CLÁUDIO HUMBERTO
Notícia velha
Como a coluna antecipou dia 15, os caças Rafale foram para o espaço com o corte de R$ 50 bi, segundo o ministro Guido Mantega (Fazenda). Agora falta o naufrágio do projeto do submarino nuclear.
Microagenda
Sumido após o "gelo" da presidente Dilma na tumultuada novela dos Rafale, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, deu ontem aula magna no Rio para futuros oficiais. Foi o único compromisso oficial na agenda.
Como mineiro
Trabalha com o ministro Antônio Palocci (Casa Civil), com a discrição que o chefe aprecia, o provável sucessor de Solange Vieira na Agência Nacional de Aviação Civil: Marcelo Pacheco dos Guaranys, economista que já foi diretor da mesma Anac.
LÍBIA
Fim da agonia para brasileiros
Após duas semanas de espera para voltar ao País, 148 brasileiros, dos quais 56 pernambucanos, desembarcaram no Recife vindos de Benghazi, o centro da rebelião
Wagner Sarmento
Foram quase duas semanas de espera, angústia e incertezas. Mas a agonia dos 148 brasileiros que estavam sem conseguir deixar a Líbia teve fim ontem. Por volta das 18h, chegou ao aeroporto Internacional do Recife o voo fretado pela construtora Queiroz Galvão que trouxe 56 pernambucanos e outras 92 pessoas de outros 15 Estados. Eram 130 funcionários da empresa e 18 parentes. O grupo estava retido na cidade de Benghazi, a segunda maior do país norte-africano e epicentro da rebelião contra o ditador Muamar Kadafi. Após dias de tentativas frustradas de resgate, eles conseguiram deixar a Líbia de navio. Enfrentaram 17 horas em alto-mar até Atenas. De lá, mais 15 horas de avião até a capital pernambucana, com escala em Lisboa, onde 48 portugueses desembarcaram.
Antes de dizer qualquer palavra, o mecânico pernambucano Ricardo Simão, 37 anos, extravasou a saudade com um beijo apaixonado na esposa Jailza Souza, 34. Logo após, um abraço forte na filha de 9 anos. Dois gestos que resumiam a felicidade de uma família que se refazia após o susto. “Não tenho como descrever o que estou sentindo. É tudo de bom”, sintetizou. “Quase fui com ele. É muito bom tê-lo de novo comigo”, comemorou Jailza. Apesar de toda a tensão que viveu em Benghazi, Ricardo não tem dúvidas: voltaria para a Líbia. “Se depender de mim, estarei lá amanhã”, ressaltou ele, que estava há oito meses em uma obra da construtora.
Depois de sentir de novo os três filhos nos braços após quatro meses de saudade e 12 dias de agonia, o também mecânico Legildo Novacosque, 48, tratou de elogiar o povo líbio. Longe de estigmatizar os manifestantes, ele reconheceu legitimidade no movimento antigovernista. “Eu volto para lá tranquilamente. Gostei muito de lá. O pessoal da Líbia é maravilhoso. Eles só estão lutando pelo que é deles, batalhando por uma causa”, afirmou o pernambucano. “Os líbios sempre nos respeitaram. Eles não mexiam com a gente. Pelo contrário, nos ajudavam”, acrescentou.
No saguão do aeroporto, os parentes eram só ansiedade. “Foram dias de muita tensão e apreensão. Mas graças a Deus deu tudo certo. Fiquei de joelhos na igreja episcopal pedindo aos céus que minha sobrinha voltasse bem”, contou a professora aposentada Jorlanda Maria da Silva, 64, que aguardava Maria Carolina González, 26, esposa de Wellington González, engenheiro da Queiroz Galvão. Ambos foram para a Líbia logo após o casamento, há dois anos. “No começo dos protestos, a gente se falava por telefone e internet. Depois bloquearam tudo. Ninguém conseguia mais contato. Foi muito difícil. Chegamos a temer pelo pior”, relatou a secretária Angela Melo, 48, tia de Wellington. “Nunca a Grécia esteve tão perto do Brasil. Quando eles chegaram a Atenas, era como se já estivessem aqui no Recife, tamanho o alívio”, brincou Angela. A família levou um buquê de flores e dois balões com as iniciais W e C para receber o casal.
Criança só na aparência, Eric Roberto, 13, que esperava o tio, parecia gente grande falando da onda de levantes na Líbia. “Eu estava com medo de ele ter ficado preso lá. Kadafi tinha mandado matar todo mundo. Pensei que ele poderia ser atacado”, imaginou. Gente grande só nas palavras, Eric voltou a ser menino estendendo, com a ajuda da irmã mais nova, uma faixa que preparou em homenagem ao tio: “Agora estamos felizes”.
O topógrafo Jessé Silva, 51, era voz isolada no meio daquela pilha de tensão e ansiedade. “Não fiquei com medo. Não sou de estressar muito com as coisas. Sabia que meu filho estava bem, ele é nó cego”, comentou, sossegado, o pai de Douglas Menezes, 26, que trabalha no mesmo ofício. Há oito meses em Benghazi, o jovem não acompanhou a gestação de sua primeira filha. Daiane nasceu há uma semana, justo quando a família perdeu contato com ele. “Vai ter festa”, avisou Jessé.
Emoção de pai, emoção de filha. A estudante Amélia Modesto, 19, não conseguia esconder as lágrimas à espera do pai, o administrador Severino Petronilo, 60, há dois anos na Líbia. “Não aguento mais de tanta saudade. Somos uma família muito unida”, disse.
Parte dos 92 funcionários da Queiroz Galvão de outros Estados seguiu viagem ainda ontem. Outro grupo dormiu em hotéis e embarca hoje para casa. Além dos 56 pernambucanos, havia outros 51 nordestinos.
FONTE: JORNAL DO COMMERCIO - PI
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