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quinta-feira, 31 de março de 2011

31 de março de 2011 - JORNAL DO COMMERCIO


HISTÓRIA
Os EUA no Golpe de 64
Série que a TV Brasil exibe, a partir do dia 4, conclui que a participação dos EUA na conspiração foi maior do que se supunha

Wilson Tosta
Agência Estado

RIO – Gravações inéditas de conversas dos presidentes dos EUA John Kennedy (1961-1963) e Lyndon Johnson (1963-1969) com o embaixador no Brasil Lincoln Gordon sobre o presidente João Goulart e o golpe de 64 – que hoje faz 47 anos – destacam-se na série O Dia que durou 21 anos, que a TV Brasil exibe nos dia 4, 5 e 6 de abril. Obtidos nas bibliotecas americanas dedicadas aos dois mandatários da Casa Branca nos anos 60, os registros, feitos oficialmente desde 1961, mostram indícios de que a participação dos EUA na movimentação militar foi maior do que se supunha. Até a possível ação de aviões militares americanos para apoiar os conspiradores brasileiros na luta que os Estados Unidos esperavam demorada e sangrenta – e que não aconteceu – foi preparada.
“Apoio aéreo pode ser fornecido imediatamente se houver campo de pouso em Recife ou em outro lugar no Nordeste do Brasil capaz de receber aviões de grande porte com segurança e disponibilidade”, diz, em uma gravação, o secretário de Estado Dean Rusk. A movimentação seria parte da Operação Brother Sam, o deslocamento, em apoio aos conspiradores, de uma frota naval americana para a costa brasileira, com navios militares, inclusive um porta-aviões, petroleiros com combustível e barcos com armas e bombas de gás.
O diretor da série, Camilo Tavares, da produtora Pequi Filmes, explica que o trabalho é uma versão “pequena e resumida” do documentário ainda em montagem e que deverá estar nos cinemas em dois meses. “Será o mesmo universo, só que mais aprofundado”, explica. A pesquisa, informa, foi feita por uma equipe capitaneada por seu pai, o jornalista Flávio Tavares, e incluiu, além das gravações da John Kennedy Library e da Lyndon Johnson Library, liberadas após 40 anos, documentos da Central Intelligence Agency (CIA) e da Casa Branca. Depoimentos de historiadores dos EUA, como John Green, da Brown University, e do Brasil, como Carlos Fico, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e de um ex-assessor de Gordon, Robert Bentley, ajudam a completar o quadro.
“A pesquisa levou um ano e meio e envolveu de 20 a 25 pessoas”, diz Camilo. A produção, em parceria com a TV Brasil, foi financiada com recursos da Lei Rouanet e teve apoio do Ministério da Cultura, além des patrocínios como o da Eletrobrás.
Os três episódios, de 25 minutos ou pouco mais, são fortemente construídos em torno da figura de Gordon. Ele aparece, em abril de 62, em conversa com Kennedy, que pergunta: “Você acha que Goulart, se tivesse poder, agiria?” Gordon responde: “Acho que faria algo como Perón ou algo assim”. O presidente retruca: “Um ditador”. “Um ditador pessoal e populista”, completa Gordon.
“Acho que não posso fazer nada com ele ali”, diz Kennedy. “Acho que pode”, fala o diplomata. Adiante, Kennedy diz: “O fundamental é organizar as forças políticas e militares para reduzir o seu poder e num caso extremo afasta-lo.” “Foi o sinal verde para Gordon de que tinha a autorização do presidente para organizar a conspiração”, diz Green.
Flávio Tavares, produtor da série, afirma que o filme terá abordagem mais ampla, com detalhes que não puderam entrar na versão televisiva.


Com armas, major Curió é preso

Tatiana Farah
Agência O Globo

SÃO PAULO – O oficial da reserva Sebastião Curió, um dos chefes da repressão à Guerrilha do Araguaia, foi preso terça-feira (30) em sua casa, em Brasília, durante operação de busca e apreensão a documentos da ditadura. Os agentes federais buscavam documentos que pudessem ajudar na localização de corpos das vítimas da guerrilha. Segundo a Superintendência da Polícia Federal (PF) do Distrito Federal, o major Curió guardava em casa armas sem o devido registro de porte, o que resultou na prisão.
A PF não informou quantas armas e quais os modelos do armamento encontrado sem registro. Depois de prestar depoimento à Justiça Federal e aos policiais federais, Curió foi levado para o Batalhão de Polícia do Exército, uma vez que é militar, onde está preso.
Os agentes e o procurador da República Paulo Roberto Galvão foram até a casa de Curió para tentar resgatar documentos do período da ditadura (1964-1985), em especial de sua atuação durante a Guerrilha do Araguaia, nos anos 70. Curió já afirmou em entrevistas que possuía farto material com detalhes das mortes dos guerrilheiros. Em sua casa foram apreendidos papéis, um computador e as armas. O Ministério Público Federal (MPF) vai submeter o computador a análise em busca de documentos que possam estar digitalizados. Entre os papéis encontrados pelo MPF estão páginas de documentos antigos com o selo “confidencial”. No entanto, a instituição não confirmou se o material pode ajudar na localização dos corpos dos guerrilheiros enterrados no Araguaia (TO).
A busca por documentos é uma resposta a uma ação movida na 1ª Vara Federal por 22 familiares de 25 vítimas da repressão à Guerrilha do Araguaia. Eles querem saber o destino dado a esses guerrilheiros, localizar os corpos e realizar seus funerais. Curió foi o principal nome dos militares na repressão à guerrilha movida pelo PCdoB e por camponeses. O MPF no Pará registra diversas denúncias de supostas ameaças de Curió para que testemunhas não apontem os locais onde possam estar essas ossadas.
“Era o que precisava ser feito desde a sentença da Justiça Federal, em 2007: essa busca aos documentos. E espero que sejam feitas outras”, disse Criméia de Almeida, da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos. Ela era esposa do desaparecido político André Grabois, um dos líderes da guerrilha.


A semente do Memorial da Democracia

Gilvan Oliveira

O governo do Estado entregou ontem o projeto do Memorial da Democracia, museu dedicado à exposição de dados referentes às ditaduras militar (1964-1985) e Vargas (1937-1945), que será instalado no Recife. O projeto, orçado em R$ 6 milhões, será dedicado também à memória das lutas libertárias pernambucanas, com destaque aos movimentos de emancipação política do Século XIX, como a Revolução Pernambucana de 1817 e a Confederação do Equador, de 1824.
Mas, apesar de apresentado como projeto pioneiro do País, não há previsão orçamentária nem prazo para tirá-lo do papel. A secretária estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, Laura Gomes, informou que o governo vai em busca de parceiros para financiar o museu. O Ministério da Justiça e a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) estão entre os potenciais parceiros que o governo tentará atrair, informou Laura.
A cerimônia de entrega do projeto foi comandada pelo vice-governador João Lyra Neto (PDT) – o governador Eduardo Campos (PSB) estava em Brasília, no velório do ex-vice-presidente José Alencar. A apresentação do Memorial da Democracia é um dos eventos em Pernambuco do Marcas da Memória, do Ministério da Justiça, que segue hoje, quando se completam 47 anos do golpe militar de 64 e vai até sábado (2) com debates, o lançamento do livro Segredo de Estado – Desaparecimento de Rubens Paiva, do jornalista paulista Jason Tércio, e a apresentação da peça Filhas da Anistia.
O projeto do museu pernambucano é uma parceria do governo com a Prefeitura do Recife e a Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Ele prevê espaços distintos para exposição dos registros das duas ditaduras e dos movimentos libertários pernambucanos. Estão previstos espaços educativos para estudantes. O Memorial será instalado no prédio do Liceu de Artes e Ofícios, de propriedade da Unicap. Ele segue padrões dos museus modernos, com todo seu acervo de fotos e documentos digitalizado. Uma outra iniciativa do gênero está em curso em Belo Horizonte, do Memorial da Anistia.
O gerente geral da secretaria de Desenvolvimento Social, Paulo Moraes, informou que o acervo do futuro museu virá do Arquivo Público Estadual, do movimento Tortura Nuca Mais, de outros órgãos públicos que serão contactados para cederem dados – caso da Assembleia Legislativa – e até do acervo pessoal de militantes políticos. Moraes informou que o governo estadual tinha assegurado R$ 2 milhões para o Memorial, mas os recursos foram atingidos por cortes no orçamento. Mesmo assim, ele garantiu que esses recursos devem ser repostos.


Indenização para a médica torturada

No mesmo ato de apresentação do Memorial da Democracia, o governo do Estado anunciou o pagamento de mais 11 indenizações a Anistiados políticos em Pernambuco. O total das indenizações é de R$ 342 mil – nove dos indenizados receberão R$ 30 mil, um deles, R$ 22 mil, e o último, R$ 20 mil. Esses foram os últimos casos de reparação a Anistiados. Segundo o gerente geral da secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, Paulo Moraes, não há mais casos a serem analisados.
Entre os indenizados ontem estão três integrantes de uma mesma família: a médica ginecologista Geraldina de Lima Santos, 67 anos, e os pais dela, os aposentados Severino Correia de Lima e Lenira da Silva de Lima, ambos com 85. E o caso que gerou o direito à indenização foi mais um fato obscuro e sem registro oficial.
Em uma manhã de 1973, homens encapuzados foram à casa onde moravam a médica e seus pais, no Recife. Ela tinha acabado de ter a segunda filha havia sete dias. Mesmo assim, foi amarrada e encapuzada junto com os pais e levados para um local que ela diz não saber. Lá, conta, foi separada dos pais, amarrada, pendurada e agredida com socos e pontapés. Depois, foi levada a uma sala para interrogatório. O objetivo era saber o paradeiro de militantes políticos de esquerda.
Geraldina conta que havia prestado assistência médica e até fornecendo cestas básicas a vários militantes amigos, presos pela repressão, mas nunca militado na política. E a sua detenção, junto com a dos pais, foi para forçá-la a informar o paradeiro dos que estavam em liberdade.
“Eu não sabia do paradeiro de ninguém. Esse episódio me marcou muito e a meus pais também. Perdi o leite em plena amamentação. Meu pai, que era motorista, e minha mãe, dona de casa, ficaram a vida toda com medo. Tivemos sequelas psicológicas com esse fato”, explica.
Geraldina conseguiu provar o caso à Comissão da Anistia do governo do Estado graças aos depoimentos de militantes presos na mesma época que ela. A médica disse que procurou o Arquivo Público Estadual, mas não encontrou registro dos fatos. “Isso é um reconhecimento e um resgate da dignidade. Só quem passou por isso sabe o que é essa violência”, desabafou.


ARTES CÊNICAS
Ditadura militar entra em cena

Na mesma semana em que foi ao ar a polêmica participação do deputado Jair Bolsonaro no CQC, que entre outros pontos fazia menções ao período da ditadura militar, uma peça de teatro traz questões sobre este período da história brasileira. Filha da anistia, da Caros Amigos Cia. de Teatro (SP), será encenada de hoje a domingo, sempre às 20h, no Teatro Apolo. A entrada é gratuita e os ingressos são distribuídos uma hora antes do espetáculo.
O texto do espetáculo mostra uma jovem advogada em busca do pai, que ela não conheceu. Esta revelação do passado familiar da personagem pode ser lido como algo mais amplo: “uma metáfora dos desencontros de uma família despedaçada pela ditadura”, como eles definem, e discussões atuais sobre os direitos humanos.
Isto é feito em meio a uma cenografia simples, que utiliza caixas de papelão. Na proposta, a violência aparece nos diálogos, mas não se traduz em cenas de tortura, por exemplo. O espetáculo é dirigido por João Otávio e os personagens são interpretados pelos atores Carolina Rodrigues e Alexandre Piccini, que também são co-autores do texto.
A peça estreou em São Paulo, em março de 2010, após três anos de pesquisa em arquivos públicos e bibliotecas. Em parceria com o Projeto Marcas da Memória (da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça), a Caros Amigos Cia. de Teatro está em um circuito para apresentar este espetáculo em seis capitais a partir de março. Além do Recife, eles passam por Fortaleza, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Teresina e Brasília. O projeto tem um perfil crítico. Após as apresentações, o grupo realiza debates com participação do público e de convidados que participaram da resistência à ditadura. No Recife, foi escolhido o jornalista, escritor e artista plástico Alípio Freire.



ACIDENTE DA GOL
Piloto americano culpa controladores
Em depoimento prestado por videoconferência, o americano Jan Paul Paladino afirmou que ordem para que permanecesse na mesma altitude do Boeing da Gol partiu da torre de controle de Brasília

BRASÍLIA – Em depoimento de quase sete horas, prestado por meio de videoconferência, o piloto americano Jan Paul Paladino afirmou ontem que recebeu instruções da torre de controle aéreo de Brasília, quando sobrevoava a cidade no jato Legacy da Embraer, para prosseguir a 37 mil pés, mesma altitude em que vinha de Manaus o Boeing da Gol com o qual se chocou em agosto de 2006.
Conforme o plano de voo, Paladino deveria baixar para 36 mil pés ao cruzar a cidade e seguir nessa altitude até o ponto virtual Teres, quando deveria subir para 38 mil pés e seguir assim até sair do espaço aéreo brasileiro. Mas o piloto não questionou a ordem do controlador e seguiu na rota até a colisão. O acidente matou os 154 passageiros e tripulantes do voo da Gol.
O Legacy, mesmo avariado, conseguiu pousar na base aérea da Serra do Cachimbo, em Mato Grosso. Paladino disse que teve sérias dificuldades de comunicação com os controladores de tráfego aéreo brasileiros, que em geral não dominam o inglês, e negou que o transponder do Legacy, equipamento que poderia ter evitado o desastre, tenha sido desligado durante o voo.
Mas complicou-se ao explicar a informação contida na caixa-preta e confirmada em vários laudos periciais, de que o transponder foi desligado durante o voo, possivelmente por distração. A maior prova é um diálogo do piloto com o auxiliar logo após o choque, em que os dois constatam que o equipamento estava desligado, e 35 segundos depois ele aparece ligado, no registro da caixa-preta. “Não houve, da minha parte, nenhuma ação voluntária para ligar ou religar o transponder”, disse Paladino, confirmando ainda que nunca havia pilotado um jato Legacy. Disse, no entanto, ter pilotado aviões similares.
Ele falou de Nova Iorque ao juiz federal Murilo Mendes, que estava no Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça, em Brasília. Segundo o ministério, foi a primeira vez que a Justiça brasileira fez um depoimento com videoconferência internacional. Hoje será ouvido o copiloto Joseph Lepore.
É a primeira vez que os dois prestam depoimento oficial à Justiça brasileira. Acusados de “atentado contra a segurança da aviação”, por atitude negligente, mas sem dolo, os dois podem ser condenados a até cinco anos de reclusão, mais multa, e ainda podem perder o brevê.
Paladino disse que a aviação brasileira tem, no geral, a mesma complexidade da americana, mas reclamou da “grande barreira da língua” que encontrou no contato com os controladores de tráfego do País. Afirmou também que houve atraso na entrega do plano de voo, o qual só recebeu meia hora antes da partida, e mal os dois tiveram tempo de conferir as coordenadas.
“Ele deu uma versão previsível, combinada com advogados, para explicar o inexplicável e fugir das responsabilidades que tiveram no acidente”, afirmou o promotor Dante D’Aquino. Os pilotos responderão pelo crime juntamente com dois controladores de Brasília que estavam de plantão na hora do acidente.
A Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Voo 1907 realizou ontem manifestações nas cidades de São Paulo, Porto Alegre, Brasília e Manaus, simultaneamente. Amigos e parentes distribuíram panfletos e exibiram faixas pedindo a condenação dos dois pilotos.



MATO GROSSO
Parte de teto de aeroporto desaba

CUIABÁ – Uma pessoa foi atingida na tarde de ontem pelo desabamento de parte do forro de gesso do setor de desembarques do aeroporto Marechal Rondon, em Várzea Grande, perto de Cuiabá, em Mato Grosso. O terminal é o mais importante do Estado e aguarda reforma e ampliação para os jogos da Copa de 2014 no Estado.
De acordo com a assessoria de imprensa da Infraero, o incidente ocorreu durante serviços de manutenção em um condicionador de ar instalado no teto. O desabamento foi atribuído pela empresa a um choque acidental ocorrido durante o trabalho.
Toda a porção de gesso ao redor do aparelho – cerca de seis metros quadrados – cedeu e caiu sobre guichês de duas locadoras de veículos. Um cliente, ainda não identificado, foi atingido quando tentava proteger a filha e sofreu escoriações leves na cabeça.
Funcionários dos guichês disseram que já haviam informado a Infraero sobre infiltrações no forro de gesso. “Já tínhamos alertado sobre a situação precária do teto, mas nos disseram que era preciso mandar uma carta para a sede da Infraero”, disse o atendente Michael Douglas, 21 anos. Douglas, que quase foi atingido pelo desabamento, confessou ter medo de novos incidentes. “Há outros pontos de infiltração e rachaduras. Nosso medo é que caia o resto do forro”, afirmou.



CONGRESSO
Bolsonaro diz estar se “lixando” para críticas
Acusado de fazer declarações racistas e homofóbicas, deputado diz não ter entendido a pergunta, ataca os críticos, condena a Frente Gay da Câmara e afirma que já passou por momentos piores na Casa


BRASÍLIA – Ao passar pelo velório do ex-vice-presidente José Alencar, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) voltou a fazer ataques a homossexuais, à cantora Preta Gil e até ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Ele é acusado de fazer declarações racistas e homofóbicas em entrevista ao programa CQC, da Rede Bandeirantes. “Eu estou me lixando para esse pessoal aí”, disse ele, referindo-se a quem o chama de homofóbico. “Agora criaram a Frente Gay (na Câmara dos Deputados). O que esse pessoal tem para oferecer? Casamento gay? Adoção de filhos? Dizer pra vocês, que são jovens, que se tiverem um filho gay é legal, vai ser o orgulho da família? Esse pessoal não tem nada para oferecer”, disse ele.
Bolsonaro voltou a dizer que a declaração sobre Preta Gil ocorreu por ele não ter entendido a pergunta. “Eu fui entrevistado por um laptop, respondi a um laptop”, disse.
Sobre o processo de quebra de decoro protocolado na Corregedoria da Câmara, o deputado afirmou que já passou por momentos piores na Câmara e que é vítima porque é “detestado” pelo movimento LGBT e pela extrema-esquerda ideológica. “Soldado que vai à guerra e tem medo de morrer é um covarde”, disse ele, reforçando que está no Congresso para lutar.
Bolsonaro disse que tem batido duramente no projeto do governo para distribuição do que chamou de “kit gay” nas escolas. Perguntado se é homofóbico, o deputado disse que não tem “nada pessoal contra gays”. “Cada um faz o que quer com esse corpinho cabeludo entre quatro paredes.”
Ao falar da cantora Preta Gil e de uma possível ação dela na Justiça, Bolsonaro citou publicações do blog da artista. “Que exemplo ela tem de vida para dar para todos nós para falar de ética?”, indagou.
Sobre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, afirmou que o ex-presidente “demarcou malandramente” as melhores e mais ricas terras do Brasil como áreas indígenas.
Ontem, o jornalista e blogueiro Fernando Gabeira defendeu um “trabalho pedagógico” para Bolsonaro. Para Gabeira, que foi deputado federal entre 1994 e 2010, um trabalho pedagógico com Bolsonaro pode ser mais eficaz “do que realmente puni-lo com perda de mandato”.
“Acho que, dessa vez, ele perdeu completamente o tom e realmente fez uma declaração racista”, disse Gabeira. “Ele agora procura mostrar que não era bem o que ele queria dizer. Porque ele foi surpreendido, segundo ele, com a imagem da Preta Gil. E achou que Preta Gil ia perguntar se o filho dele casaria com gay, não com uma negra. Mas ele escapa de um preconceito para o outro. Na verdade, ele continua preconceituoso.” O jornalista, que atuou na luta contra a ditadura, contou que Bolsonaro sempre pedia a sua prisão quando chegou à Câmara. “Até que um dia eu falei: ‘Ô Bolsonaro, se você vai pedir a minha prisão, me avisa antes para eu poder escapar, porque eles podem levar a sério’. Ele nunca mais pediu a minha prisão”, lembrou. E completou: “Mas ele continua falando coisas que são muito desagradáveis”.



Já são quatro ações na corregedoria

BRASÍLIA – O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), encaminhou ontem quatro representações contra o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) para serem analisadas pela Corregedoria da Casa. As ações dizem respeito às declarações do deputado em entrevista ao programa CQC da TV Bandeirantes. Respondendo a uma pergunta da cantora e apresentadora Preta Gil sobre o que faria se seu filho casasse com uma negra, o deputado afirmou que não iria discutir “promiscuidade”. No mesmo programa, o deputado ainda afirmou que torturaria seu filho se o encontrasse fumando maconha e que não pensa que seu filho possa ser homossexual porque ele teve “boa educação”.
As ações encaminhadas foram protocoladas pela Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, pela seccional do Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), pelo deputado Edson Santos (PT-RJ) e pela Comissão de Direitos Humanos, assinada por um grupo de 19 deputados. Hoje deve ser protocolada ainda mais uma representação da Procuradoria da Mulher da Câmara dos Deputados.
Com o encaminhamento, caberá ao corregedor, Eduardo da Fonte (PP-PE), dar um parecer à mesa diretora sobre o tema para que seja decidido se Bolsonaro vai ou não para o Conselho de Ética. O deputado terá cinco dias para se defender após ser notificado pela Corregedoria.
Aos 56 anos, começando seu sexto mandato seguido na Câmara, Bolsonaro habituou-se, na vida pública, a produzir frases polêmicas. Até agora, sobreviveu a seis pedidos de punição, na Câmara, por ataques a autoridades ou declarações que resvalaram para a quebra do decoro. “Com que moral vão me cassar aqui?”, indagou ele, sobre os pedidos de cassação – todos arquivados ou resumidos a moções de censura. Sua vocação para polêmica vem de longe. Como capitão de Exército, em 1986 ficou 15 dias preso e foi depois absolvido pelo Supremo Tribunal Militar. E se marcou, na carreira, pela defesa do regime militar de 1964.




TRABALHO
Retomada, enfim, a obra da refinaria
Mais de 30 mil funcionários da Abreu e Lima e da PetroquímicaSuape voltaram ao trabalho ontem. Mas o sindicato e as empresas ainda vão negociar

Adriana Guarda

Numa assembleia que durou 3 horas, os 34 mil operários das obras da Refinaria Abreu e Lima (Rnest) e da PetroquímicaSuape acataram a decisão judicial de voltar ao trabalho, na manhã de ontem, mas com a ressalva de discutir o abono dos dias parados com as empresas.
Como se antevia, as lideranças sindicais encontraram dificuldade em convencer os funcionários a encerrar a greve, mesmo com a obrigatoriedade imposta pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT), no julgamento da terça-feira passada.
Depois da assembleia, que acabou às 10h, o Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon) reuniu os representantes das empresas na Rnest para informar sobre a decisão judicial e decidir as próximas ações. A advogada do Sinicon, Margareth Rubem, diz que as empresas vão entrar com recurso no Tribunal Superior do Trabalho (TST), questionando o valor do vale alimentação de R$ 160 e o pagamento das hora extras de 100% aos sábados, deferidos pelos desembargadores do TRT de Pernambuco. “Acreditamos que o social se sobrepôs ao jurídico. Temos uma convenção coletiva vigente até 31 de agosto e a discussão dessas reivindicações econômicas deveriam ficar para a data base.” A advogada também questionou a condução das lideranças sindicais junto aos operários na assembleia de ontem para decidir pela volta ao trabalho. “Ficou evidente que eles estão condicionando o retorno dos funcionários ao canteiro ao abono dos dias parados. Mas são eles que precisam acatar uma decisão judicial, que declarou a abusividade da greve e autorizou os descontos”, observa, lembrando que as empresas continuam dispostas a negociar, mas que a condição para isso é a retomada das obras.
A assembleia de ontem começou um tanto confusa. Em alguns momentos os operários pareciam não entender o que sugeriam as lideranças, que usavam vocabulário rebuscado para o povão do chão de fábrica. Depois de comemorar os ganhos econômicos, chegou a parte difícil de explicar o desconto dos dias parados. Três propostas foram apresentadas e os trabalhadores discordaram de todas. A primeira seria compensar os dias com meia a hora a mais de expediente por dia. A segunda foi o desconto dos dias e a terceira deixar o saldo das faltas para ser descontado na rescisão de contrato.
Sem consenso na votação, o vice-presidente da Confederação dos Trabalhadores na Indústria da Construção, Adalberto Galvão (conhecido como Bebeto), desceu do carro de som e foi para o meio dos operários, carregado nos braços por dois homens. A ideia era ouvir as opiniões. Poucos minutos depois, o líder sindical voltou com a proposição de voltar ao trabalho com abono integral dos dias parados, mas com a promessa dos operários de que os itens vale alimentação e horas extras só voltariam à pauta de reivindicação em agosto de 2012, ficando de fora da próxima data base. Dois dos sindicalistas desceram do palanque e disseram ter ido levar a proposta às empresas.
A advogada Margareth Rubem afirmou que até o final da tarde de ontem não havia recebido qualquer solicitação formal do pleito pelos trabalhadores. Os representantes dos trabalhadores também afirmaram na assembleia que a empresa se comprometeu a não realizar qualquer desconto até o final de abril, mas a advogada explica que a folha salarial é gerada no dia 25 e que, por isso, não seria possível fazer qualquer desconto agora.
Já Galvão comemorou o desfecho da greve, dizendo que as novas lideranças tiveram papel importante em tirar as manifestações grevistas em Suape das páginas policiais para o campo do direito. “A partir de agora a política será criar comissões de trabalhadores dentro de cada uma das obras para avaliar as dificuldades e anseios de cada uma, buscando o diálogo, evitando a greve e elaborando uma pauta de reivindicação alinhada ao que o trabalhador deseja”, adianta.
Ao final, a assembleia contou com leitura de poema, gritos de guerra e uma prece. Depois, sob o som do hino da Força Sindical, o Exército de 34 mil operários marchou de volta para o canteiro de obras, colocando um fim (pelo menos por enquanto) a maior greve da história de Pernambuco.

fonte: JORNAL DO COMMERCIO

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