PRIMEIRA PÁGINA
Bezerra Coelho depõe hoje
CRISE Ministro falará na comissão representativa do
Legislativo, de maioria governista, e tentará pôr um ponto final no ciclo de
desgaste
POLITICA
Gurgel envia ao MP ação contra ministro
BRASÍLIA – O procurador-geral da República, Roberto
Gurgel, decidiu encaminhar para a primeira instância do Ministério Público
Federal o pedido feito pelo DEM para investigar o ministro Fernando Bezerra
Coelho (Integração Nacional). Gurgel entende que os fatos apresentados pelo
partido de oposição devem ser analisados pela primeira instância, pois, ao
menos por enquanto, não há indícios da prática de crime.
Caso a Procuradoria Regional do Distrito Federal
entenda que existem irregularidades a serem apuradas, ele será investigado por
improbidade administrativa. As ações de improbidade correm na primeira
instância do Judiciário, mesmo que o alvo tenha seja uma autoridade com
prerrogativa de foro em tribunal superior.
O DEM pediu que o ministro seja investigado pelos
seguintes fatos: favorecimento no repasse de recursos de combate a enchentes
para Pernambuco, o privilégio dado ao seu filho na liberação do maior volume de
emendas parlamentares da pasta em 2011 e as acusações de que Bezerra teria
ignorado o decreto antinepotismo ao manter o irmão, Clementino Coelho,
presidente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e
Parnaíba (Codevasf) durante quase um ano.
Ontem, Bezerra não quis comentar reportagem da
Folha de S.Paulo informando que a estatal Codevasf escolheu a empresa de um aliado
e amigo para contrato de R$ 4,2 milhões em Pernambuco. “Todas essas perguntas
relativas a essas matérias e supostas denúncias em relação à minha trajetória
política eu terei tempo e estarei num lugar adequado (para falar sobre isso),
afirmou.
Prefeito dificulta”, avalia Dilson
PT x PT Mais um integrante da corrente CNB reforça a
pressão sobre o prefeito João da Costa, que vem sendo minado no próprio partido
Paulo Augusto
pauloaugusto@jc.com.br
O tempo passa e a pressão diante do prefeito João
da Costa (PT) vai aumentando. Como se não bastassem os vários recados dados nas
últimas semanas por integrantes da tendência majoritária Construindo um novo
Brasil (CNB), de que o gestor precisa urgentemente unir o partido e a Frente
Popular, sob pena de ser rifado da disputa municipal, a reaproximação entre o
senador Humberto Costa e o deputado federal João Paulo vem trazendo
questionamentos sobre o que estaria realmente por trás dessa boa relação,
impensável meses atrás. Integrante do diretório estadual do PT e um dos
principais nomes da CNB, o presidente da Empresa Pernambucana de Transporte
Intermunicipal, Dilson Peixoto, admitiu ontem que o momento “é delicado” para o
PT e que a movimentação de João Paulo – de conversar com Humberto – deve ser
levada em consideração. Mais: espera que João da Costa “tenha a grandeza de
admitir a existência de outras opções”, caso ele não consiga unir o PT no curto
prazo que lhe resta.
“Reitero o que dissemos na reunião da CNB – em
dezembro: a condição fundamental para João da Costa é, primeiro, unir o PT.
Segundo, unir a Frente Popular. O problema é que o partido vive uma situação
que é inédita, que é ter um prefeito com dificuldade de aglutinar. Não se trata
de uma dificuldade exterior, é uma dificuldade do prefeito”, enfatizou Dilson.
“Espero que ele (Costa) consiga unir o partido e viabilize sua candidatura.
Mas, se ele não unir, que tenha a grandeza de admitir que existem outras opções
para o projeto (da sucessão)”.
Sobre a relação João Paulo e Humberto, Dilson disse
que não há uma aproximação, mas uma “convergência de opiniões”, algo
fundamental para o partido. “Para o PT sair dessa situação é fundamental que
Humberto e João Paulo conversem, o que está acontecendo”, diz. Mas isso,
segundo ele, não significa que o ex-prefeito seja o preferido para a PCR. “A
CNB tem opções, como o próprio Humberto. Mas João Paulo é um nome fortíssimo”.
O JC tentou ouvir o prefeito João da Costa, que
ontem cumpriu agenda interna, após voltar de férias. Através de sua assessoria,
no entanto, o gestor informou que só hoje se pronunciaria.
Prefeito cassado será cobrado por gastos
JUSTIÇA A Advocacia-Geral da União e TSE firmam hoje
convênio para tentar garantir o ressarcimento de R$ 6 milhões que foram gastos
com eleições suplementares desde 2004
Agência O Globo
BRASÍLIA – Os prefeitos que tiveram seus mandatos
cassados nos últimos anos pela Justiça Eleitoral serão cobrados judicialmente a
ressarcir ao poder públlico os custos das eleições que foram realizadas em seus
municípios fora de época, para a escolha do novo nome. A Advocacia-Geral da
União (AGU) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) firmam hoje convênio para
tentar garantir o ressarcimento de casos passados – cerca de R$ 6 milhões foram
gastos com essas eleições suplementares desde 2004 – e também dos futuros. A
medida dificilmente resultará em frutos financeiros a curto prazo, mas servirá
como pressão política, e ação moralizadora, contra os políticos que fraudaram o
resultado eleitoral.
Além de pedir o ressarcimento pelo custo das eleições,
a AGU irá entrar com ação de indenização contra os prefeitos cassados por dano
moral coletivo, pelos transtornos causados aos eleitores que tiveram que votar
mais de uma vez e os prejuízos contabilizados pelos municípios em razão da
troca de comando.
“Trata-se de mais um instrumento de penalização
para quem viola a cidadania e a própria democracia e obtém, através de fraudes,
resultado favorável no processo eleitoral. O contribuinte brasileiro não pode
ser responsabilizado por pagar os custos que o Estado não deveria ter”, afirmou
o advogado-geral da União, Luís Inácio Lucena Adams.
Segundo a AGU, a partir de hoje começam a ser
ajuizadas 215 ações contra prefeitos e vice-prefeitos cassados pela Justiça
eleitoral. Dados do TSE mostram que desde 2004, saíram dos cofres públicos
cerca de R$ 6 milhões para custear as eleições suplementares. Desde 2008, ano
da última eleição municipal, até agora, foram feitas 176 novas eleições nos
municípios. Agora em 2012, em que serão realizadas novas eleições municipais,
estão marcadas outras quatro eleições suplementares, com prefeitos que ocuparão
as cadeiras por menos de um ano.
As eleições suplementares são realizadas sempre que
o candidato eleito com mais de 50% dos votos tiver seu registro eleitoral
negado ou o próprio mandato cassado por prática de irregularidade ou crime
eleitoral.
Alepe terá que informar lista do auxílio-moradia
POLÊMICA Justiça exige que em 15 dias a lista seja
informada
A Justiça ordenou que a Assembleia Legislativa de
Pernambuco forneça, em 15 dias, a lista de ex-deputados de 1994 a 1997 que
estão recebendo atualmente um auxílio-moradia retroativo ao período, assim como
o detalhamento dos valores repassados a cada um. O juiz que está respondendo
pela 2ª Vara da Fazenda Pública da Capital, Djalma Andrelino Nogueira Júnior,
acatou o pedido de liminar da ação popular impetrada por dez moradores do
Coque, Centro do Recife, e pela advogada René Patriota, ex-candidata ao Senado
pelo PV.
No despacho, o magistrado também fixa que a
Assembleia deve remeter cópia do parecer do procurador da Casa, Ismar Teixeira
Cabral, que autoriza a mesa diretora a liberar a verba aos 52 ex-deputados
estaduais que solicitaram o pagamento. De acordo com a decisão, os réus têm 15
dias a partir do recebimento da notificação para prestar as informações. A
partir da mesma data, contam-se 20 dias para a Assembleia contestar a ação por
meio de recurso.
Somente após decorridos esses prazos o juiz
decidirá se acata ou não a ação popular movida pelos moradores do Coque. Eles
reivindicam a devolução das parcelas pagas aos ex-parlamentares desde 20 de
setembro do ano passado, o que perfaz R$ 876 mil, e a suspensão das demais
parcelas. “A Assembleia agora está vendo que o povo de Pernambuco não está em
coma”, comemorou René Patriota, advogada do grupo.
A polêmica já dura três semanas. A verba
corresponde à equiparação salarial com a Câmara Federal, que entre 1994 e 1997
pagava auxílio-moradia a seus membros. Como na Assembleia não havia o
benefício, os deputados estaduais seguiram o exemplo de membros do judiciário e
requereram a isonomia.
Rápidas - STJ suspende bloqueio de bens de Kassab
O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ),
Ari Pargendler, suspendeu liminar da Justiça paulista que bloqueava os bens do
prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, por suspeita de irregularidade em
contrato feito entre o município e a empresa de inspeção veicular Controlar. A liminar
suspensa também reconhecia nulidades nesse contrato. A ação que aponta
irregularidades na contratação da Controlar foi proposta pelo Ministério
Público Estadual. O bloqueio foi decidido em 25 de novembro de 2011 pelo juiz
Domingos de Siqueira Frascino, da 11ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo.
ECONOMIA
Agência vai desenvolver Goiana
INDÚSTRIA AD Goiana será inaugurada hoje para
atrair mais empresas para a cidade, que está recebendo investimentos
bilionários
Goiana inaugura hoje a sua Agência de Desenvolvimento
(AD Goiana), criada por lei municipal em regime de autarquia. Com os
investimentos bilionários que estão sendo feitos no município, a cidade se
mobiliza para não perder a chance de crescimento.
A AD Goiana deve incrementar o processo econômico na
cidade, com a atração de novas empresas e recursos e o desenvolvimento de
programas de capacitação como os que já estão sendo feitos em parceria com o
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o governo do Estado para
capacitar mão de obra para a construção da fábrica da Fiat.
“Em março, deve começar a capacitação de mão de
obra para o pessoal de chão de fábrica e da parte administrativa”, diz o
presidente da AD Goiana, Rodrigo Augusto de Oliveira, empossado em novembro
para um mandato de cinco anos.
Rodrigo de Oliveira explica que a Prefeitura de
Goiana deve subsidiar R$ 40 mil mensais para a agência, que também deve
angariar investimento de entidades públicas e privadas.
“Ainda precisamos criar programas de capacitação
além do que está sendo feito. Vamos realizar um mapeamento das demandas de
Goiana, região que estava esquecida. Mas ainda temos muito para fazer para um
crescimento sustentável e estamos fazendo estudos para um novo plano diretor.”
De acordo com o presidente da AD Goiana, a agência
foi criada depois de uma conversa com a diretoria da Fiat e de outras empresas
do setor automotivo que vão se instalar aqui.
“Surgiu a preocupação de dar continuidade ao que
está sendo implementado na cidade com a vinda das indústrias. Visitamos Betim
(MG), onde a Fiat tem uma fábrica. Estamos alinhados para que a população seja
inserida no processo de desenvolvimento para evitar que aconteça o que houve em
Betim e que acontece em Ipojuca.”
Só a Fiat, que investe R$ 4 bilhões na fábrica que
deve lançar seu primeiro carro produzido em Goiana em março de 2014, deve
atrair cerca de 100 sistemistas – fábricas que fornecem equipamentos para a
montadora. Devem ser gerados cerca de 15 mil empregos na região.
FÁRMACOS
Outro polo que começa a ser desenhado no município
é o farmacoquímico, que deve receber investimentos da ordem de R$ 1 bilhão. A
Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás), estimada em R$
670 milhões, já teve inaugurado o primeiro dos 19 blocos da fábrica que
produzirá hemoderivados – medicamentos à base do plasma do sangue humano.
Também virão fábricas como a Riff Laboratórios
Farmacêuticos, que investirá R$ 83,5 milhões e abrirá 228 empregos na produção
de soro, e a Vita Derm Farmácia de Manipulação, que terá uma fábrica de R$ 28
milhões e 350 funcionários.
Mercado efetivou 15% dos temporários
DEMANDA Apesar do resultado positivo, estimativa da
Associação Brasileira Trabalho Temporário era ter ao menos 20% de todos os
contratados permanecendo nas empresas
RIO E RECIFE – O cenário de incertezas na economia
teve impacto no número de efetivações dos temporários após o período do Natal.
Das 147 mil vagas abertas em todo o País, 15% foram transformadas em emprego
efetivo, segundo pesquisa de checagem encomendada pela Associação Brasileira
das Empresas de Serviços Terceirizáveis e de Trabalho Temporário (Asserttem).
Pela previsão inicial da entidade, este percentual seria de 20%.
Jismália de Oliveira Alves, presidente da
Asserttem, explica que o setor de trabalho temporário é muito sensível às
variações da economia, o que justifica a diminuição do número de efetivações.
“O momento é de ansiedade e expectativa, o que implica uma maior cautela por
parte dos segmentos contratantes de mão de obra temporária”, disse.
Em 2011, comércio e indústria abriram número de
vagas 5% maior do que no mesmo período de 2010.
Apesar disso, nos últimos meses de 2011, o número
de vagas temporárias abertas pelo comércio e pela indústria foi 5% maior do que
no mesmo período de 2010, quando foram contratados 140 mil trabalhadores para
as festas de final de ano.
No Natal de 2011, o comércio empregou 103 mil
pessoas e a indústria, 44 mil.
A remuneração para quem conquistou uma vaga
temporária no último Natal ficou entre R$ 690 e R$ 996, nas atividades do
comércio, e entre R$ 920 e R$ 1,3 mil, na indústria. Os homens ocuparam a
maioria das vagas, ficando com 55% das oportunidades no comércio e 65% na
indústria.
As principais funções contratadas pelo comércio
foram analista de crédito, atendimento, crediário, embalador, estoquista,
etiquetador, fiscal de caixa, fiscal de loja, operador de telemarketing, Papai
Noel, vendedor, promotor de vendas e repositor.
Já na indústria, houve mais contratações nas
funções de auxiliar administrativo, auxiliar de laboratório, nutricionista,
operador de máquinas, técnico em segurança do trabalho, auxiliar de departamento
financeiro, auxiliar de serviços gerais, operador de empilhadeira, técnico em
manutenção industrial e motorista.
VAREJO
Uma pesquisa divulgada ontem pela Associação
Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), em parceria com o instituto de
pesquisas Ibope Inteligência, mostra que o varejo brasileiro fechou 2011 com um
faturamento de R$ 705 bilhões, um crescimento nominal de 10,5% em relação a
2010. Exclui-se deste valor a venda proveniente de combustíveis, setor
automotivo e material de construção. Do montante, o consumo dos moradores da
região Nordeste foi responsável por gerar aproximadamente R$ 88,3 bilhões,
entre os segmentos de alimentação, artigos de uso pessoal, calçados,
eletrodomésticos e eletroeletrônicos, artigos de higiene e cuidados pessoais,
vestuário, livros e material escolar e artigos para o lar.
UFPE e Petrobras firmam parceria
Dois convênios, no valor de R$ 10 milhões, foram
assinados ontem entre a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a
Petrobras. Os investimentos serão voltados para tecnologia, de um lado, e
questões sociais, de outro. É que um deles se refere a ampliação do Centro de
Estudos e Ensaios em Risco e Modelagem Ambiental (Ceerma), localizado no campus
da universidade, que é um dos mais modernos do mundo. E a outra iniciativa é
voltada ao desenvolvimento social da sub-região de Suape – Cabo de Santo
Agostinho e Ipojuca.
O convênio Ceerma – Fase II foi firmado pelo Centro
de Pesquisas Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes) da Petrobras, a
Universidade e a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da UFPE (Fade/UFPE) e
visa a ampliação da infraestrutura do Ceerma. O laboratório foi inaugurado em 6
de agosto de 2009 e é referência em estudos de confiabilidade e risco na área
de engenharia de poços.
O outro convênio, assinado pela Refinaria Abreu e
Lima, UFPE, e Fade, é o do projeto “Diálogos para o Desenvolvimento Social em
Suape”. O objetivo é diminuir os índices de violência e melhorar as condições
de saúde no Cabo de Santo Agostinho e em Ipojuca, beneficiando cerca de 160 mil
moradores. Fazem parte do público-alvo três mil profissionais atuantes em
instituições de saúde, educação e serviço social, 20 mil homens trabalhadores
das empresas terceirizadas e residentes na região, além de quatro mil
profissionais do sexo. “A assinatura do convênio mostra a preocupação da
Universidade com os impactos gerados pela instalação da refinaria na região. A
intenção é discutir com a comunidade formas de melhorar a qualidade de vida dos
jovens, para que eles sejam inseridos nos novos negócios gerados a partir da
refinaria” explicou o reitor da UFPE Anísio Brasileiro.
As atividades que serão desenvolvidas são de
orientação sobre sexualidade e gravidez na adolescência, prevenção de doenças
sexualmente transmissíveis, enfrentamento à exploração sexual de crianças e
adolescentes e à violência e o combate ao uso abusivo de álcool e outras
drogas.
Depois da assinatura dos convênios, na manhã de
ontem, houve palestra proferida pelo gerente executivo Cenpes da Petrobras,
Carlos Tadeu da Costa Fraga. Com o tema “Perspectivas para a Pesquisa em
Petróleo no Brasil: Papel das Universidades”, Carlos Tadeu da Costa Fraga
trouxe à pauta as ações estratégicas da Petrobras, a história e o crescimento
da empresa, presente em 23 países. O evento também teve a participação do
vice-reitor Silvio Marques, do presidente da refinaria, Marcelino Guedes, da
reitora do IFPE, Cláudia Sansil, da secretária executiva da Fade, Suzana
Montenegro.
O novo perfil da construção
DEMANDA Hoje, são as empresas que buscam os profissionais
nas salas de aula e pagam mais de quatro vezes o salário de alguns anos
Motor do crescimento econômico do Estado, a
construção civil tem provocado mudanças profundas no mercado de trabalho de
seus profissionais mais nobres, os engenheiros. Salas inteiramente masculinas,
estudantes garimpando vagas nas empresas e remunerações baixas não fazem mais
parte da realidade. O cenário é justamente o inverso. As mulheres, que antes
representavam 1% dos alunos dos cursos de Engenharia Civil, chegam a responder
hoje por 30% em algumas classes. Os salários iniciais, que há mais de cinco
anos eram de R$ 900, saltaram para R$ 3.900, mais de quatro vezes, segundo
estimativas do setor. E os universitários ainda nos primeiros períodos são
recrutados por construtoras e treinados para seguirem carreira nas empresas,
resposta direta à agressividade na disputa por mão de obra qualificada.
A maior participação das mulheres, comenta o
professor do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE) Tibério Andrade, era uma mudança cultural na área que ganhou
impulso por conta da explosão na demanda por esses profissionais. Em seus 20 anos
de salas de aula, Andrade lembra que era uma raridade encontrar o público
feminino em algumas turmas anos atrás. “Hoje elas estão não apenas nos
escritórios, mas na área de produção, nos canteiros”, acrescenta.
Quanto à remuneração, o professor confirma que o
mercado melhorou sensivelmente. “De uma situação onde quem se formava não tinha
sequer onde se empregar para profissionais em começo de carreira obtendo até R$
6 mil de salário, afora benefícios. Se antes se falava em muito engenheiro para
pouco trabalho, hoje é o contrário”, diz. Os altos salários são reflexo da
briga por profissionais, que além da importação de engenheiros, especialmente
da Espanha e Portugal, criou uma procura cada vez maior das empresas por
universitários.
Gerente da unidade Recife da construtora Cosil,
Elaine Moura confirma essa movimentação. “As empresas estão formando suas
equipes. A ideia é preparar na casa. Estagiários hoje contam com boa
remuneração, plano de saúde e mais benefícios. Um diferencial para mantê-los
nos quadros”, resume. A Cosil, com duas obras no Estado, por exemplo, possui
quatro estagiários de Engenharia Civil.
O professor Tibério Andrade acrescenta à lista de
transformações no mercado a interiorização da oferta de emprego, por conta das
grandes obras públicas, e a diversificação das áreas de atuação em Pernambuco,
antes focada em empreendimentos imobiliários, e agora turbinadas pelos ramos
portuário, rodoviário e ferroviário, sem contar megaprojetos como o da Arena
Pernambuco e Cidade da Copa.
A resposta para todas essas mudanças ocorridas no
mercado de trabalho de Engenharia Civil está no desempenho do segmento da
construção. Os números oficiais dão conta de um salto de 98 mil pessoas
empregadas, em diversas profissões relacionadas, no Grande Recife em novembro
de 2010 para 116 mil no mesmo mês do ano passado, alta de 18,4% – os dados são
mais recentes contabilizados pela Pesquisa de Emprego e Desemprego do
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Além disso, no último trimestre do ano passado, entre julho e setembro, o
crescimento no Produto Interno Bruto (PIB) da construção civil em Pernambuco
foi de 8,1%, o que alavancou os índices do setor industrial e contribui com
força no crescimento de 3,9% em toda economia do Estado.
Eike criará a maior geradora de energia
NEGÓCIOS Empresário brasileiro firma parceria com alemães
para instalar no Brasil uma companhia com capacidade de produzir cerca de 20
gigawatts de energia elétrica
SÃO PAULO – A empresa de energia MPX, do empresário
Eike Batista, anunciou ontem a formação de uma “joint-venture” com a elétrica
alemã E.ON, que formará a maior empresa privada de energia do Brasil.
Pelo acordo, a MPX vai levantar R$ 1 bilhão por
meio de aumento de capital em que a E.ON vai participar no final com cerca de
R$ 850 milhões. Com isso, a alemã assumirá participação de 10% na empresa de
energia brasileira. A expectativa é que a operação seja concluída no segundo
trimestre deste ano e que a aliança produza uma empresa com capacidade de
geração total de 20 GW, o equivalente a capacidade de duas Chesf.
A joint-venture (espécie de parceria) em partes
iguais “será o único veículo de investimento para novos projetos de energia de
ambas as companhias no Brasil e no Chile e será responsável pelo
desenvolvimento, execução e operação de empreendimentos de energia térmica e
renovável nestes países, além de todas as atividades de suprimento e
comercialização”, afirma a MPX em comunicado.
Para formar o novo empreendimento da dupla, a MPX
entregará à parceria 50% de sua carteira de empreendimentos térmicos sem
contrato de compra e venda de energia e a E.ON terá opção de comprar
participação adicional no projeto de energia no Porto de Açu, que está sendo
erguido no Rio de Janeiro.
A joint-venture também reunirá atividades de
suprimento e comercialização da MPX e os projetos de energia renovável da
empresa de Batista. As usinas térmicas têm capacidade total de 10,35 GW,
enquanto os projetos de energia renovável são de fonte solar (5 MW) e eólica
(113 MW).
Para permitir que a parceria acelere a
implementação da carteira de projetos, “E.ON e MPX vão, caso a caso, analisar a
possibilidade de pré-financiamento pela E.ON da porção de capital próprio da
MPX.”
Parte do plano de aliança das duas empresas, a MPX
fará cisão de ativos de mineração de carvão na Colômbia, criando uma empresa, a
CCX, que será listada no Novo Mercado da BM&FBovespa.
BRASIL
Pastora denunciada por escravizar índia
GOIÁS O Ministério Público Federal acusa a
religiosa de ter explorado menina xavante de 13 anos ao longo de 19 meses, em
sua casa, em Goiânia. Pena para o crime é de até 16 anos
GOIÂNIA – O Ministério Público Federal (MPF) em
Goiás denunciou ontem, em ação penal à Justiça Federal, a pastora W.F.M.B., por
ter mantido em sua casa, durante 19 meses, em Goiânia, uma criança xavante,
menor de 14 anos, em condição análoga à de escrava.
A menina, que é da tribo de São Marcos, em Barra do
Garças, Mato Grosso, habitou, entre os meses de maio de 2009 e novembro de
2010, um sobrado do Setor Coimbra, bairro próximo ao Centro. Ela foi apelidada
pela pastora de “mucama” – sinônimo de criada, serva, escrava ou doméstica.
“O trabalho doméstico infantil de menores de 16
anos foi incluído na lista das piores formas de atividades que exploram as
crianças”, disse o procurador Daniel Resende Salgado. O Código Penal prevê,
para o crime e agravantes somados, até 16 anos de reclusão.
Daniel Salgado afirmou que optou por manter sob
sigilo o nome da menina, divulgar as iniciais da mulher e omitir a denominação
neopentecostal.
Contou, ainda, que ouviu a menina por meio de
intérpretes. E a criança xavante, hoje com 13 anos de idade, relatou como era
ameaçada e castigada caso não executasse os trabalhos domésticos diários: lavar
as louças, cozinhar, passar roupas, lavar o piso do sobrado e distribuir
folhetos da igreja às sexta-feiras.
O caso veio à tona em dezembro de 2010, conforme o
procurador, quando professoras viram hematomas pelo corpo da garota. Apatia,
tristeza, indisposição, faltas constantes e o caderno com o dever de casa
incompleto também chamaram atenção na Escola JK, em Goiânia. “A partir da
revelação das ameaças e espancamentos, elas denunciaram o caso à Policia
Civil”, contou.
O processo de exclusão da menina xavante teve
início em maio de 2009. O pai da menina estava em Goiânia para tratamento
médico de outra filha, na Casa do Índio, no setor Coimbra.
Alertado sobre o risco de violação da garota, então
com 11 anos, por outros índios de outras tribos, encontrou na igreja e na
pastora o abrigo aparentemente ideal para a criança crescer, estudar e ter
segurança. Libertada pela Polícia Civil, ela foi entregue ao seu grupo
indígena, na região leste de Mato Grosso.
Governo libera R$ 75 milhões para Estados
BRASÍLIA – O governo federal anunciou ontem que vai
destinar R$ 75 milhões para os três Estados mais afetados pelas fortes chuvas
que atingem o País – Minas Gerais (R$ 30 milhões), Espírito Santo (R$ 20
milhões) e Rio de Janeiro (R$ 25 milhões). O dinheiro será repassado via Cartão
de Pagamento de Defesa Civil, que viabilizará despesas em ações de socorro,
assistência a vítimas e restabelecimento de serviços em municípios com situação
crítica.
Os ministros Fernando Bezerra Coelho (Integração
Nacional), Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia), Tereza Campello
(Desenvolvimento Social e Combate à Fome), Alexandre Padilha (Saúde), Paulo
Sérgio Passos (Transportes) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil) se reuniram ontem no
Palácio do Planalto para discutir as ações no combate às enchentes. “Esses
recursos serão repassados aos governos dos Estados e aos municípios mais
duramente atingidos. Serão recursos que deverão prover despesas referentes a
mantimentos, combustível, todas as despesas necessárias ao restabelecimento da
situação anterior ao quadro do desastre”, disse Bezerra Coelho.
Segundo ele, o governo já disponibilizou 8 mil
cestas básicas para as vítimas das chuvas. Uma equipe de 50 especialistas já
está nos três Estados para atuar preventivamente em áreas de deslizamento, no
caso dos geólogos, ou de enxurradas, inundações e alagamentos, no caso dos
hidrólogos.
Os ministros deverão se deslocar para acompanhar de
perto o atendimento às populações afetadas – Paulo Sérgio Passos devia embarcar
ontem para Minas Gerais e Tereza Campello viaja hoje ao Rio. Bezerra Coelho
deve ir ao Rio Grande do Sul amanhã para anunciar medidas contra os efeitos da
estiagem na região.
De acordo com Bezerra Coelho, ainda não há previsão
de deslocamentos da própria presidente. “Não temos ainda nenhuma informação de
visita, mas certamente a presidente está acompanhando toda a evolução do quadro
de chuvas e estiagem”, afirmou. No início do ano passado, a presidente Dilma
Rousseff visitou municípios arrasados pelas chuvas no Rio.
As fortes chuvas que atingem Minas Gerais, Espírito
Santo e Rio de Janeiro devem sofrer uma “diminuição generalizada” nos próximos
dias, avaliou o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e
Desenvolvimento do Ministério da Ciência e da Tecnologia, Carlos Nobre. Balanço
do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) aponta que 51
trechos de 18 rodovias federais foram atingidos.
INTERNACIONAL
O Haiti ainda treme
TERREMOTO Dois anos após o tremor que devastou Porto
Príncipe e matou 316 mil pessoas, país mais pobre do nosso continente pouco
evoluiu. Entre escombros e pobreza, missão da ONU reduz seu contingente
Wagner Sarmento
wsarmento@jc.com.br
O 12 de janeiro de 2010 virou uma espécie de ano
zero na história do Haiti. Naquele dia, um terremoto de 7 graus de magnitude
pôs a capital Porto Príncipe abaixo. Matou mais de 300 mil pessoas, deixou 1,5
milhão de desabrigados, destruiu 80% das construções, 90% das escolas e tirou a
vida de 30% dos funcionários do governo, entre médicos, professores,
assistentes sociais e servidores públicos. Ou seja, o país acostumado a golpes
de Estado, crises políticas intermináveis, violência sem fim e pobreza sem remédio
precisava, uma vez mais, recomeçar. Hoje, no ano 2 do novo Haiti, as mudanças
são lentas, o cenário de destruição permanece intocado e a Organização das
Nações Unidas (ONU) começa a reduzir sua controversa presença no país mais
pobre das Américas.
A Missão das Nações Unidas para a Estabilização do
Haiti (Minustah) estima que só 40% dos destroços foram removidos. “Ainda há
muitos escombros. É um trabalho árduo, difícil. Pelos meios disponíveis, não
foi possível a retirada de todos os entulhos”, afirma o coronel William Georges
Felippe Abrahão, comandante do 14º contingente brasileiro na Minustah,
integrado pelo Comando Militar do Nordeste (CMNE), com sede no Recife, que,
dentro do rodízio feito pelo Exército, ficou na nação caribenha entre janeiro e
agosto do ano passado. “Ainda há muito por fazer”, admite. O CMNE retornará no
segundo semestre deste ano. A Minustah foi criada em 2004 e já contou com a
participação de 30 países.
O tenente-coronel Eloy Woellner Júnior, que também
fez parte do 14º contingente, corrobora dizendo que, no que tange à
reconstrução, a situação no Haiti é “bastante incipiente”. O Palácio Nacional
ainda está em ruínas, assim como outros prédios governamentais, e Porto
Príncipe tem cerca de mil “campos de deslocados”, onde ainda vivem, em
condições sub-humanas, em torno de 600 mil pessoas que perderam suas casas e
famílias na tragédia de dois anos atrás.
De acordo com Eloy, chefe de operações do 1º
Batalhão de Infantaria de Força de Paz (Brabatt 1), o último efetivo do CMNE
teve como prioridade supervisionar o conturbado processo eleitoral haitiano, o
que deixou o trabalho de reconstrução em segundo plano. O popular cantor Michel
Martelly foi eleito com 67% dos votos em uma eleição na qual Jude Célestin –
candidato do então presidente René Préval – viu-se forçado a renunciar ao
pleito, após o 1º turno, após denúncias de fraudes. Houve confrontos entre
grupos de candidatos rivais e a Minustah precisou intervir. Prova da
instabilidade política foi Martelly ter assumido o poder em 14 de maio, mas só
conseguir nomear um premiê, o médico Garry Conille, quatro meses depois. O
cenário de tensão ainda foi reforçado pelo retorno ao país de dois ex-ditadores
exilados, Jean-Claude Duvalier, conhecido como Baby Doc, e Jean-Bertrand
Aristide.
“Nosso foco acabou sendo o risco que representavam
as eleições. Isso limitou o trabalho de reconstrução. Foi nosso calo. O
objetivo principal era conduzir a segurança durante a votação e a transferência
de poder. Até porque, antes de tudo, antes do terremoto, nós integramos uma
missão de paz”, explica Eloy. Outro fator que impediu a aceleração das obras de
reconstrução foi ONU ter decidido segurar os recursos de infraestrutura para o
novo presidente. Além disso, a Minustah reclama que menos de 40% dos US$ 10
bilhões prometidos pela comunidade internacional chegaram ao Haiti.
Em meio às incertezas, a ONU anunciou, há três
meses, a redução, para ao longo deste ano, de 2.750 integrantes da missão, para
chegar ao efetivo que atuava no país antes do terremoto. Hoje, são 12.250
capacetes azuis. A diminuição do contingente da Minustah, liderada pelo Brasil,
ocorre em meio a sucessivas polêmicas envolvendo a tropa e a clamores da
população local para que o Haiti volte a andar com as próprias pernas.
Os haitianos acusam capacetes azuis nepaleses de
terem levado a cólera ao país caribenho, doença que já matou mais de 7 mil
pessoas. Em setembro de 2011, vazou na internet vídeo no qual militares
uruguaios integrantes da missão aparecem abusando sexualmente de um jovem de 18
anos. Em dezembro, nova denúncia: oito militares brasileiros foram acusados de
agredir e roubar três jovens haitianos durante uma abordagem. O JC entrou em
contato com o Ministério da Defesa para saber se a investigação do caso foi
concluída, mas não obteve resposta.
Especialista em organismos multinacionais, o
assessor para relações internacionais da Universidade Católica de Pernambuco
(Unicap), Thales Castro, acredita que o Haiti ainda não está pronto para se
desvincular da Minustah. “O Haiti é um país em frangalhos, sem orçamento
público e dependente da ajuda internacional, inclusive do Brasil. Não à toa
temos visto centenas de haitianos cruzando ilegalmente a fronteira do Brasil em
busca de uma vida melhor. O Haiti ainda não está plenamente em condições de
autogerir”, opina. “Temos a esperança de que, com um novo presidente e uma
estrutura política estabelecida, os haitianos possam retomar o crescimento e,
no futuro, num acordo entre eles e a ONU, encerrar a missão e caminhar
sozinhos”, enfatiza o comandante Abrahão.
Ainda hoje, 80% dos haitianos vivem abaixo da linha
da pobreza, sobrevivendo com menos de US$ 2 por dia. O desemprego atinge 70% da
população, só 5% têm energia elétrica, o saneamento básico inexiste, 80% vivem
em favelas e o índice de analfabetismo chega a 60%.
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