AVIAÇÃO
Governo vai ouvir empresas aéreas
Paulo de Tarso Lyra | De Brasília
O secretário nacional de Aviação Civil, Wagner Bittencourt, e o presidente da Infraero, Gustavo do Vale, vão se encontrar hoje com os presidentes das principais companhias aéreas na sede da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em Brasília. Será a primeira vez que Bittencourt conversará com os representantes do setor privado. O encontro será realizado uma semana depois de o governo anunciar que pretende fazer uma parceria com a iniciativa privada - pelo regime de concessão de uso - para reformas nos principais aeroportos do país.
Bittencourt vai se apresentar aos presidentes das empresas aéreas e ouvir os diagnósticos sobre o setor. Há uma percepção no governo federal de que a ausência de diálogo dos diversos atores que atuam no ramo da aviação civil contribui para as dificuldades que o país vive nos aeroportos. Como antecipou o Valor na semana passada, o governo também pretende criar, inspirado no modelo americano, a figura da autoridade aeroportuária, reunindo, em um só comando, a cadeia de ação que hoje é pulverizada por Infraero, Receita Federal, Polícia Federal, Anvisa, Decea, Anac e Secretaria de Aviação Civil.
Com isso, a presidente Dilma Rousseff pretende estabelecer um novo modelo de governança na aviação civil. Isso já estava claro quando ela desmembrou o setor da área de influência dos militares e quando pensava em trazer um executivo renomado para a futura secretaria - não obteve êxito em relação a Rossano Maranhão, atual presidente do Banco Safra e ex-presidente do Banco do Brasil. Mas Bittencourt, ex-diretor de infraestrutura do BNDES, é um nome respeitado pelo setor privado.
A presidente está preocupada com a situação dos aeroportos brasileiros. Há duas semanas, relatórios elaborados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Tribunal de Contas da União (TCU) irritaram o governo por concluírem que dificilmente as obras nos aeroportos estarão prontas até o início da Copa do Mundo de futebol de 2014.
Dilma já fez três reuniões com Bittencourt e Gustavo do Vale, da Infraero. Na semana passada, ampliou o encontro com as presenças dos ministros do Esporte, Orlando Silva, das Cidades, Mário Negromonte, e da Casa Civil, Antonio Palocci. Nessa reunião foi decidida a concessão de uso para a iniciativa privada dos aeroportos de Guarulhos, Brasília e Viracopos, em Campinas - os editais estarão prontos até o fim deste mês. Galeão, no Rio de Janeiro, e Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte, terão editais lançados até o início do segundo semestre.
TAP e American disputam liderança entre estrangeiras
Até o primeiro semestre de 2012, as duas áreas deverão empatar com 77 voos semanais ao Brasil
Alberto Komatsu | De São Paulo
As companhias aéreas TAP, de Portugal, e a American Airlines, dos Estados Unidos, travam neste ano um acirrado duelo pela liderança na oferta de voos semanais ao Brasil entre as estrangeiras. Por ora, o primeiro lugar é da TAP, com 71 frequências, ante 67 da American. Mas a busca por novas rotas no país vai promover uma dança de posições até o primeiro semestre de 2012, quando elas deverão empatar com 77 voos.
A partir de 12 de junho, a TAP vai inaugurar quatro voos por semana entre Porto Alegre e Lisboa. O vice-presidente da companhia, o gaúcho Luiz da Gama Mór, diz que será a primeira vez que o Rio Grande do Sul contará com um voo direto para uma capital da Europa.
Até o fim de junho, a TAP planeja oferecer o sexto voo semanal entre Belo Horizonte e Lisboa, pois atualmente são cinco. Em setembro, a empresa vai acumular 77 voos semanais ao operar a quarta frequência semanal entre Campinas e a capital portuguesa. São três voos por semana em operação.
"A filial Brasil, ou todas as passagens que são vendidas para o país, respondem por 22% da nossa receita. Portugal corresponde a 29% das vendas totais", afirma Mór. No ano passado, a TAP teve lucro de € 62 milhões, ante € 52 milhões do ano anterior, um crescimento de 8,7% na comparação dos dois resultados.
A American Airlines opera atualmente 67 voos por semana entre o Brasil e os Estados Unidos, de acordo com o diretor da companhia no Brasil, Dilson Verçosa. Recentemente, porém, a American solicitou 10 novas frequências no país. A partir de novembro, a companhia vai tornar diária a ligação de Miami com Brasília e Belo Horizonte. "Essa briga (com a TAP) é boa", diz Verçosa.
Em junho de 2012, a American planeja inaugurar a rota entre Miami e Manaus com quatro voos por semana. "Para Brasília e Belo Horizonte são aumentos de frequências em função do bom resultado das rotas. Já Manaus é um sonho bem antigo da American Airlines", afirma Verçosa.
Segundo o executivo, a taxa média de ocupação dos aviões que voam entre Miami e Belo Horizonte é de 87%. Na rota Miami-Brasília, iniciada em novembro do ano passado, a taxa de aproveitamento das aeronaves varia de 68% a 70%.
Os novos voos solicitados pela American fazem parte de uma negociação bilateral entre os governos brasileiro e americano. Atualmente, são permitidas 150 frequências semanais, sendo que a cota americana está esgotada.
Verçosa lembra que a partir de outubro serão permitidas mais 24 voos por semana para cada lado. Esse aumento de cota será anual até 2015, quando entra em vigor o acordo de "céus abertos" entre o Brasil e os Estados Unidos. Trata-se da liberdade de quantidade de voos e destinos para as companhias aéreas operarem em cada país, sem a necessidade de negociações bilaterais, conforme as regras atuais.
INFORMAÇÃO
Relator do projeto, Collor resiste ao fim do sigilo eterno
Raquel Ulhôa | De Brasília
Como presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado, Fernando Collor (PTB-AL) assumiu a função de relator do projeto de lei que regulamenta a Lei de Acesso à Informação e manifestou a intenção de discutir melhor o texto aprovado pela Câmara dos Deputados, em vez de votar rapidamente, como queria a presidente Dilma Rousseff.
Collor, que presidiu o país de 1990 a 92, argumentou a senadores que o Ministério das Relações Exteriores e as Forças armadas têm restrições ao fim do sigilo eterno de documentos classificados como ultrassecretos pelo governo federal.
Segundo senadores da base governista, o ministro Antonio Pallocci (Casa Civil) telefonou a Collor na semana passada para conversar sobre o assunto, mas não havia conseguido falar com ele. Havia expectativa de uma conversa entre ambos ontem à noite.
"A posição do governo é votar. Mas o senador Collor avocou para si a relatoria e quer discutir mais. Então, vamos esperar o relatório dele. Não queremos atropelar", afirmou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). O senador Walter Pinheiro (PT-BA), que foi relator do projeto na Comissão de Ciência e Tecnologia (CCT), havia sugerido que a presidente sancionasse o projeto hoje, 3 de maio, em que é comemorado o Dia Mundial de Liberdade de Imprensa pela Organização das Nações Unidas (ONU).
O governo conseguiu aprovar a proposta nas comissões de Ciência e Tecnologia e de Direitos Humanos do Senado no mesmo dia. Também queria pressa no Senado, mas esbarrou na resistência de Collor. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), também havia manifestado preocupação com a liberação de documentos relativos à política exterior.
O projeto de lei de direito de acesso a informações públicas foi enviado pelo governo ao Congresso em 2009. Pelo texto aprovado na Câmara, no ano passado, os documentos são classificados em "reservados", "secretos" ou "ultrassecretos". No caso dos reservados, eles não podem ser acessados pelo público durante cinco anos. Se considerados secretos, o sigilo permanece por 15 anos. No caso de documento classificado como ultrassecreto, o sigilo se mantém por 25 anos - somente neste caso, o prazo pode ser renovado e apenas uma vez.
Pela legislação atual, o prazo de sigilo dos documentos públicos classificados como ultrassecretos é de 30 anos, podendo ser renovado indefinidamente. Se a proposta que tramita no Senado for aprovada com o texto atual, pela nova lei nenhum documento ficará com acesso restrito por mais de 50 anos. As duas comissões do Senado pelas quais já passou não fizeram alteração no texto, para evitar que a proposta retorne à Câmara.
ANTONIO DELFIM NETTO
O governo e a inflação
O Brasil está vivendo um momento complicado. Por um lado, há dúvida geral, ampla e irrestrita sobre a natureza do processo inflacionário que atinge, em grau maior ou menor, todos os países do mundo. E, por outro, há uma perplexidade entre os economistas que têm consciência da precariedade dos modelos macroeconômicos sofisticados que utilizamos há pelo menos 20 anos. Deles temos extraído, impropriamente, recomendações "normativas" que refletem, muito mais, como gostaríamos que a economia funcionasse do que ela mostrou que funciona. Curiosamente, a única exceção - a ilha de certezas nesse mar de incertezas - é a convicção religiosa de alguns "falcões" que continuam a pensar-se como portadores de uma verdadeira "ciência monetária" que indicaria a mezinha eficiente.
Todo processo inflacionário se explica por uma combinação variável de três causas:
1ª) um desequilíbrio persistente entre a oferta e a demanda global de bens e serviços;
2ª) por uma desancoragem (por múltiplas razões, inclusive a anterior) da "expectativa" inflacionária;
3ª) por um "choque de oferta" interno ou externo.
No caso brasileiro é preciso acrescentar uma "jabuticaba": o processo de indexação ainda generalizado que sobrou como resíduo do bem sucedido Plano Real e para cuja eliminação se fez muito pouco (de fato, acrescentou-se mais veneno) nos últimos oito anos.
No regime de câmbio flutuante, quando o choque externo é um grande aumento das relações de troca (combinado com um imenso diferencial entre a taxa de juros real interna e a externa), ele é "filtrado" por uma valorização da taxa de câmbio. Quando essa valorização começa a produzir a destruição de importantes atividades internas é natural que as autoridades econômicas tentem controlar o processo, mas não podem fazê-lo sem criar outros problemas. No momento, por exemplo, as intervenções no mercado de câmbio nos levaram praticamente a uma taxa fixa de câmbio, o que diminui os riscos e estimula ainda mais a arbitragem cambial. Tal política de curto prazo é claramente incompatível, no longo prazo, com a liberdade de movimento de capitais.
O cabo de guerra entre os "falcões" e o governo parece estar amainando, desde a última declaração do Banco Central que o ajuste dos juros será suficientemente prolongado para promover a convergência da taxa de inflação para o centro da meta de 2012. Além disso, os números fiscais parecem indicar que o governo vai mesmo executar sua promessa de reduzir o crescimento das despesas de custeio e transferências para baixo da taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), dando mais conforto à política monetária.
É preciso dizer que nunca (pelo menos na minha percepção), o Banco Central explicitou a ideia de que iria substituir a política de juros e apoiar-se, apenas, em medidas macroprudenciais. Para quem estava disposto a entendê-lo o Banco Central disse que iria usá-las como coadjuvantes para facilitar os ajustes com menor custo social (e para o Tesouro). Com elas procuraria elevar a taxa de juros real e diminuir a expansão do crédito em setores específicos, reduzindo o aumento da Selic. Esta é injeção na veia no custo da dívida pública. E isso, aparentemente, está sendo conseguido: A taxa de juros real produzida pela Selic (que importa mais para o custo da dívida pública) tem sido mantida constante, mas a taxa de juros real do setor privado que controla o consumo e boa parte dos investimentos (não privilegiado por programas especiais), tem se elevado. Este ano a despesa com juros da dívida pública deve beirar a R$ 190 bilhões, uma respeitável bolsa-juros para os rentistas.
É claro que hoje existe uma pressão interna principalmente nos preços dos serviços. O que não está claro é se ela deriva de um excesso de demanda global ou de um desajuste mais profundo no mercado de trabalho devido à mudança na estrutura da oferta e da demanda de mão de obra produzidas pelo processo civilizatório que estamos vivendo e que não pode ser corrigido apenas pela taxa de juros. Em nenhum momento o PIB brasileiro rodou, nos últimos anos, a uma taxa anual maior do que 5%. O 7,5% de 2010 e os 9,5% de meados do ano são apenas artefatos estatísticos.
São tais dúvidas factuais e a imensa incerteza teórica em que vivemos que recomendam uma política econômica cuidadosa e paciente, que procura fazer a taxa de inflação retornar ao centro da meta no fim de 2012 com menor custo social. Nada justifica, portanto, o "terrorismo" dos "falcões" que propagam a ideia que o "governo jogou a toalha" no combate à inflação.
Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento
TERRORISMO
Após dez anos e US$ 1,3 tri, EUA matam seu inimigo nº 1
Alex Ribeiro | De Washington
O líder máximo da Al Qaeda, Osama bin Laden, foi morto numa operação americana domingo no Paquistão, resultado de uma caçada que, desde que foi lançada em 11 de setembro de 2001, envolveu duas guerras, um gasto calculado em US$ 1,283 trilhão pelo Tesouro dos EUA e mais de 4.000 americanos mortos nas operações militares no Iraque e no Afeganistão. "O mundo está mais seguro", disse ontem presidente Barack Obama. "É um lugar melhor por causa da morte de Osama bin Laden."
Ainda é bastante incerto se a morte de Bin Laden irá enfraquecer - ou pelo contrário, fortalecer - a organização terrorista responsável pelos ataques terroristas às torres gêmeas de Nova York e ao Pentágono. Mas é consenso que Obama, que estava com seus índices mais baixos de popularidade desde que assumiu o governo há dois anos, irá ganhar um impulso na disputa de sua reeleição do próximo ano.
Homem mais procurado pelo governo dos EUA, Bin Laden foi morto na cidade de Abbottabad, a cerca de uma hora da capital do Paquistão, Islamabad, depois de trocar tiros com uma equipe militar americana a serviço da CIA. A identidade foi confirmada por exames de DNA, e o corpo, jogado no Mar da Arábia, para evitar que o túmulo fosse cultuado por simpatizantes. Segundo o Exército americano, respeitando os ritos islâmicos, o corpo foi lavado e envolto em lençol branco. Um oficial americano leu textos religiosos, que foram traduzidos para o árabe.
Quando surgiram os primeiros rumores da morte de Bin Laden, no domingo, milhares de pessoas começaram a se juntar em festa em frente da Casa Branca, em Washington, e nos arredores da área onde ficavam as torres gêmeas, em Nova York. A morte de Bin Laden uniu o país. Líderes de oposição divulgaram mensagens de congratulações, incluindo o ex-presidente George W. Bush. Também houve declarações de apoio de líderes no exterior, como Nicolas Sarkozy da França e David Cameron da Inglaterra.
Antes da morte de Bin Laden, Obama havia indicado que, em dois meses, deverá iniciar a retirada de parte dos 100 mil soldados que estão no Afeganistão. Ainda assim, os gastos com as guerras tendem a crescer, passando dos atuais US$ 1,283 trilhão para US$ 1,4 trilhão ao fim deste ano, segundo estimativa do Serviço de Pesquisa do Congresso. Nos combates no Iraque, já foram gastos US$ 805 bilhões e, no Afeganistão, US$ 443 bilhões. O resto do dinheiro foi basicamente usado no reforço da segurança de bases militares.
Muitos afirmam que a guerra ao terrorismo é, para os Estados Unidos, a segunda mais cara da história recente, embora esse tipo de comparação seja controversa porque os números podem variar de acordo com a metodologia de cálculo empregada. O economista e ganhador do Prêmio Nobel Joseph Stiglitz estima que a Segunda Guerra tenha custado US$ 5 trilhões para os americanos, em valores atualizados até 2008.
Obama acompanhou da Casa Branca, junto com seus assessores de segurança nacional, toda a operação no Paquistão, a partir das 13h de domingo. A CIA chegou a Bin Laden após rastrear indícios extraídos de prisioneiros na base de Guantánamo, em Cuba, que durante sua campanha presidencial Obama havia prometido fechar.
O lider da Al Qaeda estava numa casa avaliada em US$ 1 milhão construída a menos de um quilômetro de uma importante base militar paquistanesa, o que reforçou entre muitos americanos a suspeita de que o governo daquele país está colaborando com a organização terrorista.
Os primeiros indícios de que Bin Laden estava naquela casa surgiram em agosto do ano passado, mas apenas nas últimas semanas as evidências se tornaram mais fortes. Obama presidiu pelo menos cinco reuniões que definiram a estratégia de ataque. A opção final foi por uma operação em solo, depois do pouso de dois helicópteros, em vez de bombardeio aéreo. Foi a alternativa considerada mais arriscada, porém permitiria que os soldados colocassem as mãos no líder da Al Qaeda.
Desde o princípio, os Estados Unidos trabalhavam com o cenário de que Bin Laden reagiria e seria morto. Também morreram três homens e uma das esposas de Bin Laden. Domingo à noite, depois que foi confirmada a identidade de Bin Laden, Obama fez um pronunciamento à nação comunicando a morte di líder terrorista. Ele reconheceu, porém, que a ameaça terrorista ainda não foi eliminada.
"Não há dúvida que a Al Qaeda continuará a organizar ataques", disse. "Devemos e vamos ficar vigilantes em casa e no exterior." O egípcio Ayman al Zawariri, segundo na Al Qaeda, deverá assumir o comando da organização.
Países reforçam alertas contra possíveis retaliações
Agências internacionais
Os Estados Unidos intensificaram a vigilância em todas as suas instalações no exterior e nos locais considerados como possíveis alvos de atentados nas grandes cidades. Em mensagem aos funcionários da CIA, o diretor da agência de inteligência americana, Leon Panetta, disse que a Al Qaeda "quase certamente tentará se vingar".
"Não há dúvida de que continuamos como um alvo prioritário e a morte de Bin Laden não mudará isso", afirmou o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg. A polícia da cidade aumentou sua presença no metrô, aeroportos, estações de trem, pontes e até mesmo no terreno do World Trade Center. Uma rua na região de Times Square foi brevemente interditada ontem por conta de um pacote suspeito abandonado, o qual revelou-se inofensivo após exame.
Todas as embaixadas americanas ao redor do mundo entraram em estado elevado de alerta. "Na prática, as operações continuarão normalmente aqui e na maioria dos lugares ao redor do mundo, apenas seremos mais cautelosos", disse David McGuire, porta-voz da embaixada na Finlândia.
Washington também emitiu um comunicado aos americanos no exterior advertindo-os quanto ao "potencial agravado de violência antiamericana". Entre as recomendações, pediu que evitem viagens e grandes aglomerações.
No Iraque, o Exército e a polícia encontram-se em estado de alerta. "Estamos 100% esperando ataques", disse o general Hassan al-Baidhani, do comando de operações de Bagdá. A infraestrutura petrolífera, estações de eletricidade e pontes são os possíveis alvos de atentados terroristas. Muitos dos ataques que ainda acontecem no país são atribuídos à Al Qaeda, como por exemplo um realizado no fim de março em Tikrit que matou 58 pessoas. Os EUA ainda têm cerca de 47 mil soldados no Iraque.
A Interpol, organização policial internacional, recomendou aos países-membros que fiquem "em alerta total". O Departamento da Defesa britânico ordenou "um alto nível de vigilância em todas as instalações do Reino Unido no país e no exterior".
O ministro das Relações Exteriores da França, Alain Juppé, advertiu aos cidadãos do país que estiverem no norte da África para terem cuidado. A Austrália aumentou a segurança nas suas embaixadas. O Japão anunciou que aumentaria as patrulhas em torno de suas bases militares. Já a Espanha informou que não iria elevar o seu alerta de segurança.
CAMPANHA PRESIDENCIAL
Sucesso militar vai turbinar a campanha de Obama à reeleição
Alex Ribeiro | De Washington
A morte do líder da Al Qaeda, Osama bin Laden, aumenta as chances de vitória do já favorito presidente americano, Barack Obama, nas eleições do ano que vem. O desempenho da economia americana segue como provável tema dominante na campanha eleitoral, mas a operação bem-sucedida no Paquistão ajuda a esvaziar uma das principais bandeiras da oposição republicana, tradicionalmente forte em segurança nacional.
Desde a noite de domingo, quando a morte de Bin Laden foi anunciada, há um claro esforço da equipe de comunicação de Obama para capitalizar o episódio, assinalando que o presidente exerceu papel de liderança na caça ao líder da Al Qaeda. "Mesmo antes de ser presidente, quando era candidato, ele tinha uma linha clara de atuação sobre Obama bin Laden", afirmou o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney.
No mês passado, Obama deu início oficial à campanha presidencial de 2012, com a abertura de seu comitê para arrecadar fundos. Apesar de exibir índices de popularidade relativamente baixos, ele é considerado o favorito porque já está no poder e porque cresceu o otimismo entre os americanos sobre a evolução da economia.
"A morte de Bin Laden um impulso muito importante para o presidente Obama, tanto no curto prazo quanto na campanha eleitoral", disse ao Valor Sean West, analista de política americana da Eurasia Group, uma empresa de consultoria política com sede em Nova York.
Antes da morte de Bin Laden, afirma West, a segurança nacional era um dos pontos vulneráveis de Obama, independentemente de ele ter feito ou não a coisa certa. "[O presidente Obama] não falou com muita frequência nem mostrou evidências concretas do que fez sobre segurança nacional, e os republicanos são muito bons para falar sobre esses assuntos", afirma West. "Agora, está morto o indivíduo que toda a campanha no Afeganistão estava atrás." Ontem, os principais pré-candidatos republicanos divulgaram mensagens de congratulação ao presidente Obama. "É uma grande vitória para os amantes da liberdade. Parabéns à nossa comunidade de inteligência, aos nossos militares e ao presidente", disse Mitt Romney, que aparece na frente em algumas pesquisas como possível adversário de Obama.
Às vésperas da morte de Bin Laden, 46% dos americanos aprovavam o trabalho do presidente Obama, enquanto 45% desaprovavam, segundo o Instituto Gallup. O fraco desempenho da economia, sobretudo a taxa de desemprego em 9,2%, considerada alta para os Estados Unidos, corroeram a popularidade de Obama desde que ele assumiu o governo, no começo de 2009. No ano passado, ele perdeu uma importante eleição legislativa. Mesmo assim, o presidente é considerado o favorito na disputa pela reeleição. Antes da morte de Bin Laden, a Eurasia calculava que Obama tinha chances entre 60% e 75% de ser reeleito.
Na sua campanha eleitoral de 2008, Obama havia colocado como prioridade prender Osama e leva-lo a julgamento. Domingo, ao anunciar que o líder da Al Qaeda foi morto, Obama deixou claro que toda a operação foi conduzida sobre sua ordem. Oficiais da Casa Branca disseram que Obama comandou pelo menos cinco reuniões nas últimas semanas sobre o tema e que acompanhou o transcorrer da operação no domingo.
Teria sido decisão pessoal de Obama, repetiram seus auxiliares, caçar Bin Laden numa operação com helicópteros, em vez de simplesmente bombardear a casa em que o líder da Al Qaeda encontrava-se escondido. "O ataque com helicópteros foi mais arriscado", disse um auxiliar da Casa Branca numa teleconferência. "Mas ele queria uma prova [da morte de Bin Laden], não queria apenas um monte de entulho."
Em 2003, o então presidente americano, George W. Bush, ganhou um importante impulso de popularidade, de 8 pontos percentuais, com a captura do ex-presidente do Iraque Saddam Hussein, que muitos consideram decisivo para a sua reeleição, em 2004.
QUESTÕES EMBARAÇOSAS
Embaraço e dúvidas sobre papel do Paquistão
James Lamont e Farhan Bokhari | Financial Times, de Nova Déli e Islamabad
A morte de Osama bin Laden numa cidade que abriga uma vila militar e sedia uma escola superior militar que forma oficiais graduados para o Exército paquistanês suscita questões embaraçosas para a liderança militar do país.
Barack Obama, o presidente americano, teve o cuidado de enfatizar a cooperação do Paquistão no ataque de domingo contra Bin Laden, mas cresce o interesse em torno de seu santuário, perto da área de um quartel, a duas horas de carro da capital, Islamabad.
O refúgio do líder da Al Qaeda em Abbottabad intensificou os temores quanto à ambivalência do Paquistão em relação ao terrorismo e sua visão extremamente conflitante sobre a militância.
Essa local tão conspícuo, nas proximidades do equivalente paquistanês à academia militar britânica em Sandhurst, também parece confirmar as suspeitas da secretária de Estado americana, Hillary Clinton, de que altas autoridades paquistanesas sabiam onde Bin Laden estava. Aqueles que criticam o Paquistão frequentemente alegam que as instituições militar e de inteligência simpatizam com os militantes islâmicos e não enxergam os perigos das organizações terroristas mundiais.
Muitos paquistaneses não fazem segredo de sua admiração pela agressão de Bin Laden contra o Ocidente. Ontem, eles lamentavam abertamente sua morte.
Abbottabad é sede da prestigiosa academia militar Kakul Pakistan, cujos graduados incluem o general Ashfaq Pervez Kayani, chefe de Estado-Maior do Exército, e o tenente-general Ahmed Shuja Pasha, chefe dos Interserviços de Inteligência. Muitas das operações na região da fronteira com o Afeganistão são planejadas nesse centro nervoso militar.
Carl Levin, que preside a Comissão das Forças armadas no Senado americano, disse que o Exército e o serviço de inteligência paquistanês "têm muitas perguntas a responder", considerando-se a localização do esconderijo.
Levin disse que "não está necessariamente desconfiado" de que a liderança civil sabia onde Bin Laden estava oculto. Mas ele acredita que perguntas devam ser feitas aos poderosos Exército e serviços de inteligência do país. Brajesh Mishra, ex-assessor de segurança nacional da Índia, disse que "acreditar que o Exército paquistanês e a AII [o serviço de inteligência] não tinham conhecimento [da localização de Bin Laden] é risível".
"É ridículo que qualquer pessoa no Paquistão alegue que eles não sabiam ou aleguem não terem sido cúmplices", disse Mishra.
Para alguns analistas, as circunstâncias do assassinato de Bin Laden destacam tanto a fragmentação da liderança paquistanesa e suas opiniões divididas sobre o combate aos militantes como o que muitos analistas indianos veem como "duplicidade institucional". Ashley Tellis, um especialista em segurança na Carnegie International Endowment for Peace e ex-assessor do Departamento de Estado, disse: "O Paquistão não é uma entidade única e uniforme. Existem diferentes partes do governo que têm diferentes acessos a diferentes elementos da verdade."
Ele disse que a decisão americana de não informar as autoridades paquistanesas sobre o ataque sugere que Washington percebeu o risco de que o establishment paquistanês poderia estar protegendo o líder da Al Qaeda.
O Paquistão ainda precisará dar explicações sobre quanto tempo Bin Laden morou em Abbottabad, como foi para lá ou por que seu esconderijo não foi encontrado antes. Hameed Gul Geral, um ex-diretor geral da AII, disse ser improvável que Bin Laden escapasse à vigilância dos serviços de inteligência do Paquistão. Mas disse que o odiado militante era considerado "inativo" há algum tempo.
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