Pesquisar

terça-feira, 29 de março de 2011

29 de março de 2011 - JORNAL ESTADO DE SÃO PAULO


DESTAQUE DE CAPA
Juízes federais marcam greve por reajuste de 14,79%
Teto de R$ 30,6 mil teria efeito para toda a categoria; para magistrados, aumento não tem de passar pelo Congresso

Juízes federais marcaram uma paralisação nacional para o dia 27 de abril, para forçar a aprovação de um reajuste de 14,79% para os magistrados que, afirmam, tem base na Constituição. Paralelamente, a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) protocolou uma ação no Supremo Tribunal Federal pedindo que o tribunal reconheça suposta omissão do Congresso, ao não aprovar o reajuste, e determine a revisão. Segundo a Ajufe, há no STF defensores da tese de que a própria corte pode conceder o reajuste diante de omissão do Congresso. Se o aumento for definidO nos moldes do que foi pedido ao Legislativo, o salário dos ministros da STF, que é o teto do funcionalismo, passará dos atuais R$ 26.723 para R$ 30.675. Como a remuneração dos juízes é toda escalonada com base no teto, um reajuste do salário do STF representará imediato aumento para toda a categoria.


Por reajuste, juiz quer que STF atropele Congresso
Magistrados anunciam greve em abril para forçar Congresso a votar aumento de 14,79%

Mariângela Gallucci - O Estado de S.Paulo

Juízes federais marcaram paralisação nacional em 27 de abril, para forçar a aprovação de reajuste de 14,79% para seus salários. Paralelamente, a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) protocolou ação no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo que reconheça suposta omissão do Congresso ao não aprovar o reajuste e determine a revisão.
Segundo o presidente da Ajufe, Gabriel Wedy, há no STF defensores da tese que a própria corte pode conceder o aumento diante de omissão do Congresso. Se a correção ocorrer nos moldes do que foi pedido ao Congresso, o salário dos ministros do STF, que é o teto do funcionalismo, passará dos atuais R$ 26.723 para R$ 30.675. Como a remuneração dos juízes é toda escalonada com base no teto, um reajuste do salário do STF representará imediato aumento para toda a categoria.
Antes de se lançar na ofensiva pela votação do reajuste, Wedy já havia entrado em confronto com o Executivo no mês passado pelo mesmo motivo, após uma declaração polêmica: "O governo não pode tratar sua relação com outro Poder, que é independente, como se estivesse negociando com sindicato de motorista de ônibus". Com a repercussão negativa da frase, Wedy divulgou nota negando a comparação.
Não é a primeira vez que a Ajufe recorre ao Supremo para elevar os vencimentos dos juízes. Em 2000, às vésperas de um anunciado movimento grevista de magistrados, o STF concedeu liminar garantindo auxílio-moradia para a categoria, o que representou aumento na remuneração e afastou o risco de greve.
O presidente do Supremo, Cezar Peluso, não quis comentar ontem a decisão dos juízes federais. Em agosto, seis meses após o Judiciário ter recebido a segunda parcela de revisão salarial, Peluso enviou ao Congresso o projeto de lei propondo o reajuste de 14,79%. No entanto, a proposta ainda não foi votada pelo Legislativo e a entidade sustenta que há omissão do Congresso.
Wedy garantiu ontem que, no dia da paralisação, o Judiciário decidirá casos de emergência. "A população pode ficar tranquila. Vamos atender aos pedidos de urgência", afirmou. A paralisação de um dia foi aprovada por 74% dos 767 juízes que participaram de assembleia na semana passada. Nova assembleia poderá ser marcada para avaliar a necessidade ou não de greve.
O presidente da Ajufe sustenta que a revisão anual dos salários dos magistrados está prevista na Constituição, que garante a irredutibilidade de vencimentos. Segundo ele, a possibilidade de revisão anual foi acordada em 2005, quando foi fixado o teto salarial do funcionalismo para acabar com supersalários de até R$ 100 mil.
Além da revisão salarial, os juízes reivindicam também que seja reconhecida a simetria de carreira com o Ministério Público. Segundo a Ajufe, promotores têm direitos como licença prêmio que não são garantidos a magistrados.

Sem pressa. Mesmo com a pressão do Judiciário, a Câmara não tem pressa para votar a proposta de reajuste. A tendência é deixar o projeto na gaveta até que o Congresso aprove uma alteração na Constituição para igualar os salários de deputados, senadores, presidente e vice-presidente da República e ministros de Estado aos vencimentos dos ministros do STF.
"Esse tema não está sendo colocado entre os assuntos prioritários", afirmou o líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP). O presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), também informou que o projeto não está na pauta.
Colaborou Denise Madueño


ESPAÇO ABERTO
Resultados da visita de Obama

*Rubens Barbosa

Pelas perspectivas que promete abrir no médio e no longo prazos, a recente visita do presidente Barack Obama ao Brasil, embora no contexto das incertezas e instabilidades globais, poderá ser um marco no relacionamento Brasil-EUA.
Essas relações apresentam três desafios a serem enfrentados e superados para que os entendimentos se possam desenvolver de maneira pragmática e positiva: de que forma conectar interesses comuns, como modificar as percepções de Washington em relação ao Brasil e como definir o que o nosso país quer da relação com os EUA.
Os governos de Brasília e Washington, depois de um período de tensão que durou a maior parte do governo Lula, gerada por motivações ideológicas antiamericanas e por desencontros na política externa e comercial, decidiram inaugurar uma nova etapa nas parcerias bilaterais, deixando para trás as dificuldades dos últimos anos.
A visita de Obama, centrada em temas econômicos e comerciais, ressaltou o reconhecimento, pelos EUA, da nova importância global do Brasil nas áreas de meio ambiente, comércio e energia, com o estabelecimento de parcerias globais e acordos significativos. A graduação do Brasil na área política ainda não ocorreu, como evidenciado pela manifestação de apreço, mas não de apoio à pretensão brasileira de se tornar membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, pela percepção de que o País é ainda um parceiro relutante.
O comunicado conjunto, firmado pelos dois mandatários e divulgado ao final da visita, apresenta um roteiro para uma nova parceria global e bilateral, e não uma aliança estratégica, que pressupõe uma lenta construção entre iguais.
A presidente Dilma Rousseff observou que, no passado, o relacionamento esteve muitas vezes encoberto por uma retórica vazia que fugia do que estava realmente em jogo. Nesse sentido, a viagem foi marcada por uma visão pragmática, e não ideológica, propiciando resultados, embora ainda no campo das intenções.
Cabe ressaltar que os presidentes tomaram a decisão de elevar ao nível presidencial o diálogo em algumas áreas prioritárias, como parceria global, econômica, financeira e energética. Dez acordos foram assinados com vista a explorar novas possibilidades de cooperação nas áreas de comércio, educação, inovação, infraestrutura, transporte aéreo, espacial, grandes eventos esportivos, biocombustível para aviação.

Desses documentos, quatro merecem ser ressaltados:
O Acordo-Quadro Bilateral para a Cooperação sobre os Usos Pacíficos do Espaço Exterior e o anúncio do início de negociações de acordo para proteger tecnologia de operação de lançamento;
O Acordo de Comércio e Cooperação Econômica (Teca), cujo objetivo principal é facilitar o acesso de produtos dos EUA e do Brasil aos mercados dos dois países, além de criar mecanismos para examinar dificuldades nas questões comerciais e de investimento, avaliar barreiras fitossanitárias, simplificar processos alfandegários e harmonizar normas técnicas;
O acordo de cooperação em terceiros países, sobretudo africanos, nas áreas de educação, segurança alimentar, agricultura, nutrição, saúde e fortalecimento institucional;
E o acordo de biocombustível para a aviação.
Nos encontros Dilma-Obama foram lançadas as bases em que as relações deverão evoluir nos próximos anos, e que poderão beneficiar os governos e o setor privado. O mundo não cessa de mudar e, no melhor interesse dos dois países, foram mencionadas parcerias em áreas que, se de fato vierem a ocorrer, propiciarão uma mudança na qualidade do relacionamento bilateral, com ganhos concretos para ambos os lados.
O desafio de conectar os interesses dos dois países, aludido anteriormente, começou a ser respondido. Alguns exemplos podem ser mencionados. O governo norte-americano está interessado em se tornar um cliente importante do petróleo produzido no pré-sal e o governo brasileiro poderá levar adiante o programa espacial, reconstruindo a Base de Alcântara, com a colaboração de empresas dos EUA. Grandes projetos de infraestrutura, atraindo investimentos de empresas norte-americanas, poderão ajudar o Brasil a cumprir os prazos para as obras da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. O Pentágono, o maior comprador de querosene de aviação do mundo, busca segurança energética com a produção de biocombustível para a aviação, o que abrirá grandes oportunidades para o setor privado brasileiro.
Do ponto de vista da política externa brasileira, a visita marcou diferenças em relação à atitude do governo anterior, segundo se depreende dos discursos e do comunicado conjunto emitido ao final da visita. Desapareceram as restrições ideológicas e foram ressaltadas as oportunidades das parcerias com os EUA, inclusive na área espacial, com salvaguardas tecnológicas. A contribuição do Brasil para a paz no Oriente Médio e outras regiões será dada sem voluntarismos. O Irã tem de demonstrar a natureza exclusivamente pacífica de seus programas nucleares. O respeito aos direitos humanos e à democracia deve ser mantido até mesmo no contexto de movimentos e transições democráticos, referência indireta à Líbia. Foram ressaltado o compromisso com a Organização dos Estados Americanos (OEA) e saudados os esforços empreendidos para torná-la mais transparente e eficiente. A Unasul e o Mercosul foram tratados no último capítulo do comunicado. Dificilmente referências dessa natureza poderiam ser encontradas em comunicados conjuntos com os EUA nos últimos cinco ou seis anos.
De certa maneira, as decisões tomadas durante a visita de Obama retomam o tom e o espírito dos entendimentos mantidos em junho de 2003, quando da primeira visita do presidente Lula a Washington, ao buscar projetos de interesse comum e avançar na mudança da percepção em relação ao Brasil, diferenciando-o no contexto latino-americano.
*FOI EMBAIXADOR EM WASHINGTON


REGIME MILITAR
Em carta, clubes militares defendem 'revolução' de 1964
Documento visa homenagear Forças Armadas por terem 'impedido a tomada do poder e sua entrega a um regime ditatorial indesejado pela nação brasileira'
28 de março de 2011 | 16h 57

Luciana Nunes Leal, de O Estado de S. Paulo

RIO - Embora sem referência direta à decisão do exército de retirar a comemoração do 31 de março de 1964 de seu calendário oficial, os Clubes Militar, Naval e de Aeronáutica divulgaram na tarde desta segunda-feira um manifesto conjunto para lembrar os 47 anos do movimento que derrubou do poder o presidente João Goulart e deu início ao regime militar, que durou até 1985.
A nota diz que relembrar "os acontecimentos" de 64, "sem ódio ou rancor, é, no mínimo, uma obrigação de honra". "Os clubes militares (...) homenageiam, nesta data, os integrantes das Forças Armada da época que, com sua pronta ação, impediram a tomada do poder e sua entrega a um regime ditatorial indesejado pela nação brasileira", diz o documento, assinado pelo general Renato Cesar Tibau da Costa, pelo vice-almirante Ricardo Antônio da Veiga Cabral e pelo tenente brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista.


AVIAÇÃO
Aeroporto de Cumbica ter menos filas a partir de julho
Reforma prevê instalação de módulos adicionais de inspeção de bagagem e guichês de migração da Polícia Federal

Elvis Pereira - O Estado de S.Paulo

As filas de embarque doméstico e internacional no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, devem diminuir já para as férias de julho. E as do desembarque internacional, no ano que vem. A expectativa é da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), com base no prazo para o fim das obras de readequação dos espaços.
As mudanças nas duas áreas de embarque começaram em outubro do ano passado e custarão R$ 3 milhões ao governo federal. A de voos domésticos receberá mais módulos para a inspeção da bagagem de mão de passageiros e a de internacionais, mais guichês do controle de migração da Polícia Federal. "Resultará em maior agilidade na fiscalização e mais bagagens poderão ser objeto de inspeção", explicou o delegado Rodrigo Weber, chefe da Imigração da PF no aeroporto.
Já a reforma do desembarque internacional dos dois terminais, orçada em R$ 3,1 milhões, começou em janeiro. No terminal 1, o total de balcões de imigração da PF subirá de 18 para 32. No terminal 2, de 20 para 36.
Weber disse que a reformulação foi necessária por causa do crescimento de número de voos internacionais. Entre embarques e desembarques, o total de passageiros no aeroporto em 2010 atingiu 10,3 milhões - 2,1 milhões a mais do que em 2006.
Quando os guichês estiverem prontos, o atendimento diário de cada um deve cair de 329 para 184 passageiros.

Atraso. Já a reforma das pistas de Cumbica foi adiada pela quarta vez. Prevista para começar na primeira quinzena deste mês, a obra ficou para agosto. E, a conclusão, para dezembro. O problema é como reduzir o número de pousos e decolagens durante as obras, pois será preciso encurtar a pista principal de 3,7 para 2,5 quilômetros.
Segundo o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), da Aeronáutica, a diminuição limitaria a capacidade a 28 pousos e decolagens por hora - 17 a menos do que o atual. A Infraero ainda avalia a "possibilidade de remanejamento de voos para outros aeroportos".

28 DE MARÇO DE 2011 | 21H 49

Entrevista-Brasil pode permitir capital privado na Infraero

LOUISE EGAN - REUTERS

O governo brasileiro decidirá até meados de 2011 se vai permitir investimentos privados na Infraero, empresa que administra os aeroportos do país, informou a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, em entrevista na segunda-feira.
Tal decisão seria um sinal forte da vontade do governo de confiar mais no financiamento por parte do setor privado para modernizar seus aeroportos --alguns em condições precárias-- e outras infraestruturas a tempo para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.
A ministra disse que um estudo independente encomendado pelo governo recomendou que a Infraero lançasse uma oferta pública inicial.
"O projeto inicial seria a abertura de capital da Infraero por meio de um IPO", afirmou Miriam à Reuters.


Infraero quer demolir imóveis no Aeroporto de Congonhas

MARÍLIA LOPES - Agencia Estado

SÃO PAULO - A Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) pretende demolir 15 imóveis no Aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo. Segundo a assessoria da Infraero, os prédios e hangares que podem ser demolidos pertenciam à Vasp. A companhia aérea, que parou de voar em 2005, teve a falência decretada pela Justiça de São Paulo em setembro de 2008. Desde então, a área que pertencia à Vasp, cerca de 126 mil m², está desativada. A Infraero quer expandir o aeroporto e pretende utilizar o espaço.
Amanhã, representantes da Infraero se reúnem com o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico (Conpresp) para discutir a demolição dos imóveis. Em 2004, o Conpresp abriu um processo de tombamento do aeroporto, que ainda não foi finalizado. Por isso, qualquer modificação na área deve ser submetida ao conselho. A assessoria da Infraero informou que, caso o Conpresp conceda autorização para demolição, ainda não há previsão de quando isso vai ocorrer.


OPINIÃO
Esvaziamento do MST

Celso Ming - O Estado de S.Paulo

O Estadão de ontem publicou matéria de Roldão Arruda e José Maria Tomazela sobre o esvaziamento do Movimento dos Sem-Terra (MST). Os acampamentos e os militantes estão rareando e é cada vez mais difícil recrutar gente para invadir propriedades.
Os dirigentes do movimento têm duas explicações: (1) o Bolsa Família acomodou os militantes, que agora se contentam com a cesta básica em vez de enfrentar as agruras da lona dos acampamentos; e (2) o aumento do emprego no Brasil, especialmente na construção civil, empurrou muita gente para o mercado de trabalho.
Esse diagnóstico diz muita coisa. Diz, por exemplo, que esse caldo de pobreza em que o MST sempre buscou seus integrantes não se trata com distribuição de terras, mas com políticas de renda, cuja melhor resposta é o Programa Bolsa Família, e não com assentamentos burros e sem futuro. E diz, também, que sem-terra não quer terra, mas, sim, emprego. E isso se resolve com crescimento, não com fatiamento de propriedades.
Há anos, o MST vai perdendo foco. Para disfarçar o esvaziamento, seus dirigentes perpetram barbeiragens tanto ideológicas como programáticas. Tentam, de um lado, responder com a pregação de um socialismo esclerosado, sem contexto histórico. E, de outro, com a adoção de práticas ambientalistas radicais em nada relacionadas com a questão agrária.
Na última década, não se limitaram a invadir propriedades improdutivas. O MST patrocinou centenas de atos que pouco se diferenciam do puro vandalismo. Invadiram e destruíram plantações de eucalipto, cana-de-açúcar, laranjais e canteiros de pesquisas agronômicas, sob a alegação de que essas culturas agridem o meio ambiente ou que, em vez de alimentos, produzem commodities para os mercados - como se a silvicultura e as culturas do algodão e da cana fossem distorções neoliberais. Enfim, comportaram-se como se sua principal função não fosse a distribuição de terras a quem supostamente delas necessita, mas servir de massa de manobra de grupos fundamentalistas.
Outros fatores ajudam nesse processo de definhamento do MST. Um deles é o crescimento do agronegócio, que só acidentalmente tem a ver com a ação de grandes capitais na agropecuária. Está ligado ao maior uso de tecnologia de produção de sementes, de preparo de terra, de plantio, de irrigação, de colheita, de armazenagem e a práticas financeiras modernas, que seguem a trajetória das cotações das commodities, operam no mercado futuro e trabalham com hedge. E tem a ver com a integração da agropecuária às cadeias produtivas e aos mercados de consumo, seja o produtor uma grande empresa agroindustrial ou uma mera unidade familiar. É esse conjunto que está determinando o fracasso de tantos assentamentos.
Em todo o caso, uma é função social de determinadas instituições e outra pode ser a função real. Na cabeça dos fundadores e dos dirigentes, o MST canaliza energias para a reforma agrária e para a ocupação não predatória da terra. Na prática, foi e continua sendo um movimento conservador. Sua principal função não foi além de conter e dar certa disciplina às massas carentes das grandes periferias urbanas para que não criem problemas ao desenvolvimento do País.


HIDRELÉTRICAS
Operários mantêm greve em Santo Antônio
Parte dos operários da usina decide não voltar sem um reajuste salarial; em Mato Grosso do Sul, usina São Domingos também está paralisada

Gabriela Cabral - O Estado de S.Paulo

O impasse entre o sindicato de trabalhadores e o consórcio responsável pela construção da usina de Santo Antônio prolonga a greve no canteiro de obras, que já passa de uma semana. O Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção Civil de Rondônia (Sticcero) realizou assembleias domingo e ontem pela manhã para elaboração de uma pauta de reivindicações.
A pauta prevê reajuste salarial de 30%, a ser discutido em reuniões que antecedem o novo acordo coletivo da categoria. O sindicato também anunciou o retorno às obras ontem. Porém, segundo o presidente do Sticcero, Raimundo Soares, uma parte dos operários não aceitou voltar ao trabalho até que seja concedido um reajuste salarial. O desentendimento evidencia a pouca representatividade do sindicato da categoria, que deve incorrer de multa de R$ 50 mil por dia parado.
A paralisação das duas obras, em Jirau e Santo Antônio, começou quando um grupo de trabalhadores incendiou alojamentos no canteiro de obras de Jirau.
Segundo o secretário de Políticas Sociais da Confederação Nacional de Sindicatos da Construção e da Madeira da CUT (Conticom), Luiz Carlos José de Queiroz, o Sticcero ainda trabalha para filiar os trabalhadores dos dois empreendimentos, já que muitos são de fora do Estado.
"A grande rotatividade é característica do setor da construção civil, mas estamos conscientizando os trabalhadores sobre a importância de se filiar ao sindicato que possa ter voz nas discussões", disse, enfatizando que muitos não participaram do acordo coletivo do ano passado.
Queiroz disse ainda que as investigações sobre o incidente que deixou o canteiro de obras de Jirau parcialmente destruído estão a cargo dos órgãos competentes, mas o sindicato também está verificando as condições dos trabalhadores alojados e o pagamento de seus pertences.

São Domingos. Forças policiais e o Ministério Público do Trabalho estão contornando os incidentes ocorridos na construção da Hidrelétrica São Domingos, em Mato Grosso do Sul. As ações foram iniciadas na sexta-feira, um dia depois que os operários da obra, em Água Clara, a 60 km do centro da cidade, na região leste do Estado, promoveram quebra-quebra e incêndios no canteiro de obras.
A Polícia Militar mantém policiamento ostensivo no local, e na delegacia de polícia civil o delegado de Água Clara, Nilson Fonseca Martins, continua apurando o caso. Desde o dia da confusão, cinco operários estão presos, acusados de serem os responsáveis diretos pela rebelião. Segundo os depoimentos no inquérito policial, um deles entrou fumando no refeitório, foi repreendido, não gostou e cuspiu na cara do segurança, autor da repreensão.
O segurança reagiu ameaçando usar o cassetete, mas de repente foi dominado "por um monte de homens". O que foi considerado "pequeno incidente" tornou-se a destruição de todo o canteiro de obras. Pelo menos 800 homens estavam trabalhando no local e 80 deles foram levados para a Delegacia de Água Clara.
A maioria dos detidos reafirmou queixas antigas, algumas desde 2009, quando as obras foram iniciadas. "Alimentação de péssima qualidade, salários atrasados e alojamento que mais parece um muquifo", foram as reclamações mais repetidas. As queixas foram encaminhados ao Ministério Público do Trabalho.
Todo o episódio resultou na paralisação temporária da obra, onde apenas 300 empregados permanecem. O reinicio completo da construção ocorrerá na medida em que novos alojamentos forem construídos. Segundo calcula a Eletrosul, proprietária da futura usina, deverá ocorrer um atraso de dois a três meses na entrega da obra, marcada para 2012.
COLABOROU JOÃO NAVES DE OLIVEIRA, ESPECIAL PARA O ESTADO


PARA LEMBRAR
Há duas semanas, o canteiro de obras da Hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira, foi totalmente destruído supostamente por um grupo de trabalhadores da construtora Camargo Corrêa. Dias depois, a Hidrelétrica de Santo Antônio, também em construção no Madeira, paralisou preventivamente as operações.
As duas usinas fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a tensão que tomou conta dessas obras levantou importante questão sobre as condições de trabalho a que são submetidos os milhares de trabalhadores contratados pelos consórcios responsáveis pelas obras
A violência em Jirau obrigou o governo a intervir com a presença de homens da Força Nacional de Segurança e da Polícia Federal.
O Planalto acusou as construtoras das usinas de tratar de forma ultrapassada e autoritária os operários. Apenas na usina hidrelétrica de Jirau trabalham mais de 22 mil homens.


SEGURANÇA NUCLEAR
Angra reforça plano de segurança
Eletronuclear, que opera as usinas 1 e 2, ampliará mapeamento das vias que chegam às centrais nucleares e fará plano de fuga pelo mar

Bruno Boghossian - O Estado de S.Paulo

Para reforçar os padrões de segurança das usinas de Angra 1 e 2, no litoral sul fluminense, a Eletronuclear vai ampliar o mapeamento das vias de acesso às centrais nucleares e planeja criar um plano de fuga pelo mar, com a construção de dois píeres para facilitar a retirada de moradores e funcionários em caso de desastre.
O projeto de criação dos ancoradouros está em fase inicial, mas a empresa responsável pelas usinas pretende contratar nos próximos dias uma consultoria externa para reavaliar a situação das encostas que margeiam as estradas da região. Em até quatro meses, um relatório poderá indicar a necessidade de novas obras de contenção e determinar os pontos onde há riscos de deslizamentos - que poderiam bloquear as rotas de fuga em caso de emergência.
A Eletronuclear afirma que realiza um monitoramento constante nas encostas, principalmente às margens da rodovia Rio-Santos (BR-101).
A decisão de solicitar um estudo externo para complementar o mapeamento da área havia sido tomada há meses, mas foi reforçada pelo desastre nuclear em Fukushima, no Japão, em decorrência do terremoto e do maremoto que atingiram o país. Em caso de desastre em Angra, as estradas usadas como rotas de fuga devem estar livres, para facilitar o isolamento da região.
"O novo mapeamento será feito apenas para termos uma confirmação externa das informações que já foram colhidas", ressaltou Diógenes Salgado Alves, gerente de engenharia civil da Eletronuclear. "Em um momento como esse, não podemos deixar de ampliar a transparência e garantir a segurança total." Deslizamentos de terra são comuns na Rio-Santos em períodos chuvosos, uma vez que as encostas da região são instáveis e formadas por rochas de até 100 toneladas envoltas por terra.

Pelo mar. Para ampliar a capacidade de retirada dos quase 20 mil moradores e funcionários das regiões consideradas vulneráveis a um desastre, a Eletronuclear quer construir dois píeres que poderão ser usados para a evacuação da área caso as estradas estejam bloqueadas.
A empresa fará estudos para definir a dimensão e a localização exata dos ancoradouros. Um píer deve ser erguido na Praia Brava (a 3 km da central nuclear) e outro na Baía da Ribeira (a cerca de 10 km das usinas). Não há informações sobre a dimensão da obra, mas os locais de construção dos ancoradouros devem ser dragados para permitir a atracação de barcos de grande capacidade de passageiros.
Os acidentes na usina japonesa de Fukushima aceleraram a adoção de outras medidas suplementares de segurança no Brasil, segundo o assistente do diretor da Eletronuclear, Leonam dos Santos Guimarães. "O ritmo pode ser mais rápido, pois há uma cobrança da sociedade." Guimarães ressaltou que o desastre no Japão não deve gerar mudanças no programa energético brasileiro, que prevê a construção de novas centrais nucleares.
A empresa estuda instalar uma pequena central hidrelétrica nas bacias dos Rios Bracuhy e Mambucaba, na região de Angra, para fornecer energia para os equipamentos de segurança da usina nuclear em caso de desastre.
COLABORARAM GLAUBER GONÇALVES e KELLY LIMA


PROVA
DIÓGENES S. ALVES - GERENTE DA ELETRONUCLEAR
“Atualmente, temos a situação perfeitamente controlada, mas queremos ouvir uma segunda opinião para confirmar a qualidade dos trabalhos que praticamos.”


COPA 2014
''Brasil está mais atrasado que a África''
Presidente da Fifa reclama da lentidão das obras no País e diz que a CBF precisa pressionar as autoridades para garantir que sejam mesmo realizadas

Jamil Chade - O Estado de S.Paulo

O presidente da Fifa, Joseph Blatter, partiu para o ataque contra o ritmo lento dos preparativos para a Copa de 2014. A pouco mais de três anos para o início do Mundial, muitas obras em estádios e de infraestrutura nem sequer começaram e outras seguem lentamente. O dirigente dá sinais de preocupação. "Se formos comparar com a África do Sul três anos antes da Copa, há claramente um atraso do Brasil em relação ao estágio onde estavam os sul-africanos"", disse Blatter em entrevista que foi ao ar pela Rádio Estadão ESPN às 7h30 de ontem.
A crítica sinaliza uma mudança de comportamento de Blatter. O presidente da Fifa frequentemente falava com otimismo sobre o Brasil. Quando surgia um problema mais ácido, deixava cobranças e declarações mais contundentes por conta do secretário-geral da entidade, Jerome Valcke. Mudou de tática.
Blatter está especialmente preocupado com a indefinição em relação ao Itaquerão. Mas atrasos no Maracanã e a decisão da diretoria do Inter de buscar um parceiro para a reforma do Beira-Rio - o que poderá alterar o ritmo dos trabalhos - também o irritam, bem como o jogo político em torno da Copa.
Recentemente, Joseph Blatter mandou seu primeiro recado às autoridades, ao dizer que os critérios para a escolha do local de abertura do Mundial serão técnicos e não políticos. Isso apesar da preferência da Fifa por São Paulo - embora a entidade não admita oficialmente. Ontem, foi ainda mais incisivo, mas, em vez de voltar suas baterias só contra os governantes, preferiu também fazer o presidente da CBF e do Comitê Organizador Local (COL), Ricardo Teixeira, como alvo.
O andamento das obras para a Copa, dentro e fora dos estádios, também preocupa a presidente Dilma Rousseff. Ela determinou ao ministro do Esporte, Orlando Silva, que percorresse as 12 cidades-sede para elaborar um relatório sobre o estágio das obras. Deverá recebê-lo nas próximas semanas. /
COLABOROU ALMIR LEITE


ENTREVISTA - JOSEPH BLATTER, Presidente da Fifa
''Copa é amanhã, mas o Brasil acha que é depois de amanhã''

Jamil Chade - O Estado de S.Paulo

O presidente da Fifa, Joseph Blatter, fez ontem uma constatação alarmante: três anos antes do Mundial de 2010, as obras e o planejamento da África do Sul estavam em um estágio mais avançado do que os preparativos do Brasil, no mesmo período que antecede a Copa de 2014.
Ontem, o dirigente mostrou que perdeu de vez a paciência com os políticos brasileiros e também dirigiu críticas ao presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, que teria a responsabilidade pelo planejamento.
Blatter ainda alerta que, da forma como caminham as obras, nem São Paulo nem Rio terão seus estádios prontos para a Copa das Confederações, em 2013. O presidente da Fifa também afirmou que, diante dos atrasos, não pode nem sequer confirmar que a abertura do Mundial será em São Paulo. "A Copa é amanhã, mas os brasileiros acham que a Copa é depois de amanhã", acusou.
Além de conversar com o Estado de forma detalhada sobre o Brasil, Blatter usou o encontro com alguns jornalistas internacionais, em Genebra, para lançar o alerta.


Há muitas indefinições sobre a realização da Copa de 2014 no Brasil. Quando é que a Fifa vai tomar medidas?
Você acha mesmo que as indefinições vão terminar?

Qual é o problema?
Falta uma pressão maior por parte da CBF para garantir que as obras sejam feitas. O futebol precisa pressionar mais para garantir esses resultados por parte das autoridades. É também uma guerra política entre governadores e prefeitos.

Mas de quem é a responsabilidade de garantir a realização da Copa e que as obras estejam prontas?
Esse é um assunto para a direção do futebol brasileiro.

O senhor não vai intervir?
Ainda não. O momento crucial é julho, quando teremos o sorteio das Eliminatórias. Até lá, todas as dúvidas terão de estar superadas. Se não houver nada ocorrendo até julho, esse será o momento de pressão e intervenção de minha parte.

Como é que a organização da Copa atingiu ponto tão crítico?
Não sei. A Copa é amanhã, mas os brasileiros pensam que é só depois de amanhã. Não há dúvida de que vamos ao Brasil em 2014. O País tem cinco títulos mundiais. Mas em termos de preparação do evento ainda estamos esperando resultados. A preparação não avança nada rápido. Se formos comparar a África do Sul com o Brasil, três anos antes da Copa, há claramente um atraso do Brasil em relação ao estágio onde estavam os sul-africanos. Evitamos dizer isso, mas esse é o fato.

Qual é o grau dos atrasos?
No ritmo que vamos, não haverá jogos da Copa das Confederações nem no Rio e nem em São Paulo. Há ainda um debate entre políticos sobre onde deve ficar cada estádio e isso precisa ser superado.

E pode haver uma Copa das Confederações sem São Paulo e Rio?
Não seria nada bom, mas é possível. A Copa das Confederações é um ensaio geral para a Copa do Mundo, então por que não em outras cidades?

Mas pelo menos a abertura da Copa do Mundo de 2014 em São Paulo está garantida?
Quem é que vai saber? Eu não posso dizer isso ainda.

Mas o senhor não tem voz na decisão de onde será a abertura?
Eu tenho sim um voto. Mas, por enquanto, há a administração da Fifa trabalhando com a CBF e contatos estão ocorrendo entre o secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke, e Ricardo Teixeira.



Orlando Silva ignora críticas e diz para Blatter vir ao País

Ana Paula Garrido

A resposta do ministro do Esporte, Orlando Silva, foi direta. Pediu a Joseph Blatter que faça uma visita ao País e assim se tranquilize. "Vou convidar o presidente para vir ao Brasil de novo, para que veja detalhadamente os preparativos. Dez dos 12 estádios estão com obras a todo vapor. Cumpriremos o prazo pactuado com a Fifa." São Paulo e Natal são as sedes problemáticas, com estádios que nem começaram a ser construídos.
Orlando Silva não soube explicar, porém, por que Blatter frisou que um dos entraves é a divergência entre políticos. "Tem de perguntar para ele", disse, aparentemente incomodado.
O ministro reconheceu, entretanto, que o grande problema do Brasil está no setor de transportes. "Já manifestei a preocupação porque 70% dos projetos de mobilidade urbana necessitam começar em 2011."
Já a questão dos aeroportos, vista por ele como uma "novela de muitos capítulos", deve ser resolvida com as mudanças feitas pela presidente Dilma Rousseff no comando da Infraero.


ESTADÃO.EDU
Temporada de caça a cientistas
Estabilidade do País, desafio do pré-sal e recordes na formação de pesquisadores [br]atraem investimentos milionários em superlaboratórios de multinacionais, que estreitam relações com universidades

O Brasil foi escolhido sede da Copa e das Olimpíadas após acirrada batalha com outros países. Também saiu na frente em outra competição que, embora menos badalada, deixará um legado até mais importante: a disputa para atrair superlaboratórios, centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) que já mobilizam os sistemas educacional e de ciência e tecnologia do País. Aproximar-se das universidades, formadoras da mão de obra para pesquisa, tem sido o caminho natural para empresas que apostaram no País. Só em 2010 foram anunciados investimentos da ordem de R$ 500 milhões no Parque Tecnológico da UFRJ, no Rio. É lá que Petrobrás e ao menos seis multinacionais estão instalando ou ampliando laboratórios. No Rio e em São Paulo, gigantes como IBM e DuPont já puseram em operação centros de ponta. E a Vale está criando polos tecnológicos em três Estados.
Nesses centros vão trabalhar profissionais que antes tinham como opção fazer ciência fora do País, como Bruno Betoni, de 33 anos, único brasileiro no Centro de Pesquisas Global da General Electric, na Alemanha. "Será uma grande oportunidade em termos acadêmicos e de negócios." Para quem pretende trabalhar nos superlaboratórios, Betoni adverte que a pesquisa em empresas tem um ritmo diferente e é preciso se preparar desde o início da formação. "No dia a dia, uso coisas que aprendi na formação básica, que muitos têm por inútil. Meu ferramental vai do primeiro ano da graduação até o fim do doutorado."
Analistas atribuem a vinda dos superlaboratórios ao cenário de estabilidade do Brasil. Outros atrativos são o início da exploração de petróleo no pré-sal e os sucessivos recordes na formação de pesquisadores. O número de doutores diplomados cresceu de 554, em 1981, para cerca de 12 mil, no ano passado. "É pouco, mas, se você analisar esse dado em perspectiva, verá o tamanho do avanço", diz o oficial de Ciência e Tecnologia da Unesco no Brasil, Ary Mergulhão. "É um momento excelente, só que é preciso investir, elevando de 1% para 3% o porcentual do PIB aplicado em P&D." Para ele, a vinda dos laboratórios mostra que a pesquisa no País atingiu reconhecimento "razoável". "O problema é que ela não se traduz em patentes. O caminho mais curto para melhorar isso é colocar engenheiros e doutores nas empresas."
O governo admite que a taxa de inovação nas empresas é "tímida". "Um número inexpressivo de pesquisadores atua em empresas. Falta cultura de inovação no ambiente empresarial e há pouca articulação das políticas industrial e de ciência e tecnologia, apesar dos esforços recentes", diz Ronaldo Mota, secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Espaço. O pré-sal pode ajudar a mudar essa realidade, como mostra o câmpus da UFRJ na Ilha do Fundão, polo da corrida tecnológica para exploração de petróleo em águas ultraprofundas. A procura por espaço foi tão grande nos últimos dois anos que só restam três terrenos livres. Estima-se que serão gerados no local 4 mil empregos até 2014, quando os novos polos de pesquisa devem estar prontos.
A francesa Schlumberger foi a primeira múlti a inaugurar um centro no Fundão, em novembro. Também anunciaram investimentos lá as americanas FMC Technologies, Baker Hughes e Halliburton. A espanhola Repsol está construindo um laboratório para investigação em petróleo e gás. A GE vai erguer, no parque, seu quinto Centro de Pesquisas Global. Fará pesquisas sobre combustíveis fósseis, mas também energias renováveis, mineração, transporte ferroviário e aviação.
Segundo o diretor executivo do parque, Maurício Guedes, as empresas que querem se instalar no Fundão passam por uma avaliação da universidade. "É fundamental que elas estabeleçam cooperação com grupos de pesquisa da UFRJ", explica. "Empresas não procuram só engenheiros e doutores, mas também estudantes para ser estagiários em grupos de pesquisa."
A Petrobrás é a grande responsável por tanto investimento na UFRJ. Desembolsou R$ 1,2 bilhão para aumentar de 180 mil para 300 mil metros quadrados o tamanho de seu polo tecnológico no Fundão. A nova estrutura do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (Cenpes), inaugurada em outubro, tem cerca de 1.600 profissionais trabalhando na área de P&D e engenharia de projetos inovadores. O número de laboratórios passou de 137 para aproximadamente 200.
O gerente executivo do Cenpes, Carlos Tadeu Fraga, compara o momento atual da exploração petrolífera l com o que ocorreu nos anos 1980. Naquela década, marcada pelas bruscas elevações do preço do petróleo, o Brasil investiu para aumentar sua produção interna. "A maior parte das novas tecnologias, naqueles anos, foi desenvolvida no exterior. A diferença é que agora, com o pré-sal, é possível incentivar fornecedores a fazer isso no Brasil."

Recrutamento. Uma das empresas que mais investirão no Fundão é a GE. As obras do centro devem acabar até fins de 2012, com investimento inicial da ordem de US$ 100 milhões.
O laboratório deverá empregar 200 pesquisadores e engenheiros. Segundo o presidente da GE no Brasil, João Geraldo Ferreira, a múlti vai começar a contratar em maio e quer encerrar o ano com 70 cientistas em atividade nas estruturas já prontas. Para recrutá-los, planeja atuar em três frentes: atrair doutorandos antes mesmo que terminem os estudos, selecionar pesquisadores em universidades e órgãos públicos e até repatriar brasileiros.
Em abril, a GE abre um ciclo de palestras em 17 universidades. "Queremos nos aproximar das universidades e, a longo prazo, sugerir mudanças no currículo da graduação para atender a demandas específicas do nosso centro", diz João Geraldo. O pré-sal é um dos temas de interesse da IBM, que dividiu seu laboratório entre Rio e São Paulo. A companhia definiu quatro áreas de pesquisa: recursos naturais, dispositivos inteligentes, sistemas humanos (que cuidará, entre outras coisas, de soluções para eventos como Copa e Olimpíada), e sistemas e serviços, cujo objetivo é melhorar a eficiência de todo tipo de serviço, do bancário ao de saúde.
Anunciado em meados do ano passado, o laboratório tem 20 pesquisadores, mas a empresa pretende chegar a 100. Para liderar as áreas, a IBM repatriou brasileiros de seus centros no exterior. É o caso do geólogo Ulisses Mello, de 52, cuja equipe já trabalha, por exemplo, com a prefeitura do Rio para melhorar a precisão geográfica da previsão do tempo. Hoje a resolução é de 18 quilômetros quadrados. A meta é baixar para 2 ou 3 km². Assim, em vez de dizer genericamente que vai chover na zona sul, será possível especificar o bairro afetado e tomar medidas preventivas. "Talvez no futuro a gente consiga desenvolver algoritmos usando radar, sensoriamento remoto, para prever com antecedência de 48 horas chuvas ou risco de deslizamento."
O engenheiro Sergio Borger, de 45, é outro repatriado. Está animado com as possibilidades criadas por eventos como a Copa. "Queremos fazer experimentos em estádios para ver como fornecer serviços de melhor qualidade." Um dos focos é segurança. A IBM tem softwares que permitem identificar em vídeo pessoas específicas no meio da torcida. "Mas não é só isso. O ingresso pode ser a informação biométrica do seu rosto, por exemplo: pessoal e intransferível."


WEBSFERA

USA TODAY
Mulheres se matam três vezes mais em combate
A taxa de suicídio entre mulheres soldados triplica quando elas vão para a guerra, de acordo com a primeira rodada de dados preliminares de uma pesquisa do Exército. Chega a 15 para cada 100 mil soldados quando estão em combate.

28 DE MARÇO DE 2011 | 23H 19

TENSÃO NO ORIENTE MÉDIO
‘Freamos um avanço mortal’, diz Obama

DENISE CHRISPIM MARIN - Agência Estado

Em uma prestação de contas aos americanos, o presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou na noite de hoje ter concluído sua promessa de manter uma ação militar "limitada" na Líbia, sem o envio de tropas ao país. Em discurso na National Defense University, em Washington, Obama destacou a transferência formal da liderança americana das operações militares para a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em cerimônia nesta quarta-feira, em Bruxelas.
Afirmou, ainda, estar otimista com a ação da Otan para desmobilizar as forças remanescentes de Muamar Kadafi, a quem qualificou como "tirano". "Nós freamos o avanço mortal de Kadafi", anunciou.
Antes do pronunciamento, Obama havia participado de uma videoconferência sobre a Líbia com o presidente da França, Nicolas Sarkozy, e o premiê britânico, David Cameron, e a chanceler alemã, Angela Merkel. Segundo a Casa Branca, os quatro líderes concordaram com a necessária queda de Kadafi.


Rebeldes forçam recuo das forças de Kadafi
Bombardeios da coalizão parecem ter equilibrado os confrontos, destruindo tanques, aviões e barcos das tropas de elite

Lourival Sant'Anna - O Estado de S.Paulo

As tropas leais a Muamar Kadafi e os combatentes rebeldes lutavam ontem na estrada de 150 km entre Bin Jawad e Sirt, cidade natal do ditador e reduto de sua tribo. Depois de avançar 270 km em apenas 24 horas no fim de semana, os rebeldes enfrentavam ontem resistência maior das tropas de Kadafi, que receberam reforços de Trípoli. Mesmo assim conseguiram fazê-las recuar no decorrer do dia, na sua contraofensiva em direção à capital.
De madrugada, chegou a Benghazi a notícia, divulgada pela rede de TV Al-Jazeera, de que Sirt, 555 km a oeste, teria caído nas mãos dos rebeldes. A "capital rebelde" não dormiu mais. Os rebeldes celebraram disparando peças de artilharia, granadas propelidas por foguetes e fuzis. Mas não era verdade.
Por volta do meio-dia, a linha de frente do conflito estava no vilarejo de Naufaliya, 130 km a leste de Sirt. No fim da tarde, rebeldes e membros das kataeb, as brigadas leais a Kadafi, lutavam perto da Entrada 80, fortemente guarnecida, 80 km a leste da cidade portuária. Os dois lados enfrentavam-se com peças de artilharia montadas sobre caminhonetes e baterias de foguetes Grad.
As barreiras dos rebeldes só estavam deixando passar combatentes com peças de artilharia. Os rebeldes armados apenas de fuzis eram instruídos a guarnecer os postos de controle. Os bombardeios da coalizão parecem ter equilibrado os confrontos, destruindo os tanques das kataeb, as brigadas de elite de Kadafi, além de neutralizar seus aviões, helicópteros e barcos.
Na faixa de 230 km entre Benghazi e Brega, o Estado contou 55 tanques, 41 caminhões, 6 baterias de foguetes Grad, 45 caminhonetes e 6 ônibus das forças de Kadafi, destruídos pelos bombardeios da coalizão nos últimos 9 dias. A partir de Brega, já não se encontra equipamento pesado. Isso indica que as forças do regime concentraram esse equipamento no leste, na tomada e ocupação dos complexos petrolíferos de Brega e Ras Lanuf (150 km a oeste de Brega) e na ofensiva contra Benghazi, contida pelo primeiro bombardeio francês, no dia 19. O restante dos tanques é empregado na ofensiva contra Misrata, 203 km a leste de Trípoli, e provavelmente na guarnição da própria capital.
As forças da coalizão continuam bombardeando alvos em Trípoli e em outros pontos do país. Além de destruir o armamento pesado, os bombardeios também têm cortado as linhas de suprimento das forças de Kadafi, isolando-as e diminuindo sua capacidade de resistir aos avanços rebeldes. As longas distâncias desérticas que separam as cidades e complexos petrolíferos disputados agravam a vulnerabilidade das kataeb aos bombardeios.
Uma vez destruído seu armamento pesado, os combatentes rebeldes, em maior número e com suas linhas de suprimento preservadas, levam vantagem nas batalhas terrestres. As forças de Kadafi fugiram correndo no fim de semana de Ajdabiya, deixando para trás todos os veículos pesados, incluindo os intactos, e munição. Os rebeldes estão recolhendo esse butim. No início da noite de ontem, quatro caminhões, cada um transportando um tanque, dirigiam-se a Benghazi. Uma carreta carregada de caixas de munição aguardava na beira da estrada entre Ras Lanuf e Brega.
Há também uma maior organização e presença de soldados do Exército regular rebelde. "Não encontramos nenhuma resistência em Bin Jawad", disse Sensad Kasmi, um soldado de 28 anos, de um quartel de Benghazi. Kasmi disse que havia "muitos" militares lutando ao lado dos voluntários civis. Na entrada de Bin Jawad, 422 km a oeste de Benghazi, era distribuído ontem um panfleto do Conselho Provisório Líbio, a liderança rebelde civil, pedindo aos combatentes que obedeçam às ordens dos oficiais no campo de batalha e não ajam por iniciativa própria. O texto recomenda que não espalhem notícias de grande número de mortos rebeldes, para não amedrontar os combatentes.



Rússia acusa Ocidente de violar resolução
Um dia depois de França e Grã-Bretanha terem exigido a saída de Kadafi do poder na Líbia, países da Otan se reúnem em Londres para assumir formalmente comando da operação; para Moscou, mandato da ONU limita o uso da força às ações para proteger civis

Andrei Netto - O Estado de S.Paulo

Um dia depois de os governos de França e Grã-Bretanha terem exigido a "saída imediata" do ditador líbio, Muamar Kadafi, países-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) reúnem-se hoje em Londres para dar formalmente à aliança atlântica o comando total das operações na Líbia. O objetivo de "assegurar a transição pacífica" no país deve ser absorvido pela organização.
Para países como a Rússia, porém, o uso da coalizão militar para depor Kadafi viola a Resolução 1.973 do Conselho de Segurança da ONU, que autoriza a utilização de "todos os meios necessários" para garantir a proteção dos civis líbios.
A acusação de violação da ordem da ONU foi feita ontem, em Moscou, pelo ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov. Ele criticou as operações que permitiram um avanço dos rebeldes de Benghazi sobre as cidades de Ajdabiya, Brega e Ras Lanuf, na direção de Sirte, terra natal de Kadafi e um dos símbolos do regime. "A aviação da coalizão arrasa as tropas leais a Kadafi e dá apoio aos rebeldes armados", disse o chanceler russo. "Há uma contradição evidente entre as declarações das capitais ocidentais que afirmam que seu objetivo não é derrubar Kadafi e os ataques aéreos da coalizão sobre as colunas militares do líder líbio."
Para Lavrov, as operações da coalizão resumem-se num apoio militar evidente às ações dos insurgentes armados. A resolução 1.973 da ONU foi aprovada dia 17 - com abstenções da Rússia e do Brasil. "O envolvimento da coalizão na guerra civil não foi sancionado pelo Conselho de Segurança da ONU", protestou. O governo russo exortou ainda o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, a investigar as denúncias de que os ataques aéreos fizeram vítimas na população civil. "Nós esperamos que isso seja feito imediatamente."
O protesto da Rússia, porém, não intimidou os líderes da coalizão. Ontem, o presidente dos EUA, Barack Obama (mais informações na página A10), o francês, Nicolas Sarkozy, o premiê britânico, David Cameron, e a chanceler alemã, Angela Merkel, reuniram-se por teleconferência para discutir os rumos da intervenção. A seguir, em nota oficial, Sarkozy e Cameron exigiram a renúncia do ditador. "O regime perdeu toda legitimidade. Kadafi deve partir imediatamente", diz o texto, que incita os assessores do líder líbio a abandoná-lo, "antes que seja tarde demais".
Depois das ameaças, os líderes francês e britânico afirmaram que buscam uma solução diplomática para a crise. Ontem, a imprensa londrina afirmou que negociadores árabes tentam abrir canais de interlocução entre a coalizão e o regime líbio, com o objetivo de frear o conflito armado.
Hoje, em Londres, chanceleres dos países-membros da coalizão começarão a debater as alternativas políticas para pôr fim ao impasse - no que Cameron e Sarkozy chamam de "pós-Kadafi". Mas, ao contrário do inicialmente previsto, o grupo de ministros não exercerá nenhuma interferência sobre as ações militares, entregues ao comando da Otan.
Num comunicado oficial, o almirante americano Bill Gortney anunciou ontem que as forças da coalizão atacaram a sede do comando de uma das unidades mais leais a Kadafi - que tem sido a mais ativa nos ataques a civis, segundo o militar.
Gortney afirmou que os rebeldes obtiveram ganhos territoriais "significativos" graças à ação da coalizão. Mas ressaltou que os EUA não estão apoiando diretamente os insurgentes - embora admitisse que eles se beneficiaram dos ataques aéreos. O militar também informou que foram usadas durante o fim de semana na Líbia aeronaves que voam a baixa altitude, como os AC-130 e A-10 Thunderbolts. Esse equipamento não é usado em missões de patrulha, mas sim para apoio a tropas terrestres.

POSIÇÕES

SERGUEI LAVROV - CHANCELER RUSSO
“O envolvimento da coalizão na guerra civil líbia não foi sancionado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas”

BILL GORTNEY - ALMIRANTE AMERICANO
“Os rebeldes obtiveram ganhos territoriais significativos graças à ação da coalizão. Mas os EUA não estão apoiando diretamente os insurgentes”


Amorim critica texto de resolução sobre Líbia
Ex-chanceler diz apoiar decisão brasileira de se abster em votação que definiu a intervenção
Denise Chrispim Marin, correspondente

WASHINGTON - Na condição de "livre pensador", o ex-chanceler Celso Amorim criticou a linguagem ambígua da resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre a criação da zona de exclusão aérea na Líbia e apoiou a decisão do governo Dilma Rousseff de se abster de votar esse tema. A resolução, resumiu ele, não trouxe limites para a ação militar. Pouco antes, Amorim apontara o Oriente Médio como a região onde há a maior ameaça para o mundo na área de proliferação de armas de destruição em massa. Nesse âmbito, considerou como "peça realmente importante" a transformação política do Egito.
"Não me cabe ser paternalista nessa questão, mas acho que, nas duas votações sobre a Líbia, o Brasil votou corretamente", afirmou. "No caso das sanções, porque havia um morticínio imediato. Também fez bem em se abster na votação da zona de exclusão aérea pela linguagem ambígua, que os próprios americanos reconheceram existir", completou Amorim, logo depois de uma exposição na Conferência sobre Política Nuclear Internacional, promovida pelo Carnegie Endowment for International Peace.
Avesso a sanções, Amorim aceitou e justificou sua aplicação no momento em que foi revelado o massacre de civis pelo governo de Muamar Kadafi. Mas a decisão do Conselho de Segurança sobre a intervenção militar teria atravessado o limite da proteção aos cidadãos para lançá-los em uma guerra civil, em sua opinião. Para ele, a iniciativa empurrou o líder líbio a posições mais radicais. "Supondo que Kadafi seja mesmo um monstro selvagem, era preciso deixar aberta uma porta para ele sair", aconselhou. "A situação é muito complexa."
O Egito mais pluralista e democrático, segundo Amorim, mudará completamente a geopolítica do Oriente Médio, com ressonância nas negociações de paz entre israelenses e palestinos, no isolamento do Irã e na busca por armas de destruição em massa. A questão, para ele, não pode ser avaliada como "preto no branco".
No caso do Irã, Amorim ainda vislumbra a possibilidade de retomada do acordo de troca de urânio enriquecido por combustível nuclear, firmado em maio com o Brasil e a Turquia. O problema estaria na negociação de novas quantidades de urânio e de combustível envolvidas. O acordo de maio foi descrito por Amorim como uma "oportunidade perdida".
Em sua exposição ao público, o ex-chanceler reiterou o direito do Irã de enriquecer urânio a 20%, conforme regras do Tratado de Não Proliferação Nuclear. Mas omitiu o fato de esse direito ter sido suspenso por resolução do Conselho de Segurança por causa da perda de confiança no objetivo pacífico do programa iraniano. "Não acho que fomos ingênuos", insistiu, contrariando críticas vindas principalmente do governo americano. "Fizemos a coisa certa", completou Amorim, que determinou o voto contrário às novas sanções ao Irã, aprovadas em junho.
Em sua conhecida retórica sobre o irrisório desarmamento das potências nucleares, Amorim defendeu ontem a criação de uma agência dedicada a monitorar e pressionar pelo desmantelamento de arsenais atômicos.


Explosão deixa mais de 100 mortos no Iêmen
Autoridades investigam razões da tragédia em indústria de munição e suspeitam da ação de grupos islâmicos
29 de março de 2011 | 0h 00

Gustavo Chacra - O Estado de S.Paulo

Em meio a um impasse sobre a transição de poder no Iêmen, uma fábrica de armamento tomada por militantes no domingo explodiu ontem, deixando mais de cem mortos na Província de Abyan, no sul do território iemenita. A maioria das vítimas é civil. O episódio, inicialmente atribuído à rede Al-Qaeda, assustou as autoridades americanas.
No domingo, as informações indicavam que a fábrica, assim como um prédio público, teriam sido ocupados pela rede terrorista. Ontem, moradores disseram que, na realidade, rebeldes separatistas do sul do Iêmen, que se unificou há apenas 21 anos, seriam os verdadeiros responsáveis pela ação.
Tampouco estava claro se a explosão ocorreu em um bombardeio de forças governamentais, por acidente ou por sabotagem dos próprios militantes.
Os separatistas do sul têm se aproveitado da crise do governo do presidente Ali Abdullah Saleh para tentar levar adiante seu movimento.
A Al-Qaeda já vinha usando o território iemenita nos últimos anos para organizar operações terroristas ao redor do mundo. Os EUA atuam ao lado de forças iemenitas para tentar conter a rede terrorista.

Temor de caos. Anteontem, o secretário da Defesa, Robert Gates, confirmou que os americanos estão preocupados com a situação iemenita. Diferentemente de outros países, há o temor de que o fim do regime leve ao caos. Autoridades americanas estão em Sanaa tentando negociar uma saída diplomática para a transição de poder que não coloque em risco os interesses de Washington.
Apesar do envolvimento americano, os dois lados mantinham o impasse sobre como será a transição de poder de Saleh para outras forças. O líder iemenita já concordou em deixar o cargo até dezembro, após 32 anos. Mas exige algumas garantias e não aceita fazer mais concessões.
Membros da oposição, publicamente, também demonstram insatisfação. Mas os dois lados permaneciam negociando ontem em busca de uma solução. Mesmo antes dos levantes, a oposição iemenita era relativamente organizada, principalmente se comparada a outros países.

O acerto entre os dois preveria uma reforma da Constituição para a realização de eleições presidenciais e parlamentares. Saleh quer permanecer até o fim da transição, mas os opositores querem que ele deixe o poder imediatamente.
"Estes que estão famintos pelo poder deveriam defender eleições em vez do caos. Eles conseguirão o poder se confiarem no povo", disse Saleh em discurso ontem. Uma das estratégias do presidente é dizer que o Iêmen caminhará para confrontos militares caso ele deixe o cargo imediatamente.

Conflitos. O Iêmen possui uma série de conflitos simultâneos, além da disputa do poder em Sanaa. Primeiro, há o movimento separatista do sul, que estaria envolvido no episódio da explosão da fábrica ontem.
A segunda disputa é dos rebeldes houthis contra as tropas do governo no norte. A Al-Qaeda também opera a partir de áreas isoladas. Para completar, uma série de tribos possui conflitos domésticos.
No Iêmen, em outro agravante, a maior parte da população adulta é armada. Analistas temem que o país, considerado o mais pobre do mundo árabe, se transforme em uma Somália.


CRISE NUCLEAR
Japão encontra plutônio no solo de usina
Autoridades nucleares japonesas não descartam possibilidade de que material contamine o mar

Cláudia Trevisan - O Estado de S.Paulo

A crise nuclear no Japão voltou a se agravar ontem, com a informação de que a água com elevados níveis de radiação encontrada no local pode ter vindo do reator nº 2 e de que traços de plutônio foram achados em cinco pontos do solo da usina de Fukushima.
O plutônio é um combustível mais tóxico do que o urânio e é utilizado em apenas um dos seis reatores da planta, o de nº 3. Na sexta-feira, o porta-voz da agência de segurança nuclear, Hidehiko Nishiyama, disse que é provável que a estrutura do reator tenha sido danificada pelo duplo desastre natural que atingiu o Japão há 18 dias, o que teria reduzido sua capacidade de conter vazamentos de material radioativo.
O aumento da quantidade de água contaminada em diferentes locais da usina dificulta a tentativa de restabelecimento do sistema de resfriamento dos reatores e compromete os esforços para evitar seu superaquecimento. Além do reator nº 2, o material também foi localizado em canos embaixo dos reatores nº 1 e 3 e há o temor de que ele transborde e termine no mar ou no solo.
A Tokyo Electric Power Company (Tepco) anunciou ontem a redução de 16 toneladas para 7 toneladas na quantidade de água que é injetada a cada hora na usina, em uma tentativa de conter a acumulação de água contaminada. A medida, porém, traz o risco de que a temperatura nos reatores volte a subir perigosamente.
Os responsáveis pela usina enfrentam ainda o desafio de drenar e estocar a água com radiação de maneira segura. Enquanto isto não for feito, é pouco provável que os técnicos consigam religar os cabos que restabelecerão o fornecimento de energia para a usina, o que permitirá a volta do sistema de bombeamento de água para os reatores.
Na quinta-feira, dois funcionários da Tepco foram contaminados ao pisar em uma poça de 15 centímetros de profundidade no reator nº 2. Ontem, a empresa anunciou que a água no local apresentava níveis de radiação 100 mil vezes superior aos padrões normais.
A concentração é suficiente para provocar danos imediatos à saúde. Segundo tabela da Agência de Proteção Ambiental dos EUA, a quantidade de radiação presente na água do reator nº 2 pode provocar hemorragia, náusea, fadiga, vômito, queda de cabelo e diarreia.
Diante da dificuldade para conter a crise, a Tepco pediu ajuda a empresas francesas. O porta-voz do governo japonês, Yukio Edano, apelou aos moradores da área de 20 km ao redor da usina para que não voltem a suas casas, depois de a prefeitura de Fukushima ter informado que muitos estavam retornando ao local.
Os habitantes da região tiveram de deixar suas residências às pressas, sem saber por quanto tempo ficariam fora. Muitos levaram apenas a roupa que usavam. Agora, enfrentam a possibilidade de não poderem jamais voltar a suas casas. Edano disse que o governo monitorará a situação e informará quando os moradores podem retornar ao local por curtos períodos, para pegar roupas e outros pertences.


ARGENTINA
Governo incentiva ataque à imprensa, diz ''Clarín''
Principal jornal da Argentina acusa a Casa Rosada de omissão por não atuar contra o piquete que impediu a circulação de sua edição de domingo

Marina Guimarães - O Estado de S.Paulo

O jornal argentino Clarín acusou ontem o governo da presidente Cristina Kirchner de ter sido omisso no episódio do piquete que impediu a circulação de sua edição de domingo. "O governo não fez nada para evitar o bloqueio, nem para cumprir a ordem judicial que garante o direito de livre circulação do jornal", disse ao Estado o editor geral adjunto do Clarín, Ricardo Roa.
Esse foi o quinto piquete nos últimos cinco meses, mas o primeiro a impedir a total distribuição do jornal. "Nem nos tempos da ditadura fomos impedidos de circular. É a primeira vez em 65 anos que deixamos de ser distribuídos", lamentou Roa.
Em janeiro, o Clarín obteve uma liminar para evitar que qualquer manifestação em sua gráfica impedisse a circulação do jornal. No domingo, porém, os poucos policiais que apareceram não tentaram dissipar o piquete. "Foi uma ação de intimidação política, um aperto para que não se fale de corrupção", disse o jornal em seu editorial, em referência a uma reportagem sobre o incremento do patrimônio do líder sindical Hugo Moyano, aliado de Cristina.
Em sua primeira edição após o piquete, o Clarín publicou duas capas: uma em branco, para repudiar o bloqueio; outra habitual, com títulos e chamadas. "A capa em branco é um símbolo do silêncio forçado", escreveu o editor geral, Ricardo Kirschbaum.
O jornal é o maior da Argentina, com uma tiragem diária média de 350 mil exemplares - 720 mil aos domingos. O piquete foi feito por empregados de uma das empresas do Grupo Clarín, que estavam acompanhados por ativistas kirchneristas e sindicalistas ligados a Moyano. O governo rejeita as acusações e atribuiu o fato a um conflito trabalhista.
Roa, contudo, desmentiu a existência de problemas com seus empregados. "Não temos nenhum conflito trabalhista em nenhuma das empresas. O governo é cínico", afirmou. Há dez dias, a Confederação Geral do Trabalho (CGT), liderada por Moyano, havia ameaçado com piquetes os meios que publicassem denúncias contra o sindicalista.
A promotora Marcela Solano pediu à polícia federal argentina explicações sobre o descumprimento da decisão da Justiça que garante a circulação do jornal. Para a senadora da Coalizão Cívica, Maria Eugenia Estensoro, de oposição, o governo está impedindo a liberdade de expressão na Argentina.
"Para nós, o mais grave não foi o bloqueio em si, mas sim o fato de que o governo não tenha atuado para evitá-lo", acusou Roa. O deputado da União Cívica Radical (UCR), Miguel Angel Giubergia, também opositor, apresentou na Câmara um pedido de julgamento político da ministra de Segurança, Nilda Garré, por desobedecer à Justiça. O depoimento dela está marcado para amanhã.
O advogado do Clarín, Maurício de Nuñez, apresentou duas denúncias contra o governo pelo mesmo motivo. Ele pediu que os responsáveis pelo piquete sejam punidos. Para o analista Adrian Ventura, mesmo que o piquete tivesse sido por causa de um problema trabalhista, a Constituição argentina garante a liberdade de expressão.
"Desde 2003, o governo foi tratando de manipular os meios de comunicação e se aproveita da estratégia dos caminhoneiros, porque é funcional", disse. Cristina e o Clarín travam uma queda de braço desde 2008, quando o jornal defendeu a bandeira dos produtores rurais na briga contra a alta dos impostos de importação.

FONTE: JORNAL ESTADO DE SÃO PAULO

Nenhum comentário:

Postar um comentário