DESTAQUE DE CAPA
Acordo entrega comando da operação na Líbia à Otan
Num esforço para tentar superar a crise entre as países da coalizão que intervem na Líbia, a França anunciou a criação de um “comitê político internacional" para dirigir a operação. Com isso, Paris mascara o papel da Otan no comando efetivo da ofensiva, como pediam americanos e os britânicos. Antes, Londres abriu novo foco de divergência ao levantar a possibilidade de enviar força terrestre à Líbia para "proteger civis" – cenário que tem sido rejeitado por Washington e Paris. A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, sugeriu que enviados do ditador líbio, Muamar Kadafi, podem estar buscando um eventual exílio do ditador. Mas ele apareceu em Trípoli e disse que resistirá. A situação era bem mais tranquila ontem em Benghazi, relata o enviado especial Lourival Sant"Anna. Aparentemente os rebeldes estão conseguindo neutralizar as milícias pró-Kadafi na área.
NACIONAL
Levantamento constata desaceleração do PAC
Com Dilma, programa até agora só se comprometeu a gastar 2,1% das despesas autorizadas, e 99,8% dos pagamentos feitos são contas deixadas por Lula
Marta Salomon, de O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Nos 80 primeiros dias de governo Dilma Rousseff, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) só se comprometeu a gastar 2,1% das despesas autorizadas por lei para 2011. Dono do maior orçamento do PAC, o Ministério das Cidades foi um dos que menos avançaram: 0,9% dos gastos autorizados foram objeto dos chamados empenhos, que correspondem ao primeiro passo no processo de gastos.
Parte da lentidão no ritmo dos investimentos se explica pelo volume de contas pendentes deixadas pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva, quando Dilma Rousseff coordenava o PAC. Até segunda-feira, 99,8% dos pagamentos feitos do PAC eram contas deixadas por Lula. E ainda há por pagar uma conta quase seis vezes maior: R$ 28,2 bilhões, só do Programa de Aceleração do Crescimento. Os dados foram consultados no Siafi, sistema que registra os gastos da União, pela ONG Contas Abertas.
Até o dia 21, o governo havia se comprometido a gastar R$ 863 milhões dos R$ 40,1 bilhões de gastos autorizados no PAC em 2011. Os investimentos em geral foram o principal alvo do aperto nas contas públicas deste início de governo. Os gastos de custeio e com juros tiveram um ritmo mais acelerado do que no mesmo período do último ano de mandato de Lula.
Do volume total de investimentos autorizados no Orçamento - R$ 63,7 bilhões -, o governo se comprometeu a gastar R$ 1,3 bilhão. Até 21 de março, o Tesouro Nacional havia desembolsado R$ 6,6 bilhões para pagar investimentos feitos por Lula, e ainda restava uma conta de R$ 49,6 bilhões por pagar.
STF deve adiar lei da Ficha Limpa para 2012
Norma que barra candidatos condenados não terá efeito sobre eleição do ano passado
Felipe Recondo e Mariângela Gallucci / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
O Supremo Tribunal Federal volta a julgar hoje a Lei da Ficha Limpa sob a expectativa de que derrube seus efeitos nas eleições de 2010. Por ter sido aprovada em ano eleitoral, a tendência, na Corte, é de que a maioria dos ministros, incluindo o novo integrante do tribunal, Luiz Fux, conclua que a lei só pode vigorar a partir das eleições de 2012. Se confirmada a decisão, candidatos eleitos barrados pela lei poderão tomar posse.
Dentre esses beneficiados estão Jader Barbalho (PMDB-PA), barrado por ter renunciado ao mandato em 2001 para fugir do processo de cassação, mais o ex-governador da Paraíba Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), cassado por abuso do poder econômico, e João Capiberibe (PSB-AP), senador cassado em 2004 por compra de votos. Todos tiveram votos suficientes para se elegerem para o Senado, mas foram impedidos de tomar posse pela Justiça Eleitoral.
Os candidatos que assumiram essas vagas, no caso, perdem os mandatos. Na Câmara, com a alteração do coeficiente eleitoral, deputados que hoje estão exercendo mandato deverão também perder suas vagas. Todo esse processo, adiantam os ministros, deverá gerar confusão.
O "caminho mais fácil", como definiu um ministro, será apenas dizer que a legislação não poderia ser aplicada no ano passado. Assim, os diversos pontos polêmicos da lei ficarão à espera de um futuro e incerto julgamento do Supremo. Isso deverá acontecer apenas no ano que vem, quando candidatos a vereador e prefeito forem barrados com base na lei e recorrerem novamente ao STF.
A decisão de hoje resolverá o impasse surgido no ano passado pela falta de um integrante da Corte e o empate nos julgamentos dos casos de Joaquim Roriz e Jader Barbalho. Quando os recursos dos dois políticos foram julgados, o STF estava com sua composição incompleta. As votações terminaram empatadas em 5 a 5. Diante do impasse, Roriz renunciou à candidatura. Quanto a Barbalho, o STF concluiu que deveria prevalecer o entendimento do TSE, contrário à sua candidatura.
AEROPORTOS
Dilma veta privilégio a lojistas de aeroportos
Emenda permitiria prorrogação, sem licitação, de contratos de 4 mil lojas nos 67 aeroportos administrados pela Infraero
Tânia Monteiro, de O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff vetou a emenda que permitiria a prorrogação, sem licitação, dos contratos de concessão de 4 mil lojas comerciais nos 67 aeroportos administrados pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) até o fim da Olimpíada em 2016.
Os contratos representam receitas de R$ 948 milhões anuais, segundo a estatal. O artigo 7.º da lei que cria a Autoridade Pública Olímpica (APO), que permitia a prorrogação dos contratos, foi introduzido no texto - na época ainda uma medida provisória -, por emenda de autoria do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS). Ele apresentou a proposta a pedido dos concessionários.
Ao apresentar as razões do veto, o governo justificou que não estavam claras as vantagens da prorrogação das concessões. "Não estão claros os benefícios aos usuários e à administração que adviriam da excepcionalidade à regra de adoção de processo de licitação para as contratações públicas", diz a justificativa do veto publicada no Diário Oficial.
DIREITOS HUMANOS
Rosário prega busca a ossadas ‘sem revanche’
Ministra diz que projeto da Comissão da Verdade não prevê punição, pois reconhece Lei da Anistia
Fausto Macedo, de O Estado de S. Paulo
A ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, declarou nessa terça-feira, 22, à beira da sepultura onde se presume que estavam os restos mortais do desaparecido político Virgílio Gomes da Silva, o Jonas: "Não estamos movidos hoje pela punição de quem quer que seja, mas pelo direito das famílias de sepultarem seus mortos".
Rosário foi ao Cemitério da Vila Formosa, zona leste de São Paulo, onde acompanhou durante cerca de 40 minutos os trabalhos dos peritos da Polícia Federal que desde dezembro buscam, em parceria com a Procuradoria da República e o Ministério da Justiça, vestígios de militantes capturados pela repressão.
O Vila Formosa, maior cemitério da América Latina, teria sido usado como depósito clandestino de corpos de prisioneiros dos anos de chumbo. Há um mês, os técnicos escavaram túmulos da quadra 47, onde estaria a ossada de Jonas - guerrilheiro da Ação Libertadora Nacional (ALN) preso pela Operação Bandeirantes em 29 de setembro de 1969.
Ao lado dos procuradores federais Eugenia Fávero e Marlon Weickert, a ministra defendeu a criação da Comissão da Verdade. "É muito importante aprovarmos uma Comissão da Verdade. Mas, se nesse momento estivéssemos em uma posição de revanche ou movidos pelo ódio, não conseguiríamos unir o Brasil com essa causa", ressalvou.
Ela destacou ter procurado separar uma questão da outra. "Vamos tentar cumprir cada meta indicada pela Corte Internacional de Direitos Humanos da OEA. No entanto, com relação às questões de punição de quem quer que seja pelos crimes cometidos no período da ditadura militar, elas não se encontram na alçada do Poder Executivo."
A ministra ressaltou o papel da Justiça nas demandas relativas a eventuais sanções a torturadores. "Há uma sentença do Supremo Tribunal Federal sobre a Lei da Anistia. Punições ou não dizem respeito ao Judiciário brasileiro. Nossa missão é propor, como de fato foi feito, a criação da Comissão da Verdade. Esse projeto não prevê punição a quem quer que seja porque reconhece a Lei da Anistia."
Maria do Rosário enfatizou: "Qualquer modificação nisso depende das cortes e do Judiciário". "Não diz respeito diretamente ao Executivo. Como sou governo, tenho posição de governo. Os debates acerca das questões jurídicas ficam no âmbito do STF nesse momento."
‘Não posso falar mais nada, estou nervosa’
Aquela mulher de cabelos brancos, amparada pelos filhos, clama por “direito a memória e a verdade”. Aos79anos, Ilda da Silva, viúva do guerrilheiro Jonas, voltou ao cemitério de Vila Formosa. Tímida, vestida em uma camiseta que traz no peito o nome do companheiro, ela ficou contemplando o vaivém dos peritos da PF sobre a terra revolvida e ouviu a ministra Maria do Rosário. “Ela explicou tudo direitinho. Foi uma emoção muito grande. Eu não posso falar mais nada, eu estou nervosa.”
Falou dos mortos que a repressão não entregou a seus entes e que a historia rotulou desaparecidos.“ Eles ficaram todos esquecidos. Não ligaram para encontrar os desaparecidos.”
Jonas teria hoje 76 anos. “Não pode por uma pedra em cima do passado”,protesta Virgilio,engenheiro mecânico,um dos quatro filhos. “Essa pedra e muito pesada. Existe uma divida do Estado e das pessoas que ainda estão ai, ocupando cargos públicos.”
“Sinto que meu pai esta ressuscitando a cada dia”, disse Isabel Maria, professora, que tinha 4 meses de idade quando o pai foi arrastado pelos agentes dos porões e ela foi junto. “Estava morto e desaparecido, mas agora acho que ele esta voltando.”
São peritos da medicina forense do Instituto Nacional de Criminalística (INC) da PF que buscam identificar a ossada que seria de Jonas. Essa etapa da missão esta sendo realizada no Instituto Medico Legal de São Paulo. Depois, o exame de DNA. “Os restos mortais que estamos examinando são compatíveis com os de Virgilio”, disse Jeferson Evangelista Correa, chefe da equipe federal.“Do ponto de vista antropológico ha compatibilidade, medidas,estatura,características físicas, ósseas e dentarias. Mas para a conclusão vamos extrair material genético e confrontar com o banco de dados da Secretaria de Direitos Humanos.” F.M.
NOTAS & INFORMAÇÕES
Quem é quem
Se for verdade que o ex-presidente Lula acredita que a imprensa elogia a sucessora Dilma Rousseff para deixá-lo mal na comparação, ou para abrir uma cunha no relacionamento entre ambos, mais uma vez ele estará se deixando mistificar pela teoria conspiratória a que sempre apela para desqualificar as opiniões que o incomodam. No seu governo, especialmente depois do escândalo do mensalão, qualquer crítica ao que dissesse ou fizesse era rebatida como se fosse prova do "complô das elites" - expressão que não se cansaria de repetir - para derrubá-lo. O complô só existiu na imaginação do autor, contaminada afinal pela própria versão para consumo externo.
Agora, diz achar "no mínimo hilariante" a mídia apontar diferenças de desempenho entre ele e a nova presidente. Na segunda-feira, ao participar de um jantar em sua homenagem, promovido pela Federação das Associações Muçulmanas do Brasil, em São Paulo, foi assim que ele concluiu um raciocínio que prima pela quase-lógica de inumeráveis outros argumentos de sua lavra. "Durante oito anos alguns adversários tentaram vender que éramos a continuidade do governo anterior", acusou, como se isso não fosse verdade em matéria de política econômica. "Agora que elegemos uma pessoa para dar continuidade, eles estão dizendo que está diferente."
Está - no fundo e na forma. Basta citar, na primeira categoria, o claro contraste entre o que vinha sendo e o que passou a ser a política externa brasileira, no campo dos direitos humanos, que serve cada vez mais para aferir a coerência entre palavras e atos dos países que aspiram ao respeito da comunidade internacional. Lula invocava o que seria o interesse nacional para confraternizar com tiranos como o iraniano Mahmoud Ahmadinejad e o líbio Muamar Kadafi. Já Dilma parece entender que a promoção do interesse nacional é compatível, quando não beneficiada, com atos objetivos em defesa de valores compartilhados com o que o mundo tem de melhor.
Na forma, então, nem se fala. A compostura, a contenção verbal e o manifesto respeito pela instituição que lhe tocou comandar representam uma formidável mudança simplesmente impossível de ser ignorada - e elogiada por todos quantos acreditam que palácio não é palanque e civilidade política fortalece a democracia. Se fosse preciso condensar em um único episódio o alcance dessa transformação, eis aí, ainda muito vivas, a decisão de Dilma de convidar todos os ex-presidentes para o almoço com o presidente americano, Barack Obama, no Itamaraty, e a decisão de Lula de não comparecer.
O convite da presidente foi mais do que um ato de consideração por seus antecessores ou de reconhecimento da importância da visita para o País. Foi uma oportunidade para mostrar, a quem quisesse ver, que o País é uma democracia amadurecida em que o Estado fala com voz única com os seus interlocutores estrangeiros. Mais do que isso, uma oportunidade para reconhecer, pública e explicitamente, que não avaliza o sentido do "nunca antes na história deste país", admitindo que o que houve de bom no governo Lula só foi possível porque a herança que ele recebeu do seu antecessor, particularmente no que se refere ao saneamento das finanças do Estado nacional, foi rigorosamente respeitada, por seu ministro da Fazenda, Antonio Palocci.
Fez isso, com requintes de elegância, primeiro, colocando Fernando Henrique Cardoso na sua mesa e, depois, caminhando até ele para tocar sua taça na hora do brinde oficial. Ela poderia ter sido apenas correta; escolheu ser cordial, fazendo um claro gesto político.
Já Lula, com a sua ausência, escolheu a grosseria que não é alheia ao seu temperamento, mas que não se esperaria fosse dirigir à presidente de quem foi o primeiro e maior cabo eleitoral. Pior do que a recusa foi a versão difundida pelo seu pessoal de que, na realidade, ele não queria "ofuscar" a sua apadrinhada.
O fato é que Lula tem alergia a dividir o palco com quem quer que seja. No almoço, ele seria um ex-presidente ao lado de outros quatro - uma condição intolerável para quem não consegue desencarnar da Presidência e a ela pretende voltar. Afinal, algo se ganhou com a desfeita. Serviu para mostrar quem é quem.
CONSELHO DE SEGURANÇA
Dilma diz que não é concebível reforma do CS da ONU sem Brasil
22 de março de 2011 | 20h 03
REUTERS
A presidente Dilma Rousseff disse nesta terça-feira não ser concebível uma reforma do Conselho de Segurança da ONU que não inclua o Brasil como membro permanente do órgão.
"Não é concebível uma ONU reformada sem o Brasil. Nós não temos a menor dúvida quanto a isso", disse Dilma a jornalistas em Manaus após o lançamento de programa para prevenção e tratamento do câncer de mama e do colo de útero.
A obtenção de um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) é um dos principais objetivos da política externa brasileira. A reforma do órgão e a inclusão do Brasil foi, inclusive, um dos temas tratados por Dilma com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, durante a visita dele a Brasília no sábado.
Brasil e outros países, como Índia e Alemanha, defendem uma reforma do Conselho que permita a ampliação dos membros permanentes. Atualmente, são integrantes fixos Estados Unidos, Rússia, Grã-Bretanha, França e China.
VOO 447
Novas buscas pelas caixas-pretas do voo 447 começam na próxima semana
Em 2009, acidente matou todas as 228 pessoas a bordo após sair do Rio com destino a Paris
AP
SÃO PAULO - Uma quarta rodada de buscas pelos destroços do avião que fazia o voo 447 da Air France deve começar na próxima semana, disseram oficiais franceses nesta terça-feira, 22. O objetivo da investigação é encontrar as caixas-pretas do Airbus, que poderiam determinar a causa da tragédia.
Martine del Bono, porta-voz da agência francesa que supervisiona as buscas, afirmou que a nova operação vai durar até julho. Uma embarcação equipada com três robôs subaquáticos vai realizar as buscas na região da costa do Nordeste.
Em 2009, o acidente matou todas as 228 pessoas a bordo após sair do Rio com destino a Paris. Na semana passada, a Air France também foi indiciada pela tragédia. A companhia aérea disse que a decisão é "infundada."
JIRAU
Operário volta a Jirau para não perder emprego
Entrada no canteiro de obras foi acompanhada por homens da Força Nacional que fizeram uma revista rigorosa em quem chegava para trabalhar
Leonencio Nossa - O Estado de S.Paulo
Por temor de perder o emprego e o fim de pagamentos extras, centenas de operários voltaram na tarde de ontem para o canteiro de obras da usina de Jirau, no Rio Madeira, incendiado na semana passada por um grupo de funcionários. A entrada dos operários foi acompanhada por homens da Força Nacional de Segurança, que fizeram uma rigorosa revista de quem chegava para trabalhar.
"Eles só querem deixar o povo com "sede" dentro do canteiro", brincou um motorista que aguardava angustiado a retomada dos trabalhos na usina para descarregar. Ele se referia à proibição de bebida alcoólica. A ação dos agentes foi mais de intimidação, avaliaram os próprios revistados.
A Justiça do Trabalho de Rondônia determinou que as empresas construtoras mantivessem o salário dos operários durante a paralisação das atividades e pagassem o transporte de quem quisesse retornar à cidade de origem. Muitos, porém, decidiram atender ao apelo de encarregados para retornar ao canteiro e apressar a retomada das obras.
Alojado desde quinta-feira num clube de Porto Velho, o pernambucano Itamar Manoel da Silva Sales, 29 anos, foi um dos que optaram voltar para a obra. "A empresa só pagava R$ 100 para as despesas da viagem de cinco dias até Recife. E se eu ficasse em casa, só ia receber R$ 700, o que está na carteira", disse. "Sem hora extra não dá para sustentar mulher e três meninos." Silva afirmou que não foi pressionado pela empresa a voltar ao trabalho, mas relatou que não recebeu garantia de permanecer com a vaga. "O cara da firma não deu certeza de segurar a vaga de quem fosse embora", contou. "Ele disse que tinha de ver quem tinha ido e quem não tinha."
O sergipano Ricardo Silveira, 27 anos, de Neópolis, disse que se esforçou para suportar a precariedade de um alojamento provisório em Porto Velho. "Eu não podia ir embora. Aqui, com hora extra, dá para receber mais de R$ 1 mil." Silveira ressaltou que teve de deixar de lado, também, o medo de mais um quebra-quebra, como o da semana passada.
"Duas semanas". O clima agora em Jirau lembra as obras tocadas pelo regime militar na Amazônia, no final dos anos 70 e começo dos 80, como as construções da Hidrelétrica de Tucuruí e de aeroportos, que foram acompanhadas por agentes das Forças Armadas. Desta vez, porém, os canteiros vigiados por agentes de segurança são de obras de uma usina que será operada pela iniciativa privada e não pelo governo.
Procuradores do Trabalho de Rondônia observaram que o aparato policial não garante um clima de normalidade. Eles lembram que o incêndio no alojamento da empresa Enesa, na sexta-feira, ocorreu no momento em que Jirau estava ocupada pela Força Nacional de Segurança Pública. Na avaliação do Ministério Público, só a garantia de direitos e tratamento respeitoso evitam um novo quebra-quebra.
TENSÃO NO ORIENTE MÉDIO
Acordo deve dar à Otan comando militar de intervenção contra Kadafi
Um acordo para que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) assuma o comando da operação militar na Líbia guiada por um comitê formado por chanceleres do Ocidente e de países árabes deve entrar em vigor nos próximos dias. Para participar da ação, a Otan precisa da aprovação de 28 de seus países-membros, entre eles a Turquia, que insiste em uma operação militar mais restrita e garantias de que não haverá uma ocupação na Líbia.
Mas, após um movimentado dia de diplomacia, que incluiu telefonemas do presidente Barack Obama aos líderes francês, britânico e turco, um amplo acordo foi acertado para que a Otan obtivesse um importante envolvimento na operação.
O acordo resolverá dois problemas: dará aos EUA - que estão comandando a intervenção militar na Líbia para evitar que o regime de Muamar Kadafi massacre a população, mas estão com pressa de passar o controle para a frente - uma organização para entregar o comando. E ele também dará uma cobertura política à Otan, que, segundo alguns, não é bem vista pelo mundo muçulmano por causa de sua participação na guerra no Afeganistão.
"Quando essa transição ocorrer não serão nossos aviões que manterão a zona de exclusão aérea. Não serão nossos navios que necessariamente controlarão o embargo de armas. Isso é exatamente o que as outras nações farão", disse Obama em uma entrevista coletiva em El Salvador.
Paris mascara com a manobra o papel da Otan no comando efetivo das operações, como pediam americanos - que sofrem com o desgaste político e o ônus econômico de liderar duas guerras no exterior - e britânicos.
Na segunda-feira, divergências entre os principais membros da coalizão aprofundaram-se em Bruxelas, durante a reunião dos chanceleres da União Europeia. Pela manhã, Obama pressionava por rapidez na transferência do comando, "Espero que dentro de alguns dias nós tenhamos clareza e um acordo entre aqueles que participam do processo", declarou.
A polêmica sobre o comando estendia-se até a tarde de ontem, quando a fórmula do comitê político foi elaborada. "Levei a proposta a nossos colegas britânicos, que estão de acordo com a criação de uma instância de coordenação política da operação, reunindo os chanceleres dos países interventores e os da Liga Árabe", anunciou o chanceler francês Alain Juppé. "A partir dessa coordenação política, utilizaremos a capacidade de planejamento e intervenção da Otan."
A primeira reunião do comando político, cuja data ainda não foi definida, será em Bruxelas, Londres ou Paris, afirmou Juppé. Além de garantir o apoio árabe para os bombardeios, a ideia do comitê é driblar a resistência da Alemanha e da Turquia - dois membros da Otan.
Ontem, o secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, e Juppé mencionaram pela primeira vez a necessidade de encerrar os bombardeios nos próximos dias. "As ações militares na Líbia serão fortemente reduzidas em alguns dias", antecipou o americano. Já em Londres, o chanceler William Hague se recusou a estipular um prazo para o fim da intervenção militar. "Consideramos que estamos na primeira fase (da ofensiva)", disse. "Não acho que possamos fixar uma data final sobre isso."
Pela manhã, o ministro das Forças Armadas, Nick Harvey, afirmara à rede BBC que a possibilidade de enviar uma força terrestre à Líbia não estava descartada - um cenário que tem sido sistematicamente afastado por Washington e Paris. Segundo Harvey, a força não seria de ocupação, nem teria "escala significativa", mas atuaria num "papel defensivo, para proteger os civis". / AP, COM ANDREI NETTO, DE PARIS
DIFERENÇAS
Comando - EUA insistiram para que França assumisse; Paris receia que a Otan afaste os países árabes
Estratégia - Grã-Bretanha fala em intervenção terrestre; EUA e França rejeitam
Objetivo - Não está claro quanto ao futuro de Kadafi
Paris organiza força capaz de liderar ataques
Entre os aviões usados contra a Líbia está o jato Rafale, que pode ser vendido para o Brasil
Roberto Godoy
A força expedicionária montada pela França pretende liderar –e não servir de coadjuvante – o processo de imposição da zona de exclusão aérea na Líbia. A grande máquina militar é o argumento mais forte do presidente Nicolas Sarkozy.
Só a Forca Aérea mobilizou oito supersônicos Rafale, quatro Mirages 2000.5 e dois grandes jatos especializados, um para o reabastecimento em voo e outro de vigilância avançada, o Awacs.
Está no mar, e se aproxima da área, o porta-aviões R91 Charles de Gaulle, de propulsão nuclear. E um gigante de 42,2mil toneladas, com 261 metros de comprimento e 64,36m de largura.A ala aérea e estimada em 15 cacas – Rafale e Super Etendard –, helicópteros e um avião de inteligencia e controle Hawkeye.
Viajando a 50 km/hora, o R91 deveria chegar ontem a noite na região. Ele leva 1,9 mil tripulantes, técnicos, pilotos e suprimentos para 45 dias. A escolta não e pequena. Duas fragatas de defesa antiaérea, um cargueiro, um submarino atômico e um destróier antissubmarino.Os depósitos estão abarrotados de bombas guiadas e mísseis de tecnologia avançada.
Para alguns desses sistemas e o batismo de fogo, caso das novas bombas inteligentes AASM, da Sagem Defense. Algumas pesam ate mil quilos. Combinam, na plataforma de navegação, sensores inerciais, radar e GPS. Disparadas a grande altitude, podem atingir alvos a distancia de 50 km com erro de 10 metros.
Quase tudo esta a venda. Cacas Rafale disputam contrato no Brasil, nos Emirados Árabes e, sem que tenham sido identificados, em dois países da Ásia. O comprador dos aviões encomendara também o armamento, coisas como as AASM, ou os mísseis Apache, de cruzeiro, disparados no primeiro minuto do primeiro ataque.
Os EUA estão na operação com seus bombardeiros invisíveis B-2 Spirit e sete outros tipos de aeronaves. Na retaguarda, duas frotas navais no Mediterraneo e no litoral do Bahrein. As outras sete nações envolvidas mobilizarão cerca de 50 aviões , fragatas e dois submarinos.
JAPÃO
Radiação excessiva é encontrada na água de Tóquio
Segundo autoridades, água da torneira está imprópria para o consumo por bebês, mas não por adultos.
23 de março de 2011 | 6h 12
Segundo a ONU, ainda há vazamento de radiação em Fukushima
Autoridades em Tóquio afirmaram nesta quarta-feira que os níveis de radiação da água das torneiras da cidade a deixam imprópria para o consumo por bebês.
O nível de iodo radioativo em algumas áreas é de mais do que o dobro do nível considerado seguro.
O governo japonês impôs novas restrições ao consumo de alimentos de áreas afetadas pelos vazamentos da usina nuclear de Fukushima.
Os Estados Unidos também anunciaram restrições à importação de certos alimentos japoneses.
Os níveis de iodo-131 radioativo em algumas áreas de Tóquio é de 210 becquerels (unidade de medida de radiação) por litro. O nível considerado seguro para o consumo por bebês é de 100 becquerels por litro.
As autoridades advertiram a população a não dar água da torneira para crianças, mas não houve uma advertência imediata em relação ao consumo por adultos.
O Japão luta para conter o vazamento de radiação nos reatores da usina de Fukushima, atingida pelo terremoto e pelo tsunami do dia 11 de março.
Mortos e danos
O governo japonês confirmou nesta quarta-feira 9.079 mortes em consequência do tremor e do tsunami. Outras 12.645 pessoas ainda estão desaparecidas.
O custo dos danos provocados pelo desastre foram estimados entre 16 trilhões e 25 trilhões de ienes (entre R$ 328 bilhões e R$ 513 bilhões).
O primeiro-ministro do Japão, Naoto Kan, ordenou aos governadores das províncias de Fukushima e da vizinha Ibaraki que interrompessem os carregamentos de vários produtos agrícolas para exportação.
A lista inclui verduras, brócoli, salsinha e leite não-pasteurizado, após testes terem indicado níveis de radiação maiores do que o normal.
O chefe de Gabinete do governo japonês, Yukio Edano, afirmou em uma entrevista coletiva que os importadores de alimentos japoneses devem adotar uma "atitude lógica".
Os fabricantes e comerciantes de alimentos e peixes japoneses expressam uma crescente preocupação sobre os efeitos que a crise poderá ter sobre suas fontes de renda.
Vazamento
Funcionários do reator 2 da usina de Fukushima interromperam novamente os trabalhos de resfriamento nesta quarta-feira, após uma elevação nos níveis de radiação.
A agência de energia atômica da ONU afirmou que ainda há radiação vazando da usina.
A empresa operadora da usina Fukushima Daiichi, a Tepco (Tokyo Eletric Power), afirmou que a restauração da energia elétrica em todos os reatores poderá ainda levar semanas ou até meses.
Na terça-feira, um alto funcionário da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), James Lyons, disse que não poderia confirmar se os reatores danificados estavam "intactos" ou se racharam e estariam vazando radiação.
"Continuamos a ver radiação saindo do local e a questão é saber de onde exatamente ela está vindo", afirmou Lyons.
O governo japonês retirou dezenas de milhares de pessoas em um raio de 20 quilômetros da usina e disse aos moradores a até 30 quilômetros de distância para permanecerem dentro de casa. Os Estados Unidos recomendaram uma zona de exclusão num raio de 80 quilômetros para seus cidadãos.
O vice-presidente da Tepco, Norio Tsuzumi, visitou os centros de desabrigados para se reunir com as famílias obrigadas a deixar suas casas.
Curvando-se bastante, num sinal de respeito segundo a cultura japonesa, ele disse: "Como tentei administrar este problema diretamente com o governo, minha visita para encontrar vocês diretamente foi adiada. Por isso, eu também peço desculpas do fundo do meu coração".
Enquanto isso, tremores secundários continuam a assustar a população do nordeste do Japão, aumentando ainda mais os problemas das mais de 300 mil pessoas ainda alojadas em centros de desabrigados em 16 províncias japonesas.
Dezenas de milhares de casas ainda estão sem energia e mais de 2 milhões de pessoas estão sem água, segundo as autoridades japonesas. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
QUESTÃO NUCLEAR
Ativistas protestam e funcionários defendem Angra
Ambientalistas criticam problemas de segurança da usina, como o plano de retirada em caso de acidente como o do Japão
Felipe Werneck - O Estado de S.Paulo
De um lado, ambientalistas e estudantes da rede municipal com uniformes por baixo de camisetas pretas. Do outro, funcionários da Eletronuclear, alguns com crachás da empresa pendurados no pescoço, vestindo branco. O centro de Angra dos Reis, no litoral fluminense, foi palco ontem de manifestações opostas e simultâneas, contra e a favor da expansão do programa nuclear brasileiro com a prometida construção da usina Angra 3.
"Nossa manifestação é pacífica e silenciosa", avisou Rafael Ribeiro, um dos conselheiros da ONG Sociedade Angrense de Proteção Ecológica (Sape), pouco depois de os manifestantes dos dois grupos se cruzarem na Praça General Osório.
Cerca de 40 estudantes de duas escolas públicas engrossaram o coro de duas dezenas de ambientalistas, que percorreram ruas carregando faixas, velas acesas, uma coroa de flores e um caixão cenográfico até a Praça da Matriz, em passeata, usando máscaras brancas no rosto e cobertos por panos pretos.
O grupo do "sim" era menor, cerca de 25 pessoas ao todo. "Nossa intenção não é o embate, mas o contraponto. Eles (os ambientalistas) estão tirando proveito da tragédia no Japão", disse o técnico de edificações Donato Borges, de 51 anos, que trabalha há 34 na Central Nuclear de Angra. Vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil na região e um dos coordenadores do Movimento Pró-Angra 3, ele reconheceu que o ato foi motivado pelo anúncio do protesto ambientalista, na véspera. Borges disse que o objetivo era mostrar a importância da construção da terceira usina para a criação de empregos. "Sem as obras, serão 3 mil pessoas na rua em Angra." Para Ribeiro, o ato dos funcionários foi "uma provocação apelativa". "São pessoas ligadas ao PT que estão penduradas na Eletronuclear e fazem esse papelão."
Outro participante da marcha dos de branco alardeava a "segurança" das instalações. "Nós temos uma Ferrari, eles (os japoneses) tinham um Fusca. Estamos aqui para mostrar as diferenças entre as usinas", disse o funcionário da Odebrecht Marcelo Vidal, de 39 anos, que trabalha há 15 anos em Angra 2 e preside o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil no município.
Segundo o ambientalista, o objetivo era chamar a atenção para os "problemas e a insegurança nuclear" em Angra. "O raio de 5 km para retirada em caso de emergência é ridículo, uma farsa", afirmou.
Segundo ele, além de uma "revisão profunda" para criação de um plano de fato seguro, é preciso melhorar as informações divulgadas à população, as vias de acesso e a infraestrutura.
"No Japão, também sempre disseram que não ia ter problema. Precisamos considerar o imponderável. O risco da usina é pequeno, mas o impacto é devastador", disse Ribeiro. "A população em Angra não está preparada para agir diante de um acidente. Exigimos do governo que, se não tem condições de oferecer segurança, não mantenha as usinas."
Um grupo de três voluntários do Greenpeace no Rio acompanhou a manifestação. "A gente veio apoiar", disse o estudante de engenharia mecânica Rodrigo Batista, que pretende se especializar em energias renováveis. "O projeto de lei de 2008 que trata disso está parado."
Alexandre Silva, do Comitê de Defesa da Ilha Grande, alertou para a dificuldade de remoção dos moradores da ilha em caso de emergência na central nuclear. Segundo ele, hoje esses moradores não são considerados nos planos de prevenção. Convocados por professores da rede municipal, os estudantes receberam um lanche após a participação no ato dos ambientalistas, que teve apoio da fundação alemã Heinrich Böll.
VISÃO GLOBAL
Obama presencia o Surgimento de duas Américas Latinas
Crescimento leva a região a acentuar diferenças internas
*JORGE CASTAÑEDA
PROJECT SYNDICATE
Ocorrente giro do presidente americano, Barack Obama, pela America Latina, provavelmente, terá pouca substancia, muitos floreios retóricos e simbolismos e poderá incluir alguns anúncios que afetam os negócios dos EUA na região. Mais importante do que isso, porem, e que ele vera historias de sucesso reais e como a região como um todo mudou.
A principal mudança é que a América Latina esta dividida em duas. Aliás, essa pode ser a ultima viagem que um presidente americano faz a “America Latina”. Visitas posteriores serão ou a America do Sul ou ao México e ao Caribe.
Antes inspiradora, a noticia do sucesso do Chile já e velha. Mais de duas décadas de democracia e crescimento econômico praticamente garantirão que, se apenas se mantiver no curso, o pais chegara perto do status de pais desenvolvido em 2020.
E ha todas as razoes para se acreditar que ele se manterá no curso, mesmo que o presidente Sebastian Pinera, que administrara o melhor desempenho econômico do Chile em 15 anos,for sucedido pela ex-presidente e rival Michele Bacheletem2014. Ate a proverbial desigualdade do pais está começando a diminuir, ainda que lentamente, e os padrões de vida da baixa classe media estão finalmente avançando para o lugar que deveriam estar ha uma década.
O sucesso do Brasil também e bem conhecido. Milhões de famílias foram tiradas da pobreza. A desigualdade diminuiu, ainda que de níveis astronomicamente altos. A economia esta crescendo num ritmo sustentável. E, enquanto a China e a Índia mantiverem seu apetite insaciável por commodities, as exportações do Brasil financiarão o boom atual de consumo.
Na arena internacional, a presidente Dilma Rousseff se afastou dos excessos de Luiz Inácio Lula da Silva: indiferença a abusos a direitos humanos, apoio ao Ira e a seu programa nuclear e a retórica antiamericana. O Brasil vem cozinhando a questão sobre qual fornecedor escolher para renovar a frota de caças de sua Forca Aérea. Enquanto Lula privilegiava a Franca, Dilma parece ter mudado de rumo e pode estar se inclinando para os EUA.
El Salvador e a historia de sucesso mais interessante da America Latina.O pais esta longe de ser um quadro de saúde e de estabilidade,com altos níveis de criminalidade e violência, emigração em massa, economia em lento crescimento e tensões perpetuas no interior do governo de coalizão de centro-direita.
Guerra civil.
Em 2012, contudo, o pais celebrará o 20º aniversario dos Acordos de Paz de Chapultepec, que encerraram uma década de guerra civil. Desde então, uma nação que nunca realmente experimentara um regime democrático desfrutou de todos os charmes e dificuldades de eleições competitivas, batalhas legislativas e rotação no poder.
Apos uma sucessão de governos conservadores, em 2009 os salvadorenhos elegeram um presidente que concorreu pela Frente Farabundo Martipara Libertação Nacional (FMLN), antigo grupo guerrilheiro que combateu o Exercito salvadorenho e seu aliado americano nos anos 80. A direita aceitou a derrota e a esquerda governou razoavelmente, mantendo o dólar como moeda nacional.
Os EUA ajudariam ainda mais se avançassem na reforma da imigração. El Salvador, juntamente com Equador, lidera o mundo em termos de emigração. O pais tem também uma economia que não esta crescendo o suficiente para conter a maré humana que esta entrando nos EUA por meio do México.
O crescimento estagnado e a imigração são os dois principais fatores que causam a divisão nas Américas. A America do Sul esta se expandindo, enquanto Índia e China engolem suas exportações de ferro, cobre, soja, café, carvão, petróleo,trigo, aves,carne bovina e açucar. Seus padrões de comercio exterior e investimento são diversificados e dinâmicos. Com poucas exceções, a migração ocorre internamente e um modus vivendi foi alcançado com o trafico de drogas,principalmente de folha de coca e cocaína na Bolívia, no Peru e na Colômbia.
Alem disso, as relações com os EUA, embora importantes, já não são supremas. Governos sul-americanos podem sedar ao luxo de discordar dos americanos, e o fazem com freqüência. Eles acabam de eleger um novo presidente da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), cuja sede esta em construção em Quito,Equador.Com o seu nome sugere, a principal razão de ser da Unasul e excluir Canadá, EUA e México (em relação a Organização dos Estados Americanos).
Nada disso vale para México, America Central e as ilhas do Caribe– sobretudo para a Republica Dominicana, mas eventualmente para Cuba também e,de maneira particular, para o Haiti. Não ha países ricos em minerais ou com uma agricultura pujante na região: um pouco de café e banana aqui, de açúcar e carne bovina ali, mas nada para sustentar um grande boom de desenvolvimento. Embora o México seja o segundo maior fornecedor de petróleo para os EUA, isto representa somente 9% de suas exportações totais.
Em vez disso, esses países exportam bens manufaturados de baixo valor agregado (o México exporta mais, e claro) e vivem de remessas de dinheiro de fora, turismo e lucros do trafico de drogas para outros mercados.
Tudo isto esta extremamente concentrado nos EUA: e onde os emigrantes estão, para onde as toalhas e pijamas são despachados, de onde vem os turistas e onde as drogas são compradas. Para esses países, incluindo o México, manter relacoes estaveis, estreitas e produtivas com os EUA e fundamental.
Obama dirá todas as coisas certas durante sua visita e será ovacionado por todas as partes. No entanto, ele deveria meditar sobre as mudanças que estão ocorrendo na região. Uma área esta se libertando da hegemonia americana e prosperando, mas pode afundar, caso o crescimento chinês e indiano desacelerem. A outra está cada vez mais integrada aos EUA e ao Canadá. A America Latina já não e uma entidade única. Longa vida a America Latina. / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK
*É EX-CHANCELER DO MÉXICO E PROFESSOR DE POLÍTICA E ESTUDOS LATINO-AMERICANOS NA UNIVERSIDADE DE NOVA YORK
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