletivo na Filadélfia que os comandantes militares "têm a obrigação de reduzir os "efeitos colaterais" dos ataques".
Robert Chesney, da Universidade do Texas, defende os assassinatos seletivos. Para ele, "se há provas de que (a pessoa) planejou ataques terroristas e não há oportunidade de incapacitá-lo com ações não letais", a única alternativa seria uma ação militar direcionada, como as que mataram Awlaki e Bin Laden.
Jeremy Waldron, em recente artigo publicado pela Universidade de Nova York, critica os assassinatos seletivos. Para ele, as ações tendem a fugir do controle ao longo do tempo e a ser usadas indiscriminadamente.
No caso de Bin Laden, a suposta decisão dos EUA de realizar o funeral, seguindo as normas islâmicas, e depois jogar o corpo no mar é inédita. Nos ataques seletivos, não há tentativa de recuperar o corpo da vítima. Quando atacados, o Hamas e o Taleban sempre realizaram os enterros de suas vítimas.


Itamaraty vê morte como positiva, mas evita elogios
Terrorista contribuiu para ideia de que muçulmanos só podem optar entre ditaduras e radicalismo, diz chanceler Patriota

Lisandra Paraguassu - O Estado de S.Paulo

O ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, considerou ontem a morte do líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, como positiva, não apenas para as vítimas dos ataques da organização radical, mas também para o mundo islâmico.
Apesar de não elogiar a ação americana ou o assassinato do terrorista, o ministro deixou claro que esse era um resultado esperado.
"Bin Laden contribuiu direta e indiretamente para que se estigmatizasse o mundo islâmico, como se as alternativas fossem entre a autocracia e o fundamentalismo islâmico. Nós sabemos que não é o caso", afirmou o chanceler.
Após aula inaugural no Instituto Rio Branco, Patriota disse que o Brasil condena o terror sob todas as formas e repudia atos terroristas seja qual for a motivação.
"Nós só podemos nos solidarizar com as vítimas desses atos e com aqueles que buscam justiça nesse caso", afirmou.
O chanceler demonstrou preocupação com possíveis represálias da organização - não contra o Brasil, fora do radar desses grupos -, mas em outras áreas onde a Al-Qaeda já atacou. Por precaução, a Secretaria de Segurança do Distrito Federal reforçou a segurança das embaixadas.


VISÃO GLOBAL
Um momento crítico para o Oriente Médio
A morte de Bin Laden ocorre no período em que o mundo árabe está virando as costas para a ideologia da Al-Qaeda

*David E. Sanger, do The New York Times - O Estado de S.Paulo

Nos primeiros dias da primavera árabe, o presidente Barack Obama disse com frequência a seus assessores que o movimento que se alastrou do Cairo ao Iêmen - um lugar onde a Al-Qaeda encontrou suas raízes intelectuais, o outro onde encontrou refúgio - criavam o que chamou de uma "narrativa alternativa" para uma geração descontente.
Não houve imagens de Osama bin Laden sendo desfiladas pelas ruas, ele notou. Nem houve gritos de "Morte à América". A questão agora é se a morte de Bin Laden pelas mãos das forças especiais americanas e da Agência Central de Inteligência (CIA) incentivará o movimento a promover a democracia na região ou - uma alternativa muito real - alimentará as forças islâmicas que agora tentam preencher o novo vácuo de poder no mundo árabe.
A Casa Branca, sem surpresa, argumentou no domingo à noite que a morte de Bin Laden ocorria no momento crucial em que o mundo árabe está virando as costas para a ideologia da Al-Qaeda.
"É importante notar que é muito adequado que a morte de Bin Laden ocorra no momento em que um grande movimento para a liberdade e a democracia está se alastrando pelo mundo árabe", disse um dos consultores de segurança nacional de Obama a repórteres numa conferência telefônica no domingo à noite, após o ataque espetacular ao complexo habitacional protegido por altos muros onde estava Bin Laden.
"Ele estava em oposição direta àquilo pelo que os maiores homens e mulheres do Oriente Médio e do Norte da África estão arriscando suas vidas: direitos individuais e dignidade humana."
Se a Casa Branca de Obama se mostrar correta em sua interpretação dos fatos, a morte do líder da Al-Qaeda representará bem mais que a simples eliminação do mentor dos ataques de 11 de setembro de 2001. Reforçará o argumento de que a via da Al-Qaeda para mudanças no Oriente Médio - pela violência - jamais desbancou um único ditador e jamais acarretou uma verdadeira mudança. Por essa razão, o apelo da Al-Qaeda já estava enfraquecendo antes de Bin Laden encontrar o seu fim.
Isso também poderá marcar o começo de uma nova era em que a guerra global ao terror, como o governo de George W. Bush a definiu, já não é a razão de ser da política externa americana como tem sido desde a tarde de 11 de setembro de 2001. Durante anos, as relações dos Estados Unidos com o mundo foram medidas quase inteiramente pelo julgamento de Washington sobre se os países estavam ajudando ou impedindo essa guerra.
Estratégia. Como candidato, Barack Obama prometeu mudar isso sem deixar de perseguir, incansavelmente, uma estratégia de contraterrorismo - e a caçada de Bin Laden. Até agora, porém, as esperanças de Obama de virar os EUA para uma direção radicalmente diferente se resumiram mais a aspirações do que a planos. Ele tentou redirecionar a atenção americana para a Ásia, onde repousa o futuro econômico do país, e perseguir uma agenda notável de reduzir enormemente o papel das armas nucleares em todo o mundo. Mas esses esforços estiveram sempre subordinados às questões restantes das "guerras legadas" de Afeganistão e Iraque: o "reforço" de 30 mil soldados no Afeganistão para impedir que o país se tornasse novamente um abrigo da Al-Qaeda; o fracassado esforço de fechar a prisão na Baía de Guantánamo, Cuba; o mergulho na relação espinhosa com um Paquistão nuclearmente armado.
A primavera árabe somou um novo elemento complicador na medida em que Washington tentava guiar eventos que prometiam uma nova relação com a região que estava destituindo seus ditadores e, talvez, à beira de abraçar alguma forma de democracia. Mas, como os assessores mais francos de Obama admitiram, esse é um movimento que está basicamente fora do controle de Washington.
Agora, a eliminação do símbolo central da Al-Qaeda oferece uma nova oportunidade para Obama defender que o grupo já não precisa ser uma fixação da política americana. "Até agora, fizemos um bom trabalho para desmantelar a Al-Qaeda", disse um dos principais consultores de Obama neste ano, enquanto agências de inteligência estavam ajustando secretamente a mira no complexo de luxo nos subúrbios de Islamabad, Paquistão, onde Bin Laden foi morto. "Ainda não estamos em "desmantelamento", e certamente não em "derrota"." Hoje, Obama pode dizer que está mais perto desses dois objetivos.
Aliás, no domingo à noite, seus assessores afirmaram que os supostos sucessores de Bin Laden, incluindo Ayman al-Zawahiri, não têm seu carisma e apelo, e sua morte provocará um racha na organização.
A decisão de lançar o corpo de Bin Laden ao mar faz parte de um esforço cuidadosamente articulado para evitar um lugar de enterro que possa se tornar um santuário para o líder da Al-Qaeda, um lugar onde seus seguidores poderiam declará-lo um mártir.
Mas nada disso garante que a "narrativa alternativa" de que Obama frequentemente fala se instalará. Com a Irmandade Muçulmana mostrando algum sucesso na organização para as próximas eleições no Egito, e grupos extremistas querendo se aproveitar da guerra civil na Líbia e dos protestos na Síria, não está nada claro que as revoluções em curso não serão sequestradas por grupos que têm uma afinidade maior com a ideologia da Al-Qaeda do que com a reforma democrática.
Henry Kissinger observou recentemente que os revolucionários "raramente sobrevivem ao processo da revolução". Há geralmente uma "segunda onda" que pode guinar para uma direção diferente. A maneira como essa segunda onda ocorrerá, seguindo o caminho aberto pelos jovens criadores da primavera árabe, ou o dos acólitos de Bin Laden buscando vingança, determinará se Obama poderá usar a morte de Bin Laden para pôr um ponto final numa década sinistra.
TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

*É CHEFE DA SUCURSAL EM WASHINGTON E ESCRITOR


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