QUESTÃO NUCLEAR
Carga de urânio barrada na Bahia
SALVADOR – Formando um cordão humano, cerca de 3 mil pessoas bloquearam na noite de domingo a entrada de nove carretas com 90 toneladas de urânio na cidade de Caetité (a 624 km de Salvador). Os manifestantes diziam que a carga era lixo radioativo. Ontem, o comboio permanecia sem acesso à cidade.
A carga estava sendo transportada de uma reserva da Marinha em Iperó (SP) para Caetité, local da única mina de urânio ativa do País. O material pertence à estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB). Segundo a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), o concentrado de urânio apresenta baixa radioatividade.
Nos últimos anos, suspeitas sobre a qualidade da água mobilizaram os moradores de Caetité. Um estudo do Instituto de Gestão das Águas (Ingá) – órgão do governo baiano – detectou que parte da água consumida no município apresentava índice de radioatividade maior que o recomendado.
O protesto de domingo foi convocado por ambientalistas. Mas segundo Marcell Moraes, presidente da ONG Grupo Ecológico Amigos da Onça (Geamo), a organização do ato perdeu o controle da situação. “A comunidade queria queimar a carga”, afirmou. A Polícia Federal acompanhou a ação.
Devido ao bloqueio, a carga foi levada para Guanambi, mas o prefeito da cidade, Charles Fernandes (PP), recusa a guarda. A Prefeitura de Caetité fará uma reunião hoje para definir o destino do material.
A INB diz que o material supriria um déficit de produção da mina de Caetité. Seria reembalado e seguiria para a Europa, onde seria enriquecido. Depois, serviria de combustível para as usinas de Angra dos Reis (RJ).
DESASTRE AÉREO
Pilotos do Legacy são condenados
CUIABÁ – Os pilotos americanos Joseph Lepore e Jan Paul Paladino, que estavam no jato Legacy que se chocou contra um avião da Gol, foram condenados ontem a quatro anos e quatro meses de prisão pelo crime de atentado contra a segurança do transporte aéreo. O acidente aconteceu em 2006 e causou a morte dos 154 ocupantes do avião da Gol.
A decisão foi proferida pelo juiz federal Murilo Mendes, de Sinop (MT). De acordo com a decisão, eles os americanos devem cumprir a pena em regime semiaberto (na qual o preso apenas dorme no presídio).
Atualmente, Paladino trabalha na companhia American Airlines, e Lepore continua na empresa de táxi aéreo ExcelAire, proprietária do Legacy. Os dois moram nos Estados Unidos. A reportagem não conseguiu contato com os advogados que representam os pilotos no Brasil.
No final do ano passado, o processo que apura o acidente foi dividido em dois: um contra os pilotos, por atentado contra a segurança do transporte aéreo, e outro contra os controladores de voo – acusados por erros que contribuíram para a colisão das aeronaves.
O Boeing da Gol que fazia o voo 1907 ia de Manaus para o Rio, com previsão de escala em Brasília. Ao sobrevoar a região Norte do País, foi atingido pelo Legacy.
Os destroços do Boeing caíram em uma mata fechada, a cerca de 200 km do município de Peixoto de Azevedo (MT). Mesmo avariado, o Legacy, que transportava sete pessoas, conseguiu pousar em segurança em uma base na Serra do Cachimbo (PA).
TRAGÉDIA DO VOO 447
Recuperados dados das caixas-pretas de Airbus
Apesar de terem passado quase dois anos no fundo do Atlântico, os equipamentos estão intactos e ajudarão França a descobrir causas do acidente com voo 447
PARIS – Mesmo depois de quase dois anos a 3.900 metros de profundidade no Oceano Atlântico, as caixas-pretas do voo 447 resistiram intactas. A boa notícia foi anunciada na manhã de ontem pelo Escritório de Investigação e Análise para a Aviação Civil da França (BEA), órgão que apura as causas do acidente com o Airbus A330 da Air France, que caiu quando fazia o trajeto entre Rio e Paris em 31 de maio de 2009, matando as 228 pessoas a bordo. De posse das informações eletrônicas do avião e do diálogo dos pilotos, o BEA espera divulgar um relatório parcial em até quatro meses.
A recuperação dos dados do Flight Data Recorder (FDR), a caixa-preta que agrega os dados eletrônicos da aeronave, e do Cockpit Voice Recorder (CVR), o gravador dos diálogos entre a tripulação e sons da cabine, foi feita ao longo de três dias. Nesse intervalo, um minucioso trabalho de abertura dos módulos, de extração dos cartões de memória e de limpeza e secagem dos microchips foi empreendido no fim de semana.
Do FDR, foram extraídos 1.300 parâmetros eletrônicos, gravados ao longo das últimas 25 horas de funcionamento. Do CVR, as duas últimas horas de conversas e sons da cabine. “As leituras permitiram recolher a integralidade dos dados contidos no gravador de parâmetros, assim como a integralidade das gravações fônicas das duas horas de voo”, disse o BEA, em nota. “O conjunto dos dados deve ser agora objeto de uma análise detalhada e profunda. Os trabalhos devem durar várias semanas, ao fim das quais um relatório de etapa será redigido, e então tornado público”, acrescentou. O documento deve ser divulgado entre junho e setembro.
Ainda ontem, o presidente da Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 447, Nelson Faria Marinho, afirmou ter recebido a notícia pela imprensa. “Minha principal preocupação não é a caixa-preta, mas o resgate dos corpos. A Justiça francesa vai se manifestar pelo recolhimento ou não dos corpos, mas essa decisão cabe aos familiares”, disse.
Os exames de DNA sobre as amostras tiradas dos dois corpos resgatados do fundo do mar pelas equipes do navio Ile de Sein ainda estão sendo realizados. Até quinta-feira, a Justiça de Paris deve informar se foi possível ou não identificar os cadáveres. O resultado definirá a continuidade ou não do resgate de outros corpos.
RÁPIDAS
DITADURA ARGENTINA
Oito ex-militares condenados na Argentina
Oito militares da ditadura argentina foram condenados ontem à prisão perpétua pela morte de 22 presos políticos, no que ficou conhecido pelo Massacre de Margarita Belén, localidade da província do Chaco, no norte do país.
O massacre ocorreu em 13 de dezembro de 1976, quando 22 jovens – homens e mulheres – foram fuzilados, quando estavam a caminho da penitenciária de Formosa. A versão oficial, de que o grupo foi baleado ao tentar fugir, foi desmentida por uma investigação judicial.
Os oito ex-militares foram condenados por homicídio agravado, entre outros crimes. Um ex-policial foi absolvido.
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