DESTAQUE DE CAPA
'Japão perdeu o controle’, dizem EUA, Europa e Rússia
A batalha travada pelo Japão para resfriar quatro reatores com sérios problemas no complexo de Fukushima Daiichi tomou ontem rumos dramáticos. Os níveis de radiação aumentaram, e o grupo de trabalhadores que tentam controlar a situação foi retirado, só retornando horas depois. Há danos no núcleo de três reatores, afirmou a AEIA, agência da ONU. O cenário fez com que chefes de agendas nucleares dos EUA, da Europa e da Rússia fossem unânimes no diagnóstico: o Japão perdeu o controle da situação: "Estamos em algum lugar entre um desastre e um desastre gigantesco", disse o chefe de Energia da UE. O imperador Akihito rompeu o silêncio e fez um discurso inédito pedindo que os japoneses não desistissem. Documentos vazados pelo WikiLeaks mostraram que a ONU temia falhas na indústria nuclear do Japão.
AEROPORTOS BRASILEIROS
Gustavo Vale assume Infraero
Ex-diretor do BB tem desafio de melhorar aeroportos
BRASÍLIA. O governo deu o primeiro passo concreto para tirar do papel seu plano de melhorar a situação dos aeroportos brasileiros, bastante congestionados e alvos de críticas. O ex-diretor e funcionário de carreira do Banco Central (BC) Gustavo Vale assumiu a presidência da Infraero ontem, quando o conselho de administração da estatal aprovou seu nome.
Vale, que nos últimos oito anos ficou à frente da diretoria de Liquidações do BC, começou ontem mesmo a trabalhar e terá o desafio de organizar e melhorar a infraestrutura dos aeroportos brasileiros, sobretudo de olho na Copa de 2014 e nas Olimpíadas de 2016.
A indicação do executivo, que também já foi vice-presidente de Tecnologia e Infraestrutura do Banco do Brasil, está sendo considerada uma forma de melhorar a administração da Infraero, com viés mais profissional e menos político.
(Patrícia Duarte)
DOS LEITORES
Comissão da Verdade
Em busca de justiça e vítima que conhece a dor causada pelo terrorismo no Brasil, vejo as sectárias declarações do ministro da Justiça trombeteando que o país tem o dever de reparar e tornar públicos os erros cometidos por agentes a serviço do Estado. Pois olvidou-se de dizer que os insurgentes também cometeram erros gravíssimos, atingindo inocentes, e tal reparação também deve ser concedida a esses cidadãos, que foram imolados por crimes de terrorismo.
Onde existem dois pesos e duas medidas não dá para construir um futuro justo. Livrar-se do que passou é preciso, mas é preciso também ficar alerta para que o triste passado não volte, principalmente com a máscara de democracia.
ORLANDO LOVECCHIO FILHO - Santos, SP
A criação da denominada Comissão da Verdade, defendida pelo ministro Cardozo objetivando à revisão de fatos que ocorreram durante o regime militar, nada acrescentará. Muitas pessoas ligadas ao governo militar já morreram. Acresce-se a isto, ao que tudo parece, um revanchismo sem limite. A Lei de Anistia aí está, e já foi objeto de estudos pelo STF.
Apuração das torturas, prisões, muitas vezes ilegais, feitas ao arrepio da lei, laudos de necropsia forjados são deprimentes. Pergunto: e os crimes cometidos pelos guerrilheiros contra os detentores do poder militar, serão apurados?
Caso isto ocorra poderia, aí sim, positivar a criação da aludida comissão.
FERNANDO FERNANDES - Rio
histórico. Concordo, desde que se apurem, também, os crimes hediondos cometidos pelos grupos terroristas, que torturaram e mataram inocentes, como as vítimas das bombas criminosamente jogadas no Quartel do Exército em São Paulo e no Aeroporto de Guararapes, que mataram e mutilaram civis e militares. Deveriam, também, ser apurados e responsabilizados os autores de sequestros, que é a mais torpe tortura. Apurar, também, os responsáveis pelo recrutamento de jovens inocentes, jogando-os na aventura do Araguaia, estes, sim, responsáveis pelo desaparecimento deles. Que sejam apuradas irregularidades realizadas pelos dois lados. Chega de hipocrisia.
EGBERTO RAYMUNDO DA SILVA FILHO - Niterói, RJ
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, distorce a manifestação dos militares em relação à Comissão da Verdade e desafia a se pronunciar quem é contra a comissão. Ora, os militares, indubitavelmente, querem a verdade, mas apenas alegaram que é improvável chegar-se à verdade dos fatos com a tal comissão. Além do mais, o ministro Cardozo esquece que o Ministério da Defesa solicitou a opinião dos comandos militares. Eles foram leais na resposta, e se o governo Lula/Dilma não queria saber a opinião dos militares não deveria ter perguntado. Nem cabe mais agora ao ministro da Justiça desafiar que se expresse quem é contra.
PAULO MARCOS GOMES LUSTOZA - Rio
VISITA DE OBAMA
Polícia usará equipamento de última geração na proteção à comitiva no Rio
Sistema capaz de identificar pessoas escondidas foi empregado no Alemão
Antônio Werneck e Vera Araújo
Durante a visita do presidente Barack Obama, a Polícia Civil promete uma novidade: o uso de um equipamento moderno de filmagem acoplado ao helicóptero, para vigilar e o controlar as massas. As imagens feitas em tempo real pelo helicóptero blindado da Polícia Civil serão enviadas para um centro de controle, com o objetivo de fechar o perímetro de segurança nos locais onde o chefe de Estado americano estará. A ideia é repassar as informações sobre a presença de suspeitos aos policiais que estiveram em terra.
O aparelho já havia passado por testes durante a ocupação do Complexo do Alemão, em novembro de 2010, mas só agora, pela primeira vez, será usado oficialmente, após ajustes. O equipamento, conhecido como Sistema de Visualização Térmica Flir, faz filmagens mostrando inclusive as variações de calor no ambiente monitorado. Se uma pessoa, por exemplo, estiver atrás da vegetação ou de uma construção, a câmera direcionada para o local capta a variação de calor, identificando quem estiver escondido.
Espaço aéreo bloqueado durante deslocamentos
Além da novidade, a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) distribuirá atiradores de elite e o Esquadrão Antibombas ficará à disposição do serviço secreto americano.
- Já estamos com a Core e todas as delegacias dos bairros onde o presidente Obama vai passar recebendo reforço - afirmou o subchefe operacional da Polícia Civil, Fernando Veloso.
O espaço aéreo brasileiro será bloqueado em vários momentos durante os três dias de presença de Obama no país, como O GLOBO anunciara e foi confirmado ontem pela Força Aérea Brasileira. O Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decae), sediado no Terceiro Comando Aéreo Regional (3º Comar) no Rio, "emitirá informações aeronáuticas que terão como objetivo maximizar a segurança da comitiva americana e reduzir os impactos sobre o tráfego aéreo civil brasileiro".
Em Brasília e no Rio de Janeiro, segundo a FAB, as medidas são semelhantes às adotadas em outros eventos, como a posse da presidente Dilma Rousseff: o espaço aéreo será fechado durante todos os deslocamentos da comitiva de Obam, inclusive por terra.
Como parte do esquema de segurança montado para a visita dele ao Brasil, a FAB fará minuciosa ação de controle e defesa do espaço aéreo, nos dias 19, 20 a 21. Caças ficarão de prontidão e haverá ainda ações de segurança em solo e restrições de sobrevoo.
Caças modelos F-5, Mirage 2000 e Supertucano permanecerão de prontidão para a defesa do espaço aéreo. O comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro também contará com aviões-radar E-99 e baterias de artilharia antiaérea em locais estratégicos. O número de homens e aviões da FAB não foi revelado.
Marinha vai reforçar vigilância na baía
A Marinha, que até ontem à noite não havia revelado oficialmente como funcionará seu esquema de proteção à comitiva de Obama. A força deverá reforçar o policiamento na Baía de Guanabara e no litoral do estado do Rio com uso de fragatas e barcos patrulhas. O Exército informou que militares da Brigada de Infantaria Paraquedista serão os responsáveis, juntamente com autoridades estaduais e municipais, pelo policiamento de toda a região metropolitana do Rio durante a visita oficial.
Comitiva trará principais assessores econômicos
De olho em negociações como as do pré-sal, Obama virá com secretários de Tesouro, Comércio e Energia
Fernando Eichenberg
WASHINGTON. Com uma viagem centrada na perspectiva de novas oportunidades de negócios e de incremento das exportações no Brasil, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, desembarcará acompanhado de seus principais assessores econômicos. De olho nas reservas do pré-sal - para a importação futura de petróleo, mas também para a participação de empresas americanas no processo de exploração, no aumento das exportações de bens e serviços e na presença americana em obras para o Mundial de 2014 e as Olimpíadas de 2016-, a Casa Branca escalou para a comitiva os secretários do Tesouro, Timothy Geithner; do Comércio, Gary Locke (futuro embaixador na China); e de Energia, o prêmio Nobel de Física Steven Chu.
Também viajarão o representante americano para o Comércio Exterior, Ron Kirk, e o presidente do Banco de Exportação e Importação dos EUA (Ex-Im Bank), Fred Hochberg. Kirk ficará no Brasil após o embarque de Obama para o Chile, segunda-feira, para participar de dois eventos em São Paulo, na Federação das Indústrias do Estado (Fiesp) e na sede da Câmara de Comércio. A discussão sobre uma maior cooperação em temas relacionados a energias limpas e desenvolvimento sustentável justifica a inclusão da diretora da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, na sigla em inglês), Lisa Jackson.
A presença da primeira-dama, Michele Obama - acompanhada das duas filhas do casal -, é considerada pela Casa Branca um elemento importante para o sucesso de imagem da visita do presidente.
- Ela é extraordinariamente popular no exterior, um imenso trunfo em termos de sua capacidade de se comunicar com os povos desses países - disse o assessor adjunto do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Ben Rhodes.
A Boeing, uma das empresas candidatas a vender 36 caças para a Força Aérea Brasileira, não enviou alto representante para a comitiva.
CEMITÉRIOS CLANDESTINOS
Cerco aos cemitérios clandestinos
Rafael Galdo
O secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, lançou ontem, na comunidade Nova Brasília, no Complexo do Alemão, uma campanha para incentivar os moradores da região e da Vila Cruzeiro, na Penha, a denunciarem cemitérios clandestinos e esconderijos de ossadas. A iniciativa surgiu após familiares do agente de combate a epidemias da prefeitura Júlio Baptista Barroso, desaparecido desde 9 de julho de 2009, procurarem a secretaria pedindo ajuda para descobrir o paradeiro do rapaz, que teria sido confundido com um estuprador e morto pelo tráfico na Nova Brasília.
— Precisamos localizar os restos mortais dessas pessoas, não só do Júlio, para dar um fim à dor das famílias. Em segundo lugar, há inquéritos de homicídio abertos em que não temos o corpo para concluir as investigações — disse Beltrame, que justificou a escolha da região para o lançamento da campanha. — Anteriormente, esta área (o Alemão) não tinha a presença efetiva do estado e era muito utilizada, como se conhece, como microondas, onde as pessoas eram assassinadas.
Projeto conta com o apoio do Disque-Denúncia
Ontem, militares do Exército que ocupam o Alemão começaram a distribuir panfletos com os números de telefone para as denúncias sobre cemitérios clandestinos. A campanha é feita em parceria com o Disque-Denúncia (2253-1177), que oferece, no caso de Júlio Baptista, uma recompensa de R$2 mil por informações que levem ao corpo do agente da prefeitura.
O trabalho conta também com o Programa de Localização e Identificação de Vítimas (Plid) do Ministério Público Estadual, que disponibilizou para as denúncias o e-mail atendimento.piv@mp.rj.gov.br, os telefones 2283-6460 e 2283-6466 e o fax 2283-6489 e o endereço Rua Pedro Alves 187, Santo Cristo, Rio (CEP 20.220-280).
Até o fim da tarde de ontem ainda não havia informações sobre Júlio Baptista. Desde janeiro deste ano, no entanto, o Disque-Denúncia já recebeu 30 ligações indicando a existência de cemitérios clandestinos no Rio. Em todo o ano passado, foram 106 denúncias. Números que, para Beltrame, devem aumentar a partir da campanha lançada ontem. Ele ressaltou que ainda não há um levantamento do total de esconderijos de ossadas na cidade. Mas disse que está sendo feito um rastreamento de encostas de comunidades com UPPs para mapear cemitérios clandestinos.
Nesta semana, três ossadas foram encontradas em favelas ocupadas. Uma delas no Grotão, no Complexo do Alemão, localizada por soldados do Exército. As outras duas por policiais da UPP do Borel, na Tijuca: uma seria de um informante da polícia e a outra de um líder comunitário. A Divisão de Homicídios investiga os casos.
UPPs vão parar nas telas dos cinemas
Perguntado sobre denúncias de moradores de que os corpos de bandidos mortos durante a ocupação do Complexo do Alemão, em novembro passado, também estariam enterrados na região, Beltrame disse não ter conhecimento do assunto:
— Mas, quando tivermos corpos, seja de quem for, o estado vai atender. O corpo tem que ser recolhido, periciado, e tem que ser feita a investigação.
A visita de Beltrame à Nova Brasília foi registrada pela equipe do cineasta Cacá Diegues, como parte de seu novo filme, “Cinco vezes UPP”. A produção, dirigida pelos mesmos jovens moradores de comunidades carentes do Rio de “Cinco vezes favela — Agora por nós mesmos”, de 2010, pretende mostrar a realidade nas regiões pacificadas.
De acordo com Cacá, o Complexo do Alemão será o tema do quinto episódio do filme, uma espécie de coletânea de curtas-metragens. Os outros quatro episódios são as visões dos moradores da favela e do asfalto, da polícia e dos bandidos em relação à UPP.
— O quinto episódio está começando a ser filmado hoje. Até o meio do ano já deve estar nos cinemas — afirmou Cacá.
COLABOROU Waleska Borges
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