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quarta-feira, 30 de março de 2011

30 de março de 2011 - JORNAL ESTADO DE SÃO PAULO


DESTAQUE DE CAPA
Crédito cresce, apesar de medidas do governo

Apesar das medidas tomadas pelo governo federal desde o fim do ano passado -como o aumento da taxa de juros e restrições no financiamento de veículos-, o crédito no país cresceu 21% nos 12 meses encerrados em fevereiro, segundo dados do Banco Central.
Ao favorecer o consumo, essa expansão preocupa, pois contribui para alimentar a inflação.


CASO ARAGUAIA
Ministério Público realiza apreensões em residências de major

DE BRASÍLIA - O Ministério Público Federal em Brasília apreendeu ontem documentos, um computador e uma arma de fogo nas residências do oficial da reserva Sebastião Rodrigues de Moura, conhecido como major Curió.
Ele foi um dos líderes da repressão à guerrilha do Araguaia (1972-1975). Os mandados foram concedidos pela 1ª Vara da Justiça Federal.
"As buscas são uma tentativa de localizar documentos que possam revelar o paradeiro de corpos de militantes políticos que participaram da guerrilha", disse a procuradora Luciana Loureiro.
Curió foi preso em flagrante por porte ilegal de arma e continuava detido até o fechamento desta edição.


CRISE NA LÍBIA
Coalizão anuncia que dará dinheiro de Gaddafi a rebeldes
Aliados discutem formas de auxílio financeiro e não descartam fornecer armamento a opositores de ditador
Mando militar da ação passa hoje dos EUA para Otan; forças do regime impõem novos recuos a rebeldes nos combates

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

A coalizão aliada que promove as operações militares na Líbia admitiu ontem estudar meios de prestar auxílio financeiro a rebeldes contra o ditador Muammar Gaddafi e não descartou fornecer armas aos insurgentes líbios.
A decisão é nova evidência do alinhamento a opositores líbios, ultrapassando os termos da resolução da ONU.
Reunidos em Londres para debater o futuro da intervenção militar no país, representantes dos países envolvidos defenderam a ideia de que o mandato da ONU permite a revisão do embargo à Líbia.
"A nossa interpretação é de que a resolução [da ONU] alterou a proibição de fornecimento de armas a qualquer destinatário na Líbia, de modo que poderia haver a transferência legítima de armas", afirmou a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton.
Em entrevistas a emissoras americanas, o presidente Barack Obama prometeu pressionar Gaddafi até a sua renúncia e também não descartou enviar armas a rebeldes.
A chanceler americana negou, no entanto, que uma decisão nesse sentido já tenha sido tomada, admitindo apenas que "meios não letais" de auxílio às forças rebeldes foram discutidos no encontro.
"Discutimos formas de habilitar o Conselho Nacional de Transição [governo paralelo rebelde] a ter suas necessidades financeiras", disse.
Uma possibilidade é que os países aliados utilizem os cerca de US$ 33 bilhões ligados a Gaddafi congelados e fornecer auxílio à oposição.
O representante do conselho rebelde no encontro de Londres, por sua vez, defendeu abertamente o fornecimento de armas à oposição.
"Não temos armas. Queremos apoio político mais que armas. Mas se tivéssemos os dois seria ótimo", afirmou o chefe de imprensa do conselho, Mahmoud Shammam.
A coalizão liderada por EUA, França e Reino Unido defendeu a continuidade dos ataques até que Gaddafi aceite promover cessar-fogo.
Hoje, o comando militar das operações deve ser transferido à Otan (aliança militar ocidental), atendendo ao desejo dos EUA de limitar o envolvimento em novo conflito.
Os países aliados acertaram a formação de um conselho de acompanhamento das operações formado por ONU, União Europeia, Liga Árabe, União Africana e a Conferência Islâmica. A primeira reunião do grupo será no Qatar.

NOVO RECUO REBELDE
No campo de batalha, forças leais a Gaddafi voltaram ontem a impor recuos aos rebeldes, depois de perderem o controle de uma faixa que se estende de Benghazi, a capital rebelde, até quase a entrada de Sirte em poucos dias.
Segundo relatos do front, governistas haviam retomado Bin Jawad e ameaçavam Ras Lanuf. Ao mesmo tempo, realizavam ataques a Misrata, a terceira maior cidade do país (ver o quadro abaixo).
No litoral de Misrata, forças aliadas destruíram as primeira embarcações de guerra da Líbia desde o começo da intervenção. Alvos do governo também foram atingidos na capital líbia, Trípoli.


Vice-chanceler do Irã acusa o Brasil de agir "em ziguezague"

DE SÃO PAULO

O vice-chanceler do Irã para as Américas, Behrouz Kamalvandi, disse que o voto do Brasil contra seu país no Conselho de Direitos Humanos da ONU, na quinta-feira passada, "mostra o início de uma política de ziguezague", com impacto negativo nas relações bilaterais.
O voto foi o primeiro do Brasil contra o Irã num órgão na ONU em oito anos e permitiu a imposição ao país de um relator especial que deverá investigar supostas violações dos direitos humanos.
Na entrevista, concedida no mesmo dia da votação à agência oficial iraniana, a Irna, e reproduzida pela Agência Brasil no dia seguinte, o iraniano diz que o ex-presidente Lula resistiu a "pressões internas dos tecnocratas pró-Ocidente e às ameaças externas" e fortaleceu "políticas independentes".
Diz ainda que essas pressões teriam aumentado desde a posse de Dilma Rousseff e que a mudança na votação do Brasil ocorreu logo após a visita de Barack Obama, "embora a situação dos direitos humanos naquele período tenha se mantido".
Para o iraniano, existe "enfrentamento entre tecnocratas e líderes independentes" no Brasil.
Kamalvandi disse que, sob Lula, "líderes do Brasil sempre se opuseram ao uso instrumental e trato seletivo e político dos direitos humanos e, por isso, não ficavam na mesma linha dos EUA e países ocidentais".
Para ele, essa atitude, "independente e justa", mostrava que o país não estava "disposto a sacrificar seus princípios e valores" para se tornar um membro permanente do Conselho de Segurança.
"O Brasil, desde a chegada do [ex-] presidente Lula, está trabalhando seriamente para concretização deste objetivo. Mas, sempre paralelamente, criticava de forma consistente a estrutura do sistema internacional. Ele acreditava na necessidade de reforma."
Kamalvandi, além de Lula, elogiou Cuba e Equador, que votaram contra a investigação, e Uruguai, que se absteve. Para ele, esses são países que "resistiram contra pressões das potências".


Congresso, gays e negros reagem contra declarações de deputado
Bolsonaro associa namoro com negra a promiscuidade; depois, diz que se referia a homossexuais
Preta Gil, que fez na TV pergunta a deputado, afirma que vai à Justiça; Câmara já abriu mais de 20 processos contra ele

MARIA CLARA CABRAL DE BRASÍLIA
CRISTINA MORENO DE CASTRO DE SÃO PAULO

Declarações do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) num programa de TV provocaram uma avalanche de reações no Congresso e entre ativistas do movimento negro e gay.
No quadro "O Povo Quer Saber", do programa CQC, da TV Bandeirantes, a cantora Preta Gil perguntou como ele reagiria se seu filho se apaixonasse por uma negra.
O parlamentar, que tem um extenso histórico de polêmicas relacionado a direitos civis e humanos, respondeu:
"Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco e meus filhos foram muito bem educados. E não viveram em ambiente como lamentavelmente é o teu."
Após o programa ir ao ar na noite de anteontem, Bolsonaro tentou se justificar.
Disse que, na realidade, pensou que a pergunta se referisse a um relacionamento gay. "Essa se encaixa na resposta que eu dei. Para mim, ser gay é promíscuo, sim".

"ATÉ O FIM"
A resposta provocou mais polêmica. Preta Gil ameaça processá-lo. Diz que vai entrar com uma ação de indenização por danos morais.
"Sou uma mulher negra, forte e irei até o fim contra esse deputado racista, homofóbico, nojento", escreveu, irada, a cantora no Twitter.
Colegas de Câmara dos Deputados afirmam que vão encaminhar ao Ministério Público Federal e à Procuradoria Geral da República um pedido de investigação sobre o parlamentar eleito pelo Rio.
O deputado Edson Santos (PT-RJ) já pediu abertura de processo por quebra de decoro contra o parlamentar. A presidente da Comissão de Direitos Humanos, Manuela D'Ávila (PC do B-RS), apresentará moção de repúdio.
Manuela D'Ávila ressalta que o racismo aconteceu, independentemente de quem tenha sido o alvo do colega.
Ideraldo Beltrame, presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, afirmou que o movimento também vai mobilizar parlamentares para que seja aberto um processo no Congresso contra Bolsonaro.
A OAB do Rio de Janeiro informou que também vai pedir a abertura de um processo por quebra de decoro.
A Câmara já abriu mais de 20 procedimentos contra Bolsonaro por suas declarações polêmicas, mas nenhum deles resultou em punição.
Na entrevista, o deputado também disse que não iria a desfiles gays porque não promove "maus costumes", que daria "porrada" se pegasse um filho fumando maconha e que sente saudade dos generais que presidiram o país durante a ditadura militar.
Bolsonaro informou ontem que vai protocolar um ofício no Conselho de Ética pedindo para ser ouvido.
"Ele [o deputado] mudou o foco [ao dizer que não se referia aos negros], mas está fazendo a mesma coisa, discriminando pessoas", afirmou José Vicente, presidente da Afrobras (Sociedade Afrobrasileira de Desenvolvimento Sócio Cultural).
 FONTE: JORNAL ESTADO DE SÃO PAULO

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