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segunda-feira, 16 de maio de 2011

16 de maio de 2011 - ESTADO DE SÃO PAULO



DESTAQUE DE CAPA
ENTREVISTA: ROBERTO TRONCON FILHO
Crime organizado se infiltra para fraudar licitações públicas
Novo chefe da PF em São Paulo diz que esquemas de desvio de verba nos governos "quase sempre" envolvem servidores e que coibir caixa 2 na eleição de 2012 será uma prioridade

Fausto Macedo e Marcelo Godoy - O Estado de S.Paulo

"Fraudes em licitações quase invariavelmente contam com o envolvimento e o concurso de agentes públicos", revela o delegado Roberto Troncon Filho, novo superintendente regional da Polícia Federal em São Paulo. Segundo ele, servidores cooptados pelas organizações criminosas se infiltram em setores da administração e, dessa forma, colaboram em esquemas de desvio de recursos públicos. "As organizações criminosas, na amplitude do seu espectro, podem atuar para o tráfico em determinado morro do Rio e podem se estabelecer e se organizar, no caso do colarinho branco, para fraudar licitações públicas", aponta Troncon.
O chefe da Polícia Federal no maior Estado do País é o número um da corporação no combate a organizações do crime. Aos 48 anos, com um currículo recheado de especializações em áreas sensíveis - inclusive gerenciamento de crises e antiterrorismo -, Troncon implementou na PF a estratégia nacional de repressão ao crime organizado.
Atualmente, a PF conduz 2 mil inquéritos sobre corrupção, fraudes a licitação e desvios de recursos em prefeituras de todo o País. É elevado o contingente de funcionários públicos detidos pela corporação. Em 2010, a PF deflagrou 272 operações, que culminaram na prisão de 2.734 suspeitos, dos quais 124 eram servidores. Em 2009 foram aprisionados 182 funcionários públicos. Em 2008, outros 383 e, em 2007, 310 caíram nas malhas da PF.
À reportagem do Estado, que foi recebida na espaçosa sala do nono andar do edifício-sede da instituição, na Lapa, Troncon disse que uma de suas prioridades é intensificar as ações contra organizações que põem seus tentáculos no coração da máquina pública, além de investigar e reprimir crimes eleitorais em 2012, ano de disputa na esfera municipal.

Como o crime organizado age na administração pública?
No caso das organizações mais complexas, é possível até que patrocinem o ingresso de agentes no serviço público, bancando seus estudos, bancando aprovação em concursos ou mesmo a cargos eletivos. Não estou falando de nenhum caso específico. Mas uma organização do narcotráfico que porventura tem muito interesse em determinado ponto da fronteira, teoricamente, pode até bancar e financiar a eleição de determinada pessoa para o cargo de prefeito daquela cidade e, assim, ter algum benefício ou facilidade para se instalar naquela região.

Essas organizações podem se infiltrar em outras áreas?
Da mesma forma pode ocorrer no parlamento. Podem financiar determinados políticos, unindo-se a eles. Esses políticos poderão defender seus interesses. Falo apenas teoricamente, não estou falando de caso concreto, mas isso é possível, tanto no Brasil como no resto do mundo. O Estado tem a responsabilidade de ficar atento a esses movimentos.

Qual a estratégia para as eleições de 2012?
Vamos investigar e reprimir crimes eleitorais. O alvo são candidatos a prefeitos e vereadores que fizerem uso de caixa 2 de campanha. Em parceria com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), vamos montar um modelo de combate a ilícitos no âmbito eleitoral. Vamos aprimorar o trabalho realizado no pleito de 2010. Antes da eleição, junto com o TSE, demos início a uma estratégia que resultou em apreensões, prisões e inquéritos para coibir o financiamento ilegal. Vamos fortalecer essa parceria com o TSE.

Não vai mais haver troca de voto por boi ou por galinha?
Seja o que for, se for crime eleitoral, a PF vai agir. Todas as superintendências regionais da PF têm orientação para estarem atentas nas próximas eleições municipais, sob orientação do TSE. Essa é uma metodologia que veio para ficar.

Há 2 mil inquéritos sobre corrupção em prefeituras.
Há muitas fragilidades nos mecanismos de prevenção ao desvio de verbas públicas. Mas o Brasil tem avançado. O controle era muito vulnerável. Criamos a Controladoria Geral da União, que tem foco específico de verificar a aplicação de recursos e a gestão da coisa pública. O Tribunal de Contas da União aperfeiçoou consideravelmente sua atuação. A PF aprimorou suas ações. Identificamos uma série de ilícitos decorrentes da malversação de verbas públicas.

Por que corrupto não fica preso?
Estamos avançando no combate à corrupção. O enfrentamento à corrupção, em todos os níveis de governo, é uma ação positiva. A falta de condenações, porém, está relacionada também com o sistema processual, os inúmeros recursos, essa dinâmica. Estar na cadeia, sentenciado, cumprindo pena, não é papel da polícia. Não temos compromisso nenhum em condenar ninguém. A investigação criminal se assemelha a uma investigação científica. A condenação depende da boa investigação, da qualidade das provas e da celeridade da atuação da Justiça.

O Brasil está atrás no combate ao crime organizado?
O nosso Código Penal é de 1941. Ele retrata a realidade de uma época em que não existia essa forma de organização criminosa, com atuação ampla em mais de um Estado ou em vários países simultaneamente. Organização criminosa ainda não é um tipo penal no Brasil, mas a definição legal da Convenção da ONU já existe aqui, porque o decreto 231 introduziu no nosso ordenamento jurídico. A organização criminosa é perene, por tempo indeterminado. Não é para um único ato. Segue a mesma lógica da atividade empresarial quando busca lucros. A diferença crucial está na finalidade, na exploração de atividades ilegais.

O sr. já recebeu telefonema de político pedindo alívio?
Nunca. Tenho 16 anos de Polícia Federal. Nunca recebi nenhuma pressão como delegado, ou como presidente de inquérito, chefe de delegacia ou diretor que fui. Nunca ousaram pedir que eu fizesse ou deixasse de fazer alguma coisa para privilegiar ou perseguir quem quer que seja. Esse é um dogma para a PF. Qualquer policial, com seis meses de trabalho ou 30 anos, tem isso como dogma. Nós investigamos, desenvolvemos nossas atividades dentro da legalidade. Nosso controle hierárquico é rigoroso para que não haja desvios.

O corte de verbas não é uma forma de fazer a PF tirar o pé do acelerador?
O princípio da economia de que as necessidades são crescentes e os recursos são escassos vale para tudo, inclusive para a gestão pública. Se nós temos demandas crescentes por atuação na emissão de passaportes, no controle imigratório, na própria modernização de tecnologia e na ampliação de nossos quadros de funcionários para fazer frente aos grandes desafios que temos, é óbvio que demandamos dinheiro. Mas a saúde, a educação também. As áreas típicas, essenciais do serviço público, demandam recursos financeiros. Podemos ver o país como uma grande família ou uma empresa, cada um com uma função. Mas a empresa pode estar passando por um determinado momento, e é o caso do Brasil, e nós compreendemos isso. Temos um risco de inflação. Quem viu o cenário de grandes desarranjos na economia por conta da inflação sabe que é o primeiro inimigo a ser combatido.

Como a PF vai driblar o corte?
Estamos fazendo todo o possível para não deixar nada do que é essencial para depois. Se fosse outro cenário, se tivesse recurso para a saúde, a educação e o transporte, recurso para todo mundo, e só não tivesse para a Polícia Federal, então você poderia questionar. Mas houve um corte linear para todos os ministérios. Antes de falar que não tem dinheiro para investigação criminal, já não teve para obras, para novas viaturas, para treinamento. Por isso, por um período de um ano, um pouco mais, o contingenciamento de verbas não gerará impacto na nossa atividade de repressão ao crime. E há uma causa, uma justificativa bastante razoável: temos uma pressão inflacionária. Não sou economista, mas leio jornais. Leio o Estadão todos os dias. Vamos cumprir nosso papel sem problemas. Compreendemos o propósito do governo federal, é mais do que justificável.

*Superintendente regional da PF em São Paulo Paulista de Adamantina, Roberto Troncon Filho tem 48 anos e começou sua carreira na Polícia Federal em 1995. Foi chefe de operações da Delegacia de Repressão a Entorpecentes e trabalhou no combate a crimes financeiros e ao crime organizado.


ESPAÇO ABERTO
O futuro da energia nuclear

*José Goldemberg

Existem tecnologias que resolvem problemas importantes e vieram para ficar. Outras atravessam um "período de ouro", perdem importância ou até desaparecem.
Automóveis, por exemplo, desenvolvidos no início do século 20, mudaram a face da civilização como a conhecemos. E mesmo que as reservas mundiais de petróleo se esgotem, soluções técnicas vão ser encontradas para mantê-los circulando.
Outras tecnologias promissoras enfrentaram problemas e foram abandonadas. Um bom exemplo é o dos zepelins, enormes balões cheios de hidrogênio que abriram caminho para viagens aéreas intercontinentais na década de 1930, época em que a aviação comercial ainda engatinhava. Mas bastou o acidente com o Hindenburg, zepelim alemão que se incendiou em Nova Jersey (EUA), em 1937, para selar o destino dessa tecnologia.
A energia nuclear parece atravessar um desses períodos críticos: ela teve uma "época de ouro" entre 1970 e 1980, quando entraram em funcionamento cerca de 30 novos reatores nucleares por ano. Após o acidente nuclear de Three Mile Island, nos Estados Unidos, em 1979, e em Chernobyl, na Ucrânia, então parte da União Soviética, em 1986, o entusiasmo por essa tecnologia diminuiu muito e desde então apenas dois ou três reatores entraram em funcionamento por ano. Houve uma estagnação da expansão do uso dessa energia.
As causas dessa estagnação são complexas: por um lado, a resistência do público, preocupado com os riscos da energia nuclear; e, por outro, razões mais pragmáticas, como o seu custo elevado.
Apesar desses problemas, a produção de energia nuclear não resulta em emissões de gases responsáveis pelo aquecimento da Terra, que é o caso quando se produz energia elétrica com combustíveis fósseis, como carvão ou gás natural. As preocupações com o efeito estufa levaram vários ambientalistas a apoiar uma "renascença nuclear".
Mas eis que acontece o desastre de Fukushima, com gravidade comparável à de Chernobyl, afetando diretamente centenas de milhares de pessoas e espalhando inquietações sobre o efeito da radiação nuclear numa vasta área do Japão e de países vizinhos.
O setor nuclear tem tentado minimizar a gravidade do acidente no Japão, atribuindo-o a eventos raríssimos, como um terremoto de alta intensidade seguido por tsunami, que dificilmente ocorreriam em outros locais. Essa é uma estratégia equivocada, que pode satisfazer engenheiros nucleares, mas não os setores mais esclarecidos da população e governos de muitos países.
Reatores nucleares contêm dentro deles uma enorme quantidade de radioatividade e o problema é sempre o de evitar que ela se espalhe, como se verificou em Chernobyl. Sucede que não é preciso um terremoto e um tsunami para que isso aconteça. Bastam falhas mecânicas e erros humanos, como ocorreu em Three Mile Island. Segurança total não existe.
É possível melhorar o desempenho dos reatores e torná-los mais seguros, mas isso acarretará custos mais elevados, o que tornará a energia nuclear ainda menos competitiva do que já é em relação a outras formas de geração de eletricidade. Além disso, a grande maioria dos reatores nucleares atualmente em uso começou a funcionar 30 ou 40 anos atrás e forçosamente eles terão de ser "aposentados" em breve - os de Fukushima funcionam há mais de 40 anos. A redução da vida útil dos reatores diminuirá, certamente, sua competitividade econômica.
Mais ainda, será preciso resolver de vez o problema do armazenamento permanente dos resíduos nucleares, que se arrasta há décadas. Até hoje os elementos combustíveis usados, que são altamente radiativos, são depositados em piscinas situadas ao lado dos reatores - e um dos problemas em Fukushima foi a radioatividade liberada quando o nível da água da piscina baixou. Só nos Estados Unidos existem essas piscinas ao lado dos 104 reatores lá existentes. Em Angra dos Reis a situação é a mesma.
Finalmente, há o problema de quem pagará pelas compensações para a população atingida pelos acidentes nucleares. Os limites fixados pelos governos para cobrir esses danos são atualmente muito baixos e deverão aumentar muito.
Como resultado dessas inquietações e incertezas, está em curso uma reavaliação, em grande número de países, sobre o futuro da "renascença nuclear" e da sobrevivência da própria opção do uso de reatores nucleares para a geração de eletricidade. Alguns países já adotaram o que se chama de "estratégia de saída", pela qual novos reatores não serão construídos.
A Bélgica e a Suíça já adotaram essa política, bem como o Chile e a Alemanha. A China suspendeu a autorização para a construção de mais usinas até que seja feito um reestudo completo das suas condições de segurança. Nos Estados Unidos, acaba de ser abandonado o projeto de construção de dois reatores no Estado do Texas, os primeiros a serem iniciados após mais de 30 nos de moratória nuclear.
Outros países, provavelmente, seguirão o mesmo caminho, sobretudo os que dispõem de outras opções mais econômicas e menos perigosas para a geração de energia elétrica. Esse é, claramente, o caso do Brasil, onde existe um amplo potencial hidrelétrico a explorar, bem como a cogeração de eletricidade nas usinas de açúcar e álcool, e também a energia eólica. A Agência Internacional de Energia Atômica reduziu sua projeção de novos reatores nucleares no mundo para 2035 em 50%.
Alguns países, como a França, onde quase 75% da eletricidade tem origem nuclear, e até mesmo o Japão, que não tem muitos recursos naturais, aumentarão o uso do gás, o que, consequentemente, aumentará as emissões de carbono. Haverá, nesse caso, escolhas difíceis. Mas o aquecimento global ocorrerá num horizonte de tempo longo e prevenir novos acidentes nucleares é uma tarefa urgente.

*PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP)


BELO MONTE
Modelo ajuda Belo Monte a sair do papel
Técnicos do Lactec, em Curitiba, desenvolvem miniusina para estudos hidráulicos das obras

Evandro Fadel / CURITIBA - O Estado de S.Paulo

As discussões sobre licenciamento ambiental para as obras da usina hidrelétrica de Belo Monte, aproveitando as águas do Rio Xingu, no Pará, ainda não terminaram, mas, a cerca de 3,2 mil quilômetros de distância, o trabalho está acelerado e a previsão é que o rio comece a correr e o terreno destinado ao reservatório seja inundado pelas águas em meados de junho.
Ele é feito por um grupo de funcionários do Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento (Lactec), em Curitiba, que se debruça sobre o modelo que servirá para os estudos hidráulicos de construção da usina. "O principal objetivo é ver como a água vai se comportar naquela obra", disse o professor da Divisão de Hidráulica da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pesquisador do Lactec, André Fabiani.
O trabalho é a base para a construção das ensecadeiras (barragens provisórias para desviar o rio enquanto as obras são realizadas). Mas também permite analisar possíveis consequências ambientais e saber até onde as águas do reservatório podem chegar, antecipando decisões que, do contrário, somente poderiam ser tomadas depois de as obras estarem em andamento.
A parceria para que o Lactec desenvolvesse o projeto foi firmada no ano passado. Este deve ser um dos maiores trabalhos a serem elaborados nos 52 anos do Departamento de Hidráulica e Hidrologia do Lactec. Treze projetos já implementados que enchiam um pavilhão de 3,5 mil metros quadrados foram retirados e nele se reproduz o reservatório e o vertedouro do sítio Pimental, um dos que compõem o complexo. O outro é o sítio de Belo Monte, com a principal casa de força, cuja miniatura será construída em um barracão anexo.
A previsão é que os testes nos modelos de Pimental e de Belo Monte estejam concluídos até o fim do próximo ano. As discussões ambientais travadas no local das obras, que ainda provocam atraso no início, ajudaram os técnicos do Lactec. "Hoje estamos em um ritmo bom de trabalho, vamos fazer os estudos antes de eles (construtores) entrarem no rio", afirmou Fabiani. A expectativa dos construtores é que as obras tenham início até novembro. Após isso começa a cheia na bacia do Xingu, que se encerra somente em maio.

Meticuloso. O trabalho é meticuloso e manual. Munidos de plantas aéreas que reproduzem o leito do Rio Xingu, os contornos de suas margens e as montanhas que o cercam, os funcionários vão colocando placas de madeira cortadas que dão forma ao ambiente. Uma cobertura de cimento vai desenhando o terreno e delineando uma espécie de S que o Xingu faz naquele local. O leito do rio é facilmente observável. Ali a água começará a correr em alguns meses. Logo depois, os técnicos fecharão as minicomportas e começará a inundação.
"A nós interessa a velocidade da água", disse Fabiani. É ela que determinará a forma, a altura e o tipo de pedra a ser colocada na ensecadeira para o desvio do rio, garantindo que o local das obras do reservatório fique totalmente seco. "Na natureza, há uma curva e pode concentrar a vazão em um ou outro lado." Segundo ele, apesar do tamanho reduzido em 110 vezes, o rio precisa correr no modelo da mesma forma que desliza onde nasceu. "Temos de projetar as cheias, as vazões e a seca." Afinal, a previsão é que a construção conviva com toda a sazonalidade da natureza. "A água é muito teimosa", destacou o pesquisador.
Também são previstas, no modelo, possíveis consequências ambientais que podem vir do projeto da usina. "Só a economia com a alteração possibilitada por este estudo aqui já pagou todo o nosso trabalho." O contrato do Lactec com o consórcio Norte Energia é de cerca de R$ 6,8 milhões.


RIO
Mil correm pela paz no Alemão, 6 meses depois
Desafio reúne políticos, moradores e atletas em rota antigamente usada por traficantes

Patrícia Villalba / RIO - O Estado de S.Paulo

Seis meses depois que as impressionantes imagens da fuga de traficantes da Vila Cruzeiro para o Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, prenderam a atenção do País, o terreno acidentado da rota foi tomado ontem por mil atletas. Eles aceitaram o Desafio da Paz proposto pelo grupo cultural AfroReggae.
"Era a rota da fuga, agora é a rota da paz", disse o governador Sérgio Cabral, que não pôde correr por causa de operação no joelho. A corrida celebrou a ocupação do morro pelas forças do Estado, em 25 de novembro.
O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, participou da prova com um pelotão de 40 homens do Bope, a tropa de elite da Polícia Militar. Beltrame completou o percurso de 4,8 quilômetros em 37 minutos.
A corrida reuniu moradores da comunidade e de diversos bairros da cidade, além de atores como Tiago Fragoso e Du Moscovis, policiais civis e militares, soldados do Exército e políticos, como os senadores petistas Eduardo Suplicy e Lindberg Farias.
No grupo de elite, Franck Caldeira, um dos maiores maratonistas do País, foi o primeiro a concluir o percurso, em 16 minutos; entre os moradores da comunidade, o vencedor foi o gari José Carlos Barreto.
Eles receberam R$ 6 mil cada, de uma premiação total de R$ 40 mil, divididos entre quatro categorias. "Foi fantástico participar, mas mais do que como atleta vim aqui agregar meu nome como cidadão", resumiu Caldeira, na chegada, em um ponto da Rua Canitá, em Inhaúma. "Violência existe em qualquer lugar. Aqui, foi aberta uma brecha para a paz entrar. Então, precisamos aproveitar o momento."

Calendário. Alda Rodrigues, de 75 anos e moradora de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e Carolina Heliodora, de 32 anos e moradora da Tijuca, na zona norte, foram pela primeira vez ao Alemão. "Quis vir porque é um momento importante, e por ser um circuito diferente. Mas dá pra ver que ainda falta fazer muita coisa por aqui", anotou Carolina. "Acho que deveriam aumentar o percurso para oito quilômetros. Foi muito fácil", opinou dona Alda, toda prosa, ao concluir o percurso em 41 minutos.
"Tem mais gente do que na zona sul!", espantou-se um morador que assistia à largada, no Campo da Ordem, na Vila Cruzeiro. De fato, a corrida teve tudo o que uma grande prova de rua tem direito, de torcida animada a corredores fantasiados - agitador na concentração, um "mosquito da dengue" meio trôpego foi um dos últimos a largarem, bem atrás de um "incrível Hulk", que terminou a prova com louvor, mas com a maquiagem quase toda derretida.
E, para deixar claro que a paz chegou ao Alemão para ficar, organizadores anunciaram que o desafio já entrou para o calendário oficial da cidade. A notícia animou o autônomo Jorge Silva Moreira, de 42 anos, que chegou a se inscrever mas acabou desistindo de correr. "Pois é, agora que vi que tem vários conhecidos que bebem como eu e estão correndo, fiquei arrependido. Mas no ano que vem, estarei ali, com certeza", prometeu.

Oportunidade

FRANCK CALDEIRA - MARATONISTA, CAMPEÃO DA SÃO SILVESTRE EM 2006, VENCEDOR DA CORRIDA DA PAZ

"Violência existe em qualquer lugar. Aqui, foi aberta uma brecha para a paz entrar. Então, precisamos aproveitar o momento"


RIO GRANDE DO NORTE
Tremor no Atlântico deixa RN em alerta

Angela Lacerda / RECIFE - O Estado de S.Paulo

Um tremor de terra de magnitude 6.0 no meio do Oceano Atlântico, a 1.276 quilômetros de Natal (RN), foi registrado às 10h08 de ontem pelo Centro de Pesquisa Geológica dos Estados Unidos. E, após boatos falsos de tsunami, deixou de prontidão todas as unidades do Corpo de Bombeiros de Natal e da Defesa Civil do Rio Grande do Norte.
O Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) foi acionado e, às 15h35, o governo do Estado divulgou em seu site uma nota sobre o tremor, tranquilizando a população. "Não há essa possibilidade (de tsunami)", informou. "Para se gerar um tsunami, é necessário que o movimento seja vertical, quando a água do mar pode ser empurrada ou descida abruptamente, e isso não aconteceu", explicou o coordenador do laboratório, Joaquim Mendes.
Segundo o especialista, o centro de pesquisa americano identificou a ocorrência em tempo real, porque monitora tudo 24 horas por dia. Realidade diferente das estações sismológicas de Riachuelo e Pau dos Ferros, no Rio Grande do Norte, e de Gravatá, em Pernambuco, coordenadas pelo Laboratório Sismológico da UFRN. Até agosto, 15 estações estarão instaladas no Nordeste - do Piauí à Bahia -, em um investimento de cerca de R$ 4 milhões.
Os Estados do Rio Grande do Norte e do Ceará têm registrado o maior número de tremores no Brasil.



INTERNACIONAL
Protestos árabes nas fronteiras de Israel deixam pelo menos 15 mortos
Centenas de refugiados palestinos na Síria atravessam a fronteira, infiltram-se em vilarejo dominado pelo Exército israelense e entram em confronto com os militares; protestos violentos foram registrados ainda nas divisas com Gaza e Líbano

Nathalia Watkins - O Estado de S.Paulo
ESPECIAL PARA O ESTADO - TEL-AVIV

Pelo menos 15 pessoas foram mortas ontem - segundo cifras da agência Reuters, com base em fontes palestinas - em vários incidentes com soldados israelenses nas fronteiras de Israel com seus vizinhos árabes. Apesar de militares israelenses terem reforçado ontem a segurança por causa do "Dia da Catástrofe" (ou Nakba, em árabe), a sequência de confrontos, em diversos pontos da linha de fronteira, foi qualificada como "sem precedentes".
Os conflitos mais graves foram registrados nos limites com a Síria, o Líbano e a Faixa de Gaza. O primeiro-ministro israelense, Binyamin Bibi Netanyahu, foi à TV para justificar a ação dos militares. Ele disse ter pedido aos soldados que agissem com "o máximo de comedimento". "Mas que ninguém se engane: Israel está determinado a defender seu território e sua soberania". Bibi disse ainda que os protestos "não são apenas pelo retorno às fronteiras de 1967, mas também pela destruição de Israel".
Na ação mais surpreendente, centenas de manifestantes vindos da Síria - refugiados palestinos - iniciaram um protesto no povoado druso de Majdal Shams, nas Colinas do Golã, derrubaram uma barreira de metal e se infiltraram em território israelense. Desde 1967, após a Guerra dos Seis Dias, o vilarejo é dominado por Israel. Somente nesse episódio, os confrontos deixaram dois mortos e dezenas de feridos. Após algumas horas de confusão, todos os cidadãos sírios retornaram ao país, mas prometeram voltar para libertar os territórios palestinos.
As forças de segurança da Síria não interferiram na atuação israelense. "Fizemos História. Concretizamos o direito de retorno dos refugiados palestinos às suas terras, ainda que apenas por algumas horas", afirmou Salman Fakrizan.
Na fronteira com o Líbano também houve tiroteio e confusão. Pelo menos 4 pessoas foram mortas e 30 ficaram feridas. Os Exércitos israelense e libanês apresentaram versões contraditórias sobre o incidente. De acordo com Tel-Aviv, os manifestantes teriam sido mortos pelas forças de segurança libanesas.
Na Faixa de Gaza, milhares de palestinos participaram de uma marcha na direção da passagem fronteiriça de Erez e foram dispersados por militares israelenses. Uma pessoa morreu e dezenas ficaram feridas.
Também houve protestos e confrontos na Cisjordânia. O principal foco de violência foi em Qalandia, na entrada de Ramallah, onde palestinos atiraram pedras nos soldados e queimaram pneus. Os militares responderam com gás lacrimogêneo e balas de borracha. Numa marcha no centro de Ramallah não houve confronto. Manifestações semelhantes foram empreendidas na Jordânia e no Egito.
No sábado, um caminhoneiro árabe-israelense bateu com seu veículo em vários carros e atropelou pedestres ao longo de 2 quilômetros de uma via central de Tel-Aviv, em um incidente que deixou 1 morto e 20 feridos. O caso é investigado e há a suspeita de motivação ideológica.


Forças sírias matam 7 perto de cidade fronteiriça

Ativistas de direitos humanos afirmaram ontem que pelo menos sete pessoas foram mortas por forças de segurança sírias em uma cidade no oeste do país. Testemunhas disseram que elas teriam morrido após "ataques indiscriminados" de militares em Talkalakh, cidade localizada nas proximidades da fronteira com o Líbano.
De acordo com as mesmas fontes, os mortos seriam duas mulheres e cinco homens, executados por forças pró-governo em quatro bairros da cidade. Desde a última sexta-feira, centenas de sírios deixaram Talkalakh após forças de segurança lançarem ofensivas para reprimir manifestações em favor de reformas democráticas. Em todo o país, mais de 700 pessoas já morreram, em dois meses de protestos contra o regime do presidente Bashar Assad, de acordo com organizações de defesa de direitos humanos. / REUTERS



Governo da Líbia volta a oferecer trégua
15 de maio de 2011 | 17h 32

AE - Agência Estado

O primeiro-ministro da Líbia, Baghdadi Mahmudi, apresentou neste domingo uma nova oferta de trégua em troca de um imediato cessar-fogo por parte das forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). A oferta de trégua vem à tona no momento em que o conflito na Líbia entra em seu quarto mês e foi feita ao enviado especial da Organização das Nações Unidas (ONU) a Trípoli, Abdul-Ilah al-Khatib.
Ao mesmo tempo, porém, o comandante das forças armadas britânicas, general David Richards, defendeu que a Otan intensifique sua campanha militar para assegurar que o líder líbio Muamar Kadafi continue no poder. Também neste domingo, o papa Bento XVI conclamou a realização de negociações para pôr fim à violência no país do norte da África.
Citado pela agência estatal de notícias Jana, Mahmudi disse, depois de uma reunião com Khatib, que a Líbia está pronta para "um imediato cessar-fogo que coincida com o fim dos bombardeios da Otan e com a aceitação de observadores internacionais".
Mahmudi acusou a Otan de cometer abusos e violações do mandado do Conselho de Segurança (CS) da ONU, inclusive "assassinatos políticos, cerco naval, bombardeio de áreas civis e destruição da infraestrutura". As informações são da Dow Jones.



VISÃO GLOBAL
Revelação do WikiLeaks: Guantánamo funciona
Programa de interrogatórios da CIA, criticado por muitos, permitiu ações contra a liderança da Al-Qaeda

Donald H. Rumsfeld, The Washington Post - O Estado de S.Paulo

A morte de Osama bin Laden nas mãos de forças de operações especiais americanas é um grande sucesso na guerra dos Estados Unidos contra a Al-Qaeda. Em consequência do programa de interrogatórios da CIA e das informações secretas obtidas dos detidos na prisão da Baía de Guantánamo, Cuba, uma grande fração da liderança principal da Al-Qaeda tem sido capturada ou morta desde 2001.
Essa conclusão foi inadvertidamente reforçada há pouco tempo pela revelação ilegal, pelo WikiLeaks, de mais de 700 arquivos confidenciais do Departamento de Defesa americano sobre os presos em Guantánamo. Sua publicação prejudicou nossa segurança e consolidou entre aliados a impressão de que os Estados Unidos são incapazes de manter segredos. Mas o material fornece também evidências convincentes sobre a eficácia das políticas antiterror do governo George W. Bush após os ataques de 11 de setembro de 2001.
Os arquivos ilegalmente divulgados, além de uma série de documentos não confidenciais sobre políticas americanas de detenção postada em www.rumsfeld.com, registram decisões complexas e acordos penosos que o presidente Bush e autoridades de segurança nacional tiveram de fazer. Eles documentam as técnicas e intenções mortais de centenas de detidos em Guantánamo que ainda desejam retornar à luta e a faina de analistas e interrogadores que nos permitiram impedir novos ataques.

É preciso tempo. Reunir informações de inteligência é um processo difícil. Alguns dados vêm de uma forma imediatamente acionável. Em geral, o significado de uma determinada informação, seja fornecida por agentes de alto ou baixo escalão, não se torna visível durante meses ou anos, como ocorreu com o esforço de muitos anos para costurar as informações que levaram as forças americanas a Bin Laden.
Os arquivos confidenciais da Baía de Guantánamo, particularmente os do agente sênior Abu Faraj al-Libi, contêm pistas sobre a rede de mensageiros da Al-Qaeda e até menciona Abbottabad. Se Bin Laden tivesse analisado atentamente a divulgação pelo WikiLeaks desses documentos em 25 de abril, é improvável que ele estivesse lá quando os Seals da Marinha americana desceram em seu complexo dias depois.
Os documentos primários são a melhor evidência pública até agora de nossos esforços sistemáticos para averiguar laços dos detidos com o terrorismo e pesar os perigos de sua potencial libertação ou repatriamento. Numa guerra em que os inimigos terroristas dos Estados Unidos se escondem entre civis e não carregam abertamente suas armas, a questão não é se alguns erros infelizes de detenção são cometidos, mas se há proteções apropriadas para detectar erros e corrigi-los quando descobertos.
De acordo com os arquivos no WikiLeaks, os presos que não puderam ser retidos com base em evidência suficiente foram soltos ou transferidos para outros países. Entre os que não foram considerados uma ameaça e acabaram libertados, um número considerável retornou à causa que havia afirmado renegar - entre eles um homem que, após Guantánamo, se tornou vice-líder do ramo da Al-Qaeda no Iêmen; um veterano combatente taleban; um propagandista de uma revista online da Al-Qaeda; e vários terroristas suicidas.
Os papéis confidenciais conferem textura às conspirações terroristas que até agora não eram conhecidas pelo público. Documentam a agitação da Al-Qaeda nos meses após o 11 de Setembro para tentar lançar outro ataque, ainda mais cruel.
Um comandante da Al-Qaeda jurou detonar uma bomba atômica nos Estados Unidos se Bin Laden fosse capturado ou morto. Khalid Sheik Mohammed prometeu um "inferno nuclear".
Os documentos confirmam as aspirações nucleares e tentativas de comprar urânio da Al-Qaeda. Relatam uma série de complôs envolvendo agentes químicos e biológicos: cianureto espalhado por sistemas de ar-condicionado em edifícios públicos; gás natural detonado em apartamentos alugados; e uma bomba "suja" detonada num centro urbano.
Os documentos também devem desmentir alguns mitos que perseguiram Guantánamo e as reputações dos que honradamente servem ali. O registro confidencial, por exemplo, confirma até que ponto os guardas militares acomodaram sensibilidades religiosas muçulmanas: soando chamados para as orações cinco vezes ao dia, fornecendo refeições halal (elaboradas segundo os preceitos islâmicos) e só tocando nos livros do Alcorão com luvas - não os jogando na privada e dando descarga como foi falsamente afirmado por uma revista americana. Não houve nenhuma política de maus tratos, muito menos tortura.

Vidas expostas. A divulgação dessas informações confidenciais comprometeu fontes e métodos da inteligência, colocando vidas em risco. Os documentos indicam, por exemplo, que alguns membros da Al-Qaeda mudaram de lado e revelaram grandes quantidades de informações sobre seus colegas. A cooperação de um informante iemenita - solto depois disso - que delatou dezenas de colegas presos como membros da Al-Qaeda, agora é pública, tornando-o vulnerável a retaliações.
O material nesses arquivos deveria ser assunto de histórias futuras, não das manchetes de hoje. Eu copatrocinei a Lei de Liberdade de Informação de 1966 e acredito há longa data que o livre fluxo da informação é vital para a democracia, mas o desejo de transparência precisa ser contrabalançado pelos interesses de segurança nacional. Os servidores do governo George W. Bush têm muito a ganhar com a divulgação desse tipo de registro, mas, para o benefício dos Estados Unidos, ela deve ser feita no momento oportuno e pelos canais apropriados.
Julian Assange esperava que sua mais recente jogatina com as vidas de profissionais da inteligência, pessoal militar e informantes terroristas embaraçaria o governo americano e inibiria sua capacidade de atacar os inimigos.
Mas os documentos do WikiLeaks, combinados com o que sabemos agora a respeito de como o esconderijo de Bin Laden foi descoberto, podem estar entre as mais claras justificativas das políticas do governo Bush na luta para proteger a América e o mundo livre de ataques terroristas. Podem se mostrar os argumentos mais fortes para que se mantenha aberto o valioso ativo que é a prisão da Baía de Guantánamo. / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK

*FOI SECRETÁRIO DE DEFESA DOS ESTADOS UNIDOS ENTRE 1975 E 1977 E ENTRE 2001 E 2006



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