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segunda-feira, 28 de março de 2011

28 de março de 2011 - CORREIO BRAZILIENSE


DESTAQUE DE CAPA - VIOLÊNCIA
GDF quer fechar bares mais cedo para reduzir criminalidade

Seis presos, considerados perigosíssimos, serram grade e fogem da Papuda Taxa de homicídios aumenta 28% em fevereiro, em relação ao ano passado


AVIAÇÃO
Pouso de emergência assusta passageiros
Voo que vinha de Porto Alegre para Brasília teve problemas de despressurização. Com medo, algumas pessoas colocaram a identidade nos bolsos para facilitar posterior identificação

Mônica Harada

O clima era de susto no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek no início da tarde de ontem. Pelo menos para os passageiros do voo 1836, da empresa aérea Gol, que fazia a rota Porto Alegre-Brasília, com escala em Curitiba. Depois de sair às 10h22 da capital paranaense, a aeronave sofreu um processo de despressurização poucos minutos antes de chegar à capital. Sob o aviso de colocar as máscaras de oxigênio, os passageiros se espantaram com a informação de que fariam uma aterrissagem de emergência onde fosse possível. Para o alívio de todos, o piloto conseguiu descer no aeroporto de Brasília, às 12h01.
Em nota, a Gol descreveu o incidente como um “inesperado problema no sistema de pressurização da cabine”, destacando que o avião foi encaminhado para manutenção. A companhia ressaltou ainda que a tripulação realizou os procedimentos previstos para esses casos. Quem estava no voo, porém, descreve outro cenário. O publicitário Magno Trindade, que voltava para casa depois de uma viagem a Porto Alegre, contou que o momento de maior tensão foi na hora de pegar as máscaras. “Devíamos estar a uns 20 minutos de Brasília quando a comissária deu o aviso, aos gritos, para colocarmos as máscaras, só que elas não tinham caído ainda. Demorou uns 10 segundos, que pareceram uma eternidade”, conta Trindade.

Identidade no bolso
Depois de conseguirem colocar as máscaras, segundo Trindade, veio o aviso de que a tripulação faria um pouso de emergência. Mas a falta de detalhes deixou os passageiros inseguros, embora o clima de histeria já tivesse diminuído. “O que mais nos apavorou foi a falta de informação. Não sabíamos onde iríamos pousar e em quais circunstâncias”, lembra o publicitário. Um comportamento curioso foi observado — e copiado — por ele. “Um casal na minha frente estava colocando a identidade no bolso e eu fiz a mesma coisa. Percebi que seria mais fácil para nos identificarem em caso de acidente. Só vou andar agora com a identidade no bolso”, brinca.
De acordo com nota da companhia aérea Gol, duas pessoas foram atendidas no centro médico do aeroporto após o susto, mas ninguém foi levado ao hospital. A aeronave, de acordo com a empresa, foi encaminhada para inspeção de mecânicos da empresa.
Ontem, passageiros de um avião da Webjet que partiria do aeroporto Santos Dumont com destino a Brasília também passaram um susto. A aeronave sofreu uma pane no momento da decolagem e precisou ser substituída.“Quando o avião chegou à cabeceira da pista, tudo começou a tremer e uma fumaça preta saiu da asa esquerda”, conta a jornalista Tatiana Coelho, 25 anos. A Webjet embarcou os passageiros em outro voo.

Máscaras que salvam
O sistema de ventilação do avião pressuriza a cabine de modo que a pressão interna fique o mais próximo possível da pressão confortável para o ser humano respirar — a do nível do mar. O sistema é controlado pelas turbinas da aeronave.  Uma falha no sistema de ventilação ou na vedação, como uma porta mal fechada, pode provocar a despressurização. A consequência mais drástica é o avião explodir, se a diferença da pressão interna e externa for muito grande.




QUESTÃO NUCLEAR
Área nuclear muda de comando
Reunião hoje na Esplanada deve selar demissão do presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear. Correio mostrou ausência de autorização definitiva em Angra 2 e importação milionária de urânio devido à burocracia estatal

Vinicius Sassine

Depois das revelações de que a usina nuclear Angra 2 funciona sem autorização definitiva e de que o Brasil precisa importar urânio por causa de uma licença travada, como o Correio publicou com exclusividade na semana passada, o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) dá como certa a demissão do presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), Odair Dias Gonçalves, responsável direto pela concessão das duas licenças. Em entrevista ao Correio, no fim da tarde de ontem, o secretário executivo do MCT, Luiz Antonio Rodrigues Elias, admitiu que o ministro Aloizio Mercadante deve sacramentar a demissão de Odair. O secretário, porém, tentou tirar dos dois episódios relacionados ao licenciamento da atividade nuclear brasileira o peso da motivação para a saída do atual presidente da Cnen. “O Odair já apresentou há tempos o pedido de demissão”, disse Luiz Antonio.
A Cnen, sediada no Rio de Janeiro, é um órgão subordinado ao MCT. Odair estará hoje em Brasília, numa reunião reservada com Mercadante. Oficialmente, o encontro já estava programado, para tratar de assuntos relacionados ao orçamento da comissão. O ministro discutirá no encontro a demissão do atual presidente da Cnen. Uma nota sobre o desligamento de Odair, elaborada em conjunto por MCT e Cnen, seria divulgada ontem, segundo o secretário executivo do ministério. A nota trataria da demissão e das circunstâncias do ato. O texto reforçaria que a saída do presidente da Cnen não tem qualquer relação com a inexistência de licença definitiva para Angra 2 e com a dependência brasileira da importação de urânio. Até as 22h, quatro horas depois do prometido por Luiz Antonio, a nota não havia sido divulgada.
Por meio da assessoria de imprensa, no fim da tarde, Odair informou que continua presidente da Cnen, mas que “o cargo é do ministro da Ciência e Tecnologia”. Uma nota foi divulgada horas depois, em que ele sustenta já ter pedido demissão nos primeiros dias do governo de Dilma Rousseff. “O presidente da Cnen já havia solicitado sua substituição ao ministro, que, em função do acidente do Japão e do trabalho desempenhado, pediu que permanecesse por ora no cargo”, diz a nota.
“A apresentação da carta de demissão é natural nesse momento de transição de governo. Odair deu liberdade para Mercadante mudar sua equipe”, disse ao Correio o secretário executivo do MCT, Luiz Antonio Elias. “As mudanças ficaram para março, pois só agora começam a sair as nomeações.” Luiz Antonio negou que os diretores ligados a Odair serão demitidos hoje. Segundo ele, a licença definitiva para Angra 2 tem “seu trâmite normal”. A questão da importação de urânio, conforme o secretário, seria tratada na nota do MCT, que não foi divulgada até o fechamento desta edição.
A repercussão da informação sobre a inexistência de uma licença definitiva para Angra 2, num momento em que o programa nuclear brasileiro já está em xeque por causa da tragédia radioativa no Japão, provocou desconforto e insatisfação no MCT. A mais nova usina nuclear brasileira funciona há dez anos — desde o início de suas atividades — com prorrogações sucessivas da autorização de operação inicial. Cabe à Cnen emitir a autorização de operação permanente, o que não ocorreu até agora.

Jogo de empurra
A situação de dependência da importação de urânio foi tratada em outra esfera. O Correio apurou que o fato de o Brasil passar a depender da compra do minério, mesmo tendo uma das maiores reservas no mundo, foi informado à presidente Dilma Rousseff. A informação chegou no fim de janeiro, num pequeno relatório sobre assuntos da Presidência a que Dilma tem acesso diariamente. Pelo menos desde 2006 o país conseguia ser autossuficiente na extração de urânio, obtido na mina de Caetités (BA). As 400 toneladas necessárias ao funcionamento de Angra 1 e Angra 2 eram extraídas e enriquecidas em outros países, quando então retornavam ao Brasil em forma de combustível.
No ano passado, essa situação mudou. Por causa de uma licença travada na Cnen e do não cumprimento das exigências pelas Indústrias Nucleares Brasileiras (INB), estatal responsável pelo combustível nuclear, passou a ser necessária a importação de 220 toneladas de urânio, a um custo de R$ 40 milhões. Os presidentes da Cnen, Odair Dias, e da INB, Alfredo Tranjan Filho, atribuem um ao outro a paralisação do processo da licença.

Paternidade da omissão
A Cnen atribuiu ao Ministério Público Federal (MPF) a responsabilidade pela inexistência da licença. Segundo o presidente do órgão, Odair Dias, o MPF não liberou a Cnen do cumprimento de um termo de ajustamento de conduta (TAC) mesmo com todas as cláusulas já supostamente atendidas. A Procuradoria-Geral da República (PGR), porém, rebateu Odair e informou que diversas cláusulas do TAC continuam sendo desrespeitadas. O TAC condiciona a emissão da licença ao cumprimento de todas as cláusulas.


Reatores velhos e sem certificação

Reatores nucleares antigos, das décadas de 1950 e 1960, são utilizados em pesquisas há décadas por institutos ligados à Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) sem qualquer tipo de certificação. A Cnen não pode conceder licença a si mesma e, para resolver esse impasse, o órgão editou uma norma com a obrigação de certificar esses reatores, movidos à base de urânio enriquecido. As atividades radioativas de quatro reatores são desenvolvidas sem a autorização da própria Cnen. A função da certificação é especificar procedimentos que garantam a segurança do funcionamento dos reatores. Dois deles estão dentro da Universidade de São Paulo (USP) e os outros dois nas cidades universitárias da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A função desses artefatos é exclusivamente propiciar a pesquisa científica, em frentes como espalhamento de nêutrons, radiação, produção de radiofármacos e até mesmo a mudança de cor de uma pedra preciosa, por exemplo. A exemplo das usinas nucleares, os reatores produzem rejeitos radioativos, mas em escalas pequenas. O combustível usado, como ocorre nas usinas, precisa de resfriamento em piscinas específicas.
O próprio relatório de atividades da Cnen, referente ao período de 2003 a 2010, confirma que os quatro reatores nucleares ainda não têm certificação, mesmo com o funcionamento há cinco décadas, no caso de um deles. Entre os “projetos em desenvolvimento” do órgão, conforme o relatório, está a proposta de “dar continuidade às atividades de certificação dos reatores de pesquisa dos institutos da Cnen, através de inspeções e avaliações de segurança”. Em entrevista ao Correio, o presidente da Cnen, Odair Dias Gonçalves, confirmou que a certificação não foi concluída. “Ela já foi iniciada. Estamos cumprindo padrões de segurança.”
Os reatores IEA 01 e MB 01 pertencem ao Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), ligado à Cnen, e estão dentro do câmpus da USP. O primeiro começou a funcionar em 1957. Segundo um especialista do setor nuclear ouvido pelo Correio, o reator chegou a funcionar com urânio enriquecido a 90% — “Dá para fazer uma bomba atômica” — e depois foi adaptado para urânio a 10%. O combustível usado foi devolvido aos Estados Unidos, detentor da tecnologia usada no reator. O MB 01 é brasileiro e foi construído pela Marinha em 1998. Os outros dois reatores, instalados no Rio e em Minas, também são antigos, das décadas de 50 e 60. Estão no Instituto de Engenharia Nuclear (IEN) e no Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), ambos institutos de pesquisa da Cnen.


Onda verde afoga Merkel
Sob impacto do acidente em Fukushima, partido da chanceler alemã perde reduto histórico para os ecologistas

Silvio Queiroz

A euforia irrompeu com a violência de um tsunami nas sedes regionais e na sede federal dos Verdes alemães, pouco depois das 18h (14h em Brasília) de ontem, quando as emissoras de televisão anunciaram as projeções para o resultado das eleições em dois importantes estados do país. Duas semanas depois do terremoto que arrasou o Japão e disparou o alarme da catástrofe nuclear na usina de Fukushima, os eleitores da locomotiva europeia deram uma vitória histórica ao partido que por duas décadas fez oposição intransigente à energia atômica. Pela primeira vez, os Verdes saem das urnas na posição de chefiar um governo estadual na Alemanha — e logo de Baden-Württemberg, sede de multinacionais como a Daimler e a Porsche, por 58 anos uma fortaleza da conservadora União Democrata Cristã (CDU), partido da chanceler (chefe de governo) federal, Angela Merkel.
“É mudança de era na política”, anunciou em Berlim uma das dirigentes nacionais do partido ecologista, Claudia Roth, diante de correligionários em êxtase. Com 24,2% dos votos, os Verdes dobraram a votação em Baden Württemberg e superaram o Partido Social Democrata (SPD, que ficou com 23,1%) como segunda força política. A CDU, embora tenha mantido com folga a maior bancada no parlamento regional, com 39%, ficou sem opções para compor uma maioria: seu parceiro de coalizão (também no Congresso Federal), o Partido Liberal Democrata (FDP), mal conseguiu ultrapassar os 5% exigidos para fazer deputados.
“Vamos festejar e nos alegrar hoje, porque amanhã voltamos ao trabalho”, discursou Winfried Kretschmann, o contido líder dos Verdes em Stuttgart, capital do estado recém-conquistado. Kretschmann, de 62 anos, começa a semana com a missão de costurar um acordo de coalizão com o SPD, para quem a derrota da CDU saiu como prêmio de consolação. Ambos os grandes partidos, adversários na política federal, amargaram retrocessos: menos cinco pontos para a democracia cristã, menos dois pontos para a social-democracia. E os ecologistas ganharam o status de volkspartei (“partido popular”, como são chamadas na Alemanha as legendas com força para governar). A onda verde contagiou também a Renânia-Palatinado, no sudoeste, outro estado industrial, reduto histórico do SPD, que despencou 10 pontos e perdeu a maioria absoluta no parlamento regional. Com 35,7%, o partido manterá por pouco a vantagem sobre a CDU (35,2%), mas terá de negociar uma coalizão com os Verdes, que romperam a marca dos 15% e triplicaram sua votação. O FDP, com 4,2%, ficou sem representação.

Prêmio à coerência
Não por acaso, a noite da consagração para os Verdes veio no dia seguinte da maior manifestação na história da Alemanha contra a energia nuclear. Mais de 250 mil manifestantes saíram às ruas das principais cidades para condenar o ziguezague da chanceler: no fim de 2010, depois de conquistar o segundo mandato e trocar o SPD pelo FDP como parceiro de governo, Angela Merkel anunciou planos para prorrogar por mais 12 anos o funcionamento dos 17 reatores do país — quatro deles funcionam em Baden-Württemberg, cujo governador foi entusiasta da medida. Diante dos temores provocados pelo acidente em Fukushima, Merkel engavetou a proposta de prorrogação.
“Essas eleições mostram que os Verdes têm algo que falta aos demais partidos: um perfil claro”, analisava em sua edição on-line a revista semanal Der Spiegel. “Eles transmitem credibilidade e incorporam uma visão consistente.” Embalados, os ecologistas já sonham com uma repetição da façanha em setembro, quando será a vez de renovar o governo de Berlim: na capital federal, eles foram a legenda mais votada na eleição nacional de 2010.


Japoneses protestam contra usinas atômicas

Centenas de pessoas participaram de manifestações nas cidades japonesas de Tóquio e Nagoya, pedindo que o governo abandone suas centrais nucleares. Parte da população está atemorizada com as consequências do acidente da usina de Fukushima, atingida seriamente pelo terremoto seguido de tsunami, no último dia 11. Até ontem, a central apresentava picos de radioatividade muitas vezes acima dos limites tolerados, depois de uma série de episódios de vazamento de radiação e do registro de contaminação em amostras de verduras, legumes, pescados e água do mar.
Em um país onde a causa antinuclear tradicionalmente mobiliza poucas pessoas, cerca de 300 manifestantes se reuniram ontem em Nagoya, atendendo à convocação de estudantes secundaristas preocupados com a situação em Fukushima. Em Tóquio, pouco mais de 300 manifestantes participaram de uma passeata no bairro de Ginza, gritando slogans como: “Não precisamos de energia nuclear.”
Enquanto isso, a situação continua preocupante em Fukushima. Um elevado nível de radioatividade foi medido em uma camada de água que vazou do reator 2 da central nuclear, no nordeste do Japão. Segundo a agência de notícias Jiji, o vazamento forçou a retirada dos funcionários e a suspensão das operações de bombeamento de água para resfriamento dos reatores. O nível detectado na água do subsolo da sala da turbina, que fica atrás do reator, foi de mil milisieverts por hora, explicou um porta-voz da Tokyo Electric Power (Tepco), empresa responsável pelo funcionamento da usina.

Alarme falso
Depois de anunciar, em um primeiro momento, que esse índice seria “10 milhões de vezes superior” ao tolerável, a empresa convocou uma entrevista coletiva urgente para admitir que havia se equivocado. Segundo o porta-voz, os técnicos confundiram os elementos radioativos analisados. A Tepco confirmou o nível de “mil milisieverts por hora.” Na prática, isso significa que o combustível no núcleo do reator provavelmente sofreu danos durante um princípio de fusão, provocado logo depois do terremoto.
“Detectamos nas amostras de água taxas elevadas de césio e outras substâncias que geralmente não são encontradas na água do reator. Existe uma forte chance de que as barras de combustível tenham sido danificadas”, explicou o porta-voz. Foram detectados níveis de radioatividade de várias centenas de milisieverts por hora em torno dos reatores danificados da central, obrigando a evacuação temporária dos funcionários que trabalham para conter a crise. Na última quinta-feira, três técnicos que usavam apenas botas de borracha foram contaminados pela radiação ao caminhar por uma poça de água altamente radioativa. Eles estavam na sala da turbina do reator 3, onde o nível de radiação chegava a 180 milisieverts por hora. Dois deles precisaram ser hospitalizados com queimaduras nos pés. Cerca de 500 técnicos, bombeiros e militares trabalham dia e noite na central de Fukushima para tentar resfriar os reatores.
REVOLTA NO ORIENTE MÉDIO
Kadafi sob ataque
Coalizão ocidental bombardeia Trípoli e apoia ofensiva dos rebeldes em direção à capital líbia

Tatiana Sabadini

A coalizão internacional liderada pelas potências ocidentais voltou ontem a bombardear a capital da Líbia, Trípoli, fortaleza do ditador Muamar Kadafi, assim que a Organização do Tratado do Atlântico Norte assumiu oficialmente o comando da operação, autorizada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Com a ajuda estrangeira, os rebeldes que lutam para derrubar Kadafi reconquistaram o porto petroleiro de Ras Lanuf e a cidade de Bin Jawad, na sequência de uma impetuosa ofensiva para o oeste do país. Há combates intensos em Misrata, cidade comandada pela oposição, e em Sirte, berço do ditador. Nos últimos dias, as forças da oposição retomaram o controle de quatro cidades.
Os rebeldes querem seguir para a capital, blindada pelas tropas leais a Kadafi. A contraofensiva na região petrolífera, favorecida por uma semana de bombardeios da coalizão, enfraqueceu o governo, e os opositores já prometem retomar as exportações de petróleo até o final desta semana, por intermédio do Catar. “Produzimos de 100 mil a 130 mil barris por dia e podemos, facilmente, aumentar o ritmo até 300 mil barris por dia”, declarou Ali Tarhoni, representante dos rebeldes encarregado de questões econômicas, financeiras e petroleiras, durante entrevista coletiva em Benghazi, “capital” da insurgência.
Assumir o controle Sirte é o próximo objetivo da oposição. A localidade foi palco de intenso conflito ontem e sofreu bombardeio dos aviões da Otan. “Pedimos o fim urgente e imediato dos bombardeios aéreos, assim como uma reunião urgente do Conselho de Segurança. Estimamos que vários civis tenham morrido, inclusive famílias que fugiam de carro”, protestou porta-voz do regime líbio, Musa Ibrahim. Em Misrata, terceira maior cidade do país, rebeldes e militares se enfrentaram durante todo o domingo.
A supremacia aérea da coalizão internacional dá às forças anti-Kadafi a cobertura necessária para compensar a inferioridade em material bélico, sobretudo a capacidade limitada contra os tanques do exército. De acordo com o ministro da Defesa britânico, Liam Fox, as forças internacionais não ofereceram armas paras os insurgentes, o que excederia o mandato concedido pela ONU.
Hillary Clinton e o secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, afirmaram ontem que não há como prever quanto tempo deve demorar a intervenção na Líbia, e defenderam a ação militar, em entrevista conjunta à rede ABC. “O governo líbio ultrapassou um limite que o mundo decidiu que não ia tolerar. Nós acreditamos que a Líbia terá melhores chances se Kadafi partir e deixar o poder ”, disse Hillary.
A Otan assumiu o comando operacional da intervenção, no lugar dos EUA, depois de uma reunião entre os embaixadores dos 28 países membros, e pediu ações imediatas ao novo comandante das operações, o general canadense Charles Bouchard. “Nosso objetivo é a proteção dos civis e das zonas habitadas que estejam sob ameaça de ataques do regime”, declarou o secretário-geral da aliança, Anders Fogh Rasmussen.
Paralelamente, os governos da Itália e da Alemanha, ambos integrantes da Otan, analisam uma proposta de cessar-fogo. Segundo o chanceler italiano, Franco Frattini, o plano incluiria o estabelecimento de “um corredor humanitário permanente” e o exílio de Kadafi. “Agora que toda a Europa e as Nações Unidas concluíram que o coronel não é um interlocutor aceitável, não podemos defender uma solução na qual ele permaneça no poder. Temos um plano e queremos ver se ele poderia se transformar em uma proposta ítalo-alemã. É provável que na terça-feira tenhamos um documento para colocar sobre a mesa”, revelou Frattini ao jornal italiano La Republica.

 FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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