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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

30 de janeiro de 2012 - ESTADO DE MINAS


PRIMEIRA PÁGINA

PF na penúria
Vitima de cortes orçamentários, a Polícia Federal já não é mais a mesma. Sem poder realizar as operações bombásticas e investigações de escândalos que até há pouco tempo abalavam a opinião pública e fizeram da corporação uma das mais respeitadas do país, a PF viu minguar os recursos destinados à sua função policial de apuração de crimes. Em 2007, esse setor contava com 18% dos recursos do instituição. Em 2011 caíram para 14%, menos do que receberam os serviços burocráticos. As ações policiais passaram do âmbito nacional para o regional.

Obras públicas: Projetos de Minas estão na fila federal
A duplicação da BR-381 aguarda verbas desde 1994. O metrô de BH, desde 1995. Essas e mais 16 obras voltam a constar do Plano Plurianual do governo federal. Mas nada garante sua realização.

EDITORIAL
Desafios da educação
Troca de comando no MEC renova expectativa de mais eficiência

A troca de comando do Ministério da Educação (MEC) vem em boa hora. Prioridade incontestável de qualquer nação que aspire lugar entre as mais desenvolvidas, a educação ainda está longe de orgulhar os brasileiros. Perdemos feio até para países da vizinhança, como comprovam rankings organizados por entidades internacionais idôneas e, o que é pior, em todos os níveis de ensino. Já vão longe as conquistas quanto à universalização do acesso à escola de primeiro grau e o Brasil continua patinando, contentando com resultados pífios, embora comemorados como se fossem dignos de festa. A verdade é que o MEC precisava mesmo de novas cabeças e, principalmente, de gente disposta a reconhecer que temos feito pouco e mal para avançar na qualidade do ensino.
Para começar, é hora de recuperar a credibilidade do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), iniciativa mais do que bem-vinda para deixar no passado o anacrônico sistema de vestibulares, que já tinha se transformado num funil injusto, num promotor de mais desigualdade social. É certo que a elevação do Enem a condição de porta de entrada para as universidades federais, inclusive as que costumam figurar entre as melhores instituições de ensino do país deveria ter sido precedida por um grande esforço de restruturação do ensino médio prestado pela escola pública. Esse gargalo tem sido negligenciado pelo MEC e permanece como um dos desafios abertos à sua nova administração. Já o Enem precisa de livrar das trapalhadas patrocinadas pelo amadorismo com que tem sido levado.
Em vez de perder tempo e dinheiro em disputas judiciais com alunos prejudicados e com o Ministério Público, melhor fará o ministro Aloizio Mercadante se montar equipe com conhecimento e nível técnico para deixar no passado falhas que desmoralizaram o Enem e custaram caro ao erário. Foi o caso da quebra de sigilo das provas, da troca de gabaritos, complicações no sistema de informática (Sisu) e o inacreditável episódio da repetição no exame nacional de questões usadas em teste aplicado antes em uma escola do Ceará. Mais recentemente, alunos que tiraram péssimas notas na redação conseguiram revisão na Justiça e, com o mesmo texto produzido, obtiveram ótimos resultados.
Apenas para ficar nos níveis fundamental e médio, está em discussão a adoção de um currículo único em todo o país. É preciso avançar nesse tema, superar questões menores e abir mão de arrogãncias e tentativas de impor de cima para baixo falsas realidades. A meta não pode ser nivelar por baixo. Pelo contrário, trata-se de equiparar, no mais breve tempo possível, o ensino nas escolas do país, preservando janelas regionais. Tampouco pode se afastar o MEC da formulação e da defesa de políticas de qualificação e de valorização da figura central da escola, o professor. É muito mais do que a simples decretação de piso salarial profissional, atitude cômoda para a União, que não tem o compromisso de pagá-lo, embora concentre 70% da arrecadação tributária do país. Seriedade, profissionalismo e capacidade de liderar um vigoroso processo de avanços reais e não apenas de perfumarias. É o que se espera do novo comando da educação no Brasil.

OPINIÃO
Meio mundo vai votar
António Farinha
- Sócio-diretor da Roland Berger Strategy Consultants no Brasil

Mais de 50 países terão eleições em 2012, incluindo o Brasil, e 24 nações, como EUA e França, podem trocar de líderes


Se você acha que 2011 foi cheio de grandes mudanças em nível mundial, então deverá se preparar para ainda mais em 2012. O ano será marcado por grandes mudanças políticas ao redor do mundo. Ao todo, mais de 50 países terão eleições, incluindo o Brasil, que escolherá seus representantes municipais. Desse total, 24 nações definirão seus novos líderes. Pela primeira vez na história, potências econômicas, como Estados Unidos, China, França e Rússia vão às eleições em simultâneo. Em outras épocas, pouco se mencionaria a respeito dessa coincidência. No entanto, com o atual cenário econômico, as eleições assumem uma importância ainda mais significativa, devendo, inclusive, reforçar a volatilidade dos mercados.
Para entender o impacto, mais da metade população mundial (53%), que representa mais de 3,6 bilhões de pessoas, será afetada pelas eleições desses 24 países. Entre as nações que passarão por mudanças no comando, quatro integram o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e são responsáveis por mais de 40% do PIB global – o que explica, em grande parte, porque todo o mundo sentirá a influência dessa troca de poderes.
Sob a ótica econômica, outro ponto deve ser avaliado. A recessão que ronda o mundo poderia ser contida se reformas profundas fossem realizadas em diferentes setores. Ainda em 2008, muitos dos líderes, que agora buscam a reeleição, prometeram uma série de alterações no sistema financeiro, com o objetivo de fortalecer o desenvolvimento de seus países. Entretanto, o que se viu foram reformas internas ou feitas pelo G-20, que não passaram de medidas para ganhar tempo. Remendos para solucionar problemas que hoje só demonstram a séria dificuldade para a tomada de decisões que realmente proporcionem soluções reais.
Se, por um lado, as lideranças políticas têm receio de fazer reformas – necessárias, porém altamente impopulares – em momentos pré-eleitorais; de outro a necessidade de tomada de decisões é imediata. Com a globalização, problemas e situações que antes eram resolvidos dentro de casa hoje ganham proporções muito maiores. Exemplos disso não faltam. A quebra do Lehman Brothers nos Estados Unidos, o terremoto e tsunami no Japão ou a crise na Zona Euro. Mesmo sendo pouco afetado, o Brasil sentiu o impacto, por exemplo, com a forte valorização do Real.
É necessário que as lideranças façam planos com rapidez, buscando, assim, minimizar impactos negativos. A sigla VICA, para volatilidade, incerteza, complexidade e ambigüidade, utilizada pelo exército dos Estados Unidos em situações inesperadas, tem conceitos que se encaixam também na descrição dos modelos de negócios modernos e das tomadas de decisões políticas. Esses conceitos estão sendo aplicados por governos e grandes corporações na análise de cenários decorrentes das mudanças políticas de 2012.
Por outro lado, por mais que muitos acontecimentos sejam imprevisíveis, os líderes de todo o mundo já podem se preparar para desafios inevitáveis. As alterações demográficas, a globalização, o aparecimento de novas potências emergentes, a escassez de recursos essenciais, as alterações climáticas, a evolução tecnológica, a competição pelo conhecimento e a responsabilidade social, são macro-tendências que devem pautar o planejamento de cada um dos chefes de Estado, em busca de proporcionar desenvolvimento econômico e social para todos.
Adicionalmente, o crescimento educacional e socioeconômico das populações, combinado com o acesso rápido às novas tecnologias e redes sociais, tem levado a que as reações das populações sejam mais espontâneas, de maior impacto e mais rápidas. Os recentes movimentos no mundo árabe são um exemplo desse fato.
Sem dúvida nenhuma, o cenário atual pede líderes cada vez mais comprometidos com seus países, que se empenhem em melhorar a qualidade de vida da população como um todo, fortalecendo a economia e diminuindo a corrupção. Com as crescentes interdependências e complexidades, tem-se sentido a falta de líderes visionários e inspiradores, que consigam olhar o futuro além dos ciclos eleitorais e assim propor estratégias capazes de garantir que as economias se desenvolvam de forma sustentável, responsável e inclusiva.
Esse tema, em especial o impacto do ciclo eleitoral de 2012, tem merecido uma ampla reflexão pelas comunidades acadêmica e empresarial em todo o mundo. Para coordenar essa reflexão, The Yale World Fellows Progam da Universidade de Yale (EUA), a HEC Paris, o Center for Corporate Governance da Universidade de Tsinghua, na China, a Hertie School of Governance, na Alemanha, e a Roland Berger Strategy Consultants estabeleceram um fórum aberto de discussão sobre as implicações e conseqüências, procurando ajudar os líderes nas suas tomadas de decisão.

POLITICA
Polícia Federal com o chapéu na mão
 Uma das mais respeitadas do país, corporação tem prestígio ameaçado pelo orçamento cada vez mais reduzido e por operações limitadas aos estados. Para este ano, corte é de 5%

Maria Clara Prates

Os tempos áureos da Polícia Federal – especialmente durante o primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando se transformou em um de seus mais importantes pilares políticos em razão das investigações dos escândalos –, já tem cheiro de coisa do passado. Mesmo permanecendo entre as instituições mais respeitadas do país, segundo pesquisa, a corporação vê seu orçamento encolher ano a ano. Para 2012, mesmo com aumento das contas de custeio, seus recursos sofreram um corte de 5% em relação ao ano passado. Sobre a cabeça da corporação ainda pende uma lâmina, que pode vir com o anúncio de mais cortes em razão do decreto de contigenciamento que deve ser anunciado pelo governo Dilma, no mês que vem.
Na mesma proporção da queda de recursos, as operações da PF perderam importância política e reduziram a abrangência nos estados, apesar de terem crescido em número . As ações policiais nacionais foram substituídas pelas regionais. Segundo dados do próprio Departamento de Polícia Federal, disponíveis em seu site, em 2007 foram feitas desencadeadas 188 operações, entre elas a Xeque-Mate, que investigou até mesmo o irmão do presidente Lula, Genival Inácio da Silva, o Vavá, indiciado por suspeita de exploração de prestígio. No total, foram presas 3.201 pessoas nas ações policiais. No ano passado, foram 266 investidas contra o crime, com 2.354 detidos. A maior operação em número de presos, 63, foi desencadeada no Rio Grande do Sul, onde se apurou um esquema de fraude em licitações na área da saúde no interior do estado.
Para se ter ideia do tamanho do prejuízo, basta considerar que em 2007, do orçamento total da PF, foram destinados à Polícia Judiciária, responsável pelas apurações dos crimes, 18% dos recursos. No ano passado, eles minguaram para 14% do bolo, de acordo com levantamento da Associação dos Delegados de Polícia Federal (ADPF). A regionalização das investigações teve como marco a Operação Satiagraha, desencadeada em junho de 2008 para apurar desdobramentos do escândalo do mensalão, atingindo empresários, políticos e investidores. A repercussão política da investida abriu uma crise sem precedentes na corporação, que terminou causando importantes mudanças na sua atuação.
Hoje, a área administrativa da PF – responsável pelos serviços administrativos, como expedição de passaporte e controles de produtos químicos, e financiada pelos contribuintes, que pagam pelo atendimento – tem recursos superiores aos destinados às investigações. Ainda assim, minguaram. O levantamento da associação revela que em 2007 o setor recebeu 29% do destinado à PF, enquanto no ano passado o montante despencou para 21%.
O diretor da ADPF, delegado federal Marcos Leôncio, afirmou que em 2011, considerando o contigenciamento de verba, a corporação perdeu 35% dos recursos. "No ano passado, o corte nos gastos do governo nas diversas áreas foi de R$ 50 bilhões. Para este ano está prevista a redução de R$ 60 bilhões. Daí a nossa preocupação." No atual orçamento, estão destinados ao Ministério da Justiça, ao qual a PF está subordinada, R$ 12,4 bilhões, mas até o momento não se conhece o tamanho do corte.
CONTAS ABERTAS O delegado Lêoncio explica que, se forem considerados apenas os valores absolutos do orçamento da corporação, a impressão que o governo dá é de que os recursos cresceram ao longo do ano. Ele explica que, há quatro anos, a PF recebeu R$ 705 milhões, sendo que o valor atingiu a casa de R$ 1,13 bilhão em 2011, mas não acompanhou o aumento da demanda de atuação da corporação.
"Este ano, além da perda de 5% no orçamento, tivemos perda com o aumento real de 14% do salário mínimo, em razão da grande terceirização da corporação. Soma-se a isso o aumento de pelo menos 6% das tarifas públicas, como telefone, luz e água. Não existe forma de cortar em despesas correntes, que são crescentes", contabiliza o federal. Marcos Leôncio fez questão de incluir nessa conta o alto custo das passagens aéreas, outro gasto difícil de ser reduzido. "Temos um contingente de pessoal reduzido e, por isso, temos que ter grande mobilidade para deslocamentos por todo o território nacional", completa.
Diante de uma contabilidade difícil de fechar, o delegado admite que a Polícia Federal tem ficado em segundo plano, especialmente nos últimos anos, e que isso se deve ao enfraquecimento político da corporação. "Os fatos têm demonstrado isso", rende-se o policial.
A direção do Departamento de Polícia Federal, que desde a Operação Satiagraha foi duramente criticada por diversos setores sob a alegação de espetacularização de suas ações, adotou definitivamente o silêncio. Por meio de sua assessoria de comunicação, informou que não comenta sobre orçamento e que não tem qualquer informação oficial sobre cortes de contigenciamento. O Estado de Minas solicitou por e-mail uma manifestação por escrito do DPF, que não foi enviada até o fechamento desta edição.

Acesso vedado à informação
 Lei sobre publicação de dados foi sancionada, mas dia a dia dos três poderes mostra que a aplicação será difícil. Órgãos relutam em revelar até mesmo a agenda de autoridades

Guilherme Amado

Brasília – Uma pesquisa recente da Controladoria Geral da União (CGU) com servidores de toda a Esplanada revelou que 47,6% deles pensam que a informação pública pertence ao governo. Com isso, dados corriqueiros, como o nome dos ministros que se reúnem com a presidente Dilma Rousseff ou o quanto foi pago em diárias a um procurador da Justiça, são negados como se fossem questões de segurança nacional. Mas a iminente entrada em vigor da Lei de Acesso à Informação Pública, em maio, deve mudar isso. Agora, um texto de lei sancionado pela presidente em novembro explicita o que era defendido há anos pela sociedade: o acesso à informação pública é público. E ponto.
De acordo com o texto, Executivo, Legislativo e Judiciário, em todos os seus níveis, órgãos e estatais, devem adotar a transparência como regra e o sigilo como exceção. Isso inclui respostas a perguntas que, hoje, os três poderes se recusam a dar. Dados sobre as atividades e a organização dos governos ou a implementação e a execução das políticas públicas são negados por uma série de ministérios. O empurra-empurra ou alegações como "ainda não é o momento para divulgar" chegam ao extremo de não informar o conteúdo de uma reunião que a chefe da Casa Civil e o ministro da Justiça tiveram sobre o plano de combate ao crack, por exemplo.
Segundo o presidente da ONG Transparência Brasil, o economista Cláudio Weber Abramo, a falta de transparência desses e de outros dados dificulta o controle público sobre os governos. "Esse é o tipo da coisa que faz a gente chegar mais perto da importância dessa legislação. O que foi discutido na reunião é assunto público. É claro que nem toda reunião que a pessoa tem é pública. Se a Dilma tem um encontro político com o Lula, seria absurdo exigir que se divulgue o conteúdo. É uma questão de bom senso", defende.
Abramo vislumbra uma batalha judicial pela frente, à medida que as informações, à revelia da lei, continuem sendo negadas pelos órgãos e talvez pela própria CGU. Pelo texto, quando um pedido de informação é negado, deve ser dada uma justificativa para a recusa. A partir daí, o cidadão pode recorrer à CGU para reivindicar o dado e, em última instância, à Justiça. "Vai demorar um tempo até que isso seja respeitado pelo governo", avalia o economista.
ROTINA A mesma cultura de falta de acesso impregnada no Executivo predomina no Legislativo e no Judiciário. Seja no Senado ou na Câmara, a cópia de um contrato firmado com uma empresa de manutenção, por exemplo, não é passada ao cidadão que a requisite. A publicação automática de muitos dados e documentos na internet facilitaria o acesso. Hoje, muitas informações, principalmente do governo federal, estão disponíveis na internet. Mas nem sempre esses dados são fáceis de serem achados. Os salários dos servidores públicos, cuja publicação já era obrigatória antes da Lei de Acesso, não são informados individualmente, servidor por servidor. Hoje, apenas a Prefeitura de São Paulo faz isso, prática já assegurada por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
portal Os órgãos governamentais, no entanto, planejam mudanças. Está sendo criado um novo portal de dados abertos do governo, de acesso mais fácil ao cidadão comum. O Ministério Público Federal também promete incluir os registros das despesas com os procuradores em seu site. A Presidência da República afirmou que já divulga diariamente a agenda de Dilma, mas não explicou por que muitos encontros sobre assuntos públicos que a presidente tem não constam da agenda. "Todos os órgãos estão realizando estudos para a implementação da Lei de Acesso à Informação, dentro do prazo para a sua entrada em vigor", afirmou a Secretaria de Imprensa do Planalto.

ECONOMIA
Folia de lucros nas cidades históricas
Reservas para o carnaval já estão sendo feitas. Pousadas dos municípios famosos pelas festas de rua esperam reverter as perdas de até 30% causadas pelas chuvas deste ano

Geórgea Choucair e Carolina Braga

Depois da tempestade, a bonança. O turismo das cidades históricas de Minas Gerais amargou prejuízos com os temporais nos últimos meses, mas se prepara para recuperar o fôlego no carnaval. A chuva que castigou o estado chegou a representar queda de até 30% no movimento dos hotéis e pousadas de cidades como Ouro Preto (Região Central), Diamantina (Vale do Jequitinhonha) São João del-Rei e Tiradentes (ambas no Campo das Vertentes). As reservas foram adiadas e só a partir da segunda quinzena deste mês os negócios para o carnaval ganharam força.
As chuvas trouxeram queda de 20% a 30% no movimento nas pousadas e hotéis de Ouro Preto, afirma Raimundo Saraiva, vice-presidente regional da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih). "Tivemos cancelamentos e algumas pessoas deixaram de vir em função do bloqueio de estradas", afirma Saraiva. Mas se as reservas caíram em dezembro e janeiro, para o carnaval a promessa é de ter 100% de ocupação nos cerca de 2 mil leitos da cidade, segundo avaliação de Saraiva. Em período normal, a taxa de ocupação gira em torno de 60%.
"Tivemos um início de ano turbulento, em função das chuvas. Mas planejamos e estamos otimistas com o carnaval", afirma Chiquinho de Assis, secretário de Cultura e Turismo de Ouro Preto. A cidade histórica vai investir R$ 1 milhão no carnaval e espera que o evento movimente R$ 20 milhões em negócios. Ouro Preto conta com cerca de 2 mil pessoas envolvidas no segmento de turismo. Na temporada carnavalesca o número de trabalhadores na atividade vai saltar para 5 mil.
A folia deste ano vai ter menos recursos em São João del-Rei. O investimento no carnaval vai ser de R$ 500 mil, contra R$ 580 mil no ano passado. "Com as chuvas deste ano havia o risco de nem ter a folia. Mas conseguimos o apoio do governo e vamos manter o evento", afirma Nina Capel, secretária de Cultura e Turismo da cidade. O temporal, diz, atrapalhou alguns negócios das pousadas. "Tivemos acessos fechados nas estradas por um ou dois dias", observa Nina.
Em Diamantina, a taxa de ocupação dos cerca de 2 mil leitos está em torno de 70%, avalia Alberis Mafra, diretor de Turismo da cidade. Mas ele espera que nas próximas semanas salte para 95%. A expectativa dele é de receber cerca de 50 mil foliões por dia no município. A cidade investiu entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões no carnaval deste ano e Mafra espera que a folia movimente cerca de R$ 22 milhões.

ÚLTIMA HORA A chuva levou à queda na taxa de ocupação do Hotel Diamante Palace. No início do mês, ela ficou em torno de 48%, sendo que a média é de 55% a 60%. "Muitas famílias que vão para o litoral acabam passando por Diamantina. Mas este ano, em função das chuvas, não tivemos esse público", observa Márcia Andreia Costa, gerente do hotel. Ela afirma que os turistas deixaram as reservas para a última hora neste ano.
Assim como a Mostra de Cinema de Tiradentes transcorreu normalmente nas últimas semanas, sem sequelas da enchente que afetou a cidade no início do mês, o carnaval também deve representar boa temporada de ruas cheias e pousadas lotadas. De acordo com o prefeito, Nilzio Barbosa Pinto, apenas as famílias ribeirinhas do Rio das Mortes sofreram as consequências das chuvas. "Já está tudo limpo. Ajudamos com material de limpeza e cestas básicas. Está tudo normal em Tiradentes", ressalta.
Segundo ele, serão investidos R$ 150 mil na produção do carnaval da cidade. O prefeito não consegue calcular o quanto entrará para os caixas locais. "Quem ganha é o comércio local. Mas como muitos são microempreendedores, não temos como estimar isso", afirmou. O setor de hotelaria não tem do que reclamar. Na Pousada Mãe D"Água, localizada no Largo das Forras, 90% dos 49 apartamentos já estão com as reservas confirmadas de hóspedes que vêm do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. No Hotel Ponta do Morro a situação é semelhante: lotação garantida em 95% dos quartos.
A subgerente da Pousada do Largo, Maria Rute Costa, também no Centro Histórico de Tiradentes, observou que o movimento caiu na cidade principalmente em função das notícias da chuva. "Pareceu pior do que realmente foi", ressalta. Segundo ela, em função disso a taxa de ocupação da primeira quinzena do mês foi cerca de 20% abaixo do esperado, mas a situação se reverteu com a mostra de cinema. "Ficamos lotados", conta.

Fornecedor mineiro redescobre a África
 Empresas com sede no estado começam a se estabelecer num dos continentes mais abertos a negócios de brasileiros

Marta Vieira

De Ipatinga, no Vale do Aço mineiro, para Moçambique, na costa leste da África, as exportações de uniformes profissionais da Provest Uniformes poderiam ter dado um passo maior do que as pernas da fábrica erguida no começo dos anos 1980, não fosse o aporte de mais de R$ 7 milhões na ampliação da produção e modernização de equipamentos nos últimos três anos. No mesmo rastro, a Geosol, especializada em serviços de sondagem de minerais, abriu uma subsidiária na Guiné, costa oeste africana, e planeja oferecer seus serviços na Namíbia, Zâmbia e Senegal, se aproveitando do crescente número de consultas da indústria mineral. Em comum, as duas empresas trilham o caminho de fornecedores mineiros de grandes mineradoras e construtoras que redescobrem antigas colônias portuguesas na África ávidas por investimentos dos brasileiros.
Com o fim da guerra civil em 1992, Moçambique surge como promessa para empresas brasileiras e, particularmente, as de Minas, que se tornou sede da Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil/Moçambique. Em busca da reconstrução, o país tem aplicado recursos em infraestrutura de rodovias e pontes, telecomunicações, energia e habitação, observa o diretor-executivo da câmara, Rodrigo Oliveira. "Não prospectamos mais empresas interessadas em investir no país. Elas é que vêm à câmara em busca de informações e apoio para fazer negócios em Moçambique", afirma o executivo.
O país de 20,3 milhões de habitantes cresceu 8,3% em 2010, oitava maior taxa no mundo, com um Produto Interno Bruto (o PIB é o conjunto da produção de bens e serviços) de US$ 9,9 bilhões. As exportações brasileiras para Moçambique somaram US$ 40,3 milhões naquele ano, de acordo com os últimos dados disponíveis. Já atuam na nação africana grupos como a Vale e as construtoras Carmargo Corrêa e Odebrecht. A mineradora orçou recursos de US$ 1,658 bilhão, dos quais US$ 422 milhões aplicados em 2011, para bancar o projeto Moatize, reserva com capacidade de produzir 11 milhões de toneladas de carvão metalúrgico e térmico po ano. A etapa seguinte terá nova mina destinada a dobrar a produção.
Para viabilizar a infraestrutura de Moatize, a Vale adquiriu o controle da Sociedade de Desenvolvimento do Corredor do Norte, responsável pela concessão do porto de Nacala e de uma ferrovia de 872 quilômetros. Na Guiné, a companhia pretende desembolsar US$ 1,134 bilhão no projeto Simandou, com capacidade para produzir 50 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. A experiência adquirida pela Geosol, sediada em Belo Horizonte, na sondagem mineral em áreas remotas, como a floresta amazônica, foi como um passaporte para atender grandes minerações na África, como as áreas da Vale.
A Geosol Guiné foi constituída em 2008 e o país já se transformou no segundo mercado da empresa no exterior, informa o diretor administrativo, de suprimentos e comercial, Dalmo Pereira. "Sempre chegamos na frente de todo mundo, como uma espécie de desbravadores, para viabilizar ou não uma reserva mineral", conta. A primeira incursão da Geosol no continente foi 20 anos atrás, no antigo Zaire, atendendo grandes companhias. A unidade guineense não só ganhou prioridade em negócios como também uma fatia de investimentos equivalente a cerca de 30% das aplicações no Brasil. Diante das frequentes consultas de mineradoras com interesse na África, a Geosol estuda a possibilidade de atuar em outras nações do continente, entre elas a Libéria, Zâmbia, Namíbia e Senegal.
Depois de se transformar num dos maiores fornecedores de uniformes profissionais do Brasil, a Provest Uniformes, de Ipatinga, seguiu a Vale até Moçambique e se animou a buscar novas oportunidades a partir de Maputo, a capital, revela o proprietário da empresa mineira, Luciano Araújo. "É um mercado interessante, mas não podemos desprezar a questão cambial (a valorização do real frente ao dólar), que encarece os nossos produtos lá fora. O ideal é atuar em parceria com multinacionais brasileiras", afirma o industrial. Em apenas um ano de fornecimento de uniformes aos empregados da Vale em Moçambique, o país passou a representar 2,2% do faturamento da Provest, que foi de R$ 31,5 milhões em 2010. A expectativa de Araújo é ampliar essa fatia para 5%, atendendo mais clientes. A produção total em Ipatinga saiu de 400 mil peças anuais em 2007 para 1,100 milhão por ano.

Maioria de Minas nas missões
Empresas mineiras ou com sede em Minas têm sido as mais assíduas nas missões para discussão de negócios em Moçambique e lideram a procura de informações sobre como investir no país, de acordo com Rodrigo Oliveira, diretor-executivo da Câmara de Comércio, Indústria e Agropecuária Brasil/Moçambique. "Nossa primeira missão desembarcou no país em 2008. Fazemos cerca de 10 viagens por ano ao país", afirma. No circuito mais recente, realizado em novembro, a instituição levou 100 empresários, dos quais um quarto de mineiros.
Está prevista mais uma missão integrada por 30 empresas para meados de abril, com enfoque em investimentos na agropecuária. "Há possibilidades de negócio em praticamente todas as áreas, com o crescimento de Moçambique", diz o diretor da câmara de comércio e indústria. As afinidades decorrentes da língua portuguesa, idioma falado no país, aproximaram a consultoria mineira de gestão empresarial Verde Ghaia do mercado de Moçambique. "Temos um produto que monitora as legislações aplicáveis aos empreendimentos industriais, com atenção especial a critérios como meio ambiente, saúde e segurança do trabalho", explica Taís Ude de Souza, gerente de Relações Internacionais da empresa que presta o serviço para a unidade da Vale instalada no país africano.
Outra marca de Minas que decidiu apostar na reconstrução de Moçambique é a Itatiaia Móveis, criada há 47 anos em Ubá, na Zona da Mata. A fábrica, que tem capacidade de produzir 14 mil armários de aço por dia, em média, exporta seis contêineres por ano à nação africana, volume ainda pequeno para suas pretensões. "Trabalhamos com um cliente importante que nos auxilia na distribuição dos móveis", diz a gerente de exportação da empresa, Jussara Civardi.
Há mais um indicador das necessidades impostas pelo crescimento de Moçambique está na contratação do trabalho de treinamento de mão de obra para a indústria. Toda a qualificação dos empregados da Vale foi encomendada à unidade mineira do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-MG). Foram treinados 780 trabalhadores numa escola montada em parceria com a Vale na localidade de Tete, distante 1,5 mil quilômetros da capital Maputo, informa Edmar Alcântara, gerente de educação profissional do Senai-MG. (Colaborou Frederico Bottrel)

E mais

"CPMF" na França
Há três meses da eleição e atrás nas pesquisas, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, anunciou ontem a criação de uma taxa sobre transações financeiras – parecida com a CPMF, que vigorou no Brasil –, de 0,1%, que já será aplicada em agosto, e o aumento do imposto sobre valor agregado (sobre o consumo) de 19,6% para 21,2%, a partir de outubro. A intenção das medidas é dar fôlego extra à economia do país. Segundo o presidente francês a elevação do imposto ajudaria a reduzir as contribuições sociais dos empregadores.

Brasil no foco
Cresceu o interesse pelo Brasil no Fórum Econômico Mundial. Se em anos anteriores a China e a Índia figuravam como as preferidas do mundo emergente, agora os executivos e empresários estrangeiros aproveitam seus dias em Davos, na Suíça, para buscar oportunidades no país. Com a crise no mundo desenvolvido, a estratégia é encontrar novos mercados capazes de gerar negócios. O chefe de Operações Globais da Ernst & Young, John Ferraro, contou que o Brasil foi o mercado onde a empresa mais cresceu em 2011.

Aperto grego
A crise financeira da Grécia pode estar longe de uma solução. O ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, disse em entrevista ao The Wall Street Journal que a União Europeia poderá se recusar a aprovar novo pacote de ajuda financeira, a não ser que o governo grego convença a Europa de que tem como reformar o Estado e a economia. Na Grécia, os três partidos políticos da base de governo deram respaldo para que o primeiro-ministro, Lucas Papademos, siga negociando com a UE e o FMI.

Vidas por um fio
 Péssimas condições de conservação dos veículos pesados e falta de cuidado com a saúde dos motoristas aumentam os riscos de acidentes e mortes

Fina e suja de graxa, uma corda comum, dessas usadas em cabrestos de cavalos, é o único dispositivo que impede o desengate de uma carreta rodotrem de 30 metros e 54 toneladas de carga. Ao volante, cansado pelas sete horas diárias de viagem que precisa cumprir, nos 452 quilômetros entre Belo Horizonte e Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, o carreteiro A.V.R., de 38 anos, pinga suor e tem tonturas que prejudicam sua concentração nesta tarefa extenuante. Os abusos com drogas estimulantes, desleixo com a saúde e a manutenção do veículo transformaram A. num homem-bomba das estradas, que expõe sua vida e ameaça a dos demais viajantes. "Quando era novo tomava rebites para viajar o dia todo. Ficava aceso e o tempo não castigava. O lombo não doía. O suor não importava. Hoje, sofro numa viagem curta dessas", lamenta o motorista, que tem 13 anos de experiência.
A saúde e as condições de caminhoneiros que ingressam em Minas Gerais ou circulam pelo estado, como A., são motivos de preocupação para especialistas e forças policiais responsáveis pelas estradas. Para ter uma amostra de quão crítica é a situação de máquinas e homens, a reportagem do Estado de Minas convidou médicos e especialistas em manutenção de veículos pesados para uma blitz educativa no Posto Ravena, na manhã de sábado. Situado na BR-381 – via conhecida como Rodovia da Morte pelo alto índice de acidentes – o caminho é usado por quem sai segue para o Nordeste do país ou vem dessa direção.
Os resultados foram alarmantes. De acordo com o consultor técnico em manutenção de veículos pesados Alberto Vidal Guimarães, dos 12 caminhões e carretas avaliados apenas dois deles estavam em boas condições de funcionamento – ambos veículos novos. "O que ocorre em via de regra é que o cavalo, que é a parte que puxa a carga, é bem cuidada. A carreta, que é puxada e suporta o peso, vai sendo remendada, consertada apenas quando estraga", aponta.
SITUAÇÃO CRÍTICA veículo em piores condições era exatamente o conduzido por A.V.R., carregado com caixas de bebidas. "Uma trava de engate amarrada com corda é um absurdo. Imagine só uma dessas carretas se soltando quando passar sobre um buraco no meio da rodovia. Vai descer atropelando carros, tombando por cima de motos e matando gente", alerta Guimarães. Outras duas carretas rodotrem analisadas, ambas com 30 metros e mais de 50 toneladas de carga, também apresentavam molas, pinos de encaixe e suporte dos eixos bambos. "É outra situação crítica que contribui para a carreta tombar. Os eixos ficam sem trabalhar com independência e firmes. Num solavanco, a carroceria pode inclinar demais e aí tomba mesmo", avalia o especialista.

Uma das duas carretas tinha os pneus sobressalentes amarrados com uma corda velha debaixo do chassi, ameaçando cair no meio da estrada. Outra, que tinha lanternas quebradas, apresentava também o tirante do último eixo quebrado. "É a peça que segura o eixo. Se passar num buraco muito fundo, o eixo inteiro pode soltar e a carreta tomba também", afirma. Além desses problemas mais graves, dois veículos de carga tinham pneus carecas e um deles estava com a tira reformada se desprendendo. "Pneus novos não significam cuidado. É que a polícia não tem conhecimento técnico tão apurado e ao ver os pneus em bom estado não vistoria os outros mecanismos e libera o condutor", disse. "A empresa vai reformar as carretas no meio do ano", justificou um dos caminhoneiros com veículo em más condições, M.B.J., de 54 anos. "A gente vai dar manutenção o quanto antes. Deixa só parar numa oficina. Mas foi bom saber disso", disse outro condutor, C.A.P., de 48 anos.

Caos no cartão-postal
 Bairros como Ouro Preto e Bandeirantes se transformaram em rota de trânsito para milhares de veículos. Moradores sofrem com os congestionamentos e especialistas criticam a ausência de vias transversais

Em julho do ano que vem, a região da Pampulha será o centro das atenções da capital mineira. Porém, faltando pouco mais de um ano para a Copa das Confederações, evento teste da Fifa para a Copa do Mundo de 2014, o cenário no entorno da lagoa é desanimador quando o assunto é mobilidade. O trânsito está estrangulado e os bairros residenciais se transformaram em rota de passagem de milhares de carros. A explosão da frota de veículos em 100% nos últimos 10 anos é a causa, segundo especialistas, da insatisfação da maioria dos moradores dos 57 bairros e vilas da Pampulha. 
O grande problema é que a população da região, que cresceu 31,3% na última década, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), deve crescer ainda mais, o que significa mais veículos nas ruas. Dados da última Pesquisa do Mercado Imobiliário em BH, produzida pela Fundação Ipead/UFMG, divulgada na semana passada, mostram que dos 1.923 apartamentos ofertados na planta, em construção ou prontos para morar na capital, 16,74% estão na Pampulha.
Esse crescimento, segundo o consultor em transporte e trânsito Paulo Rogério Monteiro, será responsável por injetar mais carros e motos no trânsito da Pampulha, o que vai piorar ainda mais a situação dos gargalos da região. Ele aponta três principais trechos responsáveis pelo estrangulamento de todo o entorno: a rotatória do Zoológico, a barragem da lagoa e o entroncamento da Cristiano Machado com a entrada do Bairro Primeiro de Maio. "Todos que estão ao norte da lagoa precisam, obrigatoriamente, passar por esses três pontos. Funciona como uma ampulheta onde tudo afunila para esses três locais. A consequência imediata desses gargalos é a sobrecarga nos bairros, que absorvem todo o tráfego. E não temos o movimento apenas de veículos da capital, mas de todas as cidades da Grande BH", diz Monteiro.
Outro problema grave, segundo o especialista, é a ausência de vias transversais, aquelas que ligariam as grandes avenidas da região, como Antônio Carlos e Carlos Luz, próximas à lagoa. "Com a ausência dessas ligações, sobra para os bairros o trânsito de passagem. Temos o exemplo clássico do Ouro Preto, que serve de passagem para quem quer ir do Castelo até a Catalão, e do Bandeirantes, que serve de passagem entre pontos da lagoa", diz o consultor. Ainda segundo Monteiro, a Avenida Portugal é uma via transversal, de acordo com o Plano Diretor da capital, mas não funciona como tal na prática. "São muitos quebra-molas, velocidade de apenas 30km/h em alguns trechos e inúmeras ilhas centrais que não ajudam o pedestre e prejudicam a circulação dos carros", conclui.
O coordenador de vendas Julius Silva, de 46 anos, é morador do Bairro Santa Amélia e um dos motoristas que sofrem com o gargalo na avenida, que chega a parar nos horários de maior tráfego. "Normalmente, da minha casa à lagoa, em condições normais, não gasto mais que cinco minutos. No pico, são no mínimo 20 minutos no mesmo percurso", conta. O administrador de empresas Maurício Ferreira, 46, mora no Bairro Palmares, Nordeste de BH, mas faz quase tudo na Pampulha. "Já pensei em me mudar para essa região várias vezes, mas o trânsito é caótico. Essa é a única coisa que me impede de morar aqui", afirma Maurício.

Chuva e acidente na volta das férias

Flávia Ayer

Quem passou pela 381 teve de redobrar os cuidados para evitar problemas
As pancadas de chuva, principalmente no início da noite de ontem, complicaram o trânsito na chegada a Belo Horizonte e causaram vários acidentes nas BRs que cortam a capital mineira no último fim de semana das férias escolares. O pior resultado da combinação entre o movimento intenso e os temporais foi um acidente com dois mortos na BR-381, a conhecida rodovia da morte, na tarde de ontem. O engarrafamento no trecho chegou a mais de oito quilômetros. 
O ponto crítico do congestionamento foi no km 372 da BR-381 – na altura de São Gonçalo do Rio Abaixo, na Região Central, a cerca de 90 quilômetros de BH – onde, por volta das 17h, um caminhão e dois carros bateram de frente. Duas pessoas morreram e quatro ficaram feridas. Uma faixa no sentido João Monlevade/BH ficou interrompida, atrapalhando o trânsito nas duas direções.
Antes da batida, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) já havia alertado motoristas, em sua página no microblog Twitter, sobre o fluxo maior de veículos na rodovia. "Por causa da volta das férias o movimento ficou acima do normal e a chuva forte, com áreas até com registro de granizo, acabou complicando a situação", disse o policial federal Ércio Dias Bittencourt.
Além da BR-381, que dá acesso às praias do Espírito Santo, o policial informou que as ocorrências se concentraram na BR-040, próximo a Conselheiro Lafaiete e a Congonhas, ambas na Região Central do estado. Já nas rodovias estaduais, o fluxo de veículos não saiu da normalidade, segundo a Polícia Militar Rodoviária. Ao longo do domingo, ocorreram outros sete acidentes nas estradas mineiras, sem gravidade.

INTERNACIONAL
Dólares brasileiros para a lavoura
 Dilma deve anunciar linha de crédito de US$ 70 milhões para financiar o desenvolvimento da agricultura familiar na ilha

Silvio Queiroz

Brasília – Uma linha de crédito de US$ 70 milhões para financiar a mecanização e a compra de insumos para a agricultura familiar e cooperativa está entre as iniciativas concretas que resultarão da visita da presidente Dilma Rousseff a Cuba, a partir de hoje. A ajuda foi negociada ainda no ano passado pelo ministro do Desenvolvimento Agrário brasileiro, Afonso Florence, que esteve na ilha para detalhar as experiência nacionais com a distribuição da terra a pequenos proprietários — um caminho que o regime comunista empreendeu nos últimos três anos como parte das reformas econômicas promovidas pelo presidente Raúl Castro.
A chegada de Dilma a Havana, na primeira viagem ao país como presidente, coincide com um momento de transição também em aspectos do sistema político da ilha, discutidos ao longo do fim de semana na 1ª Conferência Nacional do Partido Comunista de Cuba (PCC). No entanto, o chanceler Antonio Patriota praticamente descartou, em declarações feitas em Davos (Suíça), que seja abordado publicamente o tema dos direitos humanos. Na quarta-feira, a embaixada brasileira concedeu visto para que a blogueira dissidente Yoani Sánchez visite o país em fevereiro, para o lançamento de um documentário sobre ela, mas é improvável que Dilma interceda às autoridades locais para que autorizem a viagem.
"Este é um período em que eles passam por ajustes no seu modelo econômico e se inspiram em várias experiências do Brasil, além de um tempero da China e do Vietnã", diz o porta-voz do Itamaraty, Tovar Nunes. O objetivo da presidente é estender e aprofundar programas de cooperação em andamento, principalmente as obras de ampliação do Porto de Mariel, realizadas pela construtura brasileira Odebrecht com financiamento de US$ 683 milhões pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)".
"A viagem sinaliza o interesse do Brasil em participar de projetos nas áreas agrícola, de energia e de infraestrutura", explicou o diplomata. Um dos projetos em andamento, com a participação da Embrapa, contempla o apoio técnico para incrementar a produção de milho e cana-de-açúcar. A Odebrecht atuará na cogeração de energia para o processamento das colheitas. O interesse cubano, porém, se volta também para os programas do governo brasileiro para desenvolver a agricultura familiar e a produção de alimentos. "Eles não querem copiar modelos, mas estudá-los para adaptar à realidade deles", conclui Tovar Nunes.
Segunda reforma Desde 2006, quando assumiu o comando de Cuba no lugar do irmão mais velho, Fidel Castro, Raúl vem introduzindo reformas destinadas a dinamizar a economia e sanear as contas do Estado, carregadas por um pesado mecanismo de subsídios. Em particular, o presidente determinou como prioritária a produção de alimentos, já que o país importa cerca de 60% daquilo que consome. A reforma agrária proclamada em 1959, no início da revolução, foi atualizada em 2008 para incentivar a pequena propriedade familiar e o cooperativismo. Desde então, com a entrega de terra a pequenos produtores, o número de propriedades no país teve um acréscimo de 150 mil.

""Eles deixaram Wilmar morrer"
Brasília – "Wilmar era um homem de grande coração, que tirava de si mesmo para dar aos mais necessitados, era um pai maravilhoso, que amava as suas filhas. Como marido, era amoroso, me respeitou e me quis muito." As palavras são de Maritsa Pelegrino Cabrales, integrante da organização Damas de Branco e viúva do preso político Wilmar Villar, 31 anos, ligado à União Patriótica Cubana, morto em 19 de janeiro, depois de 50 dias de greve de fome. Em entrevista por telefone, da cidade de Contramaestre (900km a sudeste de Havana), Maritsa acusou a polícia política: "Eles o deixaram morrer". A viúva também falou sobre a visita da presidente Dilma Rousseff a Cuba, e desmentiu que sofresse agressões físicas do marido, como afirmaram as autoridades do regime.

Quem a senhora responsabiliza pela morte de seu marido?
A culpada é a polícia política de Cuba. Eles não lhe deram atenção médica. Deixaram-no morrer. No 25º dia de greve de fome, pedi a eles que o socorressem, mas se negaram. Tentei no dia seguinte e nada. Não quiseram. Então, eles são os responsáveis.

Quando esteve com Wilmar Villar pela última vez?
A última vez foi quando ele me pediu que levasse as duas filhas, porque algo se passava com ele. Foi em 4 de janeiro, creio. Fui com as meninas até a prisão porque ele me chamou, desesperado. Estava angustiado e queria ver as filhas. Dias depois, ele começou a piorar bastante, até que recebi a notícia de que havia sido levado ao hospital (em Santiago de Cuba).

Como é viver sem a presença dele?
É uma vida vazia. Uma parte de mim está vazia. O que tenho são as minhas filhas, que me dão uma grande força para seguir adiante e ajudam a preencher um pouco desse vazio. Mas minha vida sem ele é muito triste. Tenho muitas lembranças. Aonde quer que eu vá, o que quer faça, minhas filhas... Tudo me lembra dele. Não é fácil.

Existe um rumor de que Wilmar teria sido preso após agredi-la fisicamente...
Isso é mentira. A segurança, o governo é quem está afirmando isso. O governo está desacreditado em todo o mundo e agora quer se limpar. Mataram meu marido e agora querem matá-lo mais. Eles o estão desacreditando, ao afirmarem que era um delinquente e que bateu em mim.

A senhora apoiava a greve de fome?
Não, nunca concordei. Dizia: "Wilmar, olhe as nossas filhas, você sabe bem o que está fazendo? Você vai se arrepender da decisão que está tomando". Mas ele estava firme, firme como uma pedra. Ele me dizia que, em Havana, milhares de pessoas são presas injustamente. E que ele teria de se indignar dessa forma. Nunca concordei, mas o apoiei durante todo o tempo.

Em algum momento ele disse que tinha medo da morte?
Em nenhum momento ele disse que tinha medo de morrer. Ele dizia: "Liberdade ou morte". Wilmar afirmava que, acontecesse o que acontecesse, permaneceria firme. Mas não temia a morte. Ele sempre tinha a esperança e a fé em Deus de que conseguiria o que queria e poderia ser libertado.

Como a senhora vê a repercussão internacional da morte de seu marido?
Não se respeitam os direitos humanos em Cuba. Aqui não existe direito à liberdade de associação. Aqui não há o direito de se expressar livremente. Não podemos falar ou dizer o que sentimos, sob pena de multa, e em seguida nos levam presos.

A senhora gostaria de dizer algo à presidente Dilma Rousseff?
Gostaria que ela comunicasse ao povo cubano que os direitos humanos serão respeitados e que as pessoas serão tratadas com justiça e serão ouvidas. As pessoas que se levantam desejam falar sobre seus ideais.

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