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quarta-feira, 30 de março de 2011

30 de março de 2011 - JORNAL DO COMMERCIO


PERSONAGEM
Uma grande lição para o País
Médico que acompanhou José Alencar diz que a maneira como o ex-vice-presidente lidou com o câncer deve servir de exemplo

SÃO PAULO – O ex-vice-presidente José Alencar tirou o “câncer” da lista das palavras proibidas no Brasil, falando de sua longa doença com transparência, tranquilidade e até um certo didatismo. Chegava a brincar com os médicos que deveria receber, ele mesmo, um diploma em medicina. “Foi uma lição para o Brasil”, defende o oncologista Ademar Lopes, da equipe que tratou Alencar na batalha contra o câncer do tipo sarcoma no abdômen.
“José Alencar foi uma grande lição para o País e, principalmente, para as pessoas que tem tumores. Enfrentou a doença com realidade. Foi uma luta longa, não totalmente vitoriosa, mas ele conseguiu viver com qualidade, trabalhar”, afirmou Lopes, logo depois de sair do Hospital Sírio Libanês, onde Alencar morreu ontem.
Para o especialista, que dirige o Hospital do Câncer A.C. Camargo, a forma como o ex-vice-presidente enfrentou a doença e seu otimismo ajudaram no tratamento e na sobrevida de Alencar. O médico admite também que os recursos gastos por Alencar para seu tratamento, de alta qualidade, “ajudaram muito” no enfrentamento da doença: “Eu me lembro que, quando saiu da cirurgia que fizemos, aquela que durou 17 horas e meia, Alencar deu uma entrevista dizendo que o que ele mais sentia era que a maioria dos brasileiros não tinha acesso ao tipo de tratamento que ele fazia”.
Ademar Lopes afirma, no entanto, que muitas pessoas podem ter acesso a tratamentos de muita qualidade e mesmo assim não conseguir os mesmos resultados: “Muitas vezes, o paciente é deprimido, ele não colabora com o tratamento. Alencar tinha uma enorme vontade de viver e isso faz diferença”.
Mineiro como Alencar, Ademar Lopes foi chamado para a equipe médica do então vice-presidente, em 2009, quando a quimioterapia não estava dando conta da proliferação dos tumores no peritônio (tecido que reveste o abdômen). O médico fez uma terapia de choque: uma cirurgia de remoção dos tumores seguida pela quimioterapia “a quente”, despejada sobre os órgãos atingidos. Na ocasião, Alencar, ex-ministro da defesa, disse que queria disparar um “tiro de canhão” e não de espingarda contra os tumores.
Segundo Ademar, esse foi o mais longo embate, uma cirurgia de 17 horas e meia. Alencar havia retornado dos Estados Unidos, e a cirurgia, de extremo risco, foi realizada. “Ele foi muito bem esclarecido sobre os altos riscos daquela operação. A família também foi alertada. Ele aceitou o desafio”, diz Lopes. “Valeu a pena porque viveu mais dois anos com qualidade de vida boa. E não tivesse sido submetido a um procedimento daquela extensão talvez não tivesse vivido até aqui."
Para o cirurgião oncologista Ademar Lopes, a lição deixada agora por Alencar é a de que se deve abordar o câncer com tranquilidade e lembrar que a doença também “tem um potencial muito alto de cura”.
“Mas o mais importante é que as pessoas façam o check-up para detectar o câncer precoce. Isso resulta em possibilidade de 90% de cura”, aponta o médico, aconselhando que as pessoas procurem médicos “que fazem perguntas e examinam dos pés à cabeça”: “Não se pode esperar a dor. O câncer, no princípio, é indolor. Tem-se de fazer os exames contra o tipo de câncer a que as pessoas sejam propensas”.
Ademar Lopes diz que o ex-vice-presidente foi o paciente que mais lhe impressionou em 37 anos como oncologista e mais de 8 mil cirurgias. “Ele realmente foi um homem lutador, de muita fé”.


Ministros exaltam a importância do político

BRASÍLIA – A morte do ex-vice-presidente José Alencar, um dos políticos mais carismáticos do País, provocou uma forte reação na Esplanada dos Ministérios. Pouco depois do anúncio do falecimento de Alencar, ex-colegas de governo, emitiram notas e fizeram declarações sobre as qualidades que marcaram a trajetória política do ex-vice-presidente e a luta dele durante anos contra um câncer no intestino. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, foi surpreendido pela notícia da morte de Alencar durante uma entrevista. Emocionado, Gilberto disse que Alencar representou o equilíbrio, a ternura e a amizade nos momentos mais difíceis do governo Lula.
“Vocês não podem ter noção da importância que o Zé Alencar teve para o presidente Lula e para todos nós nesses oito anos. Nossa gratidão a ele é eterna, e o Brasil deve a ele muito do que aconteceu nesse tempo, porque foi o equilíbrio dele, a ternura dele, a amizade dele que nos confortou nas horas mais difíceis”, disse Gilberto.
Depois de Carvalho, um dos primeiros a se manifestar foi o ministro-chefe da Controladoria-Geral da União, Jorge Hage. Em nota, Hage disse que Alencar foi “um extraordinário exemplo de ser humano, que nos deu a todos inigualáveis lições de vida, de luta e de fé”.
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse que Alencar, também ex-ministro da Defesa, teve papel fundamental para tranquilizar o setor na época do apagão aéreo. Jobim também destacou a coragem do ex-vice que, mesmo sofrendo de uma doença grave, não desistiu de buscar a cura.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, seguiu na mesma linha de Jobim. “O ex-vice-presidente virou símbolo de coragem para o País ao dar exemplo de determinação e serenidade. José Alencar era um guerreiro que, ao longo de sua trajetória, conquistou a admiração de todos os brasileiros”, disse Cardozo.


JUSTIÇA
Controladores negam culpa em acidente da Gol

BRASÍLIA – Em depoimento à Justiça Federal, ontem, os controladores de voo Jomarcelo Fernandes dos Santos e Lucivando Tibúrcio de Alencar negaram responsabilidade no acidente aéreo entre o Boeing da Gol e o jato Legacy, que matou 154 pessoas, em agosto de 2006, em Mato Grosso. Eles estavam de serviço na hora do acidente na torre de Brasília e, devido a uma série de erros de procedimento, segundo as investigações, não conseguiram tirar o Legacy da rota de colisão com o Boeing, que vinha de Manaus na mesma altitude de 37 mil pés.
A asa do Legacy rasgou a fuselagem do Boeing, que caiu na floresta, na divisa de Mato Grosso com o Pará, matando os 148 passageiros e seis tripulantes. Avariado, o jato, fabricado pela Embraer, conseguiu pousar em segurança na base aérea da Serra do Cachimbo.
Os controladores entraram em contradição e o Ministério Público (MP) manteve a acusação de atentado à segurança do tráfego aéreo, por terem agido com “negligência e omissão”, segundo a procuradora da República Amalícia Hartz. Se condenados, eles podem pegar de dois a cinco anos de reclusão, mais multa.
A Justiça toma hoje e amanhã os depoimentos dos pilotos do Legacy, os americanos Joseph Lepore e Jan Paladino, que vivem nos EUA e serão ouvidos por videoconferência. Eles respondem pelo mesmo crime, previsto no artigo 261 do Código Penal (atentado contra a segurança de transporte marítimo, fluvial ou aéreo), por terem desligado, provavelmente por descuido, o transponder do Legacy, equipamento vital de uso aeronáutico, que poderia ter evitado o acidente.
A Justiça reformou a acusação de crime doloso para crime culposo. Jomarcelo, controlador que estava no comando na hora em que o Legacy sobrevoou Brasília, passou para o colega que o rendeu, Lucivando, a informação errada de que a aeronave voava a 36 mil pés e desconsiderou a indicação de que o transponder do aparelho poderia estar desligado.



MEMÓRIA POLÍTICA
Memorial à democracia
Museu dedicado aos registros das ditaduras militar e Vargas será lançado hoje à tarde, no prédio do Liceu de Artes e Ofícios, Centro do Recife, dentro do projeto “Marcas da Memória em Pernambuco”

O governo do Estado apresenta hoje, às 17h, no Palácio do Campo das Princesas, o projeto do Memorial da Democracia, museu dedicado aos registros das ditaduras militar (1964-1985) e Vargas (1937-1945), que será montado em parceria com a Prefeitura do Recife e a Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). O prédio do Liceu de Artes e Ofícios, na Praça da República (Santo Antônio), no Recife, de propriedade da Unicap e hoje sem utilização, abrigará o museu. O lançamento do memorial é o primeiro evento de uma série dentro do projeto Marcas da Memória em Pernambuco, que segue até o próximo domingo (3) com debates, apresentação de peça de teatro e lançamento de livro. Organizado pelo Ministério da Justiça, um dos objetivos do Marcas da Memória é fortalecer o debate sobre a criação da Comissão da Verdade, em análise pelo Congresso Nacional.
O Memorial da Democracia será lançado, mas não há ainda previsão de recursos nem prazo para tirá-lo do papel. A secretária estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, Laura Gomes, informou ontem que o governo vai em busca de recursos para tentar viabilizar o projeto. No mesmo ato de lançamento, o governador Eduardo Campos (PSB) assinará a ordem de pagamento dos últimos 12 pedidos de indenizações de Anistiados políticos com recursos estaduais. No primeiro mandato, Eduardo destinou R$ 6,7 milhões para este tipo de indenização.
O projeto do Memorial vem sendo trabalhado há dois anos e meio e segue orientação da ONU para que todos os seus Estados membros criem espaços de memória de consolidação da democracia.
O projeto do Memorial do Recife segue padrões dos museus modernos: todo seu acervo de fotos e documentos será digitalizado – o visitante poderá visualizá-los com o toque numa tela de computador. No Brasil, outra iniciativa do gênero está em curso em Belo Horizonte, do Memorial da Anistia.
Os eventos do Marcas da Memória seguem amanhã, quando se completam 47 anos do golpe militar de 64. Será descerrada uma placa em homenagem aos ex-presos políticos na Casa da Cultura, no Centro do Recife, haverá o lançamento do livro Segredos de Estado - O Desaparecimento de Rubens Paiva, do jornalista paulista Jason Tércio, e a apresentação da peça Filhas da Anistia, no Teatro Apolo. A peça será encenada até o domingo sempre às 20h.
Na sexta (1º), na sede da OAB, está programado um debate sobre a Justiça de Transição, cujo foco é a Comissão da Verdade. E no sábado (2), a Caravana da Anistia do Ministério da Justiça segue para o engenho Galileia, em Vitória de Santo Antão, reduto das ligas camponesas na década de 1960.



CLÁUDIO HUMBERTO

HOLOFOTE APAGADO
O sumiço do ministro Nelson Jobim (Defesa) terminou na segunda (28): tirou cinco dias de férias de Dilma e dos boatos sobre desavenças.

Ó, céus
A Anac deu ok para a entrada em operação da Mais Linhas Aéreas, sediada no Rio. Voará com Fokker 100, de triste memória na TAM.
 FONTE: JORNAL DO COMMERCIO

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