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quinta-feira, 24 de março de 2011

24 de março de 2011 - JORNAL ESTADO DE SP


DESTAQUE DE CAPA
Ficha Limpa só vale a partir de 2012
Decisão do Supremo permite que candidatos barrados que tiveram votos suficientes para se eleger em 2010 assumam o mandato

O Supremo Tribunal Federal concluiu ontem que a Lei da Ficha Limpa não valeu para as eleições do ano passado. Recém-empossado no tribunal, o ministro Luiz Fux deu o voto decisivo para liberar os candidatos fichas-sujas que disputaram cargos em outubro do ano passado. Pela decisão de ontem, todos os candidatos barrados pela Lei da Ficha Limpa que tiveram votos suficientes para se eleger devem tomar posse nas próximas semanas, entre eles Jader Barbalho (PMDB-PA), João Capiberibe (PSB-AP) e Cássio Cunha Lima (PSDB-PB). Para precisar quantos deputados terão de deixar os mandatos para dar lugar a fichas-sujas, será necessário recalcular a quociente eleitoral. A decisão é uma derrota para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que sempre defendeu a aplicação imediata da lei. O TSE informou ontem que não dispõe da relação de políticos que deverão assumir vagas no Congresso.


STF decide que Ficha Limpa só vale para 2012 e "barrados" em 2010 vão assumir
Voto do 11º ministro, Luiz Fux, desempatou ontem julgamento no Supremo; por 6 votos a 5, Corte decidiu que a lei de iniciativa popular que impediu candidaturas de políticos condenados em instância colegiada não poderia ter sido aplicada na eleição passada
Mariângela Gallucci e Felipe Recondo / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

O Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu ontem que a Lei da Ficha Limpa não valeu nas eleições de 2010. Recém-empossado no tribunal, o ministro Luiz Fux deu o voto decisivo para liberar os candidatos ficha-suja que disputaram cargos em outubro do ano passado e que tinham sido barrados de assumir mandatos com base em restrições da lei.
Pela decisão de ontem, todos candidatos barrados pela Ficha Limpa que tiveram votos suficientes para se eleger devem tomar posse, entre eles Jader Barbalho (PMDB-PA), João Capiberibe (PSB-AP) e Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).
Para precisar quantos deputados terão o mandato interrompidos para dar lugar aos fichas-sujas será necessário recalcular o coeficiente eleitoral. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) informou ontem que não dispõe da relação de políticos que assumirão vagas no Congresso.
A decisão é uma derrota para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que sempre defendeu a aplicação imediata da lei, e adia a entrada em vigor de uma norma que teve origem numa iniciativa popular, com o apoio de 1,6 milhão de pessoas.
O julgamento de ontem não deixou claro qual será a extensão da Lei da Ficha Limpa em futuras eleições, se políticos serão previamente barrados ou não. Os ministros decidiram apenas que a norma não poderia ter sido aplicada na eleição do ano passado. Outros pontos polêmicos da lei ainda não foram debatidos e poderão ser definidos somente nas eleições municipais de 2012.

Argumentos. Relator do recurso julgado ontem, movido pelo candidato a deputado estadual Leonídio Bouças (MG), condenado por improbidade administrativa, o ministro Gilmar Mendes concentrou seu voto no argumento de que a lei alterou o processo eleitoral e, por isso, só poderia valer um ano depois de ter sido publicada.
"O princípio da anterioridade (aprovação de lei com pelo menos um ano de antecedência à eleição) é um princípio ético fundamental: não mudar as regras do jogo com efeito retroativo", disse. Mendes citou julgamento ocorrido no passado no qual o STF concluiu que a emenda da verticalização, que obrigava aos partidos repetir as alianças nacionais também nos Estados, somente poderia ser aplicada um ano após a sua publicação.
O julgamento de ontem pôs fim ao impasse criado no ano passado por conta da ausência de um ministro no tribunal. Com dez ministros em plenário, as duas tentativas de julgar a Lei da Ficha Limpa terminaram empatadas. Na ocasião, o presidente do STF, ministro Cezar Peluso, não quis desempatar o julgamento. Cabia a Fux o desempate.
De acordo com colegas, o novo ministro foi assediado. Na terça-feira, dois integrantes da corte, que votaram por rejeitar a aplicação da Lei da Ficha Limpa, já adiantavam reservadamente qual seria o voto de Fux.
Fux iniciou seu voto elogiando a lei. "A Lei da Ficha Limpa, no meu modo de ver, é um dos mais belos espetáculos democráticos, posto que é uma lei de iniciativa com escopo de purificação do mundo político." No entanto, disse que ela só poderia ser aplicada se fosse aprovada em 2009. "A tentação de aplicação imediata da lei é muito grande até para quem vota contra", disse. "Surpresa e segurança jurídica não combinam", afirmou. "A nós não resta a menor dúvida de que a criação de novas inelegibilidades erigidas por uma lei complementar no ano eleição efetivamente inaugura regra nova inerente ao processo eleitoral, o que não é somente vedado pela Constituição Federal como também pela doutrina e pela jurisprudência."

PONTOS DE VISTA

GILMAR MENDES
MINISTRO DO STF
"O princípio da anterioridade (aprovação de lei com pelo menos um ano de antecedência à eleição) é um princípio ético fundamental"

LUIZ FUX
MINISTRO DO STF
"A Lei da Ficha Limpa é um dos mais belos espetáculos democráticos, posto que é uma lei de iniciativa com escopo de purificação do mundo político.
A tentação de aplicação imediata da lei é muito grande até para quem vota contra. Surpresa e segurança jurídica não combinam"



NOTAS & INFORMAÇÕES
O relógio da crise andou

O Brasil defende uma saída à egípcia para o conflito na Líbia, revelou o chanceler Antonio Patriota, na aula inaugural do curso de Relações Internacionais da USP, anteontem. "Um processo político que leve a uma transição benigna", foram as cuidadosas palavras que ele escolheu para dizer que Brasília quer a saída do coronel Muamar Kadafi por bem. O chanceler gostaria de ver repetido em Trípoli o acerto que tornou possível a remoção do ditador Hosni Mubarak, sem que ele fosse preso ou obrigado a se exilar, 17 dias depois da chamada Revolução de 25 de Janeiro, quando começou o histórico movimento pela democratização do país.
Comparada à guerra cruenta em que se transformaram os protestos contra a tirania de Kadafi - agravada desde o último fim de semana com os ataques aéreos e marítimos ocidentais em apoio aos revoltosos -, a mudança de regime no Egito foi de fato relativamente benigna: perderam a vida cerca de 400 pessoas, ao passo que do outro lado da fronteira as baixas civis já se contam na casa do milhar. Mas a solução egípcia não pode ser transplantada para a Líbia. No primeiro caso, o ditador capitulou ao se dar conta de que perdera o respaldo do Exército, a força hegemônica no país, e do seu provedor por excelência, os Estados Unidos.
Já Kadafi conservou a lealdade de uma parcela ao menos da elite militar e dos chefes tribais. Essa base de sustentação, somada ao carisma que alimentou ao longo dos anos a fanática devoção dos seus seguidores, o incentivou a reprimir 0 levante com mão de ferro e deu-lhe os meios de empreender uma sequência de contra-ataques contra as posições dos insurretos, a ponto de acuá-los no leste do território. Foi o que, em última análise, motivou a intervenção armada ocidental cujo propósito declarado é salvar vidas civis e cujo alvo indisfarçável é a deposição do tirano. Em nenhum momento, desde a eclosão do que acabaria por se tornar uma guerra civil com participação estrangeira, Kadafi admitiu um desfecho que implicasse transferência de poder.
Na sua primeira aparição depois do início dos bombardeios, quando se especulava que ele teria fugido para o vizinho Chade, o ditador assomou a um balcão para repetir: "Estou aqui!". E para reiterar que não se renderá, dure o quanto durar o conflito. Salvo uma reviravolta por ora inimaginável, a obstinação de Kadafi esvazia a tese brasileira da "transição benigna". Além disso, o relógio da crise andou. Antes que a França e o Reino Unido, com o beneplácito da Liga Árabe, conseguissem dobrar as reservas do presidente americano, Barack Obama, sobre a interdição do espaço aéreo líbio, talvez ainda houvesse uma fresta para a busca de uma solução negociada da crise. Agora, parece uma miragem.
Isso está longe de desqualificar a posição brasileira como princípio de relações internacionais. Vem de longe o compromisso do País com a prevalência do diálogo sobre qualquer outra alternativa para a superação de contenciosos. Mesmo a imposição de sanções contra Estados transgressores é vista com relutância pela nossa diplomacia. Tendo votado a favor da medida no caso da Líbia e tendo patrocinado a sua suspensão do Conselho de Direitos Humanos da ONU quando se evidenciaram os massacres de Kadafi, o Brasil se absteve de apoiar, por sua amplitude, a resolução que autorizou "todas as medidas necessárias" para deter as atrocidades. Fez bem, mas não adiantou.
Soa cada vez mais frívola a discussão sobre o alcance do mandato concedido pelas Nações Unidas. Embora a resolução exclua a "ocupação" do país, o Ministério da Defesa britânico entende que invasões localizadas são permissíveis. E, embora o documento não autorize ações armadas diretas contra Kadafi, militares americanos dizem que de fato isso não está em cogitação, "a esta altura, precisamente" - ou seja, amanhã é outro dia. As desavenças entre os ocidentais sobre o comando da ofensiva que os Estados Unidos resolveram passar adiante poderão jogar areia nas engrenagens da campanha. Não a farão cessar, porém. O difícil será justificar o seu prosseguimento aos olhos dos parceiros árabes, agora que Kadafi perdeu o controle dos céus líbios, mas não dos seus redutos em Trípoli.


GESTÃO TERRITORIAL ESTRATÉGICA
Embrapa terá nova estrutura em Campinas
Unidade contará com mesma equipe de pesquisadores, mas terá mais autonomia

José Maria Tomazela - O Estado de S.Paulo

O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Wagner Rossi, pode dar uma nova estrutura para o núcleo de Gestão Territorial Estratégica (GTE) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em Campinas. O objetivo é recompor a unidade com a mesma equipe de pesquisadores, porém, com mais autonomia no organograma do Ministério.
Rossi está ouvindo desde pesquisadores e órgãos do próprio governo, até os tomadores dos serviços prestados pelo GTE. A tendência é de que o ministro acate as sugestões de representantes do agronegócio para dar ao núcleo uma estrutura autônoma, embora com o aproveitamento dos mesmos recursos técnicos disponíveis na Embrapa - Campinas. O núcleo inteligente do GTE seria preservado.
O serviço, que atendia os Ministérios da Agricultura, do Planejamento, órgãos da Presidência da República e organizações da sociedade, foi desmantelado pela atual administração do Centro de Monitoramento por Satélite (CMS), ao qual estava vinculado.
Segundo o jornalista Rodrigo Lara Mesquita, que denunciou o desmonte em artigo publicado na edição do último dia 15 do Estado, desde que assumiu o CMS no final de 2009, a atual gestão direção vinha paralisando as diversas atividades de prestação de serviços aos órgãos do governo e à sociedade. O desmanche culminou com a demissão do então supervisor do GTE, Claudio Spadotto, e com a dispersão de sua equipe.
Depois que o fato se tornou público, o ministro passou a receber manifestações de desagrado dos órgãos governamentais e do próprio governo. Setores do Ministério da Defesa, que mantinham parcerias com o GTE, inclusive para o monitoramento das fronteiras, estão entre os que se insurgiram contra a medida. A Casa Civil da Presidência usava a tecnologia para acompanhar o andamento de mais de 400 obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Ontem, a assessoria do ministro informou que ele estava "debruçado" sobre o assunto. Rossi manteve dois encontros com o presidente da Embrapa, Pedro Arraes, e teria manifestado desagrado com a condução da atual crise.
A solução ainda não foi anunciada porque o ministro não conseguiu se encontrar com o ex-supervisor do GTE. Spadotto passou por uma cirurgia e depende de liberação médica para viajar a Brasília.
Ontem, durante audiência com o ministro, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), vai defender a continuidade dos serviços do GTE. O núcleo da Embrapa vinha realizando um trabalho de zoneamento agrícola no Estado.


USINAS HIDRELÉTRICAS
Obras do PAC terão ''pacto trabalhista''
Governo teme novas manifestações em outros canteiros como ocorreu em Jirau e convoca reunião para pedir tratamento digno a trabalhadores

Tânia Monteiro/BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

O governo convocou para a próxima terça-feira, em Brasília, uma reunião entre o Ministério Público, as centrais sindicais e as empresas responsáveis pelas grandes obras que estão sendo tocadas no País com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a exemplo das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia.
O Planalto quer que seja assinado um protocolo no qual as empresas se comprometam a garantir tratamento digno aos trabalhadores e assegurem seus direitos trabalhistas. Com a reunião e a assinatura do protocolo de compromisso por todas as partes, o governo espera evitar que outros conflitos, como os da semana passada, em Rondônia, se repitam, atrasando o cronograma de obras consideradas fundamentais para o País.
O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, foi incumbido pela presidente Dilma Rousseff de acompanhar as negociações e obter garantias de melhores condições de trabalho para todos.
Ontem, Gilberto Carvalho ouviu as queixas do tratamento dispensado pelas empresas aos seus funcionários repassadas pelos presidentes da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), e da Central Únicas dos Trabalhadores (CUT), Arthur Henrique, especialmente nos canteiros das duas usinas hidrelétricas de Rondônia.
Segundo o deputado, há uma preocupação muito grande, não só do governo como das centrais sindicais, porque, hoje entre 90 mil e 100 mil trabalhadores estão parados em várias obras, entre elas, as dos portos de Pecém (CE) e de Suape (PE), além das hidrelétricas de Jirau e Santo Antonio.
Paulinho disse, a exemplo do que publicou o Estado, que a contratação dos trabalhadores é feita de forma deficiente, normalmente por um "gato" (pessoa que recruta pessoal sem qualificação em sítios e povoados do sertão, prometendo uma série de benefícios). Além disso, os empregados ficam instalados em um barracão, tratados "como verdadeiros animais".
O deputado defende o fim desse sistema de barracão, onde o trabalhador tem alojamento e comida, mas é obrigado a comprar qualquer coisa na própria empresa, por preços normalmente exorbitantes. Além disso, Paulinho lembrou que existe o problema dos maus tratos que, ressaltou, são recorrentes em diversos canteiros de obras espalhados pelo País.
Comissão. O presidente da Força informou que a Comissão do Trabalho da Câmara aprovou a ida de cinco parlamentares ao canteiro de obra para verificar as condições de trabalho nas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio.
Paulo Pereira informou também que foi aprovado seu requerimento convocando os representantes das empreiteiras para dar explicações sobre as atuais condições de trabalho dos peões.
Depois de também se encontrar com Gilberto Carvalho, em reunião separada, o presidente da CUT, Arthur Henrique, disse que cobrou do governo a retomada das negociações entre as centrais sindicais e as empresas responsáveis por obras do PAC.
"É preciso que as empreiteiras tenham responsabilidade na contratação de seu pessoal, ainda que isso seja feito por meio de empresa terceirizada", afirmou.
Para o líder sindical, é importante que em qualquer obra que receba financiamento, subsídio ou qualquer benefício do governo, exista contrapartida a esses empréstimos com recursos públicos.


Santo Antônio e Jirau continuam paralisadas

Gabriela Cabral - O Estado de S.Paulo
ESPECIAL PARA O ESTADO - PORTO VELHO

Trabalhadores da obra da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio mantêm paralisação e discutem reivindicações imediatas a serem apresentadas à empresa responsável pelo empreendimento, o Consórcio Santo Antônio Civil (CSAC).
As negociações ocorrem desde anteontem, quando os operários deveriam retornar ao trabalho depois de uma interrupção preventiva feita pelo consórcio, mas resolveram realizar uma assembleia e apresentar uma pauta de reivindicações ao consórcio.
A situação da obra de Jirau, que está sob proteção da Força Nacional, é ainda mais indefinida. A construtora Camargo Corrêa, responsável pelas obras civis, ainda não tem previsão para retorno das atividades.
A assembleia em Santo Antônio foi acompanhada pela superintendência regional do Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério Público do Trabalho (MPT), sindicalistas da Central Única dos Trabalhadores e do Sticcero (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil do Estado de Rondônia). Foram apresentadas algumas reivindicações que devem ser atendidas antes da data- base (maio) que define o novo acordo coletivo.

Alimentação. As principais reivindicações dos trabalhadores são a troca de cartões de alimentação, ampliação de oferta de plano de saúde, e melhoria da alimentação fornecida no canteiro. Outras reivindicações serão apresentadas em nova negociação, com representantes do consórcio - o encontro está previsto para o dia 28.
A Polícia Militar não registrou conflitos dentro do canteiro, mas mantém efetivo na entrada do local, na BR 364, sentido Acre. O diretor de contratos da Odebrecht, que compõe o consórcio Santo Antônio Energia, José Bonifácio acredita que a obra deve ser retomada até amanhã.
O governador Confúcio Moura se reuniu com representantes dos consórcios, da Secretaria Segurança Pública e com o prefeito de Porto Velho, Roberto Sobrinho, para discutir a situação. "Queremos que as obras voltem à normalidade. Vamos nos reunir e sugerir algumas diretrizes para a segurança e evitar novos conflitos", disse Confúcio.



SEM INTERVALO
Cabrini ouve torturador que viu Dilma presa
23 de março de 2011 | 9h 00

Cristina Padiglione

No embalo da novela Amor & Revolução, que estreia dia 4 no SBT, Roberto Cabrini entrevista um torturador - ou, como dirá a edição de reestreia do Conexão Repórter, vencedor do Prêmio Esso 2010, um "agente da repressão". Cioso do depoimento, Cabrini ainda omite a identidade do entrevistado, mas garante que ele aparecerá com nome próprio e de cara lavada. Adianta que o sujeito é citado entre os 12 maiores acusados pelo grupo Tortura Nunca Mais e que ele participou da prisão da presidente Dilma Rousseff. Foram quatro horas de entrevista, com detalhes sobre pau de arara, choques elétricos e afogamentos. No ar na próxima quarta, dia 30, às 23h15, novo horário do programa.


POLÍCIA MILITAR
Quartéis da PM do Rio serão postos à venda
Ideia é acabar com ''aquartelamento'' da tropa, diminuir efetivo dedicado a serviços internos e instalar batalhões em sedes menores e mais modernas

Pedro Dantas / RIO - O Estado de S.Paulo

O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, apresentou ontem à Casa Civil do governo do Estado um projeto para substituir os batalhões da Polícia Militar por prédios menores e mais modernos. Ele afirmou que pretende acabar com o "aquartelamento" da tropa e diminuir para no máximo 20% o efetivo dedicado a serviços internos.
"O policial não deve ficar aquartelado. Deve estar na rua. Vamos nos desfazer desses terrenos e construir prédios modernos, ecológicos e dinâmicos com estrutura de empresa. As polícias de Los Angeles e Nova York já funcionam dessa forma", disse o secretário.
A Polícia Militar herdou do Exército, no século passado, a maioria dos seus 40 quartéis na região metropolitana do Rio. Em média, as instalações ocupam mais de um quarteirão, tanto em áreas nobres da zona sul quanto na zona norte e nos subúrbios da cidade. "Na realidade atual, não há necessidade de um batalhão com piscina e campo de futebol", afirmou o secretário. O 6.º Batalhão de Polícia Militar da Tijuca (zona norte) será o primeiro a ser demolido. O novo projeto custará R$ 22 milhões.
Chamadas de Batalhão-Padrão, as novas sedes terão paredes de vidro e área aberta à comunidade, com praça e espaços comerciais que serão alugados por lojas. A intenção é reaproveitar a água da chuva e usar energia solar. Um projeto que está pronto, mas ainda sem orçamento fechado, é o do Comando-Geral da Polícia Militar. No centro do Rio, em um quarteirão que vai dos Arcos da Lapa até a Cinelândia, o quartel será reduzido a dois prédios separados pela capela, que será preservada. O resto do terreno poderá ser leiloado.
Outro batalhão que está na mira é o 13.º BPM da Praça Tiradentes, também no centro. As instalações são antigas e precárias, mas a localização é privilegiada, na frente de uma das poucas áreas verdes da região. A sede do 2.º BPM de Botafogo também deve constar do projeto. Outro quartel que ocupa quase um quarteirão em área valorizada é o 19.º (Copacabana), mas não há definição sobre o que será feito.
Com um terreno que chegou a ser avaliado em R$ 220 milhões, o destino da sede do 23.º Batalhão de Polícia Militar do Leblon permanece indefinido. O governo do Rio desistiu da venda para a construção de casas e optou por erguer ao lado o Parque Bossa Nova, cuja obra está orçada em R$ 68 milhões.

Treinamento. A Polícia Civil do Rio inaugurou ontem uma sala de treinamento, onde o policial será testado em 30 situações de stress, cercado por três telões que simulam a realidade em um ambiente de 120m². As simulações vão desde a simples abordagem a um carro até incursões em favelas. "Queremos que o policial tenha a capacidade de criar soluções rápidas. Para isso, vamos estimular o agente a pensar", disse Beltrame.

UPPs baianas
A Secretaria de Segurança da Bahia vai antecipar para a semana que vem a instalação das Bases Comunitárias de Segurança, inspiradas nas UPPs cariocas. A primeira será em Salvador.



TENSÃO NO ORIENTE MÉDIO
Ataques da coalizão destruíram Força Aérea de Kadafi, diz general britânico
Aviões da aliança internacional já transitam sem nenhuma resistência pelos céus da Líbia após seguidos bombardeios contra o sistema de defesa antiaérea e as redes de comando e controle dos militares leais ao ditador líbio

Andrei Netto - O Estado de S.Paulo
CORRESPONDENTE / PARIS

Ainda em meio a um impasse político, a coalizão militar liderada por EUA, França e Grã-Bretanha anunciou ontem ter destruído a capacidade operacional da Força Aérea da Líbia. Segundo Londres, os aviões aliados transitam pelo país sem nenhuma resistência, nem mesmo de baterias antiaéreas, o que lhes permitiu atacar tanques e tropas fiéis ao líder Muamar Kadafi.
O balanço dos bombardeios foi divulgado na base de Gioia del Colle, na Itália, pelo general britânico Greg Bagwell. Segundo ele, as forças aliadas já sobrevoam os céus da Líbia sem serem ameaçadas.
Os cinco primeiros dias de ataques tiraram de serviço o sistema de defesa aérea e as redes de comando e controle. "Tiramos seus olhos e seus ouvidos", afirmou Bagwell. "A Força Aérea líbia não existe mais." Desde ontem, os aviões da coalizão se concentram em ataques ao solo, destruindo tanques e outros blindados, para reduzir o poderio militar de Kadafi e ampliar a segurança dos civis. Parte dos bombardeios foi dirigida a Misrata e Az Zintan, que estão sitiadas, além da capital, Trípoli - quartel-general das forças do ditador líbio.
Apesar da desorganização dos dissidentes em Benghazi, as notícias trouxeram otimismo ao Conselho Nacional de Transição, órgão provisório dos rebeldes.
Ontem, em Paris, Ali Zeidan, porta-voz do movimento, afirmou que a continuidade dos ataques abre a possibilidade de que Kadafi seja derrotado em dez dias. Embora a intervenção militar ocidental tenha alimentado o otimismo dos rebeldes, o ditador tem endurecido seu discurso nos últimos dias, relatando a seus partidários os avanços no que qualifica de "luta contra terroristas e imperialistas".

Impasse. A eficiência das operações, porém, não acabou com as diferenças entre Washington, Paris e Londres sobre a troca de comando militar - hoje nas mãos dos EUA. Ontem, uma reunião da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em Bruxelas não resolveu o impasse e um novo encontro foi marcado para Londres, na terça-feira.
A tendência, segundo os governos francês e americano, é de que um comitê político formado por ministros das Relações Exteriores dos países da coalizão exerça o comando político, deixando o controle das operações militares nas mãos da Otan.
O chanceler da França, Alain Juppé, disse que a organização exercerá apenas o papel de "ferramenta de planificação e de condução operacional", enquanto o comitê de chanceleres responderá pelas decisões políticas.
Para especialistas, a criação do comitê político é uma alternativa para reduzir a exposição da Otan e dos EUA. "A análise do governo francês é de que o ideal seria que a intervenção não fosse obra da Otan, porque a organização lembra demais os EUA no mundo árabe", disse Dominique David, diretor do Instituto Francês de Relações Internacionais.

Baixas
40 pessoas morreram e 180 ficaram feridas nos últimos três dias em Misrata, segundo rebeldes

Jean-Pierre Maulny, especialista do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas, pensa da mesma forma. "Alguns membros da coalizão concordam que a Otan exerça o comando militar, mas querem que ela não apareça em primeiro plano, porque sua imagem não é boa."
Coincidência ou não, um dia após o anúncio da criação do comitê político, Kuwait e Jordânia anunciaram apoio logístico à coalizão. A Turquia disse que enviará um submarino e cinco navios para patrulhar a costa líbia. / COM REUTERS E AFP



Aliados lançam 175 ofensivas a alvos de Kadafi
Forças internacionais derrubam avião líbio e bombardeiam tanques e artilharia antiaérea

Lourival Sant'Anna - O Estado de S.Paulo
ENVIADO ESPECIAL - BENGHAZI, LÍBIA

Num dos dias mais violentos na Líbia desde o início da intervenção militar, no sábado, a coalizão lançou ontem 175 ataques, com mísseis e projéteis de artilharia aérea, contra as forças de Muamar Kadafi, que tentavam avançar sobre posições rebeldes. Um dos alvos foi um complexo militar em Ajdabiya e objetivos do regime de Kadafi em Zawiya.
As forças aliadas lançaram vários ataques ontem contra alvos militares em Trípoli, destruíram um avião da Força Aérea líbia e atacaram tropas de Kadafi onde elas ameaçavam a população civil. Em Misrata, aviões ocidentais silenciaram, pelo menos temporariamente, os tanques e a artilharia nas imediações da cidade tomada pelos rebeldes.
Durante o dia, foi divulgada a notícia de que os líderes rebeldes tinham anunciado a formação de um governo transitório, com a tarefa de organizar melhor a luta contra o regime de Kadafi e ao mesmo tempo garantir a integridade territorial da Líbia. No entanto, à noite, os rebeldes desmentiram a informação.



A "estrutura" mais requerida de imediato é um comando militar para os combatentes rebeldes na luta contra as forças do regime. Armados com fuzis e peças de artilharia, enquanto os soldados de Kadafi têm grande quantidade de foguetes e tanques, os rebeldes combatem de forma desorganizada e só conseguem manter suas posições graças aos bombardeios das forças aliadas.
Diante dos ataques das forças internacionais, as tropas leais a Kadafi detiveram sua ofensiva. Segundo o contra-almirante americano Gerard Hueber, as forças do líder líbio continuam violando a resolução do Conselho de Segurança da ONU ao atacar a população civil. Por isso, os aliados estão agora atacando as forças terrestres, a artilharia e os mísseis móveis de Kadafi.
Hueber informou que nas últimas 24 horas a coalizão realizou 175 missões de combate - das quais 113 foram das forças americanas e as restantes dos outros membros da aliança.
Ontem à noite, foram retomados os bombardeios contra Trípoli pelo quinto dia consecutivo. Testemunhas na capital líbia, afirmam que escutaram ao menos oito explosões. Segundo a TV estatal, os ataques estão sendo concentrados no bairro de Tayura, ao sul da capital.
A TV mostrou imagens de uma casa destruída, mulheres chorando e homens carregando numa maca uma garota ensanguentada. Um homem gritou: "Uma família toda foi morta." Uma legenda na TV dizia: "O imperialismo cruzado bombardeia civis." Kadafi classificou a intervenção aliada de "cruzada colonialista".
Aviões das forças aliadas bombardearam ontem as baterias de foguetes do regime em Misrata, a terceira maior cidade do país, 203 km a leste de Trípoli. A cidade de 450 mil habitantes está cercada pelas forças de Kadafi. Moradores disseram à agência Reuters que as baterias foram neutralizadas, mas a cidade continua sendo atacada por franco-atiradores. Pelo menos 40 pessoas morreram e 180 ficaram feridas nos últimos três dias, segundo os rebeldes.
A oposição afirmou ter forçado o recuo de tropas que estavam disparando artilharia contra a cidade de Zintan, 120 km ao sul de Trípoli. Depois de cinco dias de confronto, os rebeldes disseram à Associated Press ter destruído vários tanques e confiscado caminhões com 1.200 foguetes Grad e tanques de combustível, além de capturar cinco soldados.
O impasse continua em Ajdabiya, 160 km a leste de Benghazi, a "capital" rebelde. Os combatentes não conseguem forçar a retirada das forças de Kadafi - que são apoiadas por baterias de foguetes e tanques - dos arredores da cidade.
Ajdabiya, de 150 mil habitantes, está há uma semana sem água e eletricidade. Suas áreas residenciais foram duramente bombardeadas.
O Estado percorreu ontem 50 km ao sul de Benghazi, até a cidade de Soluk, no deserto. Lá, várias fontes informaram que a posição mais avançada das forças de Kadafi é Zawiyat Massus, a 130 km de Benghazi. Segundo rebeldes e moradores na cidade, foi lá que um avião americano bombardeou um comboio das forças de Kadafi, na madrugada de terça-feira.

Tropas francesas
O primeiro-ministro da França, François Fillon, afastou a possibilidade de o país enviar uma força terrestre para combater na Líbia.



OPINIÃO
A Otan e o revés para Sarkozy

*Gilles Lapouge - O Estado de S.Paulo

Cinco dias após o início dos ataques aéreos na Líbia, as forças da coalizão acertam os ponteiros. Já não era sem tempo. A ação necessária, salubre, desejada pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy, para impedir uma matança na cidade de Benghazi fora montada no calor da hora, com a pressa, a emoção, o narcisismo e o amadorismo habituais a tudo que esse homem faz. O resultado é que os primeiros dias de intervenção na Líbia foram caóticos.
Rachas ameaçaram a coalizão. China e Rússia aproveitaram-se para tirar o time de campo. Mesmo na Europa, a Noruega se afastou. E a Itália resmunga.
Mas no pequeno grupo que está no comando - França, Grã-Bretanha e Estados Unidos - também houve uma cacofonia. O pomo da discórdia era a cadeia de comando. Nos primeiros dias da missão militar, justamente, não havia um comando unificado.
Grã-Bretanha e Estados Unidos queriam confiar o trabalho à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a única estrutura capaz de coordenar uma ação tão complexa. A França não queria a Otan. Por quê? Porque a Otan "cheira a" Estados Unidos, e, sobretudo, isso ameaçaria esfriar os países árabes, daria argumentos a todos aqueles que, como a Rússia, se obstinariam em denunciar a operação como uma "cruzada" do mundo cristão contra o mundo árabe.
Esses argumentos brandidos pela França não eram desprovidos de fundamento e a Otan foi, de início, ignorada.
Mas o resultado foi que o verdadeiro cérebro das operações foram os Estados Unidos, inevitavelmente, por causa de seu poderio militar. Tudo foi coordenado desde a Alemanha e o Mediterrâneo pelos generais americanos. A França ofendeu-se. De sua parte, os Estados Unidos estavam exasperados de ver que a operação "humanitária" estava sendo apresentada como um triunfo pessoal de Sarkozy.
As tensões estavam tão vivas que foi preciso dialogar. Foi o que se fez, Obama e Sarkozy conversaram e o presidente francês teve de reconhecer que uma ação como essa não poderia, na falta de uma estrutura militar europeia, ser concebida e executada sem o apoio da Otan. Na terça-feira à noite foi acertado um acordo. Obama anunciou que o papel-chave no comando das operações militares na Líbia seria entregue à aliança atlântica.
Esse desfecho foi um revés para a diplomacia francesa, mas não se vê alguma outra solução que pudesse ser adotada.
Além de tudo, o argumento árabe inicialmente agitado por Paris é inoperante hoje porque, de todas as maneiras, a maioria dos povos árabes está insatisfeita com os primeiros ataques e prefere se manter afastada do caso, exceto alguns emirados petrolíferos que dificilmente seriam considerados representativos das massas árabes.
É numa circunstância como essa que se expõem as carências extraordinárias da União Europeia. A política de segurança e defesa do bloco europeu ou inexiste ou é incapaz de agir como um ator decisivo, e isso mesmo numa zona que está às margens da Europa, do Mediterrâneo, este "mar europeu" tão entranhado nos jogos diplomáticos, políticos, econômicos e militares do Velho Continente. / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK

*É CORRESPONDENTE EM PARIS



DIPLOMACIA
Voto do Brasil indica mudança sobre Irã
No Conselho de Direitos Humanos da ONU, País deve apoiar hoje envio de relator a Teerã


Lisandra Paraguassú - O Estado de S.Paulo

Uma votação no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, em Genebra, pode marcar hoje, pela primeira vez, a mudança de posição do Brasil em relação ao Irã.
A proposta de enviar um relator especial ao país do Oriente Médio para investigar as denúncias de violações de direitos humanos deve receber o apoio do Brasil, seja em votação regular, seja em decisão de consenso que ainda está sendo negociada no conselho. A resolução está longe de ser uma condenação, o que facilita a posição brasileira. Ainda assim, o apoio brasileiro à iniciativa pode ser considerado o primeiro sinal de um "ajuste", como define o Itamaraty, na resposta do País a problemas na área de direitos humanos.
Nos últimos 10 anos, o Brasil se absteve em votações que condenavam o Irã ou era contrário a resoluções, como no caso das últimas sanções aprovadas no Conselho de Segurança da ONU, em junho. Nas abstenções anteriores, na Assembleia-geral das Nações Unidas, a alegação brasileira era a de que esse não era o fórum adequado para a discussão. Em 2010, o Brasil aplicou as sanções aprovadas para tentar interromper o avanço do programa nuclear iraniano, mas foi contrário na votação com a justificativa de que as medidas "não eram um instrumento eficaz".
A posição brasileira em relação ao projeto de enriquecimento de urânio do Irã se mantém. Em recente entrevista, o ministro das Relações Exteriores, Antonio de Aguiar Patriota, afirmou que as negociações feitas com os iranianos mediadas pelo Brasil e a Turquia - depois renegadas por EUA e França, entre outros - tinham obtido algum avanço, mesmo que pequeno, enquanto sanções ainda não tinham tido efeito.
A criação de uma relatoria especial para investigar abusos de direitos humanos no Irã não é uma condenação em si, mas chega perto disso. Até hoje oito países passaram por isso, entre eles Sudão, Coreia do Norte e Camboja. No entanto, a avaliação brasileira é que o CDH é o local adequado para essa discussão e a criação de um relator especial, uma medida eficaz.
Até a noite de ontem, o Brasil ajudava a negociar uma decisão de consenso, em que não fosse necessária a votação nominal. Os entraves ainda eram países como Cuba e Paquistão, temerosos de abrir a possibilidade de sofrer o mesmo tipo de inspeção.



Nova posição em relação a Teerã estaria vinculada à vaga no CS
Fontes que participam da negociação, no entanto, afirmam que o governo americano rejeita qualquer tipo de acordo

Jamil Chade - O Estado de S.Paulo
CORRESPONDENTE / GENEBRA


O voto do Brasil no Conselho de Direitos Humanos da ONU hoje, aparentemente, é parte do esforço do governo da presidente Dilma Rousseff de reverter a posição do País em relação ao Irã e dar início a um processo para convencer os EUA a apoiarem explicitamente a busca brasileira por uma cadeira de membros permanente no Conselho de Segurança da ONU.
A posição contrária ao Irã seria o primeiro ato de rompimento com a política externa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, duramente criticada pelos americanos e por entidades de direitos humanos.
De acordo com uma fonte de alto escalão do Departamento de Estado americano ouvida pelo Estado - envolvida diretamente nas negociações sobre a resolução -, o Itamaraty chegou até a propor o coautoria da resolução. De acordo com a fonte, a proposta brasileira surpreendeu a Casa Branca, mas a resposta foi taxativa: "Não há acordo."
Em Brasília, no entanto, o Itamaraty desmente oficialmente qualquer negociação que vincule a posição do Brasil sobre o Irã com os debates sobre a vaga de membro permanente no Conselho de Segurança da ONU.
Para Washington, uma nova posição do Brasil em relação ao Irã certamente ajudaria o País a obter um eventual apoio para a vaga permanente o Conselho de Segurança. Essa mensagem do governo americano também ficou explícita nas conversas reservadas entre diplomatas dos dois países nos últimos dias.
O Departamento de Estado, porém, rejeita a ideia de que barganhar o apoio ao Brasil. A diplomacia americana revelou que o argumento do Itamaraty era o de que o governo brasileiro não teria razão para mudar sua posição tradicional em um assunto como direitos humanos sem receber algo concreto em troca.

Impasse. Durante a viagem do presidente americano, Barack Obama, ao Brasil, no fim de semana, a falta de um acordo se refletiu na visita. Washington não declarou seu apoio explícito à candidatura de Brasília.
Obama apenas disse que via as aspirações brasileiras com "apreço". Já o Brasil deixou o presidente americano sem uma resposta clara quando ele usou o encontro com Dilma para pedir o apoio à resolução.

PARA LEMBRAR
Dilma se revela menos tolerante
Na questão dos direitos humanos, a presidente Dilma Rousseff tem mostrado menos leniência com o Irã do que seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista ao Washington Post, antes de assumir o cargo, Dilma condenou a pena de apedrejamento à iraniana Sakineh Ashtiani e disse não concordar com a abstenção brasileira na ONU na condenação à República Islâmica pelas violações dos direitos humanos.



DITADURA ARGENTINA
Argentina quer condenar civis cúmplices da ditadura
Ariel Palacios - O Estado de S.Paulo

CORRESPONDENTE / BUENOS AIRES

Os argentinos recordarão com um feriado hoje os 35 anos do golpe militar que em 1976 deu início a uma ditadura de sete anos que torturou e assassinou mais de 30 mil civis. Nos últimos anos, dezenas de militares sentaram no banco dos réus e foram condenados pelas violações dos direitos humanos durante o regime. No entanto, o governo da presidente Cristina Kirchner agora pede à Justiça que também julgue os civis que participaram da ditadura. "Não é suficiente condenar os militares. É preciso também condenar os civis que foram cúmplices", afirmou o chanceler Héctor Timerman. "É preciso condenar os civis que tiraram proveito do terrorismo de Estado em benefício próprio."
Alguns civis já estão sendo julgados, entre eles, José Martínez de Hoz, ex-ministro da Economia do ex-ditador e general Jorge Rafael Videla. Segundo Vicente Muleiro, autor do recém-lançado 1976 - O Golpe Civil, Martínez de Hoz foi "o chefe civil do golpe".
Mas Timerman direcionou suas críticas aos jornais La Nación e Clarín, os quais acusa de ter colaborado com o regime militar.
Segundo ele, os diretores de ambos os jornais estiveram por trás da detenção e tortura de Lidia Papaleo de Graiver, viúva de David Graiver, dono da Papel Prensa, a única fábrica de papel de jornal do país - acusação negada por parentes do casal.



JAPÃO
Água de Tóquio é perigosa para bebês
Premiê orienta famílias a não a usarem na preparação de comida para crianças com menos de 1 ano e a não consumir verduras de Fukushima

Cláudia Trevisan - O Estado de S.Paulo
CORRESPONDENTE / PEQUIM

Níveis de radiação acima do considerado seguro para bebês foram detectados ontem na água encanada de Tóquio, maior região metropolitana do mundo, com 35 milhões de habitantes. A cidade está a 250 km da usina nuclear Fukushima Daiichi, que entrou em colapso depois do terremoto seguido de tsunami que atingiu o país no dia 11.
Vazamentos ocorridos no local já haviam contaminado água do mar, vegetais, leite e solo, em patamares que as autoridades japonesas afirmavam não ser nocivos à saúde. Mas a preocupação com traços de radiação aumentou ontem, com o primeiro-ministro Naoto Kan orientando a população a não consumir verduras e legumes produzidos nas proximidades de Fukushima, onde testes detectaram radiação superior aos limites normais em 11 produtos.
O caso mais grave foi o da verdura "kukitachina", na qual foi identificada a presença de 82 mil becquerels de césio, o equivalente a 164 vezes o nível considerado seguro. Segundo o governo japonês, se um adulto consumir diariamente 100 gramas da verdura por 10 dias, vai ingerir metade da radiação que uma pessoa normalmente recebe de fontes naturais no período de um ano.
O governo metropolitano de Tóquio informou ontem que 210 becquerels de iodo-131 foram encontrados em amostra de um litro de água de uma central de purificação no norte da cidade colhida na terça-feira. Novo teste realizado ontem indicou presença de 190 becquerels na mesma quantidade de água.
Esses patamares estão abaixo dos 300 becquerels que marcam o limite de segurança para adultos, mas acima dos 100 becquerels estabelecidos para bebês. O governo de Tóquio orientou as famílias da região metropolitana a não usar água da torneira na preparação de alimentos para crianças com menos de 1 ano.
Os primeiros casos de contaminação de alimentos e água por radiação foram detectados no dia 19, aumentando ainda mais a ansiedade dos japoneses.
A cada dia aparecem novos casos de presença de radiação em locais cada vez mais distantes de Fukushima. O governo suspendeu a venda de verduras, legumes e vegetais produzidos na região e países como os EUA proibiram a importação de produtos de quatro prefeituras próximas.
Desde a catástrofe natural, técnicos tentam evitar o derretimento total dos seis reatores da usina de Fukushima, cujo sistema de resfriamento foi prejudicado pela interrupção no fornecimento de energia.
As fontes normais de eletricidade foram afetadas pelo terremoto de 9 graus da escala Richter. O tsunami que veio em seguida provocou pane no gerador de segurança que deveria ter entrado em ação, o que deixou a usina totalmente sem energia.
A falta de eletricidade levou à interrupção do bombeamento de água para o resfriamento das hastes de combustível dos reatores e das que ficam nas piscinas de combustível usado. Isso levou ao aumento da temperatura e ao derretimento parcial dos reatores, o que trouxe risco de vazamento de radioatividade em grande escala.
Maior catástrofe a atingir o Japão desde a 2.ª Guerra, o terremoto seguido de tsunami deixou 23 mil pessoas mortas ou desaparecidas. Pouco mais de 300 mil japoneses estão vivendo em abrigos provisórios, depois que suas casas foram varridas ou declaradas em área de risco.


Brasil rejeita limitar compra de alimentos

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou ontem em um comunicado que "o Brasil não adotará, no momento, medidas proibitivas para a importação de produtos alimentícios japoneses".
Segundo a nota, a última vez que o País importou alimentos do Japão ocorreu em fevereiro, antes da catástrofe natural que danificou a usina nuclear de Fukushima, no dia 11. "Além disso, essa importação foi apenas de misturas e pastas para preparação de produtos de padaria, pastelaria e da indústria de bolachas e biscoito, categoria de alimentos sem indícios de contaminação com radionuclídeos no momento."
A diretora da agência, Cecília Brito, afirmou que o Japão se comprometeu a tirar do mercado alimentos com níveis de contaminação radioativa "superiores aos limites estabelecidos pela Comissão de Segurança Nuclear do Japão". "Mesmo assim, continuaremos a acompanhar as investigações realizadas pelas autoridades sanitárias internacionais e as importações brasileiras de produtos japoneses, a fim de subsidiar continuamente o posicionamento da agência sobre o caso", disse.
"Temos uma margem de segurança, pois, historicamente, compramos apenas alimentos embalados do Japão e, segundo a Organização Mundial da Saúde OMS), a radioatividade não contamina esse tipo de produto", afirmou.
De acordo com a Anvisa, a exemplo do que vem ocorrendo nos Estados Unidos e na União Europeia, o Brasil realizará "o monitoramento desses alimentos (importados do Japão) nos entrepostos aduaneiros por onde eles passam antes de entrar no País".

NÚMEROS DA TRAGÉDIA

9.523 mortes foram confirmadas pelas autoridades japonesas até ontem

16.094 pessoas desapareceram por causa da catástrofe, segundo o governo japonês

256.714 habitantes que tiveram de deixar suas casas estão em abrigos improvisados

20 km é o raio ao redor da central nuclear de Fukushima interditado pelas autoridades japonesas

30 km a partir da usina, é a distância mínima para que moradores possam abrir suas janelas

177.500 pessoas que viviam próximo à usina prejudicada pelo desastre deixaram suas casas

209.354 residências da região norte do Japão ainda estavam sem luz até Ontem



VISÃO GLOBAL
A energia nuclear não é necessária, limpa ou segura
O mundo precisa de uma revolução energética imediata

*Kumi Naidoo, The International Herald Tribune - O Estado de S.Paulo

Doze dias não foram suficientes para compreender a magnitude das catástrofes que se abateram sobre o Japão a partir de 11 de março. Das crianças que perderam seus pais nos desmoronamentos do terremoto, àqueles cujos entes queridos ainda estão desaparecidos após o tsunami, à grande quantidade de trabalhadores que arriscam sua saúde tentando estabilizar o complexo nuclear de Fukushima - há um sem fim de histórias trágicas.
Mas, além do sentimento de pesar e empatia pelo povo japonês, estou começando a sentir uma outra forma de emoção, que é a raiva.
Enquanto aguardamos ansiosamente cada fragmento de notícia sobre os desdobramentos em Fukushima, esperando que os vazamentos de radiação sejam eliminados, o risco de novas catástrofes seja evitado e o povo japonês tenha um pesadelo a menos para lidar, governos de todo mundo continuam promovendo novos investimentos em energia nuclear. Apenas na semana passada, o governo de meu país, a África do Sul, anunciou que está acrescentando 9,6 mil megawatts de energia nuclear a seu novo plano energético.
Há dois pressupostos perigosos atualmente se exibindo como fatos em meio à crise nuclear no Japão. O primeiro é que a energia nuclear é segura. O segundo é que a energia nuclear é um elemento fundamental de um futuro com baixas emissões de carbono - necessário para evitar uma mudança climática catastrófica. Ambos são falsos. A tecnologia nuclear sempre será vulnerável a erros humanos, desastres naturais, falhas de projetos ou ataques terroristas. O que vemos em Fukushima são falhas dos sistemas. Os reatores resistiram ao terremoto e ao tsunami, mas os sistemas de resfriamento falharam. Quando os equipamentos elétricos de emergência também falharam, os reatores superaqueceram e isso acabou acarretando vazamentos de radiação. Esse é apenas um exemplo do que pode dar errado.
A energia nuclear é inerentemente insegura e a lista dos males possíveis resultantes da exposição à radiação concomitante é assustadora: mutações genéticas, defeitos de nascença, cânceres e distúrbios nos sistemas reprodutivo, imunológico, cardiovascular e endócrino.
Apesar de termos ouvido falar de Chernobyl e Three Mile Island, a indústria nuclear sempre quis nos fazer acreditar que esses foram casos isolados numa história quase impecável. Não é bem assim. Mais de 800 outros eventos significativos foram oficialmente reportados à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
O argumento de que a energia nuclear é um componente necessário para um futuro livre de emissões de carbono também é falso. O Greenpeace e o Conselho Europeu de Energias Renováveis montaram em conjunto um estudo chamado Energy (R)evolution, que demonstra como a energia limpa é mais barata, mais saudável e traz resultados mais rápidos para o clima do que qualquer outra opção. Esse plano pede o desligamento progressivo dos reatores nucleares e uma moratória à construção de novos reatores comerciais.
Além disso, um cenário energético produzido pela AIEA salienta o fato de que a energia nuclear não reduz as emissões de gases causadores do efeito estufa. Mostra que embora a capacidade de energia nuclear existente possa ser quadruplicada até 2050, a proporção de energia que ela forneceria ainda ficaria abaixo de 10% em âmbito global. Isso reduziria as emissões de dióxido de carbono em menos de 4%. A mesma quantia de dinheiro investida em fontes de energia limpa e renovável poderia causar um impacto muito maior para reduzir o aquecimento global.
A energia nuclear é uma distração cara e mortífera às verdadeira soluções. As fontes de energia que dispensam combustíveis não geram conflitos internacionais, não "secam" e não vazam. Há investimentos iniciais a ser feitos, mas, com o tempo, o preço das energias renováveis declinarão à medida que a tecnologia evoluir e a competição do mercado derrubar os custos. Além disso, a aplicação sábia de um futuro verde, sem energia nuclear e fóssil, criará uma legião de empregos novos e seguros.
No momento em que organizações como o Greenpeace se unem ao Centro de Informação Nuclear dos Cidadãos do Japão num apelo ao governo japonês pela melhoria de planos de retirada e outras medidas protetoras para pessoas que ainda estão na zona de interdição de 30 km do entorno de Fukushima; que a questão da contaminação de alimentos e água continua crescendo; que comprimidos de iodo continuam sendo vendidos por todo o globo e pessoas em lugares tão distantes do Japão estão em alerta por "nuvens radioativas" - é imperativo que, como cidadãos, continuemos expressando oposição a novos investimentos em energia nuclear. Precisamos de uma revolução energética realmente limpa, já. / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK

*É DIRETOR-EXECUTIVO DO GREENPEACE



TUTTY HUMOR
23 de março de 2011 | 0h 00
Tutty Vasques - O Estado de S.Paulo

Desorganização das Nações Unidas
Muricy Ramalho prefere comandar o Santos por causa da boa estrutura de trabalho na Vila Belmiro, mas ainda ontem só se falava dele na ONU como nome de consenso para dar um jeito na bagunça do ataque da coalizão internacional na Líbia. Aquilo lá está pior que o Fluminense - não à toa, ninguém quer dirigir os aliados em campo de batalha.
Barack Obama, como se sabe, andou esses dias falando mais do Pinochet que do Kadafi. Antes disso, quando citou Jorge Benjor, os americanos já suspeitavam que seu presidente tirou a visita à América do Sul para viajar na maionese.
Como no Reino Unido só se fala no casamento do príncipe William, sobrou para Nicolas Sarkozy o papel de dono do time que enfrenta Muamar Kadafi na casa do adversário. Chama atenção no presidente francês, além do salto carrapeta no front, a afobação com que planeja ataques aéreos a Trípoli.
Dizem, até, que só estaria esperando a chegada do ministro Nelson Jobim ao teatro de operações para transformar a Líbia numa espécie de showroom dos caças Rafale que a França quer vender ao Brasil.
Ou seja, não é mesmo guerra pra gente séria como o Muricy Ramalho!

FONTE: JORNAL ESTADO DE SP

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