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segunda-feira, 9 de maio de 2011

07 de maio de 2011 - O GLOBO

UNIÃO GAY
Jobim: Forças obedecem ao Supremo
Ministro da Defesa afirma não acreditar em resistências à decisão

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse que as Forças Armadas não deverão encontrar problemas para lidar com o reconhecimento legal, pelo STF, das uniões entre pessoas do mesmo sexo. Os militares têm a missão de respeitar a Constituição, e a decisão do STF é soberana, disse Jobim.
- Somos Forças Armadas, que são submetidas ao sistema constitucional. E a Constituição é alvo do Supremo Tribunal Federal. Logo, as Forças Armadas cumprirão as decisões nas formas que devem ser cumpridas - disse Jobim, durante visita às Forças de Paz do Exército, no Complexo do Alemão.
Em junho de 2008, a Polícia do Exército prendeu o sargento Laci Marinho de Araújo depois que ele e o também sargento Fernando Alcântara de Figueiredo foram capa de uma edição da revista "Época" na qual assumiam ser um casal gay. Na época, Laci, que foi acusado de deserção, disse acreditar que a detenção, determinada pela Justiça Militar, estava relacionada ao fato de ele ter assumido publicamente sua homossexualidade.
Mais tarde, Fernando Figueiredo, que chegou a denunciar que o companheiro, Laci, teria sido torturado após a detenção, também foi detido dias depois, acusado de cometer transgressões disciplinares por ter participado de um programa de TV sem autorização e por ter sido fotografado vestindo uniforme militar.


OPERAÇÃO FAVELA LIVRE
Ministro da Defesa promete manter Exército no Alemão
Após execução de eletricista, moradores denunciam que traficantes continuam a circular pelo complexo

Dois dias após o assassinato do eletricista Wallace Moreira Amorim, na favela Nova Brasília, no Complexo do Alemão, a favela amanheceu com a segurança reforçada, com soldados do Exército distribuídos por ruas e becos. O aumento do efetivo visava à visita do ministro da Defesa, Nelson Jobim, ontem de manhã. O ministro tranquilizou os moradores quanto à presença das tropas na favela. Ele prometeu que os soldados permanecerão na comunidade até que as UPPs sejam instaladas, o que deve acontecer até outubro.
- Estamos com 1.700 homens na região. Eu queria localizar os pontos fortes, que, na linguagem militar, são antigas habitações de traficantes. Esses pontos serão usados depois pelas UPPs. Queria ver exatamente a disposição estratégica - disse o ministro.

CML não quis comentar suposta omissão de socorro
Alguns moradores, que esperavam a chegada do comboio com o ministro, pretendiam fazer denúncias sobre a presença de traficantes na região. Wallace, que estava jurado de morte pelo tráfico da região, teria sido executado com 13 tiros por dois bandidos em motocicletas. A assessoria de imprensa do Comando Militar do Leste (CML) informou que não rebateria as acusações feitas pela família do eletricista de que teria havido omissão dos soldados no socorro a Cristiano Amorim, irmão da vítima, que sobreviveu ao ataque dos traficantes.

Segundo moradores, corpos de vítimas são queimados
De acordo com moradores, as bocas de fumo continuam funcionando e, principalmente à noite, é possível ver traficantes circulando armados em alguns pontos do Complexo do Alemão. Há ainda denúncias de que pessoas estão sendo mortas a facadas na comunidade. Os corpos estariam sendo queimados pelo tráfico. Os assassinatos, segundo moradores, ocorreriam porque as vítimas são acusadas de apoiar a ocupação.
A Delegacia de Homicídios (DH) continua atrás do traficante Jota, que foi gerente geral da favela Nova Brasília e teria sido o responsável pelos tiros que mataram Wallace. O segundo bandido seria um homem identificado pelo apelido de Geleia. Com medo, a família de Wallace deixou a comunidade. Ontem, cerca de 80 pessoas acompanharam o sepultamento do corpo de Wallace no Cemitério de Irajá, na Zona Norte.


TORTURA MILITAR
Uma luta particular pelo direito à memória
Vítima de misterioso acidente, a ex-guerrilheira Inês Etienne Romeu tenta recuperar a fala e o pensamento

Chico Otavio

Única sobrevivente da Casa da Morte, centro de tortura do regime militar em Petrópolis. Responsável depois pela localização da casa e do médico-torturador Amílcar Lobo. Autora do único registro sobre o paradeiro de Carlos Alberto Soares de Freitas, o Beto, que comandou Dilma Rousseff nos tempos da VAR-Palmares. Última presa política a ser libertada no Brasil. Aos 69 anos, Inês Etienne Romeu tem muita história para contar. Mas ainda não pode. Vítima há oito anos de um misterioso acidente doméstico, que a deixou com graves limitações neurológicas, ela luta para recuperar a fala. Cinco meses depois de uma cirurgia com Paulo Niemeyer, a voz saiu firme:
- Vou tomar banho e esperar a doutora Virgínia.
Era a primeira frase completa depois de tanto tempo. Foi dita na manhã de quarta-feira, em Niterói, no apartamento onde Inês trava a mais recente batalha de sua vida. Doutora Virgínia é a fisioterapeuta, mas a recuperação também mobiliza médicos, psicólogos e fonoaudiólogos. Desde que abandonou a carreira de bancária em Belo Horizonte, nos anos 1960, para mergulhar na luta armada, a vida da ex-guerrilheira tem sido uma sucessão de acontecimentos agudos, muitos deles dramáticos e outros esplêndidos.
Pelas mãos de Inês, até pé-sujo entrou para a História. Com Beto e outros cotistas, ela abriu no fundo de uma galeria o Botcheco, barzinho que rapidamente se transformaria no centro da ebulição política e artística da capital mineira. Ao som de Dizzie Gillespie e Miles Davis, extraído de uma vitrolinha, por lá passaram os integrantes do Clube da Esquina e os futuros militantes dos grupos que logo desafiariam o regime, como a Polop, os Colina e a VAR-Palmares.
Daqueles tempos à anistia, em 1979, Inês contabilizaria um sequestro (do embaixador da Suíça, Giovanni Bucher), quase cem dias de suplícios nas masmorras do delegado Sérgio Fleury, em São Paulo, e na Casa da Morte, mantida secretamente pelo Centro de Informações do Exército (CIE), e três tentativas de suicídio.
É preciso ter estômago para ler sobre o martírio de Inês. De 8 de maio a 11 de agosto, ela foi torturada, seviciada, estuprada e obrigada a denunciar a irmã como subversiva: "Eu estava arrasada, doente, reduzida a um verme e obedecia como um autômato", contaria em depoimento à OAB.
Como os demais presos da casa, Inês não deveria sair viva de Petrópolis. Porém, depois de um campanha internacional de denúncia de sua prisão clandestina, ela acabou solta. Foi jogada na casa de uma irmã, em Belo Horizonte, pesando apenas 32 quilos. Mas o terror não desistira dela. Condição imposta pelo algozes para poupar a família Romeu, ela teria de aparecer em local público, dois dias depois, para ser morta como se tivesse reagido à prisão.
A vida de Inês foi salva graças à ousadia da família e dos advogados, que conseguiram oficializar sua prisão. Transferida para o Rio, ela cumpriria mais de oito anos de cadeia, saindo com a anistia. Para azar dos torturadores, ela gravara na memória, durante o cativeiro em Petrópolis, os codinomes de seus torturadores e do médico que a atendera, além dos nomes dos presos políticos que por lá passaram e foram executados friamente, entre os quais Beto.
A denúncia foi feita somente depois que Inês deixou a prisão, pois os parentes temiam que ela sofresse uma vingança. Com o apoio de entidades como a OAB e a ABI e das famílias de desaparecidos, Inês não apenas denunciou a existência da Casa da Morte como foi ao consultório do médico e ex-militar Amílcar Lobo, para apontar o dedo na sua cara. O gesto levaria Amilcar, o "doutor Carneiro" dos porões da repressão, a ter o registro cassado pelo Conselho Regional de Medicina do Rio.

Mistério marca o acidente em casa
Esta memória apurada, capaz de recuperar detalhes da arquitetura da casa de Petrópolis sem a ajuda de uma anotação, sofreria um baque no dia 10 de setembro de 2003. Na ocasião, Inês morava na Rua Maria Antônia, em São Paulo. Mais cedo, avisara ao porteiro que receberia um marceneiro. Esse profissional, autorizado a subir, foi descrito mais tarde como um homem de 45 anos, magro e portando uma valise. Ele ficaria no apartamento apenas 45 minutos.
No dia seguinte, a faxineira Zilda Pereira dos Santos chegou cedo, para o serviço de rotina na casa de Inês. Tocou insistentemente a campainha e, como tinha uma cópia da chave, resolveu abrir a porta. Ao entrar, encontrou Inês caída e agonizante, entre a sala e o corredor manchados de sangue. A patroa tinha um grande ferimento na cabeça.
Com traumatismo crânio-encefálico, com afundamento de crânio, Inês passaria a ser uma pessoa com limitações, entre as quais dificuldade de "se expressar e se situar no ambiente, além de caminhar com dificuldade", como avaliaram os médicos.
Passados quase oito anos, ninguém sabe o que aconteceu com Inês. O boletim policial da época, produzido pelo 77º Distrito Policial, registrou que a ex-guerrilheira teria sofrido um acidente doméstico. Mas o relatório dos médicos que a atenderam na Santa Casa de Misericórdia informa que a paciente apresentava "sinais de traumatismo craniano por golpes múltiplos diversos".
- A família e os amigos exigem saber o que aconteceu. Está claro que invadiram o apartamento e massacraram a minha cliente - cobra o advogado de Inês, Vargas Villa.
O marceneiro numa foi identificado. A polícia, por sua vez, reclamou que a irmã que passou a tutelar Inês (Elizabeth, já falecida) não quis colaborar com as investigações.
Outra luta da família é a transferência para o Rio do processo de interdição de Inês, que corre pela Justiça de Minas Gerais. A Justiça mineira tem negado o pedido sistematicamente. Esta semana, a ex-militante da VAR-Palmares foi submetida a uma perícia psicológica.
- Como o processo está em Minas, tudo fica mais difícil - lamenta outra irmã de Inês, Anitta, tutora provisória.
Anitta conta que só agora, meses depois da cirurgia de reconstituição da caixa craniana de Inês, a Justiça liberou o uso da pensão da ex-guerrilheira para o pagamento dos custos médicos. O aluguel e o mobiliário do apartamento ocupado por Inês em Niterói foram garantidos com a ajuda de parentes e amigos.
Porém, mesmo as limitações neurológicas não tiraram o brilho da trajetória de Inês. Em 2009, ela fez Dilma Rousseff chorar ao ser homenageada em Brasília, quando recebeu o prêmio de direitos humanos na categoria "Direito à Memória e à Verdade". O então presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na época:
- Minha querida Inês, só queria lhe dizer uma coisa: valeu a pena cada gesto que vocês fizeram, cada choque que vocês tomaram, cada apertão que vocês tiveram.


PRIVATIZAÇÃO DE AEROPORTOS
Governo decide adiar privatização dos aeroportos do Galeão e de Confins
Avaliação é que terminal do Rio não tem um problema de infraestrutura

Geralda Doca

BRASÍLIA. O governo decidiu adiar os planos de privatização dos aeroportos do Galeão (Tom Jobim) e de Confins (Belo Horizonte) e restringir a lista de concessões imediatas a Guarulhos, Brasília e Viracopos (Campinas). A decisão foi tomada na reunião realizada pelo ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, e demais autoridades do setor na última terça-feira. Em recuperação de uma pneumonia, a presidente Dilma Rousseff não participou do encontro, mas havia passado as coordenadas ao ministro na véspera, no Palácio da Alvorada.
De acordo com uma fonte, o Galeão poderá até ficar de fora da lista de concessão, porque o problema do aeroporto não é de infraestrutura (ele está com capacidade ociosa), mas de má qualidade do serviço prestado. A avaliação do governo é que a Infraero poderá mudar essa situação e concluir as reformas em andamento, apesar da pressão do governo do Rio pela privatização do terminal.
Já em Confins, que está operando no limite, não haveria mais prazo suficiente para realizar as obras que visariam à Copa do Mundo de 2014. Por enquanto, a orientação dada à Infraero é reiniciar a reforma do terminal de passageiros existente, paralisada por ação judicial, e construir um terminal provisório, com áreas de embarque, desembarque e check-in. Ou seja, o aeroporto pode ter de esperar mais tempo para que seu destino seja decidido.
- Não tem horizonte (de concessão) para Confins e Galeão - disse uma fonte.

Objetivo é agilizar obras nas unidades de SP e Brasília
O objetivo do governo é centrar fogo para agilizar as obras em Guarulhos, Brasília e Viracopos, considerados os mais críticos, com gargalos no terminal de embarque de passageiros, na pista e no pátio. Apesar de ter anunciado os editais de licitação de Guarulhos e Brasília para o início deste mês, o governo não cumpriu as etapas que precedem um leilão: estudo de viabilidade econômica financeira e modelagem jurídica.
Na reunião com Palocci, a Secretaria de Aviação Civil (SAC), a Infraero e o BNDES, que estão trabalhando em conjunto, informaram que o edital para construção do terceiro terminal de Guarulhos somente estará na praça em junho de 2012 - o que foi contestado pelo ministro, alegando que esse cronograma não seria aceito pela presidente. Para Brasília e Viracopos, os órgãos responsáveis não têm sequer previsão.
O prazo de 30 e 60 dias, explicou uma fonte envolvida nas negociações, é para que a Empresa Brasileira de Projetos (formada por BNDES, Banco do Brasil e instituições privadas) contrate consultorias especializadas, que farão os estudos econômicos e definirão o melhor modelo de concessão para terminal. Ou seja, se concessão administrativa, Parceria Público-Privada (PPP) ou outorga.

Minas defende construção de outro terminal
Assim como o Galeão, Confins é alvo de pressão política - mas neste caso, o governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia, quer assumir o aeroporto e depois repassá-lo ao setor privado. Mas, apesar de isso estar previsto na legislação - no Plano Nacional de Viação, aprovado no fim de 2010 -, o governo federal não considera conveniente essa transferência. Este alega que a medida abriria precedentes para outros estados, de olho nos terminais mais rentáveis da rede da Infraero.
O governo mineiro, segundo fontes, teria até um estudo, feito por uma consultoria de Cingapura, apontando a urgência de construir um terminal de passageiros em Confins.
- A Infraero sempre contestou, mas agora admite essa necessidade, só que não há mais tempo hábil de tocar as obras a tempo da Copa - disse um interlocutor.


Aeroporto de Natal, enfim, vai decolar
Edital de licitação sairá segunda-feira, três anos após anúncio de concessão

Geralda Doca

BRASÍLIA. Três anos depois do anúncio da concessão à iniciativa privada de São Gonçalo do Amarante, o novo aeroporto de Natal, será divulgado na segunda-feira o edital de licitação. A contar da publicação, haverá um prazo de 60 dias para a realização do leilão na Bolsa de Valores de São Paulo, provavelmente em 11 de julho.
O lance mínimo é de R$51,7 milhões, e quem vencer a disputa terá de investir R$650 milhões para construir salas de embarque e um terminal de passageiros em até três anos. Os investimentos em pistas e pátio, orçados em R$250 milhões, serão de responsabilidade do governo federal, e as obras, tocadas pelo Exército. Todo o serviço de controle do tráfego aéreo continuará nas mãos da Aeronáutica.
O contrato terá validade de 25 anos, podendo ser prorrogado uma única vez por mais cinco caso as receitas (com tarifas e comerciais) não se mostrem suficientes para cobrir o investimento. Os detalhes do edital foram divulgados ontem pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
- A expectativa em torno do leilão é muito positiva - disse Rubens Vieira, diretor de Infraestrutura Aeroportuária da Anac.
Segundo ele, empresas aéreas (com limite de até 10% do capital votante), empreiteiras, associadas a administradores de aeroportos, deverão participar da disputa. Uma vez definido o vencedor, o contrato de concessão deverá ser assinado num prazo de 30 a 60 dias.
Na avaliação de Vieira, a obra deverá ser concluída antes do prazo estabelecido no edital, em até dois anos. De acordo com estimativas da Anac, São Gonçalo do Amarante, que vai substituir o Aeroporto de Natal, receberá 2,7 milhões de passageiros em 2013 e 4,7 milhões em 2020, podendo dobrar o volume de usuários em 2030.
A empresa vencedora terá liberdade para transformar o aeroporto num importante hub (centro de distribuição de rotas) do Nordeste ou de cargas para o exterior. Segundo o edital da Anac, a taxa de retorno estimada é de 6,3% (custo do capital).
As tarifas do aeroporto serão corrigidas pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), obedecendo aos tetos fixados pela Anac com adicionais ou descontos que dependerão do movimento nos horários de voos.


SEGURANÇA DA COPA DE 2014
'Xerife' da Copa é representante da Interpol
Ministro do Esporte anuncia a criação de uma secretaria especial de segurança, que terá reforço das Forças Armadas

Ilimar Franco e Fábio Fabrini

BRASÍLIA. O coordenador-geral de Polícia Criminal Internacional da Polícia Federal, delegado José Ricardo Pataro Botelho de Queiroz, foi escolhido para assumir a Diretoria de Segurança da Copa de 2014, como revelou a coluna Panorama Político do GLOBO. O delegado é o representante da Interpol no Brasil e trabalhará diretamente vinculado ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Botelho, como é conhecido, já está sendo chamado de "xerife da Copa". O ex-diretor-geral da PF Luiz Fernando Corrêa foi preterido, mas será aproveitado pela Autoridade Pública Olímpica (APO).
O ministro do Esporte, Orlando Silva, anunciou a criação de uma secretaria especial para cuidar da segurança na Copa de 2014. Com a tarefa de integrar as polícias das 12 cidades-sede, o novo órgão terá também a função de comandar os trabalhos de planejamento e inteligência necessários.
- Realizaremos um esforço especial para que o Mundial conte com segurança e comodidade - afirmou Silva, salientando que 600 mil turistas vão visitar o país.
O ministro afirmou que as Forças Armadas vão reforçar o trabalho do novo órgão. Orlando Silva lembrou o esforço de integração na Copa da Alemanha, em 2006, quando policiais ingleses foram destacados para a segurança em Berlim e outras sedes.
- No Brasil, não será muito diferente. Será um Mundial muito seguro - assegurou Silva, durante o programa de rádio "Bom Dia, Ministro", produzido pela Presidência em parceria com a Empresa Brasil de Comunicação (EBC). O Ministério da Justiça informou que a secretaria deve ser oficializada ainda este ano, em data a ser definida.


VOO 447
França decide resgatar todos os corpos do 447
Autoridades estimam que trabalho de recuperação dos restos mortais das vítimas esteja concluído em 15 dias

Após dois resgates bem-sucedidos, a França decidiu retirar todos os corpos das vítimas da tragédia do voo 447, da Air France, que estão no mar. Em nota divulgada ontem, a Direção Geral da Polícia Militar francesa (DGGN, na sigla em francês) afirma que a equipe será reforça para fazer, “durante cerca de 15 dias, o resgate de todos os corpos e objetos pessoais que puderem ser recuperados”.
Mais cedo, no Rio, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, já havia defendido o resgate de todos os corpos. Em visita ao Complexo do Alemão, ele ressaltou que o governo brasileiro está acompanhando os trabalhos de resgate de corpos e equipamentos, e afirmou que a investigação das causas da tragédia cabe ao governo francês, mas que todos os países com vítimas envolvidas acompanham os trabalhos de perto.
— O organismo francês que faz as buscas trabalha exclusivamente com o problema do acidente. Depois, as questões decorrentes dos falecidos, dos corpos, serão apuradas. E (os corpos) serão remetidos. Havia mais de cem nacionalidades no voo — afirmou Jobim.

Segundo corpo também estava preso ao assento
Na manhã de ontem, a DGGN anunciou o resgate do segundo corpo de uma das vítimas do acidente. Segundo as autoridades francesas, o corpo também foi içado para o navio Ile de Sein, e passará por um exame de DNA. O corpo encontrado nesta sexta-feira estaria amarrado ao assento, assim como o resgatado na quinta-feira.
O Airbus da companhia francesa caiu no Oceano Atlântico em junho de 2009, quando seguia do Rio para Paris, matando as 228 pessoas a bordo. Pouco depois do acidente, corpos de 51 passageiros foram encontrados na superfície do mar. No dia 3 de abril, equipamentos teleguiados localizaram destroços do avião, como um trem de pouso de uma turbina, a 3.900 metros de profundidade. No dia seguinte, autoridades francesas informaram que havia corpos dentro da fuselagem. As duas caixas-pretas foram recuperadas no início desta semana.
O presidente de uma das associações de famílias das vítimas, Jean-Baptiste Adousset, da Entraide et Solidaritl AF447, disse que o resgate esta dividindo os parentes: alguns não querem que os restos de seus entes sejam retirados do mar.
— É uma noticia muito difícil para todas as famílias. É uma esperança para pessoas que querem o resgate dos corpos. Mas, para as famílias que não querem o resgate, a retirada do primeiro corpo é muito difícil, traumatizante — disse.

Representante de famílias teme frustração
Adousset prevê frustração mais tarde, se famílias se depararem com o fato de que nem todos os corpos poderão ser resgatados.
Parentes brasileiros das vítimas do voo 447 criticam a decisão de levar os corpos para a França. Nelson Faria Marinho, presidente da Associação de Familiares de Vítimas, alega que o traslado dos restos mortais para a Europa e, após a identificação, de volta para o Brasil, poderia prejudicar ainda mais o estado dos cadáveres.




NEGÓCIOS & CIA
Flávia Oliveira

Base no Rio
Frederico Curado, presidente da Embraer, disse anteontem ao deputado Otávio Leite (PSDB-RJ) que está no conselho de administração da empresa a proposta de instalação de escritório no Rio. A fabricante de aviões quer estreitar relações com instituições e empresas ligadas ao Parque Tecnológico da UFRJ. É lá que a GE vai montar um centro de pesquisas.


EDITORIAL
Desarmar é ação permanente de Estado

O governo reedita uma ideia que deu certo ao retomar a Campanha do Desarmamento. Em 2004/2005 e 2008/2009 o Ministério da Justiça promoveu movimentos nacionais para entrega voluntária e para a legalização de armas. Os resultados foram animadores, tanto pela quantidade de armamento recolhido - e posteriormente destruído - quanto pelo impacto direto na trágica estatística de homicídios do país. De acordo com dados extraídos do Mapa da Violência de 2011, houve uma redução, em média, de 18% no registro de mortes por armas de fogo durante os dois períodos de realização das campanhas. A evidência desse indicador é cristalina: a menos armas em circulação correspondem menos crimes.
Ou seja, iniciativas oficiais de estímulo ao desarmamento têm impacto direto na redução dos números da violência. Mas, mesmo com o saldo positivo das duas campanhas anteriores, os indicadores de violência em todo o país ainda estão longe de atingir patamares aceitáveis, sobretudo na rubrica dos crimes praticados por ação armada. Um levantamento do Ministério da Justiça, no ano passado, mostrou que, com 34,3 mil assassinatos por ano, o Brasil encabeça a lista mundial de mortes por armas de fogo. Do total de homicídios registrados no país, 80% são cometidos com armas compradas legalmente e desviadas para o crime.
É uma realidade que, para ser mudada, reclama ações perenes de redução de danos, uma política de Estado que ataque permanentemente as causas da violência. Entre elas, a frouxidão no controle da venda de armamento e a tibieza na fiscalização de fronteiras e estradas federais, que deixa abertas as portas do país para o tráfico internacional de armas, outra das fontes de abastecimento de arsenais do banditismo.
Por óbvio, campanhas de desarmamento não implicam levar o país a novo plebiscito sobre a venda de armas. Essa questão já foi decidida soberanamente pela sociedade, cuja vontade há que ser respeitada. É fato que uma legislação mais restritiva para regular a circulação de armamento seria um passo largo para reduzir as oportunidades que se abrem para constantes tragédias - de que a chacina que resultou no assassinato de 12 pequenos alunos numa escola de Realengo, no subúrbio do Rio, tornou-se a mais emblemática manifestação. Mas há outros caminhos para conter a proliferação desses instrumentos da morte - o mais abrangente deles, o Estatuto do Desarmamento.
Ele tem rígidos dispositivos para combater a circulação de armas fora dos meios e das condições em que são legalmente aceitas. Mas trata-se de lei que ainda não "pegou". Ela prescreve, por exemplo, atribuições da Polícia Federal na fiscalização do comércio legal de armamento. No entanto, investigações recentes mostraram que, no Rio de Janeiro e no Nordeste, boa parte de revólveres e outros artefatos apreendidos com quadrilhas do crime organizado haviam sido vendidos em balcões avalizados por alvarás. Armas que poderiam ter sido rastreadas e não o foram.
Que a nova campanha, portanto, tanto quanto convocar ao recolhimento voluntário de armamento, estimule outras ações efetivas de contenção da circulação de armamento. O país tem leis para isso. Cumpri-las, além de obrigação do poder público, é passo essencial para fazer regredir de vez os indicadores de tragédias provocadas por armas de fogo.

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