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terça-feira, 31 de maio de 2011

31 de maio de 2011 - O GLOBO


DESTAQUE DE CAPA
Pioneira, Alemanha fechará todas as usinas nucleares

Fornecedora da tecnologia que serviu de base para os programas de Angra II e III, a Alemanha anunciou ontem que, até 2022, não terá mais usinas nucleares em funcionamento em seu território. Novas fontes de energia, incluindo renováveis, serão adotadas. A decisão foi tomada três meses deis do terremoto seguido de tsunami que abalou as usinas nucleares no Japão e 64 dias após derrota importante do governo de Angela Merkel para os verdes. O país, onde aconteceu a primeira fissão atômica da História, em 1939, torna-se assim a primeira potência industrial a prometer abrir mão da energia nuclear. O anúncio foi visto também como manobra eleitoral, e o governo da França – país que mais depende das usinas nucleares – advertiu que será impossível para a União Europeia atingir metas de redução de gases de efeito estufa sem este tipo de energia. O funcionamento dos reatores de Angra não deve ser afetado porque a empresa alemã vendeu sua participação no negócio a franceses.


Recuo nuclear
Alemanha divide opiniões ao anunciar plano para desativar as 17 usinas do país até 2022

BERLIM

A manobra é ousada - transformar-se na primeira grande potência industrial a renunciar à energia nuclear - e causou divergências não só na União Europeia, como dentro da Alemanha, onde críticos a acusam de ter caráter eleitoreiro. Apesar das opiniões contrárias, o governo da chanceler federal Angela Merkel anunciou ontem que todas as 17 usinas nucleares da Alemanha - país onde foi realizada a primeira fissão do átomo em 1939 - serão desativadas até 2022. Dizendo-se movida pelo drama do acidente nuclear de Fukushima, no Japão, Merkel seguiu o parecer de uma comissão de ética, prometendo investir em fontes de energia renováveis.
- Respeitamos a decisão, mas isso não vai nos fazer mudar nossa política nuclear - reagiu o primeiro-ministro da França, François Fillon, cujo país depende da produção nuclear para suprir 76% de sua demanda energética.
Os franceses advertiram que será impossível para a UE atingir suas metas de reduzir as emissões de gases-estufa sem o uso de "alguma energia nuclear". O ministro do Meio Ambiente da Suécia, Andreas Carlgren, também criticou a iniciativa alemã, deixando escapar uma preocupação de cunho econômico.
- Em vez de usinas nucleares, eles vão construir novas usinas de carvão e gás, e importar energia da França - disparou o sueco.
Merkel anunciou o fim da era nuclear alemã após um encontro de mais de 13 horas que reuniu, além de integrantes do Gabinete, representantes dos partidos do governo e também da oposição - e sob forte pressão de cerca de 160 mil manifestantes que foram às ruas em 21 cidades do país no último fim de semana, exigindo que o governo acelerasse o processo de desnuclearização da Alemanha. O projeto, agora, será submetido ao Parlamento, onde deverá ser aprovado, pois Merkel conta com apoio da oposição na decisão.
- Acreditamos que podemos mostrar aos países que querem abandonar a energia nuclear que é possível crescer, criar empregos e prosperidade econômica optando por fontes renováveis de energia - declarou a chanceler federal, dona de um PhD em Física.

Governo diz que não há volta na decisão
Apesar do discurso em defesa de energia limpa, o governo não detalhou de que maneira vai substituir a energia nuclear - apenas citou metas gerais de aumentar dos atuais 17% para 35% a participação das fontes renováveis na matriz energética nacional, além de diminuir em 10% o consumo de energia em seu território. Até março passado - quando oito das usinas mais antigas foram desligadas em caráter provisório - 23% da energia usada na Alemanha vinham dos complexos nucleares do país. Segundo o ministro alemão de Meio Ambiente, Norbert Röttgen, essas instalações tiveram as atividades suspensas logo após o acidente nuclear no complexo japonês de Fukushima e já não vão mais retomar as atividades.
De acordo com o cronograma do governo, as outras centrais atômicas deverão continuar operando até 2021 - sendo que as três unidades mais modernas poderão, eventualmente, seguir produzindo energia até 2022 caso haja problemas de abastecimento elétrico durante a transição. O fim da era nuclear, no entanto, é irreversível, afirmou Röttgen.
- Foi um debate político. Não houve discussão com representantes do setor econômico ou empresas fornecedoras de energia, e não haverá cláusulas de revisão - garantiu, enfático.
Ele lembrou que a medida também faz parte do projeto de reduzir as emissões de gases-estufa da Alemanha em até 40%. Analistas, porém, alertam que usinas termelétricas a carvão terão de aumentar sua atividade e, provavelmente, crescerá a demanda pela energia de usinas nucleares nas vizinhas República Tcheca e França.
A mudança súbita de postura ocorre apenas nove meses depois de o governo de Berlim anunciar a ampliação do prazo de funcionamento das usinas nucleares do país por pelo menos 12 anos. Mas, o acidente provocado pelo terremoto seguido de tsunami no Japão, em março, segundo Merkel, influenciou na decisão alemã de rever sua matriz energética.
A decisão remete à proposta semelhante feita há 11 anos pela coalizão verde e social-democrata do então chanceler federal Gerhard Schroeder - que aprovara, à época, o fim da era nuclear até 2021. Muitos veem na mudança de Merkel, cuja popularidade vem caindo, uma manobra para conquistar votos de opositores, sobretudo no Partido Verde, que lhe impôs uma das mais duras derrotas ao vencer as eleições regionais, em março, em Baden-Wurtemberg, reduto eleitoral conservador há 50 anos.
- Não acho que ela vá arrebatar muitos votos dos verdes, que vinham promovendo essa ideia há décadas. Mas com seus aliados Democratas Livres (FDP) tão fracos e Merkel procurando novos parceiros, a questão atômica era um obstáculo importante a ser removido - observa o cientista político Carsten Koschmieder, da Universidade Livre de Berlim.
Ativistas comemoraram o fim da era nuclear, mas Merkel não escapou de críticas. Classificando a liderança da chanceler federal de confusa e oportunista, a revista "Die Zeit" lamentou a "falta de direção" do partido governista, a União Democrata Cristã (CDU). Já o diário "Financial Times Deutschland" destacou líderes regionais criticando a CDU por acreditarem que o partido deveria "seguir suas ideias e não pesquisas de opinião".
A pressão virá, ainda, do poderoso lobby nuclear alemão, que não hesita em lembrar o fantasma de apagões, sobretudo no inverno. O presidente da Federação de Indústrias da Alemanha, Hans-Peter Keitel, foi um dos primeiros a se manifestar: pedindo ao governo que não crave a data definitiva para dar fim às usinas, mas que tenha flexibilidade para observar os problemas nos próximos anos - além, é claro, do aumento no preço da energia.


Decisão do governo Merkel não afeta usinas no Brasil
Principal fornecedora de equipamento importado para o projeto de Angra III é a empresa francesa Areva

Graça Magalhães-Ruether* e Renato Grandelle

BERLIM e RIO. A decisão do governo alemão de abrir mão da energia atômica no futuro não afetará as operações de usinas nucleares em construção e em operação na central de Angra dos Reis. A avaliação é de Aquilino Senra, professor de engenharia nuclear da Coppe/UFRJ. A parceria entre os dois países nesta área data de 1975, quando foi assinado o Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, que previa a transferência de tecnologia. Mas, na prática, até hoje apenas Angra II saiu do papel com projeto da alemã Siemens/KWU. Angra I foi planejada pela americana Westinghouse.
O projeto de construção de Angra III ficou parado por mais de 20 anos, até ser retomado durante o governo Lula. Nesse intervalo, a Siemens/KWU chegou a se associar em parceria com a empresa francesa Areva para a produção de reatores, mas acertou neste mês sua saída do negócio com a venda de 34% da sua participação no consórcio nuclear. Na prática, os franceses são os responsáveis pelo fornecimento de material. Um dos sinais do interesse da França pelo empreendimento foi a captação feita no início do ano pela Eletrobrás para custear a importação de equipamentos. Um grupo de bancos liderados pelo Société Générale concedeu empréstimo de até 1,5 bilhão com prazo de até 30 anos.
Com o longo intervalo entre planejamento e execução, o projeto original de Angra III foi repaginado, o que inclui novidades na instrumentação e no controle digital, já assinados pela Areva. Além disso, a indústria nacional deve responder por 60% dos componentes da usina.

Mudança reduz importância da indústria atômica alemã
A indústria atômica alemã, que já foi exportadora de tecnologia para o mundo inteiro, perde ainda mais em importância após a decisão do governo de fechar a última usina até o ano de 2022. A decisão política de abandonar o uso da energia atômica, no entanto, não é inédita. Em 2000, o governo do então chanceler Gerhard Schroeder, uma coalizão do Partido Social Democrata (SPD) com os verdes, decidiu fechar as usinas, medida que foi revogada parcialmente pelo governo conservador-liberal da chanceler Angela Merkel. Em outubro do ano passado, ela resolveu prolongar o uso das usinas, uma forma de anular a decisão do governo anterior. Poucas semanas depois da nova lei atômica passar no Parlamento, a tragédia de Fukushima fez o governo de Merkel voltar atrás.
Diante da iniciativa anterior, Senra reagiu com ceticismo à decisão anunciada ontem. Para o professor, o país europeu teve reação similar após a tragédia de Chernobyl, na Ucrânia. Para o especialista, a energia nuclear alemã é "tecnicamente viável, mas não politicamente viável".
- O governo alemão pensou em abdicar dessa energia em, no máximo, 30 anos, quando a vida útil das energias nucleares já em operação chegaria ao fim - lembra. - Mas depois viu-se que elas poderiam durar mais e, por algum motivo, elas estão aí até hoje.
Na indústria alemã, porém, a tecnologia atômica já vinha sendo avaliada como de vida curta desde a primeira decisão, do governo Schroeder. Um exemplo dessa estratégia é o caso da própria Siemens, que passou a concentrar interesses na produção de centrais focadas em outras fontes de energia. Segundo Sylvia Kotting-Uhl, deputada do Partido Verde, pouco antes de vender a sua parte do consórcio a Siemens entrou com um pedido de garantia Hermes (garantia do governo federal alemão para crédito para exportação de produtos alemães) para um empréstimo de 1,4 bilhões para a construção de Angra III. O negócio foi bastante criticado pelos partidos de oposição.
Os opositores criticaram a decisão da garantia pois avaliam que o empreendimento pode ser considerado de risco elevado. A localização é o principal fator de críticas. Apesar da resistência ao crédito e ao projeto em si, Sylvia Kotting-Uhl afirma que o projeto não deve ser afetado pela decisão recente do governo. Os verdes pretendem lutar por uma nova lei que proíba a exportação da tecnologia nuclear.
-- O que não é bom para a Alemanha não deve ser bom também para o Brasil - disse.
Angra III deve entrar em operação no fim de 2015. Antes do desastre nuclear em Fukushima Daiichi, no Japão, o governo brasileiro ainda estudava a construção de uma nova central nuclear, mas não há local definido. O governo chegou a conduzir um estudo para mapear os locais capazes de receber o empreendimento.


TRAGÉDIA DO VOO 447:
BEA confirma resgate de 75 corpos

A operação de resgate dos corpos das vítimas do acidente com o voo 447 da Air France (Rio-Paris) retirou mais 75 corpos do mar. Desde que as buscas no Atlântico foram retomadas, em 21 de maio, já são 77 resgatados. Ontem pela manhã, o presidente da Associação de Vítimas Brasileiras, Nelson Marinho, recebeu um comunicado do Escritório de Investigações e Análises (BEA, na sigla em francês) sobre as buscas. Segundo Marinho, somando com os 51 resgatados na época do acidente, em maio de 2009, já são 128. Faltam ainda 100 vítimas.
— Somente quando todos forem resgatados, as identificações por DNA começarão a ser feitas — disse Marinho.


CAMPANHA DO DESARMAMENTO
Exército e polícia não se entendem sobre armas
CPI quer destruir 90 mil unidades acauteladas na Dfae

Gustavo Goulart

O presidente da CPI das Armas, deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), inicia hoje um movimento para destruir 90 mil das 150 mil armas acauteladas na Divisão de Fiscalização de Armas e Explosivos (Dfae), da Polícia Civil. Ontem, em mais uma reunião da CPI, ficou clara a falta de informação entre o Exército e a Polícia Civil. Militares disseram que já têm condições de destruir 400 armas por dia e que não sabiam da grande quantidade disponível na Dfae para ser inutilizada. Freixo disse que fará contato com o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, e com o presidente do Tribunal de Justiça, o desembargador Manoel Alberto Rebêlo dos Santos, para que seja realizada uma reunião no Comando Militar do Leste (CML) a fim de agilizar o processo de destruição das armas apreendidas.
O diretor da Dfae, Cláudio Vieira, já havia admitido à CPI haver falhas no sistema de acautelamento de armas e que o depósito já estava saturado. Ontem, Vieira afirmou que não sabia como contatar o Exército. Segundo ele, as armas disponíveis já passaram por todas as fases do processo de acautelamento. As armas serão fotografadas e prensadas. Depois, serão novamente fotografadas e incineradas em grandes fornos, como o da CSN ou da Gerdau.



AEROPORTOS
Com real forte, estrangeiras apostam em 8 novos voos fora do eixo Rio-SP
Gargalo em Guarulhos faz aéreas buscarem Brasília, Porto Alegre, Curitiba e Salvador

Geralda Doca e Danielle Nogueira

BRASÍLIA e RIO. Está começando no Brasil um movimento de desconcentração de voos internacionais, rumo a outros aeroportos fora do eixo São Paulo (Guarulhos)-Rio (Galeão). Depois das capitais do Nordeste que têm vocação turística, as companhias aéreas, sobretudo estrangeiras, miram outros centros. Oito novas rotas para o exterior, aprovadas recentemente pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) estão prestes a entrar em operação, a partir de Porto Alegre, Brasília, Curitiba e Salvador, com ofertas para fora do país.
Duas companhias estreiam no aeroporto de Brasília: a Pluna, fazendo a rota para Montevidéu, e a Copa, para o Panamá. A portuguesa TAP fará a rota Porto Alegre-Lisboa, que será inaugurada no próximo dia 12, seu décimo destino no país. Da capital gaúcha, será possível também viajar para o Panamá, pela Copa, e para Buenos Aires, pela Aerolíneas Argentinas. Em Curitiba, a Aerolíneas fará novo voo para Buenos Aires. E, de Salvador, haverá uma ligação direta da Condor para Frankfurt.
A American Airlines também aguarda autorização do governo brasileiro para iniciar em Manaus quatro voos diretos para Miami. E a Gol planeja voar para Buenos Aires a partir de Brasília, com escala em Porto Alegre, que já funciona como hub (centro de distribuição de rotas) nos destinos operados pela companhia para América do Sul.

Na rota Porto Alegre-Lisboa, pela TAP, 20 mil reservas
Segundo o professor de Transporte Aéreo da UFRJ Respício do Espírito Santo Jr., a desconcentração de voos é motivada por vários fatores: saturação dos terminais, sobretudo paulistas, o que obriga as companhias a buscarem alternativas, crescimento da economia e da renda dos brasileiros e estímulo do real valorizado às viagens internacionais.
Para ele, mantido o cenário atual e com a política de céus abertos (sem limite de voos para as empresas estrangeiras), a tendência é que o movimento se fortaleça. O professor lembrou que autoridades de países desenvolvidos (Estados Unidos e Canadá, principalmente) intensificaram campanhas no Brasil para captar o turista brasileiro, que "está bem", enquanto os países desenvolvidos ainda se ressentem da crise financeira internacional. Além disso, os eventos da Copa e das Olimpíadas atraem a atenção do mundo para o país.
A portuguesa TAP é uma das pioneiras nesse processo de desconcentração. Com a inauguração do voo Porto Alegre-Lisboa, a empresa chega à Região Sul, onde ainda não atuava. Serão quatro frequências semanais, e cerca de 20 mil pessoas já fizeram reserva para a nova rota. Um bilhete de ida e volta, se comprado ontem para o fim de junho, sairia a R$1.714, considerando as tarifas mais baixas disponíveis.
- Percebemos que havia mercados importantes que não eram atendidos no Brasil. Estamos analisando, agora, a Região Norte - disse Mario Carvalho, diretor geral da TAP para América do Sul.
Hoje, a TAP tem voos diretos de Lisboa para Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, Natal, Recife, Fortaleza, Salvador, Belo Horizonte e Brasília. Quase 30% do total de passageiros transportados pela companhia no mundo têm o Brasil como origem ou destino.
Até recentemente, só era possível fazer voo direto de Brasília para o exterior pela TAP, pioneira no terminal brasiliense (2007). Em 2009, foi a vez da Delta (Atlanta), e, em 2010, passaram a operar no aeroporto de Brasília American Airlines (Miami), Taca e LAN (Lima), além da TAM, no trecho para Miami.
Os voos saem lotados, disse a empresária Gabriela Berlin, dona de uma agência de viagens em Brasília. Segundo ela, as companhias estão captando passageiros não só da capital, mas também de todo o Centro-Oeste e das regiões Sul e Norte, pois o aeroporto de Brasília é um dos maiores do país em conexões.
- Com aviões um pouco menores (de 94 a 224 lugares) e ocupação elevada, essas companhias inovaram com uma classe executiva mais acessível, que não chega a ser uma Brastemp, mas é muito bacana e está fazendo sucesso.
Para a funcionária pública Eliane Costa, voar direto de Brasília para o exterior, sem ter de fazer baldeação em São Paulo ou no Rio, é uma "facilidade fantástica". Representa economia de tempo e menos risco de extravio de bagagem:
- Hoje, você gasta cerca de oito horas para chegar a Lisboa, por exemplo. Antes, levava ao menos mais quatro horas.
Segundo o superintendente de Relações Internacionais da Anac, Bruno Dalcolmo, a desconcentração de voos é uma tendência que deve ser confirmada nos próximos anos:
- Já há novos voos pleiteados para cidades como Belo Horizonte, Brasília, Manaus e as capitais do Nordeste. Estas cidades devem se consolidar como pontos de acesso ao mercado brasileiro.
A uruguaia Pluna é uma das que estão apostando na capital federal. No próximo dia 16 de junho, a aérea inaugura a rota Montevidéu-Brasília, seu nono destino no país. Serão cinco frequências semanais. Uma passagem de ida e volta sai a partir de US$299 (cerca de R$480 sem taxas), para viagens iniciadas até o dia 22 de junho.
- O bom momento da economia brasileira, com ganho de renda da população, e o dólar mais baixo favorecem o lançamento de novos voos no Brasil. Queremos fazer de Montevidéu um hub (centro de distribuição de voos) no Cone Sul para os viajantes brasileiros - disse Roberto Luiz, diretor de Vendas e Alianças da Pluna no Uruguai.

Pluna: fluxo de passageiros cresce 82% com novos voos
Em fevereiro, a empresa iniciara o trajeto Belo Horizonte-Montevidéu, que bateu a meta de ocupação em apenas quatro meses. Por isso, a Pluna também vai ampliar as frequências para a capital mineira de seis para 14 voos semanais a partir de outubro. Com a estratégia de descentralização de voos, o número de passageiros transportados pela aérea no Brasil cresceu 82% no primeiro trimestre deste ano, ante igual período de 2010.
Apesar do movimento de descentralização, o professor da Coppe-UFRJ Elton Fernandes destacou que os voos ainda continuam muito concentrados no eixo Rio-São Paulo:
- Esse movimento ainda é muito tímido. Mas as empresas estão experimentando, tentando aumentar a conectividade (ligações entre aeroportos).
Entre os aeroportos que deverão servir de entrada e saída do país, ele aposta em Porto Alegre, devido à tradição de voos para países da América do Sul, e Salvador, um dos principais centros de distribuição de rotas para o Nordeste. Também estão na lista Recife e Confins (Belo Horizonte), além de Brasília.


IMPASSE NO CAMPO
Governo agora diz que vai priorizar proteção a ameaçados de morte
Outra providência será intensificar operação de combate a desmatamentos

Chico de Gois e Catarina Alencastro

BRASÍLIA. Depois de quatro mortes por conflito de terra na semana passada, o governo federal fez ontem uma reunião de emergência para adotar medidas contra os assassinatos na região amazônica. Coordenada pelo presidente em exercício, Michel Temer, e com a presença de três ministros e três secretários executivos, o grupo decidiu intensificar a operação Arco de Fogo, lançada em fevereiro de 2008 com o objetivo de coibir o desmatamento ilegal na Amazônia. Além disso, de imediato, o governo liberou recursos para o pagamento de diárias a fiscais e deslocamento de pessoal para atuar no local.
Segundo o secretário de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério do Meio Ambiente, Roberto Vizentin, também foi decidido que, agora, a prioridade máxima será a proteção de pessoas ameaçadas. Foi posta sobre a mesa a lista da Pastoral da Terra com nome de pessoas ameaçadas e denúncias recebidas pela polícia. O cadastro será atualizado emergencialmente para que ninguém fique fora da proteção, cuja estratégia será montada pela Polícia Federal, também presente à reunião.
- O governo está preocupado, vigilante. Lamentavelmente as ameaças, na maioria das vezes, são concretizadas. O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) disse que a prioridade máxima é dar proteção às pessoas que estão marcadas para morrer. Todas as medidas necessárias serão tomadas para protegê-las. Mas o que pode impedir o alastramento da violência é a oferta de atividades sustentáveis - disse Vizentin.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence, porém, não soube dizer de que forma a Arco de Fogo será incrementada, nem quantos fiscais a mais serão enviados à área de conflito. Florence informou que o governo também irá instalar dois escritórios de regularização fundiária no Amazonas para agilizar os processos em terras da União, um dos principais problemas na região. O governo federal também quer dividir as responsabilidades com os governos estaduais sobre a segurança nos assentamentos. Para isso, estão sendo chamados a Brasília os governadores do Amazonas, Roraima e Pará.
- O governo tomou uma série de decisões imediatas. Está no Diário Oficial de hoje (ontem) a liberação de recursos (R$500 mil) para reforço de orçamento na parte de diárias no âmbito do MDA e do Incra. Nós também tomamos a decisão da constituição de um grupo interministerial que se reunirá diariamente nos vários níveis de governo, intensificando as providências para implantação imediata de assentamentos na Amazônia - afirmou Florence.

Governo não associa crimes com aprovação do código
O ministro disse que o governo federal não associa os crimes no campo com a votação do Código Florestal, que beneficiou os agropecuaristas em detrimento dos ambientalistas:
- O debate sobre o Código Florestal é outra dinâmica. Não são de agora o conflito de terra e demandas insustentáveis de desenvolvimento na região.
As medidas definidas ontem ainda serão submetidas à presidente Dilma, mas Temer já garantiu que não haverá contingenciamento de recursos para que a estratégia montada seja cumprida. Presente à reunião, o ministro interino da Justiça, Luiz Paulo Barreto, confirmou que a contenção de despesas anunciada pelo governo em março não irá prejudicar as ações no campo. E informou que policiais civis da Força Nacional de Segurança irão ajudar os estados na solução de crimes que sequer são investigados.


Agronegócio comemora sob protestos
Produtores elogiam Código e dizem que texto será aprovado no Senado

Marcelle Ribeiro

SÃO PAULO. Enquanto integrantes do Greenpeace protestavam ontem contra a aprovação do Código Florestal em frente a um hotel de São Paulo, representantes do setor de agronegócio comemoravam a votação do projeto na Câmara dos Deputados e se mostravam otimistas em relação à votação da matéria no Senado, em evento realizado dentro do mesmo edifício. Para eles, o Senado vai manter o que foi votado na Câmara, e a presidente Dilma Rousseff não vetará a proposta.
O XXI Fórum da Associação Brasileira de Agronegócio (Abag) reuniu cerca de 160 produtores agrícolas, que elogiaram o relator do projeto, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Ele cancelou sua participação no encontro na última hora.
- Temos certeza que o Código vai ser aprovado sim (no Senado). Pode ser que tenha alguns ajustes. Tem que ser aprovado, porque não podemos continuar com essa situação de insegurança jurídica - disse o presidente da Abag, Carlo Lovatelli. - O Código pode não ser a melhor peça para gregos e troianos, mas é a que vamos seguir. Depois, pouco a pouco, à medida que as coisas forem andando, vamos resolver caso a caso.
Segundo Lovatelli, que se disse satisfeito com o texto, não seria "politicamente conveniente" Dilma vetar o projeto.
Para o superintendente do Instituto para o Agronegócio Responsável (Ares), Ocimar Villela, o texto de Aldo é bom porque equilibrou o interesses ambientais com os de pequenos, grandes e médios proprietários e com a questão econômica.
- A emenda vai complicar um pouco. Se ele (o projeto) chegasse sem a emenda, seria mais fácil - disse Villela, em referência à emenda 164, que permite a manutenção de áreas de agropecuária em locais destinados à preservação.


Sarney: contra anistia a desmatadores
Presidente do Senado dá sinais de que PMDB na Casa pode votar com governo

BRASÍLIA. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), disse ontem ser contra a Anistia a proprietários rurais que desmataram em Áreas de Preservação Permanentes (APPs), considerada um dos pontos mais polêmicos da reforma do Código Florestal aprovada semana passada pela Câmara. Sarney disse, porém, que é um ponto de vista pessoal, mas sinalizou que o PMDB do Senado poderá aceitar a proposta defendida pelo governo, não a adotada pelos peemedebistas da Câmara.
- Os desmatadores não podem ser Anistiados - disse Sarney. - Não conheço o texto aprovado na Câmara, mas tenho meus pontos de vista. Qualquer lei que possa beneficiar quem queira destruir, acho errado.
O líder do governo na Casa, Romero Jucá (PMDB-RR), antecipou ontem que deverá encaminhar ainda hoje à presidente Dilma Rousseff e à Casa Civil um pedido, assinado pelos líderes partidários, solicitando a prorrogação do prazo estabelecido pelo decreto 7.029/09, que autoriza a aplicação de multas aos produtores rurais que descumpriram a legislação ambiental, mas só a partir de 11 de junho.
Sarney confirmou que o Código Florestal deverá tramitar no Senado por pelo menos três comissões: a de Constituição e Justiça, a de Agricultura e a de Meio Ambiente.



Desde 1996, 212 assassinatos no Pará
Em cada dez mortes em conflitos por terra no estado, sete são na região de Marabá

MARABÁ E NOVA IPIXUNA (PA). Palco do assassinato de 19 sem-terra em 1996, no episódio que ficou conhecido como o massacre de Eldorado dos Carajás, o Pará continuou escrevendo páginas horrendas de violência no campo. De lá para cá, nada menos que 212 pessoas foram assassinadas em conflitos agrários, a exemplo de José Cláudio e Maria do Espírito Santo. Na média, desde 1996, foram 14 execuções por ano. Outras 809 sofreram ameaças de morte. Os dados constam de levantamentos da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que avalia a situação na região de Marabá, onde o casal de ambientalistas foi morto, como a pior do estado.
- As pessoas têm a impressão de que, depois de Carajás, a situação melhorou. Não é verdade. Pecuaristas, madeireiros, monocultores exercem uma pressão violenta. A consequência tem sido os mortos - avalia o advogado da CPT, José Batista.
Conforme os relatórios da Pastoral da Terra, 463 fazendas foram ocupadas no estado desde 1996. Nessas áreas, 75,8 mil famílias se instalaram, e 31,5 mil já foram despejadas. Um permanente caldeirão de embates que já resultaram em 799 prisões. Segundo Batista, em cada dez mortos em conflitos no estado, sete são na região de Marabá. Um dos motivos é a avançada devastação na área. Restam muito poucas áreas de florestas, o que aumenta a cobiça pela madeira remanescente.
Além disso, afirma o advogado, a perspectiva de mudanças no Código Florestal favoreceu as derrubadas. O assentamento Praialta-Piranheiras é uma das poucas áreas preservadas na região. José Cláudio e Maria, assim como outros assentados, trabalhavam na produção de açaí, castanha-do-pará, cupuaçu e andiroba, além de plantar e pescar. Rondando áreas cada vez mais devastadas de floresta, a atividade madeireira rende lucros vultosos, apesar dos riscos. Uma castanheira negociada no mercado internacional pode render R$22 mil de lucro. Os galhos finos são transformados em carvão e vendidos à indústria do ferro-gusa.
(F.F.)


EDITORIAL
O desafio de preservar o sucesso das UPPs

Em momento algum desde que as Unidades de Polícia Pacificadora começaram a ser implantadas no Rio de Janeiro prosperou a suposição de que pudesse ser um fim em si o programa de ocupação de favelas por policiais. O objetivo imediato das UPPs é cristalino: trata-se de uma ação para atacar demandas emergenciais - entre outras, a violência decorrente da criminalidade, o controle territorial por traficantes bem armados e a subjugação de populações inteiras por estes marginais, alguns inclusive encastelados na banda podre das próprias polícias. Assim, objetiva-se resgatar comunidades do jugo do crime organizado e preparar o caminho para ações de Estado, com a oferta de serviços e de iniciativas de inclusão social dos moradores. A meta estratégica é igualmente clara: tirar as favelas da marginalidade urbanística e social, e trazê-las para a normalidade da República.
Por isso, se causam preocupação as declarações de José Mariano Beltrame, de que as UPPs estão chegando a uma encruzilhada, não se devem buscar as razões do problema numa hipotética falência das unidades de intervenção. A chave para entender o sentido da entrevista do secretário de Segurança do Rio ao GLOBO está numa definição emblemática: "Nada sobrevive só com segurança. Não será um policial com um fuzil na entrada de uma favela que vai segurar, se lá dentro as coisas não funcionarem. É hora de investimentos sociais." O alerta é grave, porque toca no ponto crucial do programa das unidades pacificadoras - cuja presença nas áreas ocupadas é, por princípio, apenas a fase inicial, preparatória, de uma estratégia mais ampla, de reincorporação definitiva dessas regiões ao território da legalidade institucional.
É grave a ameaça de que um programa, até aqui bem-sucedido na área de segurança, atole nos descaminhos da omissão que sempre marcou as relações do Estado com as favelas. O risco para o qual Beltrame chama a atenção está na promessa até agora não cumprida - ou não atendida inteiramente - de uma "invasão social" do poder público, com uma rede de serviços e ações de cidadania que deveriam ocorrer em seguida à ocupação das comunidades.
A pacificação de 17 favelas, com a asfixia do tráfico de drogas e a desmobilização do crime organizado que nelas operava, é incontestável evidência do sucesso das UPPs, expresso nas estatísticas sobre a violência na cidade. Um êxito que, infelizmente, no segundo mandato do governador Sérgio Cabral estimulou o apetite clientelista de forças políticas ligadas ao aliado PT. Usando o projeto como moeda de troca fisiológica, esses grupos pressionaram o governo do estado a mudar o comando do programa na área social - o que ajuda a explicar, em parte, a lentidão das necessárias iniciativas que precisam ser empreendidas para consolidar o programa de inclusão social reclamado por Beltrame. É fundamental que se veja na advertência do secretário de Segurança um inadiável convite à ação e à integração dos organismos (estado, município, iniciativa privada) cuja participação é imperiosa nos atos de reinserção social das favelas pacificadas, e, por óbvio, naquelas por pacificar. E é crucial que os setores chamados ao compromisso o façam logo. Por enquanto, a encruzilhada à qual Beltrame se refere é um perigo virtual. Cumpre evitar que vire um real beco sem saída.


DOS LEITORES

Áreas pacificadas. E agora?
 Solidarizo-me com o secretário de Estado de Segurança, José Mariano Beltrame. Não bastam medidas policiais e a presença das Forças Armadas nas comunidades ditas pacificadas: sem investimentos sociais, as UPPs poderão não sobreviver. Chegou a hora de o Estado se fazer presente com investimentos na área social. Faltam ainda saneamento básico, escolas e creches, postos de saúde de qualidade para que se possa chamar essas favelas de “bairros”, como quer o prefeito Eduardo Paes. Concordo com os moradores: mesmo as comunidades pacificadas ainda estão longe de se transformar em bairros.
MARIA ANGELA MADEIRA RIBEIRO - Rio


PANORAMA POLÍTICO
Ilimar Franco

Entrando em cena
Esnobado pela articulação política petista do governo Dilma, o vice Michel Temer está tirando todo o proveito da crise Palocci e da votação do Código Florestal. Ontem, Temer promoveu jantar, no Jaburu, de aproximação com a bancada independente do partido, simpática às teses ruralistas. Hoje à noite, ao lado do líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves (RN), conversa sobre o futuro com o governador Eduardo Campos (PSB-PE).

Se mexendo
Desde que assumiu, a ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente) está indo pela primeira vez acompanhar de perto uma operação de fiscalização na Amazônia. Foi preciso o governo perder, na Câmara, a votação do Código Florestal.

ESTAMPA!
O sucesso da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), uma das mais tenazes defensoras do governo Dilma, mexeu com os brios do marido, o ministro Paulo Bernardo (Comunicações). Ele trocou sua foto no Twitter, colocando uma de quando ele tinha 20 e poucos anos. Ontem, a presidente Dilma Rousseff e o ministro tiveram uma longa conversa, no avião retornando de Montevidéu, sobre as mudanças na Telebrás e novas missões.
"Ela é de inteira responsabilidade de Palocci, que já deveria ter fornecido as informações sobre o seu rápido enriquecimento" - Walter Pinheiro, senador (PT-BA), ao negar que a crise seja do governo ou do PT


31 de maio de 2011 - ESTADO DE SÃO PAULO


DESTAQUE DE CAPA
PMDB vê enfraquecimento de Palocci e cobra mudança na articulação política
Episódios da semana passada, sobretudo o aviso do chefe da Casa Civil de que ministros peemedebistas seriam demitidos, abalaram relação de confiança com o governo; Temer recebeu ontem correligionários na residência oficial e aguarda gestos de Dilma

Christiane Samarco / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

O PMDB quer mudanças na articulação política do Palácio do Planalto e duvida da sobrevivência no cargo do chefe da Casa Civil, Antonio Palocci. O diagnóstico, que atinge em cheio o núcleo político do governo, começou a ser propalado ontem por líderes do partido como efeito colateral do desgaste provocado pelas cobranças ásperas do Planalto ao partido depois da derrota na votação do Código Florestal. A cúpula peemedebista avalia que houve quebra de confiança na relação com o PT e a presidente Dilma Rousseff.
Foi neste clima que Michel Temer reuniu ontem a bancada do PMDB no Senado para um jantar no Palácio do Jaburu, residência oficial da vice-presidência. Dos 18 senadores do partido, apenas Jarbas Vasconcelos (PE) avisou que não compareceria. Pela manhã, a presidente entregou o cargo interinamente a Temer antes de viajar para o Uruguai.
Havia sido combinado que os dois fariam da ocasião um momento de armistício entre o PMDB e o governo após os sucessivos desencontros de articulação política da semana passada, mas a foto oficial divulgada pela Presidência mostra uma tentativa de um abraço distante.
Apesar dos esforços de reconciliação desencadeados, peemedebistas já começam a discutir como será o reforço na interlocução política do governo. O partido entende que o rearranjo interno já está em curso e que, por isso mesmo, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, ampliou seu raio de ação e ganhou mais peso na interlocução do Planalto.

Personagem. Dirigentes do partido apostam que o ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, entrará em campo nos próximos dias para reforçar o time da interlocução com o Congresso. Será uma solução ad hoc, que vai durar enquanto Palocci estiver "mergulhado".
A própria viagem de Cardozo na comitiva oficial de Dilma ao Uruguai foi considerada um sintoma dessa atribuição informal. Não apenas por conversar bem com o vice Temer, mas pelo conhecimento que tem do Congresso (ele foi deputado) e pelo trânsito fácil junto aos líderes da base aliada, conquistado nos tempos de atuação parlamentar.
É neste cenário que se apresenta ao PT e ao governo o desafio de administrar a indignação dos peemedebistas por conta do telefonema de Palocci a Temer na semana passada. O ministro ameaçou demitir ministros do PMDB, depois da derrota do Executivo na votação do Código Florestal.
O script do PMDB está montado. Temer aguarda um chamado de Dilma, hoje, para uma conversa definitiva sobre a crise.

Foto. Ontem, na Base Aérea de Brasília, a presidente e seu vice conversaram por menos de cinco minutos. A assessoria palaciana, de Dilma e Temer, chegou a ventilar que ambos posariam para uma foto para demonstrar a pacificação na base e com o PMDB. Não foi o que se viu. A impressão geral, após divulgada a foto, foi de uma cena protocolar, e não da aliança pacificada.
No episódio da ameaça de demissão aos ministros do PMDB, o que mais indignou os peemedebistas foi o fato de Palocci ter acionado o viva-voz para que duas testemunhas petistas participassem da conversa com o vice: o ministro de Relações Institucionais, Luiz Sérgio, e o líder do governo na Câmara, Candido Vaccarezza (PT-SP). Este é mais um ingrediente no caldeirão da crise que, na avaliação geral, só será superada se houver empenho de ambas as partes.

Lenha na fogueira. Num momento em que o governo busca arrefecer os conflitos na base, o secretário-geral da Presidência,Gilberto Carvalho, foi questionado, em entrevista à rádio Estadão/ESPN, sobre a contaminação da crise envolvendo Palocci nas ações de governo e disse que o Executivo "não depende" do Congresso para trabalhar.
"Evidente que nas relações políticas há um problema. Isso é inegável, não vamos fechar os olhos a isso. Mas quero dizer que uma coisa são essas relações, outra coisa são as ações do governo. Nós não dependemos do Congresso para seguir trabalhando", disse o ministro.

Lula vai à TV afagar PMDB e incomoda PT
No filme, que será exibido em rede nacional de rádio e tevê, ex-presidente agradece ao partido o apoio e a participação nos três governos petistas

Andrea Jubé Vianna, de O Estado S. Paulo

BRASÍLIA - Em meio aos esforços para contornar a primeira grande crise entre o governo Dilma Rousseff e seus aliados, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva gravou uma participação especial no programa institucional do PMDB, que vai ao ar nesta quinta-feira, 2 de junho. No filme, que será exibido em cadeia nacional de rádio e tevê, Lula agradece ao partido o apoio e a participação nos três governos petistas. Se agrada ao PMDB, a presença de Lula deixou petistas, pelo menos nos bastidores, incomodados.
O ex-presidente gravou sua aparição no último sábado, em São Paulo, depois de passar a semana em Brasília em reuniões e conversas com aliados, dedicado a desencorajar os descontentes de apoiarem a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a evolução patrimonial do chefe da Casa Civil, Antonio Palocci.
O líder do governo na Câmara, Candido Vaccarezza - que partiu para o confronto direto com peemedebistas durante a votação do Código Florestal na semana passada - disse que "acha bom" Lula aparecer no programa peemedebista, porque "o PMDB é o nosso principal aliado". O líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), acha "normal" a aparição de Lula entre os peemedebistas. "Tivemos uma diferença, mas isso não afeta a nossa aliança", minimizou.

Governabilidade. O filme apresenta o PMDB como o "partido da governabilidade", ligado às grandes causas do País, como a campanha pela redemocratização e em defesa da liberdade de imprensa. O partido pega carona nas bandeiras petistas, afirmando que vários programas sociais começaram no governo do ex-presidente José Sarney (PMDB) em 1985. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, aparece como responsável pela execução do programa Luz para Todos, que levou energia elétrica a milhões de brasileiros que vivem na zona rural.
Além do vice Michel Temer e do presidente do partido, senador Valdir Raupp (RO), os ministros da Agricultura, Wagner Rossi, da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Moreira Franco, e os líderes no Senado, Renan Calheiros (AL), e na Câmara, Henrique Alves (RN), são as estrelas do programa. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), não havia sido chamado para gravar sua participação no programa até esta segunda-feira, 30.


NOTAS&INFORMAÇÕES
Acesso difícil aos aeroportos

Mesmo com as facilidades do check-in online, passageiros de avião têm sido obrigados a sair de casa ou do trabalho rumo aos Aeroportos de Congonhas ou Cumbica com antecedência de duas a três horas, se quiserem vencer o trânsito caótico e superar o obstáculo da falta de vagas de estacionamento nos dois aeroportos, que às vezes exige deles longa espera. Diariamente, Congonhas recebe 42 mil passageiros e seu estacionamento tem apenas 2.970 vagas. Considerando que cerca de 10% delas são reservadas para funcionários, mensalistas e taxistas, vê-se o quanto a oferta é menor do que a demanda. Com o dobro do movimento de pousos e decolagens, o Aeroporto Internacional de São Paulo, em Cumbica, tem o mesmo número de vagas de estacionamento de Congonhas e, consequentemente, também o dobro de problemas para os motoristas que têm à disposição restritas opções de transporte para chegar lá.
As áreas de embarque e desembarque acabam sendo utilizadas por motoristas e, por isso, cresce o número de infrações por estacionamento ou parada nesses locais. No ano passado, o total de multas registradas em Congonhas subiu 31% em relação a 2009. Sem opções nas redondezas do Aeroporto de Cumbica, motoristas à espera de passageiros estacionam seus carros no acostamento da Rodovia Hélio Smidt e, por celular, monitoram a hora em que a pessoa chega à área de desembarque, onde podem então parar para pegá-la. Nos primeiros cinco meses do ano, 1.728 motoristas foram multados por causa dessa prática.
Grandes capitais do mundo interligam seus aeroportos e pontos de grande movimento no perímetro urbano por meio de eficientes redes de metrô e serviços especiais de ônibus e vans. Mas, em São Paulo, o governo estadual desistiu de construir o ramal de 3,7 quilômetros de extensão previsto para ligar o Aeroporto de Congonhas à rede do metrô, na Estação São Judas, deixando apenas o trecho de 7 quilômetros que fará a interligação com o Terminal Jabaquara. A decisão foi vista como um retrocesso por especialistas em mobilidade urbana. Quem quiser ir para a Avenida Paulista ou para o centro da cidade terá de se deslocar até uma das extremidades da Linha 1-Azul e enfrentar a lotação da estação mais movimentada da rede, com 90 mil passageiros por dia, antes de chegar ao destino. Certamente, a opção será descartada pela maioria dos passageiros que, assim, continuará preferindo os automóveis particulares e táxis, mantendo superlotados os estacionamentos e congestionadas as vias do entorno dos aeroportos.
Congonhas está a 9,5 quilômetros da região central, a 7,5 quilômetros da Avenida Paulista e a 4,5 quilômetros das Avenidas Luís Carlos Berrini e Brigadeiro Faria Lima, corredores onde se concentra parcela significativa de seus usuários.
Conforme a Companhia do Metropolitano, a decisão de excluir o ramal São Judas dos planos de expansão da rede do metrô decorre do fato de o aeroporto estar em processo de tombamento pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo. Isto impede que o aeroporto seja descaracterizado, o que, segundo a companhia, tornou o projeto extremamente complexo. A ligação do aeroporto com o metrô integra a Linha 17-Ouro, que ligará os bairros de Jabaquara e Morumbi, com conexões futuras com as Linhas 4-Amarela e 5-Lilás.
As respostas do setor de transporte público e de infraestrutura às necessidades da cidade sempre deixam a desejar. Um exemplo disso é o edifício garagem de Congonhas, inaugurado há cinco anos. O investimento de R$ 50 milhões aliviou por pouco tempo o trânsito do entorno do aeroporto. Em Cumbica, R$ 200 milhões são previstos para um projeto - parado por disputas no processo de concorrência - para aumentar a capacidade do estacionamento para 9,7 mil vagas.
A verdadeira solução para esses problemas só virá quando as autoridades, finalmente, decidirem investir para valer no transporte público de qualidade.


CONFLITO AGRÁRIO
Reação a conflito agrário é só burocracia
Vice comanda reunião na qual única proposta concreta é convocação de governadores e anúncio de parceria ainda sem data para ocorrer

Tânia Monteiro / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

Após quatro assassinatos de líderes ambientalistas na Amazônia, o governo reagiu ontem com uma nova edição da Operação Arco de Fogo, instituída em 2008 para combater o desmatamento ilegal, e uma coleção de medidas burocráticas. "Na ocasião, houve queda de desmatamento, com maior pacificação da região", justificou o ministro interino da Justiça, Luiz Paulo Barreto, ao anunciar a nova fase da Arco de Fogo. Com a viagem da presidente Dilma Rousseff ao Uruguai, o vice Michel Temer coordenou a reunião com objetivo de que fossem desencadeadas ações de governo para evitar novas mortes no campo.
Sem grandes ações de impacto, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence, anunciou apenas a convocação de governadores para a realização de ações conjuntas, que ainda não têm data para ocorrer.
Também não foi realizada a reunião do grupo interministerial, prevista para a tarde de ontem, que seria criado para acompanhar as investigações sobre assassinatos de líderes agrários, particularmente das últimas quatro mortes no campo ocorridas na semana passada, e definir a atuação de cada órgão no combate à criminalidade na Região Norte do País.
Da mesma forma, a criação de uma Área sob Limitação Administrativa Provisória (Alap), via decreto, que funcionaria como uma espécie de intervenção federal em áreas do Acre, Amazonas e Rondônia, não foi anunciada e só será discutida com a presidente Dilma Rousseff, que estava ontem no Uruguai.
"Debatemos o assunto. Diligenciamos estudos técnicos sobre isso que estarão sendo desenvolvidos ao longo do dia e outras providências virão à mesa para decisões no dia de amanhã", declarou o ministro Florence. Ele disse ainda que os subsídios estão sendo providenciados. "Instalamos uma sala de situação para monitorar diariamente, nos vários níveis de governo o andamento das investigações e das providências no âmbito de políticas agrícola e agrária, política de sustentabilidade ambiental", completou Florence.

Ofensiva. Florence justificou o fato de as ações estarem sendo retomadas somente agora, depois de passados cinco meses do início do governo, apelando para o período de "transição do governo". "Nós já tínhamos decidido dar continuidade à implementação da operação e hoje (ontem) pela manhã estamos tomando providência e à tarde faremos diligência de operações", afirmou.
Questionado sobre a possibilidade de o governo oferecer proteção policial a outros ameaçados, como os líderes rurais que morreram na semana passada, o ministro interino Luiz Paulo Barreto disse que os casos mais críticos serão avaliados. "Vamos estudar caso a caso e certamente intensificar a proteção às pessoas que estão sendo mais ameaçadas", afirmou.

Lista. Hoje, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) deve apresentar à Secretaria Especial de Direitos Humanos uma lista de líderes agrários que estão sob ameaça de morte.
O ministro interino da Justiça anunciou também que vai ter apoio do governo federal para ações de manutenção da ordem e investigação dos assassinatos. E negou que a redução de recursos tenha impactado a fiscalização da região.
De prático, o ministro Florence anunciou que o Diário Oficial da União publicou a liberação de R$ 508 mil para gastos de diárias e deslocamento de pessoal do Ministério do Desenvolvimento Agrário para as áreas onde ocorreram os assassinatos nos últimos.
E avisou que serão criados dois escritórios de regularização fundiária para avançar na regularização de terras da união que estão sob situação de conflito.


Suspeito de matar outro líder é preso em RO

Liege Albuquerque - O Estado de S.Paulo
ESPECIAL PARA O ESTADO / MANAUS

O principal suspeito de assassinar o líder do Movimento Camponês Corumbiara, Adelino Ramos, o Dinho, na sexta-feira passada, foi preso ontem pela Polícia de Rondônia. De acordo com a assessoria da Polícia Civil, Ozeas Vicente da Silva, de 34 anos, foi detido em um fazenda em Vila Extrema, onde estava escondido.
A polícia já investigava o suspeito e havia decretado sua prisão preventiva. Quando os policiais chegaram à fazenda, Silva não teve como fugir - as estradas e fronteiras foram fechadas -, e acabou se entregando.
O suspeito está detido em um quartel da Polícia militar na cidade de Nova Califórnia, também em Rondônia. Ele prestou depoimento ontem mesmo, mas até o fechamento desta edição a polícia não havia divulgado mais informações sobre o caso.
Segundo a assessoria, a polícia vai apurar o envolvimento de Silva no crime e, caso a suspeita seja confirmada, tentar entender suas motivações. O setor de inteligência da Polícia Federal (PF) está auxiliando a Polícia Civil de Rondônia a descobrir se o suspeito tem antecedentes criminais e envolvimento em outras ocorrências.
Remanescente do massacre de Corumbiara, Dinho foi executado na manhã da última sexta-feira, em Vista Alegre do Abunã, que fica na divisa entre Rondônia, Acre e Amazonas. Segundo a assessoria da Secretaria de Produção do Amazonas, ele estava vendendo verduras que produzia em um assentamento do Incra, quando foi morto a tiros. O assentamento fica ao sul de Lábrea, o município mais desmatado do Amazonas.
Dinho foi atingido por seis tiros, chegou a ser socorrido e levado para o hospital, mas não resistiu. De acordo com informações da secretaria, o agricultor vinha recebendo ameaças de madeireiros da região.
O movimento liderado por Dinho foi formado depois do massacre de Corumbiara, em fevereiro de 1996, com objetivo de dar continuidade às reivindicações dos camponeses sem-terra. / COLABOROU MARCELA GONSALVES



ENTREVISTA
PADRE RICARDO REZENDE, Ativista agrário que atuou 20 anos no Pará
''O ideal é que os ameaçados tenham segurança''
Mesmo morando há 15 anos no Rio, padre conta que viveu 18 anos ameaçado de morte; ainda assim,ficou no Pará

Luciana Nunes Leal / RIO - O Estado de S.Paulo

No dia 16 de maio, a secretária nacional de Direitos Humanos, Maria do Rosário, foi apresentada ao líder camponês João Batista Galdino e à freira Marie Henriqueta Cavalcante, coordenadora da Comissão Justiça e Paz. Os dois estão ameaçados de morte no Pará e foram levados à ministra pelo padre Ricardo Rezende, que morou durante 20 anos no Estado. Embora viva no Rio há 15 anos, ele continua ligado aos movimentos sociais do Pará, para onde viaja pelo menos uma vez por ano.
Ele é personagem central do documentário Esse homem vai morrer - um faroeste caboclo, de Emilio Gallo, lançado há duas semanas. O filme relata histórias de mortos e sobreviventes da região. "A ministra ficou muito preocupada. Disse que é uma prioridade da presidente Dilma superar os problemas no Pará", contou o padre, que também comentou recentes mortes no Pará e em Rondônia.

Essas mortes indicam a retomada de uma onda de violência na região?
O que surpreende é que num período muito curto tivemos quatro mortes. Não é raro ter morte, mas neste contexto a gente fica apreensivo com um quadro que parece não se resolver. O ideal é a pessoa ameaçada ter segurança e, além disso, ter policiais para investigar as ameaças. Eu tive dois seguranças, de 1992 a 1996. Depois eles continuaram dando segurança ao frei Henri (Henri des Roziers, advogado da Comissão Pastoral da Terra).

O que fazer de imediato?
Há medidas curativas e preventivas. A curativa é a segurança para as pessoas ameaçadas e a apuração de onde partem as ameaças. A solução mais definitiva e preventiva é atacar as raízes dos problemas: reforma agrária, sonegação de imposto, derrubada irregular de mata, grilagem de terra. As soluções só curativas são insuficientes. Os crimes de encomenda estão ligados à multiplicidade de outros crimes.

As pessoas ameaçadas devem sair do local onde vivem?
Tem dois tipos de pessoas ameaçadas. Um tipo, que não exerce liderança, poderia sair temporariamente. Mas não pode retirar pessoas que exerçam liderança. Vai tirar um presidente de sindicato do seu sindicato? Vai tirar um bispo da diocese dele? Essas pessoas são importantes até na proteção de outras pessoas. Muitos nem vão querer sair porque exercem função de coordenação importante, seria um prejuízo para o movimento social. Eu fiquei 18 anos ameaçado de morte e não quis sair do Estado.

A presença das Forças Armadas na região pode funcionar?
Militarizar é insuficiente. Houve militarização da questão fundiária na ditadura militar, o Incra foi retirado e houve uma solução militar, um coronel coordenava o Exército na região. Mas não houve nenhuma ação que mexesse com o problema básico que era grilagem de terra e reforma agrária.

Havia uma grande expectativa com o governo Lula. Alguma coisa mudou?
O que mudou foi que o governo não criminalizou o movimento social. Esse foi o lado positivo. Mas do ponto de vista da reforma agrária, de mexer na estrutura fundiária, isso ele não mexeu. O governo Lula foi muito tímido, não avançou.



NAUFRÁGIO NO PARANOÁ
Polícia do DF inicia perícia de barco naufragado
30 de maio de 2011 | 17h 30

MARCELA GONSALVES - Agência Estado

A Polícia Civil do Distrito Federal (DF) iniciou na tarde de hoje o trabalho de perícia no barco Imagination, que naufragou no último dia 22 no Lago Paranoá. Outros dois peritos da Marinha viajarão do Rio de Janeiro até Brasília e também realizarão perícia amanhã.
Na manhã de hoje os bombeiros retomaram o içamento do barco. No momento em que era puxado, o barco acabou virando e ficou com o casco para cima, o que não atrapalhou o trabalho da polícia. O Imagination está a 150 metros da margem do Paranoá e deve ser transportado novamente amanhã.


AVIAÇÃO
Gol se diz surpresa com ''interesse'' da LAN

Silvana Mautone e Beth Moreira - O Estado de S.Paulo

A declaração de executivos da LAN, durante o final de semana, de que a empresa poderia buscar uma parceria com a Gol caso não seja aprovada sua fusão com a TAM foi recebida com surpresa pela companhia aérea da família Constantino.
Ontem, a companhia afirmou que não está em negociação com nenhuma empresa aérea e que não foi procurada pela chilena LAN. Segundo entrevista publicada pelo jornal chileno El Mercurio, o gerente-geral da LAN, Ignacio Cueto, disse que a LAN deve procurar "um second best" caso a fusão com a TAM seja reprovada. "Podemos ir falar com a Gol, que não sei se estará disponível, mas que sua internacionalização não se compara com a da TAM", disse.
Para analistas do setor de transportes, a declaração do executivo da LAN não passa de pressão para que o Tribunal de Livre Concorrência do Chile (TDLC) aprove a fusão entre LAN e TAM. "Acho pouco provável que a fusão não seja aprovada", afirma um profissional que acompanha de perto o setor de aviação. Ele lembra que um indicativo seria o fato de o juiz não ter pedido informações adicionais às apresentadas pelas duas empresas em audiência pública no último dia 26. "Além disso, o juiz já afirmou que a decisão sobre o tema deve sair antes de 60 dias, o que é positivo", destaca.
Para o profissional uma fusão entre LAN e Gol faria menos sentido que uma associação com a TAM. O principal benefício para a companhia aérea chilena é o acesso ao mercado doméstico brasileiro, mas ele cita também as sinergias entre as duas empresas em viagens de longo curso, o que não aconteceria com a Gol.
Na quinta-feira, foi realizada uma audiência pública em Santiago, onde a TAM, a LAN, empresas concorrentes e um órgão de defesa do consumidor se manifestaram sobre a união que, se concretizada, criará a maior empresa aérea da América Latina.


Mais 46 corpos do acidente do voo 447 são resgatados do fundo do Atlântico

Famílias de vítimas do voo 447, da Air France, foram informadas ontem pelo governo francês que mais 46 corpos foram resgatados do fundo do mar. Ao todo, os restos mortais de 75 passageiros estão no navio Ile de Sein. As famílias ainda não sabem quando terminará a operação de resgate.
Os testes de DNA serão realizados na França, contra a vontade das famílias brasileiras. "Os primeiros 50 corpos foram examinados no Brasil. Não há nenhuma razão para que os corpos sejam levados para a França, os testes realizados e depois devolvidos ao Brasil. Infelizmente, o governo brasileiro não se manifestou", afirmou Maarten Von Slujis, diretor da Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 447.


Após dois anos, incógnitas ainda marcam investigações do AF 447
Dados precisos recém-recuperados das caixas-pretas são cruciais para técnicos reconstituirem desastre.

O aniversário de dois anos do acidente com o voo 447 da Air France, que caiu no Atlântico quando fazia a rota Rio-Paris, é marcado por avanços nas investigações técnicas, embora ainda existam várias incógnitas, assim como pela expectativa dos familiares em relação à identificação das vítimas resgatadas neste mês.
"Há dois anos, não tínhamos nenhuma informação precisa. Nesses dois últimos meses, localizamos as caixas-pretas e dispomos agora de todos os elementos para compreender o que ocorreu", afirma Alain Bouillard, do Escritório de Investigações e Análises (BEA, na sigla em francês), investigador-chefe do acidente com o voo AF 447.
O avião decolou às 22h29 GMT (19h30 no horário de Brasília) do dia 31 de maio de 2009 com 228 pessoas a bordo e caiu pouco menos de quatro horas depois a cerca de 1,1 mil Km da costa brasileira.
Pela primeira vez desde a catástrofe, o BEA confirmou, na última sexta-feira, que a pane nas sondas de velocidade do Airbus foi o ponto de partida de uma série de eventos que levaram ao acidente.
"Se o problema nas sondas não tivesse ocorrido, não teria havido o acidente", declarou em entrevista à BBC Brasil na última sexta-feira o diretor do BEA, Jean-Paul Troadec.
As famílias, no entanto, deverão aguardar até o final de julho, quando será divulgado um relatório intermediário, para saber as primeiras conclusões sobre as causas do acidente. Os resultados definitivos das investigações só serão anunciados no próximo ano.

Sondas
Por enquanto, sabe-se que a pane nos sensores de velocidade comprometeu a ação dos pilotos e pode ter induzido a erros de pilotagem.
Especialistas ouvidos pela BBC Brasil sugerem que o BEA estaria dando destaque para eventuais falhas dos pilotos após o incidente com as sondas - declarando que em casos semelhantes a tripulação havia conseguido recuperar o avião - porque isso seria uma forma de reduzir as indenizações a serem pagas às famílias.
Em razão do provável congelamento em alta altitude, as sondas Pitot passaram a enviar informações contraditórias sobre a velocidade do avião aos computadores de bordo, o que acarretou o desligamento do piloto automático.
O avião passou, então, a ser comandado manualmente, sem os sistemas eletrônicos de proteção ligados à pilotagem automática.
O Airbus sofreu uma perda de sustentação, causada pela baixa velocidade da aeronave antes da queda, e despencou em 3 minutos e meio a uma velocidade de 200 Km/hora, segundo o BEA.

Sem fôlego ladeira acima
Após a divulgação das circunstâncias do acidente, na sexta-feira, surgiram questionamentos sobre a decisão da tripulação de levantar o nariz do avião para ganhar altitude depois que os alarmes de perda da sustentação dispararam.
O ato foi comparado a subir uma ladeira correndo no momento em que se está sem fôlego.
O procedimento adequado seria o oposto: baixar o nariz do avião para ganhar velocidade com a descida e recuperar assim a força de sustentação da aeronave.
"Se os pilotos decidiram levantar o nariz é porque a velocidade indicada, que curiosamente o BEA não revela no comunicado, estaria superestimada. Os pilotos agiram mal porque não tinham os instrumentos em funcionamento", disse à BBC Brasil Gérard Arnoux, co-autor de uma investigação paralela sobre as causas do acidente com o voo AF 447 e piloto de aviões Airbus.
Segundo Arnoux, o Airbus se tornou "irrecuperável" porque o chamado "plano horizontal regulável" (ângulo formado entre a asa traseira e o vento) passou de 3° para 13° em apenas um minuto e permaneceu assim até o final do voo, comandado pelos computadores de bordo, que se basearam em dados falsos de velocidade.
"Há o risco de ultrapassar um certo ângulo de incidência, como admite a própria Airbus. Não dá mais para recuperar o avião. É um problema de aerodinâmica do Airbus, que permaneceu com a asa traseira empinada, levantando a aeronave", afirma.
Além de aguardar novos dados sobre as investigações, os parentes das vítimas também esperam a futura identificação dos 77 corpos resgatados nos últimos dias, que será realizada na França.
As operações de resgate devem ser encerradas até o dia 1° de junho. BBC Brasil


Parentes de vítimas do AF 447 conciliam dor com negociações de indenização
Enfrentar processos e negociar acordos e indenizações é um capítulo vivido por todas as famílias.

A vida da jornalista Renata Mondelo Mendonça tem hoje poucas semelhanças com a de dois anos atrás. Depois do acidente da Air France, no dia 31 de maio de 2009, ela mudou de cidade, de emprego e passou a ser mãe e pai para o pequeno Thiago. Ele tinha apenas 11 meses quando o pai morreu.
"Hoje meu filho me pergunta por que é o único menino da escola que não tem pai. Ele me pede um pai de brinquedo", conta Renata.
O marido de Renata, Marco Antonio Camargos Mendonça, de 44 anos, era um dos 228 passageiros do voo AF 447. Eles eram casados havia cinco anos e moravam em Belo Horizonte em função do trabalho de Mendonça, diretor internacional do Departamento de Manganês da Vale.
Renata trabalhava na área de comunicação da mineradora, mas conta ter sido demitida dois meses após o acidente. Resolveu voltar para o Rio, onde nasceu, e conseguiu um novo emprego na área de relações públicas e imagem corporativa.
"Não tenho dificuldade financeira porque eu trabalho. Mas o meu padrão de vida hoje é outro", diz.
Renata define dois momentos após o acidente: o primeiro é o "de lidar com a perda da pessoa", algo que "vai ser sempre doloroso, não tem reparação", diz. O segundo são as negociações com a Air France.
Ela afirma que está tendo "muita dificuldade" de chegar a um valor que considere satisfatório. "Eles devem garantir pelo menos que meu filho tenha o futuro que teria com o pai, porque ele ficou com essa lacuna", ressalta.

Processos
Ao lado da dor da perda, a questão prática de enfrentar processos e negociar acordos e indenizações é um capítulo vivido por todas as famílias das vítimas, mais cedo ou mais tarde.
O advogado João Tancredo, que representa famílias de 15 vítimas em ações contra a Air France, diz que os processos são por dano moral e material, e que a indenização por dano moral tem sido de mil salários mínimos por parente. Eles levam em média três anos para ser concluídos, ou seja, as primeiras indenizações devem começar a ser pagas no ano que vem. Tancredo diz que tem conseguido antecipar parte da compensação material para que os familiares não enfrentem dificuldades financeiras. "Inúmeros clientes recebem uma quantia por mês de pensão ou para tratamento psicológico ou psiquiátrico", afirma o advogado. A pensão mensal é paga a dependentes econômicos, que podem ser filhos, esposas ou mesmo pais das vítimas. Já a verba para tratamento psíquico foi concedida a quase todos os familiares durante dois anos, período que o advogado vai tentar prorrogar em função dos últimos desdobramentos. "Com mais corpos sendo resgatados, o quadro se piorou. Isso é um caos, destrói o psique das pessoas."
Outras famílias do Rio tentaram entrar com processos nos Estados Unidos, apostando na maior velocidade da justiça norte-americana. Presidente da Associação de Familiares das Vítimas do Voo AF 447, Nelson Marinho diz que a corte americana não aceitou o processo. Eles agora procuram negociar um acordo com a companhia.
Tancredo diz que seis processos de seu escritório já têm valores definidos e ainda enfrentam recurso da Air France. No caso da família da psicóloga Luciana Clarkson Seba, o recurso da companhia aérea foi indeferido no início de maio, quando a 11ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio bateu martelo sobre a indenização cabível à família. De acordo com a decisão, a Air France terá que pagar R$ 1,6 milhão de indenização à família de Luciana, sendo R$ 1,2 milhão aos seus pais e os demais R$ 400 mil às suas duas avós. A mãe de Luciana receberá pensão R$ 5 mil por mês até a data em que a vítima completaria 70 anos.
Pai de Luciana, o médico Oswaldo Seba, de 60 anos, se mostra indiferente à decisão. Alheio, diz que o dinheiro "não faz muito sentido" e que a indenização é uma coisa "terciária" para a família. A psicóloga viajava com o marido e os sogros para a França, e era a única filha e neta dos Seba.
"Em primeiro lugar está o sentimento da perda. Em segundo, a necessidade de saber a causa do acidente. Em terceiro e último, bem longe, está essa parte do dinheiro. Ela serve apenas como uma coisa punitiva. Mas não sabemos nem a quem que vai punir, se vai atingir algum dirigente da Air France, ou da Airbus", diz Seba. BBC Brasil



INFRAESTRUTURA
Investimento na infraestrutura cresce 11% e vai a R$ 146 bilhões
Quase metade desse valor (R$ 73 bilhões) foi destinada ao setor de petróleo e gás

Renée Pereira - O Estado de S.Paulo

O volume de investimentos no setor de infraestrutura teve um crescimento real de 11% no ano passado, para R$ 146 bilhões. Quase metade desses recursos, R$ 73 bilhões, foi destinada ao setor de petróleo e gás, cujo volume cresceu 13% no ano passado. O restante foi dividido entre outras quatro áreas: transportes, energia elétrica, saneamento básico e telecomunicações.
Os dados fazem parte de levantamento anual elaborado pela Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), que acompanha os investimentos públicos e privados feitos no Brasil desde 2003. Nesse período, o setor recebeu R$ 788 bilhões. Apesar disso, os números estão aquém das necessidades do setor, avalia o presidente da Abdib, Paulo Godoy.
Ele destaca que o País está investindo em torno de 4% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto em outras nações emergentes esse porcentual está na casa de 14%. Além disso, os R$ 146 bilhões injetados no setor incluem os projetos da Petrobrás, o que distorce um pouco a situação. No segmento de transportes, por exemplo, o volume investido foi de R$ 27,8 bilhões, destinados a rodovias, aeroportos, ferrovias, hidrovias e portos. Quase todas essas áreas estão com demanda acima da capacidade.

Opções de financiamento. De acordo com o levantamento, dois setores registraram queda no volume de investimento. Em telecomunicações, os recursos aplicados em novos projetos e melhorias caíram 5,32%, de R$ 16,9 bilhões para R$ 16 bilhões. A área de saneamento, que representa a maior carência do Brasil, teve redução de 3,84% nos investimentos, de R$ 7,8 bilhões para R$ 7,5 bilhões.
Para Godoy, os números são reflexo da falta de mecanismos para financiar os projetos de infraestrutura, de longa maturação. "Não temos funding (recursos). O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) está no limite, já que tem de financiar tudo", afirma o executivo. Na avaliação dele, esse é o maior desafio para elevar a trajetória de investimento do País.
Ele lembra que, há anos, a Abdib vem alertando para o problema, que apenas será resolvido com o fortalecimento de fontes de financiamento alternativas ao BNDES.
Isso inclui fundos de investimento em participação e a criação de um mercado secundário de títulos - instrumentos previstos na Medida Provisória 517, que a Câmara dos deputados aprovou na semana passada e falta passar pelo Senado.



COPA 2014
Reunião sobre Copa do Mundo no Planalto exclui Kassab

TÂNIA MONTEIRO - Agência Estado

A presidente Dilma Rousseff comandará hoje, às 15 horas, reunião com os governadores dos 12 Estados onde serão realizados os jogos da Copa do Mundo. A reunião contará também com 11 prefeitos, mas sem a presença do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), que passou a ser considerado "persona non grata" no Palácio do Planalto por causa do vazamento das informações sobre o faturamento da empresa do ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, apontando o aumento do seu patrimônio nos últimos quatro anos.
A explicação do Planalto para a ausência de Kassab é que ele será o anfitrião de uma conferência do meio ambiente em São Paulo, o "C-40", às 18 horas, e não poderia estar presente na reunião com Dilma, marcada para ocorrer entre 15 horas e 17 horas. Kassab não será o único ausente. Os governadores do Ceará, Cid Gomes (PSB); do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB); e do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), não poderão participar porque estão viajando, respectivamente, para os Estados Unidos, Paris e Coreia.
A reunião sobre Copa do Mundo, no entanto, não será das mais agradáveis para os presentes. A presidente Dilma está muito irritada com o atraso nas obras. As cidades com maior problema poderão ser cortadas. São Paulo e Manaus são as duas capitais mais críticas em relação ao cronograma de preparação para a Copa. Belo Horizonte e Salvador são as duas mais adiantadas.



INTERNACIONAL
EUA definem ''número 1'' para América Latina

WASHINGTON

A embaixadora dos Estados Unidos na Tailândia, Kristie Kenney, deve ser a nova subsecretária de Estado para Assuntos Hemisféricos, disseram ontem fontes do governo americano. Ela deve substituir o diplomata Arturo Valenzuela, que deixará o cargo para se dedicar a projetos acadêmicos. Kristie, que já serviu em embaixadas na Argentina e no Equador, cuidará de assuntos relativos à América Latina.
A diplomata também já foi assessora do Departamento de Estado em questões como o combate ao tráfico internacional de drogas. Ela foi assessora da ex-secretária de Estado Madeleine Albright e trabalhou na transição entre o governo Bill Clinton e George W. Bush. A futura subsecretária é adepta das redes sociais. Ela tem mais de 18 mil seguidores no Twitter.
Estado-Maior. Ainda ontem, o presidente americano, Barack Obama, nomeou o comandante do Exército, general Martin Dempsey, como novo chefe do Estado-Maior das Forças Armadas. Ele substituirá o almirante Mike Mullen, que deixará o cargo em setembro.
"Dempsey é um dos generais mais respeitados e experientes do país", disse Obama, que também indicou o almirante James Winnefield como vice-comandante do Estado-Maior e o general Ray Odierno para o lugar de Dempsey.
As nomeações precisam ser ratificadas pelo Senado. No final de abril, o presidente indicou o diretor da CIA, León Panneta, para o Pentágono, para o lugar de Robert Gates, e o general David Petraeus para a agência / AP



BOGOTÁ
Colômbia rejeita propostas das Farc
Troca de prisioneiros é 'assunto encerrado', afirma ministro do Interior e Justiça

Efe

O governo da Colômbia reiterou nesta segunda-feira, 30, sua rejeição à troca de prisioneiros com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e assegurou que este é um "assunto superado", segundo o ministro de Interior e Justiça, Germán Vargas Lleras. As declarações do ministro foram feitas no mesmo dia em que o grupo guerrilheiro completou 47 anos e advogou por uma "solução dialogada".
"Esses comunicados das Farc sempre são recebidos com ceticismo porque não vão construir um cenário para um protagonismo político sem feitos concretos que demonstrem a vontade real de libertar essas pessoas", disse o ministro, acrescentando que a troca de guerrilheiros detidos por reféns do grupo rebelde "não é uma opção". Ele voltou a exigir a soltura de todos os civis e militares sob poder das Farc.
Na nota publicada nesta segunda, as Farc insistem no caminho da "solução política e dialogada" e asseguram que durante suas quase cinco décadas de existência, nunca desistiram "da solução política do conflito social e armado". Os guerrilheiros ainda dizem que "a busca pela paz com justiça social é parta da gênese e da razão de luta" do grupo.
Atualmente, cerca de 8 mil guerrilheiros compõem a força rebelde, considerada terrorista pelos EUA e pela União Europeia. De acordo com o governo, cerca de vinte prisioneiros - civis e militares - são mantidos pelo grupo, que tenta trocá-lo por seus integrantes presos pelas autoridades colombianas. O governo nega qualquer operação do tipo.
Os guerrilheiros sofreram um duro golpe durante o governo do ex-presidente Álvaro Uribe, que adotou uma política de tolerância zero no combate às ações das Farc. Santos, o atual líder colombiano, deu continuidade a essa postura, embora diga que está aberto às negociações caso os guerrilheiros deponham as armas.


Farc fazem emboscada e matam 3 militares na Colômbia
Antes do ataque, organização assassinou dois candidatos à Prefeitura de Campamento, no mesmo dia em que a guerrilha reivindicou uma saída 'civilizada' para o conflito armado colombiano

BOGOTÁ - Um cabo e dois soldados morreram após uma emboscada das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) a uma patrulha do exército colombiano em uma zona rural do departamento de Arauca, na fronteira com a Venezuela.
Na emboscada, as Farc atacaram a tiros de fuzil e explosivos, deixando outros seis militares feridos.
Segundo a página eletrônica da rádio Caracol, os responsáveis pelo ataque pertencem à coluna móvel "Alfonso Castelhanos".
Horas antes do ataque, as Farc haviam assassinado dois candidatos à Prefeitura de Campamento, no departamento de Antioquia, no mesmo dia em que a guerrilha reivindicou, em comunicado, uma saída "civilizada" para o conflito armado colombiano.
Os guerrilheiros também reforçaram uma proposta de troca humanitária de subversivos presos por militares e soldados, alguns deles sequestrados há mais de 12 anos.
O governo da Colômbia, no entanto, reiterou às Farc sua rejeição a uma troca humanitária, assinalando que "é um tema superado", e insistiu que os rebeldes devem libertar todos os sequestrados.


QUESTÃO NUCLEAR
Até 2022, Alemanha deixará energia nuclear
Pressão popular, crescimento do Partido Verde e acidente no Japão levam governo de Angela Merkel a abrir mão, aos poucos, de seus 17 reatores

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Andrei Netto - O Estado de S.Paulo

O acidente nuclear de Fukushima, a pressão crescente da opinião pública e a ascensão do Partido Verde nas eleições regionais na Alemanha levaram o governo de Angela Merkel a anunciar ontem a extinção progressiva da energia nuclear no país.
O programa de desativação, que deve durar dez anos e custar ? 40 bilhões (R$ 91 bilhões), será encerrado em 2022, com o fechamento dos 17 reatores nucleares em atividade. Portanto, a Alemanha se torna a primeira potência industrial a abandonar a geração de eletricidade pela fissão, apostando nas energias renováveis.
O anúncio marca uma reviravolta no governo Merkel. Há dois anos, a chanceler havia revisto a decisão tomada em 2002 pelo ex-chanceler Gerhard Schroeder, que prometera o fim da exploração da energia nuclear no país. "Nosso sistema de aprovisionamento pode e deve ser modificado em profundidade", defendeu Merkel na época.
Dos 17 reatores do país, 7 estão "em hibernação" desde março, quando do acidente de Fukushima, e agora passarão à fase de desligamento e desinstalação. Nos próximos dias, um reator nas imediações de Hamburgo passará à hibernação. Dos nove reatores que seguem em funcionamento, seis serão desativados até 2021. Os três restantes funcionarão até 2022, quando também serão desmontados.
Cálculos da ONG ambientalista Greenpeace afirmam que o governo alemão economizará recursos com o fim do nuclear. "O processo de migração total deverá custar ? 110 bilhões (R$ 250 bilhões) em dez anos, mas vai gerar economia de cerca de ? 145 bilhões (R$ 330 bilhões) em subvenções e manutenção das plantas e das redes de distribuição", afirma Andree Böhling, especialista em energia da organização.
O desafio alemão será substituir 22% de sua matriz hoje produzida pelos reatores. Segundo a nova política energética, a substituição se dará pelo investimento em energias alternativas e por medidas de estímulo à redução do consumo - como incentivos fiscais a construções de baixo gasto de eletricidade. O programa energético prevê a redução de 10% no consumo até 2020.
Especialistas afirmam que a desativação deve aumentar em curto prazo a exploração de energia termoelétrica, produzida a partir do carvão, que responde hoje por 43% da matriz do país. Em meados da década será possível aumentar o espaço de fontes alternativas de energia, como eólica e biomassa, que hoje representam 18% do total.

Mudança. Em setembro passado, o governo de Merkel havia prorrogado o uso de energia nuclear até 2042, 12 anos a mais que o previsto. A decisão desagradou ao ministro do Meio Ambiente e motivou manifestação de mais de 100 mil pessoas em Berlim.
Além da Alemanha, Áustria, Suíça e Dinamarca se comprometeram a não explorar a fissão. França, Grã-Bretanha e os países do Leste europeu, porém, não abrem mão de seus reatores.



TRÍPOLI
Em último esforço de mediação, líder sul-africano tenta fazer Kadafi ceder
Presidente Jacob Zuma tem encontro reservado com ditador líbio em Trípoli e afirma que ele aceitou ''mapa para a paz'', embora não tenha mencionado a principal reivindicação da oposição: rendição incondicional e imediata

Após a suspensão temporária da zona de exclusão aérea imposta pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) à Líbia, o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, chegou ontem em Trípoli para tentar mediar uma solução política para a crise no país árabe. O líder sul-africano foi recebido com festa e teve um encontro reservado com seu colega líbio, Muamar Kadafi. Ao final, Zuma disse que o ditador está pronto para uma trégua, mas sob condições.
O líder sul-africano não disse se Kadafi aceita deixar o poder - como opositores e a Otan exigem. "Ele aceitou o mapa para a paz", disse Zuma, esclarecendo em seguida que Kadafi insiste que "todos os líbios tenham a chance de discutir".
Dezenas de pessoas aguardavam o líder sul-africano diante da principal base aérea de Trípoli, empunhando a bandeira verde do regime Kadafi. A aliança atlântica, que vinha intensificando os bombardeios na capital líbia, principalmente contra alvos civis da ditadura, suspendeu temporariamente os ataques.
Zuma foi levado ao complexo de Bab al-Aziziyah, a mais conhecida residência de Kadafi em Trípoli. O ditador e o presidente da África do Sul teriam se encontrado com apenas mais duas pessoas na sala, segundo a agência Associated Press. O conteúdo da conversa não foi divulgado e Zuma evitou os jornalistas ao final do encontro.
Esta foi a segunda visita do líder sul-africano à Líbia para tentar mediar um acordo de cessar-fogo. Na primeira tentativa, em abril, Kadafi disse a Zuma que aceitava uma trégua imediata, mas em seguida continuou os ataques contra redutos da oposição.
Rebeldes, que hoje têm controle total sobre o leste da Líbia, afirmam que só aceitaram um acordo com a rendição incondicional de Kadafi, desde 1979 no poder.
A África do Sul está na presidência rotativa da União Africana (UA), que tem mantido relações tensas com o ditador líbio. Mas Zuma subiu o tom nas últimas semanas contra a Otan, acusando a aliança de ultrapassar os limites previstos na resolução da ONU que autorizou o bombardeio contra a Líbia.
Durante décadas Kadafi apresentou-se como líder africano, dando grandes somas do dinheiro do petróleo para investimentos e projetos de desenvolvimento em todo continente.
Em Benghazi, capital rebelde, o ministro das Relações Exteriores do Conselho Nacional Líbio, Fathi Baja, afirmou que Kadafi sabe que está "encrencado". "O equilíbrio militar mudou completamente e o círculo de assessores em volta dele está desertando. Até a Rússia está pedindo para que Kadafi deixe o poder."

Defesa. No mesmo dia em que Zuma desembarcou em Trípoli, duas figuras históricas da França chegaram na Líbia oferecendo ajuda a Kadafi. Roland Dumas, por duas vezes chanceler do governo François Mitterrand, e Jacques Vergès, advogado de líderes da resistência argelina e do carrasco nazista Klaus Barbie, estão oferecendo seus serviços para a defesa do ditador da Líbia, caso ele seja julgado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).
Dumas serviu como advogado do ditador iraquiano Saddam Hussein. Vergès, além da defesa de Barbie - chefe das SS em Lyon, que desmantelou grande parte da resistência francesa durante a ocupação nazista -, representou nos tribunais o célebre terrorista Ilich Ramírez Sánchez, conhecido como "Carlos, o chacal", e líderes do Khmer Vermelho, do Camboja.
Além da defesa de Kadafi, os dois prometem entrar na Justiça internacional contra a Otan em nome de 13 famílias que perderam parentes nos recentes bombardeios.
Luis Moreno-Ocampo, procurador-chefe do TPI, solicitou a prisão de Kadafi e mais quatro integrantes da cúpula do regime líbio, alegando que o ditador e seus assessores cometeram "crimes contra a humanidade".

Mais deserções. Em um novo sinal de enfraquecimento do governo da Líbia, oito militares de alta patente - incluindo cinco generais - que serviam ao ditador apareceram em Roma. Após desertar, os oficiais exortaram seus colegas a seguir seu exemplo. Vários integrantes do comando militar líbio, além de três ministros, já abandonaram o regime de Kadafi. / AP e WASHINGTON POST

Pressão externa

JACOB ZUMA - PRESIDENTE DA ÁFRICA DO SUL
"(Kadafi) está pronto para implementar o mapa para paz. (...) Ele insiste que se dê a todos os líbios uma oportunidade de diálogo"

Al-Jazira
Rede de TV do Catar registrou imagens de supostos militares de elite da Grã-Bretanha no front contra forças do ditador Muamar Kadafi, no oeste da Líbia