COPA DE MUNDO DE 2014
Paes repudia “concorrências esquisitas” de obras da Copa
Declaração de prefeito do Rio colide com MP do governo que flexibiliza licitações para obras do evento
Pedro Venceslau
Um dia depois das críticas públicas de Joseph Blater, presidente da Fifa, ao ritmo das obras da Copa de Mundo de 2014, as autoridades envolvidas na preparação do evento começam a dar os primeiros sinais de desgaste na relação. Em almoço com empresários do Grupo de Líderes Empresariais (Lide) ontem em São Paulo, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), afirmou que nada justifica obras emergenciais — com licitações menos rigorosas—em eventos definidos com tanta antecedência. “A prefeitura não lançará mão de contratos emergenciais e concorrências esquisitas. Não vamos construir nenhum equipamento que não traga legado para a cidade”. Para reforçar sua ideia, ela falou sobre o “Legadômetro”, um instrumento criado pela prefeitura para mensurar o legado dos projetos de intervenção urbana dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016.
A declaração de Paes sobre as obras emergenciais colide com a iniciativa do Governo Federal de aprovar uma Medida Provisória (MP) que simplifica o rito das licitações para obras voltadas à Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016. No Senado, na semana passada, o ministro dos Esportes, Orlando Silva, defendeu que a contratação das obras ocorra através de um regime especial, “mais simplificado e ágil do que o estabelecido na Lei de Licitações”. A MP já passou pela Câmara e devia ter sido aprovada ontem com tranquilidade também pelo Senado,mas as atividades foram interrompidas devido a morte do ex-vice-presidente José Alencar. Ao Brasil Econômico, o senador Valdir Raupp, presidente do PMDB, afirmou a Medida Provisória será votada no próximo dia 7.
Política interna
O prefeito do Rio também respondeu as críticas de Blater. “Até ontem para a Fifa estava indo tudo bem. Não sei o motivo dessa mudança repentina. Talvez sejam questões políticas internas da Fifa”. Paes aproveitou o evento para criticar a situações dos aeroportos brasileiros, especialmente os do Rio de Janeiro. Ele defendeu que todos os aeroportos sejam transferidos para a iniciativa privada, criticou a infraero e foi além: “A situação (do Aeroporto Tom Jobim) é um escândalo. Aquilo parece uma rodoviária de quinta categoria mal cuidada. É uma situação geral, que precisamos melhorar muito”. Os empresários ouviram do prefeito a promessa que o Centro Olímpico dos Jogos de 2016 será construído através de uma Parceria Público Privada (PPP) de R$ 7 bilhões. Questionado sobre o orçamento previsto para a realização das Olimpíadas, Paes disse que o valor gasto só será divulgado após a devida conclusão. “Planejamentos podem sofrer alterações e, para evitar estouro de orçamento, o ideal é divulgá-lo quando estiver pronto”.
AVIAÇÃO
Brasil faz acordos para ampliar voos com Canadá, México e Rússia
A Agência Nacional de aviação Civil (Anac) anunciou ontem que firmou acordos para expandir a quantidade de voos que ligam o Brasil a Canadá, México e Rússia. No caso do Canadá, o acordo elimina limite de número de frequências e ainda permite compartilhamento de voos entre empresas dos dois países. A Anac também adotou regime de liberdade tarifária para voos entre Brasil, Canadá e Rússia.
ÚLTIMA HORA
Gol prevê reajuste nas passagens
O presidente da Gol Linhas Aéreas, Constantino de Oliveira Junior, afirmou que a alta do preço do barril do petróleo faz a companhia repensar as tarifas. O executivo destacou que o preço a US$ 104 do barril, o valor dos bilhetes aéreos pode subir. O anúncio acontece pouco mais de um mês depois de o diretor de mercados de capitais da companhia, Rodrigo Alves, ter garantido em entrevista ao que os valores estavam assegurados, uma vez que a empresa possui um contrato que protege 40% da compra de petróleo por preço fixo durante três meses. “É uma equação complicada, mas a variação poderá acontecer tanto para cima quanto para baixo. Temos a pressão cambial e do preço do petróleo”, disse Oliveira Junior.
Segundo ele, a Gol ainda não repassou o aumento dos custos para os passageiros . O executivo disse que se comparar os preços das tarifas entre 2003 a 2009, há uma queda de 48% nos valores que foram praticados pelas aéreas brasileiras. “Mas, se fizermos uma comparação com os preços do ano passado e a previsão de tarifas para 2011, podemos observar que não teremos aumentos acima da inflação. Há uma recomposição”, afirma. Quanto ao aumento da concorrência no mercado brasileiro com o acordo de Céus Abertos assinado com os Estados Unidos, que será concluído até 2015, Oliveira Junior disse que será bom para os clientes. Ele não vê a entrada de grandes companhias americanas como ameaça às brasileiras. “No primeiro momento as empresas dos EUA é que serão mais favorecidas, pois elas já estão no limite do número de voos para o Brasil. Mas, quando o acordo estiver operando plenamente haverá concorrência e isso é sempre bompara o consumidor.”
Ana Paula Machado
Após 14 anos de luta, morre o ex-vice José Alencar
Foram 17 cirurgias e um embate público contra o câncer, que acabou vencendo o homem que começou como balconista, fundou o maior grupo têxtil do Brasil e ajudou a levar Lula à Presidência
Juliana Rangel e Pedro Venceslau
Após 14 anos de luta contra um câncer no aparelho digestivo e 17 cirurgias, período durante o qual assumiu publicamente a luta pela doença e deu exemplos de otimismo, morreu ontem o ex-vice-presidente da República, José Alencar. Aos 79 anos, ele estava internado no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, desde segunda-feira. Durante todo o dia,o objetivo da equipe médica, liderada por Raul Cutait, foi evitar que Alencar sofresse no estágio final da doença. Depois de passar a madrugada com fortes dores, ele foi sedado pela manhã. Alencar morreu às 14h41, em decorrência do câncer e de falência múltipla dos órgãos.
Desde dezembro, o ex-vicepresidente encontrava-se bastante debilitado. Apesar da saúde frágil, no fim de dezembro, ele chegou a vestir um terno e mobilizar a equipe de segurança da presidência para assistir à posse de Dilma Rousseff no dia 1º, em Brasília, mas foi impedido pelos médicos. Do empresário ao político Mineiro nascido em Muriaé, José Alencar iniciou na política pela via empresarial, quando assumiu bandeiras do segmento por meio da presidência da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, de 1989 a 1994, e a vice-presidência da Confederação Nacional da Indústria. Mas só incorporou de fato a vida pública aos 60, em 1994, quando se candidatou às eleições para o governo de Minas Gerais e perdeu o pleito. Em 1998, disputou uma vaga no Senado Federal e foi eleito com quase 3milhões de votos.
No Senado, presidiu a Comissão Permanente de Serviço de Infraestrutura, foi membro das Comissões Permanentes de Assuntos Econômicos e Sociais. Ao mesmo tempo em que foi o fiador da aproximação de Lula com os empresários, ALENCAR,político oriundo da direita, nunca deixou de bater na tecla da necessidade de redução de juros e desoneração da produção. Certa vez, em entrevista coletiva no BNDES, defendeu que o Banco Central fixasse uma “meta para a taxa básica Selic” em vez de preocupar-se apenas com inflação e superávit. O cientista político Murilo de Aragão lembra que a escolha de Alencar foi feita pelo próprio Lula, coma ajuda do então coordenador da campanha, Antônio Palocci. “Como Palocci, Lula fez a Carta ao Povo Brasileiro assumindo compromissos de prudência naquele momento em que o mercado estava agitado commedo de sua vitória”, diz.
Ao contrário de Michel Temer, vice da presidente Dilma Rousseff, Alencar não tinha um grande currículo como político. Mas, graças ao seu perfil conciliador, foi uma espécie de bombeiro da política mineira. No começo de 2010, quando o impasse entre PT e PMDB parecia intransponível, chegou a ser convidado para disputar o governo estadual de Minas. Declinou da ideia, mas costurou a paz. Depois disso ainda foi chamado para concorrer ao Senado. Cogitou a ideia, mas desistiu devido ao seu estado de saúde. De origem humilde, aproximou-se do presidente Lula, de quem se tornou grande amigo. Em diversos eventos públicos chegaram a trocar declarações de amizade e afinidade, incluindo o amor pela típica bebida mineira, a cachaça. Mesmo no hospital, Alencar disse que esperava assistir à posse de Dilma e “tomar um golinho”.
FRASES
"Seu amor pela vida e seu espírito de luta servirão, hoje e sempre, como um exemplo singular para todos os brasileiros"
Nelson Jobim, ministro da Defesa
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