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terça-feira, 29 de março de 2011

29 de março de 2011 - VALOR ECONÔMICO


NOVA LEI
Egito busca normalização e fará eleição em setembro

Matt Bradley | The Wall Street Journal, do Cairo

Os líderes militares do Egito anunciaram que vão realizar eleições parlamentares em setembro, numa aparente concessão às facções políticas mais liberais que tinham pedido mais tempo para organizar novos partidos políticos.
O Conselho Supremo das Forças Armadas, que assumiu o poder depois da derrubada do presidente Hosni Mubarak, mês passado, anunciou a mudança numa entrevista coletiva ontem, juntamente com uma nova lei para reduzir as barreiras que permitiram ao antigo regime egípcio impedir a criação de novos partidos.
As decisões ocorrem mais de uma semana depois de a grande maioria dos egípcios votar a favor de emendas à Constituição determinando a supervisão judicial das eleições e criando limites para o mandato do presidente, entre outras mudanças.
Os egípcios apoiaram as emendas apesar de os líderes dos protestos que derrubaram Mubarak e os mais conhecidos candidatos a presidente, Amr Moussa e Mohammed ElBaradei, terem defendido a redação de uma Constituição inteiramente nova.
Muitos líderes do movimento da juventude que derrubou Mubarak disseram ter considerado o referendo uma exibição evidente de poder político islâmico. Os políticos religiosos, como os da poderosa Irmandade Muçulmana e do movimento Salafi, de linha dura, incentivaram os egípcios a votar a favor das emendas.
Reformistas seculares disseram que a campanha dos islamitas não passou de uma cínica tentativa de ganhar poder: o referendo foi visto como um meio de apressar as eleições parlamentaristas, em que apenas líderes religiosos conhecidos já estavam preparados para participar.
Mas, apesar da forte presença política antes do referendo, os principais políticos religiosos que comandam o movimento islâmico do Egito começaram a exibir esta semana sinais claros de fissuras ideológicas.
Embora a Irmandade Muçulmana já tenha sido a vanguarda tanto do movimento político islâmico quanto da oposição ao regime, os eleitores conservadores poderão agora escolher de um cardápio mais diverso de opções políticas islâmicas, que representam uma variedade mais ampla de ideologias.
Essa oficialização dos políticos islâmicos pode acabar enfraquecendo o movimento, disse Emad Gad, analista político do Centro Al Ahram de Estudos Políticos e Estratégicos, apoiado pelo governo.
"Eles podem não conseguir a mesma coalizão nas próximas eleições parlamentares, porque haverá competição entre esses movimentos pelas cadeiras no Parlamento", disse Gad, acrescentando que espera que surjam pelo menos quatro partidos políticos da base de apoio da irmandade. "No fim das contas, eles podem chegar a um acordo sob a bandeira do Islã, mas quando começarem a discutir que tipo de Islão, aí podem surgir muitas, muitas facções."
No centro das diferenças que estão fragmentando a irmandade está o novo poder dos jovens partidários do movimento, cuja participação nos protestos foi essencial para a derrubada de Mubarak. Gad acredita que as próprias divisões da irmandade ajudaram o fermento político da Praça Tahrir, que ele disse ter servido para expor os jovens membros da irmandade a esquerdistas e liberais, com quem se identificaram em torno de uma causa comum. Dezenas de jovens integrantes da Irmandade Muçulmana realizaram no sábado uma entrevista coletiva pedindo mais poder para a sua ala da organização.
No domingo, Abdel Moneim Abul Fotouh, importante integrante do Conselho de Orientação da irmandade, de caráter executivo, disse à imprensa egípcia que vai fundar um partido mais liberal, focado no desenvolvimento econômico e centrado nos principais ideais da irmandade, de piedade e justiça social.
Ibrahim Al Zafaarani, outro líder do alto escalão da irmandade que tem popularidade entre os partidários mais jovens do movimento, já tinha dito que planejava criar seu próprio partido, que ele quer chamar de "Nahda", ou "Renascimento".
A esses grupos se junta o recém-oficializado Partido Al Wasat, de orientação islâmica e centrista, bem como os grupos mais radicais que defendem a escola salafista do pensamento islâmico, amplamente praticada na Arábia Saudita. Os salafistas e o Al Wasat não são afiliados à Irmandade Muçulmana.
"O que as pessoas estão fazendo agora é como quando o pássaro sai da gaiola e começa a tentar descobrir o que é bom para ele", disse Mohamed Al Shahawy, jovem partidário da Irmandade Muçulmana que está ajudando Abdel Fotouh a criar seu novo partido. "Somos abertos, somos uma organização civil e não militar. Então tem que existir esse tipo de abertura, para trabalhar dentro e fora da [Irmandade Muçulmana]."
O Conselho de Orientação da irmandade, por sua vez, já fez críticas severas à nova concorrência. Mohammed Badie, o orientador geral da irmandade, ou seja, seu líder, anunciou este mês que os membros da irmandade só poderiam se juntar ao partido oficial da organização, o Liberdade e Justiça, cuja criação também foi anunciada este mês.
"Nenhum integrante da irmandade pode entrar em outro partido que não o Liberdade e Justiça", disse o porta-voz da irmandade, Essam El Erian.
El Erian disse que os membros que preferirem os partidos rivais criados por outros membros não enfrentarão punições ou sofrerão consequências. "Precisamos unificar nosso bloco de eleitores, porque estamos enfrentando desafios e precisamos de unidade para alcançar nossas metas", disse ele.


COALIZÃO INTERNACIONAL
Para Rússia, ataques da Otan a forças de Gadafi violam resolução da ONU

Agências internacionais

Os EUA e seus aliados da Otan receberam da ONU mandato para proteger as populações civis na Líbia, e não para se transformar no apoio aéreo aos rebeldes, reclamou a Rússia. Moscou, que se absteve durante a votação na ONU que aprovou a ação de proteção à população civil, é um dos países mais críticos à missão.
O papel da coalizão internacional está passando por um escrutínio maior após os ataques aéreos liderados por EUA, França e Reino Unido no fim de semana, que ajudaram os rebeldes a recuperar terreno perdido e a avançar para Trípoli.
A Rússia disse os ataques sobre as Forças leais ao ditador líbio Muamar Gadafi significam uma intervenção em uma guerra civil, e esse tipo de ação não foi apoiada pela resolução da ONU que instituiu zonas de exclusão aérea.
O chanceler russo, Sergei Lavrov, disse que a resolução aprovada no Conselho de Segurança da ONU em 17 de março teve o objetivo único proteger a população civil líbia. "Existem relatos - que ninguém nega - de ataques da coalizão contra colunas das Forças de Gadafi e relatórios sobre o suporte para ações da insurgência armada. Existem contradições claras aqui", disse Lavrov.
"Consideramos que a intervenção da coalizão no que é essencialmente uma guerra civil interna não é sancionada pela resolução do Conselho de Segurança da ONU", disse Lavrov.
A Rússia tem poder de veto como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, mas optou por não bloquear a resolução que autorizava "todas as medidas necessárias para garantir" as zonas de exclusão aérea.
No entanto os russos afirmam que a resolução também deu às Forças da coalizão espaço demais para intervenção. O premiê Vladimir Putin disse que a resolução se assemelha a "uma convocação para cruzadas medievais".
As Forças da coalizão atacaram a sede do comando de uma das unidades mais leais a Gadafi, afirmou o almirante americano Bill Gortney. Segundo ele, essa seria a unidade mais ativa nos ataques a civis. Gortney, chefe do Estado Maior Conjunto das Forças armadas dos EUA, disse que a coalizão disparou seis mísseis de cruzeiro tipo Tomahawk nas últimas 24 horas e realizou 178 saídas, a maior parte delas para ataques contra alvos militares de Gadafi. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, e o premiê britânico, David Cameron, afirmaram em uma declaração conjunta que "Gadafi deve partir imediatamente".

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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