MISTÉRIO PERTO DO FIM
Caixa-preta descarta falha em aeronave
Análise inicial isenta Airbus de culpa por acidente em voo da Air France
Quinze dias depois da descoberta da primeira das caixas-pretas do avião da Air France, surgem as primeiras informações sobre seu conteúdo. De acordo com o site do jornal francês Le Figaro, os dados extraídos dos equipamentos recolhidos dão pistas de que um erro teria sido cometido pela tripulação da Air France, isentando assim a fabricante de aviões Airbus de responsabilidade pelo acidente que matou 228 pessoas em 31 de maio de 2009.
Oficialmente, os investigadores consideram que um defeito nos Pitots, sensores de velocidade do fabricante francês Thales, foi um dos fatores do acidente, mas condicionam a explicação definitiva da tragédia à análise completa das caixas-pretas do avião.
De acordo com fontes do governo francês e pessoas próximas dos investigadores ouvidas pelo Le Figaro, os primeiros elementos extraídos das caixas-pretas descartam falha no Airbus. Investigadores do órgão francês encarregado das investigações, o Bureau de Investigação e Análises (BEA, na sigla em francês), puderam examinar a partir do último final de semana os dados registrados pelo FDR (Flight Data Recorder), que registra os dados do voo e indica as ações da tripulação na cabine. Os investigadores puderam logo concluir que o Airbus A330 não foi a causa do acidente envolvendo o avião que partiu do Rio com destino a Paris.
O trabalho do BEA consiste agora em determinar o que se passou na cabine e se os erros cometidos são de responsabilidade da tripulação ou da Air France, devido a procedimentos de segurança impostos pela companhia. Para isso, os investigadores dispõem ainda de outra caixa-preta, o Cockpit Voice Recorder (CVR), que registra as conversas dos pilotos e todos os sons e anúncios ouvidos na cabine do piloto.
De acordo com as fontes consultadas pelo Le Figaro, novos elementos sobre a responsabilidade da Air France ou sobre sua tripulação seriam comunicados pelo BEA hoje. O relatório definitivo da investigação francesa deve ser elaborado ainda por vários meses, “mas é possível que o cenário do drama seja definitivamente esclarecido até o fim de semana”, informa reportagem do site do jornal francês. Contatada pelo jornal, a porta-voz da Air France se recusou a fazer qualquer comentário, bem como a Airbus.
A TRAGÉDIA |
O voo AF 447 partiu do Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, com destino a Paris, às 19h30min de 31 de maio de 2009 |
- O Airbus fez o último contato via rádio às 22h33min. Às 23h14min, enquanto o Airbus avançava em uma tormenta, foi emitido um alerta automático de pane elétrica e falha na pressurização. A aeronave caiu no Oceano Atlântico. |
- Nas primeiras buscas, que duraram 26 dias após o acidente e contaram com 11 navios da Marinha, foram localizados 51 corpos, bagagens e 600 partes e componentes da aeronave. |
- No começo de maio, foram localizadas as caixas- pretas do A330, peças-chave para esclarecer o acidente. Os gravadores de voz e de dados irão ajudar a dar respostas sobre as causas da tragédia. |
- O Airbus A330 está equipado com duas caixas-pretas, instalados junto à cauda. Uma delas é o Cockpit Voice Recorder (CVR), que grava o áudio da cabine de comando. A outra é o Flight Data Recorder (FDR), o gravador de dados do voo. |
- Ao todo, morreram no acidente 228 pessoas, sendo 72 franceses e 59 brasileiros. |
Novo ânimo a famílias das vítimas
De acordo com os investigadores franceses, os dados das duas caixas-pretas do Airbus A330 da Air France, estão intactos e poderão ser utilizados.
O Bureau de Investigação e Análises (BEA) indicou que “os dados íntegros contidos” nas duas caixas-pretas que registram os parâmetros de voo e as conversas na cabine dos pilotos poderão ser compilados. O BEA declarou, no entanto, que a análise dos equipamentos que permaneceram 23 meses no fundo do oceano deve “levar várias semanas” e que um “comunicado público será divulgado este verão (europeu)”.
Para as famílias das vítimas brasileiras da catástrofe, a notícia é muito satisfatória, segundo o presidente da Associação de Vítimas Brasileiras do voo AF 447, Nelson Faria Marinho, que perdeu o filho na tragédia.
– Dois anos depois, esperamos finalmente saber a verdade. O mundo todo quer saber o que aconteceu. Trinta e dois países (de origem dos mortos) querem saber – afirmou Marinho. Das 228 vítimas, 72 eram francesas e 59 brasileiras.
Uma das caixas, o FDR (Flight Data Recorder) gravou todas as informações de voo do avião (velocidade, altitude e trajetória), enquanto a outra, o CVR (Cockpit Voice Recorder) contém todas as conversas dos pilotos e todos os sons e anúncios ouvidos na cabine do piloto.
ENTREVISTA
“Estamos revoltados com a decisão da Justiça”
Rosane Amorim Gutjahr, 53 anos
A empresária gaúcha perdeu o marido, Rolf Gutjahr, no acidente da Gol. Ela comentou a decisão do juiz Murilo Mendes.
Zero Hora – O que os familiares das vítimas acharam da decisão?
Rosane Amorim Gutjahr – Estamos revoltados com a decisão da Justiça. Infelizmente ele (juiz) não tem o sangue que nós, gaúchos, temos, que é o sangue de luta, de justiça, de liberdade, de honra.
ZH – Por que a decisão é injusta na avaliação de vocês?
Rosane – Nós provamos os principais pontos técnicos. A questão do plano de voo, o desconhecimento sobre operacionalizar a aeronave, o desligamento dos transponders. Tecnicamente, isso foi provado com laudos.
ZH – Os familiares vão recorrer. O que a senhora espera?
Rosane – Que isso não ocorra de novo. Que tomem uma decisão justa, por aquelas pessoas que morreram, por nós, familiares, que ficamos, para a nação brasileira. Que não vendam nossa dignidade, nossa honra.
SERVIÇOS COMUNITÁRIOS
Justiça condena pilotos do Legacy
Os pilotos americanos do jato Legacy que colidiu com um avião da Gol em 2006 foram condenados ontem a quatro anos e quatro meses de prisão. A pena, porém, foi substituída por prestação de serviços comunitários, o que revoltou familiares dos 154 mortos no acidente.
A decisão foi proferida pelo juiz federal substituto Murilo Mendes, da Justiça Federal em Sinop (MT). Os pilotos do Legacy, Joseph Lepore e Jan Paul Paladino, vivem nos Estados Unidos, e lá devem cumprir a condenação. Atualmente, Paladino trabalha na companhia American Airlines, e Lepore continua na empresa de táxi aéreo ExcelAire, proprietária do Legacy. Para a empresária gaúcha Rosane Amorim Gutjahr, viúva do empresário Rolf Gutjahr, morto no acidente, a decisão mostra que a lei não é igual para todos.
– Aquela mulher em São Paulo, que roubou uma caixa de margarina (empregada doméstica condenada em abril deste ano), teve quatro anos de prisão decretada. Agora os americanos vêm para cá, matam 154 pessoas e, em vez de ir para a prisão, vão para a embaixada brasileira nos EUA fazer serviço comunitário, ou seja, ir tomar cafezinho.
Conforme a sentença, a substituição ocorre porque é prerrogativa de crime culposo (sem intenção de matar). Os familiares das vítimas pretendem recorrer da decisão.
O Boeing da Gol que fazia o voo 1907 ia de Manaus (AM) para o Rio de Janeiro com previsão de fazer uma escala em Brasília. O jato Legacy ia de São José dos Campos em direção a Manaus, onde deveria pousar e seguir no dia seguinte para os Estados Unidos. Ao sobrevoar a Região Norte, o Boeing foi atingido pelo jato.
O acidente expôs a fragilidade do controle aéreo brasileiro. O assunto deflagrou aberturas de CPIs (Comissões Parlamentares de Inquéritos) e investigações da Polícia Federal e da Aeronáutica, que concluiu que o equipamento anticolisão do jato foi desligado durante o voo.
SAIBA MAIS |
- 29 de setembro de 2006 – O Boeing da Gol colide com a asa esquerda do jato Legacy a 37 mil pés, no Mato Grosso, matando as 154 pessoas a bordo do avião. |
- Maio de 2007 – Os pilotos do jato são denunciados, assim como quatro controladores de voo, por crime de atentado contra a segurança do transporte aéreo nacional. Os pilotos não teriam adotado procedimentos para superar uma falha de comunicação. |
- 2008 – Os americanos são absolvidos da acusação de negligência. |
- 2009 – A Justiça ordena novo julgamento. |
- 16 de maio de 2011 – O juiz Murilo Mendes condena os pilotos a quatro anos e quatro meses de prisão no semiaberto, substituindo a pena pelo cumprimento de serviços comunitários. |
INFORME ESPECIAL
Tulio Milman
Antes tarde
Foi na sexta-feira 13 que a Anac liberou o novo avião da Uniair para atender o público nos transportes aeromédico e executivo. A espera pelo carimbo foi de cinco meses. O investimento que ficou parado nesse tempo é de US$ 3 milhões.
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