PRIMEIRA PÁGINA
Fundos
driblaram queda da bolsa e ainda bateram o CDI
Com uma estratégia basicamente conservadora, um
seleto grupo de dez fundos de ações conseguiu não apenas evitar perdas com o
naufrágio da bolsa, que caiu 18,1% em 2011, mas ainda superar o rendimento de
11,6% proporcionado pelo CDI. O ranking elaborado pelo economista Marcelo
d"Agosto, responsável pelo blog "O Consultor Financeiro" no
portal Valor, levou em conta os fundos de ações não exclusivos e com mais de
dez cotistas.
Os resultados mostram que 2011 foi o ano dos papéis
"defensivos", bons pagadores de dividendos, com geração de caixa
estável. A liderança ficou com os fundos BB Ações Cielo e Bradesco FIA Cielo,
que compraram apenas ações da credenciadora de cartões, cujos papéis subiram
53,3%. As ações de Cielo e Redecard tiveram grandes descontos em 2010 porque os
investidores apostavam que a abertura da concorrência em um setor antes fechado
derrubaria seu valor. Isso não ocorreu.
Minoritários
reclamam da Petrobras
Acionistas minoritários estrangeiros da Petrobras
estão preocupados em garantir que indicarão, sem interferência da empresa, um
representante para o conselho de administração na assembleia geral deste ano.
Há oito dias, dez grandes investidores europeus e americanos enviaram carta ao
ministro Guido Mantega, presidente do conselho de administração da companhia. O
motivo da carta foi a indicação e posterior eleição para o conselho de Josué
Gomes da Silva, controlador da Coteminas e filho do ex-presidente da República
José Alencar. Os acionistas reclamam do procedimento da Petrobras, que os levou
a aprovar o nome do empresário sem todas as informações a seu respeito.
Ata
mostra que o BC adotou 'cenário Dilma'
O Banco Central deu um claro sinal de que está
disposto a concretizar o "cenário Dilma", com a taxa Selic perto de
9% ao longo de 2012. Foi isso que a ata do Copom sacramentou ontem, com uma
previsão explícita sem precedentes: a taxa de juros deve ser de um dígito, dado
o frágil ambiente externo. Da leitura do texto fica pelo menos uma convicção: a
convergência dos juros domésticos para os padrões internacionais é um projeto
de governo.
Ao fazer essa previsão, o BC recorreu a argumentos
questionados por parte do mercado, como o de que a inflação em 12 meses caminha
para o centro da meta em 2012 e que o juro neutro (aquele que permite o
crescimento econômico sem gerar inflação) mudou de nível e é menor atualmente.
"Fazer essa indicação sobre a Selic quando a projeção da inflação do
próprio BC não está totalmente alinhada com o centro da meta é assumir
riscos", afirma o economista-chefe do Deutsche Bank, José Faria.
"Cresceu o risco de o BC ter de subir os juros antes de 2013".
Porta-contêineres
ficam ociosos
A redução do comércio internacional faz com que as
empresas de navegação especializadas no transporte de contêineres enfrentem
excesso de capacidade em relação à demanda. Essa realidade deixou ancorados nos
portos, no início de janeiro, 246 navios ao redor do mundo, o equivalente a 595
mil TEUs (medida equivalente a um contêiner de 20 pés), ou 3,9% da capacidade
de carga da frota mundial. Em abril, o percentual da frota ociosa pode chegar a
5,5%.
EDITORIAL
Cenário
positivo do Copom aponta Selic de um dígito
A ata da 164ª reunião do Comitê de Política
Monetária (Copom), que imprimiu o quinto corte consecutivo de meio ponto da
taxa básica de juros, reduzindo-a de 11% para 10,5% ao ano, na semana passada,
exala objetividade em seus 77 parágrafos.
A mensagem mais importante do Copom foi confirmar
as previsões de queda da taxa Selic para um dígito neste ano, com uma clareza
raramente vista em outros comunicados. Conforme a ata, "o Copom atribui
elevada probabilidade à concretização de um cenário que contempla a taxa Selic
se deslocando para patamares de um dígito", o que não acontece desde junho
de 2010. O mercado financeiro trabalha com a previsão de que a taxa básica
cairá para 10% na próxima reunião do Copom, em março, e para 9,5% na seguinte,
em abril, chegando, portanto, a um dígito. Mas havia quem imaginasse que a Selic
estacionaria nos 10%, hipótese levantada depois que o relatório trimestral de
inflação sinalizou a alta da inflação em 2013 pelo cenário de mercado.
Para que o juro de um dígito se torne realidade
neste ano continuam contribuindo os fatores externos, isto é, a instabilidade
financeira global, com seu "viés desinflacionário" e contenção dos
preços das commodities, que desencadearam a revisão da política monetária em
agosto de 2011. Já na semana passada, o Copom notava a "postergação de uma
solução para a crise europeia" e a "persistente deterioração do
cenário internacional", que seriam confirmadas nesta semana, inclusive com
a redução das previsões de crescimento econômico global pelo Fundo Monetário
Internacional (FMI). Não fazia parte do cenário da reunião do Copom a decisão
do Federal Reserve (Fed, banco central americano), anunciada quarta-feira, de
manter os juros perto de zero até o fim de 2014 e não mais até meados de 2013,
como anunciara antes, o que manterá o mercado internacional irrigado por dólares
e a pressão sobre o câmbio.
Mas, a essa altura do campeonato, os fatores
domésticos adquiriram mais influência na redução dos juros. Um deles,
reconheceu finalmente o Copom, é que "a desaceleração da economia
brasileira no segundo semestre do ano passado foi maior do que se
antecipava".
Importante também é que a inflação está mais
comportada. Neste início de ano, a inflação tende a subir, como já sinalizou o
IPCA-15 de janeiro, mas por pressões sazonais dos gastos com educação e
transporte. A tendência, porém, é recuar, como já está acontecendo no acumulado
em 12 meses. O Copom declarou-se "mais seguro" de que a inflação vai
convergir para o centro da meta neste ano, ou seja, para 4,5%. Na previsão do
mercado financeiro, porém, a inflação fecha o ano em 5,29%.
O Comitê deixou claro que a queda da inflação
pressupõe a manutenção da política fiscal de geração de superávit primário, que
contribui para arrefecer a demanda e reduzir a relação entre dívida pública e
Produto Interno Bruto (PIB). É o que vem sendo chamado de novo mix da política
econômica, em que a produção de superávits primários abre espaço para uma
política monetária mais flexível. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já
prometeu superávit primário equivalente a 3,1% neste ano, sem descontar os
gastos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas ainda não apresentou
os cortes que serão feitos no orçamento para obter esse resultado. Esperado
para esta semana, após a reunião ministerial, o anúncio dos cortes ficou para
fevereiro. A explicação do governo é que espera ter um quadro melhor do
comportamento da arrecadação no próximo mês. Em 2011, receitas extraordinárias
facilitaram o trabalho.
Sinal inequívoco de que o Copom quer dar ao mercado
assunto para debater é o parágrafo em que afirma que o cumprimento da meta de
inflação pelo oitavo ano consecutivo, a estabilidade macroeconômica, os avanços
institucionais, mudanças no mercado financeiro e de capitais, o desenvolvimento
do crédito e a geração de superávits primários consistentes causaram
"mudanças estruturais significativas na economia brasileira", que
determinaram o recuo das taxas de juros em geral, em particular da taxa neutra,
com reflexo na redução dos prêmios de risco e no aumento da oferta de poupança
externa a custo mais baixo. Para o Copom, essas são transformações permanentes.
O único problema potencial que o Copom vê nesse
cenário positivo é o risco de concessão de aumentos de salários
"incompatíveis com o crescimento da produtividade", derivado do
aquecimento do mercado de trabalho e suas repercussões negativas na inflação.
EDITORIAL
A África
do Sul e o Fórum de Davos :: Miller M Matola
Como a África do Sul deveria se posicionar esta
semana no Fórum Econômico Mundial de 2012 em Davos, na Suíça é algo que tem
sido discutido há algum tempo entre membros do governo, líderes sul africanos e
nossa equipe do Conselho Internacional de Marketing da África do Sul (Brand
South Africa).
Evidentemente, assuntos de natureza política são
discutidos em Davos, mas esse não é apenas um fórum político. É um fórum
econômico e um espaço também para o diálogo comercial. O desafio que Davos
lança aos líderes é pensar de forma criativa e colaborativa com o objetivo de
propor soluções práticas para os complexos problemas da atualidade.
O tema deste ano em Davos - "A Grande
Transformação: Dar Forma a Novos Modelos" - será especialmente relevante
para a África do Sul e também para a África como um todo. O mundo vive um
período de constante mudança desde o fim da guerra fria e a África está
emergindo como um player cada vez mais importante, tanto na economia global
como em estruturas internacionais.
De acordo com o FMI, na primeira década deste
século, seis das dez economias que mais cresceram no mundo estavam na África
subsaariana. O fundo prevê ainda que sete das dez economias que mais crescerão
no período entre 2010 e 2015 serão da região.
Vejamos algumas estatísticas. De acordo com o Fundo
Monetário Internacional (FMI), na primeira década deste século, seis das dez
economias que mais cresceram no mundo estavam na África subsaariana. O FMI
prevê ainda que sete das dez economias que mais crescerão no período entre 2010
e 2015 serão dessa região.
Da mesma forma, o FMI acredita que em 2011 a África
subsaariana tenha crescido a uma taxa anual média de 5,1%, em comparação com a
média mundial de 3,9% e a média em economias avançadas de 1,6%.
Davos apresenta aos representantes sul-africanos, e
de outros países da África, uma oportunidade de mostrar ao mundo essa
transformação estrutural e assim mudar a natureza dos debates sobre as
perspectivas da nossa região. Essa transformação continua ganhando força devido
à estagnação das economias de países desenvolvidos, à crise da dívida soberana
na União Europeia, às deficiências estruturais no setor financeiro e atuais
crises políticas em muitas economias avançadas. Além disso, o declínio relativo
do tradicional poder político e econômico exercido pelo Ocidente e a emergência
de novas potências e grupos, tais como as nações Brics, estão mudando a forma
como o mundo se define e se relaciona.
Em linha com o tema, destacaremos ainda como a
entrada da África do Sul nos Brics abriu a porta para excelentes oportunidades
de comércio e investimento. No momento, a África do Sul tem uma população de 50
milhões de pessoas e uma economia que vale US$ 527 bilhões. Estão sendo
conduzidas negociações para estabelecer uma Zona de Livre Comércio Africano em
até três anos, composta por 26 países do leste, sul e centro da África. A ZLC,
com valor estimado de US$ 1 trilhão, expandiria o mercado para englobar 600
milhões de pessoas.
Junto com novos projetos para estradas regionais,
infraestrutura ferroviária e portuária, a ZLC facilitará um fluxo mais
eficiente de mercadorias, talentos e investimentos na região, além de aumentar
a competitividade e exportação.
Apesar de a confiança nos mercados financeiros em
várias regiões do mundo estar minada, a África do Sul tem alguma vantagem neste
quesito. O Índice de Competitividade Global de 2011/12, elaborado pelo Fórum
Econômico Mundial, relatou um elevado grau de confiança no desenvolvimento dos
nossos mercados financeiros, fato que nos posicionou em 4º lugar no ranking
global dessa categoria. O regulamento da Joanesburgo Securities Exchange (JSE)
foi o primeiro colocado no mundo, assim como foi a força dos processos de
auditoria e prestação de contas da África do Sul. Além disso, ocupamos o
segundo lugar nas categorias solidez dos bancos e eficácia das diretorias de
empresas.
Quanto aos investimentos estrangeiros diretos,
devemos ressaltar o vasto potencial da África do Sul em mineração e recursos
naturais. Somos o maior produtor mundial de platina, cromo, vanádio e manganês,
e o terceiro maior em mineração de ouro. Também oferecemos serviços de
mineração altamente sofisticados. O setor de beneficiamento de minerais é outra
área de grande crescimento e foco, assim como são os setores de água;
agro-processamento; desenvolvimento de economia verde; geração de energia;
infraestrutura; e fabricação. A localização privilegiada da África do Sul, com
acesso direto para o resto do continente africano e situado entre o Oriente,
Américas, Europa e Oriente Médio, confere ao país muitas vantagens estruturais,
tornando-o um excelente destino de investimentos e o parceiro ideal para o
crescimento da África.
Neste Fórum Econômico Mundial em Davos, a África do
Sul desempenha um papel fundamental no diálogo sobre os novos modelos de
negócios, crescimento e investimento devido à crescente importância da África e
às muitas vantagens competitivas oferecidas pela África do Sul.
Miller M Matola é CEO da Brand South Africa
(Conselho Internacional de Marketing do Governo da África do Sul)
POLITICA
Diretor-geral
do Dnocs pede demissão
Por Daniela Martins e Raymundo Costa | De Brasília
O diretor-geral do Departamento Nacional de Obras
(Dnocs), Elias Fernandes, pediu demissão ontem sem protestos da cúpula do PMDB.
Os dirigentes do partido chegaram à conclusão de que a disputa por um cargo do
terceiro escalão, nos termos em que estava sendo feita pelo líder da bancada na
Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), servia apenas aos adversários e para
desgastar ainda mais a imagem da sigla. Mas a relação dos pemedebistas com o
Palácio do Planalto passa por um momento de tensão.
O próprio Henrique Alves, que, na véspera desafiara
o governo a demitir seu afilhado político no Dnocs, se limitou a anunciar a
saída de Elias Fernandes pelo Twitter. Em conversas com o vice-presidente
Michel Temer e outros integrantes da cúpula do PMDB, foi convencido a abandonar
o tom beligerante que adotara desde que foi divulgado um relatório da
Controladoria Geral da União (CGU) dando conta de desvios da ordem de R$ 312
milhões no Dnocs.
Segundo o PMDB, o líder da bancada na Câmara poderá
indicar o substituto ou ser compensado com nomeação em outro órgão da
administração. Se indicar o novo diretor-geral do Dnocs, no entanto, Alves terá
de atender os parâmetros de administração estabelecidos pela presidente Dilma
Rousseff. Em outras palavras, indicar um técnico. Assume interinamente o cargo
o atual secretário nacional de Irrigação do Ministério da Integração, Ramon
Rodrigues.
A saída de Fernandes já havia sido acertada entre o
Planalto e o PMDB, mas o desafio feito por Alves antecipou o desfecho. Novas
mudanças devem ocorrer ainda na área da Integração Nacional, atingindo as
direções da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba
(Codevasf) e Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Nomes
indicados pelo PMDB podem ser atingidos pelas mudanças, elevando ainda mais a
tensão entre o partido e o governo.
Ao anunciar a saída de Elias Fernandes, o
ministério procurou retirar qualquer caráter político da medida. Informou que
ele pediu para deixar o cargo "em função da restruturação dos quadros das
empresas vinculadas à Pasta".
Após a demissão, Henrique Eduardo Alves pediu prazo
para indicar o novo diretor-geral do Dnocs. "Peço alguns dias para
sugestão de novo nome para representar o RN e o PMDB na direção do Dnocs",
disse em sua página no Twitter.
Alves relatou no microblog a conversa que teve com
Elias Fernandes, após ele pedir demissão. Fernando Bezerra também falou por
telefone com Alves após o pedido de exoneração do afilhado político do deputado
potiguar.
O líder contou que Bezerra pediu que o diretor do
Dnocs o convencesse da necessidade de reestruturação no ministério. "E que
diante dessa colocação, ele, Elias, agradecendo minha irrestrita solidariedade,
pede que eu entenda seu pedido demissão, apontou Alves no Twitter.
"Ainda tentei demovê-lo nesse momento, mas com
impressionante tranquilidade, reafirmou sua decisão." Alves destacou que
Fernandes, também pemedebista, pediu demissão porque a discussão sobre sua
saída do cargo tinha saído "do campo administrativo para o político".
"Com isso ele não concorda e pede para sair. E
acrescenta que também não quer servir de exploração política ou gerar crise
política alguma para o seu partido, o PMDB", completou o líder. Dirigentes
do partido avaliaram que o aprofundamento da crise entre o PMDB e o governo só
interessava a PT e PSB, partido do ministro, que vem sendo alvo de denúncias de
supostas irregularidades. Afastando o diretor, Bezerra sairia do foco.
Alves disse que, na conversa com Bezerra, o
ministro pediu a indicação do sucessor na diretoria-geral da autarquia. E o
líder, que enfrentara o governo um dia antes, acenou com uma trégua.
"Converso com o ministro, agradeço sua consideração. E respeito o governo
Dilma como importante espaço administrativo do meu Estado."
Rodízio
entre senadores divide o PT
Por Raquel Ulhôa | De Brasília
O rodízio entre os senadores do PT nos três
principais cargos do partido no Senado, a cada ano do mandato, está ameaçado
pela decisão da senadora Marta Suplicy (PT-SP) de permanecer na primeira
vice-presidência da Casa até fevereiro de 2013. Paulo Paim (RS) e Delcídio
Amaral (MS) só estão dispostos a abrir mão das presidências das comissões de
Direitos Humanos (CDH) e Assuntos Econômicos (CAE), respectivamente, se Marta
também cumprir o acordo.
"O acordo do rodízio foi feito para os três.
Todos temos direito a dois anos de mandato nesses cargos, mas aceitaríamos sair
em um ano, se fosse para ajudar. Eu não tenho problema de sair, se o acordo for
mantido pelos três", disse Paim. Em viagem ao exterior, Delcídio
manifestou a colegas que está disposto a respeitar o entendimento, desde que
todos o façam.
Será tensa a reunião da bancada para discutir o
assunto, no dia 1º, véspera do início dos trabalhos legislativos, se até lá o
impasse estiver mantido. A eventual quebra de um acordo feito no começo da
legislatura, com aval da executiva nacional do partido, pode complicar a
convivência na bancada, segundo avaliação dos petistas.
A negociação entre os petistas em fevereiro de 2011
foi necessária porque Marta e José Pimentel (CE) disputavam a primeira
vice-presidência e nenhum dos dois cedia.
Pelo acordo, Marta cumpriria o primeiro ano do
mandato na Mesa Diretora, renunciaria e Pimentel seria indicado pelo PT para o
ano seguinte. O nome precisa ser eleito pelo plenário. Da mesma forma, os
mandatos dos presidentes das comissões reservadas ao PT também seriam
divididos. Delcídio presidiria a CAE um ano e seria sucedido por Eduardo
Suplicy (SP). Na CDH, Paim cederia o comando para Ana Rita (ES).
Marta, agora, avisou os colegas que não abrirá mão
do cargo. E Pimentel quer o cumprimento do acordo. O líder do PT, Humberto
Costa (PE), pediu que a executiva nacional trabalhasse pelo fim do impasse. A
cúpula partidária tem responsabilidade no caso, já que o acordo do rodízio teve
seu aval.
"O acordo deve ser cumprido, a não ser que
Pimentel não queira e abra mão", afirma Costa. Segundo ele, o acordo tem
que valer para os três cargos. No caso da liderança, não há polêmica. Pela
tradição da bancada, o mandato é de apenas um ano mesmo. Desta vez, disputam
Walter Pinheiro (BA) e Wellington Dias (PI).
Paim defenderá uma tese segundo a qual o
cumprimento integral do mandato de dois anos por cada titular pode ser
vantajoso para os 13 senadores da bancada petista - 14, contando com Gleisi
Hoffmann (PR), licenciada para exercer a chefia da Casa Civil da Presidência.
Ele faz um cálculo. São três cargos com mandato de
dois anos cada (um na Mesa Diretora da Casa e as presidências de duas
comissões), além da liderança da bancada, que, pela tradição do partido, é
trocada a cada ano. Cada senador tem mandato de oito anos. Dos 14 senadores, 11
foram eleitos em 2010 e têm mais sete anos pela frente. Os demais estão na
segunda metade do mandato, que termina em 2015. Ou seja, há tempo para que cada
interessado cumpra dois anos consecutivos em cada cargo.
No caso da CDH, por exemplo, se ele presidir até
fevereiro de 2013, Ana Rita poderá ficar no cargo nos dois anos seguintes, até
fevereiro de 2015, quando termina o mandato dela. Ela teria, portanto, a
oportunidade de disputar a reeleição contando com a visibilidade do cargo. Mas,
se ela assumir agora, deixará a presidência da comissão um ano depois e não
terá outra chance de ocupar o cargo antes de deixar o Senado.
Outro argumento usado por petistas que defendem a
permanência de Marta, Delcídio e Paim é a questão de ordem apresentada pelo
líder do DEM, Demóstenes Torres (GO), segundo a qual o rodízio é
inconstitucional e pode levar a um processo por quebra de decoro parlamentar
contra os envolvidos. Isso porque os mandatos de dois anos da Mesa Diretora e das
comissões são fixados pela Constituição.
CNJ
isenta licitação de irregularidade
Por Juliano Basile e Maíra Magro | De Brasília
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) começou o ano
com uma sessão secreta para resolver divergências internas. Os conselheiros
discutiram, por quatro horas, os detalhes de uma licitação para a contratação
de softwares, na qual a Oracle foi vencedora. Suspeitas de direcionamento no
processo geraram mais uma crise no CNJ e acusações contra o secretário-geral do
CNJ, Fernando Marcondes, homem de confiança do presidente do Conselho e do
Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Cezar Peluso.
O primeiro encontro do ano frustrou as expectativas
de que os conselheiros pudessem travar embates de repercussão política. Nos
últimos meses, uma disputa no CNJ em torno de suas atribuições vem dividindo os
representantes da magistratura, vinculados a Peluso, e conselheiros que pedem
maior fiscalização da folha de pagamentos dos Tribunais de Justiça e a
limitação dos poderes da Presidência do Conselho.
As queixas contra o secretário-geral do CNJ
surgiram depois que a IBM impugnou a licitação vencida pela Oracle. O debate se
tornou público, com conselheiros reclamando da falta de transparência no
procedimento.
Ontem, Peluso abriu a reunião dizendo que colocava
os técnicos do CNJ à disposição para prestar esclarecimentos a respeito da
licitação. O ministro chegou a se desculpar por não ter informado os demais
integrantes do Conselho sobre a necessidade das contratações. "Ele
reconheceu que o principal problema foi a falta de comunicação", relatou
um conselheiro ao Valor. "Se tivesse havido maior transparência, nada
disso teria acontecido. Estaríamos ao lado dele [de Peluso] para defender a
licitação", completou.
Depois da fala de Peluso, a diretora-geral do CNJ,
Gláucia Elaine de Paula, passou a responder os questionamentos de cada participante.
Os conselheiros Gilberto Valente Martins, integrante dos quadros do Ministério
Público, e Jefferson Kravchychyn, representante da Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB), foram os mais contestadores. Após sabatinar a diretoria do CNJ,
eles concordaram em assinar uma nota conjunta dizendo que não houve
irregularidade na licitação. A nota foi assinada por 11 dos 15 integrantes do
Conselho. Quatro faltaram à reunião.
"Os membros do CNJ declaram não ter dúvidas em
relação à legalidade ou regularidade do processo licitatório em questão",
diz a nota. Logo em seguida, há uma ressalva: "Sem prejuízo dos mecanismos
legais de controle".
Antes do encontro, Martins fizera pente-fino e
concluído que a licitação deveria ser anulada por conter "vícios
insanáveis". "Entendi alguns pontos. Agora, vamos aguardar a posição
do Tribunal de Contas da União e do controle interno do CNJ".
Quase ao fim, houve um debate a respeito de a
licitação ter sido discutida na imprensa. Um dos conselheiros disse que foi
"fratricídio". Peluso concordou: "É suicídio". Os
conselheiros teriam feito um pacto de não revelar à imprensa maiores detalhes
sobre o encontro.
Dilma
critica neoliberalismo e empolga plateia no fórum social
Por Cristiane Agostine | Porto Alegre
Em sua primeira participação como presidente no
Fórum Social Mundial Temático, Dilma Rousseff empolgou a plateia de movimentos
sociais com um discurso contra o neoliberalismo, com elogios ao fortalecimento
dos países latino-americanos e a favor do Estado da Palestina. A presidente foi
interrompida por palmas ao discursar para uma plateia esvaziada no ginásio
Gigantinho, em Porto Alegre, ontem à noite. Durante todo o discurso, Dilma fez
comparações entre o avanço dos países em desenvolvimento, da América Latina e
África, e o retrocesso das nações desenvolvidas.
"A dissonância entre a voz dos mercados e a
voz das ruas parece aumentar cada vez mais nos países desenvolvidos, colocando
em risco não apenas conquistas sociais, mas a própria democracia", disse.
"O mundo do pós-neoliberalismo não pode ser o mundo da
pós-democracia", declarou a presidente, recebendo palmas em seguida. Menos
da metade das arquibancadas do Gigantinho, com capacidade para 15 mil pessoas,
estava cheia.
A presidente disse que o neoliberalismo, imposto
por "preconceitos políticos e ideológicos" nos anos 1980 e 1990 na
América Latina, levou aqueles países à estagnação e à redução da democracia,
"aprofundando a pobreza, o desemprego e a exclusão social". Segundo
Dilma, esse modelo econômico "conservador" e excludente está sendo
retomado pelos países em crise econômica. "Hoje essas receitas fracassadas
estão sendo propostas novamente na Europa", disse. "Não é fácil
produzir novas ideias e alternativas quando estamos dominados por preconceitos
políticos e ideológicos", afirmou.
Ao discursar para movimentos sociais, em plateia
com forte presença de sindicalistas, a presidente comentou que as soluções
buscadas pelos países desenvolvidos para combater a crise econômica têm
consequências sociais e ambientais nefastas e trazem "perigosas
ameaças", como o "desemprego, a xenofobia e o autoritarismo, a paralisia
no enfrentamento do aquecimento global além de ameaças à paz mundial".
Dilma agradou à plateia quando disse que os países
da América Latina passam por "transformações" que geram a redução da
desigualdade social e o aumento da renda, enquanto países desenvolvidos
enfrentam a exclusão social e a perda de direitos. "Nossos países, hoje,
não sacrificam sua soberania frente às pressões de potências, grupos
financeiros ou agências de classificação de risco. Nossos países avançam
fortalecendo a democracia. Na América do Sul, como diz a canção da Revolução
dos Cravos, o povo é quem mais ordena", declarou.
A plateia se empolgou quando Dilma afirmou que o
lugar que o Brasil hoje ocupa no mundo "não é consequência de nenhum
milagre econômico", como no passado. "É resultado do esforço do povo
brasileiro e de seu governo que souberam ocupar um novo caminho. O Brasil hoje
é um novo país, mais forte, mais desenvolvido e mais respeitado",
declarou. "Ninguém pode nos tirar isso".
Ao falar sobre a posição brasileira no cenário
internacional, a presidente afirmou que em todos os fóruns globais o país
defende o "multilateralismo, o desarmamento e as posições negociadas para
todas as ameaças à paz mundial". Dilma disse, ainda, ter expectativa de
que a Palestina constitua "brevemente" um Estado livre e democrático,
com "sua soberania garantida".
Dilma pediu mobilização dos movimentos sociais para
a Rio + 20, conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável, que será
realizada no Rio de Janeiro, em junho. O Fórum Social Mundial Temático é um
preparatório para a conferência.
A presidente não enfrentou nenhum protesto direto,
mas manifestantes pediram o veto ao novo Código Florestal, em tramitação no
Congresso.
BRASIL
Fazenda
já espera que arrecadação cresça menos neste ano
Por Luciana Otoni | De Brasília
O Ministério da Fazenda teme uma desaceleração
acentuada no ritmo de expansão da arrecadação neste ano. No resultado que o
governo divulga hoje, a receita tributária de 2011 apresentará aumento real,
descontada a inflação, entre 9,5% e 11,5%, com o recolhimento de impostos e
contribuições próximo a R$ 1 trilhão.
A despeito desse bom desempenho, bem acima da
variação do Produto Interno Bruto (PIB), estimada pelo ministro Guido Mantega
entre 3% e 3,5%, a avaliação é que a arrecadação neste ano não repetirá a performance
de 2011.
"A receita em 2012 tende a não apresentar o
mesmo ritmo de crescimento. Isso ocorrerá também porque a base de comparação
será maior. De certa forma, isso estava em nossa programação", afirmou um
integrante da equipe econômica. "A desaceleração da economia nos últimos
meses pode ter impacto em nossas receitas."
A atenção da Receita Federal e do Tesouro Nacional
recai sobre o comportamento dos impostos nos dois primeiros trimestres. Nesse
período, alguns dos principais tributos, como o Imposto de Renda da Pessoa
Jurídica e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), incidirão sobre
fatos geradores ocorridos no fim de 2011, quando a economia estava com um ritmo
entre baixo e moderado. A tendência é que o aumento no recolhimento desses
tributos não seja expressivo. Há também a indicação de que a contribuição da
massa salarial, com impacto na contribuição previdenciária e no Imposto de
Renda da Pessoa Física (IRPF), será menor este ano.
Além desses fatores, os resultados do primeiro semestre
serão comparados com bases elevadas registradas nos seis primeiros meses do ano
passado. Isso será um fator negativo adicional.
Devido a esses efeitos, o secretário da Receita
Federal, Carlos Alberto Barreto, em sua entrevista de hoje, deverá manifestar
uma avaliação conservadora sobre o comportamento da arrecadação neste ano, mas
evitará fazer uma previsão de alta. Ele dirá que o Fisco ainda calcula uma
estimativa que seja factível. No Orçamento enviado ao Congresso, o governo
estimou alta nominal de 12,8% para a receita primária da União e esse número
poderá ser revisado para baixo.
Desde junho, a taxa de aumento real da receita
tributária vem decrescendo de forma ininterrupta, tendo passado de 13,98% para
11,69% em novembro. E a indicação é que esse arrefecimento se prolongue no
primeiro semestre.
Essa incerteza dificulta o ajuste a ser feito no
Orçamento, pois o governo terá de compatibilizar uma arrecadação menos vigorosa
com a meta de superávit primário de R$ 138,8 bilhões, o que poderá resultar em
cortes maiores nas despesas orçamentárias.
Para o Ministério da Fazenda, a arrecadação de 2011
foi satisfatória porque, em parte, refletiu os fatores geradores do fim de
2010, quando a economia estava em forte aceleração e as empresas registravam
grande lucratividade. Assim, mesmo com o crescimento do PIB tendo passado de
7,5% em 2010 para 3% ou 3,5% no ano passado, a receita não apresentou queda.
O resultado do ano passado, no entanto, decorreu
também de receitas extraordinárias. Há, ainda, efeitos positivos da
recomposição de alíquotas de tributos, como as do IPI que incidem sobre a venda
de automóveis.
Regras
vão permitir que casas tenham microusinas
Por André Borges | De Brasília
O governo vai abrir o setor elétrico para a chamada
"microgeração" de energia, uma decisão que vai mexer com as regras de
fornecimento e distribuição do país. A regulamentação que vai permitir a
transformação de cada residência do país em uma microusina de energia elétrica
foi formatada pelo Ministério de Minas e Energia (MME) e a Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel). Na próxima semana, técnicos da agência farão uma
apresentação final da proposta para a diretoria da Aneel. Já em fevereiro, as
regras da microgeração devem passar por reunião deliberativa da agência, para
então serem publicadas no "Diário Oficial da União".
A microgeração se baseia na instalação de painéis
solares em residências para geração complementar de energia elétrica - a
regulamentação da Aneel também vai permitir a instalação de minitorres eólicas,
mas o alvo principal são os painéis fotovoltaicos. A mudança permite que o
cidadão continue a consumir a energia fornecida pela distribuidora, mas o
medidor de sua casa também passa a contabilizar a potência gerada pelos seus
painéis solares. No fim do mês, a concessionária de energia abate da conta de
luz o volume gerado pelos equipamentos do consumidor.
Numa situação em que a casa de um consumidor chegue
a gerar energia excedente, essa potência extra será enviada para o sistema
integrado nacional, ou seja, o cidadão passará a "vender" energia. "Quando
isso ocorrer, o consumidor terá um tipo de crédito em sua conta, que será
abatido no consumo dos meses seguintes", diz Ivan Camargo, superintendente
de regulação da distribuição da Aneel.
Dentro do Ministério de Minas e Energia (MME), a
microgeração é vista como aposta decisiva para que a energia solar finalmente
decole no país. "Temos projetos de usinas solares em andamento e isso é
importante para esse setor, mas realmente acredito que consolidação da energia
fotovoltaica se dará por meio dessa geração distribuída", afirma Altino
Ventura Filho, secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do MME.
A trilha aberta pelo governo segue um caminho já
percorrido por países europeus como Alemanha, Espanha e Portugal. Para que a
microgeração se torne realidade, porém, é preciso que haja adesão do
consumidor. O preço é um entrave. A custos atuais, estima-se que a parafernália
tecnológica para implantação de um painel solar de 1 quilowatt chega a cerca de
R$ 15 mil. "Com essa estrutura, uma residência de consumo médio deixaria
de pagar pelo consumo diário de vários itens como TV, geladeira e luz, com
exceção de chuveiro e ar-condicionado", comenta Hamilton Moss de Souza,
diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético do MME.
O governo acredita que, com a regulamentação do
serviço - que terá de ser administrado pelas distribuidoras de energia - a
tendência é que o preço dos equipamentos caia bruscamente. Para estimular a
adesão da população, o governo deve criar linhas de financiamento específicas
para o programa, diz o secretário Altino Ventura Filho. "A ideia é que o
cidadão possa pagar um preço pelo equipamento baseado no valor que conseguir
economizar em conta de luz", diz.
Paralelamente à questão regulatória, o MME vai
iniciar neste semestre o projeto conhecido como "120 Telhados", que
prevê a instalação de tetos solares em 120 residências espalhadas pelo país. A
iniciativa, que conta com apoio da Universidade de São Paulo (USP) e
Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), deveria ter começado no ano
passado, mas não foi para frente por retenção de recursos. "Agora será
liberado um crédito de R$ 4 milhões para que iniciemos esse piloto", diz
Hamilton Moss de Souza, do MME. As distribuidoras de energia vão escolher consumidores
para testar diferentes tecnologias de medidores e painéis de energia. Os
estudos, que serão analisados mensalmente, devem durar até dois anos.
A expectativa do governo é de que a iniciativa abra
as portas para a criação de uma indústria nacional de energia solar. Hoje,
quase 100% dos equipamentos vendidos no país são importados. "De um ano
para cá temos recebido visitas de empresas da Coreia do Sul, Japão, China,
Alemanha e Espanha. O preço dos painéis tem caído consideravelmente a cada ano.
Com essas medidas, o governo quer criar um ambiente favorável para que o
mercado cresça naturalmente", afirma Altino Ventura Filho, do MME.
A médio e longo prazo, acredita-se que a energia
solar terá o mesmo destino das eólicas. Até cinco anos atrás, as turbinas movidas
a vento não faziam parte da matriz energética do país pela baixa
competitividade que ofereciam. Hoje, as eólicas são a segunda fonte mais barata
de energia, só atrás das hidrelétricas. O preço estimado do MW/h gerado por uma
usina solar oscila atualmente entre R$ 300 e R$ 500, enquanto as eólicas já
alcançam valores na casa dos R$ 100. Por conta dessa situação, até hoje não foi
habilitado um projeto sequer de usina solar nos leilões de compra de energia
realizados pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). A única usina solar de
geração de energia em escala comercial em operação no Brasil pertence ao
empresário Eike Batista. A usina MPX Tauá foi instalada no ano passado no
interior do Ceará, a 360 quilômetros de Fortaleza. "A dificuldade da energia
solar é que o Brasil vive o paradoxo da abundância energética", comenta
Nivalde José de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (Gesel-UFRJ). "Mas acredito que
essa fonte pode chegar a uma situação semelhante a das eólicas num futuro
próximo."
Planalto
estuda represálias contra barreiras argentinas
Por Sergio Leo | De Brasília
Nos primeiros 24 dias do ano, o Brasil vendeu em
média 10% a menos à Argentina do que exportou no ano passado, o que indica uma
queda próxima a US$ 150 milhões até o fim do mês, apesar de um grande
crescimento nas exportações de automóveis.
O governo brasileiro já estuda possíveis ações de
represália, caso comprove que a queda nas exportações resultou de barreiras
ilegais impostas pelos argentinos, segundo informou um ministro ao Valor.
Informalmente, já se cogita uma queixa contra a Argentina no órgão de solução
de controvérsias do Mercosul.
A medida poderia ser seguida por outros sócios do
bloco, escancarando a insatisfação regional com os controles de importação do
país vizinho. A intenção é impor limites aos danos provocados pelas medidas
protecionistas adotadas pela Argentina para equilibrar as contas externas,
salvaguardando setores que nem sequer têm impacto expressivo nas contas totais
de comércio, como calçados.
Em 1º de fevereiro, entra em vigor a mais recente
medida de controle criada pelo governo argentino, a exigência de uma Declaração
Jurada Antecipada de Importação (DJAI) aos interessados em trazer mercadorias
do exterior ao país. O temor que a medida provoque interrupção no comércio
entre os dois países levou o governo brasileiro a programar uma visita da
secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, a Buenos Aires, na primeira
quinzena de fevereiro. "Com o início da vigência do mecanismo poderemos
avaliar melhor o impacto", disse a secretaria.
"A visita à Argentina é uma mensagem de
preocupação de nosso lado, agora transmitida pessoalmente", explicou,
lembrando que o governo editou nota manifestando inquietação depois do anúncio
da criação da DJAI argentina. "O recurso ao órgão de solução de
controvérsias é apenas uma entre várias possibilidades", disse Tatiana,
confirmando que a ação é cogitada no governo. "Mas nossa ênfase, no
momento, é a negociação."
Nos últimos dias, como parte da regulamentação da
medida que criou a DJAI, agregou-se a exigência de um formulário especial dos
importadores, pela Secretaria de Comércio Interior argentina, chefiada por
Guillermo Moreno. O Itamaraty tem acompanhado as notícias sobre as medidas, mas
delegou ao Ministério do Desenvolvimento as conversas com os argentinos.
Há informações desencontradas em Buenos sobre o
prazo que o governo local levará para processar as informações e liberar a
importação dos produtos listados na declaração antecipada - as previsões variam
entre 72 horas e dez dias. Incomoda à cúpula do governo brasileiro a
continuidade no atraso das licenças de importação já existentes, que supera o
máximo de 60 dias previsto pela Organização Mundial do Comércio (OMC) em alguns
itens dos setores de têxteis, calçados e máquinas agrícolas.
O tema deve ser abordado também por Tatiana, que se
reunirá com a secretária de Comércio Exterior da Argentina, Beatriz Pagliari.
Não está previsto nenhum encontro com Moreno, considerado na Argentina o
verdadeiro controlador das decisões relativas a comércio e investimentos no
país.
O resultado negativo do começo do ano pode ser
atribuído, apenas em parte, à queda de quase 60% nas vendas de minério de ferro
(US$ 34 milhões a menos, em 17 dias úteis), causada pela interrupção de
fornecimento com as enchentes verificadas em Minas Gerais.
Mas a disparidade dos números mostra que, embora
haja fortes quedas em exportações de bens manufaturados, nem todos os setores
são afetados da mesma maneira. Há casos de forte alta nas vendas, como nos
automóveis (56% na média diária de exportações), veículos de carga (146%) e
tratores (127%), fio-máquina (119%) e máquinas e equipamentos para
terraplenagem (77%).
A lista dos 25 principais produtos de exportação do
Brasil à Argentina revela queda de 40% na entrada de máquinas e equipamentos de
uso agrícola (exceto tratores) e redução de 15% na venda de partes e peças
automotivas. Excluídos os 25 principais produtos vendidos pelo Brasil, a lista
restante de exportações brasileiras à Argentina (que inclui itens como têxteis
e calçados) mostra queda de 33%, ou US$ 10 milhões diários a menos.
No setor privado brasileiro, setores como o de
eletroeletrônicos, mais afetados pelas barreiras comerciais no vizinho, são
favoráveis a medidas duras de retaliação à Argentina, até com criação de
restrições a investimentos da Argentina no Brasil.
Mas, em reunião há uma semana na Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), os dirigentes empresariais aprovaram
uma "agenda positiva" de negociações, com medidas para equilibrar,
sem protecionismo, a balança comercial bilateral. Entre essas medidas, estão a
maior inclusão dos argentinos nas compras governamentais brasileiras, estímulos
à associação de empresas e ações conjuntas de defesa do mercado regional.
Ministério
prevê queda de 50% no saldo comercial
Por Assis Moreira | De Davos
O governo brasileiro admite uma queda
"substancial" no superávit do comércio exterior este ano, por causa
da deterioração econômica global. A queda pode ser de cerca de 50%, de US$ 29
bilhões para US$ 15 bilhões, na avaliação também do Instituto Internacional de
Finanças (IIF), entidade dos maiores bancos do mundo.
"No atual cenário internacional, temos que ser
realistas e admitir a queda"", afirmou ontem o secretário-executivo
do Ministério do Desenvolvimento, Alessandro Teixeira, que é um dos
representantes oficiais do Brasil no Fórum Econômico Mundial, que se realiza na
cidade suíça de Davos. A expectativa no governo é que, em todos os países com
grandes superávits comerciais, a queda será entre 30% e 40% este ano.
Nas projeções do IIF, o comércio brasileiro
aumenta, com as exportações podendo alcançar US$ 273,3 bilhões e as
importações, US$ 258 bilhões. O superávit é que diminui.
É o que tende a acontecer também com a China.
Analistas consultados em Davos notam que o superávit comercial chinês já caiu
pela metade nos últimos três anos, de US$ 298 bilhões para US$ 155 bilhões no
ano passado. Em 2012, poderia baixar para apenas US$ 100 bilhões.
O declínio não é devido a uma menor competitividade
das exportações chinesas. Na verdade, a parte da China nas exportações mundiais
cresceu mais nos últimos três anos do que nos três anos anteriores. O problema
é a deterioração econômica global. Assim, as exportações chinesas poderão
crescer apenas 9% este ano, comparado aos 20% do ano passado.
O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio
(OMC), Pascal Lamy, disse ontem ao Valor que o comércio mundial em volume
depende de quatro fatores, dos quais dois são negativos, um positivo e outro
incerto.
O primeiro negativo é a deterioração econômica
global, óbvia em todas as regiões. O segundo é o "trade finance", o
oxigênio das exportações e importações. Bancos, principalmente europeus, estão
reduzindo suas atividades nesse negócio. Além disso, a nova regulação bancária
global cobra dos bancos o mesmo tipo de capital próprio que é exigido para o
crédito ao consumidor, o que o diretor-geral da OM considera absurdo.
O fator positivo é a tecnologia, com avanços que
ajudam a diminuir distâncias. O incerto é a política comercial que cada país
segue. Até agora, os efeitos de protecionismo têm sido limitados. Existe uma
evidente pressão por protecionismo, mas os governos até agora resistiram.
Para Lamy, as demandas generalizadas pelo
"compre francês"" na França não ajudarão a resolver o problema
de competitividade nesse país. Ele tampouco acha que haja clima de guerra de
divisas, como até recentemente. Mas o tema continuará sendo monitorado.
Base do
Brasil no interior da Antártica já envia dados
Por Daniela Chiaretti | De São Paulo
O Brasil é dono do laboratório científico
latino-americano mais ao sul do planeta. O módulo Criosfera foi instalado no
interior da Antártica e está transmitindo diariamente dados para o Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos, no interior de
São Paulo. O primeiro resultado já tem impacto: o Brasil agora tem uma medida
independente de CO2 na Antártica.
Os dados enviados pelos equipamentos instalados no
Criosfera confirmam medidas feitas pelos Estados Unidos no continente e também
no Havaí: 386 ppm (partes por milhão) de CO2. "Isso confirma os 40% de
aumento na concentração do gás desde a Revolução Industrial", diz o
glaciologista Jefferson Simões, do Centro Polar e Climático da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e líder da expedição. Nesse ritmo,
acredita-se que 400 ppm de CO2 serão atingidos em quatro ou cinco anos. Chegar
a 500 ppm pode significar um aumento de 3º C na temperatura da Terra até meados
deste século.
"É importante ter uma medida dessas em um
lugar tão isolado, porque não se tem nenhuma interferência local no dado",
explica Simões. "Ali não há indústrias nem veículos ou geradores a
diesel." O Criosfera funciona com painéis solares no verão antártico e tem
energia produzida por quatro turbinas eólicas no inverno.
O laboratório possui bombas de sucção que filtram o
ar e coletam aerossóis. "Vamos coletar o carbono negro", diz.
Trata-se da parte negra da fuligem produzida na queima de combustíveis fósseis
e nas queimadas. "Em um ano vamos saber quanto chega ao interior da
Antártica", diz Simões. A ideia é ver o impacto das queimadas do Brasil no
continente gelado.
Os pesquisadores brasileiros da Expedição Criosfera
retornaram ontem ao Brasil depois de passarem 45 dias na Antártica. Outra
pesquisa realizada foi perfurar o gelo ao longo de cem metros de profundidade e
retirar um cilindro (conhecido por "testemunho"), que pode indicar a
variação do clima e da química da atmosfera na Antártica nos últimos 300 anos.
"O Brasil tem agora na Antártica uma base de
pesquisa avançada, uma porta de abertura para expandir o Programa Antártico no
continente", afirma Simões. O investimento na expedição foi de R$ 2
milhões, sendo 80% na logística da operação, conta Simões, indicado pelo
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação como o delegado brasileiro no
Comitê Científico Internacional Sobre Pesquisa Antártica.
INTERNACIONAL
Risco de
guerra no Irã causa temor em Davos
Por Gideon Rachman | Financial Times, de Davos
Uma das primeiras sessões do Fórum Econômico Mundial
a ter as inscrições esgotadas leva o nome de "E se o Irã desenvolver armas
nucleares?".
O risco de um conflito em decorrência do programa
nuclear iraniano é debatido todos os anos em Davos, mas desta vez os
especialistas e políticos reunidos parecem estar levando mais a sério a
possibilidade de guerra.
Eles estarão ouvindo com atenção as palavras do
vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, quando ele
discursar hoje no Fórum.
Os motivos são muitos. Primeiro, acredita-se que o
Irã tenha obtido progressos significativos em seu programa de armas nucleares.
Especialistas em Irã temem que a tecnologia nuclear seja deslocada para silos
subterrâneos protegidos, o que deixaria partes importantes do programa iraniano
bem menos vulneráveis a bombardeios.
O governo israelense há muito é incisivo em suas
exigências por ações para parar o Irã e deixou claro que considera a opção de
um ataque militar unilateral.
Países do Golfo Pérsico e a Arábia Saudita, no
entanto, também expressaram profundas preocupações aos líderes dos EUA e da
Europa quanto ao progresso do programa nuclear iraniano. Uma autoridade
ocidental descreve os sauditas como "obcecados" com a ameaça
iraniana. Sauditas teriam comunicado a seus interlocutores ocidentais que, se o
Irã adquirisse capacidade de produzir armamentos nucleares, a Arábia Saudita
responderia de imediato também tentando juntar-se ao clube nuclear.
A continuidade da turbulência no mundo árabe também
aumenta as tensões, pois altera o equilíbrio de poder no Oriente Médio. O mundo
árabe sunita teme que a influência iraniana esteja crescendo no Iraque, após a
retirada das tropas dos EUA.
A turbulência na Síria, contudo, oferece aos países
árabes do Golfo Pérsico a chance de corroer a influência iraniana, por meio de
pressões pelo fim do regime de Assad, que é próximo dos iranianos.
O Irã também está sob pressão de outras maneiras.
Nesta semana, a União Europeia aprovou plano para proibir as importações de
petróleo bruto do Irã, medida que entrará em vigor em 1º de julho. Há ansiedade
entre os representantes empresariais em Davos quanto ao impacto dessas medidas
no preço internacional do petróleo, particularmente se o Irã preventivamente
cortar as exportações à Europa.
Também há uma ação velada, muito ativa, voltada a interromper
o programa nuclear iraniano. Envolve desde o uso de vírus de computador até a
venda de equipamento defeituoso ao Irã e o assassinato de cientistas iranianos.
Richard Haass, que dirige o Conselho de Relações
Exteriores (CFR, na sigla em inglês), de Nova York, e está em Davos, argumenta
que é "cedo demais" para achar que as sanções não conseguirão obrigar
o Irã a interromper seu programa nuclear. Ele admite, porém, que o histórico de
sanções passadas sugere que podem acabar não conseguindo forçar uma mudança na
política iraniana.
Como sempre, há a discussão se uma ação militar
seria ou poderia ser tomada por Israel de forma unilateral ou se um ataque
eficiente ao programa iraniano precisaria envolver os EUA.
John Chipman, diretor do Instituto Internacional de
Estudos Estratégicos (IISS), argumenta que "Israel poderia organizar um
bombardeio, mas só os EUA poderiam organizar uma campanha sustentada". Um
"ataque" do tipo que Israel poderia realizar provavelmente deixaria
partes substanciais do programa nuclear iraniano intactas - assim como deixaria
o Irã com capacidade militar suficiente para fazer retaliações contra Israel e
interesses ocidentais na região.
A retaliação iraniana, particularmente, se
envolvesse o fechamento do Estreito de Ormuz ou ataques diretos a interesses
ocidentais, quase certamente traria os EUA e os aliados europeus, como o Reino
Unido e a França, para o conflito. Os países árabes do Golfo Pérsico também
poderiam ser envolvidos em uma campanha contra o Irã, caso se tornassem alvos
diretos.
As verdadeiras intenções tanto de Israel como do
Irã continuam obscuras. Os líderes ocidentais, depois da Guerra do Iraque,
baseada em parte em informações de inteligência falsas, mostram-se relutantes
em entrar em um conflito contra o Irã sem evidências indiscutíveis de que o
país esteja próximo de ter uma bomba nuclear. Por outro lado, o sucesso no
conflito na Líbia trouxe de volta certa confiança no "poder aéreo"
como forma de atingir objetivos militares.
Enquanto representantes americanos, árabes e
europeus debatem a perspectiva de um conflito com o Irã, alguns observadores
asiáticos veem tudo com surpresa e alarme. Um estrategista asiático observou
que "os EUA seriam loucos de se envolver em outro conflito no Oriente
Médio". "Se ficarem amarrados lá de novo, seria um completo presente
geoestratégico para a China".
Oferta
de petróleo deve subir, apesar de sanção ao Irã
Por Reuters
A produção de petróleo deve aumentar em meados do
ano, mesmo com as sanções da Europa ao Irã por conta de seu programa nuclear,
dizem analistas. Arábia Saudita, Iraque e Líbia mais que compensarão o vazio
deixado pelos iranianos após a entrada em vigor das medidas, em 1º de julho. E
isso pode se refletir nos preços.
Esses três países juntos devem incrementar sua
produção em 1 milhão de barris por dia (bpd), o dobro das exportações do
petróleo iraniano à União Europeia.
"O mercado de petróleo deve estar bem
abastecido no próximo verão [no Hemisfério Norte], mais ainda que agora",
afirmou Samuel Cizuk, analista para Oriente Médio e Norte da África da
consultoria KBC Energy Economics. "O volume deve aumentar
significativamente no Iraque, a Líbia está indo muito bem, e a Arábia Saudita
deve aumentar a produção para compensar parte da perda dos barris iranianos."
O Fundo Monetário Internacional (FMI) disse
anteontem que as sanções contra Teerã implicariam uma queda de 1,5 milhão bpd
no fornecimento do petróleo do Irã, quinto maior produtor mundial. Ainda de
acordo com o fundo, os preços do produto poderiam subir até 30% se o Irã
cortasse suas exportações.
Mas importantes executivos do setor, traders e
estrategistas veem poucas chances de uma queda brusca na oferta. Além disso,
com a economia europeia em recessão e o crescimento mais lento na Ásia, a
demanda global por petróleo está desaquecida. E os asiáticos ficarão felizes em
comprar o produto iraniano a um preço não tão alto.
"O Irã pode dar um desconto para tornar [a
colocação do produto] mais fácil e rápida, mas nada mudará", disse
executivo-chefe da Total, Christophe de Margerie.
Isso acarretará um aumento na oferta, inicialmente
na Ásia e depois em outros mercados, e uma consequente pressão sobre as
cotações. A Arábia Saudita, maior exportador mundial, produz hoje pouco menos
de 10 milhões de bpd e deve cobrir uma queda na produção do Irã. O país
prometeu atender quaisquer pedidos de seus clientes e espera-se um aumento da
produção em até 500 mil bpd.
Já o Iraque tenta expandir sua produção de petróleo
em até 400 mil bpd até março, elevando suas vendas totais para cerca de 2,5
milhões de bpd, dizem fontes do setor. A Líbia, por sua vez, ainda está
retornando à sua produção integral, após a queda do regime de Muamar Gadafi e a
guerra civil no ano passado. As exportações chegaram neste mês a 800 mil barris
diários e devem atingir 1,3 milhão de bpd até o final de setembro.
EMPRESAS & TECNOLOGIA
Grupo
Pão de Açúcar avalia fazer oferta pela rede DB
Por Adriana Mattos | De São Paulo
A rede DB Supermercados tem sido sondada por redes
varejistas nos últimos meses, e o Grupo Pão de Açúcar (GPA) chegou a se
aproximar do comando da rede para avaliar a hipótese de fazer uma oferta pela
companhia. Maior rede de supermercados de Manaus, a varejista do Amazonas tem
20 lojas na região Norte e disputa o mercado local com a rede Carrefour.
Segundo pessoas próximas às redes varejistas, o DB
tem sido alvo de sondagens de grandes cadeias de supermercados há alguns anos,
mas a empresa não teria interesse de se desfazer da operação. Mas desde o ano
passado teria crescido o interesse da família Pedrosa, que controla a rede DB,
de sair do negócio. Por isso as empresas se aproximaram para uma negociação.
Fundada pelo empresário Sidney Pedrosa, o DB Supermercados
nega que esteja à venda. A companhia informa que há rumores a respeito do
futuro da rede há alguns anos, mas a companhia tem projetos de crescimento com
o atual grupo de controladores. O Grupo Pão de Açúcar não se manifestou sobre a
informação.
Conforme o Valor apurou, os controladores da DB
estariam pedindo um valor considerado alto demais pelo mercado. E isso
inviabilizaria um avanço nas negociações com a rede.
Há uma importância estratégica numa eventual
aquisição do GPA de redes no Norte do país. Maior cadeia varejista do Brasil, o
GPA não opera na região, que tem crescido de forma acelerada nos últimos anos.
A taxa média de crescimento do varejo alimentar no Norte e Nordeste tem sido,
pelo menos, o dobro da taxa de expansão do varejo no Sudeste, segundo relato de
fontes ligadas a grandes supermercadistas como Walmart e Carrefour.
O Valor apurou ainda que desagrada ao Carrefour a
entrada do Pão de Açúcar na região Norte. A direção do Carrefour em Manaus já
teria conversado sobre o assunto com o comando da DB.
De acordo com fontes próximas às cadeias de varejo,
o faturamento do DB está na faixa dos R$ 200 milhões ao ano. Das 20 lojas, 19
estão em Manaus e uma está localizada em Boa Vista (RR). A operação conta hoje
com 11 supermercados e 9 hipermercados. Nos últimos anos, o crescimento
orgânico da rede tem sido discreto. Há quatro anos a empresa somava 16 pontos
de vendas, apenas cinco a menos do número registrado hoje.
Apesar dessa expansão tímida, em comparação a
outras redes de mesmo porte, o negócio é considerado interessante - não apenas
pela questão da importância geográfica - mas também pela boa gestão da
operação. "As lojas são muito boas, têm variedade de produtos e eles
trabalham bem os pontos e os preços", conta um fornecedor regional, com
operação em Manaus.
Nos últimos meses, há expectativas maiores de que
novas aquisições no setor supermercadista ganhem força no mercado novamente. A
análise que tem sido feita pelos especialistas é que não se trata de um
interesse maior em novos ativos. As grandes líderes desse mercado sempre estão
atentas a oportunidades de compra. A questão é que, parte do processo de
ajustes nas grandes redes Carrefour e Walmart, que passaram por reestruturações
por razões diferentes, já foi feito e isso abre espaço para que as empresas
olhem com uma atenção maior a compra de novos ativos.
"Todo mundo diz que está sempre olhando tudo.
Mas fica mais difícil comprar algo novo, e integrar uma negócio do zero, quando
já se está reorganizando a casa", diz Antonio Coriolano, da
RetailConsulting.
Best
Western firma parceria com construtora para 30 hotéis no Brasil
Por Guilherme Serodio | Do Rio
Uma das maiores redes de hotéis do mundo, a
americana Best Western quer aumentar sua presença no Brasil. Firmou, no fim do
ano passado, parceria com a construtora capixaba Incortel, que promete
acrescentar 30 hotéis à rede até 2017.
Segundo o diretor da Best Western para a América do
Sul, Richard Rehwaldt, a maior parte do plano de expansão se dará com hotéis a
serem construídos. A Incortel irá arcar com o custo da construção, previsto em
R$ 30 milhões a R$ 40 milhões, em média para cada empreendimento.
"A Incortel identifica os locais onde há
potencial, compra o terreno, desenvolve o projeto e vai a procura dos
investidores que recebem uma percentagem da receita total do hotel",
explica Rehwaldt. Segundo a diretora da Incortel, Maria Cecília Zon Rody, o
retorno do investimento é de cerca de 1% ao mês.
Também há possibilidade de usar a bandeira Best
Western em hotéis em construção e em alguns já em operação. O contrato prevê
que a Incortel opere também como consultora para os hoteleiros que queiram usar
a marca.
A Incortel vem procurando oportunidades no Rio,
onde há duas negociações em andamento, na Zona Sul e outra no Centro.
Outro objetivo é a entrada no mercado paulistano,
onde há uma negociação para o uso da bandeira. "Daremos prioridade às
principais capitais onde ainda não temos presença. As oportunidades surgiram no
Rio, mas o próximo passo será São Paulo", diz Rehwaldt.
Em fevereiro, será inaugurado o primeiro hotel
fruto da parceria em Linhares, Espírito Santo. Até o meio do ano, estão
previstas inaugurações em Belo Horizonte (MG) e Rio Branco (AC), este último um
empreendimento pronto que recebeu a bandeira.
Para ter a marca Best Western, o proprietário
hoteleiro precisa desembolsar um total de R$ 110.050 ou R$ 1.056 por
apartamento. Caso o hotel tenha poucos apartamentos, o que vale é o desembolso
total.
Os novos hotéis serão administrados pela operadora
Hotelaria Brasil, que já opera um hotel da rede em Macaé, interior do Rio de
Janeiro.
Presente no país desde 1994, a Best Western possui
atualmente 17 hotéis em território brasileiro, somando um total de cerca de
1.800 quartos. Em 2010, a rede gerou US$ 1,16 bilhão em receita para seus 4,1
mil associados. Criada como uma associação de hotéis independentes em 1946, a
rede Best Western conta atualmente com 4.400 hotéis em 90 países.
BHG
entra no Maranhão com a compra do Grupo Solare
Por Alberto Komatsu | De São Paulo
A Brazil Hospitality Group (BHG), braço de
investimentos em hotéis do fundo de private equity GP Investments, anunciou
ontem a assinatura de um contrato para a compra do Grupo Solare, administrador
de oito hotéis na Região Nordeste do país. O investimento, porém, não foi
divulgado.
Com o negócio, a BHG passa a ter 45 hotéis no país
e 8,3 mil apartamentos, pois agregou 1,1 mil quartos com a aquisição da Solare.
"A Solare traz muita sinergia para a BHG. Além disso, ela passa a ser o
nosso braço operacional nas regiões Norte e Nordeste", afirmou ao Valor o
presidente da BHG, Peter van Voorst Vader. O Grupo Solare também vai
administrar os quatro hotéis que a BHG comprou em Belém (Pará), no ano passado.
A aquisição da BHG marca a sua entrada no Maranhão,
pois o Grupo Solare administra sete hotéis em São Luís, com as bandeiras Soft
Inn, Expresso XXI e Solare Hotéis e Suítes. A administradora tem ainda a gestão
do Gran Solare Lençóis Resorts, à beira do Parque Nacional dos Lençóis
Maranhenses. A BHG assumirá a administração desses empreendimentos a partir de
1º de abril.
A BHG tem, ainda, 12 hotéis em desenvolvimento, com
2,3 mil quartos no total, que deverão entrar em operação em 2014. Com isso, a
oferta da empresa aumentará para 10,7 mil apartamentos daqui a três anos. Em
sua última divulgação de resultados, referentes ao terceiro trimestre de 2011,
a BHG reportou receita líquida de R$ 122,8 milhões.
Briga
entre Google e Buscapé chega à SDE
Por Juliano Basile | De Brasília
A Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério
da Justiça recebeu 200 páginas em manifestações do Google e do Buscapé no
processo em que vai decidir se há discriminação nas buscas feitas pelo Google
no setor de atuação do Buscapé.
O caso promete ser uma das investigações antitruste
mais importantes no Brasil envolvendo tecnologia e informação. De um lado, o
Buscapé diz que passou a ser discriminado pelo Google, desde outubro passado,
quando o site de buscas lançou o Google Shopping. De outro, o Google nega
qualquer discriminação, dizendo que o seu sistema de buscas não privilegia
empresas, mas sim, segue o interesse dos usuários.
No documento enviado à SDE, o Buscapé alega que o
Google tem dado prioridade ao Google Shopping, em detrimento dos demais
comparadores de preços nacionais, o que pode lhe dar o domínio completo do
mercado. Isso estaria acontecendo, segundo a petição de 98 páginas que o Valor
teve acesso, através de uma "arquitetura de informação diferenciada"
dos demais sites. Essa "arquitetura" inclui "layout",
imagem, preços e números de lojas. "O Google Shopping tem sido, com
relativa frequência, o comparador mais bem posicionado no resultado de busca
orgânica do Google Busca", completa o documento. [Entende-se como
"busca orgânica" o processo que leva os internautas a fazer pesquisas
na web por meio de listagens dos motores de busca, baseados em uma
palavra-chave, ao contrário de links patrocinados, que trazem publicidade junto
aos resultados da pesquisa].
O Buscapé enviou ainda cópias de e-mails em que
funcionários do Google teriam admitido que o fato de os produtos do Google
Shopping aparecerem com foto seria uma "funcionalidade exclusiva"
desse site.
"É evidente que essas práticas são
discriminatórias", disse o advogado Tércio Sampaio Ferraz Junior, que
defende a E-Commerce Media, detentora dos sites comparadores de preço Buscapé e
Bondfaro. "Há discriminação na busca", completou. Ele pediu à SDE que
baixe medida preventiva determinando isonomia na aparição dos comparadores de
preço brasileiros na primeira página do Google Busca.
Mas, para o Google, é impossível regular as buscas
feitas na internet. "Se cada um dos bilhões de sites rastreados tivessem o
direito de exigir que fossem exibidos de certa forma ou com certos itens de
interface com o usuário, as ferramentas de busca paralisariam pela necessidade
de atender a tantos pedidos", diz a petição de cem páginas feita pelo
Google. "Nenhuma autoridade antitruste do mundo tentou regulamentar a
exibição de resultados de shopping ou de qualquer outro tipo de resultados de
busca, incluídos os de notícias, imagens, vídeos e mapas", continuou o
documento.
O Google informou às autoridades antitruste que o
seu sistema de buscas é feito para atender o interesse dos usuários. Assim, se
o usuário busca uma geladeira, por exemplo, o que aparece são vários desses
produtos. Mas, se o usuário escreve "comparador de preços" ao lado de
"geladeira", aí sim aparecem com maior destaque os serviços prestados
por sites como o Buscapé.
A mensagem do Google para as autoridades é a de que
o Buscapé estaria querendo aparecer em primeiro lugar entre os produtos mais
procurados pelos usuários na internet. Isso estaria contra a política do site
de buscas. "O Google não permite que nenhum site obtenha melhor posição no
ranking de seus resultados de busca mediante tipo de pagamento, seja o site uma
entidade comercial ou um cliente do Google", informou o site ao Ministério
da Justiça. "Nenhum anunciante pode melhorar a sua posição dentro da
classificação de resultados do Google mediante pagamentos."
No documento, o Google informou ainda que a melhor
maneira de aparecer nas primeiras posições dos resultados de busca é
"criar o melhor conteúdo possível para o seu público-alvo":
"Nosso objetivo é o de ajudar os usuários a encontrar comerciantes que
ofereçam excelentes experiências com compras."
A SDE vai ouvir outras empresas do setor antes de
chegar a uma conclusão. A secretaria deve fazer um parecer sobre o assunto, no
qual pode aceitar a reclamação do Buscapé e determinar alterações no sistema de
buscas ou pedir o arquivamento do processo. Em ambos os casos, o parecer será
enviado ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que vai dar a
decisão final sobre o assunto.
FINANÇAS
Braskem
e Banrisul captam US$ 750 milhões
Por Fernando Travaglini | De São Paulo
Em outro dia bastante positivo para as empresas
brasileiras no mercado internacional, mais duas companhias fecharam captações
no exterior. A Braskem captou US$ 250 milhões com a reabertura de uma emissão
de títulos em dólares com vencimento em 2021. Já o Banrisul definiu o preço de
seu lançamento de US$ 500 milhões com prazo de 10 anos, com rendimento ao
investidor de 7,5% ao ano.
O segmento de captações externas continua aquecido
para as empresas brasileiras e, dependendo das condições de mercado, pode ser
anunciada em breve uma operação grande da Petrobras, em dólares. Especula-se
que o valor poderia atingir US$ 4 bilhões, segundo fontes de mercado. Mas as
mudanças no comando da Petrobras podem atrasar a operação.
A Braskem optou por uma reabertura - quando apenas
lança mais papéis de uma emissão realizada no passado, mais fácil e rápida que
uma nova transação -, para lançar notas seniores por meio da subsidiária
Braskem Finance. O retorno para o investidor ficou em 5,75% ao ano, mesma taxa
do cupom, e vencimento em 2021. A abertura dessa operação foi em abril do ano
passado, quando a petroquímica captou US$ 750 milhões com a mesma taxa.
O custo ficou cerca de 10 pontos básicos acima da
taxa dos papéis negociados no secundário, abaixo de operações de outros
emissores ao redor do mundo e do preço inicial estipulado para essa emissão
(5,85% ao ano). Isso mostra o bom momento para as empresas brasileiras e a
estratégia acertada para essa captação, diz André Silva, diretor do Deutsche
Bank, um dos bancos líderes do negócio, ao lado de Citigroup e Santander.
A demanda pelos papéis chegou a US$ 2 bilhões, em
poucas horas. A Fitch Ratings atribuiu nota "BBB-" à operação.
No início da semana, a Odebrecht também aproveitou
a mesma janela de oportunidade para captar US$ 300 milhões, com a reabertura do
seu bônus com vencimento em 2023. A taxa ficou em 5,95% ao ano, abaixo da
captação anterior, de 6% ao ano, com garantia da Construtora Norberto
Odebrecht.
Já o Banrisul pagou retorno ao investidor de 7,5%
ao ano, com uma captação de US$ 500 milhões com prazo de 10 anos, na sua
primeira captação no exterior. A operação foi coordenada pelos bancos Credit
Suisse e Deutsche Bank, com uma demanda equivalente a 6 vezes o volume ofertado.
Os recursos serão utilizados na base de capital do banco (Nível 2).
Desde o início do ano, o país já atraiu US$ 6
bilhões em 9 emissões de bônus e 1 empréstimo sindicalizado (BicBanco). O bom
desempenho dos primeiros negócios e a menor aversão ao risco abriu espaço nesta
semana para operações de maior risco, como foi o caso da emissão da JBS,
finalizada ontem.
O grupo Virgolino Oliveira e a Cimento Tupy também
estão no mercado com operações de bônus externos. Ainda é esperada a captação
da Transmissora Aliança de Energia Elétrica (Taesa), subsidiária da Cemig.
Especula-se também que a Natura poderia testar o mercado de títulos em reais, o
que seria a primeira na moeda brasileira desde meados do ano passado.
Inadimplência
do sistema financeiro volta a cair em 2012
Por Aline Lima | De São Paulo
O sistema financeiro nacional de crédito
experimentou, ao longo de 2011, uma escalada da inadimplência só superada pelo
ano de 2009 - quando foram sentidos os impactos da crise financeira que se
seguiu à queda do Lehman Brothers. Na avaliação de especialistas, porém, o
ciclo de alta verificado no ano passado chegou ao pico. A tendência, em 2012, é
de queda.
O movimento já poderá ser percebido em dezembro,
quando tradicionalmente os calotes tendem a ser atenuados pela injeção de
recursos promovida pelo 13º salário na economia. A expectativa é de acomodação
ou mesmo um leve recuo no índice de atrasos superiores a 90 dias medido pelo
Banco Central (BC), a ser divulgado hoje. Jayme Alves, economista da Federação
Brasileira de Bancos (Febraban), diz que uma queda de até 0,2 ponto percentual
estaria dentro do padrão para o período. Em novembro, a inadimplência total,
incluindo pessoas físicas e jurídicas, estava em 5,6% (ver gráfico).
É fato que, ao contrário de dezembro, o primeiro
trimestre de cada ano costuma apresentar, sazonalmente, repique nos atrasos.
Para as pessoas físicas, pesa a concentração de pagamentos de impostos, das
despesas de férias e dos gastos com educação - impacto que, por sua vez, tende
a ser atenuado pelo reajuste de 14,1% do salário mínimo em janeiro. No caso das
empresas, é o desaquecimento das vendas que atrapalha honrar os compromissos em
dia.
Mas a trajetória de alta da inadimplência, se não
chegou ao fim em dezembro, está bem próxima disso - até porque o ano, como reza
o dito popular, começa mesmo depois do carnaval. "Ainda que o índice possa
subir um pouco neste início de 2012, a direção a ser tomada nos meses seguintes
é de queda", afirma Luiz Rabi, gerente de indicadores de mercado da Serasa
Experian.
Os fatores que impulsionaram a inadimplência no ano
passado já não são mais tão válidos para 2012. "As pessoas começaram 2011
bastante endividadas, a inflação estava alta e a taxa básica de juro subiu até
agosto", enumera Rabi. O cenário agora mudou. "A inflação está em
queda, com projeção por volta de 5%, não mais 6,5% do ano passado; o juro
voltou a cair e a evolução do crédito tende a ser mais moderada."
Mas o quadro da inadimplência para 2012 ainda
ficará longe dos números vistos em 2010, quando os atrasos não chegaram à casa
dos 5% na segunda metade daquele ano. "Com a economia do país crescendo
3%, no máximo, neste ano, haverá menor geração de renda e de emprego, não
permitindo que o desempenho de 2012 seja melhor que o de 2010", explica
Miguel de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de
Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
A maior cautela exibida pelos bancos na oferta de
financiamentos desde meados do ano passado também deve permanecer em 2012,
contribuindo para que a inadimplência não suba em um ambiente de crise.
"Além disso, os empréstimos de melhor qualidade produzidos nos últimos meses
devem mostrar impacto nas estatísticas de inadimplência neste ano",
acrescenta Oliveira.
Na pessoa física, segmento em que a alta da
inadimplência foi mais forte no ano passado - saltando de 5,7%, em janeiro,
para 7,3%, em novembro -, a projeção de Rabi, da Serasa Experian, aponta para
uma taxa entre 6% e 6,5% no fim de 2012. A velocidade de recuo, segundo ele,
não vai ser rápida por um motivo simples: a medida utilizada pelo BC leva em
consideração o estoque de crédito do sistema. "Mesmo que os consumidores
quitem um volume grande de dívidas num determinado mês, o saldo carrega vários
outros meses de operação de crédito", diz.
Os indicadores produzidos pela Serasa, feitos com
base no fluxo de dívidas inscritas na base de dados do birô de crédito mês a mês,
já sinalizam para a tendência de queda da inadimplência. O volume de
negativação de CPFs, que cresceu ininterruptamente de janeiro a outubro na
comparação com 2010, mostrou desaceleração em novembro e dezembro. "A
tendência, em 2012, é que esse índice convirja para 10%, um número considerado
equilibrado", diz Rabi, referindo-se à metodologia do birô.
Outro dado positivo, que aponta para o
arrefecimento dos calotes em 2012, está no movimento de regularização das
pendências dos consumidores, estimulado pelas campanhas de negociação de
dívidas típicas de fim de ano. Em 2011, a regularização na Serasa cresceu 70%
ante 2010. "Sinal de que os consumidores estão colocando as finanças em
ordem", diz Rabi.
'Cai
risco de quebra de banco europeu'
Por Assis Moreira | De Davos
O risco de quebra de banco tipo Lehman Brothers na
Europa diminuiu bastante desde dezembro, mas restam vulnerabilidades no setor
bancário europeu e não "é bom banco privado depender exclusivamente do
dinheiro do banco central".
Foi o que afirmou ontem o presidente do Conselho de
Estabilidade Financeira (FSB, na sigla em inglês), uma espécie de xerife das
finanças globais, Mark Carney, que é também presidente do Banco Central do
Canadá, em entrevista ao Valor.
Carney substituiu em novembro a Mario Draghi na
presidência do FSB, quando o italiano assumiu o comando do Banco Central
Europeu (BCE). Sua tarefa é trabalhar para evitar a repetição da crise
financeira de 2008.
Educado nas universidades de Oxford e Harvard e
ex-banqueiro do Goldman Sachs, Carey, de 46 anos, trabalhou em Londres, Tóquio
e Nova York e também no ministério de finanças canadense. E está em posição
particularmente confortável porque o Canadá se destacou na crise pelas duras
reformas, que preservaram seus bancos, como também no Brasil.
Na entrevista, ele considerou que a evidência mesmo
no momento é de que crise na zona do euro é um aspecto central da
vulnerabilidade do sistema financeiro global. Mas que desde dezembro as
autoridades europeias começaram a tomar medidas importantes. E para a
estabilidade financeira no curto prazo, o fornecimento de liquidez bilionária
pelo Banco Central Europeu (BCE) "tem sido uma iniciativa muito
importante"".
O BCE emprestou em dezembro € 489 bilhões para mais
de 500 bancos em operação, pela primeira vez, de três anos, com taxa de apenas
1% ao ano. "Essa ação afasta o risco de crise de liquidez de um banco
europeu"", disse Carney. Além disso, notou que os bancos do velho
continente têm ainda colateral (garantias) que se contam em trilhões de euros,
e que podem usar para obter mais liquidez junto ao BCE.
No entanto, o xerife das finanças nota que a
situação continua difícil na Europa. "Não é uma boa coisa que um banco
privado dependa exclusivamente do banco central. Há ainda esse processo de
desalavancagem de bancos europeus, que reduz a concessão de credito à economia
real"".
Para Carney, os europeus precisam se concentrar na
situação da Grécia. Considera que as negociações do país com bancos credores
são muito delicadas e o resultado "poderia ser determinante para a
estabilidade financeira mundial"". Se positivo ou negativo, dependerá
do pacote final.
Ele insiste que um acordo de reestruturação da
dívida grega precisa ter credibilidade para baixar a dívida a um nível sustentável,
como os 120% em relação ao PIB, no mínimo, como as autoridades europeias tentam
obter como compromisso.
Ele aponta duas maneiras de fazer o acordo ser
sustentável para os gregos: com maior "haircut"" ou corte acima
de 50% da dívida em mãos dos bancos privados ou com participação do setor
público - o que implica que o Banco Central Europeu também sofra prejuízo.
"Eu não estou dizendo que o setor público deveria participar"",
reitera Carney sorrindo, evitando apoiar a demanda do Fundo Monetário Internacional
(FMI) nesse sentido.
Sempre de olho na estabilidade financeira, o xerife
das finanças considera também desejável que o fundo conjunto europeu de socorro
amplie sua capacidade combinada (dos fundos atuais EFSF e ESM, nas siglas em
inglês) para €1 trilhão, o dobro dos recursos previstos para evitar contágio da
crise - mas é algo que a Alemanha, no comando da Europa, resiste no momento.
Carney deixou claro que o Acordo de Basileia 3, que
exige capital adicional dos bancos, não será flexibilizado, como pedem bancos
europeus e americanos em meio à deterioração econômica global.
"É equivocado falar que a regulação complica a
situação"", disse. "Os bancos europeus estão subcapitalizados em
qualquer padrão, com geração de liquidez insuficiente, daí porque dependem do
BCE", afirmou.
O que ocorre, a seu ver, é que desde a crise de
2008 os bancos europeus fizeram uma recapitalização "relativamente
modesta"", com algumas exceções. E isso não é a situação de outros
países, cujos bancos estão capitalizados e em melhor posição.
"As regras de regulação se aplicam em todo
lugar. E para aquelas economias que não têm sofrido crise, como a canadense,
brasileira e australiana, são três exemplos, você acha que tem problema de
oferta de crédito? Tem problema de credito no Brasil? Não acredito. No Canadá
também não. O problema na Europa começou com capitalização
insuficiente"", acrescentou.
A posição firme de Carney levou banqueiros como o
presidente do J.P. Morgan, Jamie Dimon, a atacá-lo duramente, insistindo no
"atraso"" de exigências adicionais de capital para os bancos.
As respostas de Carney têm sido de apontar
"confusão deliberada das consequências de desalavancagem global com
reforma financeira"".
Como em Davos todo mundo acaba se encontrando,
ontem, horas depois da entrevista ao Valor Carney e Dimon conversavam em pé na
entrada do Café Vip no Fórum Econômico Mundial. E pelo que o Valor pôde ouvir,
o tema era a implementação da regulação bancária.
INVESTIMENTOS
Minoritários
querem vaga na Petrobras
Por Graziella Valenti | De São Paulo
Josué Gomes da Silva, controlador da Coteminas e
filho de ex-vice-presidente: indicação para o conselho questionada por
estrangeiros por não terem sido consultados previamente na decisão
Os acionistas minoritários estrangeiros da
Petrobras estão preocupados em garantir que indicarão, a partir de sua própria
vontade, um nome para o conselho de administração da empresa na assembleia
geral deste ano. Há oito dias, um grupo de dez grandes investidores
institucionais europeus e americanos enviaram uma carta de alerta a Guido
Mantega, presidente do conselho de administração da companhia e ministro da
Fazenda.
O grupo foi liderado pelo fundo global baseado em
Londres F&C Management, que administra US$ 177 bilhões em ativos. O
documento conta com a assinatura, entre outros, da Railpen Investments e do
State Board of Administration of Florida (SBAFLA).
O motivo da carta foi a indicação e posterior
eleição para o conselho de administração do empresário Josué Gomes da Silva,
controlador da Coteminas e filho do ex-vice-presidente da República José
Alencar, falecido em março do ano passado. Seu nome foi sugerido pelo restante
do conselho da companhia sem consulta prévia aos minoritários, embora a vaga
fosse dos acionistas.
O dono da Coteminas foi indicado para o cargo após
a renúncia em outubro de Fabio Barbosa, que havia sido indicado para o conselho
da Petrobras pelos minoritários da empresa em votação em separado - sem o voto
do controlador.
Para cobrir a vaga aberta, o conselho da estatal,
sem ouvir os acionistas de mercado, indicou Gomes da Silva. A decisão foi
validada em assembleia somente em dezembro de 2011, quando ele foi eleito pelos
acionistas, sem o voto do controlador.
A carta dos fundos de pensão e gestores de recursos
estrangeiros a Mantega é dura. Nela os acionistas afirmam que foram
"induzidos a erro" na votação de dezembro, sobre a indicação do filho
do ex-presidente da República. Isso porque teriam aprovado o nome sem todas as
informações a respeito do empresário, em especial os possíveis vínculos
políticos por conta do pai - que fora vice-presidente de Lula, no governo
anterior. A explicação foi dada ao Valor por Karina Litvack, chefe de
governança e sustentabilidade do F&C.
Contudo, não há nenhuma queixa ou crítica à
capacidade profissional, intelectual e ética de Gomes da Silva. A reclamação
deve-se, principalmente, ao procedimento da Petrobras.
Procurado, o executivo não respondeu à solicitação
até o fechamento desta edição.
Na carta, os fundos liderados pela F&C
Management afirmam esperar que o executivo fique no posto apenas até a
assembleia geral ordinária - que deve ocorrer entre março e abril.
A expectativa desses fundos é que nessa próxima
assembleia geral eles indiquem por escolha própria um nome para compor o
conselho - e não sigam nenhuma sugestão da administração da empresa.
"Em linha com a boa governança, o conselho
deveria ter dado aos acionistas minoritários a oportunidade de apresentar
indicados para substituir o Sr. Fabio Barbosa, em vez de nomear um
representante do acionista controlador", afirma a carta que também
ressalta que Gomes da Silva não é um membro eleito de fato pelos minoritários,
já que a indicação de seu nome partiu da administração e não da livre
espontânea vontade dos acionistas do mercado.
Consultada, a Petrobras afirmou, por meio de sua
assessoria de imprensa, que a companhia apenas seguiu a Lei das Sociedades por
Ações ao fazer a indicação. A companhia baseou sua posição no artigo 150 da
legislação, que atribui ao conselho de administração a responsabilidade de
indicar um nome em caso de renúncia de algum membro. Além disso, a estatal
confirma que a posição de Gomes da Silva é apenas até a assembleia anual.
Os acionistas gostariam de, além de serem
previamente consultados, terem recebido mais esclarecimentos sobre o empresário
selecionado.
O artigo 144 da mesma Lei das S.As. aponta que os
minoritários, quando utilizam o voto em separado, são aqueles que podem eleger
e destituir o membro do conselho indicado por eles.
Além disso, no artigo 239, dedicado às companhias
de economia mista, a lei garante que a minoria dos investidores tenha direito a
eleger um membro no conselho de administração mesmo que eles não alcancem os
percentuais necessários para votação em separado.
"Nos últimos anos, a atuação do governo
brasileiro sobre a Petrobras vem aumentando, o que nos preocupa", afirmou
Karina, do F&C, ao Valor. "É muito fácil para quem está no Brasil
saber todo o contexto do Sr. Gomes da Silva. Mas, para nós que estamos
distante, a questão não é tão simples", disse ela.
"A fim de salvaguardar a confiança dos
investidores na Petrobras - e até mesmo no mercado brasileiro de modo mais geral
- acreditamos que é vital que a companhia seja governada e operada com vista a
maximizar a longo prazo o valor para o acionista, o que, por sua vez, exige que
as decisões empresariais e de gestão não estejam sujeitas à interferência
política de nenhum tipo", completa a carta dos estrangeiros.
Esses investidores estão, desde já, se articulando
com minoritários brasileiros em busca de um nome a ser indicado previamente à
assembleia anual. Por enquanto, ainda não há consenso em torno de uma sugestão.
Para utilizar os benefício da votação em separado
prevista na legislação, os minoritários precisam ter 15% das ações ordinárias
ou 10% do capital social em preferenciais da empresa.
A Petrobras é a maior e mais líquida ação do
mercado de capitais brasileiro. A companhia tem valor de mercado de R$ 350
bilhões. Na prática, para ter direito ao voto em separado previsto em lei, é
preciso reunir um grupo dono de R$ 30 bilhões ou R$ 32 bilhões aplicados na
empresa.
Após a megacapitalização de R$ 120 bilhões realizada
em 2010 para tornar viável a exploração do pré-sal, o governo controla direta e
indiretamente 63% do capital votante da Petrobras, segundo a posição de
dezembro no site da companhia.
Das ações ordinárias, ainda conforme a empresa,
21,5% eram negociadas na forma de recibos americanos de ações (ADRs nível 3),
no fim do ano passado. Do capital total, entre ordinárias e preferenciais 24,4%
estavam com estrangeiros na forma de ADRs.
Anatel
aprova mudança no controle da Net Serviços
Por Rafael Bitencourt | De Brasília
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)
concedeu, ontem, anuência prévia para mudanças no controle da Net Serviços, a
maior operadora de TV por assinatura do país. Com a decisão, o grupo Globo cede
o controle societário para a Embratel, que pertence à mexicana Telmex.
Embora tenha aceitado o pedido de anuência da Net
Serviços, o conselheiro da Anatel Rodrigo Zerbone determinou que a autorização
esteja condicionada à regularidade fiscal das empresas e a uma nova
reorganização societária, "para que o grupo Globo deixe de deter poderes
de decisão previstos no acordo de acionistas". Zerbone estabeleceu prazo
de 90 dias para que a Net Serviços apresente à Anatel um novo pedido de
anuência prévia, com esses ajustes.
As mudanças visam adequar o pedido à nova lei de TV
por assinatura (12.485/2011), sancionada no ano passado. Entre as restrições
contidas no artigo 5º da lei, Zerbone citou o impedimento de exercício do
controle de empresas prestadoras dos serviços de telecomunicações por
concessionárias de radiodifusão, produtoras ou programadoras. "Esse
patamar é o mínimo que deve ser exigido pela Anatel", ressaltou o
conselheiro durante a discussão do tema com os demais membros do conselho
diretor da agência.
Embora os grupos Globo e Telmex detenham
diretamente ações ordinárias da Net Serviços, as mudanças foram propostas
somente na organização societária da empresa, que reúne 51% do capital votante
da operadora de TV a cabo. Essa companhia é a GB Empreendimentos e
Participações. Nela está representado o grupo Globo que, de um lado, deverá ter
a sua participação em ordinárias reduzida de 51% para 45,5%. Por outro lado, a
Telmex teria a sua fatia atual de 48,5% ampliada para 54%.
A reorganização da Net Serviços estabelece também
que o grupo Globo passaria a indicar dois dos 11 membros do conselho de
administração, ante seis atualmente. A Globo permaneceria com o poder de veto
em decisões do conselho.
As negociações entre a Globo e empresa de
telecomunicações controlada pelo bilionário Carlos Slim já eram esperadas desde
a aprovação da lei que estabeleceu o novo marco da TV por assinatura.
Procurado pelo Valor, o grupo Globo informou que
ainda não analisou a decisão em detalhes. Adiantou, porém, que vai se adequar
ao que for determinado pela Anatel para permanecer como minoritário da Net
Serviços. (Colaborou Heloisa Magalhães, do Rio)
AGRONEGÓCIOS
Mitsubishi
compra 20% da Los Grobo Ceagro
Por Fernando Lopes | De São Paulo
A Los Grobo Ceagro do Brasil, braço principal do
grupo agrícola Los Grobo, de origem argentina, anunciou ontem a venda de uma
participação de 20% de seu capital social para a Mitsubishi Corporation,
conglomerado japonês com operações em diversos setores da economia e faturamento
anual total superior a US$ 220 bilhões.
O negócio, cujo valor não foi revelado, foi fechado
por meio da subscrição de ações ordinárias emitidas a partir de um aumento de
capital aprovado na terça-feira em assembleia geral extraordinária dos acionistas
da empresa brasileira, que no ano-safra passado (2010/11) faturou R$ 610
milhões.
"Trata-se de um investidor 100% estratégico,
com foco complementar ao nosso e que poderá colaborar para a ampliação das
exportações da empresa no futuro", disse Antonio Frias Oliva Neto,
principal executivo da área financeira (CFO) do Grupo Los Grobo e novo
vice-presidente executivo da Ceagro.
Em entrevista ao Valor, Oliva Neto explicou que,
enquanto a Los Grobo Ceagro tem uma plataforma de operações integrada do campo
aos portos, a Mitsubishi tem grande experiência e relevância dos portos em
diante.
No ano passado, por exemplo, a divisão agrícola da
gigante japonesa exportou mais de 10 milhões de toneladas de grãos originados
em Brasil, EUA, Argentina e Austrália para mercados na Ásia, como o próprio
Japão e a China.
Oliva Neto pontuou que a nova sócia não entra no
capital da Ceagro por uma "necessidade" da empresa, mas pela
"oportunidade" derivada de uma relação comercial que já existia.
Além de o faturamento da Los Grobo Ceagro ter
aumentado mais de R$ 200 milhões em relação à temporada 2009/10, para os R$ 610
milhões já citados, Oliva Neto confirmou que o Ebitda da empresa foi de R$ 25
milhões e que o lucro líquido atingiu R$ 5,6 milhões em 2010/11.
O Ebitda ainda foi afetado por custos relacionados
à entrada da companhia em outras fronteiras fora do chamado "Mapito"
e à montagem de filiais em Mato Grosso, fatores que não exercerão a mesma
pressão nesta temporada (2011/12), que começou em julho do ano passado e vai
terminar em junho próximo.
Fundada em 1994 pelo paranaense Paulo Fachin para
atuar na distribuição de insumos agrícolas na confluência das regiões de
Cerrado do Maranhão, Piauí e Tocantins - o "Mapito" -, a então Ceagro
Agronegócios passou ao controle dos Grupo Los Grobo no início da década
passada.
Foi quando o foco foi ampliado para o plantio de
grãos e sua expansão foi acelerada. Em 2010, negócios em Goiás, Minas Gerais e
Bahia ganharam força, daí o forte aumento do faturamento observado em 2010/11.
"Para o Grupo Los Grobo [que fatura mais de US$ 1 bilhão por ano-safra], o
crescimento está no Brasil", diz Oliva Neto.
A entrada da Mitsubishi no capital da Los Grobo
Ceagro neste momento terá pouco reflexo nos planos da empresa para 2011/12. A
empresa está com produção própria de soja em pouco menos de 60 mil hectares
arrendados, com milho em cerca de 3 mil.
Além disso, como informou o CEO Paulo Fachin em
novembro, a originação de soja da empresa, que inclui grãos de terceiros,
deverá superar 700 mil toneladas. Para o plantio de 2011/12, negociou US$ 125
milhões em defensivos.
Força-tarefa
para atender afetados pela seca no Sul
Por Marli Lima | De Curitiba
Segundo Guedes Pinto, ainda não é possível estimar
o valor de indenizações
O Grupo Segurador Banco do Brasil e Mapfre, que
começou a operar em 2011, após a união das duas companhias, enfrenta o primeiro
grande desafio no campo. Com a seca no Sul do país, criou um esquema para
atender aos produtores que fizeram seguro agrícola. Deslocou parte da equipe
para áreas atingidas e, em um único dia, chegou a receber a comunicação de 220
sinistros. A importância segurada para os casos de perdas soma R$ 180 milhões,
sendo R$ 145 milhões no Paraná, que concentra 67% das apólices da região.
Ontem, a Secretaria da Agricultura do Paraná
revisou para cima as perdas provocadas pela seca. Até agora, a falta de chuvas
resultou em redução de 18% na produção de grãos, ou 3,95 milhões de toneladas a
menos que os 22,2 milhões previstos. Os prejuízos aos produtores estão
estimados em R$ 2,48 bilhões. A produção de soja deve cair 17,3%, para 11,67
milhões de toneladas, o que vai gerar perdas de cerca de R$ 1,76 bilhão.
No caso do milho, em vez de 7,47 milhões de
toneladas, serão colhidas 6,05 milhões de toneladas e o prejuízo será de R$
556,8 milhões. De feijão, a produção esperada era de 430,6 mil toneladas, mas a
quebra foi de 20%, com prejuízo de R$ 161,76 milhões.
Luis Carlos Guedes Pinto, diretor de operações
rurais do BBMapfre, disse que a grande seca do milênio ocorreu na safra
2004/05, época em que foi implantado o plano federal de subvenção ao seguro
agrícola. No período 2008/09, a estiagem também provocou prejuízos. Segundo
ele, juntas, as duas seguradoras respondem por 60% das operações do segmento e,
até agora, o grupo contabiliza 2.986 sinistros no Paraná, Mato Grosso do Sul e
Rio Grande do Sul, sendo 90% referentes a estiagem - há também casos de
granizo, incêndio e outros. O Paraná lidera as contratações: 11,5 mil das 17
mil apólices da região.
O seguro agrícola em questão não é o mesmo que o
Proagro, que cobre perdas de agricultores familiares que financiam o plantio. É
aquele que o produtor de maior porte contrata por conta própria para
proteger-se de riscos e que tem subvenção do governo federal. Segundo Guedes
Pinto, historicamente a indenização chega a 45% do valor segurado - o teto é
70%.
A equipe deslocada para o Sul para avaliar e
levantar os prejuízos dos produtores tem 150 pessoas, e a média diária de
sinistros, que estava em 180 na primeira quinzena de janeiro, caiu para 80 nos
últimos dias. A BBMapfre informou que, na central de atendimento, a equipe
encarregada de receber ligações dos produtores foi ampliada e as perícias
técnicas preliminares foram priorizadas: estão sendo realizadas em até sete
dias após o aviso. Guedes Pinto disse que ainda não dá para estimar o valor de
indenizações, porque as lavouras estão em diferentes estágios de
desenvolvimento e a seca afetou com intensidade distinta cada região.
Otmar Hubner, diretor do Departamento de Economia
Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura do Paraná, acredita que serão
feitos pequenos ajustes no levantamento de perdas. "Para mais ou para
menos", comentou. "Choveu em todo o Estado e agora há pouco déficit
hídrico". A estiagem começou em novembro e continuou em dezembro. No
começo de janeiro, os prejuízos eram estimados em R$ 1,5 bilhão. De acordo com
o Deral, as chuvas recentes devem favorecer o plantio de feijão e de milho da
segunda safra. Voltou a chover com mais intensidade a partir do dia 12, o que
favoreceu lavouras nas primeiras fases de desenvolvimento. Mas já era tarde
para as mais adiantadas.
EU&FIM DE SEMANA
O
difícil problema da saúde
Por Alberto Carlos Almeida | Para o Valor, de São Paulo
Afirmar que a solução para a saúde pública é
difícil é um eufemismo. O mais provável é que não haja solução alguma e que se
trate, simplesmente, de um problema impossível de ser resolvido.
A questão mais importante é saber que problema é
esse. É preciso, antes de mais nada, definir o que está ruim e que, portanto,
precisa de uma solução. Para que fique claro: o principal problema do Sistema
Único de Saúde é o tempo de espera para marcar consultas e exames. Esse tempo
nada tem a ver com o tempo em sala de espera, mas sim com a distância que
separa o dia em que um cidadão procura o serviço de saúde para marcar uma
consulta e o dia em que a consulta ocorre. Muitos leitores não devem saber, mas
é comum que, em todos os lugares do Brasil, se espere três meses ou mais para
que ocorra a consulta. Os usuários do sistema privado esperam uma, duas, talvez
três semanas para uma consulta médica, ao passo que os usuários do SUS
dificilmente são recebidos pelo médico antes de 90 dias.
A via crucis se repete na etapa seguinte, a do
exame. Mais uma vez, o tempo de espera é inacreditavelmente longo. Falar em
três meses de espera para cada uma dessas etapas é, com frequência,
generosidade. Já fui testemunha ocular em uma visita que fiz a um município no
entorno do Distrito Federal onde o tempo de espera para uma consulta com o
cardiologista ou oftalmologista era de 9 a 12 meses. Imagine-se uma pessoa com
um problema tão simples como a vista cansada aguardar um ano para que um médico
a receba e só então ter a perspectiva de passar a utilizar óculos. Isso é nada
diante das pessoas que morrem porque não foram recebidas por cardiologistas.
Essas pessoas entrarão na estatística de morte por AVC ou ataque cardíaco sem
que jamais se tenha notícia de que a morte provavelmente teria sido evitada se
a consulta médica, e os exames, tivessem sido realizados na mesma velocidade em
que são feitos no setor privado.
Como essa espera, para o doente, é equivalente à
eternidade, ele acaba indo para um hospital e é recebido, de pé, por um médico
que em cinco minutos mede a pressão, tira a pulsação e receita algum
medicamento. Muitos de nós conhecemos inúmeras pessoas que passaram por isso.
Tempos atrás, nossa empregada doméstica recebeu uma receita de remédio de
pressão, quando estava, veio saber depois, com infecção urinária. Os hospitais
estão superlotados porque cumprem o papel de substituir a consulta e o exame
regular. No final das contas, não acontece nem uma coisa nem outra, mas o
doente é, de alguma maneira, atendido.
No debate público sobre a crise da saúde pública
aparecem sempre duas soluções. Uma é colocar mais recursos. Isso acabou de
acontecer por meio da regulamentação da emenda 29. Ou se fala em melhorar a
gestão. Não creio que solução esteja em nenhuma dessas duas medidas.
O aumento de recursos tem limites claros. O Brasil
já desfruta de uma das maiores cargas tributárias do mundo, sob qualquer
parâmetro de comparação: é a maior dentre os países emergentes, é das maiores
na comparação com os desenvolvidos, na América Latina etc. Além da
impossibilidade de se aumentar indefinidamente a carga tributária, a saúde pode
ser o problema mais importante, mas não é o único. Os recursos do governo
precisam ser direcionados para outros problemas, como educação, infraestrutura,
política social, previdência etc. Sob qualquer prisma, sob uma análise mais
cuidadosa ou mais geral, é muito difícil sustentar que a solução do tempo de
espera para consultas e exames esteja no aumento dos recursos direcionados para
a saúde.
Melhorar a gestão também não parece ser a solução.
O problema do atendimento público da saúde está muito na ponta: ocorre na
relação existente entre os médicos e seu trabalho, entre os médicos e seus
potenciais pacientes. Nada tem a ver com compra de equipamentos, compra de
material hospitalar, coisas assim. O médico precisa se dedicar ao trabalho e,
caso isso não ocorra, ele precisa ser punido. É aí que entra o velho e
conhecido problema do agente e do principal: ninguém é dono do SUS, ninguém
manda nos médicos, eles são o agente, mas não há o chefe, não há o principal
que os faça atender a população. A mídia e a população já conhecem o jogo de
empurra: os médicos afirmam que são mal pagos e que não têm recursos para
trabalhar, os prefeitos e governadores admitem, mas obviamente não dizem em
público, que os médicos faltam sistematicamente ao trabalho e nada podem fazer
contra isso. Não há gestão que resolva isso, é um típico problema de agente-principal.
O Reino Unido, anglo-saxão, orgulha-se de seu
National Health System (NHS). É o SUS do país que acabamos de ultrapassar no
PIB bruto. Os anglo-saxões, todos sabemos, são muito diferentes de nós,
culturalmente. Trata-se de uma população cuja adesão às regras é infinitamente
maior do que a nossa. A implicação disso para o mundo dos serviços é fenomenal:
há um dever a ser cumprido. É por isso que, em função de diferenças culturais,
devemos esperar que o funcionamento do serviço universal de saúde pública
naquele país seja mais eficiente do que no nosso. Mantidas constantes todas as
demais variáveis, ser criado em uma cultura voltada para os serviços
possibilita uma melhor oferta de serviços. É simples.
No final dos anos 1990, quando o Reino Unido ainda
estava longe de produzir menos riqueza do que o Brasil, um levantamento
criterioso do NHS concluiu que 90% das pacientes diagnosticadas com a versão
grave de câncer do seio tinham que esperar 62 dias para iniciar o tratamento.
Para casos graves de câncer do colo, a espera era de 95 dias; para câncer do
pulmão, 91 dias; para o cervical, 123 dias; para o de próstata, 143 dias. No
Brasil, não existe nenhuma estatística sobre o tempo médio de espera para
consultas e exames, muito menos para 90% dos pacientes graves por tipos de
câncer.
O que o caso britânico revela, dentre outras
coisas, é o problema do agente-principal. Não há controle possível sobre os
médicos; o problema é na ponta, é no tempo de espera. Adicionalmente, não há
recursos financeiros infinitos. Atualmente, o NHS passa por uma crise sem
precedentes, com perspectivas de fechamento de hospitais e medidas do gênero.
No Reino Unido, atribui-se isso ao envelhecimento da população e ao surgimento
de exames e procedimentos médicos mais custosos. Pode ser. Na realidade, não
importa. O sistema público, quando se trata de recursos financeiros, funciona
como uma esponja: quanto mais há, mais ele demanda; quanto mais recebe, mais
exige. A emenda 29 e sua regulamentação são apenas um sintoma dessa lógica sem
fim.
Há solução para esse problema e estamos todos
diante dela. A solução, no Brasil, está em andamento. A pesquisa Conta-Satélite
de Saúde, do IBGE acabou de mostrar que o gasto privado per capita com saúde é
maior do que seu equivalente público em nada menos do que 29%. O governo gasta
645 reais por brasileiro com saúde, ao passo que o gasto médio de cada
brasileiro com saúde é de 835 reais. Aí está a solução para o desrespeito, para
a espera interminável, para as mortes e a morbidade na fila: os brasileiros vão
cada vez mais financiar privadamente seu atendimento de saúde.
Por favor, não esperemos por planos de um demiurgo,
novas regulamentações ou pactos sociais em torno do tema. A solução é
individual e privada. A solução é incremental, de longo prazo e aparentemente
desorganizada. Na medida em que aumentar a renda per capita, as pessoas vão
gastar mais com saúde e se livrarão do atendimento público. Trata-se de um
desfecho tão inevitável quanto ultrapassar o PIB bruto da França e o PIB per
capita do Reino Unido. È apenas uma questão e tempo.
Não há recursos públicos ou eficiência em gestão
que resolva o caos do SUS ou do NHS. A solução será fornecida pelos indivíduos,
pelos agentes privados que, afortunadamente, graças ao aumento de sua renda, poderão
pagar por seus próprios cuidados com saúde. Caberá ao SUS um papel reduzido, de
atendimento àqueles que realmente não terão condições de pagar por nada que
seja além de alguns atendimentos como emergência, serviços de ambulância e
vacinação. Até atingirmos esse estágio, teremos que conviver com a promessa
permanente de que há solução para o atendimento público de saúde. Esqueçam. É
impossível. O melhor, para quem não acredita em mágica, é que essa promessa
entre por um ouvido e saia por outro.
Alberto Carlos Almeida, sociólogo e professor
universitário, é autor de "A Cabeça do Brasileiro" e "O Dedo na
Ferida: Menos Imposto, Mais Consumo".
LEGISLAÇÃO & TRIBUTOS
Ministério
Público cobra planos de resíduos sólidos
Por Laura Ignacio e Bárbara Pombo | De São Paulo
O Ministério Público (MP) de alguns Estados está
exigindo das prefeituras a apresentação de planos para o cumprimento da
política nacional de coleta e reciclagem de resíduos sólidos, instituída pela
Lei nº 12.305, de 2010. Os municípios têm até agosto para apresentar suas
estratégias de gestão do lixo para o governo federal. Caso contrário, não
receberão recursos para a instalação de aterros sanitários e a implantação da coleta
seletiva.
Esse acompanhamento permitirá aos promotores traçar
uma estratégia para forçar os municípios a cumprir a lei, que não estabelece
punições. Eles poderão propor termos de ajustamento de conduta (TACs) ou mesmo
ações contra prefeituras e prefeitos. Os planos municipais devem levar em
consideração que, diferentemente das demais normas ambientais, a Lei nº 12.305
impõe a responsabilidade compartilhada - entre fabricantes, comerciantes,
consumidores e governo - em relação à destinação e reciclagem de produtos
comercializados.
A pressão dos MPs estaduais é importante para a
adoção de políticas de resíduos sólidos pelos municípios, segundo a advogada
especialista em direito ambiental Patricia Iglecias, do Viseu Advogados. Muitas
prefeituras alegam que não têm recursos suficientes para implementá-las e que
precisam da ajuda das empresas. "Os empresários, por sua vez, dizem que
necessitam de infraestrutura para executar seus planos de gestão de
resíduos", diz a advogada. "Sem uma atuação do MP, dificilmente essas
políticas serão implantadas."
O Ministério Público do Maranhão decidiu não
esperar o prazo para apresentação dos planos ao governo federal para começar a
agir. Pelo acompanhamento, segundo Fernando Barreto Júnior, coordenador do
Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Meio Ambiente do MP no Estado, já
dá para saber quais prefeitos estão dispostos a cumprir a lei. Ele lembra que a
capital São Luís, por exemplo, já foi condenada, com base na Lei de Crimes
Ambientais, por manter lixões a céu aberto.
No Rio de Janeiro, o MP já abriu aproximadamente
170 inquéritos civis para a implementação da política nacional de resíduos
sólidos. "O esforço agora é para que os municípios elaborem seus planos e
para dar continuidade às ações judiciais e medidas de responsabilização das
prefeituras pelo lançamento irregular de resíduos", afirma o promotor
Murilo de Bustamante, acrescentando que os gestores podem ser diretamente
responsabilizados pela ausência de planos municipais.
Os promotores do Espírito Santos estão mais
adiantados. Já foram firmados alguns termos de ajustamento de conduta. Por meio
de sua assessoria de imprensa, o MP do Estado informou que assinou com os
municípios de Cariacica, Fundão, Guarapari, Serra, Vila Velha, Vitória e Viana
um TAC para que sejam adotadas medidas para corrigir, minimizar, neutralizar e
prevenir degradações ambientais causadas pela destinação inadequada de resíduos
sólidos, inclusive de acordo com a política nacional.
No Judiciário, os promotores têm utilizado a Lei
nº12.305 apenas para reforçar seus argumentos em ações propostas contra
prefeituras com base em legislações estaduais sobre resíduos sólidos, na Lei de
Crimes Ambientais ou na Lei Nacional de Saneamento Básico. O MP do Paraná já
usou a política nacional de resíduos sólidos em ações de improbidade
administrativa propostas contra os prefeitos de Paranaguá e Jacarezinho. Esses
processos foram iniciados em 2008 por suposto descumprimento da Lei de
Saneamento Básico.
Em caso de condenação, a pena pode chegar à perda
do cargo e à suspensão dos direitos políticos dos prefeitos. As ações foram
propostas pelo procurador de justiça do meio ambiente Saint-Clair Honorato dos
Santos. "Orientamos os promotores a fazer isso em todas as ações
possíveis", afirma.
As administrações de Jacarezinho e Paranaguá
argumentam que não dispõem de recursos para colocar em prática a gestão de
resíduos sólidos. "Não há máquinas e equipe técnica para implementar a
política. O Estado e a União não fomentam o plano com investimentos", afirma
o advogado Leonardo Costa Santo, secretário de conservação urbana de
Jacarezinho, destacando que 50% do material recolhido pelo município já é
reciclado. "Em 2008, não havia nada."
O diretor da Secretaria do Meio Ambiente de
Paranaguá, Alysson Schneider, afirma que "o município está fazendo o
possível para regularizar a situação". Segundo ele, o plano de saneamento
básico foi finalizado em 2011 e, agora, espera a aprovação do Legislativo.
Schneider diz ainda que já há área e verba de R$ 2 milhões para a construção de
um aterro sanitário. Porém, o licenciamento ainda não foi liberado.
"Conseguimos ainda aumentar o volume de material reciclado. De 50
toneladas em 2010 passou para 130 toneladas em 2011", afirma.
O governo federal também está acompanhando a
implantação dos planos de resíduos sólidos. Em outubro, abriu edital para
financiar os custos de Estados e municípios com consultoria técnica para a
elaboração dos projetos. De 250 propostas prévias de planos municipais
apresentadas, 61 foram aprovadas. Dessas, 41 já tiveram recursos empenhados, em
um total de R$ 45 milhões.
Além disso, será lançada em fevereiro uma cartilha
com orientações sobre como formular um plano. Com esse apoio, segundo o
secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente,
Nabil Bonduki, o governo busca a aprovação de planos que tragam estabilidade
aos serviços prestados. "Há municípios que utilizaram recursos federais
para construir aterros que, algum tempo depois, viraram verdadeiros
lixões", diz.
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