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quinta-feira, 3 de março de 2011

3 de março de 2011 - VALOR ECONÔMICO


MUNDANÇA
Presidente da Caixa manifesta interesse em deixar o cargo

Cristiano Romero e Claudia Safatle | De Brasília

Insatisfeita com os rumos do caso PanAmericano, a presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), Maria Fernanda Coelho, manifestou à cúpula do governo interesse em deixar o cargo. A presidente Dilma Rousseff ainda tenta convencê-la a permanecer, mas, se não conseguir, nomeará outro nome técnico para a função.
O governo não tem, segundo um assessor graduado, uma "carta na manga" para substituir Maria Fernanda, mas um nome já citado em Brasília é o da vice-presidente de Tecnologia da Informação da Caixa, Clarice Copetti. Economista, Clarice não é política, mas tem ligação histórica com o PT - foi monitora do Departamento de Formação do Instituto Cajamar, entidade criada pelo PT para formar militantes, e trabalhou como assessora em prefeituras do partido.
Maria Fernanda, segundo fontes ouvidas pelo Valor, teria sido contrária à operação de compra, pela Caixa, de metade do capital do Banco PanAmericano, em novembro de 2009. Na época, o negócio foi encorajado pelo governo, que, um ano antes, baixou a Medida Provisória 443, autorizando bancos estatais a adquirirem instituições financeiras privadas.
Em novembro do ano passado, descobriu-se rombo de R$ 2,5 bilhões no balanço do PanAmericano. Em janeiro deste ano, constatou-se que o buraco era maior - de R$ 4,3 bilhões -, o que levou o governo a forçar o empresário Sílvio Santos a transferir o controle acionário ao BTG Pactual. Nas conversas com a cúpula do governo, Maria Fernanda teria alegado que "não foi informada completamente dos riscos" envolvidos na compra do PanAmericano.
O temor da executiva é com a sua imagem de administradora. "A Caixa é hoje uma instituição com imagem ridicularizada na praça", atesta uma fonte do governo. "O problema é político e arranhou a imagem da instituição."
O vice-presidente de Finanças da instituição, Márcio Percival, que também preside o braço de participações da Caixa, a CaixaPar e foi indicado para o cargo pelo PT, esteve diretamente envolvido na negociação de compra do PanAmericano. No início da noite de ontem, fontes da Caixa afirmaram que a decisão de compra do banco foi tomada por toda a diretoria e Maria Fernanda, como presidente, participou ativamente e nunca se opôs à operação.
Segundo fontes oficiais, o governo aceita nomear políticos para a Caixa, mas não para a presidência. O ex-ministro Geddel Vieira, ligado ao PMDB, trabalha, por exemplo, para ocupar a vice-presidência de Pessoa Jurídica.
No Banco do Brasil (BB), a presidente Dilma já decidiu manter o atual presidente, Aldemir Bendine. Está praticamente certa, no entanto, a indicação de um político - Orlando Pessuti, ex-governador do Paraná pelo PMDB - para uma das vice-presidências. O PMDB almeja a área de agronegócio, mas o governo resiste.
O atual vice-presidente de Agronegócio e de Micro e Pequenas Empresas é Luiz Carlos Guedes Pinto, um técnico que, embora não seja da carreira do BB, é respeitado na instituição. Guedes, que foi ministro da Agricultura, é hoje o único vice-presidente do BB de fora do quadro funcional.
O último político a ocupar um alto cargo no BB foi o ex-governador de Goiás Maguito Vilela (PMDB), atual prefeito de Aparecida de Goiânia (GO). Quando ele foi nomeado, o banco tirou o agronegócio de sua vice-presidência. Como vice-presidente de governo, Maguito acabou agradando a diretoria porque conseguiu levar para o BB a gestão da folha de pessoal de vários Estados, entre os quais, Minas Gerais e Bahia.
Outras nomeações aguardadas para os próximos dias são as do ex-presidente do Banco Central (BC) Henrique Meirelles, para a presidência da Autoridade Pública Olímpica, do executivo do Banco Safra Rossano Maranhão, para a secretaria especial de Aviação Civil, e do ex-diretor de Fiscalização do BC Gustavo do Vale, para a presidência da Infraero.
Na noite de terça-feira, o Senado aprovou a criação da APO. Meirelles ainda não tomou uma decisão, mas a tendência é aceitar o convite feito por Dilma. Ontem, surgiram informações de que Rossano Maranhão estaria reticente a aceitar a oferta, mas uma fonte próxima ao executivo assegurou, de forma taxativa, que ele vai assumir a nova secretaria, ainda a ser criada pelo governo.
Maranhão terá sob sua responsabilidade a Infraero e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Para a presidência da Anac, em substituição à Solange Vieira, o governo deve nomear Marcelo Guaranys, atual diretor da agência.

OPINIÃO
Será a Síria o próximo dominó?
Documentos do WikiLeaks mostraram fragilidades do regime.

Ribal Al- Assad - é diretor da Organização pela Democracia e Liberdade na Síria

Com os regimes da Tunísia e Egito sendo coisa do passado e os protestos nas ruas agitando desde Argel até Teerã, muitas pessoas agora se perguntam qual poderá ser o próximo dominó a cair. A Síria cuja ditadura secular e militarizada é a que mais se parece com os regimes caídos da Tunísia e Egito pode não ser a próxima na fila, mas ainda assim parece estar se aproximando de um ponto de inflexão.
É claro, a velha "teoria do dominó" nas relações internacionais foi apenas uma forma crua de enfatizar que diferentes partes de qualquer região são ligadas entre si. Para o mundo árabe da atualidade, uma metáfora mais apropriada seria a do "tabuleiro de xadrez", no qual a retirada de qualquer peça, mesmo um peão, altera as relações entre todas as demais peças.
Hoje, enquanto os protestos crescem e se multiplicam, os governos de todos os Estados árabes no Oriente Médio e África do Norte provavelmente acreditam que, se deixados por si sós, podem conter a dissidência interna.
Na Síria parece inevitável que os protestos poderão em breve quebrar a frágil imobilidade política do regime. A maioria dos sírios comuns encontra condições sociais e dificuldades econômicas extremas, como alto desemprego, aumento nos preços dos alimentos, restrições à liberdade pessoal e corrupção endêmica. Esses fatores não são diferentes dos que levaram as pessoas às ruas na África do Norte e Oriente Médio. O que começou como protestos contra as condições de vida transformou-se em demandas completas por liberdade e democracia.
O regime em Damasco teme manifestações similares, como deveria ser. A melhor forma de evitar um confronto entre o povo e as forças de segurança é um processo de reformas genuínas que levem a eleições e a um governo de unidade nacional. A inércia incrustada no atual regime, no entanto, parece impossibilitar qualquer ação prévia nessa direção.
Em vez disso, os governantes da Síria oferecem incentivos para que seus principais constituintes continuem na linha - computadores portáteis para os professores, subsídios para os funcionários públicos e uma retórica reformista vazia. A atual situação, no entanto, pede por medidas bem mais sérias. Levantar o estado de emergência em vigor desde 1963 - que dá poderes totais ao regime e a seus serviços de segurança - seria um passo, tanto simbólico quanto tangível, na direção certa.
A menos que os governantes da Síria, assim como outros líderes no mundo árabe, comecem a considerar que a liberdade é um direito humano fundamental, a paciência das pessoas, mesmo das mais sossegadas, pode perigosamente começar a esgotar-se. Os preços elevados dos alimentos podem ter servido como gatilho na África do Norte, mas a velocidade com que os manifestantes voltaram suas atenções para a reforma política pegou a todos desprevenidos.
Colocar o gênio de volta na garrafa seria praticamente impossível sem o tipo de derramamento de sangue que estamos testemunhando em algumas partes do mundo árabe. A liderança síria, portanto, sabe que precisa dar uma resposta - daí a agenda apática de reformas que apresentou recentemente. Tentar resolver descontentamentos populares bem arraigados com uma linguagem de floreios e um buquê de subsídios, no entanto, é como tentar extinguir um incêndio florestal com um revólver de água. As soluções para os problemas da Síria precisam ser tão substantivas quanto a gravidade dos problemas.
Até agora, os governantes da Síria recorreram a sua retórica anti-Israel e anti-Ocidente para se proteger. Mas brados sobre o conflito israelense-palestino raramente foram ouvidos nos protestos em Túnis e no Cairo. Além disso, nos últimos anos, quando aviões israelenses atacaram alvos na Síria não houve resposta do regime - assim como quando aviões israelenses sobrevoaram o palácio presidencial.
O regime sustenta que é parte da "resistência" com seu parceiro sênior Irã. Os documentos do WikiLeaks, porém, mostraram que a liderança síria avisou o regime iraniano para não contar com o país em nenhuma guerra contra Israel porque está muito fragilizado. O regime, portanto, comete um erro fatal se acha que suas velhas táticas de diversionismo continuarão a lhe dar imunidade. Ao contrário, com uma população jovem, com boa formação e incapaz de encontrar empregos adequados, o regime criou seu próprio grupo de possíveis protestantes, cientes de que está usando slogans vazios para continuar com o estado de emergência e se manter no poder.
O povo sírio é forte, paciente, resiliente e engenhoso. Os laços sociais e familiares continuam fortes ante a adversidade. Quando a comida é escassa, as pessoas compartilham. Quando o regime reprime o acesso à internet, as pessoas usam servidores intermediários.
Mas elas não deveriam conformar-se. Não deveriam ter de arriscar sua segurança quando buscam acessar o mundo on-line. Ninguém quer ver as ruas de Damasco consumidas em protestos ou um confronto violento entre manifestantes e forças de segurança. O que o povo sírio quer é um diálogo significativo com o regime.
O regime precisa considerar que, apesar de seus melhores esforços, os sírios vêm observando os eventos na região com tanto interesse quanto o resto do mundo. O povo sírio pode não ter predileção pela violência, mas o nascimento da liberdade, uma vez testemunhado, não é facilmente esquecido - ou sobrepujado por esmolas do governo e comunicados vazios de uma liderança distante e autoisolada.
Diziam que o Muro de Berlim não cairia. Diziam que Mubarak não seria derrubado. E alguns ainda dizem que a Síria não pode mudar. Mas a Síria vai mudar e eu, assim como meus compatriotas, rezamos para que, quando a mudança chegar, seja pacífica e harmoniosa.


DESTAQUES

Anac aprova Latam
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) aprovou a fusão da TAM com a chilena LAN Airlines. A negociação, anunciada em agosto, vai originar a Latam Airlines. O parecer favorável à operação foi apreciado durante a reunião ordinária da diretoria da Anac, realizada no dia 1º. A decisão deve ser publicada hoje no Diário Oficial da União (DOU). A TAM informou que "não foi formalmente notificada sobre o teor da decisão". Em janeiro, o órgão antitruste chileno congelou a negociação para investigar seu impacto entre os consumidores. No Brasil, o negócio será apreciado ainda pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
FONTE: VALOR ECONÔMICO

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