Pesquisar

sexta-feira, 18 de março de 2011

18 de março de 2011 - O GLOBO


DESTAQUE DE CAPA
Após uma semana, Japão tem 1º avanço contra desastre

O governo japonês obteve ontem o primeiro avanço na batalha para evitar uma catástrofe nuclear no complexo de Fukushima: milhares de litros de água foram despejados por helicópteros e caminhões-pipa para resfriar dois reatores, e uma operação bem-sucedida conseguiu viabilizar o restabelecimento de energia elétrica num outro. Embora o risco de colapso das usinas ainda não esteja descartado, o nível de radiação caiu 20 pontos. O chefe da agência nuclear da ONU disse que a situação é séria, mas estável. O G-7 anunciou uma intervenção conjunta para conter a valorização excessiva do iene que poderia prejudicar ainda mais a economia do país.


COMISSÃO DA VERDADE
Jobim, Maria do Rosário e Cardozo mostrarão união
Ministros de Dilma irão juntos à Câmara para defender o projeto

Roberto Maltchik

BRASÍLIA. Para sinalizar publicamente que o governo adotou o mesmo discurso em relação à criação da Comissão da Verdade, a presidente Dilma Rousseff determinou que três ministros defendam, juntos, a proposta na Câmara dos Deputados. Até o final do mês, Nelson Jobim (Defesa), Maria do Rosário (Direitos Humanos) e José Eduardo Cardozo (Justiça) terão audiência com o presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), para articular a aprovação do projeto.
Ontem, Maria do Rosário foi à Comissão de Direitos Humanos do Senado para negar que exista uma disputa com as Forças Armadas e assegurou que o "único sentido" da Comissão é desvendar como desapareceram e onde foram parar os corpos das vítimas da ditadura.
- Não há cisão (com as Forças Armadas). Nós queremos saber o que ocorreu com cada um que participou da luta democrática no Brasil. E apenas para isto, apenas com o sentido de encontro, reconhecendo que todas as instituições, e inclusive as instituições das Forças Armadas da atualidade, são instituições vocacionadas para a democracia - afirmou a ministra.
O GLOBO revelou na semana passada documento do Comando do Exército que protesta contra a criação da Comissão da Verdade. No texto, os militares afirmam que o único objetivo da proposta seria "reabrir feridas" do passado.

Ministra garante entendimento com militares
De acordo com Rosário, o clima é de "trabalho" e existe "entendimento" entre as Forças Armadas e o restante do governo.
- As Forças Armadas da atualidade são parte de um processo de aprofundamento democrático e são resguardo da soberania nacional. Pensamos unicamente na democracia e nos direitos humanos ao propor a Comissão da Verdade - disse Maria do Rosário.
A visita conjunta de três ministros à Câmara dos Deputados é um dos instrumentos encontrados pelo governo para demonstrar que a Comissão da Verdade é defendida por todo o governo, e não tão somente por setores ligados aos direitos humanos. Na Câmara, os partidos ainda não indicaram os representantes para participar da Comissão Especial, que vai debater o tema.
No Senado, a ministra renovou o apelo pela aprovação célere da proposta.
- Esta é uma questão da nação brasileira, e ela não é de governo ou de oposição - ressaltou.


PANORAMA POLÍTICO
Ilimar Franco

Ampliação do aeroporto de Campinas
Na audiência com o governador Geraldo Alckmin (SP), anteontem, a presidente Dilma Rousseff afirmou que o aeroporto de Campinas será ampliado, tendo em vista a Copa do Mundo de 2014. O projeto prevê a construção de cinco novas pistas, segundo relato de Alckmin para deputados tucanos. A construção e a operação dessas novas pistas devem ser concedidas à iniciativa privada. Estiveram no encontro os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Luiz Sérgio (Relações Institucionais).
AEROPORTOS BRASILEIROS
Concessão de terminais à iniciativa privada é elogiada pelo setor aéreo
Projeto confirmado por Dilma visa a acelerar investimentos para Copa e Olimpíadas

Patrícia Duarte e Leila Suwann

BRASÍLIA, RIO e SÃO PAULO. A afirmação da presidente Dilma Rousseff de que o governo vai abrir usar o regime de concessão para atrair investimentos da iniciativa privada nos aeroportos brasileiros foi bem recebida pelo setor. O objetivo é garantir que os terminais estejam preparados para Copa e Olimpíadas. A declaração de Dilma foi dada em entrevista ao jornal "Valor Econômico". Ela, no entanto, deixou claro que também haverá uso de verbas públicas nesse processo de fortalecimento da atividade.
"Vamos articular a expansão de aeroportos com recursos públicos e fazer concessões ao setor privado. Não temos preconceito contra nenhuma forma de expansão do investimento nessa área, como não tivemos nas rodovias", disse a presidente.
Para o presidente do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), José Márcio Mollo, disse que a abertura do regime de concessões esse caminho pode acabar com os gargalos no setor. Mas ele acredita que as empresas vão se interessar pelos locais mais rentáveis, como os grandes centros urbanos.
Mollo acha que as empresas aéreas poderão se interessar em participar de alguma concessão apenas se fizerem parte de um consórcio, com a presença de companhias de outros setores.
- Acho que as grandes empresas que tomaram as rodovias, como as empreiteiras, vão se interessar pela concessão de aeroportos - afirmou Mollo.
"Estou muito feliz! Notícia maravilhosa para o Brasil. Sobretudo para o Rio, que terá nos próximos 6 anos o calendário de eventos mais importante do mundo", comemorou o governador do Rio, Sergio Cabral. Um dos aeroportos mais críticos do país é o do Galeão, no Rio.
Já a presidente do Sindicato Nacional dos Aeroviários (SNA), Selma Balbino, não acredita que a iniciativa privada pode melhorar as condições de trabalho dos empregados do setor. Ele argumenta que, em aeroportos já controlados por empresas privadas, essa é uma realidade.
- Não temos condições mínimas de trabalho. Faltam até banheiros e bebedouros - disse.

Modelos de concessão variam no país
Como O GLOBO já havia antecipado, o modelo abrange várias formas de concessão: para construção do zero de um aeroporto - como já será feito com o de São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte --, para administração com cláusula de expansão ou até para erguer apenas terminal novo.
Hoje, 67 aeroportos brasileiros são administrados pela estatal federal Infraero. O governo não pretende esvaziá-la ao abrir para a iniciativa privada a possibilidade de participar dessa tarefa. Ela deverá ter sua gestão profissionalizada.
Em sua passagem pelo Brasil, o presidente da IATA (Associação Internacional de Transporte Aéreo), Giovanni Bisignani, disse que a gestão aeroportuária brasileira é um modelo falido. Segundo ele, há gargalos em 13 dos 20 maiores aeroportos, e a situação é "crítica" em São Paulo, onde vê defasagem e ineficiência. Apesar de avaliar que a presidente Dilma acerta ao dar prioridade estratégica ao setor e promover mudanças estruturais, a IATA não poupou críticas também ao controle de tráfego aéreo, onde disse faltar investimentos para acompanhar a evolução tecnológica dos aviões.
Como gancho às críticas, Bisignani afirmou que "o tempo está se esgotando" para os investimentos necessários. Além disso, ele reiterou as demandas conhecidas das empresas aéreas, pela redução tarifária e fim das políticas de subsídios cruzados entre aeroportos e aumento de custos em horários de pico, por exemplo. O presidente da IATA fez a análise em palestra anteontem na Câmara de Comércio Britânica.
"O modelo Infraero, que controla 94% dos aeroportos brasileiros, está falido. Os terminais são antigos e ineficientes. E nos preocupamos com ao falta de um processo transparente nos planos para um terceiro terminal em São Paulo", disse.
No caso do controle de tráfego aéreo, que enfrentou uma crise após o acidente da Gol em 2006, a IATA considera que falta apoio do governo federal para os esforços de modernização da FAB.
"Qualquer um que chegar em São Paulo por um voo internacional tem uma boa chance de ter uma péssima primeira impressão. A espera de até uma hora e meia na imigração e alfândega resume tudo. A infraestrutura não está pronta. E o tempo está se esgotando para grandes projetos", disse Bisignani.

AVIAÇÃO
Gol ultrapassa TAM

Danielle Nogueira

A Gol ultrapassou a TAM pela primeira vez e assumiu a liderança no mercado doméstico de aviação civil, tornando ainda mais acirrada a disputa entre as duas maiores companhias aéreas nacionais. De acordo os números divulgados pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em fevereiro, a Gol alcançou participação de 39,77% nos voos domésticos, ante 39,59% da concorrente. Em  janeiro, a TAM respondia por 43,35% do mercado, seguida de perto pela Gol, com 37,27%. Ou seja, enquanto a fatia da Gol cresceu 2,5 pontos percentuais no mês passado, a da TAM encolheu 3,76 pontos.
Nas rotas  internacionais operadas por empresas brasileiras, no entanto, a TAM manteve a  liderança, com 85,85% do mercado em fevereiro. A Gol obteve 12,92% no segmento e a Avianca, 1,22%.
Em nota, o presidente da Gol, Constantino de Oliveira Junior, afirmou que, embora a empresa não tenha“obsessão com o market  share, mas  com  a  segurança  e  qualidade  dos serviços  prestados,  o  controle  de  custos,  a  eficiência  e  a rentabilidade de nossas operações, chegar à liderança do mercado aéreo brasileiro é motivo de orgulho”.
A Gol atribuiu seu desempenho “à estabilidade da economia brasileira e ao fortalecimento da nova classe média brasileira, que  já representa cerca de 47% dos clientes da Gol”. A empresa transporta mais de 90 mil passageiros em cerca de 900 voos diários para 51 destinos no país. Ela informou ainda que a taxa de ocupação em fevereiro no mercado doméstico foi de 72,3%. Os dados incluem a Varig.
A TAM, por sua vez, afirmou que os números da Anac são “reflexo da diminuição sazonal da participação de passageiros viajando a  lazer, acentuada  pelo  fato de  o carnaval  ter  ocorrido em março”. A  taxa  de ocupação da  companhia em fevereiro ficou em 62,8%. Os dados incluem a Pantanal.
 “A  liderança de mercado é desejável, porém, não é uma meta que buscamos a qualquer custo, pois entendemos que a posição deve ser resultado do equilíbrio entre o market share e a rentabilidade”, afirmou em nota o presidente da TAM Linhas Aéreas, Líbano Barroso. A companhia negocia a compra de uma  fatia na regional Trip e a ampliação de voos compartilhados.
As aéreas de menor porte continuaram ganhando espaço, segundo a Anac. A Azul ficou em terceiro lugar (7,96%), e a Webjet veio em segundo (5,89%), seguidas por Trip (2,77%) e Avianca (2,58%). O volume de passageiros transportados como um todo aumentou 9,34% em fevereiro, em relação ao mesmo mês do ano passado.


QUEDA DO AVIÃO DA AIR FRANCE
Airbus é indiciada em processo do voo AF 447

Paulo Marqueiro

A Airbus está sendo investigada por homicídio culposo no processo da Justiça francesa sobre a queda do avião da Air France que fazia o voo AF 447, entre o Rio de Janeiro e Paris. A aeronave caiu no Oceano Atlântico na noite de 31 de maio de 2009, provocando a morte de 228 pessoas, entre passageiros e tripulantes. O indiciamento foi informado ontem pelas autoridades francesas e confirmado pela Airbus, fabricante do jato.
Thomas Enders, presidente da Airbus, mostrou descontentamento com a decisão da Justiça francesa.
— Eu  tenho observado a  falta de  fatos que sustentem esta decisão e expresso o nosso descontentamento — disse Enders num comunicado oficial. — A Airbus sustenta que o  foco deveria ser descobrir as causas do acidente e evitar que ele não  aconteça novamente. A Airbus  continuará dando apoio às  investigações,  incluindo  as buscas contínuas pelas caixas-pretas, única maneira segura de se saber o que aconteceu.
Quase dois anos depois da tragédia com o Airbus A330-200 da Air France, ainda se sabe muito pouco sobre o acidente.
As últimas informações enviadas pelo avião, por meio de mensagens automáticas, mostram que os pitots (sensores de velocidade)  registravam  valores  conflitantes,  possivelmente  devido  ao  congelamento.  O  problema  teria  levado  ao desligamento do piloto automático da aeronave, num momento em que ela enfrentava forte  turbulência. Especialistas dizem,  no  entanto,  que a  pane  no  pitot  pode  ter  contribuído para  a  tragédia, mas  não  seria a  causa  do  acidente.
Independentemente disso, após o desastre agências de aviação determinaram a  troca de sensores como os usados no A330-200.

Buscas incluíram até submarino nuclear francês
Apesar da gigantesca operação de busca, que contou com a participação do Brasil e da França e incluiu  até um submarino nuclear francês, as caixas-pretas — que contêm as gravações dos diálogos dos pilotos e todos os dados importantes de voo — não foram localizadas até hoje. No local do acidente, a profundidade pode chegar a 4 mil metros.
Uma quarta etapa de buscas deverá ser iniciada no próximo dia 20 de março. Ela cobrirá uma área de 10 mil quilômetros quadrados e deverá se estender até  julho. Nas  fases anteriores, houve vários  rebates  falsos sobre a  localização do equipamento.
Análises dos destroços e de corpos encontrados no mar levaram os investigadores franceses a concluírem que o avião se chocou de barriga contra a água e que estava praticamente intacto. As investigações revelaram ainda que as máscaras de oxigênio não foram acionadas, o que indicaria que não houve despressurização.


ANCELMO GOIS

AeroLugo
A Embraer tenta vender um jato da empresa para servir de avião oficial a Fernando Lugo, presidente do Paraguai.
Hoje, Lugo, na volta de um giro pela Ásia, vai descer em São Paulo só para testar o modelo Legacy até Assunção.

Rossano, a novela
Dilma, na entrevista ao “Valor”, disse que ainda estava discutindo em várias esferas um nome para a Secretaria Nacional de Aeroportos. Na verdade, o governo insiste para que Rossano Maranhão volte atrás e aceite o posto.

Mas...
Se Rossano insistir em continuar no Banco Safra, onde seu salário é bem maior, a opção será mesmo Márcio Fortes de Almeida, ex-ministro das cidades de Lula.


VISITA DE OBAMA AO RJ
Exército desloca tanques para proteger Obama
Urutus serão posicionados em locais estratégicos; comitiva ficará hospedada em hotel na orla de Copacabana

Luiz Ernesto Magalhães

Mais de 800 homens das Forças Armadas, agentes da Polícia Federal e soldados da Polícia Militar serão mobilizados no esquema de segurança para proteger o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em sua visita ao Rio, amanhã e domingo. A equipe terá o apoio de quatro tanques blindados Urutu e conta com militares deslocados de Goiânia especializados no combate a agentes químicos, bacteriológicos e nucleares.
O grupo será comandado pelo general Fernando José Lavaquial Sardemberg, que já chefiou as tropas de Paz do Haiti e, no Rio, ficou conhecido por coordenar as tropas que cercaram o Complexo do Alemão em novembro do ano passado.

Esquema de segurança será ensaiado hoje
Os detalhes do esquema de segurança foram divulgados ontem pelo comandante do Comando Militar do Leste, general Adriano Pereira Júnior. A base de operações está sendo montada no Forte do Leme. Hoje, a partir de 8h, representantes das forças de segurança farão um ensaio geral do esquema montado para proteger Obama e sua família. Isso inclui inspeções na Cidade de Deus, na Cinelândia e no Cristo Redentor.
O ensaio também deve ocorrer no Hotel Marriott, na Avenida Atlântica, onde Obama ficará hospedado com a mulher e as filhas. Até ontem, pensava-se que Obama ficaria no Sheraton, na Avenida Niemeyer.
Ontem, o reconhecimento das áreas por onde passará a delegação prosseguiu. Um helicóptero militar, que será usado pelo presidente, pousou no campo do Flamengo, na Gávea, escolhido no heliponto. Foram feitas varrições no local. A presidente do clube, Patrícia Amorim, contou que 40% da área do clube ficará interditada de amanhã até segunda-feira para atender ao esquema de segurança. Isso inclui o campo, as quadras de tênis e o ginásio poliesportivo. A área mais frequentada pelos sócios, porém, continuará aberta:
- Apenas eu, como presidente do clube, poderei recebê-lo. Até pensei em dar uma camisa do Flamengo para ele, mas não foi permitido pela segurança - disse Patrícia.
Os tanques serão posicionados na Cinelândia, Cidade de Deus, num dos acesso ao Cristo Redentor e nas imediações do Marriott, a partir de amanhã.
- Além dos tanques nós teremos militares posicionados em pontos considerados críticos nos deslocamentos do presidente para os seus compromissos - detalhou o general Adriano Pereira Júnior.
O CML divulgou também uma novidade na agenda da primeira-dama Michelle Obama. Inicialmente, previa-se que Michelle fosse apenas ao Jardim Botânico. Agora, não está descartado que visite também a Cidade do Samba, na Zona Portuária. A informação, no entanto, pegou tanto a Riotur quanto a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) de surpresa, que até a tarde de ontem, desconheciam a visita de Michelle ao local.

PF e Exército na escolta e na segurança no hotel
Nos deslocamentos de carro, Obama terá a escolta de agentes da PF e motoqueiros do Exército. No hotel, a segurança interna será dos agentes da Polícia Federal, e o perímetro externo será controlado pelo Exército e pela PM.
O esquema de segurança também vai mudar a rotina de operações do aeroporto Santos Dumont. A rota que passa pela Zona Sul não será usada. Os aviões de linhas comerciais só poderão pousar e decolar pela rota que passa pela Baía de Guanabara. Por sua vez, aeronaves particulares só poderão decolar ou pousar no aeroporto Tom Jobim.


Comitiva trará mais de 20 aviões

Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. O Air Force One, avião do presidente Barack Obama, deve chegar a Brasília no sábado acompanhado de mais 20 aeronaves. Pelo menos 35 carros, alguns vindos dos EUA, foram reservados para Obama e auxiliares mais próximos. O presidente também terá a maior estrutura de segurança montada no país para proteger um chefe de Estado. Mais de três mil militares, policiais e fiscais de trânsito serão mobilizados.
Homens do Exército e da Polícia Federal também ocuparão pontos estratégicos com segurança ostensiva, atiradores de elite e policiais à paisana. Obama terá ainda a proteção de 250 agentes secretos. São os americanos que fazem a segurança nos círculos mais próximos ao presidente. A Força Aérea Brasileira (FAB) decidiu proibir voos de 5.500 metros de altura, numa área de 35 quilômetros quadrados, que inclui o Palácio da Alvorada, a Praça dos Três Poderes e a Esplanada dos Ministérios.


REBELIÃO DE TRABALHADORES
Barril de pólvora em Jirau
Força Nacional é enviada para a usina. Obras estão paradas e não há previsão de retomada

Cássia Almeida

Depois de uma rebelião de trabalhadores, com depredação de ônibus e destruição de instalações, e que levou à detenção de mais de 30 operários, a Camargo Corrêa paralisou ontem as obras de construção da Usina Hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira, em Rondônia. Um dos principais projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o canteiro de obras de Jirau abrigava 22 mil trabalhadores e está em clima barril de pólvora desde quarta-feira. Truculência de encarregados, seguranças e motoristas é a principal queixa dos operários. E a agressão de um deles foi o estopim do protesto, que destruiu 60 veículos, praticamente todos os alojamentos da margem direita da obra, enquanto os operários da margem esquerda só conseguiram sair escoltados pela Polícia.
A pedido do governador de Rondônia, Confúcio Moura, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, mandou ontem 600 homens da Força Nacional para tentar controlar a situação. O governador também pediu tropas de Exército, Marinha e Aeronáutica para proteger paióis de explosivos e fazer a vigilância do Rio Madeira e do espaço aéreo na região. Segundo o governo estadual, os manifestantes incendiaram 45 ônibus, 15 carros, 15 alojamentos e mais de 30 diferentes instalações. O incêndio teria deixado sem abrigo 12 mil peões.
Não há previsão para o retorno das obras e, ontem, o diretor-presidente do Energia Sustentável, consórcio responsável pelo empreendimento, Victor Paranhos, afirmou que a paralisação pode comprometer a entrega da usina no prazo previsto de março de 2012. O consórcio é formado por GDF Suez (50,1%), Eletrosul (20%), Chesf (20%) e pela empreiteira Camargo Corrêa (9,9%).
O conflito provocou um verdadeiro êxodo de 22 mil trabalhadores (19 mil da Camargo Correa e três mil terceirizados) fugindo do canteiro. Ao longo da BR 364, que chegou a ser fechada pelos trabalhadores, dezenas de operários com malas nas costas tentavam deixar o local. A situação piorou com a convocação de trabalhadores que, na véspera, haviam saído para voltarem ao trabalho:
- Saímos da margem esquerda, porque disseram que iriam incendiar os nossos alojamentos. Fomos alojados na margem direita e, no meio da noite, veio o fogo. Não deu tempo nem de pegar os documentos. Saí com a roupa do corpo. A polícia lançou spray de pimenta - contou um trabalhador, em Jaci-Paraná, próximo de Jirau.
Os trabalhadores reclamam que o pagamento de horas extras está sendo cortado pela Camargo Correa. E reivindicam também o aumento do valor da cesta básica dos atuais R$110 para R$350, igualando o montante ao de outras empresas que atuam na obra.
No fim da tarde de ontem, havia mais de 4 mil trabalhadores no município de Jaci-Paraná e cerca de 2 mil em Nova Mutum. Eles estavam sem comida desde a manhã, porque o refeitório foi destruído durante as manifestações, informação que foi negada pela Camargo Correa. Os operários andaram mais de 12 km tentando fugir de Jirau.
A empreiteira informou que providenciou 50 ônibus para levar os 19 mil trabalhadores do canteiro de obras para a capital de Rondônia, Porto Velho, que fica a 130 quilômetros de Jirau. Segundo a Camargo Corrêa, em Porto Velho, os trabalhadores ficarão alojados num local com capacidade para 10 mil pessoas. A empresa também liberou uma linha telefônica para dar informações aos trabalhadores e seus parentes: 0800 9400810.
Em Rondônia, o gerente de Relações Trabalhistas e Sindicais da empresa, Roberto Silva, disse que as queixas dos trabalhadores sobre a truculência de encarregados, seguranças e motoristas são questões pontuais:
- Mas nós vamos apurar.
Silva disse que a empresa não tinha conhecimento de nenhuma reivindicação dos trabalhadores. E afirmou que todos os direitos trabalhistas dos operários serão preservados. Ele informou que ainda não há data prevista para a retomada as obras.
Em nota, a Camargo Corrêa afirmou que "esses atos de violência foram provocados pela ação criminosa e isolada de um grupo de vândalos". A empresa disse que é improcedente a informação de que reivindicações trabalhistas provocaram o incidente e que não recebeu dos trabalhadores qualquer solicitação dessa natureza.
O Palácio do Planalto mobilizou ontem três órgãos para manter conversas com trabalhadores, movimentos sociais, empresas e governos locais. A ordem é acompanhar de perto a situação em Jirau. O ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, conversou com o governador Moura e representantes da construtora Camargo Corrêa e da Tractebel, sócias da hidrelétrica. O Gabinete de Segurança Institucional passou a monitorar as ocorrências e o Exército entrou em prontidão. O ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, discutiu o assunto com prefeitos, sindicato regional da construção civil, Movimento dos Atingidos por Barragens e Via Campesina.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informou que não tem como interferir no conflito em Jirau. A autarquia argumenta que trata-se de um problema trabalhista e sua competência restringe-se a fiscalizar as obras. O Ministério do Trabalho não respondeu ao pedido de informação do GLOBO.


TRANSCARIOCA
O mais importante dos BRTs
Transcarioca prevê outra ponte estaiada na Barra, além de mergulhões e viadutos rumo à Zona Norte

Simone Candida

A região da Barra deve ganhar mais uma ponte estaiada (suspensa por cabos) com a inauguração do BRT Transcarioca, o mais importante da cidade e cujas obras foram lançadas ontem. A exemplo da Linha 4 do metrô - que, dependendo da aprovação pelo Iphan, terá uma ponte semelhante sobre a Lagoa da Tijuca - o corredor exclusivo para ônibus articulados traz no projeto uma estrutura do mesmo estilo sobre a Lagoa de Jacarepaguá, que terá pistas usadas tanto pelo sistema BRT (Bus Rapid Transit) quanto pelos veículos que fluirão da Linha Amarela. Ontem de manhã o prefeito Eduardo Paes iniciou oficialmente os trabalho de implantação do Transcarioca, o BRT que vai ligar a Barra ao aeroporto Internacional Tom Jobim.
O superintendente regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan-RJ), Carlos Fernando Andrade, disse que, em ambos os casos, o órgão está analisando se há impacto na paisagem.
Segundo a prefeitura, o tempo gasto no trajeto entre a Barra e a Ilha do Governador deve ser reduzido em mais de 60% após a conclusão da obra, que será entregue em três anos como parte do pacote que prepara a cidade para os Jogos Olímpicos. Com 39km de extensão, o corredor expresso será construído em dois lotes.

Ao todo, nove pontes e dez viadutos
Ontem foi iniciado o primeiro lote da Transcarioca, que terá 28km e começa com a construção de um mergulhão exclusivo para os ônibus articulados no encontro das ruas Cândido Benício e Domingos Lopes, em Campinho, na Zona Norte do Rio. Este primeiro lote, orçado em R$798,4 milhões, inclui a ampliação da via (que passará pelos bairros da Barra, Jacarepaguá, Curicica, Taquara, Tanque, Praça Seca, Campinho, Madureira, Vaz Lobo, Vicente de Carvalho, Vila da Penha e Penha). Somente nesta primeira etapa serão construídas sete pontes (incluindo a estaiada), dois mergulhões na Barra, próximo à Cidade da Música, quatro viadutos, uma passagem inferior e urbanização. O segundo lote, que trata do traçado entre a Penha e o aeroporto, ainda está em fase de licitação.
- A ligação das ruas Cândido Benício e Domingo Lopes terá seis faixas de rolamento e teremos um mergulhão exclusivo para BRT que vai dar agilidade ao trânsito. Os ônibus não vão parar no sinal da Intendente Magalhães com a Cândido Benício, eles vão passar por baixo e, na saída do mergulhão, haverá uma estação de BRT - explicou o secretário municipal de Obras, Alexandre Lopes.
Ao todo, serão construídas 45 estações, três terminais para embarque e desembarque, nove pontes, três mergulhões e dez viadutos. O Transcarioca também prevê a duplicação de pistas e urbanização de áreas próximas ao BRT. O corredor também vai permitir uma integração com outros meios de transporte, como trens e metrô, beneficiando 400 mil passageiros por dia.

Meio bilhão em desapropriações
Na avaliação de Paes, o Transcarioca é uma das intervenções mais importantes para a prefeitura.
- Das obras que estamos fazendo olhando para as Olimpíadas, esta é a mais importante da cidade, porque ela não é só um corredor de transporte mudando completamente a lógica de comportamento das pessoas de todo o subúrbio carioca. Ela é uma revolução urbana. Esta região aqui é de difícil andar e ela vai abrir novas vias, melhorar o fluxo de veículos, tirar ônibus das ruas e oferecer transporte confortável. É mais importante que o Transolímpico, que o Transoeste e que a Linha Amarela - disse Paes.
Segundo Paes, um dos maiores desafios enfrentados pela prefeitura estão sendo as desapropriações de imóveis localizados ao longo do traçado da obra. O prefeito afirmou ontem que as desapropriações, iniciadas há mais de um ano, vão custar à prefeitura R$500 milhões. Inicialmente, a previsão de gastos era de R$300 milhões com indenizações, quando o projeto se limitava ao trecho Barra-Penha. A obra completa está orçada em 1,3 bilhão.
- Essa é uma intervenção muito complexa. Tivemos que desapropriar mais de três mil imóveis e ainda temos um trabalho grande pela frente. Há um conjunto grande de processos na Justiça, mas a prefeitura está tentando fazer o melhor possível - afirmou.
Segundo o secretário municipal de Obras, Alexandre Lopes, para esta primeira fase da obra já foram feitas 70 desapropriações, entre imóveis comerciais e residenciais.


PANORAMA ECONÔMICO
Míriam Leitão

Antes e depois
A energia Nuclear passará inevitavelmente por uma revisão no mundo inteiro. A China, que é o endereço de 25 das 49 usinas em construção, está revendo todos os protocolos de segurança e os Estados Unidos, que estavam iniciando uma retomada, também. A França, altamente dependente, rediscutirá o assunto. A Alemanha está mudando de novo de posição sobre o tema.
Na matriz global, a energia Nuclear é pequena, mas para alguns países, a fonte é fundamental. Na França, 76% da eletricidade consumida são de usina Nuclear; na Alemanha, 28,8%; Finlândia, 30%; Espanha, 18%; Suécia, 42%; Suíça, 39%; Reino Unido, 13,5%; Rússia, 17%; Ucrânia, 47%; Japão, 25%; Coreia, 36%. Há uma série de países com alta dependência da energia Nuclear, como a Lituânia: 72%. Armênia, Bulgária, República Checa e Hungria dependem em mais de 30% da fonte Nuclear para a geração de eletricidade. Os países menos dependentes são Brasil, China e Índia, entre 3% e 2%.
A cada desastre, o mundo interrompe tudo, revê procedimentos de segurança, vai com menos sede ao pote e segue adiante. Mas é diferente quando acontece numa ditadura, como a soviética, onde não havia oposição e as autoridades escondiam informações. Agora, o acidente acontece num dos países com melhor reputação do mundo em termos de prevenção de desastres.
O pior que um país como o Brasil pode fazer neste momento é tentar, de novo, a política do avestruz; ou aquela arrogância sem lastro que faz autoridades dizerem que as nossas são mais seguras do que as japonesas. Mais humildade faria bem ao governo.
Temos duas usinas em funcionamento. Duas velhas usinas. Uma, de tecnologia americana Westinghouse, Angra 1, e a outra que é a primeira do acordo Nuclear com a Alemanha, assinado no governo Geisel. As duas são do começo dos anos 1980. A construção da terceira se arrasta por décadas. Houve erros no projeto tão absurdos e sequenciais que paralisaram a obra, agora retomada. O governo diz que construirá mais quatro até 2030, uma delas às margens do nosso magro, desprotegido e desaguado Rio São Francisco.
O governo Geisel tinha metas ambiciosas que foram escritas no acordo Nuclear com a Alemanha: fazer, naquela época, 10 usinas e absorver tecnologia de todas as fases do processo de construção e enriquecimento de urânio. Estancou na terceira - a segunda das dez do acordo - por motivos que vão dos erros do projeto ao custo alto.
O Brasil teve naquela época, em plena ditadura, um intenso debate. O governo não estava interessado nele, mas os cientistas e políticos de oposição forçaram a redução da megalomania e o encontro com a realidade dos riscos inerentes à energia Nuclear. Um deles: o que fazer com os rejeitos que duram centenas de anos?
Uma CPI no Senado, presidida na época por Itamar Franco, teve a ajuda substancial do físico Luiz Pinguelli Rosa para entender todos os riscos a que estávamos expostos. Ambientalistas mobilizaram a sociedade civil. O fato histórico é que Angra 3 parou na fase das fundações até que o governo Lula retomou a construção. Na época, a piada na CPI é que o problema do governo era não saber tupi-guarani. A praia onde Angra 3 estava sendo construída era chamada, no passado remoto, pelos índios, de Itaorna. Que queria dizer "pedra podre". De fato, os trabalhos de fundações foram surpreendidos por um detalhe: o que se pensava no projeto que era a rocha firme eram pedras soltas. Isso encareceu mais ainda a obra.
Projeto reiniciado, ficam duas observações: sabe-se pouco dos planos de contingência e de proteção da área densamente povoada que é Angra; a construção das usinas Nucleares é cara demais.
Nos últimos anos, com a intensificação da preocupação com as mudanças climáticas, parte do ambientalismo deixou sua aversão à energia Nuclear porque ela não emite gases de efeito estufa; parte continuou resistente pelos motivos de segurança que agora, mais uma vez, se confirmam reais. Um desastre numa usina, ainda que aconteça raramente, tem um potencial de dano impressionantemente alto.
Não há energia sem risco, e o Brasil não é área de terremotos, vulcões ou furacões de grande intensidade. Temos nossas muitas vantagens. Mas nenhum desastre é como o outro. A pior atitude é a das autoridades brasileiras nos últimos dias. No mundo inteiro, ouve-se governos anunciando revisão do procedimento de segurança ou dos planos de expansão do número de usinas atômicas. No Brasil, tudo o que se ouve é que somos melhores do que os outros, as nossas são mais seguras, e que novas serão construídas. Em que planeta habitam nossas autoridades?
Segurança é aquilo que precisa ser sempre revisto diante de fatos novos, exatamente para aprender com eles. Risco zero não existe em lugar algum. O país com o qual o Brasil fez o acordo Nuclear já paralisou há muito tempo seu Programa Nuclear, retomou, para novamente anunciar revisão após o acidente. Lá, as usinas anteriores a 1980 serão fechadas.
Aqui, não existe uma agência reguladora independente. Não são ouvidos os cientistas. O ministro da energia é o mesmo que tem um conhecimento tosco do assunto. Aliás, de qualquer assunto da sua pasta. Existirá no mundo da energia Nuclear um antes e depois de Fukushima. O Brasil não escapará dessa fronteira.


 FONTE; JORNAL O GLOBO

Nenhum comentário:

Postar um comentário