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segunda-feira, 9 de maio de 2011

09 de maio de 2011 - ESTADO DE MINAS

EDITORIAL
Puxadinho em Confins
Minas não pode se conformar com tanto descaso

Há um bem articulado lobby dentro do governo federal para esfriar a disposição da presidente Dilma Rousseff de passar aos capitais e à agilidade da iniciativa privada as obras de expansão e modernização dos aeroportos, entre eles o de Confins. A proximidade da Copa do Mundo de 2014 e a comprovada incapacidade da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) de tocar obras na velocidade necessária por preço aceitável tinham convencido a presidente, bem como seus assessores mais próximos, de que o governo não poderia correr o risco de deixar o país passar por vexame internacional durante o megaevento esportivo. Mas, nos últimos dias, correndo contra o impacto do leilão de concessão à iniciativa privada do novo aeroporto de Natal (RN), agendado para hoje, a própria Infraero, com o apoio de outros setores do governo, reagiu. Preparou um estudo para tentar barrar seu esvaziamento como dona dos aeroportos, em que é proposto o adiamento das concessões à exceção apenas do novo terminal de Guarulhos (SP).
O que os milhares de passageiros que enfrentam diariamente o desconforto e o acanhamento do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, podem levar em conta é que a chance de essa reação vingar é real. No documento, que só não foi ainda apresentado à presidente da República por causa do repouso imposto a ela por uma pneumonia, os técnicos da Infraero argumentam que não há tempo para a formatação de um modelo ideal de concessões. Além disso, alguns aeroportos, como o de Brasília e o de Confins têm, atualmente, baixo faturamento comercial, o que os tornaria pouco atraentes à iniciativa privada. Confins, segundo o estudo da Infraero, fartura cerca R$ 35 milhões por ano e tem baixo movimento de cargas. Na avaliação da estatal, melhor seria deixar as coisas como estão, ficando ela própria autorizada a providenciar um terminal provisório para a Copa do Mundo, enquanto toca seu conturbado projeto de expansão, que já sofreu severa restrição do Tribunal de Contas da União, por preço acima do mercado, e esteve preso na Justiça, por ação do Ministério Público.
Qualquer um de mediano conhecimento de negócios sabe do potencial de Confins e não deve desconhecer o anel de indústrias de tecnologia agregada e de baixo peso das mercadorias que se implanta nas imediações do terminal do aeroporto. Por sua posição central no mapa do subcontinente e pelas projeções de crescimento da economia brasileira e, em especial, da Região Metropolitana de BH, Confins tem futuro que somente não vai se realizar por falta de visão ou por má-vontade, movidas por interesses corporativos pequenos. Se não for por isso, será por falta de reação e de interesse das lideranças políticas e empresariais mineiras. Não importa a cor partidária, é urgente fazer ver à presidente que tais argumentos não se justificam, sob pena de termos em Confins o mesmo pouco caso que há décadas arruína as rodovias federais em Minas. Os contribuintes e eleitores mineiros merecem mais do que um puxadinho em seu principal aeroporto.


OPINIÃO
Preparação para a Copa em BH

Luiz Neves de Souza
Mestre em turismo e meio ambiente, especialista em gestão de empreendimentos turísticos

Bastou a Fifa fazer um comparativo entre o Brasil e a África do Sul para se acirrar o debate em torno da capacidade do país em sediar com qualidade o maior evento esportivo do mundo. Ao comparar a situação dos dois países, a três anos do evento, Joseph Blatter, homem forte da associação futebolística, jogou luz e apimentou as discussões em torno do tema.
O pronunciamento bateu forte em todos os níveis e em diversos setores interessados. O tom escuro da fala de Blatter mexeu com os brios de importantes segmentos, especialmente, no governo federal. O Ministério do Esporte rebateu as críticas do cartola-mor e a presidente Dilma tratou de criar uma secretaria com status de ministério, para conduzir as ações e promover a interface com as esferas estaduais e municipais, com vista a evitar um vexame em proporção global.
Discutem-se muito neste momento os principais entraves para que a Copa seja realizada no país. Os mais evidentes são a necessidade de novos e modernos aeroportos e a mobilidade urbana pela revitalização de vias e rodovias, hotelaria capacitada e a qualificação profissional nas áreas de serviços. Do ponto de vista do setor de turismo, que envolve a hotelaria, os agentes de viagens, os receptivos em centros e casas de cultura, parques, rodoviárias e serviços aeroportuários, dentre outros, são duas as preocupações mais evidentes: a qualificação de profissionais e a fluência em outros idiomas para a comunicação com o visitante, especialmente a universal língua inglesa.
Em relação ao primeiro caso, o país já vive um verdadeiro apagão de mão de obra qualificada e não qualificada. A situação pode se complicar nos centros urbanos em que haverá acréscimo da oferta hoteleira, com é o caso de Belo Horizonte. Segundo dados da ABIH/MG, a região metropolitana tem hoje perto de 11 mil apartamentos, podendo chegar a 16 mil em 2014. Isso implicará um crescimento na ordem de 6 mil novos quartos, necessitando, somente para os novos hotéis, um contingente de pelo menos 5 mil profissionais na hotelaria. Diante dessa necessidade, programações de cursos estão sendo oferecidas aos estabelecimentos relacionados a turismo com as mais variadas nomenclaturas.
Os números projetados impressionam. Segundo o Ministério do Turismo serão capacitadas 306 mil pessoas até a Copa. No entanto, parece que não há um planejamento adequado nesse sentido e, por conseguinte, faltam instrumentos eficazes para medir o resultado desses programas. O que se vê são ofertas de centenas de cursos realizados a distância ou semipresenciais pelas mais variadas instituições. Não seria mais prudente que os recursos destinados à capacitação profissional fossem geridos por um único programa? E que fossem entregues a entidade comprovadamente capacitada e habilitada para desenvolvê-los? Esses treinamentos não deveriam ser direcionados a partir de um diagnóstico em cada segmento? Os participantes não deveriam ser identificados com um único código de controle para futura avaliação dos treinamentos que receberam com dinheiro público? Os programas a distância, similares aos já oferecidos, não deveriam ser precedidos de ações de inclusão digital nessas empresas, uma vez que são comuns profissionais como camareiras, porteiros e mensageiros, garçons, copeiros, que não acessam internet ou nunca tiveram acesso a computador?
Ainda há razoável tempo para corrigir distorções no campo da qualificação e capacitação de pessoas. O grande desafio, porém, será colocar esse contingente de profissionais do atendimento se comunicando pelo menos no idioma inglês durante a Copa. Nesse aspecto a África do Sul certamente esteve à frente do Brasil, como afirmou o dirigente da Fifa. Se o idioma representa 50% dos entraves gerados na qualidade do atendimento, como afirmam alguns analistas, lá esse problema foi tirado de letra, pela própria situação histórica do lugar. Portanto, África do Sul 1, Brasil 0.


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