08/05/2011
CAMPANHA DE DESARMAMENTO
Campanha de desarmamento promete indenização ágil e anonimato
O Ministério da Justiça lançou, nesta sexta-feira, a nova Campanha Nacional de Desarmamento, com a promessa de inutilizar as armas no ato da entrega, acelerar a indenização e assegurar anonimato aos voluntários.
O início da campanha foi antecipado em um mês em reação à tragédia de Realengo, onde um atirador matou 12 crianças nas salas de aula de uma escola municipal, há um mês. O atirador usou armas obtidas no mercado ilegal, e o crime reacendeu o debate sobre o desarmamento e o controle ao tráfico de armas no país.
Segundo o grupo Viva Rio, a campanha envolve as instâncias federal, estadual e municipal.
– Nesta campanha, as principais novidades são que o cidadão não precisa dar nenhuma informação a seu respeito, e a arma receberá marretadas na sua frente –, diz Shelley de Botton, coordenadora de comunicação do Viva Rio, uma das ONGs engajadas na campanha.
A legislação brasileira determina que apenas o Exército pode destruir armas, por isso o recurso ao “sistema da marretada” nos postos de recolhimento (polícias, delegacias, igrejas e sedes de ONGs), para inutilizá-las e dissipar dúvidas de que possam ser desviadas.
A indenização não será mais depositada na conta dos voluntários, como da última vez.
– Elas receberão um voucher do Banco do Brasil e poderão retirar o dinheiro no terminal de saque de qualquer agência no país –, diz Melina Rossi, diretora do Instituto Sou da Paz.
O novo procedimento é uma reação a problemas ocorridos na última campanha. A indenização varia de R$ 100 a R$ 300, de acordo com o modelo da arma, e não se estenderá à entrega de munição, como chegou a ser aventado.
MENOS ARMAS, MENOS CRIME
O objetivo da campanha é tirar armas de circulação e reduzir a taxa de homicídios no país.
– Já temos vários estudos sérios mostrando que a redução do número de armas em circulação tem efeito positivo sobre a redução de homicídios –, diz Risso.
A atual campanha é a terceira realizada pelo Ministério da Justiça. Nas duas anteriores (em 2003/2004 e 2008/2009) foram entregues, respectivamente, 460 mil e 40 mil armas. No período, de acordo com o Ministério da Saúde, o número de homicídios por armas de fogo caiu 11% no país.
O Viva Rio estima que haja cerca de 16 milhões de armas no país, das quais pouco menos da metade (7,6 milhões) pertenceriam às forças de segurança do governo, e quase metade estaria em situação ilegal.
– Acreditamos que quanto menos armas estiverem circulando nas ruas e nas mãos de civis, menos mortes teremos –, afirma Botton, que começou a trabalhar no Viva Rio em 2003 e entregou, na primeira campanha, uma arma que seu marido havia recebido da família.
– A sensação foi a de estar me livrando de uma coisa que só faz o mal, porque a arma só tem uma função, que é matar. Algumas pessoas acreditam que uma arma pode trazer mais segurança, mas procuramos mostrar que geralmente é o contrário.
IMPACTO NULO’
Presidente da ONG Movimento Viva Brasil, Bene Barbosa diz que a campanha “foi organizada às pressas para dar uma resposta à sociedade após Realengo” e que sua antecipação foi “oportunista”. Ele afirma que promover o desarmamento da população civil é uma maneira ineficiente de combater a criminalidade.
– Quem entrega as armas são aposentados, viúvas, gente que tem uma arma velha em casa e não sabe o que fazer com ela. Não são as armas que circulam entre os criminosos, as que são vendidas ilegalmente. O impacto sobre a criminalidade vai ser nulo.
Barbosa diz que o governo não vai conseguir cumprir a garantia de anonimato a quem entregar as armas. Para transportá-las aos postos de recolhimento sem que se enquadrem no porte ilegal, as pessoas precisam preencher uma Guia de Trânsito (GT) na Polícia Federal, que pede seus dados pessoais.
Risso diz que, na campanha, as GTs dispensarão a identidade das pessoas. Porém, no site da Polícia Federal, os primeiros campos a serem preenchidos no formulário disponível de GT pedem para informar nome, RG e CPF do portador.
João Trajano Sento Sé, professor do departamento de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), diz que países como Austrália e Inglaterra tiveram exemplos bem-sucedidos de redução de número de homicídios associado a campanhas de desarmamento.
No Brasil, entretanto, ele aponta que o referendo de 2005 – quando a população civil optou pelo direito de poder adquirir armas – ainda conspira contra a capacidade de mobilização.
– Acho que campanha não emplaca, porque a mobilização do plebiscito é muito recente –, afirma.
Por outro lado, ele cobra as políticas de Estado na área de segurança prometidas em época de campanha pela presidente Dilma Rousseff, ainda não levadas adiante.
DECISÃO DO STF
Ex-sargento gay teme que militares não acatem decisão do STF
Há três anos, o então sargento do Exército, Fernando Alcântara de Figueiredo, e seu parceiro, o sargento Laci Marinho de Araújo, assumiram publicamente sua homossexualidade, em uma relação de mais de uma década. Foram os primeiros e continuam sendo os únicos militares brasileiros a fazer esse tipo de revelação.
Desde a divulgação, o casal gay enfrenta uma vida marcada por conflitos judiciais e pela militância pelos direitos homossexuais. Já foram presos sob alegação de difamar as Forças Armadas e já venderam um best seller, Soldados não choram, de autoria de Figueiredo, que dirige o Instituto Ser de Direitos Humanos.
Mesmo após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) na quinta-feira, que amplia os direitos dos casais homoafetivos, Figueiredo acredita que exista ainda outra luta, agora para que a Justiça Militar acate o posicionamento do Supremo. “Fiz um pedido para ser dependente do Laci no plano de saúde do Exército, mas foi negado. Agora vou tentar de novo e vou conseguir.”
Fonte: Último Segundo
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