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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

04 de janeiro de 2012 - CORREIO BRAZILIENSE


PRIMEIRA PÁGINA

Idosos se libertam da ditadura do INSS
Cada vez mais, brasileiros recorrem à previdência privada para não depender só da aposentadoria oficial na velhice

Chuva encerra férias de Dilma e ministros
Preocupada com os estragos em Minas e no Rio, a presidente Dilma vai reduzir o recesso e voltar a Brasília. Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, e Fernando Bezerra, da Integração Nacional, também retornam ao trabalho

A boquinha dos suplentes
De olho nas mordomias da Câmara, quatro deputados "reservas" e um titular assumiram os cargos em dezembro. E saem com os bolsos cheios: ganham R$ 26,7 mil da ajuda de custo e o salário de janeiro

POLITICA
Viúva de Prestes doa acervo particular

Renata Mariz

Vinte e sete pastas do acervo pessoal de Luiz Carlos Prestes foram doadas ontem pela viúva, Maria Prestes, 81 anos, ao Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro. Entre cartas trocadas com os filhos, atas de reuniões secretas, anotações, discursos e fotos, está o Relatório da IV Reunião Anual do Comitê de Solidariedade aos Revolucionários do Brasil, datado de fevereiro de 1976. O documento traz uma lista de 233 militares e policiais que teriam cometido tortura durante a ditadura. No período, Prestes estava exilado na extinta União Soviética, sendo portanto impossível saber se ele participou da elaboração do documento que, mais tarde, teria chegado em seu poder.
A lista se tornou pública em junho de 1978, em um veículo alternativo de imprensa da época, mas agora, assim como todos os outros documentos de Prestes, estará disponível para qualquer cidadão. A previsão do Arquivo Nacional é colocar, ainda no primeiro semestre de 2012, o material para consulta, informou a assessoria de imprensa da instituição. O acervo passará por tratamento para conservação e depois será digitalizado. "Trata-se de um documento importante, que hoje pode até não ter mais novidade, mas que compõe o quadro de uma época, e que vai servir para a análise e os questionamentos de historiadores", disse a viúva, sobre o relatório com os nomes dos supostos torturadores.
Na documentação, produzida especialmente nas décadas de 1970, 1980 e 1990, também estão fotos de Prestes. Uma delas, em que o político aparece tomando banho de sol na praia, ilustra a capa da Revista de História, editada pela Biblioteca Nacional, deste mês. A divulgação da imagem foi motivo de briga entre a filha de Prestes com Olga Benário, Anita Prestes, e a viúva, Maria. Anita considerou um desrespeito a publicação, garantindo que o pai discordaria, por ser um homem sóbrio e reservado. Ela também destacou não ter sido consultada sobre a doação do acervo. Anita não compareceu à cerimônia no Arquivo Nacional ontem, quando Prestes, também conhecido como o Cavaleiro da Esperança, faria 114 anos. Gaúcho, ele morreu em 1990, aos 92 anos, no Rio de Janeiro.

Convênios irregulares

Em 26 de outubro, Orlando Silva deixou o Ministério do Esporte após denúncias de um esquema de assinaturas de convênios irregulares com ONGs ligadas ao PCdoB. A maior parte tinha ligação com o Programa Segundo Tempo. O projeto deveria "democratizar o acesso à prática e à cultura do esporte, promovendo o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes, além de utilizar o esporte como meio de desenvolvimento integral, sendo um fator de formação da cidadania e melhoria da qualidade de vida".
Entretanto, na maioria das situações, os convênios eram firmados com entidades que não prestavam os serviços prometidos. Na época, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, decidiu pedir abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por entender que as práticas irregulares estavam disseminadas por todos os estados brasileiros. A ministra Cármem Lúcia acatou o pedido, tornando insustentável a permanência de Orlando no ministério. (PTL)

ECONOMIA
Itamaraty oferece 30 vagas
Ministério divulga as regras da seleção de candidatos para o Instituto Rio Branco. Salário inicial da carreira é de R$ 12.962

» ANA CAROLINA DINARDO

O governo deu sinais claros de que vai mesmo voltar às contratações de servidores em 2012. Ontem, foram publicadas as normas para a seleção de 30 profissionais para a carreira de diplomata, com salário inicial de R$ 12.962,12. As vagas para o Instituto Rio Branco fazem parte de um total de 1.293 postos do Ministério das Relações Exteriores com abertura prevista para o primeiro semestre. O Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (Cespe), da Universidade de Brasília, foi escolhido como o organizador do certame. Não há data definida para publicar o edital.
O último concurso do Itaramaty para a carreira de diplomata, no ano passado, ofereceu 26 vagas e também foi organizado pelo Cespe/UnB. Ao todo, houve inscrições de 7.180 candidatos. Entre suas atribuições, o diplomata representa, negocia, informa e protege os interesses brasileiros no exterior.
O Itamaraty informou que ainda estabelecerá uma reserva de vagas na primeira fase para candidatos afrodescendentes. De acordo com as primeiras regras do concurso, o processo seletivo será constituído por quatro fases.
A primeira, com caráter eliminatório e classificatório, será composta por uma prova objetiva com conteúdos de português, história do Brasil e mundial, geografia, política internacional e inglês, além de noções de economia, direito e direito internacional público. Os candidatos classificados nessa etapa farão uma prova discursiva, também eliminatória e classificatória, de português.
Na terceira fase, os candidatos serão cobrados quanto às matérias específicas da profissão. Na avaliação dos professores da área, essa será a etapa com maior peso no certame. Ao todo, serão seis provas discursivas sobre os conteúdos já cobrados na primeira fase.
A última etapa do certame terá caráter exclusivamente classificatório. Nela, os alunos mostrarão conhecimentos de espanhol e de francês. Cada uma das provas terá peso equivalente à metade do peso dos exames da terceira fase.

Estratégia
Mas, na visão dos especialistas, a oferta de muitas vagas no serviço público, incluídas as recém-anunciadas para o Itamaraty, não é garantia para o sucesso na aprovação. Para conseguir o tão desejado cargo de diplomata, é preciso muita dedicação e horas de estudos. O professor de inglês e redação da JB Concursos, João Henrique Costa, alertou que para o candidato aumentar suas chances de sucesso é preciso seguir uma rotina. O aluno deve traçar metas semanais até o dia da prova. "Com o planejamento, ele (o candidato) saberá o que estudar e, com isso, não perderá tempo", observou.
Outra indicação é procurar gravar as aulas dos cursos preparatórios. "Muitas vezes, o aluno perde alguma informação importante que, no futuro, pode fazer a diferença. É aconselhável que ele leve um gravador para poder ouvir novamente o conteúdo e fixá-lo de uma maneira melhor", disse Costa. O professor sugere também que os alunos estudem, no mínimo, seis horas por dia. Com o passar dos dias, ele pode ir aumentando de 30 em 30 minutos a carga horária dedicada aos livros.
Especialista em política internacional pela Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, Rodrigo Jerônimo lista alguns tópicos que serão naturalmente cobrados nas provas. A crise econômica global, as questões do euro, a corrida presidencial norte-americana, os problemas bélicos do Irã e, por fim, o panorama econômico traçado pelo Brasil em 2011 são boas dicas. "Se o candidato prestar atenção nesses assuntos, certamente terá chances de um bom resultado", assegurou.

Fique atento
Saem os primeiros detalhes do certame para o Itamaraty
Seleção    Ministério das Relações Exteriores
Cargo    Diplomata
Vagas    30
Salário inicial    R$ 12.962,12
Fonte: Diário Oficial da União

Dólar cai para R$ 1,83
Dados econômicos positivos levam otimismo aos mercados. Bovespa tem alta de 2,48%

A expressiva melhora nos mercados internacionais levou o dólar a registrar, ontem, a maior queda em mais de dois meses. Com os investidores buscando ativos de maior risco, a moeda norte-americana fechou em baixa de 2,01%, cotada a R$ 1,831 para venda, na maior desvalorização diária desde 27 de outubro, quando a cotação recuou 2,93%.
Com o bom humor generalizado dos mercados, o Índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, teve alta de 1,7% e os principais indicadores europeus fecharam no melhor patamar em cinco meses. "O cenário externo hoje pareceu bem distante daqueles piores momentos do final do ano passado", afirmou o diretor de tesouraria do Banco Prosper, Jorge Knauer. Embalada pelo otimismo, a Bolsa de Valores de São Paulo fechou em alta de 2,48%, chegando aos 59.264 pontos, o nível mais elevado desde 6 de dezembro.
O apetite por risco nos mercados foi alimentado por uma série de dados mostrando força em algumas das principais economias mundiais. O setor manufatureiro dos Estados Unidos teve em dezembro a maior alta em seis meses, ao mesmo tempo em que os gastos com construção se aproximaram em novembro da máxima em um ano e meio. Além disso, o desemprego na Alemanha atingiu no mês passado seu ponto mais baixo desde a reunificação do país, há duas décadas, enquanto o setor industrial chinês registrou crescimento em dezembro.
Na Europa, o índice FTSEurofirst 300, principal indicador das bolsas do continente, subiu 1,6% e o índice de recursos básicos STOXX Europe 600 saltou 5,31%. O movimento de compra também provocou alta nas praças de Londres (2,29%), Frankfurt (1,5%), Paris (0,72%), Milão (1,24%), Madri (0,1%) e Lisboa (1,6%).

Indústria cresce nos EUA
Um dos motivos do otimismo nos mercados foi o relatório do Instituto de Gestão do Fornecimento, apontando que o índice de atividade fabril nos Estados Unidos subiu para 53,9 em dezembro, melhor patamar desde junho. Leituras acima de 50 indicam expansão. O índice de novas encomendas, que servem como indicador antecedente da futura atividade no setor, subiu de 56,7, em novembro, para 57,6. Já o Departamento do Comércio informou que o gasto com construção avançou 1,2%, maior nível desde junho de 2010.

BRASIL
Mortes no feriado caíram 18%

Paula Filizola

O balanço da Polícia Rodoviária Federal (PRF) divulgado ontem indica menos mortes nas estradas nacionais durante os feriados de fim de 2011 em relação ao mesmo período de 2010. De 16 de dezembro de 2011 a 2 de janeiro de 2012, foram 380 acidentes fatais, com 460 óbitos — uma redução de 18% quando comparado a 2010, que teve 442 acidentes fatais e 558 mortes. As unidades da Federação com maior índice de mortes foram Minas Gerais (66), Bahia (42) e Santa Catarina (32). Nas estradas que cortam o Distrito Federal, a quantidade de vítimas subiu: de 13 para 15. Em Goiás, caiu: 22 e 19. A Operação de Fim de Ano 2011 da PRF também registrou queda de 16% no número de feridos em relação ao período anterior. Foram 7.272 nas festas de 2010/2011 e 6.121 em 2011/2012. O número total de acidentes também caiu: de 11.643 para 10.536.
De acordo com a corporação, o réveillon foi o período com a maior redução no número de mortes nas rodovias, quase a metade do ano passado. O relatório aponta que, entre 30 de dezembro de 2011 e 2 de janeiro de 2012, houve 75 óbitos, contra 134 em 2010 — uma redução de 44%. Segundo o coordenador-geral de Operações da PRF, Giovanni di Mambro, esses resultados estão relacionados a um reforço em ações integradas de fiscalização em áreas com tráfego intenso e mais risco de acidentes, além de campanhas educativas para os motoristas. As principais causas de acidentes nas estradas federais, segundo a PRF, incluem ultrapassagens indevidas, saída de pista seguida de capotamentos e a ingestão de bebidas alcoólicas.
Mas o especialista em segurança no trânsito e professor da Universidade de Brasília (UnB) David Duarte Lima argumenta que as tragédias no trânsito não se restringem à irresponsabilidade dos motoristas. Para ele, grande parte do problema está na condição das estradas brasileiras. Uma pesquisa divulgada em outubro do ano passado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) mostrou que 57,4% das rodovias apresentam "algum tipo de deficiência", enquanto 26,9% "estão em situação crítica".
Para o professor da UnB, o governo não investe em tecnologia como deveria. "Até hoje, usamos recursos dos anos de 1950. A infraestrutura rodoviária do país é originalmente muito ruim. As estradas são cheias de curvas, subidas, descidas, mal sinalizadas, perigosas e constituem grandes fatores para acidentes em estradas", afirma o especialista.
Colaborou Larissa Leite

Ceará fica refém da greve na segurança
PMs e bombeiros negociam o fim da paralisação iniciada no último dia 29, mas policiais civis decidem parar. O clima de medo no estado deixa moradores e turistas aflitos

» JÚNIA GAMA
» EDSON LUIZ

As negociações para o fim da greve da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros no Ceará, que tem deixado a população aflita e o governo federal preocupado, foram intensificadas na noite de ontem. Cinco dias após o início da paralisação, a procuradora-geral de Justiça Socorro França intermediou o atendimento de três das seis reivindicações dos grevistas para que os cerca de 10 mil servidores retomassem as atividades. Até o fechamento desta edição, o acordo dependia do aval do governador do estado, Cid Gomes.
A proposta aceita por PMs e bombeiros inclui a incorporação de R$ 859 ao salário de policiais que atuam no turno da madrugada, a redução da jornada de trabalho de 46 horas para 40 horas semanais e a anistia a todos os que participaram do movimento grevista nos últimos cinco dias.
Mas outro problema ameaça a segurança pública: na noite de ontem, os policiais civis decidiram cruzar os braços em busca de melhorias salariais.
O governo federal acompanha de perto a situação. Segundo o ministro da Justiça em exercício, Luiz Paulo Barreto, que afirmou estar em contato direto com Cid Gomes, o Ceará pediu, na tarde de ontem, um novo reforço da União para atuar na segurança, principalmente pelo fato de as cidades litorâneas estarem cheias de turistas. "Temos 280 militares da Força Nacional, além do efetivo do Exército (1.059 homens), e o governador pediu mais ajuda das Forças", disse Barreto.
Com a segurança pública comprometida, lojas do centro, shoppings centers, postos de gasolina e farmácias fecharam as portas nesta terça-feira, temendo saques. Além do comércio de Fortaleza, repartições públicas e serviços básicos, como postos de saúde, correios, secretarias municipais e o Tribunal de Justiça encerraram mais cedo o expediente.
Ainda na tarde de ontem, policiais e bombeiros rejeitaram uma proposta do governo do estado sobre o reajuste da categoria. De acordo com o cabo Flávio Sabino, presidente da Associação dos Cabos e Soldados Militares do Ceará, o governo havia oferecido 23% de reajuste, mas a categoria exigia de 80% a 100% entre 2012 e 2014. O salário inicial de ambas as categorias é R$ 1.601.

Medo
O administrador Thiago Rocha Ramalho, morador de Brasília, de férias em Fortaleza, contou o clima de medo na capital cearense. "Está tudo fechado e as pessoas estão preocupadas. Não sabemos o que é boato e o que não é", disse, referindo-se a uma suposta onda de arrastões divulgada nas mídias sociais. Mas, de acordo com o Ministério da Defesa, a gravidade da situação não correspondeu ao propagado. "A situação está muito menos caótica do que os sites estão mostrando", disse um servidor do órgão.

Na última segunda-feira, a Justiça determinou o fim da paralisação, iniciada na quinta-feira, e o pagamento de multa diária de R$ 15 mil a cada uma das associações da classe e R$ 500 por militar envolvido no movimento. No sábado, o governo do estado havia decretado estado de emergência.
Colaborou Denise Rothenburg

Sobrevoos no quartel

A mais tensa greve envolvendo profissionais da segurança pública ocorreu em 2001, em Tocantins, onde 800 PMs ocuparam a sede da corporação com familiares. Eles ameaçavam explodir bombas dentro do estabelecimento caso suas reivindicações salariais não fossem atendidas. O Exército interferiu na paralisação e enviou tanques e helicópteros — que faziam sobrevoos à noite para evitar que os policiais dormissem.
A paralisação só terminou com a interferência de grupos de defesa dos direitos humanos e de procuradores da República, pouco antes do horário definido pelo Exército para a retomada do quartel. Tanques e soldados fortemente armados estavam posicionados do lado de fora e helicópteros faziam voos rasantes jogando panfletos em que era oferecido salvo-conduto para os grevistas que quisessem se entregar.
No ano passado, três grandes paralisações de policiais militares e bombeiros chegaram a preocupar autoridades estaduais e federais. Em novembro, no Maranhão, centenas de soldados paralisaram a atividade por melhorias salariais, assim como em Rondônia, em dezembro, quando 1,2 mil homens do Exército ocuparam as ruas das cidades. Na capital, Porto Velho, PMs foram presos por ordem judicial. Em Alagoas, em maio, militares abandonaram os quartéis pelo mesmo motivo. (EL)

MUNDO
Punhos à mostra
Pentágono ignora ameaças de Teerã e avisa que não interromperá manobras do Exército americano no Estreito de Ormuz. Analistas temem agravamento da tensão no Golfo Pérsico e creem que regime islâmico busca fortalecimento internoNotíciaGráfico

» CAROLINA VICENTIN

A guerra verbal entre Irã e Estados Unidos ganhou munição extra. Em mais uma exibição de força, o chefe do Exército iraniano ameaçou os norte-americanos de retaliação, caso o porta-aviões USS John C. Stennis retorne ao Golfo Pérsico. A embarcação — mantida há anos pelos EUA — atravessou o Estreito de Ormuz na segunda-feira, quando Teerã finalizou uma série de testes com mísseis de médio alcance. A réplica à ameaça veio logo em seguida. O Pentágono rejeitou qualquer possibilidade de tirar o porta-aviões da região. "Os deslocamentos militares do Exército americano vão continuar, como tem sido feito há décadas", avisou o porta-voz George Little.
O discurso inflamado do general iraniano Ataolá Salehi seguiu-se ao polêmico exercício militar no Mar de Omã — o local recebe o escoamento de um terço da produção mundial de petróleo, parte dela originária do próprio Irã. "Aconselhamos o porta-aviões americano que atravessou o Estreito de Ormuz, e que se encontra no Mar de Omã, que não volte ao Golfo Pérsico", disse Salehi. "A República Islâmica do Irã não tem a intenção de repetir sua advertência", acrescentou. Funcionários de alto escalão de Teerã já haviam comentado o possível fechamento do estreito, como forma de impedir novas sanções ao comércio do petróleo iraniano. No último fim de semana, o presidente Barack Obama ampliou as restrições econômicas ao Banco Central do Irã, o que agravou a crise entre as duas nações.
Navios iranianos participam de "jogos de guerra" no Mar de Omã: demonstração de força e preparação ante qualquer agressão externa
"Essas medidas são bastante pesadas, mesmo que atinjam apenas o sistema financeiro. O país não consegue nenhum outro investimento, não pode abrir cartas de crédito e não tem acesso a seguradoras", aponta a analista iraniana Haleh Esfandiari, diretora do Programa para o Oriente Médio do Woodrow Wilson International Center for Scholars. E a situação pode piorar para Teerã. A França encabeça uma verdadeira investida para aprovar o endurecimento das sanções, no âmbito da União Europeia. "O Irã continua a desenvolver suas armas nucleares, não há dúvidas sobre isso", justificou o ministro das Relações Exteriores da França, Alain Juppé, em entrevista a uma emissora de tevê de seu país. No mês passado, o presidente Nicolas Sarkozy chegou a pedir o congelamento de ativos do Banco Central do Irã e o embargo às exportações de petróleo.
A proposta está longe de ser um consenso na Europa. Grécia, Itália e Espanha — afundadas em uma grave crise financeira — são dependentes das exportações do Irã. Uma fonte diplomática ouvida pela agência France-Presse afirmou que o governo alemão não planeja ser tão rígido com o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad.
Além da França, apenas o Reino Unido estaria disposto a manter a firmeza em relação ao regime islâmico. Em novembro passado, após a invasão de manifestantes islâmicos à embaixada britânica em Teerã, Londres cortou laços com todos os bancos iranianos. Ainda assim, o premiê David Cameron é cauteloso. "A questão de um embargo sobre o petróleo e o gás será estudada e discutida pelos ministros das Relações Exteriores (da União Europeia)", disse ele ontem. A reunião está marcada para 30 de janeiro.

Riscos
Enquanto as medidas não são definidas, o Irã deve aproveitar sua posição estratégica para causar turbulência na região. "Os iranianos podem perturbar o transporte civil no Estreito de Ormuz. Isso viola as convenções internacionais e poderia ser visto pelos EUA e por seus aliados como um ato de guerra", afirma ao Correio Michael Connell, diretor do Programa de Estudos Iranianos no Centro de Análises Navais (CNA), uma ONG norte-americana. "Dependendo da natureza do conflito e como ele se desenrola, a tensão poderia se expandir para todo o Oriente Médio."
Para Haleh Esfandiari, tanto as ameaças de ontem como os recentes testes de mísseis visam o fortalecimento interno de Ahmadinejad. "Todo esse barulho da Marinha e do governo tem a ver com a necessidade de eles mostrarem a sua força e impressionarem as pessoas, dentro do país", opina. Em março, o Irã realizará eleições parlamentares. As pesquisas indicam que os conservadores devem ganhar mais cadeiras, impedindo qualquer reforma política ou social.


CIDADES
Sem acordo, greve no Metrô continua

Mariana Laboissière

Após uma tentativa de acordo fracassada, o GDF decidiu ontem manter cortado o ponto dos metroviários, sem o abono de faltas. Em greve há 24 dias, a categoria, por sua vez, fez assembleia e manifestações em frente ao Palácio do Buriti e manteve a paralisação. Apenas 30% dos servidores continuam trabalhando em todo o Distrito Federal. Eles operam nove dos 24 trens disponíveis em horários de pico e seis nos demais períodos. O resultado é um prejuízo para os mais de 160 mil usuários por dia do sistema de transporte, que sofrem com a paralisação do serviço desde o último dia 12.
Na última segunda-feira, o governo sugeriu a antecipação da discussão da data-base da categoria, marcada para os meses de março e abril, mas o diálogo aconteceria somente diante da volta dos grevistas ao trabalho. A proposta apresentada, no entanto, foi rejeitada pelo sindicato. Entre as reivindicações da categoria estão o cumprimento do acordo coletivo de trabalho, assinado em abril deste ano, e a isonomia no valor dos benefícios pagos aos empregados. Os metroviários argumentam que trabalhadores de outras empresas públicas recebem quantias maiores.

Impasse
A Secretaria de Administração Pública do DF informou, por meio da assessoria de imprensa, que chegou o mais próximo possível do pleito da categoria e que, por conta do insucesso das negociações, não apresentará novas propostas. Os metroviários, por sua vez, afirmam que permanecem em greve por tempo indeterminado.
Atualmente, o Metrô conta com cerca de 1,2 mil servidores concursados. Na ausência de 70% do efetivo, até quem quis ir à festa da virada do ano, na Esplanada dos Ministérios, enfrentou dificuldade — os trens pararam de rodar às 19h. Na tentativa de garantir a comemoração do revéillon daqueles que dependiam do transporte urbano, o DFTrans disponibilizou 200 ônibus extras. Aos sábados, após as 19h, o efetivo normal é de 190 ônibus.

Atrasos ainda recorrentes
O Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek registrou ontem o maior índice no país de voos que não decolaram no horário marcado: 27,7% do total. Situação melhorou se comparada a segunda-feira, quando 45% tiveram problemas

Thaís Paranhos

O que deveria ser um momento de descanso e descontração ao lado de familiares e amigos tem se tornado um martírio para quem vai viajar no início deste ano. Passageiros brasilienses ou em conexão na cidade enfrentam filas, atrasos e cancelamentos de voos, falta de informação e extravios de malas nos primeiros dias de 2012. A incerteza de chegar ao destino e aproveitar os dias de folga tem deixado os viajantes apreensivos. O Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek registrou ontem o maior número de voos atrasados pelo menos 30 minutos em todo o país. Dos 148 previstos para até as 18h, 41 atrasaram, ou 27,7% do total. Isso representa cerca de 10% dos atrasos em todos os terminais do país, segundo a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero).
Na última segunda-feira, a situação no aeroporto de Brasília foi ainda pior. O mau tempo provocou atrasos e cancelamentos em 67 voos, ou quase 45% das partidas. O fechamento dos terminais Santos Dumont, no Rio de Janeiro, e de Goiânia também serviu para agravar o problema na capital federal. Os passageiros de uma companhia aérea com destino a Rio de Janeiro e São Paulo só conseguiram embarcar na manhã de ontem e precisaram de muita paciência para enfrentar a madrugada no terminal. Funcionários no balcão da empresa informaram que a situação se regularizou no fim da manhã.
O atraso pegou a estilista Camila Forestiero, 29 anos, de surpresa. Ela sairia de Campinas (SP) na manhã de ontem com destino a Brasília, mas não conseguiu embarcar. Camila remarcou a passagem e, novamente, não entrou no avião porque o voo foi cancelado. "Precisava buscar uns documentos aqui e deveria chegar por volta das 10h. Só desci em Brasília às 13h30. Estou desde as 5h na rua e não almocei. Fico preocupada com a volta para casa ainda hoje", contou a estilista.
Não bastassem os atrasos e cancelamentos de voos, houve quem enfrentasse outros problemas no aeroporto. A jornalista Maria Félix Fontelli, 55 anos, moradora de Águas Claras, saiu do Rio de Janeiro por volta das 19h da última segunda-feira, com destino à capital federal e, ao desembarcar, surpreendeu-se ao ser informada de que a bagagem havia sumido. "Ficamos muito tempo em frente à esteira para pegar as malas e elas não vieram. Isso ocorreu com pelo menos 15 pessoas", contou. Funcionários da companhia aérea entraram em contato com Maria ontem para avisar que os pertences haviam chegado. "Minha mala estava toda rasgada. Eles não explicaram porque estava desse jeito nem pediram desculpa pelo ocorrido", lamentou.

Reclamações
Em dezembro de 2011, o Juizado Especial do Aeroporto do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) fez 706 atendimentos a passageiros. São reclamações sobre atrasos e cancelamentos de voos e extravios de bagagem, por exemplo. Desse total, 423 foram para informações aos clientes das companhias aéreas que se sentiram lesados, 176 conciliações e 55 processos encaminhados para decisão judicial. O restante se refere a desistências e processos de outros estados. Somente nos primeiros três dias de janeiro, 38 pessoas buscaram orientação no juizado. O conciliador Renê Cácio Gomes da Silva explicou que, se o passageiro se sentir prejudicado, deve buscar os direitos nas empresas. Se não conseguir resultado, pode procurar o juizado ou a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

De olho na bagagem
Como o movimento continua intenso nos aeroportos nesta época do ano, as chances de que imprevistos ocorram aumentam. Se você vai viajar de avião, anote algumas dicas que podem ajudar caso a bagagem não esteja na esteira ao chegar ao destino:
» Identifique a bagagem (externa e internamente) com seu nome, endereço e telefone. Isso facilita a devolução quando a mala for encontrada.
» Procure o balcão da companhia aérea imediatamente após perceber que a bagagem não apareceu. Faça a reclamação formal, por escrito, e preencha o registro de irregularidade de bagagem (Ribe); é possível fazer a reclamação em até 15 dias após o desembarque.
» Confirmado o extravio, a devolução pode ocorrer em até 30 dias, em voos nacionais, e até 21, em voos internacionais. Após esse período, o consumidor terá direito a ser indenizado;
» Declare, antes do embarque, o valor atribuído a sua bagagem e, se desejar, pague o seguro estipulado pela companhia para essa finalidade;
» Se houver dano à bagagem, saiba que somente serão considerados para efeito de indenização os objetos destruídos ou avaliados;
» Se objetos forem furtados do interior da mala, registre uma reclamação na companhia e outra na polícia, que é a autoridade competente para averiguar o fato.
» O consumidor não deve assinar ou aceitar qualquer valor de indenização se discordar dos valores propostos;
» O Código de Defesa do Consumidor proíbe a limitação de indenização em caso de prejuízo ao consumidor;
» O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que aplica-se o Código de Defesa do Consumidor, e não os tratados internacionais, em caso de extravio de bagagem;
» O consumidor tem direito, além do dano material, ao dano moral pelo extravio de sua bagagem.
» Na hora de fazer as malas, prefira levar na bagagem de mão os objetos de valor, como joias e eletrônicos;
» Ao ter problemas com as bagagens, registre queixa na Anac para que seja aplicada uma sanção administrativa à companhia.
* Com informações do Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (Ibedec) e da Infraero.


81 cancelamentos no país

Em todo o país, dos 2.325 voos programados até as 19h de ontem, 437 saíram com atrasos superiores a 30 minutos. Esse número representa 18,8%. Do total de partidas programadas, 81 foram canceladas. No Aeroporto de Guarulhos (SP), a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) registrou 25 voos atrasados de 205. Em Congonhas, também em São Paulo, 24 das 200 partidas saíram pelo menos 30 minutos depois do previsto. Na última segunda-feira, 24% dos voos domésticos e internacionais foram cancelados.
No Rio de Janeiro, o Galeão registrou 27 atrasos entre os 147 voos que decolaram ontem até as 19h e, no Aeroporto Santos Dumont, 18 dos 139 estavam atrasados. Dez partidas foram canceladas. Por meio de nota, a Secretaria de Aviação Civil (SAC) informou que monitora a situação dos voos nos 66 aeroportos administrados pela Infraero para garantir a tranquilidade nos terminais. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mantém fiscalização intensiva nos seis principais aeroportos do país para garantir os direitos dos passageiros.

Longa espera para família

A primeira viagem internacional dos netos da aposentada Joana D"Arc Silva, 69 anos, precisou ser adiada em mais de um dia. Eles chegaram de Goiânia na última segunda-feira, no início da manhã, e, às 11h, embarcariam no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek com destino a Miami. As expectativas, no entanto, foram frustradas. A aeronave da companhia American Airlines precisou de manutenção e os passageiros ficaram sem saber se conseguiriam viajar. Na manhã de ontem, os oito familiares ainda aguardavam uma posição da empresa aérea.
"Estamos esperando há mais de 24 horas, as meninas já choraram, passaram mal, é um descaso com a gente", lamentou Joana D"Arc. Depois de tanto esperar, a família recebeu a notícia. Parte embarcaria ainda ontem e o restante deixaria a capital federal na manhã de hoje. Os meninos Nathália Soares, 10 anos, Natália Castro Moreira, 10, e Leonardo Castro Moreira, 8, estavam impacientes. "Essa é a nossa primeira viagem para Orlando, vamos todos juntos. A gente não entende por que isso está acontecendo", reclamou Nathália.
Por meio de nota, a assessoria de imprensa da American Airlines informou que o voo AA248 foi cancelado porque a aeronave precisou passar por manutenção. Mas garantiu que os passageiros seriam reacomodados em outros voos da empresa e, caso necessário, de outras companhias também. Segundo a nota, todos os passageiros receberam assistência conforme determinado por resolução da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). (TP)

PR sob novo comando no DF
Com o objetivo de confirmar apoio à gestão do governador Agnelo Queiroz, Executiva Nacional do Partido da República troca o presidente da legenda. Críticas à gestão petista foram a principal motivação para a mudança

Ricardo Taffner

O Partido da República (PR) começa 2012 com novo comando no Distrito Federal. Após um ano de disputas internas para decidir a linha política da legenda na capital da República, a Executiva Nacional resolveu dar um basta e definir o caminho. A escolha do deputado federal Ronaldo Fonseca para presidir regionalmente o PR significa a oficialização da permanência da sigla na base do governador do DF, Agnelo Queiroz (PT). "Não foi uma eleição, mas uma decisão da Executiva de alinhar, definitivamente, o PR ao governo. Enxergamos que essa é a melhor opção para o partido e queremos contribuir para criar uma unidade política a fim de trazer benefícios para Brasília", afirma Fonseca.
A escolha de Ronaldo Fonseca para a Presidência do diretório provisório do PR-DF também representa a diminuição da força de outro deputado federal: Izalci Lucas. Desde o início do ano passado, Izalci vinha tentando colocar a legenda na oposição, mas enfrentou a resistência dos colegas, que acabaram ganhando espaço e cargos no GDF. A substituição da direção se deu em 21 de dezembro, dois dias antes de ir ao ar, na televisão e no rádio, uma série de inserções com críticas de Izalci ao atual governo. No lugar, foram veiculadas mensagens de apoio do atual presidente a Agnelo Queiroz.
Se tirou Izalci temporariamente de cena, o novo diretório trouxe para o centro da legenda figuras de peso que estavam na "geladeira", como o ex-presidente da Câmara Legislativa Wilson Lima e o ex-deputado federal Jofran Frejat. Agora, os dois integram a Executiva Regional do PR. "Pois é, eles me comunicaram sobre isso. Como eu não fazia parte, resolveram me colocar e tudo bem", diz Frejat. Candidato a vice-governador na chapa de Joaquim Roriz (PSC) nas últimas eleições, ele diz não ver nenhum problema na situação. "A orientação é dada pelo presidente", afirma.
No entanto, segundo Frejat, a aproximação ao núcleo de comando da legenda não representa a vinculação dele com o governo. Discreto, o ex-parlamentar permaneceu longe dos holofotes e dos microfones ao longo do ano passado. "Nunca fiz oposição doentia. As pessoas acharam que esta seria a melhor chapa para comandar o GDF e fui para casa", comenta. Para ele, a atual gestão enfrentou problemas naturais. "Estou olhando as pesquisas, que não estão tão boas, mas todo governo passa por esse tipo de dificuldade no início", avalia Frejat.
A divisão interna sobre a postura do partido começou antes mesmo das eleições. Apesar de a sigla ter apoiado oficialmente Roriz, muitos membros fizeram campanha para Agnelo. O resultado foi prático: mesmo com a perda nas urnas, o partido começou a atual gestão de braços dados com o governo. O bispo Renato Andrade, por exemplo, foi comandar a Secretaria de Entorno do DF e o distrital Aylton Gomes indicou o administrador do Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), Edson Buscacio.
As indicações foram um dos motivos para o posicionamento de Izalci. O deputado foi secretário de Ciências e Tecnologia até abril de 2010, quando deixou o cargo para disputar as eleições. No atual governo, pretendia manter um nome ligado a ele na pasta e na Fundação de Apoio à Pesquisa (FAP), o que não ocorreu. Com a Executiva do PR aliada a ele, Izalci conseguiu manter o partido na oposição e passou a pressionar os colegas a deixarem o GDF. No fim de ano, no entanto, a Executiva decidiu resolver de vez a questão. "A reposta foi mudar a Presidência", resumiu Ronaldo Fonseca.

Secretaria desaprova duas escolas
Decisão publicada em recente edição do Diário Oficial suspende os direitos de dois estabelecimentos de ensino do DF
Ana Pompeu

A Secretaria de Educação do DF (SEE-DF) descredenciou duas escolas de ensino supletivo por emitirem certificados de conclusão do ensino médio de forma irregular. A decisão está registrada na edição da última segunda-feira do Diário Oficial do Distrito Federal (DODF). Duas portarias tiram do Centro Educacional Evolução e do Centro Educacional Bandeirantes (Ceban), respectivamente localizados em Taguatinga e no Núcleo Bandeirante, o direito de permanecerem em funcionamento. Por enquanto, as escolas estão com as portas abertas. A direção de ambas afirmou que a decisão é injusta e vai recorrer.
A investigação a respeito das práticas das instituições começou a partir da publicação uma série de reportagens pelo Correio, em julho do ano passado, denunciando as fraudes. As matérias mostraram que os responsáveis pelo Ceban e pelo Evolução garantiam ao aluno o término do antigo segundo grau em tempo inferior ao estabelecido pela legislação. A Secretaria de Educação, por meio da Coordenação de Supervisão Institucional de Normas de Ensino (Cosine), visitou as escolas, recolheu e analisou documentos, avaliou o processo pedagógico e atestou várias falhas no sistema delas.
Coordenador-geral da Cosine e relator do processo que investiga as escolas, Marcos Sílvio Pinheiro explica que, na realidade, o processo educacional não estava acontecendo. "Tiramos cópia de tudo. Muitos alunos conseguiram a certificação em um mês, o que é muito grave. É educação a distância, mas não tinha tutores. A plataforma virtual das escolas também não tinha interação entre alunos e professores. Não tinham nem professores contratados. Um absurdo", afirma Pinheiro. A partir da publicação das portarias, a primeira consequência é o impedimento das instituições em matricular novos alunos.

"Dentro dos conformes"
Tanto o Ceban quanto o Evolução continuam documentando novas matrículas. O coordenador do primeiro, Sérgio Vicente, alega que ainda não recebeu notificação. "Fomos pegos de surpresa. Fizemos tudo dentro do que a secretaria pediu e eles não voltaram aqui. É uma chateação, porque nós trabalhamos dentro dos conformes", garante. Vicente diz ainda que a instituição vai entrar com recurso. Já o diretor do Ceban, Deyvison Barbosa, admite algumas falhas, mas não aceita o descredenciamento. "A Cosine esteve aqui e constatou problemas administrativos, como o acervo pequeno da biblioteca e a pouca utilização do portal pelos alunos, mas nada que justifique a medida", alega.
Outro argumento levantado pelo diretor é a peculiaridade da educação de jovens e adultos (EJA), que prevê o direito de os estudantes terem o seu ritmo considerado no prosseguimento do curso. A modalidade, no entanto, sinaliza o respeito ao tempo de aprendizado do aluno em um sentido diferente. O presidente do Conselho de Educação do DF, Nilton Ferreira, explica que, na educação presencial, o aluno deve ter a frequência comprovada, quando no ensino a distância (EAD) ele pode estudar em casa e avaliar o momento em que está pronto para fazer a avaliação daquele segmento.

Regra e exceção
O professor rebateu também a alegação de que os alunos que devem apenas uma ou duas disciplinas podem concluir os estudos em tempo menor que o recomendado. "O que a gente constata são alunos que mal concluíram o ensino fundamental sendo certificados em 30, 60 ou 90 dias. Estão usando a exceção para justificar a regra", afirma o presidente do conselho. Ele diz ainda que a EAD é um problema sério no DF e, portanto, o conselho deve tomar novas providências. "Vamos constituir uma comissão de conselheiros e outros membros para avaliar a situação. O quadro é pequeno para conseguirmos fiscalizar todas as instituições."
No ano passado, seis escolas receberam punição semelhante e outras oito estão sob análise. Algumas ainda esperam investigação da Cosine. Tanto as instituições quanto a Procuradoria-Geral do DF e o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) devem receber cópias dos pareceres do Ceban e do Evolução, bem como a Agência de Fiscalização do DF, responsável pela interdição da instituição educacional.

Certificado indevido

As facilidades para sair com um diploma no Ceban foram comprovadas pelo Correio. Na reportagem "Certificados da picaretagem", publicada em 3 de julho do ano passado, a professora e mantenedora da instituição, identificada como Lilian, garantiu que, mesmo sem nenhuma bagagem de estudos, seria possível concluir o ensino básico em um mês mediante pagamento de R$ 1,2 mil.
Ainda no Ceban, a equipe do jornal flagrou um diálogo entre uma mulher com pouco domínio da língua portuguesa e a secretária da instituição. A estrangeira pediu o resultado de dois testes realizados e espantou-se com a resposta: "A senhora passou com 8 em biologia e 5 em história". Surpresa, ela abriu um sorriso e, com enorme dificuldade, exclamou: "Que legal!".
Na outra escola descredenciada pela Secretaria de Educação, o Centro de Ensino Evolução, a atendente, que se apresentou como Roberta, prometeu a entrega da declaração de conclusão do antigo segundo grau em uma semana.

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