DESTAQUE DE CAPA - FIM DA CAÇADA
O mundo pós-Bin Laden
Polícia montada intensifica vigilância na Times Square, Nova York, depois de o serviço secreto americano alertar que a cidade seria um alvo preferencial de terroristas em caso de retaliação pela morte de Bin Laden
O presidente Obama diz que o planeta ficou mais seguro com a morte do chefão da Al-Qaeda, mentor do maior ataque terrorista da história: o 11 de setembro de 2001. Mas a guerra contra o terror, advertem especialistas, está longe do fim. Nos Estados Unidos e em todo o mundo, países entram em alerta temendo retaliações. No DF, Brasil reforça segurança da embaixada americana. Agora, o principal alvo dos EUA passa a ser o médico egípcio Ayman Al-Zawahiri: a recompensa pelo sucessor de Osama é de US$ 25 milhões.
Em estado de alerta
Após a morte de Bin Laden, Interpol adverte para "risco máximo" de terror e EUA reforçam a segurança. Analistas preveem retaliação
Rodrigo Craveiro
“Que a vingança de Deus caia sobre vocês, seus cães de Roma. Que a vingança de Deus caia sobre vocês, cruzados. Essa é uma tragédia, irmãos, uma tragédia.” “Irmãos e irmãs, é esperar e ver, sua morte será uma bênção disfarcada.” As mensagens, postadas em fóruns radicais islâmicos na internet, expressam a fúria dos extremistas ante a morte de Osama bin Laden. O líder da rede terrorista Al-Qaeda foi executado com dois tiros — na cabeça e no peito —, na madrugada de ontem, em uma mansão na cidade paquistanesa de Abbottabad, ao norte de Islamabad.
Enquanto o Ocidente se antecipa a uma possível onda de atentados cometidos por militantes e por simpatizantes da Al-Qaeda, o presidente norte-americano, Barack Obama, destila autoconfiança. “Em um dia como hoje, isso nos recorda que, enquanto uma nação, não há nada que não possamos fazer”, lembrou o democrata. “Acho que todos concordamos que este é um grande dia para a América. Nosso país manteve seu compromisso para fazer com que a justiça fosse feita”, assegurou Obama. E emendou: “O mundo está mais seguro e é um lugar melhor por causa da morte de Osama bin Laden”.
Classificado como um dos porta-vozes da Al-Qaeda na Europa, o xeque Omar Bakri Mohammmad rebate o otimismo de Obama e faz uma ameaça aos EUA e aos seus aliados. “Eu posso lhe dizer que a retaliação jamais virá do Oriente Médio, mas do mundo ocidental”, afirmou ao Correio, por telefone, de Trípoli, onde foi condenado à pena perpétua por criar um grupo extremista. “Eu espero que a resposta seja forte”, acrescentou. A agência de polícia global Interpol preferiu se precaver: determinou a “extrema vigilância das autoridades ante um risco máximo de terror” e reconheceu que a morte de Bin Laden pode provocar uma intensificação de atentados mundo afora. O Reino Unido ordenou a todas suas embaixadas que revisem o dispositivo de segurança e pediu “maior vigilância” aos diplomatas. O serviço de inteligência da Dinamarca alertou sobre possíveis ataques, executados por grupos ou por indivíduos fora da Europa, especialmente no Paquistão. “Para militantes islâmicos, haverá prestígio em ser o primeiro a vingá-lo. A ameaça será especialmente dirigida contra os interesses dos EUA”, afirmou um comunicado do órgão.
Apesar de esperar tentativas de retaliação por parte da Al-Qaeda, o Departamento de Segurança Interna dos EUA não tem planos imediatos de aumentar o nível de ameaça terrorista nacional. No entanto, o assessor de Segurança Interna, John Brennan, comparou a rede de Bin Laden a “um tigre mortalmente ferido”.
“Eu acredito que sempre há grupos extremistas em potencial para tentar ataques ou alguma operação de vingança”, declarou, na Casa Branca. A Administração de Segurança de Transportes dos EUA avisou que os passageiros poderiam ser submetidos à vistoria de bagagens, ao monitoramento aleatório nos portões, à tecnologia de detecção de explosivos, ao faro dos cães e a oficiais especialistas em análise de comportamento humano. Um órgão pediu aos viajantes que denunciem qualquer atividade suspeita às autoridades.
Por e-mail, o paquistanês Hasan-Askari Rizvi — estrategista militar da Universidade do Punjan (em Lahore) — afirmou à reportagem que simpatizantes da Al-Qaeda podem detonar seus explosivos no Paquistão. “A segurança está em alerta máximo no país, e interesses americanos são alvos”, alerta. De acordo com ele, grupos radicais islâmicos locais, como o Tehrik-i-Taliban Pakistani (TTP), ainda têm potencial de perseguir a agenda terrorista. Mas ele admite que a morte de Bin Laden enfraquece a Al-Qaeda e cria um vácuo de liderança, além de repercutir em outras organizações terroristas. “Bin Laden financiava os militantes. Sem ele, a falta de dinheiro pode debilitar outros grupos radicais”, observa Hasan-Askari.
Especialista em contraterrorismo pelo think tank Rand Corporation, o americano Seth Jones teme ataques inspirados na Al-Qaeda, mas não vê grandes mudanças nos complôs da rede no exterior. “No Paquistão, figuras como Ilyas Kashmiri têm se envolvidos em várias conspirações. No Iêmen, o mesmo ocorre com Anwal Al-Awlaqi. A curto prazo, a ameaça desses extremistas será grave.”
O francês Jean-Charles Brisard (leia entrevista na página 14), advogado de familiares das vítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001, considera sintomáticas as reações de grupos afiliados à Al-Qaeda em fóruns jihadistas da internet. Ele teme que os terroristas tentem atacar interesses e cidadãos ocidentais e vê como motivo de preocupação a situação dos estrangeiros reféns de extremistas. Brisard acha que, com o fim de Bin Laden, a rede descentralizada de organizações terroristas se focará mais nos confrontos regionais, em vez de se engajar numa jihad (guerra santa) global. “Mas o nível de ameaça permanece alto”, admite ao Correio.
Brasília se protege
Ariadne Sakkis
Edson Luiz
A Polícia Militar reforçou ontem a segurança em todas as embaixadas de Brasília, especialmente nas imediações das representações dos Estados Unidos e de Israel. Sedes diplomáticas do mundo árabe muçulmano também passaram a receber maior vigilância. Segundo o 5º Batalhão da PM, responsável pelo patrulhamento da região, a decisão foi tomada pela corporação após o anúncio da morte de Osama bin Laden, líder e fundador da rede terrorista Al-Qaeda, em uma operação comandada pelos EUA no Paquistão. Os chefes de segurança das embaixadas norte-americana e israelense reforçaram o pedido pelo aumento de efetivos.
De acordo com o tenente Adriano Teles da Silva, oficial do 5º Batalhão, 10 viaturas e 20 homens estão empregados na segurança do setor. No entanto, ele não precisou por quanto tempo vai durar o aperto à vigilância. Pelo menos uma viatura e dois homens ficam baseados permanentemente em frente à representação dos EUA, localizada na Quadra 801 do Setor de Embaixadas Sul. Em nota divulgada no site, o Departamento de Estado norte-americano afirma que as unidades diplomáticas do país em todo o mundo estão em alerta máximo.
A chancelaria de Washington admite que algumas de suas embaixadas podem vir a ser fechadas temporariamente ou ter os serviços suspensos. Por meio de assessoria de imprensa, no entanto, a representação garantiu que as atividades em Brasília funcionam normalmente e o procedimento de revista continua rígido, como de costume. A Embaixada de Israel não se pronunciou.
Apesar das medidas de segurança em Brasília, as autoridades brasileiras e especialistas não creem que o país seja um dos potenciais alvos do terrorismo, após a morte de Bin Laden. Ainda que o Palácio do Planalto não tenha se manifestado oficialmente, integrantes do governo avaliam que não há informações sobre a presença de militantes de qualquer organização, inclusive na Tríplice Fronteira — com a Argentina e o Paraguai. Ontem pela manhã, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, afirmou que a preocupação é que morte de Bin Laden possa desencadear uma onda de ataques pelo mundo.
Segundo o especialista em defesa da Universidade de Campinas (Unicamp), Geraldo Cavagnari, o Brasil está fora da rota dos conflitos entre os EUA e as organizações terroristas. “Nossa situação, por ora, é tranquila”, afirma Cavagnari, que é coronel da reserva.
Ontem, o comandante do Exército, general Enzo Perri, afirmou ao Correio também não acreditar que o Brasil possa sofrer algum tipo de ataque. “Não creio”, disse Enzo. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), não espera ataques pelo mundo em função da morte do terrorista, uma vez que a organização que ele dirigia está enfraquecida. “As nações aliadas têm feito um trabalho de desmontagem dessa rede mundial de terrorismo”, ressaltou o senador.
Para Cavagnari, o risco de retaliação existe, mas não em relação ao Brasil. “Deverá haver troco. Uma coisa é matar Bin Laden, outra é acabar com a organização”, observa. Patriota mostrou-se preocupado. “À medida que a Al-Qaeda e Bin Laden estiveram por trás de estratégias políticas que privilegiam atos terroristas, nós só podemos nos solidarizar com as vítimas e com os que buscam a justiça”, ressaltou o ministro.
DEU NO WWW.CORREIOBRAZILIENSE.COM.BR
Resultado da caixa-preta sairá em duas semanas
Os investigadores franceses estipularam um prazo de 15 dias para descobrir se os dados da caixa-preta resgatada, no domingo, não foram destruídos. O equipamento, que faz parte da aeronave da Air France que caiu, em 2009, no Oceano Atlântico, será enviado à França para ser analisado e deve chegar ao país em no máximo 10 dias. O Birô de Investigações e Análises (BEA, pela sigla em francês) concentra agora as buscas pela segunda caixa-preta da aeronave, que contém a gravação das conversas travadas entre os pilotos na cabine.
OPINIÃO
O assalto ao poder um estudo de ciência militar
Jarbas Passarinho
Ex-governador, ex-senador e ex-ministro de Estado, é coronel reformado
Lênin, em 1920, escreveu Esquerdismo, doença infantil do comunismo. Como exemplos da doença, que chamou de veleidades revolucionárias, citou o revolucionarismo pequeno-burguês, a guerrilha desprovida de apoio popular e a falta de condições objetivas para a insurreição: a agitação popular, as greves sucessivas que se transformam em greves políticas e cooptação dos militares de graduação inferior. O escritor Agnaldo Del Nero, em livro publicado pela Biblioteca do Exército, discorre sobre três tentativas comunistas de assalto ao poder, que analiso sob os preceitos leninistas. Luiz Carlos Prestes, dirigente do Partido Comunista Brasileiro em 1935, garantiu ao Comintern que existiam condições objetivas para a insurreição. Não existiram: não houve a sucessão de greves e agitação sindical, muito menos o apoio popular. Segundo Lênin, a revolta de 1935 foi um infantilismo, de caráter “revolucionário burguês”.
Trinta e dois anos depois, Carlos Marighella, comunista histórico, arregimentou estudantes universitários paulistas e jovens religiosos dominicanos e desencadeou a mais expressiva guerrilha urbana, chamada Ação Libertadora Nacional. O capitão Carlos Lamarca, acompanhado de poucos sargentos do Exército, desertou furtando fuzis e munição para a guerrilha Vanguarda Popular Revolucionária. Ambas não lutaram pela democracia, mas pela ditadura do proletariado, e ambas totalmente sem apoio popular. Na Bolívia, Che Guevara escreveu em seu diário, a dois meses de ser preso e morto: “Nenhum camponês, após nove meses de luta, aderiu à guerrilha”. Mortos, Marighella, em emboscada, levado pelos próprios dominicanos que o obedeciam, e Lamarca, perseguido no campo aberto, as guerrilhas feneceram. Casos ambos de guerrilha “pequeno-burguesa sem apoio popular”. Fato novo surgiu, inédito no mundo: o sequestro de diplomatas estrangeiros, trocados pela libertação de presos, entregues nos destinos indicados pelos sequestradores. Todos sem sinal de qualquer violência física. Disso não cogitou Lênin.
Vencidas as guerrilhas urbanas, sobreveio a experiência malograda do “foquismo”, formulado por Che Guevara e sistematizado por Regis Debray. O PCdoB criou, em área despovoada da Floresta Amazônica, um foco guerrilheiro com cerca de 90 comunistas, a maioria de antigos militantes veteranos treinados na China, onde certamente não leram de Mao Tse Tung que “a guerrilha é uma luta de massa, uma luta do povo, uma vanguarda cuja força reside no apoio popular”. Só poucos lavradores, abandonados pelo governo, sem educação e saúde, os apoiaram por gratidão a serviços prestados. Denunciada sua localização em 1969, por um casal fugido do foco, o governo, em vez de imediata ofensiva militar, preferiu o princípio militar de “exibir a força para não ter de empregá-la”. E o fez pacificamente até outubro de 1973, quando os membros do Bureau Político da guerrilha já haviam se evadido para São Paulo. A guerrilha estava vencida. “A luta armada foi um erro”, disse Prestes com a concordância dos que a fizeram.
O Brasil, revogadas todas as medidas de exceção em outubro de 1978, assumiu João Figueiredo o último governo do ciclo militar, em 1979. O líder metalúrgico Lula da Silva comandou greves de grande vulto que o projetaram para o nível nacional. Fez do sindicato uma força política. Fundou um partido de massa, o PT, que logo teve o apoio da esquerda católica e dos remanescentes da luta armada derrotada. Candidato a presidente da República, com linguagem revolucionária, por três vezes foi derrotado. Afastou do PT a esquerda radical. Na quarta tentativa, abandonou o discurso revolucionário, pelas teses não revolucionárias da Carta aos Brasileiros. Venceu, então, escudado no poder popular que os guerrilheiros não conseguiram. Depreende-se que os que antes defendiam pelas armas a implantação de um regime marxista-leninista não teriam apoio popular, como não o tiveram. A disputa democrática é o único meio pacífico da conquista do poder.
Permito-me enveredar pelo caminho da especulação. Se a Vanguarda Popular Revolucionária fosse vitoriosa, a sua guerrilheira mais destacada, atual presidente da República, teria que disputar com o despreparado Lamarca a Secretaria-Geral do partido, como Trotski, um intelectual, disputou com o rude Stalin. Marighella, vitorioso, não colocaria no Politburo um então militante da Ação Nacional Libertadora, Aloísio Nunes, hoje senador da República, por medo de seu talento. Fernando Pimental, hoje ministro de Estado, por ter falhado duas vezes na tentativa de sequestro de um cônsul, na luta armada, não teria nenhum posto.
MEMÓRIA
Ex-combatentes resgatam a história
Exposição fotográfica, de veículos em miniaturas e de fardas, biblioteca e museu relembram como foi a participação de integrantes da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial
Mariana Laboissière
A história dos homens da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que lutaram na Segunda Guerra Mundial, vem perdendo interlocutores no front de batalha da vida. A maior parte dos ex-combatentes da corporação, ainda vivos, são nonagenários: senhores com seus respeitosos cabelos brancos, boinas e incontáveis medalhas. A fim de resgatar esse passado e colocá-lo em contato com as novas gerações, além de dar voz aos heróis, integrantes da Associação dos Ex-combatentes do Brasil irão comemorar, durante esta semana, o tradicional Dia da Vitória, data em que se celebra formalmente a derrota da Alemanha de Hitler em favor dos países aliados.
Até domingo, a associação, localizada na 913 Norte, fará uma mostra de miniaturas de veículos usados durante o combate. O dono da coleção é o engenheiro agrônomo Fernando Silveira, que promete dar uma aula aos visitantes sobre os modelos e a utilização deles à época da guerra.
“Essas miniaturas são réplicas de alguns veículos usados pelo Brasil. Apresentarei também modelos de carros de combate alemães que eram os grandes adversários nossos”, expõe Silveira. “A iniciativa tem como objetivo mostrar, principalmente às crianças, um material que quase não existe mais. O meu interesse surgiu quando ganhei o primeiro modelo para montar, aos 6 anos de idade. Somente aos 29, voltei a me interessar pela coleção. Depois, dei ênfase às viaturas militares brasileiras, tanto terrestres como aquáticas”, detalha.
Minúcias da história do Brasil no período da batalha também poderão ser captadas pelo público a partir de um passeio pelo museu, biblioteca, exposição fotográfica e de fardamentos disponíveis permanentemente no local. Todos esses ambientes podem ser visitados por crianças, jovens e adultos ao longo do ano, mediante agendamento prévio. Ontem, foi lançado o livro Ex-combatentes do Brasil — entre a história e a memória, da historiadora Virgínia Guimarães Carvalho.
Abandono
Sede da Associação dos Ex-combatentes do Brasil é pouco conhecida |
Integrantes da Associação dos Ex-Combatentes do Brasil revelam que as instalações da entidade ainda são pouco conhecidas, tanto pelos brasilienses como pelos turistas. Por isso, uma das ideias na realização da semana que comemora o Dia da Vitória é a divulgação do espaço. Além disso, alguns veteranos e ex-combatentes alegam que falta reconhecimento do povo brasileiro com relação ao papel desempenhado por eles durante a guerra. “Os italianos dão mais valor ao que fizemos que as autoridades brasileiras”, opina o presidente da Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira, Seccional de Brasília, Vinícius Vênus Gomes da Silva.
Segundo ele, há mais de 10 anos, o segmento cobra a construção do monumento Heróis da Pátria, em homenagem aos militares. Contudo, nada foi feito até o momento. “Já temos a planta de Oscar Niemeyer e o terreno no Eixo Monumental. Agora, esperamos a construção, mas o GDF vem empurrando com a barriga”, reclama.
Para alguns estudiosos, o momento de comemorações é também propício para suscitar alguns pontos importantes na participação brasileira no confronto. É o caso da convocação de oficiais da reserva. “Dos oficiais tenentes convocados, 41% eram da reserva. Eles não eram militares da ativa, não eram profissionais, mas a ajuda deles foi fundamental. Dos 12 que faleceram em combate, seis pertenciam à reserva”, afirma o historiador e coronel Manoel Soriano Neto. “Outro destaque refere-se ao fato de na relação dos participantes haver presidente e vice-presidente da República, 14 ministros de Estado, alguns senadores e governadores”, acrescenta.
Tropa
A Força Expedicionária Brasileira, mais conhecida pela sigla FEB, era composta por 25 mil homens que lutaram ao lado dos aliados na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial. Constituída inicialmente por uma divisão de infantaria, acabou por abranger todas as forças militares brasileiras que participaram do conflito. Adotou como lema “A cobra está fumando”, em alusão ao que se dizia à época que era “mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra”.
Definição
Os aliados da Segunda Guerra Mundial foram os países que se opuseram às potências do Eixo. A União Soviética, os Estados Unidos e o Império Britânico eram as principais forças. A China, a Polônia e a França — antes da sua queda e após a Operação Tocha — constituíam os grandes aliados. O Brasil foi o único país latino-americano a enviar tropas para os campos de batalha europeus.
Diferença
Os veteranos e os ex-combatentes da FEB se diferenciam da seguinte forma: o primeiro grupo refere-se àquele que viajou para a Itália, a combate, e o segundo, aos que ficaram no litoral, guardando a costa brasileira das investidas dos navios alemães.
Onde fica
-Associação dos Ex-combatentes do Brasil
-Endereço: SGAN, 913, Módulo F
-Telefone: 3274-1727
-Funcionamento: das 8h às 17h
BRASIL S/A
Antonio Machado
Com Gerdau por perto,
Dilma tem a chance de aproximar as expectativas do governo às do setor privado
Objetivos comuns
Agora que trouxe para trabalhar perto de seu gabinete no Palácio do Planalto o empresário Jorge Gerdau, a presidente Dilma Rousseff já poderia cogitar a solução de uma das maiores fraquezas de todo governo desde o plano de metas de Juscelino Kubistchek e os grupos setoriais do período autoritário: a interação com o empresariado.
Não se trata de conversar, que isso tem até demais. O pé fraco da concepção de desenvolvimento é a falta de compromissos entre todas as partes, do empresariado aos trabalhadores, do governo da vez às burocracias de Estado — isso até por vícios de origem, ideológicos ou não. É como se tais peças fossem de quebra-cabeças diferentes.
O capital, assim como o trabalho, pauta-se pelo autointeresse. O problema é o governo definir, autocraticamente, as diretrizes que influenciam o investimento privado sem convergência com as partes interessadas. O resultado tem sido ruim. O convencimento é obtido, não raramente, ou na marra ou com distribuição farta de subsídios.
É o caso da composição do capital da hidrelétrica de Belo Monte, e será do consórcio que vai construir e operar o trem-bala. Se não fossem a oferta de crédito público subsidiado e incentivo fiscal, a usina não sairia do papel. Aliás, a sua construção nem começou, atrasada por questões ambientais e pelo entra e sai de sócios.
As dissintonias estão em toda parte. No ano passado, o governo se convenceu de que deveria acelerar a universalização dos acessos em banda larga de internet. A fez reativando a estatal Telebrás, que continuava aberta devido a pendências jurídicas antigas, em vez de negociar seriamente a sua intenção com as teles privatizadas.
No novo modelo, a Telebrás operaria as redes de fibra óptica da Petrobras e Eletrobras, competindo com as teles nas conexões até o cliente final. Obviamente, o setor privado reagiu, ameaçando ir à Justiça reclamar de privilégios que a Telebrás teria em contratos com o setor público. O governo deu uma meia trava na iniciativa já com Lula, no fim de 2010, ao apurar que metera os pés pelas mãos.
As teles cobram caro por um serviço lento, mas custaria mais caro passar a incumbência à Telebrás. Num caso, está tudo pronto. Falta é negociar seriamente com as teles. Noutro, há tudo por fazer, já que a Telebrás, a rigor, era só uma casca à espera da dissolução.
Bagunça do combustível
Os desencontros se sucedem. Hoje, as manchetes da semana falam do atraso do cronograma de ampliação dos aeroportos e do descompasso da oferta de etanol. As frustrações têm nexo direto com o divórcio entre as expectativas do governo e as do setor privado.
No caso do álcool, sem acordo regulatório com o abastecimento, as usinas destinaram a cana colhida para processar açúcar, cujo preço é mais compensador no mercado externo. Mas também a Petrobras, por receio do governo com a inflação, não reajusta o preço da gasolina há anos, aumentando o descompasso nas bombas, em que o preço sobe, mas refletindo a escassez do álcool anidro, não o novo patamar do barril do petróleo. Ficou uma bagunça: a gasolina, com o seu preço congelado; o etanol, com o preço inflado pelo desvio da produção.
Quatro anos atrasado
No caso dos aeroportos, quase quatro anos depois de anunciar para os próximos 90 dias “estudos” para construção de um novo aeroporto em São Paulo e a expansão de outros, todos já então saturados — e que seriam concedidos por licitação ao setor privado —, só agora o governo começa a superar o bloqueio ideológico e a atentar para o bem-estar e a segurança dos que utilizam transporte aéreo no país.
Ainda será uma solução parcial, pois a outorga ao setor privado, ao contrário do que Dilma anunciou quando ministra da Casa Civil, considera uma fórmula de convivência entre a estatal infraero e as empresas concessionárias de parte dos aeroportos de maior tráfego. É um modelo de eficácia duvidosa, dado o potencial de conflitos.
Sócio silente não dá
No fundo, e é nisso que Gerdau — convidado a liderar um fórum de reforma da gestão pública — pode colaborar, o governo fica vendido por decidir em circuito fechado, sem auscultar as contribuições do empresariado. O governo o quer investindo ou não mais que pagando a conta, ambos os eventos com impacto sobre o emprego e, portanto, relevantes aos sindicatos, mas o vê apenas como parceiro silente.
Não pode dar certo, e, quando funciona, deve-se a arranjos feitos à revelia do uso mais produtivo do capital público e privado. Como líder da Ação Empresarial, que congrega as principais entidades do setor privado, Gerdau pode ajudar o governo a se aproximar de seus pares. É assim nos EUA, na Alemanha e até na China comunista.
As fórmulas de sucesso
A baixa interação dos governos com o capital e trabalho é antiga, e por variadas razões. No período FHC, julgava-se que o Estado não seria melhor que o setor privado. Com Lula, voltou-se a priorizar o dirigismo estatal. O meio termo talvez seja a melhor resposta.
Mas antes governo, capital e trabalho precisam aprender a estudar em harmonia as soluções de longo prazo. Esse é o traço distintivo dos processos de desenvolvimento que deram certo no pós-guerra — e é o que tem funcionado entre os emergentes de sucesso, sobretudo China e Índia e, pouco antes, Coreia do Sul e Taiwan. Empresas e governo são partes complementares. Na China, a interação é direta. Nos EUA, faz-se por cumplicidade. Aqui, discute-se sexo dos anjos
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