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quinta-feira, 17 de março de 2011

17 de março de 2011 - ESTADO DE SP


DESTAQUE DE CAPA
Radiação no Japão atinge nível extremo, alertam EUA
Novos danos em usina ampliam risco nuclear; para americanos,Tóquio pode ter subestimado a ameaça

A crise nuclear japonesa se intensificou ontem com a ruptura de outro reator da usina nuclear de Fukushima,no nordeste do Japão, que aparentemente estava liberando vapor radioativo. Um dia após o governo ter dito que o vaso de contenção do reator 2 também tinha sido afetado, os danos no reator3pioraramasjáperigosascondições na usina, afetada pelo terremoto da sexta-feira passada. A agência reguladora de energia nuclear dos EUA afirmou acreditar que os níveis de radiação na região de Fukushima são“ extremamente altos”, sugerindo que o Japão tem subestimado a gravidade da situação. Em discurso sem precedentes transmitido pela TV, o imperador Akihito se disse “profundamente preocupado”


GOVERNO
Jetom de estatais faz ministros estourarem teto
Somado ao salário reajustado em 149,5%, verba recebida em conselhos eleva vencimentos a valores acima do limite previsto para funcionalismo público

Eugênia Lopes / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

O aumento salarial de 149,5% concedido aos ministros de Estado, desde o dia 1.º de fevereiro, criou uma elite de supersalários na Esplanada dos Ministérios. Por acumular vencimentos com jetons pagos por participarem de conselhos de empresas estatais ou públicas, suas remunerações acabam furando o teto salarial do funcionalismo público, hoje fixado em R$ 26.723,13.
É o caso de pelo menos oito ministros de Estado que, além da remuneração pelo teto, engordam seus vencimentos ao terem um assento em conselhos de administração, fiscal ou curador de empresas. Para tentar pôr um freio na farra dos altos salários, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) apresentou projeto de lei que regulamenta o artigo 37 da Constituição. Pelo dispositivo, nenhum servidor público pode ganhar mais que a remuneração de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). "Esse dispositivo tem que ser regulamentado. Não é certo isso: ganhar no teto e ganhar do Conselho e isso não estar limitado", afirma Gleisi.
O projeto não exclui o marido da senadora, ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, que ocupa hoje três conselhos de administração de empresas: Itaipu, Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Ex-ministro do Planejamento, Bernardo está prestes a ser substituído no conselho do banco provavelmente pela nova titular da pasta, a ministra Miriam Belchior - atualmente no conselho da Chesf.
Apesar de integrar três conselhos, Bernardo ganha pela participação em apenas dois: Itaipu (considerado a "Ferrari" dos conselhos, com remuneração de R$ 13 mil mensais) e Correios, cujo valor não foi divulgado. A prática de acumular o salário de ministro de Estado com o jetom de conselhos de empresas estatais ou públicas não é ilegal e é rotineira na administração pública. Foi a saída encontrada para complementar os salários de ministros e outros altos funcionários do Executivo, que eram bem inferiores ao teto de ministro do Supremo.
Até 2010, os ministros ganhavam R$ 10,7 mil por mês. Mas com o reajuste de fevereiro a realidade salarial da Esplanada mudou. O pagamento de jetom por participação em conselhos de administração ou fiscal de empresas, no entanto, permanece.

Legislação. A participação de servidores públicos nos conselhos de empresas é regulamentada pela lei 9.292, de 12 de julho de 1996, e os decretos 757 (de 1993), e 1957 (de 1996). Pela legislação, os funcionários só podem ser remunerados por duas participações em conselhos. Por lei, o jetom não pode ser superior a um décimo (10%) da média mensal do que recebem os membros da diretoria executiva, excluídos os valores relativos à gratificação de férias, participação nos lucros e resultados.
O descumprimento do teto salarial não é uma prática disseminada apenas no Executivo. Congresso e Judiciário também têm casos de gratificações que são somadas aos salários. A regulamentação proposta pela petista Gleisi Hoffmann atinge os três Poderes. A ideia da senadora é incluir todas as parcelas remuneratórias no teto, fixando um limite salarial.
AQUISIÇÃO DE TERRAS
Limite para estrangeiro comprar terra será de 3 mil hectares
Proposta em estudo reduz de 100 para 30 módulos fiscais acesso de empresas de capital externo a áreas rurais no País

Marta Salomon / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

Será de 30 quilômetros quadrados (3 mil hectares) a extensão máxima de terras que empresas com capital estrangeiro poderão comprar ou arrendar no Brasil, segundo proposta em debate no governo. O objetivo é tentar frear o avanço de investidores externos em negócios com imóveis rurais no País. Os limites da lei serão mais rigorosos na Amazônia. Proposta de projeto de lei a que o Estado teve acesso estabelece novos limites em módulos fiscais - medida que varia, conforme o município, entre 5 e 100 hectares. Pessoas físicas poderão ter até 15 módulos fiscais, sem precisar de aval prévio do Congresso Nacional. Pessoas jurídicas - inclusive empresas brasileiras com controle de capital ou gestão em mãos de estrangeiros - poderão comprar ou arrendar até 30 módulos, em áreas contínuas ou não.
A proposta foi elaborada por grupo de trabalho coordenado pela Advocacia-Geral da União no segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Integrado também pelo Gabinete de Segurança Institucional e pelos Ministérios da Defesa e do Desenvolvimento Agrário, o grupo chegou a cogitar a edição de uma medida provisória. Mas a campanha eleitoral deixou o assunto em suspenso na agenda do governo. Dilma Rousseff, na época chefe da Casa Civil, recebeu cópia da proposta. Depois de assumir a Presidência, ainda não indicou quando o texto irá ao Congresso. O atual governo mantém a avaliação de que a compra e o arrendamento de terras continuam crescendo e fogem ao controle dos cadastros oficiais.
Atualmente, uma empresa pode deter até 100 módulos de exploração indefinida (medida também variável de acordo com o município), sem autorização do Congresso. Em conjunto, pessoas físicas ou empresas com participação estrangeira não podem ter mais do que 25% da área total de um município. Esse limite cairá para 10% na Amazônia Legal, de acordo com a proposta em debate.

Controle. Negócios que vierem a ser celebrados fora dos limites impostos pela proposta poderão ser anulados pelo Incra, que passa a ser responsável por autorizar qualquer compra ou arrendamento de terras. O controle se estenderá também a fundos de investimentos que lidem "direta ou indiretamente" com a compra de imóveis rurais. Medidas destinadas a estabelecer controles sobre esse avanço em terras no Brasil que não dependem de mudanças em lei já vêm sendo adotadas. Em agosto passado, a Advocacia-Geral da União enquadrou empresas brasileiras com controle de capital ou gestão em mãos de estrangeiros nos limites estabelecidos por lei no início dos anos 70.
Anteontem, conforme informou o Estado, um aviso ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio determinou que as juntas comerciais bloqueiem compras ou fusões de empresas estrangeiras com brasileiras que detenham terras. Essa é uma manobra identificada como forma de burlar o controle nos cartórios de compra e venda de imóveis. A busca de estrangeiros por áreas para a produção de alimentos e biocombustível é o principal argumento do governo para impor restrições à propriedade de terra no País.


VISITA DE OBAMA
Obama usará País como exemplo para mundo árabe
Presidente vai citar transição para democracia no Brasil e no Chile para convencer líderes a acolher as demandas populares

Denise Chrispim Marin - O Estado de S.Paulo

Brasil e Chile serão apresentados pelo presidente dos EUA, Barack Obama, ao mundo árabe como exemplos de sucesso na transição democrática. Tanto em Brasília como em Santiago, entre os dias 19 e 21, Obama deverá insistir no tema como meio de convencer as lideranças do Oriente Médio e do Norte da África a acolher as demandas populares por um ambiente de democracia e respeito aos direitos civis. "A presidente Dilma Rousseff representa, por si mesma, o sucesso da transição democrática brasileira", afirmou ontem Daniel Restrepo, conselheiro adjunto de Segurança Nacional da Casa Branca para Assuntos Hemisféricos, referindo-se a seu passado na guerrilha e sua prisão e tortura pelo regime militar brasileiro (1964-1985).
O tema entrará também na agenda de Obama com a presidente Dilma Rousseff, no dia 19, e com o chileno Sebastián Piñera. Mecanismos de cooperação com o mundo árabe nessa área deverão ser explorados especialmente pelo Itamaraty. O próprio chanceler Antônio Patriota adiantou o interesse brasileiro de cooperar no processo de transição democrática dos países árabes, em seu encontro de fevereiro com Hillary Clinton. Ao contrário de outras duas visitas presidenciais americanas à América Latina, em 2005 e em 2009, a Casa Branca acredita ser a região, agora, mais impermeável a líderes que viveram do discurso "antiamericano", com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Da mesma forma, Restrepo salientou ter-se aberto uma "oportunidade para os EUA se engajarem de forma construtiva" com o Brasil, sem recair em um "debate ideológico", a partir da eleição de Dilma Rousseff.

Herança. A relação estreita do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com Hugo Chávez, e suas reiteradas defesas à "democracia venezuelana" foram devidamente registradas por Washington. Da mesma forma, foram anotados seu relacionamento próximo aos líderes cubanos, Raúl e Fidel Castro, e sua comparação dos presos políticos aos criminosos comuns. O governo americano, a rigor, ainda espera uma mudança na política exterior de Dilma também nessa questão. Para os americanos, Dilma já deu mostras de sua preocupação com a violação de direitos humanos no Irã. Mas ainda não se posicionou sobre agressões similares na região. "Chávez e outros (líderes latino-americanos) foram capazes de alimentar e de capitalizar os sentimentos antiamericanos para avançar em suas agendas. Já não há mais tanto espaço para eles continuarem com isso", afirmou Restrepo. "O presidente Obama é um líder muito popular na região."
A apenas dois dias do embarque a Brasília, a Casa Branca reiterou ontem apenas "encorajar o esforço do Brasil" para conseguir um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Porém, não deixou escapar nem um átimo do apoio à ascensão do Brasil nesse fórum de decisões políticas e de segurança internacional. O suporte explícito do governo americano se restringe ao maior papel do País nas instituições de Bretton Woods, o FMI e o Banco Mundial, e no G-20, o grupo das maiores economias do mundo. Em um sinal a ser considerado positivo pelo governo brasileiro, a Casa Branca afirmou seu interesse em "trabalhar junto com o Brasil" sobre a reforma do Conselho de Segurança. A frase indica alguma boa vontade do governo americano em tratar do tema, antes um tabu para Washington. Porém, essa nova postura foi apresentada com o cuidado de não resvalar no apoio ao acesso do Brasil neste momento. A confiança do governo americano no País continua deteriorada pelo voto brasileiro contrário às sanções ao Irã no Conselho de Segurança, em maio passado.


Encontro selará parceria na produção de biocombustível

Denise Chrispim Marin - O Estado de S.Paulo

A reboque de seus próprios setores privados, os governos do Brasil e dos EUA lançarão uma parceria para o desenvolvimento e a produção de biocombustível para a aviação comercial. O assunto fará parte dos compromissos a serem selados durante o encontro de Barack Obama e Dilma Rousseff no sábado, no Palácio do Planalto. Porém, o tema estará em discussão avançada nos cinco fóruns empresariais programados de sábado até segunda-feira.
"Já há processos em fase inicial e outros, quase maduros. A perspectiva é de começo de produção em escala global em médio prazo, entre os próximos cinco a dez anos", explicou Guilherme Freire, diretor de Meio Ambiente da Embraer.


OPINIÃO
Pela tangente

Dora Kramer

Os primeiros acordes acerca da reforma política no Senado não recomendam a qualidade da sinfonia. O debate começou com dois bons temas: mudança da data da posse de presidentes, governadores e prefeitos, e alteração nas regras para os suplentes de senador.
A agenda é boa, mas a abordagem deixa a desejar.
Pelo menos quanto ao assunto mais polêmico e, por assim dizer, defeituoso: os suplentes sem voto que em determinada altura da legislatura passada foram quase 20% do Senado. Na ditadura, os senadores biônicos (indicados pelos respectivos partidos) eram um terço da Casa.
A mudança da data da posse, desde a Constituinte de 1988 instituída em 1.º de janeiro por inspiração do então deputado José Serra para que o ano fiscal coincidisse com o início do mandato dos chefes de Poderes Executivos, é um razoável consenso.
Portanto, quando o Senado propõe que a posse dos governadores e prefeitos da próxima eleição em diante seja no dia 10, e a dos presidentes, em 15 de janeiro, atende a uma demanda da realidade.
Já quando aborda a questão dos suplentes o faz à moda e ao molde dos interesses da Casa, produzindo um remendo que não conserta o principal e mantém os senadores sem voto.
A proposta da comissão de reforma política tangencia, mas não resolve o problema. Sugere a extinção do segundo suplente (hoje cada titular tem direito a indicar dois suplentes sem nenhum tipo de restrição) e propõe que o primeiro assuma o mandato apenas até a eleição seguinte.
Qualquer uma, não precisa ser de senador, pois a eleição seria específica para o caso em questão, aproveitando a estrutura da Justiça Eleitoral.
Impõe também a proibição de que os indicados sejam parentes até segundo grau. Hoje há uma profusão de filhos, pais, mulheres e maridos indicados para as suplências.
Nada diz sobre financiadores de campanha que também costumam ocupar essas vagas.
A despeito da existência de propostas sobre o fim puro e simples da suplência tal como é concebida hoje, a comissão preferiu optar por um meio-termo que não extingue o mal maior: o senador sem voto.
Este continuará com assento garantido numa instituição de representação popular, subvertendo completamente o sentido da democracia representativa.
Inclusive porque suas excelências estão prevendo duas categorias de suplente: o que assume temporariamente quando o titular for eleito prefeito, governador ou presidente, e o que substitui da mesma forma como acontece hoje, quando o eleito assumir um cargo por indicação. Ministro ou secretário de Estado, por exemplo.
Nesse diapasão a reforma política caminha para mudar a fim de que tudo continue como está.

Da corte. Por qualquer ângulo que se olhe é inexplicável a cantora Maria Bethânia ter pedido e o Ministério da Cultura ter concedido R$ 1,3 milhão para a criação de um blog.
Que os artistas tenham decidido se afastar da vida política do País entende-se: há receio de patrulha e ninguém é obrigado a se posicionar nem mesmo diante da destruição de valores e, consequentemente da cultura, de uma nação.
Agora, que recorram ao dinheiro público, como essa de Bethânia e tantas outras demonstrações de desfaçatez por parte de diversos artistas que se aboletam nas almofadas do poder, é indefensável e condenável sob todos os aspectos.
Apesar disso, há quem defenda apenas porque supostamente seria o que se espera de quem se alia ao governo. Tipo do alinhamento desprovido de discernimento. Para não dizer burro.

Noves fora. Ao fim e ao cabo é irrelevante o que acha ou deixa de achar o Exército a respeito da criação da Comissão da Verdade, cujo objetivo seria o de recuperar e contar a história real dos anos de regime militar.
Desde a criação da pasta da Defesa para consolidar a supremacia do poder civil sobre as Forças Armadas, o que vale é a posição do ministério. No caso, favorável por obra de um acordo com o Planalto.


FÓRUM DOS LEITORES
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110317/not_imp693014,0.php

MENSALEIROS
É revoltante ver mensaleiros infiltrados em vários setores do governo, na comissão de reforma política e reforma eleitoral, isto é uma verdadeira praga, impossível de combater. Isto faz lembrar que em 1964 a situação estava muito melhor em níveis de corrupção do atualmente e tivemos o golpe militar com o objetivo de moralização do Brasil. Mas diante do que ocorre agora chego à conclusão de que os militares só tiraram de circulação pessoas inocentes e temos aí hoje esses párias que só pensam em viver dos recursos alheios. Portanto, acho que vendo a revolução por este lado creio que não adiantou nada e foi um fracasso total, pois estes que se intitulam perseguidos políticos e que lutaram contra a ditadura sempre tiveram em mente seus objetivos pessoais, e não do povo brasileiro.
José Mendes - josemendesca@ig.com.br - Votorantim

COMISSÃO DA VERDADE?
Quase véspera de completar 43 anos (19/3/2011) em busca de justiça e vítima que conhece a dor causada pelo terrorismo no Brasil, causa-me nojo ver as sectárias declarações do ministro da Justiça ao trombetear que o País tem o dever de reparar e tornar públicos os erros cometidos por agentes a serviço do Estado, pois se olvidou de dizer que os insurgentes também cometeram erros gravíssimos, atingindo inocentes, e tal reparação também deve ser concedida a esses cidadãos, que foram imolados por crimes de terrorismo, perpetrados inclusive pela sra. presidente & companheiros de insurgência. Onde existem dois pesos e duas medidas, não dá para construir um futuro justo. Livrar-se do que passou é preciso, mas é preciso também ficar alerta para que o triste passado não volte, principalmente com a máscara de democracia.
Orlando Lovecchio Filho - www.exibir.com/help - Santos
COMISSÃO DA VERDADE?
Para essa comissão ser honesta e coerente terá de basear-se nos seguintes fatos. Em 1964 a Revolução Cubana estava consolidada e seus mentores queriam exportá-la para o mundo. O Brasil, que já condecorara o nefasto Che Guevara com a nossa maior comenda, era o alvo principal. Por aqui os ânimos estavam bastante exaltados, a tal ponto, que a escala hierárquica era subvertida diariamente em comícios desvairados, nos quais autoridades maiores do governo se envolviam em conluio conspiratório com subalternos raivosos. Em sã consciência, e em nome da honra e da verdade, não há quem possa desmentir o clima pré-revolucionário que imperava e assustava.
Quando os militares perceberam que nossos valores democráticos e cristãos estavam na iminência de ser substituídos por uma ditadura comunista, simplesmente cumpriram sua obrigação e deram um basta categórico aos golpistas. Foram aplaudidos e abençoados pela população, a qual, em todas as capitais, em uníssono e eufórica, organizou passeatas de apoio sob o lema "Marcha da família com Deus pela liberdade". Portanto, que fique bem claro: os militares só saíram dos quartéis para proteger o povo e garantir as instituições democráticas!
Se os pretendentes ao regime totalitário fossem sensatos, concluiriam que o Brasil não tinha vocação comunista, e que entre eles e as Forças Armadas havia descomunal desequilíbrio de forças. Assim, conscientes da sua impotência, aquietariam os ânimos, desistiriam de moldar o Brasil às suas convicções ideológicas, mas contrárias à índole do povo, e em pouco tempo os militares devolveriam o governo aos civis, e ficava o dito pelo não dito.
Mas, infelizmente, instigados por aventureiros desagregadores, cometeram o desatino de peitar os militares e aí só conheceram desventuras. Houve sofrimento, pranto e ranger de dentes de ambos os lados. A exemplo de Fidel Castro, que evoluiu da Sierra Maestra para consagrar-se em Havana, nossos imprudentes guerrilheiros, também queriam marchar vitoriosos sobre Brasília, vindos do Araguaia. Então, como era praxe na pátria-mãe ideológica que os inspirava, também aqui milhares de pessoas seriam impiedosamente fuziladas no paredón. Ou alguém é ingênuo de supor que vencedores e vencidos brincariam de roda? Ou de achar que os comunistas colocariam flores nos canos dos fuzis? Convenhamos que este não é o perfil histórico deles. Stalin, seu ídolo maior, matou 32 milhões de pessoas, comprovadamente.
Agora, em manifestações de cinismo e desfaçatez, mente-se, deturpam-se os fatos para induzir os mais jovens a erro de avaliação, cooptasse os que apenas sabem por ouvir dizer, fingem-se suplícios, com o intuito de receber indenizações e pensões, justamente pelos que, se lhes fosse possível, teriam sido nossos algozes, privando-nos da liberdade e da individualidade, ter-nos-iam submetido pela força aos seus desígnios ideológicos, enfim, teriam sido capazes de nos infligir as piores violências físicas e morais.
Sanguessugas da Pátria, em vez de pedir imerecidas e absurdas reparações pecuniárias, clamar por justiça, sempre unilateral, peçam, isso sim, e já, desculpas ao povo brasileiro por terem criado as condições de ruptura social, as quais obrigaram os militares a nos acudir e, numa segunda fase, por conta da vossa intransigência, a permanecer mais tempo no governo, para conter vossa latente brutalidade.
Lembrai-vos de que o discurso do deputado Márcio Moreira Alves incentivando os jovens a não desfilar na parada de 7 de Setembro e as moças a não namorar nem a dançar com os cadetes foi a gota d’água para justificar a promulgação do AI-5. Porém, antes de adotar essa medida drástica, o governo ainda tentou remediar mais esta impatriótica e deselegante provocação, pedindo licença à Câmara para processar o insano deputado, mas não obteve o consentimento. É lícito, portanto, admitir que, se o governo processasse o deputado e a Justiça o punisse, não teria havido o AI-5. Donde se conclui, também, que é de bom alvitre aconselhar os ainda renitentes detratores dos militares a refletirem onde sua intransigência foi irresponsável, e que deu ensejo a todas as vicissitudes suscitadas pelo AI-5.
Um dia a História fará justiça aos nossos militares.
Jaime Manuel da Costa Ferreira - jaimemcferreira@hotmail.com - São Paulo

OS DOIS LADOS
Sr. ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, discute-se no Congresso Nacional a criação de uma tal "Comissão da Verdade". Sr. ministro, com todo o respeito, não acredito que o Partido dos Trabalhadores queira realmente criar essa comissão para apurar a verdade. Senão, vejamos: o seu partido, o PT, estaria realmente disposto apurar também a verdade que pesa sobre a conduta dos seus militantes? Muitos ocupando diversos cargos importantes no governo do Brasil: acusações de crimes cometidos, torturas com sequestrados, mortes, atentados a bombas e inclusive com alguns dos seus próprios militantes, Celso Daniel, Toninho de Campinas. Mas, prezado ministro, esteja certo de que, sendo realmente para apurar a verdade de ambos os lados, tem meu inteiro apoio. Porém, se não for para ter o objetivo único de justiça, sou contra, como também tenho certeza que serão todos os cidadãos de boa índole e que compartilham a aplicação da justiça. Se não for com uma séria justiça, jamais essa comissão funcionará.
Benone Augusto de Paiva - benonepaiva@yahoo.com.br - São Paulo
DEMOCRACIA
Foi tirada do calendário oficial do Exército a comemoração de 31 de Março (golpe militar de 1964). Ao que o deputado Jair Bolsonaro, inconformado, disparou: "Agora, o Exército está de quatro para o governo federal".
Iracema Palombello - cepalombello@yahoo.com.br - Bragança Paulista


PREVIDÊNCIA
Previdência do servidor sofre resistências
Projeto de previdência complementar que está no Congresso enfrenta reações do Judiciário

Edna Simão / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

A reforma "pontual" que o governo da presidente Dilma Rousseff pretende fazer na Previdência Social dos servidores está limitada à tentativa de aprovar no Congresso Nacional o projeto de lei que cria o fundo de previdência complementar para os servidores públicos. Mas o desafio será grande. Existem resistências, como, por exemplo, do Judiciário.
Segundo o ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves Filho, que participou ontem do Seminário "O Futuro da Previdência Social no Brasil", organizado pelo governo, uma das saídas para tentar destravar as negociações seria a criação de vários fundos - específicos para cada área do serviço público - em vez de apenas um. "Setores como o Judiciário acham que devem ter um fundo próprio, e não como está no projeto", afirmou Garibaldi.
Neste caso, conforme o ministro, o governo teria de apresentar um texto substitutivo ao projeto que está parado no Congresso Nacional desde 2007, com as alterações necessárias. Enviar um novo projeto de lei implicaria um atraso ainda maior na aprovação da regulamentação do fundo.
Outro problema, no entanto, é que não só o Judiciário como todo o servidor público não quer ter o valor de seu benefício previdenciário limitado ao teto do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que atualmente é de R$ 3.689,66. Hoje, não há teto de aposentadoria para o servidor público, o que seria adotado com a criação do fundo de previdência complementar.

Déficit. Para os especialistas em previdência social que participaram do seminário em Brasília, a regulamentação do fundo de previdência complementar do servidor público é importante para conter o aumento expressivo do rombo que tem sido visto nos últimos anos.
No ano passado, o déficit da previdência social do servidor público da União, que atende quase um milhão de trabalhadores, totalizou R$ 51,2 bilhões. Já o rombo do INSS, que contempla 24 milhões de funcionários da iniciativa privada, foi de R$ 42,8 bilhões (em termos nominais).
Mas os analistas do setor afirmam que outras mudanças deveriam ser debatidas, como estabelecimento de restrições na concessão de pensões por morte, equiparação no tempo de contribuição entre homens e mulheres, estabelecimento de idade mínima, assim como a questão do acúmulo de aposentadorias e pensão.
Caso ocorram essas alterações, a ideia é de que contemplem apenas os novos ingressantes no sistema. Para quem já está, haveria uma transição longa para diminuir perdas no valor do benefício e um período de carência.
O pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), Leonardo Rangel, sugeriu até que houvesse aumento da idade para a aposentadoria por idade e fosse aberto um debate sobre a diferença entre a idade para solicitação do benefício pelos trabalhadores da área rural e urbana - atualmente a diferença é de cinco anos.
Para o professor do Departamento de Economia da USP, Helio Zylberstajn, o impacto de uma mudança na política de reajuste do salário mínimo e adoção da idade mínima seria maior do que igualar idades entre os trabalhadores do setor urbano e rural para solicitação de pedidos de aposentadoria.

PARA LEMBRAR
Em 2003, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu aprovar uma reforma da Previdência que atingia principalmente o servidor público.
Uma das principais mudanças era a possibilidade de se criar um fundo de previdência complementar para o servidor público.
Com isso, os funcionários passariam a ter o mesmo teto de aposentadoria do Instituto Nacional do Seguro Nacional (INSS) e, caso quisessem receber um valor maior, teriam de contribuir com o fundo.
O texto regulamentando a matéria (PL 1992/2007) só foi enviado ao Congresso em 2007 e, desde então, a discussão está parada.
Para reduzir o ritmo de crescimento do déficit da previdência social do servidor público da União, que ultrapassou a marca dos R$ 50 bilhões, o governo agora pretende se empenhar na aprovação do projeto de lei.
GESTÃO TERRITORIAL ESTRATÉGICA
Ministro intervém e Embrapa vai retomar serviço
Wagner Rossi, da Agricultura, determinou ontem a recomposição do serviço de gestão territorial estratégica, ameaçado de desmonte pelo órgão

José Maria Tomazela - O Estado de S.Paulo

O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Wagner Rossi, determinou ontem a recomposição do serviço de gestão territorial estratégica, ameaçado de desmantelamento pela atual administração do Centro de Monitoramento por Satélite (CMS) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em Campinas.
Entre os clientes do núcleo de Gestão Territorial Estratégica (GTE) estão os Ministérios da Agricultura, do Planejamento, órgãos da Presidência da República e organizações da sociedade. O desmonte, denunciado pelo Estado, culminou com a destituição do então supervisor do GTE, Claudio Spadotto, e de sua equipe, na semana passada.
Rossi disse ao Estado ter determinado que nenhuma outra providência seja tomada nessa área sem que ele seja consultado antecipadamente.
"Avoquei a continuidade do assunto e determinei ao presidente da Embrapa (Pedro Arraes) para levantar e me apresentar todos os dados, inclusive as informações trazidas pelo Estadão." O ministro contou ter recebido muitas manifestações de usuários do núcleo preocupados com a descontinuidade dos serviços. "Posso garantir que não haverá descontinuidade, pois aqui no ministério consideramos de extrema importância esse trabalho. Como existe certa divergência de opinião entre membros e pesquisadores da área, dei um prazo muito curto para que o pessoal tome nova atitude de entendimento."
O ministro confirmou ter tem nas mãos a minuta de uma proposta para reinstalar a unidade como um núcleo desvinculado do CMS e com mais autonomia. O projeto está em estudo, mas Rossi pretende ainda dar oportunidade ao atual gestor para que providencie o retorno do GTE à situação anterior.

Intervenção. A intervenção do ministro agradou a diretora executiva da Associação Brasileira do Agronegócio de Ribeirão Preto (Abagrp), Monika Bergamaschi. "O GTE possui um raro grupo de pesquisadores da mais alta capacidade, analistas e colaboradores que alavancam sua capacidade de atuação. Por sua relevância e importância, a Abag deseja que ela continue oferecendo à sociedade respostas e soluções para os desafios do agronegócio brasileiro."
O diretor da Agência Nacional das Águas (ANA), Vicente Andreu Guillo, que foi surpreendido pela notícia do desmanche do GTE quando já discutia a contratação de um serviço para o mapeamento das áreas com risco de inundações em todo o País, elogiou a posição do ministro. "Já havia utilizado os serviços do núcleo quando atuava na prefeitura de Campinas, por isso fiquei surpreso."
Ele contou que, ao assumir a agência, percebeu a necessidade de produzir um atlas da vulnerabilidade para inundações em grandes extensões, a fim de planejar ações preventivas. "Estávamos numa conversa inicial e fico feliz se ainda pudermos contar esse serviço da Embrapa", afirmou.


AEROPORTO
Congonhas ganha piso para deficientes visuais
Percurso leva o passageiro da entrada do aeroporto até o balcão de informações; especialista reclama da escassez de locais acessíveis

Nataly Costa - O Estado de S.Paulo

O Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, instalou novos pisos podotáteis - sensíveis ao pisar, têm relevos para facilitar a movimentação de deficientes visuais. O percurso vai da entrada do aeroporto, pela praça de alimentação, até o balcão de informações. Lá, a pessoa pode ser orientada e seguir para as demais áreas de check-in, embarque ou desembarque.
Ainda em fase de testes, o novo piso é de modelo direcional, formado por várias linhas de borracha com o objetivo de guiar o caminho. É diferente do piso podotátil de alerta - também de borracha, mas com relevo circular -, que serve para avisar sobre mudanças de direção ou perigo.
O Decreto 5.296 da Lei de Acessibilidade, de dezembro de 2004, prevê instalação de pisos táteis em ruas, parques ou qualquer lugar de circulação pública, mas ainda é pouco respeitado no País. "Outro dia mesmo desci sozinho de um táxi em Congonhas. Não tem sinalização na calçada, orientação na porta, nada. Na verdade, são raros os locais que têm", diz o presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência, Moisés Bauer Luiz.
Além do que foi instalado no saguão, há outro percurso partindo do setor interno de identificação do aeroporto (onde as pessoas pegam crachá para visita interna) até o balcão de informações. O Aeroporto de Brasília já usa esse tipo de piso - e o de Florianópolis está em instalação. "Na maioria dos casos, quando se pensa em acessibilidade, as pessoas se preocupam se o lugar tem rampa ou elevador. Claro que é importante, mas não é só isso", diz Luiz.
O próximo passo do plano de investimentos em acessibilidade da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) é tornar as escadas rolantes e elevadores mais acessíveis. O custo é de R$ 1,7 milhão.


TRÁFICO
Rio faz campanha para achar cemitérios do tráfico

Pedro Dantas - O Estado de S.Paulo

A Secretaria de Segurança Pública do Rio lançou ontem campanha para incentivar moradores do Complexo do Alemão e da Vila Cruzeiro, na zona norte, a denunciar existência de cemitérios clandestinos e esconderijos de ossadas nas favelas. O movimento foi inspirado na luta da família de Julio Baptista Almeida da Silva Barros, que tenta localizar o corpo do rapaz, morto em 2010, aos 30 anos de idade, pelo tribunal do tráfico da Favela Nova Brasília, após ser confundido com um estuprador.
"O objetivo dessa campanha é dar fim, ou, pelo menos, minimizar a dor e o sofrimento das famílias que desconhecem o paradeiro de um parente. Queremos concluir procedimentos judiciais, inquéritos policiais que estão lá como tendo em tese prática de homicídio ou de desaparecimento, mas não têm o corpo", declarou o secretário da Segurança, José Mariano Beltrame.
O Disque Denúncia oferece R$ 2 mil por informações que levem à localização dos restos mortais de Julio. Duas pessoas já estão presas. Leudy Alves de Brito, de 26 anos, e Silvânia Vieira dos Santos, de 29, foram detidos na sexta-feira. Em julho, ela confundiu o rapaz com um estuprador, cujo retrato falado foi divulgado por uma emissora de TV, quando ele aplicava produto contra os mosquitos da dengue na casa dela.
Dois dias depois, Silvânia e Leudy viram Julio em um ponto de ônibus e acionaram os traficantes. Luciano Martino da Silva, o Pezão, ordenou a tortura e a execução da vítima. Um terceiro comparsa está foragido. Todos estão indiciados por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver.


Avião é detido com cocaína e maconha no interior de SP

Um avião que transportava quase meia tonelada de maconha e pasta de cocaína foi interceptado ontem em Lucélia, no interior de São Paulo. Cinco pessoas - quatro brasileiros e um colombiano - foram presas.
Policiais investigavam o grupo de traficantes há aproximadamente três meses. No avião, foram encontrados 180 quilos de pasta-base de cocaína e 291 quilos de maconha. Três carros e o avião foram apreendidos.


SÃO PAULO RECLAMA

TAM
Viagem complicada
Comprei duas passagens para o trecho Londres-Guarulhos-Londres pelo serviço telefônico da TAM. Depois vi que no site sairia mais barato para o mesmo trecho e pedi o reembolso da diferença. A TAM alegou que o pedido não procedia, pois a passagem mais barata tinha itinerário diferente. Outro problema é que solicitei apoio na chegada ao Brasil, já que viajava com 8 peças de bagagem, carrinho de bebê e uma criança de 4 anos. Embora a TAM não auxilie passageiros nessas circunstâncias, o operador garantiu que um funcionário da empresa estaria me esperando em Guarulhos, mas ninguém apareceu. Solicitei refeição infantil na compra da passagem, que não foi servida a bordo. Na aeronave, a televisão de todo o meu setor não funcionava e um dos banheiros também não. Solicito à TAM o reembolso e esclarecimentos acerca da manutenção da aeronave.

ANDRÉ LUIZ SICA DE CAMPOS / CAMPINAS

A TAM diz que entrou em contato com o sr. Campos para pedir-lhe desculpas e esclarecer sobre as providências tomadas. Esclarece que em toda venda de passagem aérea ou emissão com pontos do Programa TAM Fidelidade que envolva a assistência de um funcionário (Call Center da TAM e das lojas TAM e TAM Viagens), é discriminado o valor correspondente ao serviço prestado. Nas vendas feitas diretamente pelo site da TAM não há a cobrança do adicional.

O leitor discorda: A informação de que há cobrança do serviço de telemarketing deveria ser bastante clara no site TAM, ao lado dos números de telefone para contato. Embora a empresa tenha se explicado, parece-me que os processos internos são confusos. O que mais me preocupa são as evidências de manutenção inadequada da aeronave.

NATUREZA EM FURIA
Funcionário dos EUA sugere que Japão omite real gravidade de crise
Chefe de agência nuclear americana diz acreditar que nível de radiação em Fukushima é "extremamente alto" - Neve amplia ameaça contaminação do solo - Pronunciamentos sobre rompimento de reservatório e vazamento radioativo são confusos

A crise nuclear japonesa se intensificou ontem depois que as autoridades anunciaram a ruptura de outro reator da usina nuclear de Fukushima, no nordeste do Japão, que aparentemente estava liberando vapor radioativo. Um dia depois de representantes do governo terem dito que o vaso de contenção do reator 2 também tinha sido afetado, os danos no reator 3 pioraram as já perigosas condições na usina.
Em Washington, o chefe da agência reguladora de energia nuclear dos EUA, Gregory Jaczko, afirmou acreditar que os níveis de radiação na região de Fukushima são "extremamente altos", sugerindo que o governo japonês tem subestimado a gravidade da situação.
Soldados japoneses começaram hoje (horário local) a despejar água a partir de helicópteros - tática normalmente empregada no combate a incêndios florestais - para tentar resfriar o núcleo do reator 4. A operação tinha sido adiada, pois ela exige que o helicóptero sobrevoe diretamente o vapor que emana da usina e aparentemente os níveis de radiação estavam elevados. As autoridades planejam ainda utilizar canhões d"água, dos tipos usados para conter distúrbios populares, para lançar água.
Num dos vários pronunciamentos rápidos e às vezes confusos sobre a crise, as autoridades insistiram que os danos ao reservatório de contenção do reator 3 - principal motivo de preocupação no início da quarta feira - são pouco graves.
Enquanto colunas de vapor eram vistas emanando do reator nas imagens da cobertura ao vivo da TV, flocos de neve caíam na região de Fukushima, aumentando o drama dos trabalhadores que tentam evitar um desastre atômico. Segundo os especialistas, a neve pode levar a radioatividade da atmosfera para o solo, contaminando-o por décadas.
A Tokyo Electric Power Company, operadora do reator, disse que tinha sido capaz de dobrar o número de funcionários que lutam contra a crise - passaram de 50 a 100 -, mas isso foi antes de as nuvens de vapor radioativo começarem a emanar com mais intensidade da usina. Na terça feira, 750 trabalhadores foram retirados do local, deixando uma equipe mínima de funcionários tentando reduzir a temperatura do núcleo atômico. Uma proporção cada vez maior de trabalhadores é composta por soldados, mas não se sabe o número exato deles.
Forças militares americanas no Japão receberam ordens de não chegar a menos de 80 km da usina, e algumas equipes da Força Aérea que poderiam participar de operações de resgate estavam recebendo pílulas de iodeto de potássio para se proteger dos efeitos da radiação.
As operações de resfriamento não foram interrompidas, disse Kazuo Yamanaka, funcionário da Tokyo Electric. O reservatório que pode ter se rompido ontem era visto como a última linha de defesa ainda intacta contra a liberação de material radioativo em larga escala, mas não estava clara a gravidade dos possíveis danos.
Cinco dias após o devastador terremoto seguido de tsunami que arrasou a usina, a possível ruptura se seguiu a uma série de explosões e outros problemas que resultaram na pior crise nuclear mundial desde o acidente de Chernobyl, em 1986.
O japonês Yukiya Amano, chefe da Agência Internacional de Energia Atômica, com sede em Viena, disse que iria ao Japão tão logo fosse possível para acompanhar a situação.
A avaliação do governo da gravidade dos danos no reator 3 pode ter sido uma forma de reduzir as preocupações relativas ao reservatório - que envolve o núcleo -, mas as implicações de um superaquecimento na piscina que contém as barras de combustível no reator 4 mostraram-se potencialmente trágicas.
Há seis reatores na usina, e todos eles têm piscinas onde são armazenadas as barras gastas de combustível no nível superior do edifício que contém o reator. Os reatores 4, 5 e 6 não estavam em funcionamento quando o terremoto seguido de tsunami atingiu o país, e havia preocupação quanto às piscinas dos reatores 5 e 6, que talvez se estenda também aos demais reatores.
Em audiência realizada em Washington na quarta-feira por dois subcomitês da Comissão de Energia e Comércio do Congresso, o secretário de Energia, Steven Chu, disse: "Achamos que pode ter havido um derretimento parcial" na usina. "Recebemos relatos conflitantes sobre o que está realmente acontecendo nos muitos reatores atualmente em situação de risco. Não pretendo especular a respeito do que está ocorrendo."
Ele disse que sua agência tinha enviado 39 pessoas à embaixada dos EUA e aos consulados americanos no Japão, "funcionários dotados de habilidade, experiência e equipamentos necessários para ajudar a avaliar, pesquisar e monitorar a radiação em diferentes regiões".
O departamento também enviou equipamento de detecção capaz de medir os níveis de radiação a partir do ar, disse ele. Na manhã de ontem, horas depois de representantes do governo terem dito que as chamas que começaram na terça-feira tinham sido controladas, a Tokyo Electric admitiu que havia um incêndio no edifício do reator 4. / NYT e REUTERS


''Samurais'' lutam para evitar fusão em reatores
Ao menos 180 trabalhadores, considerados heróis, revezam-se para resfriar instalações

Eles se arriscam a explosões, fogo e um inimigo invisível: a radiação, que poderá matar rapidamente ou décadas depois, enquanto correm para impedir um desastre dentro da escura e superaquecida usina nuclear. Os 180 trabalhadores que atuam em situação de emergência no complexo de Fukushima-Daiichi surgem como heróis nessa calamidade desencadeada por um terremoto e um tsunami.
Chamados de samurais dos tempos modernos, os técnicos voltaram ao trabalho ontem depois de um aumento de radiação os forçar a deixar seus postos durante horas. "Não sei de que outra maneira dizer, mas eles são como combatentes suicidas numa guerra", disse Keiichi Makagawa, professor do Departamento de Radiologia do Hospital Universitário de Tóquio.
Pequenas equipes formadas por esses trabalhadores anônimos entram e saem precipitadamente por 10 a 15 minutos cada vez para bombear água do mar para os reatores superaquecidos, monitorá-los e limpar os detritos deixados pelas explosões. Se ficassem mais tempo ficariam muito expostos à radiação. E eles lutam também com o problema de equipamentos quebrados e a falta de eletricidade.
Mesmo em períodos normais, os trabalhadores usam macacões, máscaras que cobrem o rosto com filtros, capacetes e luvas quando entram em áreas onde podem se expor à radiação. Alguns carregam um reservatório de oxigênio, para não inalar partículas radioativas que poderiam chegar a seus pulmões.
Mas o escape brusco de radioatividade na manhã de ontem levou o governo a ordenar a retirada do complexo por cinco horas.
A medição mais alta dentre os vários locais que tinham que ser acessados pelos trabalhadores chegou a 600 milisievert, o equivalente ao limite de exposição diária durante vários anos, de acordo com estatísticas divulgadas pela Companhia de Energia Elétrica de Tóquio.
Os milisievert são a medida da exposição a uma radiação, que pode causar câncer e anomalias congênitas. Uma exposição severa pode provocar queimaduras e doenças ligadas à radiação, como náuseas e vômitos, além de afetar as células sanguíneas.
Um indivíduo pode absorver seis milisievert num ano, provenientes de fontes naturais ou sintéticas como o raio X. Acredita-se que pequenas exposições adicionais no ano de menos de 100 milisievert não produzem nenhum mal perceptível, mas além dessa medida podem causar riscos à saúde.
Segundo o australiano Tony Irwin, consultor da área nuclear, a dose normal no caso de um técnico trabalhando com radiação é de 20 milisievert por ano, em média durante cinco anos, com o máximo de 50 ao ano.
"Portanto, eles deviam tentando fazer um rodízio de pessoas para garantir que trabalhem dentro desse limite. Hoje, muitos países estabelecem um limite de emergência de 100 msvs por ano", disse ele.
O Ministério de Saúde do Japão elevou ontem o limite máximo legal de exposição para os trabalhadores das centrais nucleares de 100 para 250 milisievert. E qualificou a medida como "inevitável diante das circunstâncias".
Esta semana, os trabalhadores lutaram horas para abrir uma válvula de escape de pressão e para permitir a entrada de água nos reatores. Quando um trabalhador deixou o local por um curto período, o fluxo de água cessou e o combustível para as bombas de água acabou. O prédio onde está o tanque de combustível usado explodiu na terça-feira, fazendo dois enormes buracos na parte superior da parede do edifício. Logo em seguida, um trabalhador da usina constatou um incêndio, que foi debelado. Segundo o jornal Yomiuri, um trabalhador que abriu uma válvula para permitir a saída do vapor acumulado estava hospitalizado após ficar exposto à radiação por 10 minutos, mesmo usando roupas de proteção. / AP


ONG acredita que brasileiros no nordeste do Japão estejam bem
Voluntário de entidade diz que não há notícias sobre mortes de dekasseguis em região onde vivem 10 mil imigrantes

Milton F. da Rocha Filho - O Estado de S.Paulo

Toshiro Kobayashi, ex-presidente do Banco de Tokyo-Mitsubishi, que atua como voluntário na NTO-ABC, entidade que atende dekasseguis (brasileiros descendentes de japoneses que vivem no Japão), declarou que no nordeste do Japão não há informação de que "algo mais sério" tenha ocorrido com os cerca de 10 mil brasileiros que moram na região.
"Por enquanto, não há informações sobre mortes. Esperamos que continue assim", disse. "Na verdade, a preocupação hoje está na questão nuclear. É preciso que as pessoas saiam imediatamente das proximidades das usinas. Governo e empresas estão retirando as pessoas de lá."
Ele contou que "uma estimativa aponta a existência de cerca de 280 mil brasileiros hoje no Japão". "É muita gente e a maioria trabalha no sul do país, longe das áreas mais afetadas. Mas o que se sente é que muitos deles estão assustados com a situação."
"O japonês já está mais acostumado com terremotos, mas também ficou chocado com o que ocorreu. Não está nada fácil por aqui, mas vamos vencer mais essa situação."
O levantamento feito por Kobayashi mostrou que a maior parte dos dekasseguis está entre Nagoya, Hamamatsu e Osaka. A maioria, segundo ele, trabalha em fábricas. Muitos, porém, trabalhavam no sul e acabaram transferidos para unidades no norte e no nordeste.
"Uma estatística exata e perfeita sobre os brasileiros no Japão não existe. O que se sabe é que há muita ajuda da embaixada brasileira e de organizações que procuram os dekasseguis para saber se precisam de algo."
Entre as maiores preocupações dos japoneses estão a elaboração de uma lista de desaparecidos e a retirada de corpos do mar, além da questão nuclear. "O Japão depende da energia das usinas nucleares. Sem ela, a situação ficará difícil. Já há uma espécie de racionamento em Tóquio."


LÍBIA
Kadafi avança e ataca aeroporto em Benghazi
Forças leais ao ditador firmam cerco a rebeldes de Ajdabiya após bombardear a cidade com aviões e foguetes pelo segundo dia consecutivo

Lourival Sant'Anna - O Estado de S.Paulo

Aviões do ditador líbio, Muamar Kadafi, bombardearam ontem um aeroporto militar na cidade de Benghazi, no primeiro assalto contra o principal reduto rebelde no leste do país desde o início da revolta, há um mês. Aviões despejaram três bombas sobre a base do Exército de Al-Rajma, 30 km a leste de Benghazi.
As forças de Kadafi consolidaram ontem o cerco a Ajdabiya e alinharam tanques na estrada que liga a cidade a Benghazi. O objetivo, aparentemente, era interromper a linha de comunicação entre os rebeldes no interior de Ajdabiya e eventuais reforços vindos de Benghazi.
As "kataeb", brigadas leais ao regime, atacaram os insurgentes com aviões e foguetes na cidade pelo segundo dia consecutivo. Centenas de moradores deixaram ontem Ajdabiya.
Numa segunda frente, as kataeb atacaram com tanques e artilharia a cidade de Misrata, terceira maior da Líbia e única na região oeste ainda sob controle dos rebeldes, a 130 km da capital, Trípoli. Rebeldes na cidade de 450 mil habitantes disseram à Reuters ter lançado uma contraofensiva e tomado tanques das forças leais ao regime.
Saif al-Islam, o filho de Kadafi que aparentemente estava sendo preparado para suceder ao pai antes do início do levante há um mês, afirmou em entrevista à TV Euronews que "dentro de 48 horas (até amanhã) tudo estaria acabado".
Saif disse também que as tropas do governo estavam "perto de Benghazi" - o que não foi confirmado, a menos que 160 km possa ser considerada uma distância curta. "Não queremos matar, não queremos vingança, mas vocês, traidores, mercenários, cometeram crimes contra o povo líbio. Vão embora em paz para o Egito."
Diante da ofensiva das forças de Kadafi, a secretária de Estado americano, Hillary Clinton, pareceu ter deixado ontem em aberto a possibilidade de uma intervenção internacional.


HAITI
Aristide prepara volta ao Haiti a 4 dias de eleição
De acordo com fonte ligada ao ex-presidente, ele deve desembarcar hoje em Porto Príncipe

Roberto Simon - O Estado de S.Paulo

Figura polarizadora no Haiti, o ex-presidente Jean-Bertrand Aristide deve desembarcar a qualquer momento em Porto Príncipe, dias antes do segundo turno das eleições haitianas, marcado para domingo. Ontem uma fonte ligada ao ex-presidente disse à agência France Presse que ele chega ainda hoje na capital.
O retorno de Aristide, cujo governo foi marcado pelo terror de gangues criminosas, as temidas "chimères" (quimeras), é visto com cautela por autoridades haitianas e internacionais que tentam concluir o processo eleitoral. Os EUA chegaram a pedir que ele postergasse a volta para depois do domingo. Mas, entre observadores e diplomatas, a percepção é que Aristide não tem capital político para de fato ameaçar a eleição. Como o ex-ditador Jean-Claude Duvalier, o "Baby Doc", que subitamente apareceu em Porto Príncipe em janeiro e hoje passa os dias calado em sua casa na capital, o ex-padre ligado à teologia da libertação não seria capaz de mobilizar as massas e efetivamente mudar o tabuleiro da política.
No domingo, haitianos escolherão nas urnas entre o pop star Michel Martelly e a ex-primeira-dama Mirlande Manigat. Ontem terminou a pintura da fachada da mansão em Porto Príncipe do ex-presidente, que agora está pronta para recebê-lo. Aristide foi duas vezes presidente: entre 1990 e 1991, quando foi deposto por um golpe militar, e entre 2001 e 2004, ano em que se viu imerso em uma rebelião popular e trocou o Haiti pelo autoexílio na África do Sul.
Ele ainda tem apoio de simpatizantes de seu partido, o centro-esquerdista Lavalas, que foi banida das atuais eleições, mas é execrado por nacionalistas e grupos liberais que sofreram sob seu regime.

PARA LEMBRAR
Primeiro presidente eleito do Haiti, em 1994, Jean-Bertrand Aristide voltou ao poder para um segundo mandato em 2001, mas foi derrubado três anos depois após uma rebelião popular. Acusado de corrupção, ele se mantinha na presidência graças a gangues criminosas de bairros de Porto Príncipe. Expulso do país, ele vive desde 2004 no exílio na África do Sul.
FONTE: JORNAL ESTADO DE SP

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