DESTAQUE DE CAPA – POLÍTICA
Alencar, um brasileiro
Durante 13 anos, José Alencar travou uma luta obstinada contra o câncer. "Não tenho medo da morte", disse certa vez. E não tinha mesmo. Passou por 17 cirurgias sem que ninguém nunca o tivesse visto perder o bom humor. O Brasil acompanhou comovido essa batalha que chegou ao fim às 14h41 de ontem quando o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, informou que ele havia morrido. Em Portugal, ao saber da notícia, a presidente Dilma e Lula caíram em prantos. Imediatamente, decidiram interromper a viagem e voltar ao Brasil. Empresário bem-sucedido, Alencar tinha 79 anos. Ele escreveu o nome na história política brasileira ao aceitar ser vice de Lula para quebrar resistências da elite econômica do país ao ex-metalúrgico. O corpo chega às 9h15 de hoje a Brasília para ser velado com honras de chefe de Estado no Palácio do Planalto. Amanhã, segue para funeral em Belo Horizonte.
Planalto recebe corpo de Alencar
Despedida do ex-vice-presidente terá honras de chefe de estado. Velório será aberto ao público. governos federal e do DF decretam luto oficial de sete dias
Tiago Pariz
Com Josie Jeronimo
Ullisses Campbell
São Paulo e Brasília — A luta de 13 anos contra o câncer terminou ontem para o ex-vice-presidente José Alencar. Aos 79 anos, ele morreu por falência múltipla de órgãos em São Paulo. Alencar será velado hoje no Palácio do Planalto e receberá honras de chefe de Estado, o que não ocorre desde o falecimento do ex-presidente Tancredo Neves, em 1985. Os governos federal e do Distrito Federal decretaram luto oficial de sete dias. A presidente Dilma Rousseff, em visita a Portugal, antecipou o retorno ao Brasil.
O corpo do ex-vice-presidente chegará à Base Aérea em Brasília às 9h15 e será saudado com honras militares. Estarão presentes o presidente em exercício, Michel Temer, além dos titulares do Senado, José Sarney (PMDB); da Câmara, Marco Maia (PT); e do Supremo Tribunal Federal, Cezar Peluso. Depois, ele seguirá em cortejo até o Palácio do Planalto em carro aberto do Corpo de Bombeiros do DF e escoltado pelas Forças Armadas. A comitiva passa pelo Eixão Sul e pela Esplanada dos Ministérios.
A chegada ao Palácio do Planalto está prevista para as 10h e a visitação pública deverá ter início às 10h30. Militares carregarão o caixão pela rampa do Planalto, enquanto as Forças Armadas fazem salva de tiros como homenagem. Dragões da Independência acompanharão a subida da rampa. Antes da abertura à visitação pública, ministros, ex-ministros do governo Lula e lideranças regionais receberão o corpo, com a família de Alencar.
A presidente Dilma, acompanhada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, chega a Brasília no início da noite de hoje (leia mais na página 3). A honra de chefe de Estado foi garantida graças aos 489 dias em que Alencar assumiu a Presidência da República no lugar de Lula.
O salão do Palácio do Planalto foi organizado durante a noite de ontem por militares. A família, as autoridades e a imprensa terão local reservado. Os cidadãos que quiserem visitar também subirão a rampa do Planalto e passarão por detectores de metal. A Presidência exigirá um documento de identificação com foto. Quinze banheiros químicos foram instalados na Praça dos Três Poderes.
As pessoas passarão pelo caixão, isolado por cordas, em fila única, a uma distância de cerca de um metro e não poderão parar. O cerimonial pretende encerrar a visitação por volta das 23h. O horário pode ser estendido se houver fila muito grande. Uma cerimônia religiosa está prevista, mas será fechada à família e às autoridades. Caberá aos parentes indicar o religioso que comandará o ato. Todas as informações são da assessoria de imprensa da Presidência da República.
O corpo de José Alencar segue para Belo Horizonte amanhã pela manhã. Na capital mineira, será velado no Palácio da Liberdade, entre 8h30 e 13h. A presidente Dilma Rousseff acompanhará o velório. O desejo de Alencar era ser cremado, mas a família, por questões religiosas, não havia decidido, até o início da noite de ontem, entre a cremação e o sepultamento.
Oclusão
José Alencar morreu às 14h41 no Hospital Sírio Libanês, ao lado de familiares, depois de dar entrada no dia anterior com um quadro de oclusão intestinal. Desde 1997, quando descobriu o primeiro foco do câncer, o ex-vice-presidente e ex-senador da República passou 117 dias internado. Foram 17 cirurgias.
Sempre esperançosos, os médicos mudaram o tom nas primeiras horas de ontem ao dizer que o quadro era irreversível. Fragilizado pela idade avançada e pelo excesso de intervenções, Alencar não resistiria a mais uma operação para tentar conter o sangramento no intestino. Como o tratamento contra o câncer não surtia mais efeitos, a medicação pesada já havia sido suspensa desde o ano passado e o tumor agressivo ganhou força e volume.
Na noite de segunda-feira, os médicos avisaram aos familiares que ele precisaria ser sedado para suportar as dores. O único rim do paciente (ele retirou o outro em uma cirurgia por causa do câncer) parou de funcionar por volta das 10h. Durante todo o tratamento, Alencar chamou a atenção do país ao lidar com o assunto com bom humor, transparência e demonstrando força de vontade que surpreendia até a equipe médica. Ele costumava entrar no hospital dizendo que só iria morrer quando “Deus quisesse”.
“O exemplo deixado por Alencar é uma referência entre os que lutam contra a doença”, disse o médico Raul Cutait, coordenador da equipe que cuidou do paciente. Disciplinado, Alencar era também curioso e gostava de ser informado sobre a função de cada injeção ou pílula que tomava. Exigia que os médicos fossem 100% transparentes quanto às perspectivas de cada fase do tratamento e continuou demonstrando otimismo até mesmo quando foi desenganado.
José Alencar chegou a se submeter até a um tratamento experimental nos Estados Unidos, mas teve de suspendê-lo por não surtir o efeito desejado. Aos médicos, o político dizia que não temia morrer.
Suspensão de sessões
Os poderes Legislativo e Judiciário também decretaram luto oficial e suspenderam as sessões de hoje e de amanhã. A Câmara e o Senado transferiram as votações para a próxima semana. Os estados são independentes para decretar luto e ponto facultativo de seus servidores. No governo federal, os serviços funcionarão normalmente, segundo a assessoria do Palácio do Planalto.
Emocionados, Dilma e Lula antecipam a volta
Em Portugal para compromissos oficiais, presidente e ex-titular do Planalto retornam a brasília hoje
Leandro Kleber
A morte de José Alencar pegou de surpresa a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estavam em Portugal cumprindo agenda oficial. Os dois receberam a notícia do falecimento em um telefonema do médico de Alencar, Raul Cutait. Eles estavam juntos no momento da ligação e também conversaram com Josué, filho do ex-vice-presidente. Com a informação, o retorno da comitiva, previsto para amanhã, foi antecipado para hoje, depois de uma homenagem que Lula receberá na Universidade de Coimbra. Eles retornam ao país no mesmo voo e chegam a Brasília no fim da tarde para acompanhar o velório no Palácio do Planalto.
Emocionados, os dois lembraram do passado batalhador de Alencar e de bons momentos vividos nos últimos oitos anos no Planalto. Lula afirmou que chegou a ligar para o ex-vice quando estava dentro do carro, no domingo, antes de viajar. “Ele disse que estava bem, em casa e que sabia que, do ponto de vista clínico, não tinha mais expectativa de cura. Mas, como era um homem de fé, tinha esperança de resistir e confiança em Deus”, afirmou.
Lula e Dilma decidiram fazer uma declaração no hotel em que estavam hospedados. As primeiras palavras de Dilma foram: “Estamos num momento de muito sentimento. Consideramos que o Zé Alencar era uma das pessoas com quem foi uma grande honra ter convivido. Vai deixar indelével uma marca na vida de cada um. E, além disso, foi presidente da República, com o presidente Lula, por mais de oito meses. Por isso, oferecemos à família o Palácio do Planalto para ele ser velado, na condição de chefe de Estado, que ele também foi, de presidente inesquecível do nosso país (...). Todos nós estamos emocionados e era isso que eu queria dizer para vocês”, afirmou a presidente.
Depois foi a vez de Lula, abatido, comentar o assunto. Ele dedicou o prêmio recebido em Portugal a Alencar. “Eu penso que não temos muito o que falar, porque o momento é de dor e sofrimento. Vocês que acompanharam o nosso mandato, da Dilma como ministra, do Zé Alencar como vice, sabem que a nossa relação era mais do que uma relação de um vice e um presidente, era uma relação de irmãos e companheiros. Eu vinha falando com ele praticamente toda semana e o otimismo dele era uma coisa que causava na gente até uma inveja de ver a força que ele tinha”, disse.
Lula relatou que soube do estado clínico desfavorável de Alencar assim que chegou a Portugal. Ele afirmou que ligou para o médico do ex-vice-presidente e foi informado de que a pressão dele estava baixa e que tinha poucas chances de vida. “Ele (Alencar) foi um homem de uma dimensão extraordinária. Eu, aos 65 anos de idade, conheço poucos seres humanos que têm a alma do Zé Alencar, a bondade do Zé Alencar, a lealdade do Zé Alencar”, avaliou.
O ex-presidente finalizou a fala emocionada lembrando que tinha prazer em trabalhar com o amigo. “Eu cheguei a dizer que não acreditava que existisse no mundo um presidente que tivesse um vice como eu tive o prazer de ter o José Alencar. Ele assumiu a Presidência acho que mais de 8 meses. Nunca, nunca, nunca teve uma vírgula de divergência comigo. Era como se fôssemos dois irmãos, pai e filho. A presidente Dilma participava das reuniões da coordenação política, toda segunda-feira. O Alencar participava, ou seja, a gente funcionava como uma orquestra. A gente brincava, falava sério. Eu acho que o Brasil perde um homem de dimensão excepcional”, concluiu.
Agenda alterada
Na manhã de ontem, Dilma desembarcou na Base Aérea Figo Maduro, em Lisboa, e seguiu em comboio para Coimbra, onde visitou a universidade da cidade e o Museu Nacional Machado Castro. A presidente ficou hospedada no Hotel Quinta das Lágrimas, onde foi recebida pelo dono do hotel, Miguel Judice. A programação oficial previa ainda encontros com o presidente de Portugal, Aníbal Cavaco Silva, e com o primeiro-ministro do país, José Sócrates, cancelados em função da morte de Alencar.
Já o ex-presidente Lula desembarcou domingo em Portugal para receber três homenagens, entre elas o título de doutor honoris causa concedido pela Universidade de Coimbra. Dilma acompanhará a cerimônia, hoje de manhã. Ontem, depois de receber homenagem da Câmara Portuguesa de Comércio no Brasil, Lula fez um balanço dos investimentos entre os países nos últimos oito anos. Ele lembrou que a língua portuguesa pode representar uma porta de entrada do Brasil na Europa e dos portugueses na América Latina. (LK).
DROGAS
Quadrilha presa por tráfico internacional
Polícia Federal derruba organização que usava o Brasil como caminho para o envio do pó branco à Europa. Três brasileiros e dois paraguaios acabaram presos na operação especial
Alana Rizzo
Uma operação da Polícia Federal (PF) desvendou ontem um esquema internacional de tráfico de drogas que usava o Brasil como rota de passagem de cocaína para a Europa. Foram cumpridos 10 mandados de prisão em Campinas (SP), São Paulo (SP), Ponta Porã (MS) e na África do Sul, além de sete ordens de busca e apreensão. Até o início da noite, tinham sido presos três brasileiros e dois paraguaios. Durante as investigações, a PF apreendeu 200kg de cocaína.
As apurações começaram há um ano. Segundo o trabalho policial, a quadrilha encomendava a droga no Paraguai, trazia para o Brasil e depois a remetia para países da África e da Europa, especialmente a Itália. O grupo mantinha em cada um desses locais pontos de apoio para os negócios ilegais. Para o transporte, eram usados contêineres de navios — carregados com farinha de trigo ou óleo de canola, simulando uma exportação — ou mulas (pessoas contratadas para carregar a droga).
“O objetivo da organização era exportar cocaína. Não importava como, se seriam usadas mulas ou contêineres. O que eles queriam era uma forma rápida e barata”, afirma o chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da PF em São Paulo, delegado Guilherme de Castro Almeida. “O Paraguai recebe muita cocaína que vem da Colômbia e da Bolívia e grande parte dessa droga acaba entrando no Brasil. Como a gente sabe, o país acaba funcionando como um corredor do tráfico internacional, seja para alcançar a Europa ou o oeste da África”, diz.
O principal alvo da operação era um paraguaio que atuava como intermediador da droga no Brasil. Era de sua responsabilidade negociar a mercadoria com fornecedores e compradores. O estrangeiro morava há mais de 15 anos em Campinas e tinha documentos falsos. Casado com uma brasileira, o traficante tem dois filhos no país. Ele foi entregue à Justiça brasileira. Na África do Sul, a polícia prendeu N. P. Y. G., um ex-militar cubano acusado pelos Estados Unidos de espionagem e tráfico de drogas. Ele mantinha contatos frequentes com brasileiros e paraguaios com o propósito de aumentar o fluxo de vendas de drogas na região.
Agenciamento
Em agosto de 2010, um contêiner-tanque foi apreendido na cidade portuária de Port Elizabeth, na África do Sul, onde estavam escondidos 166kg de cocaína. Quatro meses depois, um italiano, radicado no Brasil e também integrante da quadrilha, acabou preso no aeroporto de Salvador (BA), onde transportava cerca de 9kg da droga em um fundo falso da bagagem. A PF acredita que o homem era o responsável pelo agenciamento das mulas, já que a grande maioria era da Itália. O passaporte da União Europeia ajudava a driblar a fiscalização naquele continente. Segundo a PF, as informações colhidas durante as investigações também ajudaram os policiais portugueses a recapturar dois brasileiros que tinham sido presos naquele país, após serem acusados de enviar 1,7 tonelada de cocaína para lá.
Os integrantes da organização criminosa serão indiciados por tráfico internacional de drogas. As informações colhidas no Brasil foram transmitidas para a Polícia Judiciária de Portugal. Batizada de Mapinguari, a operação teve o apoio das polícias portuguesa, paraguaia e sul-africana. O nome é uma referência à lenda amazônica na qual uma criatura coberta por um longo pelo vermelho tem habilidades para fugir dos humanos.
COOPERAÇÃO COM A BOLÍVIA
O Ministério da Justiça firmou ontem acordo de cooperação no combate ao tráfico de drogas com a Bolívia. Os dois países vão começar um projeto-piloto de controle da redução de cultivo da coca, nos moldes das “campanhas de erradicação” de maconha feitas em parceria com o Paraguai. O tratado, conforme adiantou o Correio em janeiro, prevê também a participação dos Estados Unidos. A meta é aumentar a fiscalização nas fronteiras com a Operação Sentinela — a ação prevê, desde 2009, ações conjuntas nessas regiões entre a PF, a Força Nacional, a Receita Federal, as Forças Armadas, a Polícia Rodoviária Federal e as policias estaduais — e ainda financiar investimentos em recursos humanos e em tecnologia no país vizinho.
DEU NO WWW.CORREIOBRAZILIENSE.COM.BR
Mandados contra Curió
A Polícia Federal cumpriu ontem um mandado de busca e apreensão nas residências do oficial da reserva Sebastião Curió Rodrigues de Moura, o major Curió, apontado como um dos líderes da repressão à guerrilha do Araguaia (1972-1975), durante a ditadura militar. De acordo com o Ministério Público Federal, um computador, documentos e uma arma foram apreendidos e passarão por perícia e análise do órgão. Segundo a procuradora da República Luciana Loureiro, “as buscas e apreensões são uma tentativa de localizar documentos que possam revelar o paradeiro de corpos de militantes políticos que participaram da guerrilha do Araguaia”.
CONCURSO PÚBLICO
Fique atento
marinha
Vagas: 365 (nível superior)
Salário: R$ 5.150
Inscrição: 18 de abril a 16 de maio para o corpo de saúde de 6 a 29 de abril para os demais quadros
Aeronáutica
Vagas: 140 (nível superior)
Salário: R$ 4,3 mil
Inscrição: até 31 de maio
REVOLTA NO ORIENTE MÉDIO
Guerra até Kadafi sair
Chanceleres de 40 países integrantes da coalizão internacional decidem em Londres que bombardeios só vão parar quando o ditador abandonar o poder. Rebeldes perdem posições para as forças do regime. Especialistas não veem violação da resolução da ONU
Rodrigo Craveiro
A reunião entre os chanceleres de 40 países envolvidos na intervenção militar contra Muamar Kadafi terminou em Londres com um consenso: as bombas cairão sobre o país até que o ditador abandone o poder e a Líbia. “Temos feito um esforço realmente internacional, a favor do bem-estar da cidadania líbia e de suas aspirações diplomáticas legítimas. Esta ação militar continuará até que Kadafi cumpra com os requisitos da Resolução nº 1.973 da Organização das Nações Unidas (ONU) e deixe de atentar contra seu povo”, declarou a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton. “Todos nós devemos continuar a aumentar a pressão e a aprofundar o isolamento do regime com outros meios. E eles incluem uma frente de unidade de pressão político-diplomática para deixar claro a Kadafi que ele deve partir”, acrescentou.
Na mesma linha, o colega francês, Alain Juppé, avisou: “Kadafi não tem futuro na Líbia”. Além dos ministros das Relações Exteriores — incluindo de países árabes, como Marrocos, Tunísia e Emirados Árabes Unidos —, participaram do encontro os secretários-gerais da ONU e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), e representantes da Liga Árabe, da Conferência Islâmica e da União Africana.
Ao fim da conferência, ficou decidida a formação de um “grupo de contato” internacional , que se reunirá pela primeira vez no Catar, ainda em data a definir, e terá a incumbência de manter diálogo permanente com o Conselho Nacional Transitório (CNT), o principal órgão da oposição na Líbia. A coalizão reconhece que os rebeldes líbios manterão sua batalha contra Kadafi, mesmo por conta própria. Pela primeira vez, a Otan admitiu que integrantes da rede terrorista Al-Qaeda e da milícia libanesa Hezbollah participam das fileiras insurgentes na Líbia. “Estamos examinando com muita atenção o conteúdo (das informações de inteligência), a composição (das forças rebeldes), as personalidades, quem são os líderes”, disse o almirante James Stavridis, comandante supremo da aliança ocidental para a Europa. “Não tenho detalhes para dizer que há uma presença significativa da Al-Qaeda.”
Também durante a reunião em Londres, Chamsiddine Abdulmoula, porta-voz do CNT, exibiu uma carta de compromissos para o caso de o coronel líbio ser destituído. Entre as promessas estão o inegociável julgamento do ditador e a convocação de eleições livres. O novo ultimato a Kadafi levantou um debate sobre os propósitos da operação militar. A Resolução nº 1.973 autoriza “todas as medidas necessárias para proteger os civis sob ameaça de ataque na Líbia”. Em entrevista ao Correio, o tunisiano Radwan Masmoudi — presidente do Centro para o Estudo do Islã e da Democracia (em Washington) — descarta que a guerra represente uma violação do texto da ONU. “Kadafi deixou claro que não se importa com os civis e ordenou que suas brigadas e mercenários atirem contra qualquer pessoa”, afirma o especialista. “Ele é um criminoso, perdeu a legitimidade e deve deixar a Líbia logo”, acrescenta. Até que isso ocorra, Masmoudi crê que o mundo tem a obrigação de proteger os líbios.
Desconforto
Vice-diretor do Programa para a África do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (ISS), o norte-americano Richard Downie explica que a decisão de tonar a partida de Kadafi uma condição para o fim dos bombardeios denota o desconforto dos aliados em relação à intervenção. “A coalizão sabe que, caso os rebeldes sejam abandonados, o único cenário possível será a divisão da Líbia entre forças pró e anti-Kadafi. Para evitar isso, ela prosseguirá com os bombardeios até que o ditador renuncie”, opina à reportagem. Downie diz que a Resolução nº 1.973 é bastante ampla em interpretação. “Cada membro da coalizão analisará o texto de forma diferente. Aqueles que adotarem uma definição mais expandida verão uma justificativa para remover o coronel líbio”, emenda.
As tropas de Kadafi reconquistaram posições perdidas nos últimos dias e mantêm o cerco sangrento a Misrata, 211km a leste de Trípoli. Um médico da cidade contou à agência France-Presse que 142 pessoas foram mortas e 1,4 mil ficaram feridas desde 18 de março. Os insurgentes perderam o controle de Bin Jawad, um polo petrolífero, e viram dificultado o avanço sobre Sirte, cidade natal de Kadafi, a 160km. A coalizão intensificou o assédio sobre a capital — nove explosões sacudiram Trípoli, sete delas perto da residência do ditador.
VISITA A CUBA
Carter se reúne com dissidentes
Renata Tranches
O ex-presidente norte-americano Jimmy Carter se encontra hoje em Cuba com dissidentes, ex-presos políticos e ativistas pela democracia, entre eles a blogueira Yoani Sánchez. Carter está na ilha a convite do governo cubano para uma visita de três dias, classificada como de caráter privado. Estava prevista para ontem uma reunião entre ele e o presidente Raúl Castro, e o ex-presidente deveria interceder por um cidadão americano condenado no início deste mês a 15 anos de prisão, por espionagem. Na segunda-feira, o ex-presidente foi recebido por líderes da comunidade judaica e visitou o cardeal de Havana, Jaime Ortega.
No evento, Jimmy Carter falará com ex-presos do “grupo dos 75”, capturados pelo regime em 2003 e recém-libertados, além das Damas de Branco, blogueiros e outros dissidentes. Premiada autora do blog Geração Y, Yoani contou, em entrevista ao Correio, que o ex-presidente americano é um personagem muito importante para a aproximação entre os EUA e Cuba. “Ele mostra que, para solucionar um problema, sempre existe a possibilidade do diálogo”, disse, por telefone.
Carter está em Havana pela segunda vez, e é a principal personalidade política americana a visitar o país desde que Fidel Castro chegou ao poder, em 1959. Na estada anterior, em 2002, ele exortou os EUA a levantarem o embargo comercial imposto contra o país há meio século e pediu às autoridades cubanas que realizassem reformas democráticas.
O coordenador do Instituto de Estudos Econômicos Internacionais da Unesp, o argentino Luiz Fernando Ayerbe, autor de livros sobre Cuba, explica que Carter é uma figura importante desde que se instauraram negociações mais informais entre Washington e Havana. “Essa visita é uma forma de estabelecer contatos e desanuviar as relações”, disse. “É bom para o presidente Barack Obama ter informações em primeira mão sobre o que realmente acontece em Cuba.”
Correspondentes em Havana disseram que o principal objetivo da visita de Carter era negociar a libertação de Alan Gross, condenado por ter fornecido equipamentos de comunicação por satélite a grupos judaicos em Cuba, como parte de um programa patrocinado pelo Departamento de Estado. Autoridades cubanas afirmaram que o equipamento teria o objetivo de desestabilizar o regime comunista.
AVIAÇÃO
Adiado o voo para Montevidéu
Não foi desta vez que o voo direto entre Brasília e Montevidéu, no Uruguai, saiu do papel. Embora , há um mês, a empresa Pluna Linhas Aéreas tenha obtido a aprovação da Agtência Nacional de Aviação Civil (Anac), há um mês,, o funcionamento no Aeroporto Presidente Juscelino Kubitschek foi adiado para 16 de junho.
A empresa alegou ter de fazer uma “reestruturação de malha” e pediu à Anac a exclusão do trajeto na sexta-feira da semana passada, ou seja, a dois dias do lançamento na capital federal. Em nota, a Pluna informou que levará uma segunda solicitação em 1º de abril, com a nova data para operação. Também assegurou que todos os passageiros que possuíam reservas até a primeira quinzena de junho foram contatados. Eles serão reembolsados ou serão acomodados em aeronaves de outras empresas.
O trecho, com duração de pouco mais de três horas, seria realizado cinco vezes por semana. O interesse em cobrir o trajeto foi anunciado desde fevereiro. Na mesma época, a panamenha Copa Airlines solicitou a liberação para transportar passageiros de Brasília para a Cidade do Panamá. A Anac também autorizou a rota, prevista para operar em 15 de junho. Haverá voos quatro vezes por semana, com duração média de seis horas.
ESPORTE
CBF se pronuncia
As críticas de Joseph Blatter incomodaram o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, que também preside o Comitê Organizador Local para a Copa de 2014. Atrasado, como aconteceu com Orlando Silva, Teixeira publicou, na tarde de ontem, um comunicado oficial rebatendo as declarações do dirigente da Fifa, ponto a ponto. Confira na íntegra:
1) Desconheço que haja qualquer confronto entre prefeitos e governadores em qualquer uma das 12 sedes da Copa do Mundo de 2014. Ao contrário, a Fifa testemunha há anos um trabalho integrado do poder público com o Comitê Organizador Local (COL) e a própria Fifa. O apoio integral e dedicação pessoal da presidenta Dilma Rousseff foram amplamente noticiados pela imprensa neste mês de março, principalmente no que diz respeito às principais atribuições do governo federal na preparação para a Copa do Mundo (aeroportos e mobilidade urbana nas 12 cidades). Gostaria ainda de mencionar a integração do trabalho dos ministros na figura atuante e presente do ministro do Esporte, Orlando Silva;
2) Ratifico também que, em nenhum momento foi anunciado que o Maracanã não seria entregue dentro do prazo. Numa recente reunião com o vice-governador do estado do Rio de Janeiro, tivemos a garantia de que as obras, que nunca foram interrompidas, seguirão no prazo;
3) Com relação ao estádio de São Paulo para a Copa do Mundo, apesar de a obra ainda não ter sido iniciada, temos trabalhado de forma intensa e integrada com o Comitê Paulista e todos os segmentos envolvidos no projeto do estádio para equacionar as últimas questões técnicas. Temos a garantia por parte dos envolvidos de que o estádio também será entregue no prazo previsto;
4) Não é papel da CBF pressionar governantes, ainda mais quando não há nenhum motivo para tal. Temos contado com a participação, colaboração e interesse total dos nossos parceiros no governo e trabalhamos de forma colaborativa e integrada com todas as esferas de governo, tendo à frente a presidenta Dilma Rousseff;
5) Por fim, aproveito ainda para, mais uma vez, convidar o presidente da Fifa para vir ao Brasil e ver de perto o progresso que ele mesmo elogiou após uma reunião do conselho Fifa/COL, realizada no início deste mês, em Zurique.
Ricardo Terra Teixeira, Presidente da Confederação Brasileira de Futebol
Em São Paulo, obras devem começar em abril
As obras do estádio de São Paulo, previstas inicialmente para maio, devem começar já em abril . Em meio à pressão vinda de todos os lados (Ministério do Esporte, Fifa e CBF), o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, afirmou que a preocupação com a captação de recursos financeiros — o projeto ia custar R$ 600 milhões, mas a previsão já subiu para R$ 700 milhões — já foi resolvida. “Não vai ter dinheiro público. Temos R$ 400 milhões acertados com a Odebrecht. O restante virá de incentivos fiscais para novos empreendimentos na Zona Leste”, explicou Sanchez, na segunda-feira, durante a gravação do programa Roda Viva, da TV Cultura.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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