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segunda-feira, 28 de março de 2011

28 de março de 2011 - JORNAL ESTADO DE SÃO PAULO


DESTAQUE DE CAPA – TENSÃO NO ORIENTE MÉDIO
Rebeldes avançam rumo à cidade de Kadafi
Bombardeios da coalizão internacional abrem caminho e insurgentes retomam campos petrolíferos na Líbia

Rebeldes líbios retomaram ontem os complexos petrolíferos de Brega e Ras Lanuf, avançaram 270 km para o oeste e recuperaram o território ocupado antes da ofensiva das tropas do ditador Muamar Kadafi.
Segundo o enviado especial Lourival Sant"anna, o recuo das forças de Kadafi reflete o estrago causado pelos bombardeios da coalizão internacional: só no trajeto entre as cidades de Ajdabiya e Brega, de 70 km, havia mais de 90 veículos militares destruídos, entre tanques, blindados e caminhões. "Vamos lutar por Sirt", disse em Bin Jawad o civil Youssef Ahmed, de 22 anos. Sirt, que fica a 438 km de Trípoli, tem peso simbólico: é a terra natal de Kadafi. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) concordou em assumir o controle total das operações da coalizão na Líbia.


Rebeldes recuperam zona petrolífera e marcham para cidade natal de Kadafi

Lourival Sant’Anna - O Estado de S.Paulo

Rebeldes retomaram ontem os complexos petrolíferos de Brega e Ras Lanuf e retornaram ao ponto mais a oeste de território contínuo ocupado pelos insurgentes desde o início da guerra civil: a cidade de Bin Jawad, 430 km a oeste de Benghazi. Em 24 horas, eles avançaram 270 km, de Ajdabiya a Bin Jawad. Os rebeldes agora controlam os cinco maiores complexos de petróleo do país, que incluem Sidra, Zueitina e Tobruk.
O recuo das forças leais ao ditador Muamar Kadafi mostra sua vulnerabilidade diante dos bombardeios da coalizão, que cortam suas linhas de suprimentos e as isolam num terreno desértico, caracterizado pelas grandes distâncias entre uma área povoada e a outra. Bin Jawad foi onde as forças de Kadafi se reagruparam no dia 6 e contiveram o avanço dos combatentes.
Um repórter da agência Reuters encontrou os rebeldes estacionados ontem 4 km a oeste de Bin Jawad, com 3 caminhões transportando baterias de foguetes Grad, 6 peças de artilharia antiaérea e 12 metralhadoras artilhadas montadas sobre a carroceria de caminhonetes. O combatente civil Youssef Ahmed, de 22 anos, disse que as tropas leais ao regime abandonaram na noite de sábado Bin Jawad, onde tinham se reagrupado depois de deixar Ajdabiya.
Ahmed acrescentou que entre 20 e 30 soldados foram capturados, alguns deles mercenários do Níger e do Mali. "Nós controlamos a cidade. Agora vamos para o oeste. Vamos lutar por Sirt." Situado 170 km a oeste de Bin Jawad, o porto de Sirt é um obstáculo potencialmente difícil: terra natal de Kadafi, reduto de sua tribo. Na madrugada de hoje, os caças da coalizão faziam, além dos ataques usuais a Trípoli, bombardeios sobre Sirt. Preparavam o terreno para o avanço terrestre dos insurgentes.
Distante 438 km a leste de Trípoli, Sirt tem enorme peso simbólico e também estratégico. Sua eventual queda nas mãos dos rebeldes é considerada por eles a senha para que as tribos que ainda apoiam Kadafi ou que se mantêm neutras nas regiões oeste e sul do país se insurjam contra o ditador.
Os 70 km de estrada que ligam Ajdabiya a Brega exibem a devastação causada pelos bombardeios da coalizão sobre as forças de Kadafi. Na saída oeste de Ajdabiya (160 km a leste de Benghazi, principal reduto rebelde), o Estado contou 17 tanques, 2 veículos blindados, 14 caminhões e 19 caminhonetes destruídos. Eles se somam aos 13 tanques e 1 veículo blindado destruídos, 10 tanques e 2 caminhões com baterias de foguetes Grad abandonados na entrada leste de Ajdabiya.
Moradores começavam a voltar ontem para Ajdabiya, cidade de 150 mil habitantes duramente castigada pelo cerco e pelos bombardeios das forças de Kadafi. O policial Idriss Zeitouni, de 29 anos, estima que 150 pessoas, a maioria civis, tenham sido mortas na cidade durante o ataque e ocupação pelas forças de Kadafi, na última semana. Segundo Zeitouni, os 4 mil policiais de Ajdabiya aderiram ao levante armado.
"Quando ouvimos falar da revolução, dissemos: "Kadafi, não te conhecemos"", contou o policial, percorrendo a cidade de carro com o repórter do Estado, com um fuzil e uma granada caseira na mão. Feitas com dinamite usada pelos pescadores de Benghazi, acondicionada em garrafas, essas granadas foram amplamente empregadas pelos rebeldes na tomada do quartel da brigada do governo, na cidade, no início do levante. "Quando Kadafi pediu apoio da polícia, respondemos: "Vamos aí te pegar"."
Zeitouni confirmou a captura em Ajdabiya do general Bilqasim al-Ganga, um dos principais comandantes das Forças Armadas de Kadafi. "Ele foi cercado na entrada leste da cidade por combatentes vindos de Benghazi, a oeste, e de Ajdabiya, a leste."
Depois de Sirt, a próxima cidade importante sob disputa é Misrata, 235 km mais a oeste. Forças leais a Kadafi e combatentes rebeldes se enfrentavam ontem no centro da cidade, segundo moradores. Misrata, que fica 203 km a leste da capital, Trípoli, tem sido castigada por disparos de tanques e foguetes das brigadas do regime, que também usam franco-atiradores no telhado de edifícios da cidade.


Otan assume controle total das operações

Gustavo Chacra - O Estado de S.Paulo

A decisão da Otan de assumir o controle total das operações da coalizão na Líbia, anunciada ontem pelo secretário-geral da aliança militar, Anders Fogh Rasmussen, teve efeito imediato. Ao mesmo tempo, os EUA afirmaram que querem reduzir o envolvimento do país no conflito líbio. "Tudo agora estará sob o comando da Otan e implementaremos todos os aspectos da resolução da ONU autorizando uma ação para proteger os civis", disse Rasmussen. O objetivo é encerrar o impasse sobre quem estará na liderança da operação militar contra Kadafi. O secretário da Defesa, Robert Gates, disse a TVs americanas que a missão já atingiu muitos objetivos e "nesta semana ou na outra" o país começaria a diminuir seu envolvimento". O chefe do Pentágono acrescentou que os EUA não possuem um interesse vital na Líbia.


SEM-TERRA
MST vive crise e vê cair número de acampados
Total de sem-terra à espera de lotes no País passou de 400 mil em 2003 para 100 mil no ano passado; Bolsa Família ajudou a esvaziar movimento

Roldão Arruda e José Maria Tomazela - O Estado de S.Paulo

Às vésperas do início de sua jornada nacional de lutas, o chamado "abril vermelho", o Movimento dos Sem Terra (MST), a maior organização do País dedicada à defesa da reforma agrária, enfrenta um dos desafios mais dramáticos de sua história: a contenção do rápido esvaziamento de seus acampamentos.
No primeiro ano do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, existiam 285 acampamentos de sem-terra no País, de acordo com levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Em 2009 a quantidade despencou para 36. Em 2010 o número foi ainda menor, segundo dados preliminares do novo relatório da CPT que será divulgado nos próximos dias; e em 2011 as dificuldades de mobilização só aumentam. Dias atrás, o militante Luciano de Lima, um dos coordenadores do movimento no interior de São Paulo, teve dificuldade para reunir 27 pessoas na invasão de uma área da Ferroban, em Paraguaçu Paulista.
O total de pessoas acampadas no País passou de 400 mil para menos de 100 mil entre 2003 e 2010, segundo estimativas da direção nacional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Para o secretário da coordenação nacional da CPT, Antonio Canuto, o esvaziamento é acentuado.
Líderes do MST admitem o problema. A causa principal, na opinião deles, seria o crescimento do número de postos de trabalho no País, especialmente na construção civil. Em entrevista ao Estado (leia nesta página), Gilmar Mauro, que faz parte da coordenação nacional e é reconhecido como um dos principais ideólogos do movimento, observa que a construção civil absorve grande volume de trabalhadores egressos do campo, com pouca especialização profissional, que eram os primeiros a se mobilizar pela reforma, desejosos de retornar ao local de origem.
Para Antonio Canuto é preciso considerar também a falta de empenho do governo na execução da reforma. "Ninguém se dispõe a passar anos debaixo da lona de um acampamento se não houver uma perspectiva mínima de atendimento de suas reivindicações", diz. "No início do mandato de Lula as pessoas acreditavam que ele faria a reforma e por isso foram para os acampamentos. Com o tempo percebeu-se que o empenho do governo não era tão forte como se havia prometido. Agora a situação é pior: a reforma não está no horizonte do novo governo."
O professor Bernardo Mançano Fernandes, do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma (Nera), ligado à Unesp, diz que é preciso considerar também a influência do Bolsa Família. Na sua avaliação, o programa deu mais opções de sobrevivência às famílias mais pobres, que relutam na hora de se deslocar para o acampamento, onde enfrentam muitas dificuldades.
Tanto o representante da CPT quanto o professor acreditam que se trata de uma situação conjuntural. Para eles, a demanda pela redistribuição de terras ainda é forte e os movimentos de sem terra podem voltar a ganhar força. Mas também há quem acredite que essa tendência é irreversível e está ligada às enormes transformações que estão ocorrendo na área rural, com investimentos maciços em projetos agroindustriais, principalmente relacionados à produção de etanol. A área de terras disponíveis para a reforma tende a ficar cada vez menor.


Pauta vai focar área ambiental e já assentados

Roldão Arruda - O Estado de S.Paulo

Em sua mais recente jornada de lutas, no início do mês, o MST invadiu edifícios públicos para chamar a atenção da sociedade sobre o uso intensivo de agrotóxicos na agricultura. Essa estratégia tem se tornado comum.
Em vez de se dedicar apenas a invadir fazendas e pedir a desapropriação para a reforma, o movimento se engaja na campanha ambientalista, de maior apelo social. O objetivo é mostrar que o modelo baseado na grande propriedade, com extensas áreas de monocultura, como a cana e a soja, é prejudicial para o meio ambiente. O modelo alternativo, com a redistribuição da terra e voltado sobretudo para a produção de alimentos, seria melhor do ponto de vista ambiental.
A estratégia também atende à realidade atual do movimento. Com menos força para montar acampamentos em áreas distantes, volta-se para a ocupação de edifícios em áreas urbanas, com o apoio de pessoas já assentadas.
O MST também vem dando cada vez mais ênfase às reivindicações feitas por assentados. É um sinal da mudança de paradigmas que ocorreu ao longo dos anos. Hoje a movimento atende a quase 300 mil famílias instaladas em assentamentos sob seu controle. O peso delas na estrutura vai ficando cada vez maior que o das famílias sem terra.


ENTREVISTA - GILMAR MAURO, MEMBRO DA COORDENAÇÃO NACIONAL DO MST
''A realidade do País mudou''

Roldão Arruda - O Estado de S.Paulo

Para Gilmar Mauro, da coordenação do MST, o Brasil precisa rediscutir o modelo agrícola.

A que atribui a redução dos acampamentos? Isso está ligado ao mercado de trabalho?
Sim. A realidade socioeconômica do País mudou. Houve um processo acentuado de geração de empregos nos últimos oito anos. A construção civil está bombando, mobilizando trabalhadores que costumo chamar, brincando, de primos pobres da cidade. O cara da construção é o ex-camponês, que, até algum tempo atrás, era o mais interessado na volta ao campo.

Isso é conjuntural?
Não sei até onde dura. O capitalismo ainda não saiu do período de crise internacional e é provável que o avanço brasileiro encontre limites uma hora dessa.

E o Programa Bolsa Família?
Muitas famílias encontram nele a possibilidade de ir sobrevivendo sem voltar para a terra.

Isso significa o esvaziamento da bandeira da reforma?
A reforma agrária precisa ser ressignificada, com um debate político. Se continuarmos essa lógica de exportação de commodities, com o uso intensivo de agrotóxicos, em menos de 50 anos teremos contaminado rios, lagos, terra. É o que desejamos? Queremos consumir alimentos contaminados? Se a sociedade responder sim, então não há espaço para reforma. Se disser não, precisamos rever o modelo agrícola atual.



POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO PRODUTIVO
Governo quer R$ 37 bi para inovação
Nova versão da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), a ser divulgada em abril, mira em competitividade e pede mais verba para pesquisa

Fernando Dantas e Alexandre Rodrigues - O Estado de S.Paulo

Com o retorno a posições estratégicas no governo de alguns de seus mais destacados defensores, o foco na inovação volta a ganhar força e deve ser destaque da segunda versão da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), a ser divulgada em abril.
Mirando a competitividade, a chamada PDP2 terá como uma das principais metas a elevação do gasto privado anual em pesquisa e desenvolvimento para algo entre 0,9% a 1% do PIB até 2014. Em valores atuais, algo em torno de R$ 37 bilhões. Hoje o porcentual é de apenas 0,5%.
A primeira PDP, de 2008, mesmo incluindo incentivos à inovação, acabou mais voltada aos segmentos mais competitivos da indústria, boa parte setores tradicionais ligados a recursos naturais. Agora, a formulação da PDP2 está sendo fortemente influenciada pela reforço da visão, dentro do governo, de que é preciso inovar em toda a base industrial para enfrentar a concorrência dos outros países nos mercados interno e externo.
"Não é todo investimento que gera inovação, mas, para aumentar a taxa de investimentos em geral, tem de inovar", define o presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Glauco Arbix, representante do grupo defensor da inovação que voltou ao governo com a posse da presidente Dilma Rousseff.
Ele integra um time ligado aos ministros Antonio Palocci (Casa Civil) e Aluizio Mercadante (Ciência e Tecnologia), que ganhou força neste início do governo Dilma, e está dividindo a definição da estratégia industrial do País com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho.
Como presidente do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), Arbix foi um dos formuladores da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (Ptice), de 2004, primeira iniciativa de Lula nesse campo, com forte foco em inovação. Sem resultados significativos, a Pitce foi substituída em 2008 pela PDP, que, com a saída dos grupos de Palocci e Mercadante do governo, ficou sob forte influência de Mantega e Coutinho.

Pragmatismo. A primeira PDP visou uma ação mais pragmática de incentivo à indústria, com foco em elevar a minguada taxa de investimento brasileira. O plano foi atropelado pela crise financeira mundial, poucos meses depois do estabelecimento da principal meta da PDP: elevar a taxa de investimento a 21% do PIB.
Com a crise global, a taxa caiu de 18,7% em 2008 para 16,9% em 2009, reforçando ainda mais o foco nos investimentos. Em 2009, a taxa recuperou-se para 19% do PIB.Na nova PDP, elevar a taxa de investimento permanecerá como um objetivo crucial, mas com a visão de que a indústria brasileira perdeu competitividade estrutural nos últimos anos e que a prioridade agora deve ser a inovação.


Empresas são atraídas para projeto de inovação
CNI vai apresentar propostas para o plano de Política de Desenvolvimento Produtivo

Alexandre Rodrigues e Fernando Dantas - O Estado de S.Paulo

Além de conciliar as duas distintas visões para a nova política industrial, o governo vem atrasando a definição da nova Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) para ampliar a adesão do setor privado ao plano. Na semana que vem, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) entrega ao governo um documento com uma série de sugestões para a PDP.
"Noto que houve uma mudança no novo governo, e o Ministério da Ciência e Tecnologia agora tem uma visão mais empreendedora de como fazer os recursos para a inovação chegarem nas empresas. Até agora, o governo tem incentivado muita geração de conhecimento, mas pouca transferência disso para a produção", diz o presidente da CNI, Robson Andrade.
Além da conhecida pauta de desoneração fiscal dos investimentos e combate ao custo Brasil, os empresários querem participar mais da governança da política industrial, aumentando o número de segmentos atendidos pelas ações setoriais: "Acreditamos que a nova política não deve ser setorizada. No Brasil, todos os setores são estratégicos."
"Inovação hoje é obrigação de todo e qualquer setor da economia", concorda Glauco Arbix, garantindo que há mais convergência do que disputas no governo entre os defensores do investimento em volume e os que veem a inovação como um caminho para diversificar uma base industrial mais competitiva. "Podemos fazer as duas coisas, combiná-las, mas a fraqueza do Brasil está na inovação e ela é que deve ser o coração e o Norte", diz.
O diretor de Planejamento do BNDES, João Carlos Ferraz, indica que, após três meses de conversas, o consenso parece ter se firmado. Braço direito de Luciano Coutinho na formulação da primeira PDP, ele afirmou que o aumento do investimento continuará sendo "a grande obsessão", mas com uma concentração maior na recuperação da competitividade da indústria. "Perdemos competitividade no plano industrial", admitiu Ferraz, na semana passada, na Suíça.
O grupo de Aloizio Mercadante e Arbix, que trouxe para a Finep outros nomes ligados à Pitce, como o diretor de Inovação João De Negri (que havia sido desligado da diretoria adjunta de Estudos Setoriais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Ipea), defende que a elevação das taxas de inovação depende de um forte e coordenado apoio financeiro do setor público, como mostram as experiências de vários países.
Para aumentar os recursos, Mercadante está propondo a criação de novos fundos setoriais para vitaminar o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), principal fonte de recursos da Finep. Hoje, o FNDCT reúne 15 fundos setoriais, como os de petróleo e energia elétrica, mas é presa recorrente dos contingenciamentos fiscais.
O orçamento de R$ 3,3 bilhões do FNDCT perdeu 20% no recente corte orçamentário de R$ 50 bilhões. A Finep contornou a situação e conseguiu R$ 1,75 bilhão via BNDES, que foi vitaminado por um novo empréstimo do Tesouro de R$ 55 bilhões.
Para acabar com a necessidade de tapar buracos, outro plano do grupo é transformar a Finep num banco, uma espécie de BNDES da inovação, imune aos cortes e com capacidade de alavancar desembolsos diversificando suas fontes, inclusive recorrendo ao mercado. A proposta foi levada ao Banco Central, mas Arbix sabe que não dará frutos em menos de quatro anos. Enquanto isso, a intenção é dobrar o orçamento da Finep e triplicar o número de empresas fomentadas pela agência até 2014.
Os recursos públicos para inovação no Brasil subiram mais de 200% na última década, mas isso não foi o suficiente para elevar o investimento privado a 0,65% do PIB, uma das metas frustradas da PDP. Esse indicador está estacionado em torno de 0,5% do PIB, enquanto o investimento público chega a quase 0,6%.
A participação do setor público na inovação em relação ao PIB no Brasil já é superior à taxa de países como Reino Unido (0,56%) e China (0,36%), segundo comparação da Finep com dados de 2008 e 2007. No entanto, a taxa do investimento privado em pesquisa e desenvolvimento (P&D) nesses dois países têm desempenho muito melhor: 0,89% e 1,01%, respectivamente. É esse efeito que a PDP2 vai buscar.
Segundo a última Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec), do IBGE, só 33,4% das indústrias inovam no Brasil. Os setores com maior taxa de inovação são dominados por multinacionais, como o automotivo (83,2%), o farmacêutico (63,7%) e o químico (58,1%). O elevado custo dos investimentos, os riscos, a falta de pessoal qualificado e a escassez de financiamento são os principais obstáculos apontados pelos empresários para inovar. / COLABOROU JAMIL CHADE



Governo quer atrair empresas para projeto
CNI vai apresentar propostas para o plano de Política de Desenvolvimento Produtivo

Alexandre Rodrigues e Fernando Dantas, de O Estado de S.Paulo

RIO - Além de conciliar as duas distintas visões para a nova política industrial (leia abaixo), o governo vem atrasando a definição da nova Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) para ampliar a adesão do setor privado ao plano. Na semana que vem, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) entrega ao governo um documento com uma série de sugestões para a PDP.
"Noto que houve uma mudança no novo governo, e o Ministério da Ciência e Tecnologia agora tem uma visão mais empreendedora de como fazer os recursos para a inovação chegarem nas empresas. Até agora, o governo tem incentivado muita geração de conhecimento, mas pouca transferência disso para a produção", diz o presidente da CNI, Robson Andrade.
Além da conhecida pauta de desoneração fiscal dos investimentos e combate ao custo Brasil, os empresários querem participar mais da governança da política industrial, aumentando o número de segmentos atendidos pelas ações setoriais: "Acreditamos que a nova política não deve ser setorizada. No Brasil, todos os setores são estratégicos."
"Inovação hoje é obrigação de todo e qualquer setor da economia", concorda Glauco Arbix, garantindo que há mais convergência do que disputas no governo entre os defensores do investimento em volume e os que veem a inovação como um caminho para diversificar uma base industrial mais competitiva. "Podemos fazer as duas coisas, combiná-las, mas a fraqueza do Brasil está na inovação e ela é que deve ser o coração e o Norte", diz.
O diretor de Planejamento do BNDES, João Carlos Ferraz, indica que, após três meses de conversas, o consenso parece ter se firmado. Braço direito de Luciano Coutinho na formulação da primeira PDP, ele afirmou que o aumento do investimento continuará sendo "a grande obsessão", mas com uma concentração maior na recuperação da competitividade da indústria. "Perdemos competitividade no plano industrial", admitiu Ferraz, na semana passada, na Suíça.
O grupo de Aloizio Mercadante e Arbix, que trouxe para a Finep outros nomes ligados à Pitce, como o diretor de Inovação João De Negri (que havia sido desligado da diretoria adjunta de Estudos Setoriais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Ipea), defende que a elevação das taxas de inovação depende de um forte e coordenado apoio financeiro do setor público, como mostram as experiências de vários países.
Para aumentar os recursos, Mercadante está propondo a criação de novos fundos setoriais para vitaminar o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), principal fonte de recursos da Finep. Hoje, o FNDCT reúne 15 fundos setoriais, como os de petróleo e energia elétrica, mas é presa recorrente dos contingenciamentos fiscais.
O orçamento de R$ 3,3 bilhões do FNDCT perdeu 20% no recente corte orçamentário de R$ 50 bilhões. A Finep contornou a situação e conseguiu R$ 1,75 bilhão via BNDES, que foi vitaminado por um novo empréstimo do Tesouro de R$ 55 bilhões.
Para acabar com a necessidade de tapar buracos, outro plano do grupo é transformar a Finep num banco, uma espécie de BNDES da inovação, imune aos cortes e com capacidade de alavancar desembolsos diversificando suas fontes, inclusive recorrendo ao mercado. A proposta foi levada ao Banco Central, mas Arbix sabe que não dará frutos em menos de quatro anos. Enquanto isso, a intenção é dobrar o orçamento da Finep e triplicar o número de empresas fomentadas pela agência até 2014.
Os recursos públicos para inovação no Brasil subiram mais de 200% na última década, mas isso não foi o suficiente para elevar o investimento privado a 0,65% do PIB, uma das metas frustradas da PDP. Esse indicador está estacionado em torno de 0,5% do PIB, enquanto o investimento público chega a quase 0,6%.
A participação do setor público na inovação em relação ao PIB no Brasil já é superior à taxa de países como Reino Unido (0,56%) e China (0,36%), segundo comparação da Finep com dados de 2008 e 2007. No entanto, a taxa do investimento privado em pesquisa e desenvolvimento (P&D) nesses dois países têm desempenho muito melhor: 0,89% e 1,01%, respectivamente. É esse efeito que a PDP2 vai buscar.
Segundo a última Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec), do IBGE, só 33,4% das indústrias inovam no Brasil. Os setores com maior taxa de inovação são dominados por multinacionais, como o automotivo (83,2%), o farmacêutico (63,7%) e o químico (58,1%). O elevado custo dos investimentos, os riscos, a falta de pessoal qualificado e a escassez de financiamento são os principais obstáculos apontados pelos empresários para inovar. / COLABOROU JAMIL CHADE


MINERAÇÃO
Brasil ignora minerais estratégicos
Na contramão do mundo, governo não investe em pesquisa e exploração de terras raras, cada vez mais usadas na indústria de ponta

Marcelo Portela - O Estado de S.Paulo

A recente aquisição de 15% de participação na produtora mineira de nióbio Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) por um grupo asiático é um claro indicativo do interesse que algumas nações têm em matérias-primas estratégicas. Mas o Brasil parece seguir na contramão. Pelo menos em relação às terras raras, conjunto de elementos químicos usados principalmente na indústria de alta tecnologia e que são igualmente estratégicos.
Oficialmente, o País tem menos de 1% das reservas mundiais de terras raras, segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). No entanto, é consenso entre quem atua na área que essas reservas podem ser bem maiores. "Não há dúvida. O Brasil é uma caixa de surpresas para a mineração", afirma Romualdo Paes de Andrade, responsável pela parte de terras raras do DNPM. "Há necessidades estratégicas que o Brasil vai ter que colocar em ordem para retomar pesquisas que estavam a pleno vapor há dez anos."
Terras raras é o nome que se dá a um conjunto de 17 elementos químicos. A maioria das pessoas não conhece os nomes, mas provavelmente já teve contato com algum dos diversos produtos que levam esses minerais. São usados em smartphones, iPods, fibras óticas, supercondutores, baterias para carros híbridos, vidros e lentes especiais, ímãs, refino de petróleo e na indústria bélica, além de vários outros. "Quanto mais os eletrônicos são miniaturizados, mais a indústria precisa desses elementos", observa o diretor de assuntos minerários do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Marcelo Ribeiro Tunes.

"Capenga". O Brasil foi um dos pioneiros na produção de terras raras, iniciada no País ainda no século 19, em areias monazíticas da Bahia, e chegou a liderar a produção mundial nas décadas de 1950 e 1960, posto que dividia com a Índia. No entanto, apesar do uso variado e cada vez mais constante, o governo vem deixando de lado a pesquisa em terras raras desde o regime militar, quando a Nuclemon, subsidiária da Nuclebras, assumiu a exploração do material. "Em 1985, essa exploração já estava capengando. Na década de 1990, parou de vez", disse Marcelo Tunes.
A paralisação coincidiu com o avanço da China, dona de 57,7% das reservas mundiais conhecidas, que dominou com preços que tornaram a importação do material mais viável economicamente do que sua extração e beneficiamento. "A China investiu na exploração e produção e quebrou os concorrentes", conta Paes de Andrade. Para se ter uma ideia, a China produziu, em 2008, 120 mil toneladas, enquanto a produção na Índia foi de 2,7 mil toneladas e o Brasil, terceiro maior produtor mundial, produziu 834 toneladas.
No ano passado, porém, o gigante asiático anunciou uma redução de 11,4% no volume de exportação de terras raras, para atrair mais indústrias de ponta para o país. "A China assumiu o monopólio com um objetivo: para comprar os minerais, hoje, tem que ser com valor agregado. Ela reduz o volume de exportação de terras raras, mas quer produzir os produtos que usam os elementos", acrescenta.
Segundo Tunes, essa medida já levou o governo dos Estados Unidos a estudar a possibilidade de oferecer subsídios para a reativação da mina de Mountain Pass, na Califórnia, também fechada devido à falta de competitividade diante dos preços chineses. Medida que Romualdo Andrade defende também para o Brasil, a exemplo do que ocorre com materiais nucleares como urânio, explorado no País pela iniciativa privada em parceria com o governo. "Esse casamento poderia ser feito também para terras raras. Áreas sem viabilidade econômica (para empresas) poderiam ter subsídio governamental", avaliou.

Salto. Enquanto o governo titubeia na retomada das pesquisas de novas reservas, empresários se adiantam. E as perspectivas oferecidas pelo crescimento acelerado da indústria de tecnologia atraem pesos pesados para a atividade. Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), após a redução das exportações chinesas, o preço da tonelada de terras raras chegou a US$ 50 mil, salto de 1000% em relação aos US$ 5 mil que custava antes. Em 2010, 134 mil toneladas do material movimentaram um mercado de US$ 2 bilhões, valor que tende a crescer.
Numa palestra em Minas Gerais no fim do ano passado, o empresário Eike Batista declarou que estava mapeando algumas áreas. "Terras raras são os metais do futuro", disse na ocasião. "O Brasil tem um potencial extraordinário, pode competir com a China. Pelo que já sei, nós temos uma reserva maior que a China", completou. Após o discurso, porém, evitou entrar em detalhes sobre novas reservas.
Uma dificuldade, porém, é o alto do custo dos investimentos para pesquisar e explorar novas reservas. O Ibram defende uma análise mais detalhada do solo por parte do governo, como forma de reduzir os riscos. Segundo Tunes, menos de 30% do território brasileiro tem mapeamento geológico em escala adequada. "No mundo inteiro, essa é uma função de governo e no Brasil não é diferente", ressaltou.


AVIAÇÃO
A corrida das emergentes
Depois de saírem do vermelho, companhias aéreas de médio porte apostam em modelos diferentes para crescer - resta saber qual delas vai disparar na frente

Melina Costa - O Estado de S.Paulo

No Brasil, poucos setores enfrentam um cenário de competição tão estreita como o de aviação. É assim há anos: TAM e Gol dominam o mercado. A concentração é tamanha que, em fevereiro, as duas empresas transportaram, juntas, quase 80% dos passageiros no País. Mas uma mudança importante começa a se configurar. Um grupo de quatro empresas médias - Azul, Webjet, Avianca e Trip - passou a ganhar força do ano passado para cá.
Em 2010, a Webjet atingiu o lucro pela primeira vez em seis anos de operação. A Avianca afirma ter chegado ao equilíbrio entre custos e receita e espera ser rentável em 2011. A Azul informou que registrará seu primeiro trimestre lucrativo entre janeiro e março. A regional Trip, por sua vez, é rentável há três anos e agora se prepara para um salto no crescimento.
Os dados mostram que cada uma dessas empresas se provou capaz de erguer uma estratégia sustentável para crescer - resta saber qual delas vai sair na frente. "São empresas com modelos diferentes e defensáveis. É difícil saber qual delas vai disparar", diz Paulo Sampaio, consultor da Multiplan Air. "Esse é o momento mais interessante da aviação na última década." Em uma demonstração do tamanho de seu apetite, o grupo das companhias médias aumentará em mais de cinco mil o número de assentos disponíveis para passageiros em 2011 - contra menos de dois mil na oferta de TAM e Gol.
Na corrida das companhias emergentes, uma das mais agressivas é a regional Trip. A empresa vai acrescentar 14 aviões à sua frota. Com receita de R$ 740 milhões, está entre as últimas do grupo em participação de mercado, mas contesta o índice de 2,7% atribuído pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). "A agência mede a participação em volume, e não em valor. Se fossem comparar as receitas, estaríamos no patamar de Azul e Webjet", diz José Mario Caprioli, acionista e presidente da Trip.
Independentemente disso, o fato é que a empresa precisará de dinheiro para entrar no time das grandes. Com a estratégia de ligar cidades pequenas e médias, a Trip pretende chegar em 2013 com 81 aviões e R$ 2,4 bilhões de receita. Há três alternativas de capitalização à sua frente. A primeira é o uso de capital próprio e emissão de dívida. A outra consiste em um IPO, ainda sem data definida. Já a terceira, segundo o Estado apurou, é a entrada da Latam (resultado da fusão entre TAM e a chilena LAN) no capital da companhia.
As negociações começaram no fim de 2010 e devem culminar em uma participação da Latam ao redor de 30%. Em comunicado, a TAM não desmentiu as conversas e informou que as empresas mantêm tratativas "visando o aprimoramento do acordo de codeshare existente e a identificação de possíveis oportunidades para fortalecimento e expansão dos negócios". A Trip não se manifestou.

Petróleo. A tentativa de capitalização que mais mobilizou o mercado foi a da Webjet. Ela foi a primeira a protocolar o pedido de IPO na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e, dependendo do resultado da oferta, poderia disparar na frente das outras. Seus planos, porém, tiveram de ser atrasados diante das crises na Líbia e no Japão e da alta dos preços do petróleo. Procurada, a Webjet não concedeu entrevista porque ainda está em período de silêncio.
Depois de passar por três donos em seis anos, a Webjet decidiu adotar um modelo de baixíssimo custo ao estilo Ryanair - a companhia irlandesa que já anunciou até a cobrança pelo uso dos banheiros dos aviões. Um executivo em especial tem trabalhado para aproximar as duas. É Charles Clifton, que trabalhou 16 anos na irlandesa.
Clifton é sócio no Irelandia Aviation, fundo de investimentos da família fundadora da Ryanair. Em 2009, o Irelandia estudou a possibilidade de comprar uma fatia na Webjet. As negociações não avançaram, mas Clifton acabou convidado para participar do conselho de administração da brasileira. Hoje ele mora no Rio e dá expediente na companhia, segundo fontes do setor. Com sua ajuda, a Webjet passou a cobrar pela marcação de assentos no avião e não serve nem água de graça.
Na disputa entre as companhias médias, nenhuma cresce tão rapidamente como a Azul, de David Neeleman. Em dois anos de operação, alcançou quase 8% do mercado e tornou-se a terceira maior do setor. Sua intenção é deter 20% do transporte de passageiros em até 8 anos ligando cidades médias e grandes com voos sem escala.
Desde que começou a voar, a Azul tem enfrentado críticas. Os concorrentes alegam que a empresa comprometeu suas margens para crescer. Além disso, o anúncio do IPO da Webjet foi visto como uma pressão extra para a companhia, que também pretende abrir o capital - afinal, o número de investidores interessados em empresas emergentes de aviação no Brasil é finito.
"Atingimos o break-even (equilíbrio entre despesas e receita) em dezembro e ainda temos US$ 100 milhões dos US$ 350 milhões captados para começar a empresa. Não precisamos de dinheiro e nossos investidores não têm pressa de sair do negócio", diz Neeleman. "E não adianta um concorrente ter mais dinheiro. Isso não significa que ele saberá colocar as aeronaves no lugar certo."
"Querida". Na ponta final da disputa está a operação local da colombiana Avianca. A empresa foi a que menos cresceu em participação de mercado em 2010 e informou que deve aumentar sua oferta em pouco mais de 720 assentos neste ano. "Para nós, o market share não é o mais importante", diz José Efromovich, presidente. "Queremos ser a empresa mais querida."
Guiada por essa missão, a companhia se ocupou em aumentar o espaço entre poltronas e oferecer mimos como tomadas e TVs individuais. Mas que ninguém se engane. Suas intenções não são tão inocentes. O grupo Avianca como um todo deve receber 40 aviões da Airbus até o fim de 2014 - e ainda não está decidido onde eles serão alocados. Essa é só uma amostra de que a competição está apenas no começo.

Planos
Em oito anos, a Azul espera ter 20% do mercado doméstico. “A maior empresa dos EUA, a United Continental, tem uma participação de apenas 20%”, diz Neeleman, fundador da Azul.

Regional
Para Caprioli, da Trip, o crescimento das companhias regionais será fruto do desenvolvimento acelerado das cidades médias e pequenas, e não exclusivamente “drenando” tráfego das grandes.


A Gol passou a TAM no mercado doméstico. E agora começa a briga.

Há duas semanas, a Gol comemorou ter ultrapassado, pela primeira vez, a rival TAM em participação no mercado doméstico de aviação. Trata-se de um marco simbólico: a diferença entre as duas empresas foi de apenas 0,18 ponto percentual no mês de fevereiro. Uma margem tão pequena pode facilmente virar à favor da TAM no próximo mês. Mesmo assim, a reação da empresa dos Amaro já começou a ser percebida no setor. Executivos próximos já falam em "guerra de preços". Ainda é cedo para saber qual o esforço que TAM e Gol estão dispostas a fazer pelo primeiro lugar. O fato é que, na última sexta-feira, ambas destacavam promoções em seus sites na internet.


Tempestade solar atrapalha comunicação e atrasa voos em aeroportos brasileiros

Uma tempestade solar ocorrida na região amazônica provocou ontem o atraso de alguns voos no País. O fenômeno ocorreu por volta das 14 horas e durou cerca de 20 minutos. Por questão de segurança, os controladores de voos decidiram suspender a decolagem dos aviões que ainda estavam em solo nos aeroportos da região, como o de Manaus. Segundo a Aeronáutica, os aviões que estavam voando no momento não tiveram problema de contato com o centro de controle.
Na noite de ontem, o tráfego aéreo estava normalizado, mas algumas companhias aéreas usaram a ocorrência da tempestade para justificar atrasos na decolagem de seus aviões. Segundo a Aeronáutica, a tempestade emite irradiações magnéticas que provocam interferências na troca de informações entre as aeronaves e o centro de controle de tráfego aéreo. Um relatório com o real impacto dos atrasos ocorridos em Manaus e no restante do País deve ser divulgado hoje.


DIPLOMACIA
ENTREVISTA - SHIRIN EBADI, Prêmio Nobel da Paz
''O Brasil colaborou para isolar o Irã''

Jamil Chade - O Estado de S.Paulo

O Brasil mostrou que o Irã nunca esteve tão isolado como agora. A declaração é da prêmio Nobel da Paz, Shirin Ebadi, considerada pelo regime dos aiatolás como uma das principais inimigas do governo. Exilada em Londres, Ebadi disse, em entrevista exclusiva ao Estado, que o Brasil sob o governo Lula fez a comunidade internacional perder tempo na pressão contra o regime de Mahmoud Ahmadinejad.
Na semana passada, o governo de Dilma Rousseff votou a favor de uma resolução que estabelece a criação de uma investigação internacional na ONU para avaliar os crimes cometidos pelo regime. Em dois meses, Ebadi virá ao Brasil e se reunirá com Dilma. A entrevista:

Como a sra. avalia a mudança de voto do Brasil em relação ao Irã?
Antes de tudo preciso agradecer pelo voto do Brasil. Alguns no Irã, principalmente o governo, ficaram surpresos. Mas eu sabia que isso ocorreria. Tinha esperanças de que o país que por tantos anos lutou pela democracia em um momento se desse conta de que precisava dar atenção ao povo iraniano, e não ao regime.

O governo iraniano irá modificar o comportamento com o Brasil?
Eles devem estar irritados, certamente. Mas não podem fazer nada. Com certeza, o Brasil colaborou para isolar o Irã. Poucas vezes nos últimos anos o país esteve tão isolado, com o fim do apoio incondicional do Brasil. O governo brasileiro mandou um recado de que não há como apoiar o regime.

De que forma o voto brasileiro pode ser importante em todo o debate sobre o Irã?
O Irã sempre declarou que a pressão externa vinha de uma campanha internacional de Washington. Mas o Brasil provou que isso não é verdade. O Brasil é considerado um país independente. Portanto, destruiu uma das teses que o Irã sustentava para atacar o Ocidente.

O que mais o Brasil pode fazer para pressionar?
Continuar votando contra o Irã na ONU e incentivar os países aliados a seguir esse caminho. Para onde vai o Brasil, vai a América do Sul.

O Irã deixou claro que não pretende aceitar o resultado da resolução nem a entrada de um emissário da ONU. O que mais a comunidade internacional pode fazer?
Se o Irã não aceitar a entrada do relator, o próximo passo será levar o regime de Teerã ao Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade.

Em junho a sra. viaja ao Brasil. Qual recado levará a Dilma?
A mensagem da necessidade de que ela lute pelos direitos das mulheres no Irã. Como primeira presidente mulher do Brasil, espero que olhe com especial atenção o que ocorre com as mulheres no Irã, que têm seus direitos diariamente violados.

Lula foi um dos presidentes mais populares do Brasil. Qual é a imagem que a sra. tem dele?
Achei que Lula, como ex-sindicalista, apoiasse os trabalhadores. Esperava que ele, quando foi ao Irã, visitasse as vítimas de violações de direitos humano, sindicalistas silenciados e trabalhadores que sofrem diariamente. Não o fez.

As revoluções nos países islâmicos podem chegar ao Irã?
Essas revoltas dão energia à oposição no Irã. A queda de ditadores tem dado muita esperança a pessoas no Irã que já a haviam perdido. Está na hora de o Irã começar a se reformar. Caso contrário, enfrentará as cortes internacionais em breve.

QUEM É
SHIRIN EBADI - PRÊMIONOBELDA PAZ DE 2003
Advogada e ativista de direitos humanos, foi a primeira mulher a tornar-se juíza no Irã, em 1969. Perdeu o cargo após a Revolução Islâmica de 1979, porque os clérigos interpretaram que o Islã só poderia aceitar homens como juízes. Só em 1993, recebeu autorização para voltar a advogar



SEGURANÇA NUCLEAR
Japão diverge sobre radiação em Fukushima
Novo tremor leve na região da tragédia provoca alerta de tsunami, suspenso após duas horas

AP e Reuters - O Estado de S.Paulo

A Agência de Segurança Nuclear japonesa declarou ontem que os níveis de radiação na água localizada perto do reator 2 da usina nuclear de Fujushima estavam 10 milhões de vezes acima do normal. A Tokyo Electric Power Company (Tepco), empresa que controla a usina, negou a informação e em seguida admitiu: não sabe o grau exato de contaminação.
As evidências de que havia perigo de contaminação no reator 2 da usina nuclear de Fukushima surgiram dias depois que três trabalhadores foram expostos a altos níveis de radiação enquanto consertavam um sistema de resfriamento no reator 3. Dois dos três homens foram queimados por raios beta depois de andarem dentro da água com níveis de radiação bem acima do normal - os trabalhadores devem receber hoje alta do hospital.
A divergência de ontem fez oficiais japoneses e executivos da Tepso serem ainda mais pressionados a dar informações precisas e rápidas. Governo e empresa têm sido criticados.
No fim de semana, houve pequenos progressos na remoção de água contaminada e resfriamento dos reatores com água doce, em vez da corrosiva água do mar, como vinha sendo feito. Mas Yukiya Amano, diretor geral da Agência de Segurança Nuclear japonesa, alertou que a situação de emergência deve continuar por semanas, possivelmente meses. "É um acidente muito grave. E ainda não acabou", disse Amano ao The New York Times.

Estado de alerta. Enquanto governo e empresa não chegam a um consenso sobre os níveis de radiação, os japoneses sofrem com novos e frequentes tremores, que apesar da baixa intensidade, obrigam a população a retomar as precauções contra outro desastre.
Na noite de ontem (horário de Brasília), um terremoto de magnitude 6,5 na escala Richter atingiu o nordeste do país, levando a Agência Meteorológica do Japão a lançar um alerta de tsunami iminente na região de Miyagi, uma das mais devastadas pelo terremoto de 11 de março. Não houve relatos de feridos ou outros danos. O comunicado foi liberado às 7h23 da manhã de segunda, pelo horário japonês. Eram esperadas ondas de cerca de meio metro. Por isso, o alerta de tsunami foi cancelado às 9h05 do horário local.
O tremor ocorreu a 5,9 km de profundidade, nas proximidades da costa de Honshu, segundo informou a agência geológica americana (USGS, na sigla em inglês), que registra os terremotos ocorridos pelo mundo.


Reação do governo é reprovada por 57,9% dos japoneses

A agência de notícias Kyodo divulgou ontem uma pesquisa que mostra que 58,2% dos japoneses entrevistados desaprova o jeito como o governo japonês tem respondido à crise nuclear, contra 39,3% da população favorável às medidas. A pesquisa aponta ainda que 57,9% dos entrevistados aprovam a maneira como o país tem ajudado as vítimas do terremoto e do tsunami.



VISÃO GLOBAL
A guerra da Líbia não é americana
Interferência dos EUA no conflito do país africano deve multiplicar acusações de ataques contra muçulmanos

*Edward Luttwak, do The New York Times - O Estado de S.Paulo

Novamente os EUA estão bombardeando um país muçulmano para libertar a população de seus ditadores sanguinários. Novamente há civis inocentes sendo massacrados e os EUA têm a obrigação moral de intervir. Mas neste caso - mesmo integrando uma coalizão aprovada pela ONU para implementar uma zona de exclusão aérea - os EUA não deveriam, absolutamente, intervir.
Nenhum apelo humanitário deve ser ignorado, e muitos americanos lembram com profundo pesar o fato de o governo Clinton não ter se interposto contra o genocídio em Ruanda, em 1994, quando milhares de soldados poderiam ter salvo milhares de pessoas.
Então, por que a Líbia é diferente? Por que os EUA não deveriam intervir? Em primeiro lugar, porque o país tem petróleo e gás. Para muita gente, em todo o mundo, a ação militar americana foi motivada exclusivamente pelo desejo de se apossar dos recursos.
Naturalmente é um absurdo, mas os inimigos dos EUA repetirão muitas vezes essa acusação, plausível para quem não consegue acreditar que um governo possa ser benevolente o bastante para consumir sangue e dinheiro e ajudar, desinteressadamente, estrangeiros. Ainda mais de uma outra religião.
É inútil argumentar que o controle militar de um território e a posse dos seus recursos naturais são coisas bem diferentes de qualquer ocupação em que as regras são respeitadas. Pouca gente sabe que as forças militares americanas não fizeram nenhuma tentativa para se apossar, ou mesmo proteger diligentemente, as instalações petrolíferas do Iraque durante ou após a invasão de 2003. E mesmo quando levantado, este fato é considerado irrelevante. É por isso que, acreditando nessa acusação, os líderes políticos iraquianos começaram a fechar contratos na área do petróleo com empresas não americanas, para mostrar que não são marionetes dos EUA.
A segunda razão pela qual a Líbia é diferente de Ruanda é a sua religião. No Afeganistão, por exemplo, os imãs denunciam a intervenção americana como um ataque disfarçado contra o Islã.
É imperdoável repetir os mesmos erros na Líbia. Independente das suas boas intenções, os EUA serão representados novamente como o agente predador de um país antimuçulmano, provocando mais terrorismo.
Deveríamos deixar que a Liga Árabe ou a Organização da Conferência Islâmica, muito mais ampla, com seus 57 membros, que possuem caças de primeira linha e tropas, organizassem sozinhos uma intervenção humanitária à sua própria custa, em termos de dinheiro e de sangue. Os EUA não seriam novamente acusados de atacar o Islã. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

*EDWARD N. LUTTWAK É REPRESENTANTE DO CENTRO DE ESTUDOS ESTRATÉGICOS E INTERNACIONAIS



LIVROS/HISTÓRIA
Testemunha ocular de uma época de conflitos

Roberto Godoy - O Estado de S.Paulo

A guerra do futuro próximo não terá aviões de caça tripulados. E a razão dos conflitos do século 21 não é mais o controle do solo - o que interessa agora é o subsolo e o substrato, as fontes de energia, a água e, claro, o personagem clássico no cenário dos interesses, o campo produtor de alimentos. A batalha é cibernética e o xeque mate pode vir por meio do constrangimento eletrônico da infraestrutura de um país inteiro.
Nesse cenário, a leitura de O Primeiro e o Último, memórias de um ás da Luftwaffe, a aviação da Alemanha na 2ª Guerra Mundial, ganha importância. Trata-se do depoimento de Adolf Galland. O livro foi lançado pela primeira vez na Alemanha em 1953. Galland, nessa época, morava na Argentina. Era instrutor de operações aéreas de ataque e interceptação. O autor morreu em 1996, em Bonn, aos 84 anos.
É a visão serena e bem escrita de um guerreiro de seu tempo. Sem ilusões: o piloto Galland atuou sob ordens de três ditadores, Adolf Hitler, Francisco Franco e Juan Perón. Cumpriu 705 missões de combate e derrubou 104 aviões inimigos. Sentou-se à mesa com monstros do porte de Herman Goering e Heinrich Himmler. E tudo o que queria era voar, revela, com singeleza.
A história de Galland começa a ser contada a partir de Buenos Aires, onde desembarcou em 1948. A rigor, todavia, os prodígios vividos pelo piloto tem início em 1929, ano chave para o mundo - crise econômica, mudanças na geografia política, adoção de novos conceitos estratégicos e também do seu primeiro voo a bordo de um planador. Na mesma ocasião, tem acesso à escola de aviação de Brünswick, uma das formas encontradas pelo governo germânico para investir na formação da aviação militar que o Tratado de Versalhes proibia.
No anos 30, o chanceler Hitler manda para a Espanha a Legião Condor, em apoio a Francisco Franco, na Guerra Civil Espanhola. Galland cumpriu 300 missões, quase todas no comando de biplanos Heinkel. Voltou à Alemanha como líder de esquadrão.
O livro é um relato minucioso e quente de bombardeios, ataques , ansiedade de combate e rotinas militares. Mas Galland não ignora episódios políticos dos quais foi testemunha ou protagonista. Merece destaque uma reunião com Hitler e o ministro dos armamentos do Reich, Albert Speer. O conflito está próximo do fim. A capacidade industrial, de transportes e energética da Alemanha entrou em colapso. Ambos se apresentam diante do Führer para alertá-lo a respeito do equívoco de uma ordem que determina o deslocamento da força de aviões de caça para frentes distantes. Hitler, relata Galland, "está agitado, afetado física e psicologicamente". Speer apresenta um quadro real da situação. O ditador perde o controle, interrompe a exposição. Abruptamente dispensa os interlocutores. A ausência das aeronaves seria determinante na derrota.
Galland voou os primeiros caças de propulsão à jato da história, os Me-262. O programa de desenvolvimento do modelo sofreu os piores efeitos da centralização excessiva na tomada das decisões do alto comando da Luftwaffe. Hitler queria o Me-262 como bombardeiro leve. Herman Goering defendia um tipo multifuncional. Os projetistas do fabricante pensaram em um interceptador puro capaz de atingir 950 km/hora. O Estado Maior pediu uma versão de reconhecimento a grande altitude. Em 1944 o total de variantes chegava a 25. O resultado final penalizou a autonomia, limitada a 1030 quilômetros, e dificultou o que Galland considerava "uma pilotagem soberba, asas de ferro para o homem", impondo, além dos quatro canhões de 30mm previstos inicialmente para a tarefa única de interceptação, duas bombas de 250 quilos, mais 24 foguetes ar-terra de 55 mm. No arranjo original, os jatos, dos quais foram fabricados 1.430 unidades, teriam tido um efeito arrasador. Não deu tempo. Quando foram reconhecidos como elementos diferenciais a guerra estava a 90 dias do final.
A melhor imagem da derrocada talvez seja a cena vista por Galland, depois da capitulação, em 3 de maio de 1945: ".... todos os aviões da Unidade de Caça 44 estavam sem camuflagem alguma na base aérea de Salzburg, sobre os quais circulavam os caças americanos. Esses aviadores, não utilizaram suas armas de bordo nem lançaram bombas, pois evidentemente eles mesmos esperavam poder pilotar em pouco tempo aqueles lendários caças a jato alemães..."

fonte: JORNAL ESTADO DE SÃO PAULO


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