DESTAQUE DE CAPA
BC aumenta os juros pela 2ª vez no governo Dilma
Para conter a inflação, o Banco Central elevou, pela segunda vez no governo Dilma, a taxa básica de juros do país em 0,5 ponto percentual, fixando-a em 11,75% ao ano, o maior nível desde 2009. Nos cálculos do BC, o aperto monetário nos últimos três meses já equivale a 1,75 ponto percentual. Isso considera as duas altas de 0,5 ponto da Taxa Selic em 2011 e as medidas de restrição ao crédito, cujo impacto é estimado em 0,75 ponto. Segundo economistas, os últimos reajustes dos preços, que fizeram a inflação anual chegar a 6,08% - a meta do governo é de 4,5% -, devem obrigar o BC a subir os juros até junho, para 12,50%. Hoje, o Brasil terá a maior taxa real do mundo: 5,9%, contra 2% da Austrália. O governo ainda não incluiu no cenário futuro de inflação impactos negativos da crise no Norte da África e no Oriente Médio. Para a Fiesp, os juros altos vão desaquecer a economia ainda mais.
ANCELMO GOIS
Pouso forçado
Rossano Maranhão, ex-presidente do Banco do Brasil, recusou o convite de Dilma para assumir a nova Secretaria da aviação Civil, ligada à Presidência da República, com status de ministro.
Em 2007, Maranhão já havia recusado o comando da Infraero e preferido, como agora, continuar na diretoria do Banco Safra.
Aliás...
O tempo passa, o tempo voa, e encurta o espaço de manobra do governo para preparar os aeroportos para a Copa de 2014 e os Jogos de 2016.
CRISE NOS PAÍSES ÁRABES
Petróleo passa de US$100 em NY com escalada de conflito na Líbia
Companhias aéreas preveem que lucro cairá à metade com alta de custos
LONDRES, NOVA YORK, RIO e BRASÍLIA. Um ataque das forças de Muamar Kadafi em uma área próxima à infraestrutura petrolífera da Líbia provocou mais uma alta nos preços da commodity ontem, com a cotação em Nova York ultrapassando os US$100 pela primeira vez desde setembro de 2008. A Agência Internacional de Energia (AIE) estima que a produção do país tenha sido reduzida em até 1 milhão de barris por dia. Em janeiro, a produção diária era de 1,6 milhão de barris.
- É difícil saber se o governo líbio está tentando acertar a infraestrutura petrolífera no Leste ou áreas controladas pelos rebeldes. De qualquer maneira, o mercado está reagindo a essa ameaça - disse à agência Reuters Andy Lebow, operador da MF Global.
O barril do Brent, negociado em Londres, avançou 0,8%, para US$116,35, o maior patamar desde 21 de agosto de 2008. Durante o pregão, o barril atingiu US$117,81. Em Nova York, a cotação do tipo leve americano subiu 2,6%, a US$102,3.
Bolsa de SP sobe 1,57% e dólar cai 0,24%, a R$1,660
A alta dos preços do petróleo deve reduzir à metade os lucros das companhias aéreas de todo o mundo este ano, afirmou ontem a Associação Internacional do Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês). A projeção é de uma margem líquida de apenas 1,4% em 2011, contra 2,9% no ano passado.
O petróleo afetou os mercados europeu e asiático. A Bolsa de Londres fechou em queda de 0,35%, enquanto Frankfurt e Paris recuaram 0,58% e 0,81%, respectivamente. Tóquio caiu 2,4%, e Hong Kong, 1,1%.
A criação de 217 mil postos de trabalho no setor privado dos EUA em fevereiro e o Livro Bege do Federal Reserve (o banco central americano), que apontou melhora na economia, fizeram o Dow Jones avançar 0,07%. Nasdaq subiu 0,39%.
Isso colaborou para o retorno dos investidores estrangeiros à Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O Ibovespa, seu principal índice, subiu 1,57%, aos 67.281 pontos.
- Apesar do petróleo em alta, vemos as bolsas americanas com menor aversão a risco. E a Bovespa está ainda mais positiva, o que pode ser uma indicação do retorno dos investidores estrangeiros - disse o estrategista-chefe da CM Capital Markets, Luciano Rostagno, ressaltando, porém, que essa alta pode ser temporária, com novos desdobramentos no Oriente Médio alimentando a aversão a risco.
A alta no Ibovespa foi impulsionada pela Petrobras. As ações ordinárias (ON, com voto) subiram 3,27%, e as preferenciais (PN, sem voto), 2,16%. A alta foi espalhada: apenas 11 papéis do Ibovespa recuaram. TAM PN avançou 3,82%, após aprovação de sua fusão com a chilena Lan pela Agência Nacional de aviação Civil (Anac).
Já o dólar recuou 0,24%, a R$1,660, o segundo menor nível do ano. O Banco Central (BC) fez dois leilões de compra da moeda americana no mercado a termo e um no mercado à vista.
Fluxo cambial em fevereiro atinge US$6,33 bi até dia 25
Os investidores estrangeiros aceleraram as remessas de recursos para o Brasil na semana passada. De 21 a 25 de fevereiro, segundo o BC, a conta financeira - pela qual passam os investimentos estrangeiros diretos e em portfólio - ficou positiva em US$3,1 bilhões, quase 45% dos US$7,216 bilhões acumulados no mês. O fluxo cambial geral (entrada e saída de moeda estrangeira) registrava entradas líquidas de US$6,330 bilhões até 25 de fevereiro. Já a conta comercial tinha déficit de US$886 milhões.
Apesar da enxurrada de dólares, o BC reduziu suas intervenções no mercado. Na semana passada, as reservas internacionais cresceram US$1,194 bilhão por meio dos leilões do BC, contra US$2,438 bilhões na semana anterior. No mês, as atuações no câmbio somam US$7,166 bilhões. A taxa de juros elevada - ontem a Selic passou a 11,75% - também contribui para atrair dólares para o país. (Lucianne Carneiro e Patrícia Duarte, com agências internacionais).
PANORAMA POLÍTICO
Fernanda Krakovics
Batata assando
Parte do Palácio do Planalto não está gostando da postura de Rossano Maranhão, que já aceitou o convite para assumir a futura Secretaria de aviação Civil, mas está pedindo mais tempo para assumir o posto. O governo tem pressa para mostrar que está tentando melhorar as condições dos aeroportos brasileiros. Rossano teria argumentado que ainda precisa resolver algumas questões no banco Safra, de onde é presidente.
CRISE NA LÍBIA
Kadafi quer Brasil como observador da crise
EUA baixam tom sobre ação militar, e TPI anuncia investigação formal por crimes contra a Humanidade na Líbia
Cristina Azevedo
Rejeitando as acusações de assassinato de opositores, o ditador líbio, Muamar Kadafi, propôs ontem a formação de uma comissão de observadores internacionais formada por Brasil, União Africana (UA) e a Organização da Conferência Islâmica para examinar a crise no país. Num discurso de duas horas e meia a uma plateia de cerca de mil pessoas num hotel de Trípoli - incluindo os chefes dos corpos diplomáticos ainda presentes na capital e jornalistas estrangeiros - Kadafi disse ainda que pretende substituir empresas e bancos ocidentais que atuam no país por outros de Brasil, Rússia e China.
- Ele propôs uma comissão para examinar a situação in loco e citou especificamente o Brasil, a União Africana e a Organização da Conferência Islâmica - contou, por telefone, o embaixador brasileiro em Trípoli, George Ney de Souza Fernandes.
Outros países considerados amigos da Líbia foram citados por Kadafi, como Rússia e China, mas sem mencioná-los para a comissão. Para o embaixador, o convite ao Brasil se deve a sua posição internacional.
- Nossa presença na Líbia é muito forte com as empresas brasileiras. O Brasil é muito respeitado em todo o continente africano - disse o embaixador.
Procurado pelo GLOBO em Brasília, o Itamaraty informou não ter detalhes sobre a proposta de Kadafi e aguarda um comunicado oficial da embaixada em Trípoli para se pronunciar.
Gates: é preciso ataque antes de criar zona de exclusão
A proposta veio num dia em que os Estados Unidos deram um passo atrás diante de qualquer plano de intervir militarmente na Líbia - e arrastaram a comunidade internacional de volta ao campo da retórica. A Liga Árabe rejeitou intervenção estrangeira no país, e o Tribunal Penal Internacional (TPI) em Haia, na Holanda, disse ter provas suficientes para abrir uma investigação formal sobre crimes contra a Humanidade.
"Seguindo o exame preliminar das informações disponíveis, o promotor Luis Moreno-Ocampo chegou à conclusão de que uma investigação é justificada", diz um comunicado da corte.
Em Washington, o senador John Kerry, chefe da Comissão de Relações Exteriores do Senado, defendeu que os EUA estejam prontos para impor uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia e pediu recursos para "a democratização do mundo árabe". Mas, contrariando os apelos por ação, o secretário de Defesa, Robert Gates, optou pela cautela - advertindo que o fechamento dos céus só seria possível após um ataque para destruir a capacidade antiaérea de Kadafi.
Diante das advertências militares, a secretária de Estado, Hillary Clinton, também mudou o tom. Alegando que o maior temor americano é que o caos na Líbia a transforme numa "gigantesca Somália", ela afirmou que os recursos militares poderiam dar apoio logístico "a áreas necessitadas e dispostas a recebê-lo". O processo de criar a polêmica zona de exclusão aérea, advertiu, não será imediato:
- Temos um longo caminho para chegar à decisão.
A Liga Árabe pediu que o governo líbio cesse imediatamente a violência contra os opositores, mas repudiou uma intervenção externa. O secretário-geral Amr Moussa, sugeriu, no entanto, que a zona de exclusão aérea seja criada, mas com a supervisão da liga e da União Africana.
Na contramão de americanos e europeus, o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, reafirmou seu apoio a Kadafi, e o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Nicolas Maduro, pediu a criação de um bloco de países amigos da Líbia para ajudar a resolver o conflito.
Com agências internacionais
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