Primeira Página
Governo revê remuneração de concessões
O governo pretende negociar uma remuneração menor
para os novos investimentos da CCR e Triunfo, que têm concessões de algumas das
primeiras estradas federais licitadas há 15 anos. A intenção é que os
desembolsos, que podem somar R$ 2,5 bilhões e visariam melhorar as rodovias,
sejam feitos pelas concessionárias a uma remuneração menor do que a praticada
nos contratos atuais - para não onerar ainda mais a tarifa do pedágio,
considerada cara. Caso não concordem, as empresas podem até ter seus contratos
rescindidos
Orçamento tem despesas subestimadas de R$ 8 bi
Pelos cálculos do Ministério do Planejamento, as
despesas com benefícios previdenciários, assistência social, seguro-desemprego
e abono salarial, que constam do Orçamento da União para 2012, recém aprovado
pelo Congresso, estão subestimadas em cerca de R$ 8 bilhões. Se a previsão do
governo se confirmar, a presidente Dilma Rousseff terá uma dificuldade
adicional para cumprir a meta de superávit primário deste ano, equivalente a
3,1% do Produto Interno Bruto (PIB), pois será obrigada a fazer um
contingenciamento ainda maior das verbas orçamentárias
Bancos acirram disputa por funcionário público
A partir de hoje, os cerca de 13 milhões de
servidores públicos vão poder escolher livremente o banco no qual querem
receber seus salários. É o início de uma disputa que já dá pistas de que pode
chegar ao bolso dos correntistas
Crise do euro traz incertezas para o país
O desempenho da economia brasileira em 2011 pode
ser considerado razoável diante das incertezas e dificuldades que permearam as
principais economias do mundo no ano passado. As perspectivas de crescimento
para o novo ano são mais positivas, não obstante a provável continuidade do
cenário turbulento na zona do euro e do baixo crescimento econômico nos países
desenvolvidos. Porém, não pode ser descartada a possibilidade de um desempenho
pior da economia brasileira decorrente do agravamento da crise fiscal e
financeira da Europa.
EDITORIAL
Risco de investimentos menores também em 2012
A maioria dos analistas do mercado apostou que o
governo não cumpriria a "meta cheia" de superávit primário em 2011. É
bem verdade que, ao longo do ano, alguns foram mudando de ideia. Os dados do
Banco Central, divulgados na semana passada, mostraram que, até novembro, o
superávit do setor público já estava em R$ 126,7 bilhões, o que correspondia a
99,1% da meta fiscal do ano. Da meta fiscal ampliada.
COLUNAS
Gustavo Loyola
Crise do euro traz incertezas para o país
O desempenho da economia brasileira em 2011 pode
ser considerado razoável diante das incertezas e dificuldades que permearam as
principais economias do mundo no ano passado. As perspectivas de crescimento
para o novo ano são mais positivas, não obstante a provável continuidade do
cenário turbulento na zona do euro e do baixo crescimento econômico nos países
desenvolvidos. Porém, não pode ser descartada a possibilidade de um desempenho
pior da economia brasileira decorrente do agravamento da crise fiscal e
financeira da Europa.
A desaceleração do crescimento do PIB brasileiro em
2011 não foi apenas resultado das incertezas derivadas da situação crítica na
zona do euro. Contribuíram também para o menor crescimento do PIB a queda do
ritmo dos gastos públicos e a política monetária restritiva praticada no
primeiro semestre do ano passado. Em certa medida, a economia brasileira pagou
em 2011 pelos excessos de 2010, quando o governo tardou demais em retirar os
estímulos introduzidos no calor da crise desencadeada pela falência do Lehman
Brothers, em setembro de 2008. A aceleração inflacionária resultante do
excessivo aquecimento da economia em 2010 demandou a aplicação de freios que
contribuíram para a quase parada da economia no terceiro trimestre de 2011.
Para o ano que inicia, o cenário de crescimento
tende a ser positivo, muito embora nos pareça pouco provável a materialização
das previsões do ministério da Fazenda, que espera um crescimento do PIB ao
redor dos 5%. Não apenas esse percentual está acima do crescimento do PIB
potencial, como também as condições externas relativamente adversas dificultam
a obtenção de tal expansão da economia brasileira, sem risco inflacionário.
Desse modo, a expectativa do Banco Central de crescimento em torno de 3,5%
afigura-se mais realista.
Com relação ao setor externo, o ano de 2011
encerrou-se sem que tenha havido o encaminhamento de uma solução para a crise
fiscal na zona do euro. As medidas até aqui decididas pelas lideranças
políticas da Comunidade Europeia vão, no geral, na direção correta,
faltando-lhes, contudo, o sentido de urgência e de profundidade que a situação
requer. O processo decisório tem sido altamente alimentador de volatilidade nos
mercados financeiros, fato que mantém as incertezas num nível elevado e leva à
paralisia o mercado de crédito na Europa.
Nesse contexto, mesmo que não haja uma ruptura
("default" da Itália e/ou crise bancária sistêmica), as perspectivas
de crescimento são medíocres para a Europa nos próximos anos. A maioria dos
países da zona do euro caiu prisioneira de uma armadilha da qual será difícil
se livrar no curto prazo. De um lado, a política monetária se tornou impotente
pela aguda aversão ao risco dos bancos que impede a expansão do crédito. Ao
mesmo tempo, a política fiscal age na direção da contração econômica, tendo em
vista as evidentes dificuldades de rolagem das dívidas soberanas. De outro
lado, com as notáveis exceções da Alemanha, da Holanda e dos países nórdicos,
as economias europeias padecem de graves problemas estruturais que implicam baixo
potencial de crescimento econômico e elevada taxa de desemprego.
Felizmente, as perspectivas para 2012 são melhores
para a economia americana cujos indicadores de atividade têm se mostrado
positivos nos últimos meses. A despeito da paralisia no âmbito fiscal, fruto do
abismo de visões entre democratas e republicanos, a política do Fed tem sido
capaz de estimular a economia, graças principalmente a ações ousadas de
expansão quantitativa da moeda e do crédito. Adicionalmente, as condições
estruturais nos EUA são mais favoráveis ao crescimento do que na Europa.
Por outro lado, de central importância para o
Brasil é o desempenho da economia chinesa, tendo em vista suas repercussões no
mercado de "commodities". As previsões neste particular são também
razoáveis para o corrente ano, esperando-se um crescimento do PIB chinês da
ordem de 8%, suficiente para evitar queda mais sensível dos preços dos
principais produtos de exportação brasileiros. Porém, as condições para nossas
exportações devem a ser mais adversas em 2012 comparativamente ao ano anterior.
Frente a tal cenário externo, com a continuidade da
baixa de juros já sinalizada pelo BC e a presença de outros estímulos (aumento
substancial do salário-mínimo real, por exemplo), a economia brasileira pode
buscar em 2012 um crescimento próximo ao seu potencial, mas a taxa de inflação
deve ficar acima do centro da meta, embora em nível inferior à observada em
2011. Caso haja um agravamento da crise externa, o Brasil conta com
instrumentos contracíclicos suficientes para reagir à piora do cenário, o que
nos pode poupar de uma queda brusca do crescimento, embora alguma desaceleração
possa vir a ocorrer.
Em síntese, não há motivos para pessimismo com a
economia brasileira em 2012, mas igualmente não se deve esperar um desempenho
espetacular. O que é preocupante, isto sim, é a ausência de iniciativas
governamentais com vistas a aumentar a taxa de investimento e a produtividade,
motores do crescimento no longo prazo. Mas isso é tema para outro artigo.
Gustavo Loyola, doutor em economia pela EPGE/FGV,
foi presidente do Banco Central e é sócio-diretor da Tendências Consultoria
Integrada, em São Paulo. Escreve mensalmente às segundas-feiras.
Renato Janine Ribeiro
A Presidência no feminino
Estamos completando um ano com uma mulher na
Presidência da República, a primeira em nossa história. A data pede reflexão.
Três importantes países da América Latina elegeram nos últimos anos mulheres
para governá-los: na ordem cronológica, Michelle Bachelet, no Chile, Cristina
Kirschner, na Argentina, e Dilma Rousseff. Todas tiveram ótima avaliação.
Bachelet, que não fez seu sucessor, saiu do governo altamente popular. Cristina
foi reeleita com ampla votação. As pesquisas de opinião são bem favoráveis a
Dilma. Mas mal temos mulheres nos demais escalões do poder. São poucas as
governadoras, prefeitas, deputadas, senadoras e vereadoras. Sentimos
dificuldade até com a palavra para designar quem está na chefia de Estado.
Embora Dilma Rousseff se diga "presidenta", quase toda a imprensa a
chama de "presidente". O dicionário valida ambas as formas, mas já li
no Facebook, depois que usei o "presidenta", que isso provaria meu
suposto petismo... Uma dedução, obviamente, mal feita.
Porém, tudo isso é sintoma de uma grande
dificuldade, não apenas dos brasileiros mas dos homens em geral - e aqui uso
"homem" no sentido de varão e no de membro do gênero humano -, para
assimilar a novidade que é ter mulheres no poder. Só no século XX elas
adquiriram o direito de voto. No Brasil, votaram pela primeira vez em 1933.
Antes disso, algumas mulheres exerceram o poder como rainhas, por direito
próprio - isto é, não como meras esposas de homens que fossem reis. Mesmo isso
não foi fácil. Ironicamente, a maior estadista inglesa, Elizabeth I, que reinou
de 1558 a 1603, só nasceu devido à ansiedade do pai, Henrique VIII, por ter um
filho varão. Como o primeiro casamento do rei lhe deu apenas uma filha, ele
receava que uma sucessão feminina fosse contestada. Daí, a famosa série de
divórcios de Henrique e sua ruptura com a Igreja Católica - para, afinal, ter
como definitiva sucessora logo uma mulher... Mas, embora Elizabeth tivesse
enorme poder em suas mãos, seus auxiliares a pressionavam para se casar. Ela
deveria ceder o poder a um homem. No fim das contas, ela só governou porque
decidiu conservar-se solteira. Contudo, a estabilidade de seu longo governo
teve um preço: com ela, terminou sua dinastia. O trono inglês passou aos reis
da Escócia.
A despeito de tudo, avançamos muito. Lembro que, em
1989, a antropóloga Mariza Corrêa foi a primeira diretora de uma faculdade na
Unicamp. Já a USP demorou mais - o que é espantoso, levando-se em conta que tem
unidades, como a enfermagem e a educação, predominantemente femininas - mas já
teve uma reitora. A primeira senadora do Brasil foi Eunice Michilles, em 1979;
ela era, porém, apenas uma suplente, que assumiu o cargo com a morte do
titular. Só em 1990 tivemos mulheres eleitas para o Senado. Hoje, isso já não é
exceção, mas está longe de ser a regra. Uns anos atrás, ouvi uma vereadora
paranaense contar que - toda vez que falava na Câmara - os colegas homens riam
dela. Isso tornou sua vida insuportável até que, participando em Curitiba de um
encontro de mulheres detentoras de mandatos, percebeu que podia ter o apoio,
mesmo a distância, de outras mulheres, e enfrentou a situação.
Ainda é difícil, porém, aceitar uma mulher
chefiando o governo. Não falo do mundo islâmico; curiosamente, países
muçulmanos - embora não árabes - já tiveram mulheres no poder, como Benazir
Bhutto, no Paquistão (mas será que o fato de ser mulher contribuiu para ela ser
assassinada?). Penso em nosso próprio país. Porque o preconceito é tenaz. Mesmo
quando não é agressivo contra as mulheres, um resíduo importante dele aparece
na quase-impossibilidade de conciliar o que se espera da mulher e o que se
espera do governante.
De quem governa, esperamos que mande. Da mulher,
esperamos que seja doce. É possível mandar docemente? Milhares de anos nos
acostumaram a uma experiência em que o ato de mandar é duro, agressivo, viril.
Também nos acostumaram à ideia de que a mulher é boa, compreensiva, receptiva.
Daí que, quando uma mulher manda, entremos em curto-circuito. Talvez tenha sido
isso o que levou à queda de Nelson Jobim, político hábil e capaz: quem sabe não
aceitasse que uma mulher mandasse nele, que por sua vez dava ordens à cúpula
das Forças Armadas. A sucessão de declarações aparentemente desastradas de
Jobim, praticamente forçando Dilma a exonerá-lo, permite considerar essa
explicação tão boa quanto qualquer outra.
A situação tampouco é fácil para as mulheres.
Hillary Clinton, quando o marido concorreu à Presidência dos Estados Unidos,
teve que reduzir seu perfil de profissional competente e se apresentar como
dona de casa que fazia "cookies". Depois voltou a seu perfil mais
verdadeiro, mas parece que nunca presidirá seu país.
Creio, porém, que é justamente esse problema que
traz, no seu bojo, a solução. As mulheres assumirem o poder não significa elas
se tornarem másculas - imagem que se insinua, às vezes, sobre a própria Dilma.
Significa um novo estilo de poder. Não é fortuito que estes anos se fale tanto
em "soft power". Aproveitando a palavra, mas dando-lhe novo sentido, o
poder precisa se feminizar. Ele não pode, numa democracia, estar na dureza, na
repressão, na ordem. Aliás, depois do hiper-masculino Collor, nossos três
últimos presidentes foram mais de persuadir que de ordenar. Sua retórica era
mais importante que suas ordens. Essa é uma das tarefas que teremos de cumprir,
nós e o mundo, nos próximos anos ou décadas: compreender, definir, construir um
poder com mais traços femininos. Isso pode demorar bem mais que o mandato de
Dilma Rousseff, mas vai acontecer.
Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética
e filosofia política na Universidade de São Paulo. Escreve às segundas-feiras
Luciana Monteiro
Novo teste de paciência para a bolsa em 2012?
Num ano tão difícil para a bolsa como foi o de
2011, com mais tristezas que alegrias para o investidor de renda variável,
pode-se dizer que foram as ações mais conservadoras as sobreviventes do pregão.
Só para se ter ideia, dos 68 papéis que compõem a carteira teórica do Índice
Bovespa, apenas 21 deles conseguiram terminar o ano com valorização.
Em geral, o que se vê é que os heróis da
resistência da bolsa em 2011 podem ser divididos em dois grandes grupos. No
primeiro deles, aparecem as ações boas pagadoras de dividendos. Já no segundo
grupo estão as ações de companhias que nadaram de braçada no aquecimento do
mercado interno, têm forte geração de caixa, baixo endividamento e resiliência
de resultados.
As ações ordinárias (ON, com direito a voto) das
empresas de captura de transações Cielo e Redecard lideraram a lista dos
melhores desempenhos do Ibovespa. Num ano em que o índice fechou em queda de
18,43%, os papéis da Cielo subiram 53,32%, enquanto que os da Redecard, 49,20%.
O setor de cartões tem um crescimento estrutural, com o aumento do uso de
plásticos, diz Carlos Nunes, estrategista de renda variável do Banco HSBC. Para
ele, as perspectivas para o segmento seguem favoráveis.
Os papéis de telefonia também se destacaram em
2011, com os investidores aproveitando eventos relacionados às empresas do
setor. As ações ordinárias da TIM Participações foram particularmente
beneficiadas, encerrando o ano com alta de 39%. "Para TIM Brasil, as
aquisições da Intelig e Atimus foram (e serão) um importante catalisador para
ganhos em rentabilidade pela redução de gastos com aluguel de rede, além de
criar novas oportunidades de negócios em longa distância e em baixa
larga", avalia Lika Takahashi, estrategista-chefe da Fator Corretora, em
texto sobre os setores favoritos para 2012.
Com valorização de 40,18%, as ações preferenciais
(PN, sem direito a voto) da Telefônica também serviram de refúgio para os
investidores neste ano. Com "dividend yield" (retorno apenas com dividendos)
estimado em 10% para 2012, há muita expectativa de ganhos de sinergia entre as
operações da Telesp e Vivo, que se integraram.
Conhecidas por serem boas pagadoras de dividendos,
as ações de energia elétrica ficaram entre as preferidas. Tanto que, dos 21
papéis do Ibovespa com a alta, sete são de elétricas.
A perspectiva para a bolsa para este início de ano
não é favorável e, para o investidor, só resta ter muita paciência. "Para
atravessar a turbulência que deve dominar no primeiro semestre, o ideal é
buscar empresas com maior geração de caixa, solidez de balanços e resiliência
de resultados", diz Nunes.
Luciana Monteiro é repórter de Investimentos
POLITICA
Livro ameaça reabrir CPI inconclusa
Cristine Prestes | De São Paulo
Não há, na história da República, um escândalo
financeiro tão longevo e de tantas ramificações quando o caso Banestado. Alvo
de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) no Congresso Nacional em
2003 e de uma força-tarefa formada por 40 procuradores, delegados, agentes e
peritos do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, a descoberta de um
esquema ilegal de uso das contas CC5 - criadas pelo Banco Central para permitir
transferências legais para o exterior - no banco do Estado do Paraná foi a
precursora de uma série de outras investigações - muitas delas ainda em curso
nos gabinetes de procuradores, delegados e juízes.
Um pedido de CPI protocolado junto à mesa diretora
da Câmara dos Deputados levantou as expectativas de que uma parte do caso
Banestado, até agora mantida em segredo nos arquivos do Congresso, volte à
tona. O deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) conseguiu em dezembro 206
assinaturas para pedir a abertura de uma nova CPI, desta vez para investigar as
privatizações promovidas durante o governo de Fernando Henrique Cardoso
(PSDB-SP).
Ao receber o pedido de abertura da CPI, o
presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), não foi conclusivo sobre as
perspectivas de sua instalação.
O pedido foi motivado pelas revelações do livro
"A Privataria Tucana", lançado pelo jornalista Amaury Ribeiro Júnior.
Nele, o autor regressa à época das privatizações e relata os passos - e a
movimentação das contas bancárias - de personagens importantes do contexto
político e econômico nacional, muitos deles ligados ao ex-governador José Serra
(PSDB-SP).
Apesar de muitos governistas terem assinado o
pedido de CPI, ainda não se conhece o interesse do governo e do PT na
instalação efetiva desta investigação. O desinteresse de ambos na abertura de
uma investigação poderia ser explicado pela informação que consta da página 75
do livro: "Os arquivos ocultavam informações capazes de constranger tanto
o governo Lula quanto o de FHC".
A devassa no Banestado partiu de uma denúncia feita
contra um dos gerentes do banco, que havia enviado dinheiro ao exterior
ilegalmente por meio das CC5 e, em depoimento, relatou o esquema montado na
instituição. De uma forma inédita na história do país, foram abertas duas
frentes de investigação.
De um lado, a CPI do Banestado foi instalada em
2003 para apurar a evasão de divisas por meio do banco estatal. De outro, uma
força-tarefa do Ministério Público Federal e da Polícia Federal foi montada no
Paraná no mesmo ano para abrir inquéritos e investigar os clientes do banco que
haviam incorrido no crime.
A força-tarefa resultou em inúmeras operações da PF
para investigar o uso do câmbio ilegal no Brasil e acabou varrendo diversos
doleiros do mercado. Resultam dela as mais importantes operações da PF já
realizadas - como Farol da Colina, Suíça, Kaspar I e II e Satiagraha. O
conjunto de ações integradas entre a PF e a MP foi encerrado em setembro de
2007 após ter denunciado 684 pessoas, obtido 97 condenações, investigado mais
de 1.170 contas bancárias no exterior e bloqueado R$ 380 milhões no Brasil e R$
34,7 milhões fora do país. Após seu término, os inquéritos ainda em andamento
foram remetidos para procuradores em diversos Estados e geraram novas
investigações.
A CPI do Banestado foi encerrada em 27 de dezembro
de 2004 sem a aprovação de seu relatório final. Na época, os partidos fizeram
um acordo para encerrar as investigações, após a comissão ter recebido dos
Estados Unidos um lote de documentos sobre a movimentação de brasileiros em
contas bancárias abertas no MTB Bank, outro escritório de lavagem de dinheiro
americano. Segundo Ribeiro Júnior, a revelação dos dados do MTB foi
determinante para que fosse desencadeada a "operação abafa" na CPI.
O livro, no entanto, não se dedica às razões por
que o PT resolveu colaborar para sepultar a CPI. Seu foco é na tese de que a
era das privatizações - inaugurada durante o governo Collor e ampliada e
intensificada no governo FHC - patrocinou a venda de estatais brasileiras a
"preço de banana" e enriqueceu políticos e empresários por meio de um
esquema de pagamento de propinas. Segundo o autor, a venda de empresas como
Vale, CSN, Light, Embraer e Usiminas, entre outras, foi antecedida por
demissões, aumento de tarifas, investimentos e absorção das dívidas das
companhias pelo Estado e concluída por meio do uso de moedas podres e intensa
participação do BNDES no financiamento aos consórcios que as adquiriram.
Entre a primeira e a segunda etapas, Ribeiro Júnior
tenta provar que houve um esquema de corrupção por meio do qual os tucanos
montavam os consórcios vencedores dos leilões em troca de propina - no que
chama de "propinização", ao invés de privatização.
O principal argumento que sustenta a tese do autor
foi mantido em sigilo pelo Congresso desde 2003, quando foi instalada a CPI do
Banestado. Segundo Amaury Ribeiro Júnior, a caixa de número 6 que abriga o
material levantado pela CPI contém um documento, reproduzido no livro à página
137, que demonstra que o ex-tesoureiro de campanha de Fernando Henrique Cardoso
(em 1994 e 1998) e de José Serra (em 1990 e 1994), Ricardo Sérgio de Oliveira,
recebeu somas consideráveis nas contas bancárias de empresas das quais é sócio.
Após a eleição de Fernando Henrique Cardoso,
Ricardo Sérgio, indicado por Serra, assumiu a área internacional do Banco do
Brasil, posto por meio do qual teria articulado a participação dos fundos de
pensão - como Previ e Petros - nas privatizações.
Além de Ricardo Sérgio, o documento, reproduzido
por Ribeiro Júnior no livro, também cita Gregório Marin Preciado, casado com
uma prima de primeiro grau de Serra. Preciado teria movimentado dinheiro por
meio do Beacon Hill, escritório de lavagem de dinheiro que foi o principal
receptor dos valores enviados ilegalmente para fora do país pelas contas CC5 do
Banestado. O autor, no entanto, não consegue provar que o dinheiro que circulou
nas contas dessas pessoas tem origem nas privatizações e tampouco que Serra teria
se beneficiado desses valores. Procurada pelo Valor, a assessoria de imprensa
de José Serra não se manifestou. O ex-governador de São Paulo classificou o
livro como "lixo". A reportagem não encontrou Ricardo Sérgio em seu
escritório. A assessoria do PSDB informou que o departamento jurídico do
partido prepara uma ação judicial contra o livro.
"Não é um livro, é um documento", resumiu
o deputado Protógenes Queiroz durante um debate sobre "A Privataria
Tucana" promovido pelo Centro de Estudos Barão de Itararé, realizado no
Sindicato dos Bancários de São Paulo.
A afirmação decorre do fato de o autor se dedicar a
esmiuçar o modus operandi da lavagem de dinheiro a partir dos mais ruidosos
escândalos brasileiros dos últimos tempos, como o desvio de verbas da construção
do novo fórum trabalhista de São Paulo pelo juiz Nicolau dos Santos Neto; a
Máfia dos Fiscais do Rio de Janeiro; o desvio de verbas do INSS promovido pela
servidora Jorgina de Freitas, entre outros casos.
Em todos eles, as investigações culminaram em uma
sequência de operações que incluiu o desvio de recursos públicos, seguido da
evasão de divisas por meio de doleiros, da circulação do dinheiro em contas de
bancos americanos e da abertura de offshores em paraísos fiscais. Sem a
identificação dos seus beneficiários finais, protegidos pelo sigilo oferecido
nesses países, as offshores promoviam investimentos no Brasil, reinserindo o
dinheiro lavado na economia. (Colaborou Cristiane Agostine)
Fatores domésticos ditam política externa
Sergio Leo | De Brasília
Entre março e abril, a presidente Dilma Rousseff
fará sua primeira visita oficial aos Estados Unidos, onde já esteve como chefe
de Estado, mas para a Assembleia Geral das Nações Unidas. Com o presidente
Barack Obama, ela pretende fazer um inventário das iniciativas lançadas durante
a simbólica visita do presidente americano ao Brasil, no início de 2011. Um dos
sucessos que os dois presidentes devem comemorar é o programa de incentivo ao
biocombustível para aviação, alvo de iniciativas com perspectivas comerciais
por parte de empresas no Brasil e nos EUA.
Dilma tem, nos EUA, um dos mais fortes aliados para
outra de suas obsessões: o plano Ciência sem Fronteiras, que acrescentou à
política externa o objetivo de enviar pelo menos 100 mil brasileiros para o
ensino superior no exterior. Como a maioria das paixões da presidente, o
programa, que provê bolsas de estudo, tem uma base econômica. "É um
investimento no futuro do Brasil", definiu a própria Dilma. "Eles vão
estudar lá fora e, depois, com os conhecimentos científicos, serão cada vez
mais capazes de ajudar o país a ganhar produtividade e competitividade."
A ênfase nos temas econômicos e financeiros marcou
o primeiro ano de política externa sob a nova administração, e tende a ser a
tônica em 2012. Além da discussão sobre a crise financeira, que, segundo
preveem os assessores da presidente, deve manter o cenário de incerteza pelo menos
até a metade do ano, Dilma está preocupada com a Rio +20, a conferência sobre
meio ambiente que o país hospeda no início do ano.
O tema ambiental é um dos aspectos da política
externa em que a presidente deixou para o Itamaraty algum protagonismo - bem
representado pelo embaixador Luis Alberto Figueiredo, chefe da delegação
Brasileira à COP-17, conferência sobre clima realizada na Dinamarca em
dezembro, na qual o diplomata teve papel decisivo na definição do acordo que
comprometeu países como a China com a busca de redução nas emissões de carbono.
Dilma também tem avalizado a atuação do Itamaraty
nas Nações Unidas e nas negociações sobre a Primavera Árabe, com a rejeição de
intervenções armadas contra a Síria, por exemplo. Mas, seguindo a orientação da
presidente, a diplomacia tem avançado além da tradição de não intervenção, como
no voto pela condenação ao desrespeito dos direitos humanos na Síria - ainda
que a tentativa de ir além, com a votação de sanções ao país, tenha levado à
abstenção da delegação brasileira.
Nos temas a que dedica mais tempo, porém, como as
discussões sobre o futuro da economia mundial e o futuro do comércio internacional,
Dilma fez o Itamaraty dividir espaço com outros atores, como os ministérios da
Fazenda e do Desenvolvimento. Embora a Fazenda já comandasse a atuação
brasileira em assuntos como a participação no G-20, o grupo das economias mais
influentes, no governo Dilma os temas econômicos conduzidos pelo Itamaraty são,
cada vez mais, divididos com outras instâncias de governo. Nas decisões com
reflexos sobre o Mercosul, por exemplo, os outros ministérios não têm se
preocupado em obter aval da diplomacia.
"A política externa ficou mais determinada por
fatores domésticos, e as intervenções prioritariamente políticas diminuíram
muito", avalia Pedro Motta Veiga, do Centro Brasileiro de Relações
Internacionais (Cebri). Veiga reconhece que a forte atuação do Brasil na última
conferência do clima o surpreendeu, mas ainda crê que o Itamaraty tornou-se e
continuará "mais reativa que proativa". "A verdade é que
abriram-se muitos campos à política externa, que ficou mais complexa",
analisa Maurício Santoro, da Fundação Getulio Vargas. "Ficou mais difícil
coordená-la numa doutrina coerente."
A ênfase nos temas econômicos e o esforço para
maior aproximação com os EUA são marcas que devem continuar em 2012. No caso
dos Estados Unidos, Dilma pode contar com a cooperação do parceiro. Obama
pretende se esforçar para fazer da visita de Dilma um sucesso, segundo
emissários do americano já avisaram ao Palácio do Planalto. O presidente
americano já tem um trunfo a apresentar. Graças ao lobby privado e a intensas
negociações patrocinadas pela Casa Branca, o ano de 2011 foi o último de
aplicação de sobretaxas sobre as exportações do etanol brasileiro aos EUA.
Apesar de pressões de produtores americanos, essa barreira, como queria Obama,
não foi renovada.
BRASIL
RESUMO:
Setor de serviços atrai investimento externo e doméstico
Por Francine De Lorenzo | De São Paulo
Livre da concorrência dos importados e impulsionado
pelo fortalecimento do consumo doméstico, o setor de serviços deslancha no
Brasil e já concentra uma parte expressiva dos investimentos que estão sendo
feitos na economia, seja com recursos estrangeiros, seja de projetos apoiados
por financiamento local.
Os estrangeiros, que concentravam seus
investimentos na indústria, mudaram de foco. Dados do Banco Central mostram que
dos US$ 62,3 bilhões que chegaram ao país entre janeiro e novembro de 2011 para
projetos no setor produtivo, 47% foram aplicados em serviços (incluindo
comércio e infraestrutura), enquanto a indústria recebeu 37%. No mesmo período
de 2010, a indústria recebeu 40,5% dos investimentos estrangeiros diretos, ao
passo que a fatia de serviços ficou com 28%.
O interesse pelo setor não ficou restrito aos
investidores internacionais. Dos R$ 91,6 bilhões emprestados pelo Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nos nove primeiros meses
de 2011, 52,7% foram destinados a empresas de serviços, fatia consideravelmente
maior que a de 37,7% verificada no mesmo intervalo de 2010.
Tomando por base as consultas realizadas à
instituição de fomento no período, esse movimento deve persistir nos próximos
meses. De janeiro a setembro de 2011, 49,4% dos valores envolvidos referiam-se
a projetos de serviços, ficando apenas 35,6% com a indústria. A participação de
serviços nas consultas é crescente, ultrapassando o percentual de 47,5% visto
no mesmo período do ano anterior.
Famílias puxam crescimento
Por De São Paulo
O último levantamento do setor de serviços, que
considera dados de 2009, mostra que o segmento de serviços prestados às
famílias é o que mais tem crescido, contabilizando expansão de 16,2% no
faturamento e de 19,5% na participação no Produto Interno Bruto (PIB). Essa
categoria inclui todos os serviços pessoais, além de alimentação e alojamento.
Nos serviços prestados às empresas, a alta nas
vendas foi de 11,3% e a expansão no PIB, de 7,8%. Os segmentos de outros
serviços, de transportes e de informação, mesclam atendimento a famílias e
empresas, com o faturamento crescendo 7,2%, 2,5% e 3%, respectivamente,
enquanto a evolução no PIB foi de 7,6%, 5,7% e 4,5%, nessa ordem, no período. O
estudo foi realizado pela Confederação Nacional de Serviços (CNS), que acredita
que tal padrão tenha sido mantido em 2010 e 2011.
Governo prepara amplo programa para estimular complexo
industrial da saúde
Por João Villaverde | De Brasília
O governo Dilma Rousseff deve anunciar, já no
primeiro trimestre deste ano, um amplo estímulo à indústria de máquinas e
equipamentos médicos e hospitalares e também para os fabricantes de produtos
farmacêuticos. Informalmente chamado de "apoio ao complexo industrial da
saúde", o programa estará centrado em dois eixos - o primeiro, sustentado
pelas compras governamentais para o Sistema Único de Saúde (SUS), será lançado
já no primeiro trimestre, enquanto o segundo, sustentado em estímulos fiscais,
deve ficar pronto no segundo semestre.
A grande preocupação do governo é com o enorme
déficit comercial que o complexo industrial da saúde registrou em 2011, de
quase US$ 11 bilhões. A avaliação dos técnicos do governo é que a produção
nacional é "boa" e "ramificada", mas deixa a desejar em
escala, no que é "atropelada" pelos competidores estrangeiros. Essa
discussão está sendo feita no âmbito de um conselho de ministros formados pelos
mandatários das pastas da Fazenda, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, de
Ciência, Tecnologia e Inovação, do Planejamento e da Saúde. Na quinta-feira da
semana passada, técnicos da Saúde e da Fazenda fecharam os últimos detalhes.
A principal medida será a instituição de uma margem
de até 25% de ágio sobre o preço de uma máquina ou medicamento produzido no
Brasil que participar de uma licitação pública. Com um orçamento de R$ 92,1
bilhões, o poder de fogo do Ministério da Saúde, que têm sob seu comando o SUS,
avaliam os técnicos do governo, será "determinante para a criação de
musculatura da indústria brasileira". O orçamento da pasta neste ano será
16,2% superior ao de 2011 - o maior salto, em termos nominais, entre os
principais ministérios.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, negocia
também com as cinco empresas estrangeiras que produzem equipamentos de
acelerador linear para tratamento radioterápico de câncer para que instalem uma
fábrica no Brasil. Padilha já apresentou às companhias os ambiciosos planos do
governo: adquirir 32 novas máquinas para distribuir nos hospitais da rede
pública no Norte e Nordeste, e a atualização tecnológica de outros 48 aparelhos
espalhados pelo país.
"Nenhum país tem um plano tão vigoroso de
investimento no setor e as companhias vão disputar esse contrato, que será para
máquinas produzidas no Brasil", diz Padilha. Em 2011, o governo importou
13 equipamentos. Uma licitação será feita tão logo as empresas apresentem ao
Ministério da Saúde seus planos de instalação de uma fábrica no país.
O Ministério da Saúde tem despesas anuais de quase
R$ 12 bilhões com medicamentos, equipamentos médico, materiais (órteses e
próteses), hemoderivados, vacinas e reagentes para diagnóstico. Esse poder de
compra, dizem os técnicos do governo, será a principal arma da política de
incentivos ao setor que será implementada neste ano.
Segundo o diretor do Departamento do Complexo
Industrial de Inovação e Saúde do ministério, Zich Moysés, a definição do ágio
que será aplicado pelo governo sobre medicamentos ocorrerá neste mês, enquanto
para fármacos será em fevereiro. "Trata-se do tipo de medida central para
ampliar fortemente a escala da indústria nacional", afirmou.
O governo pretende incentivar, em especial, o
segmento de produtos biotecnológicos, cuja pesquisa no país é considerada
avançada, mas a produção em escala, pífia. "Com o sobrepreço de 25%
daremos um enorme incentivo à ganhos de escala na indústria. Queremos entrar
fortemente na produção de biotecnologia", afirma Padilha. A Empresa
Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás) receberá R$ 263,8
milhões para investimentos neste ano, segundo o Orçamento de 2012, aprovado no
Congresso.
Missões ajudam EUA a elevar vendas ao Brasil
Por Rodrigo Pedroso | De São Paulo
Em 2011, cinco missões comerciais de governos dos
Estados Unidos visitaram o Brasil em busca de novos consumidores. Os Estados de
Indiana, Flórida, Massachusetts, Arkansas e Louisiana procuraram o país visando
aumentar a penetração de seus produtos e contribuíram para o aumento de 25,4%
das vendas americanas de janeiro a novembro em comparação com o mesmo período
de 2010, quando saíram de US$ 24,8 bilhões para US$ 31,1 bilhões, de acordo com
dados do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Mesmo com um aumento maior nas exportações (36,4%),
em números absolutos, o déficit do Brasil na balança comercial com os EUA subiu
US$ 150 milhões e ficou em US$ 7,9 bilhões no período, o maior entre todos os
déficits que o país acumula com parceiros comerciais. Depois dos EUA, é com a
Alemanha (com US$ 5,7 bilhões) e a Coreia (com US$ 4,9 bilhões) que o Brasil
registra os maiores saldos negativos no comércio exterior. Há três anos, o
Brasil tinha superávit com os americanos.
De acordo com estimativas da Câmara de Comércio
Americana (Amcham), a balança de 2011 fechou deficitária para o Brasil em quase
US$ 10 bilhões. Para o CEO da câmara, Gabriel Rico, a maioria da importação é
de manufaturados. "Esses produtos representam 90% do que é comprado pelo
Brasil", afirmou. De janeiro a novembro, a venda desses produtos
brasileiros aos Estados Unidos cresceu 16%, alcançando U$$ 10,5 bilhões. Por
outro lado, os americanos venderam US$ 28 bilhões de manufaturados para o país,
um aumento de 24% em relação ao mesmo período de 2010.
As missões, no entanto, têm um efeito complementar,
de abrir caminho para investimentos, segundo Rico. "Essas delegações vêm
chefiadas pelo governador, geralmente. Isso mostra que o Brasil é prioridade no
investimento do setor privado americano," disse. Prova disso é uma missão
que passou por três cidades americanas (Charlotte, Miami e Houston), em
novembro, que ajudou empresários a investirem no Brasil.
INTERNACIONAL
Espanha anuncia que não cumprirá meta de déficit
Por
Jonathan House e David Roman | The Wall Street Journal
O novo governo conservador da Espanha afirmou que o
país vai ficar bem atrás de sua meta para o déficit orçamentário, e anunciou
cortes de gastos e aumentos de impostos em torno de € 15 bilhões (US$ 19,4
bilhões) para estancar as perdas.
Uma semana depois de o primeiro-ministro Mariano
Rajoy tomar posse, seu governo afirmou que o déficit orçamentário da Espanha
vai ser de cerca de 8% do Produto Interno Bruto em 2011 - bem acima da meta de
6% que o governo anterior, do primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero,
prometeu à União Europeia e aos mercados financeiros.
Isso faz da Espanha o mais recente país da zona do
euro a tropeçar em suas tentativas de reduzir um crescente buraco no orçamento.
Portugal, Itália e Grécia já se viram forçados a adotar duras medidas de
austeridade nos últimos meses.
Na sexta-feira, o governo propôs cerca de € 8,9
bilhões em cortes de gastos para 2012, que vão desde redução de emprego público
até limites a subsídios para partidos políticos.
O governo também voltou atrás numa promessa de
campanha de Rajoy e aprovou aumentos de impostos na casa dos € 6 bilhões. O
ajuste total do orçamento representa cerca de 1,5% do PIB.
"Não queríamos altas de impostos", disse
a porta-voz do governo, Soraya Sáenz de Santamaría, numa entrevista coletiva.
"Eles se tornaram necessários devido ao tamanho do buraco [orçamentário]
que encontramos."
As mais recentes medidas da Espanha provavelmente
serão insuficientes para reduzir o déficit de 8% do PIB em 2011 para a meta de
4,4% em 2012, um hiato de cerca de € 36 bilhões. O governo vai apresentar em
março um novo orçamento para 2012.
Sáenz de Santamaría deu a entender que novas
medidas de austeridade estão a caminho. "O governo começou a adotar
medidas; esse é o começo do começo", afirmou ela.
O ministro da Fazenda, Luis de Guindos, disse
esperar que a ação rápida do governo em relação ao déficit e reformas
econômicas vão reforçar a confiança, ajudando a alimentar crescimento e
elevando a receita com impostos.
No início da semana passada, Guindos disse que a
economia da Espanha provavelmente se contraiu no último trimestre de 2011 e
iria encolher de novo no primeiro de 2012, depois de quase um ano de
crescimento tímido.
Guindos disse que seu ministério estava preparando
previsões econômicas para 2012. Ele disse que uma recente estimativa de 2% de
contração para o ano era pessimista demais, e que a previsão de sua pasta será
"bem longe disso".
Em termos de reformas, o governo espanhol já
prometeu apresentar neste trimestre uma reforma do mercado trabalhista, cuja
rigidez é apontada por economistas como responsável pela alta taxa de
desemprego estrutural do país.
O governo também vai apresentar no primeiro
semestre um plano para limpar o setor bancário que ainda está carregado dos
dejetos do colapso de uma bolha imobiliária que durou uma década.
Políticos de oposição e líderes sindicais
criticaram as novas medidas. O sindicato Comisiones Obreras disse que medidas
de austeridade adotadas por governos anteriores pioraram e economia do país.
"Os resultados são claros: cinco milhões de
desempregados, baixo crescimento, baixos salários, direitos sociais perdidos e
uma economia que está à beira da recessão", afirmou o sindicato.
Sáenz de Santamaría, a porta-voz do governo,
procurou dar um tom politicamente favorável às novas medidas, dizendo que elas
não afetariam os segmentos mais vulneráveis da sociedade. "Não podemos
pedir mais sacrifícios daqueles que não podem dar mais ainda", disse ela.
EMPRESAS & TECNOLOGIA
ANTT quer mais investimentos em concessões de estradas dos
anos 90
Por Fábio Pupo | De São Paulo
Mais de 15 anos depois de passar às mãos da
iniciativa privada, a maior parte das primeiras estradas federais
concessionadas ainda é cara para o usuário e não atende à atual demanda de
tráfego. Depois de identificar a necessidade de novas obras nos trechos, o
governo federal agora quer negociar os novos investimentos com as empresas
responsáveis pelos trechos: CCR e Triunfo. A intenção é que os desembolsos, de
pelo menos R$ 2,5 bilhões, sejam feitos pelas concessionárias a uma remuneração
menor do que a praticada nas altas taxas dos contratos atuais - para não onerar
ainda mais a tarifa do pedágio. Caso não concordem, as empresas podem até ter
seus contratos rescindidos pelo governo, que espera definir o assunto até
fevereiro.
Segundo Mário Mondolfo, superintendente de
exploração de infraestrutura rodoviária da Agência Nacional de Transportes
Terrestres (ANTT), a instituição está estudando diferentes alternativas para
que as novas obras sejam executadas. Caso as próprias concessionárias façam os
investimentos, o contrato firmado com o governo em 1995 garante aos grupos que
exploram essas rodovias uma taxa interna de retorno (TIR) sobre o investimento
de até 20% - número alto demais quando comparado ao das concessões dos anos
2000, que ficam em torno de 8%. Mesmo para novos investimentos, os contratos
estabelecem a remuneração acordada na época.
Diminuir a taxa dos contratos não é uma opção para
o governo, pois a escolha não teria respaldo jurídico. Por isso, a ANTT
pretende negociar a menor remuneração somente para as novas obras. Entraria no
cálculo da taxa o chamado fluxo de caixa marginal, que leva em conta as
condições atuais da rodovia e do tráfego. Segundo a agência, desse modo as
regras para os novos investimentos não ferem os contratos. O governo defende
taxas de 6% a 8% - baseado na concessão do Aeroporto de São Gonçalo do
Amarante, no Rio Grande do Norte (segundo analistas, o projeto tem retorno
aproximado de 6%). Uma proposta será apresentada pela ANTT ainda no começo do
ano.
O presidente da CCR, Renato Vale, não acredita que
a companhia aceite taxas de retorno tão reduzidas. "Se a taxa de retorno
for 6%, um número que está na moda, nós não vamos fazer. Vamos ter de chegar a
um acordo [com a ANTT]", disse ele em entrevista ao Valor no mês passado.
O grupo tem duas concessões obtidas nos anos 1990 (Ponte Rio-Niterói e rodovia
presidente Dutra).
Nesta última (administrada pela CCR NovaDutra), o
governo estuda dois investimentos para a duplicação da Serra das Araras. Um
mais simples, com a duplicação da pista de subida (da ordem de R$ 400 milhões,
segundo a ANTT) e outra mais moderna, com viadutos e túneis (custo de R$ 700
milhões). Segundo a CCR, no entanto, o investimento pode chegar a R$ 1,5
bilhão. Já na Ponte Rio-Niterói (CCR Ponte), a ANTT quer um acesso à Linha
Vermelha (R$ 205 milhões).
Além das duas concessões administradas pela CCR, há
outras duas controladas pela Triunfo. Pedro Jonsson, presidente da empresa que
administra uma delas, a Concer (BR-040, em Minas e Rio), diz que a companhia
está aberta a negociações. "Podemos aceitar taxas mais próximas das
requeridas pela ANTT, desde que os cálculos mostrem que a remuneração seja
justa", diz. A Concer precisaria fazer uma nova pista na subida da Serra
de Petrópolis ao custo estimado de R$ 720 milhões. Já na BR-290, no trecho da
Concepa, as obras podem alcançar R$ 800 milhões. Procurada, a controladora
Triunfo não quis se pronunciar.
Caso as companhias realmente não aceitem fazer os
investimentos a taxas menores, o governo estuda outras alternativas. A
principal delas é rescindir os contratos com as atuais concessionárias. Depois
disso, a ANTT faria novas licitações para os trechos - com acordos que
contemplem os novos investimentos necessários, a taxas menores. "Não cria
instabilidade, pois isso [a rescisão] está previsto em contrato", diz
Mondolfo. Caso faça essa opção, no entanto, o governo terá de pagar à
concessionária todo o investimento realizado na rodovia. Para Mondolfo, isso
não é um problema. "Podemos transferir à nova concessionária um valor de
outorga que remunere esse montante ao Estado".
Fernando Camargo, economista da LCA, alerta que o
alto valor da outorga também pode onerar o usuário das rodovias concedidas. As
concessões feitas em 1995 já têm hoje a tarifa de pedágio mais alta quando
comparadas às outras etapas do programa federal e são reajustadas anualmente
pelo IPCA. O governo ainda avalia a opção de executar as obras por meio do
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Em evento em São
Paulo, o diretor-geral da ANTT, Bernardo Figueiredo, disse querer definir a
solução até o fim de seu atual mandato - que termina em fevereiro.
Novos editais terão uma regra para limitar reajuste nas
tarifas
Por De São Paulo
Na próxima etapa de concessão de rodovias - que
passará às mãos da iniciativa privada a BR-101 no Espírito Santo e em parte da
Bahia, além de trechos em Minas Gerais -, o governo federal vai implantar novas
regras nos contratos para limitar o crescimento do preço do pedágio de acordo
com o aumento da receita das concessionárias. O novo componente é chamado pelo
governo de "fator X".
O mecanismo reduz o reajuste de tarifa, feito
anualmente pelo IPCA, permitindo que o ganho da produtividade das empresas seja
compartilhado com os usuários. A regra começou a ser usada em 2005 nos editais
da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e é considerada pelo governo
um avanço nos editais da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) em
comparação às etapas anteriores do programa de concessões rodoviárias.
Fernando Camargo, da LCA, explica que as altas
taxas dos primeiros contratos são devidas ao momento turbulento da economia na
época. Os primeiros leilões de rodovias foram feitos nos anos 1990, numa época
conturbada da economia e por isso o alto retorno proposto pelas empresas e
acordado com o governo obedecia à lógica do risco alto.
Com a estabilização, os quase 20% de retorno são
considerados hoje altos demais de acordo com analistas. A segunda etapa, feita
em 2007, teve taxas próximas a 8%. Mário Mondolfo, superintendente de
infraestrutura rodoviária da ANTT, não critica os contratos de 1995. Para ele,
os documentos foram feitos em outra "época" e outra
"situação" da economia. (FP)
Fluxo de passageiros deve aumentar 10% no Brasil
Por Alberto Komatsu | De São Paulo
O transporte aéreo de passageiros no país encerrou
2011 com crescimento próximo a 20%, o terceiro ano consecutivo de desempenho
nesse patamar, confirmando o Brasil como um dos mercados que mais crescem no
mundo. O clima de incerteza deverá frear o ritmo de expansão em 2012 para um
nível perto de 10%, no fluxo de passageiros transportados. Apesar de
representar a metade das taxas obtidas desde 2009, é um desempenho acima da
média mundial, mas abaixo da previsão inicial de expansão de até 15% para 2012.
"Vemos que o mercado doméstico continua forte,
reflexo da nova classe média que está substituindo o ônibus pelo avião",
disse o presidente da TAM, Líbano Barroso.
Por outro lado, os sinais de desaceleração da
economia mundial levaram a algumas desistências de negócios no Brasil. Foi em
2011 que a American Airlines, a terceira maior companhia aérea dos Estados
Unidos, pediu concordata.
Diante do cenário de desaceleração, as duas maiores
companhias aéreas do país, TAM e Gol, desistiram de incorporar aviões novos. O
objetivo é aumentar a rentabilidade para reequilibrar seus resultados
financeiros. TAM e Gol acumulam um prejuízo líquido combinado de R$ 1,2 bilhão
de janeiro a setembro, sendo R$ 843,2 milhões da Gol e R$ 430,5 milhões para a
TAM.
A maior parte do crescimento de oferta previsto
para 2012, portanto, estará nas mãos das empresas de médio porte, em busca de
mercados regionais, os que mais têm crescido no transporte aéreo. A Azul Linhas
Aéreas, por exemplo, vai incorporar até 22 aviões em 2012, totalizando 71
aeronaves na frota. Até 2013, a regional Trip Linhas Aéreas deverá receber 24 aviões
novos, o equivalente a uma frota com 79 aviões ao fim desse período.
Este ano de 2012 será peculiar para a aviação
nacional e mundial. Espera-se para meados de abril a conclusão da fusão entre a
chilena LAN Airlines e a TAM Linhas Aéreas, criando um dos 20 maiores grupos
aéreos do mundo, a Latam. Nos Estados Unidos, será o primeiro ano de operação
da American Airlines em regime de concordata.
A terceira maior companhia aérea americana, por
meio de sua controladora AMR, entrou com pedido de concordata no dia 29 de
novembro, quando reportou ativos de US$ 24,7 bilhões, mais dívidas de US$ 29,5
bilhões.
A Associação Internacional do Transporte Aéreo
(Iata, na sigla em inglês) prevê um ano de muitas dificuldades. No início de
dezembro, a entidade reduziu a estimativa inicial de lucro do setor, de US$ 4,9
bilhões, para US$ 3,5 bilhões. Na América Latina, o corte foi de US$ 400
milhões, de US$ 600 milhões para US$ 200 milhões.
"O ritmo de crescimento nos mercados de
passageiros tem mergulhado e o negócio de fretes está agora diminuindo a um
ritmo mais rápido. Com a confiança dos empresários e dos consumidores
continuando a cair globalmente, não há muito otimismo para condições melhores
em breve", afirmou, em outubro, o diretor-executivo da Iata, Tony Tyler.
Se por um lado 2012 será um ano de desaceleração da
demanda e de consolidações no setor, por outro será o ano em que as companhias
terão margem para reajustar seus preços, no mercado brasileiro. Pesquisa da
Carlson Wagonlit Travel (CWT) mostra que os reajustes de bilhetes aéreos
poderão alcançar o teto de 6,9% em 2012.
Ficou para 2012 a definição de duas estratégicas
negociações da aviação brasileira, a compra da Webjet pela Gol e a compra de
31% da regional Trip pela TAM. O desfecho desta última estava previsto para até
o fim de 2011, mas a TAM desistiu de concluir a negociação e não há mais prazo
para que isso aconteça.
No caso da Webjet, a integração com a Gol foi
suspensa temporariamente no fim de outubro até que seja analisado pelo Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Este ano de 2012 para a Gol também
será o primeiro após a americana Delta Airlines ter adquirido 2,9% das ações da
companhia, por US$ 100 milhões. O negócio foi anunciado no início de dezembro.
Na volta do Réveillon, atrasos em 6,4% dos voos
Por Raquel Ulhôa | De Brasília
Dono do maior número de voos domésticos e
internacionais do país, o Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos, na
Grande São Paulo, registrou a maior quantidade de atrasos e cancelamentos no
primeiro dia de 2012. Ao todo, 127 voos domésticos e 29 internacionais programados
para ocorrer entre meia-noite e 20h de domingo sofreram atraso, o que
representa 6,4% e 16,8% do total dessas viagens, respectivamente.
A fatia de voos domésticos cancelados foi de 6,7%
(132 dos 1.971). Com relação aos voos internacionais, o percentual de
suspensões atingiu 9,8% (17 dos 173 previstos), segundo a Empresa Brasileira de
Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), estatal que administra os aeroportos
brasileiros.
Segundo levantamento da Infraero, feito em janeiro
de 2011 para o Valor, a incidência de atrasos no primeiro dia útil de 2011 (3
de janeiro) havia crescido 14 pontos percentuais em relação ao primeiro dia
útil de 2010 (4 de janeiro), atingindo 34%. A Infraero ainda não tem o balanço
dos aeroportos no Ano Novo de 2012 em relação à mesma data de 2011.
Em comparação ao número de pessoas que viajaram, a
previsão da Infraero era de 16 milhões de passageiros em dezembro, o que deve
representar aumento de 13,6% em relação ao mesmo mês do ano anterior.
Entre as duas maiores companhias áreas, a TAM
apresentou 16,2% de voos atrasados internacionais e 4,1% nacionais. Em relação
aos cancelamentos, a Gol suspendeu 10% internacionais e 7,7% nacionais.
Embraer faz mais apostas no Super Tucano
Por Virgínia Silveira | Para o Valor, de São José dos
Campos
A vitória do avião militar Super Tucano, no
programa LAS (Light Air Support) da Força Aérea dos Estados Unidos (Usaf), vai
chamar a atenção de outros países do mundo para a qualidade e a superioridade
do produto brasileiro no cumprimento de missões de guerra irregular e
contrainsurgência.Essa é a avaliação do presidente da Embraer Defesa e
Segurança, fabricante do Super Tucano, Luiz Carlos Aguiar, após a vitória da
licitação do governo americano. O executivo prevê um crescimento dos negócios
de defesa no faturamento da companhia para algo em torno de 25% até 2020. Em
2011, informou Aguiar, o segmento de defesa e segurança deve responder por
cerca de 14% da receita total da companhia, estimada em US$ 5.6 bilhões.
O Super Tucano acumula até o momento um total de
200 encomendas, incluindo a dos EUA, das quais 156 já foram entregues. Destas,
99 foram para a Força Aérea Brasileira (FAB), detentora do projeto. A receita
obtida com a venda do Super Tucano é da ordem de US$ 1,6 bilhão. A Embraer
projeta um mercado potencial de US$ 3,5 bilhões para a classe do Super Tucano,
algo em torno de 300 aeronaves.
O contrato inicial com a Usaf, de acordo com
Aguiar, prevê a compra imediata de 20 aeronaves, mas a expectativa é que a
compra inclua um total de 55 unidades, estimada em US$ 950 milhões. As 20
unidades iniciais estão avaliadas em US$ 355 milhões. Esta é a primeira venda
de um produto militar da Embraer para o governo dos EUA e a terceira tentativa
da empresa de colocar o Super Tucano neste mercado, considerado o maior do
mundo em compras de equipamentos de defesa.
"O turboélice Super Tucano não tem concorrente
similar no mundo, porque os aviões dessa categoria disponíveis hoje no mercado
são de treinamento básico e não têm a robustez do nosso produto, que lhe
permite essa capacidade operacional para atuar em zonas de fronteira, regiões
úmidas e pistas com pouca infraestrutura", completou ele.
Segundo Aguiar, para atingir o nível de operação do
Super Tucano, o americano AT-6, da Hawker Beechcraft, que concorreu com o
produto brasileiro no programa LAS, demandaria um investimento bastante alto e
um tempo muito longo. A aeronave que será fornecida para os EUA, segundo
Aguiar, será basicamente a mesma, com apenas algumas modificações para adaptar
os sistemas de armas da USAF.
A Hawker Beechcraft vinha desenvolvendo a nova
versão do AT-6 para atuar como treinador avançado e de combate leve, características
que o Super Tucano já possui há mais de sete anos. O modelo brasileiro, operado
hoje por forças aéreas de cinco países, já foi testado com sucesso e em combate
real, não só no Brasil, como também na Colômbia, em regiões de características
comprovadamente hostis, como a Amazônia. Segundo a Embraer, o modelo brasileiro
tem mais 130 mil horas de voo e 18 mil de combate sem nenhuma perda.
O fornecimento do Super Tucano para os EUA será
feito em parceria com a empresa americana Sierra Nevada Corporation, que esteve
com a Embraer na concorrência. A parceria atende a legislação americana, que
também exige a instalação de uma linha de fabricação das aeronaves nos EUA.
"A Sierra Nevada será responsável por toda a parte de logística, suporte
ao cliente e manutenção das aeronaves", explica Aguiar.
A montagem final dos aviões será feita em
Jacksonville, no Estado da Flórida, onde está sendo construída a nova fábrica
da Embraer nos EUA. "Até o meio do ano já estaremos com a nova unidade em
funcionamento. Os primeiros aviões começam a ser entregues em 2013",
disse.
"A unidade deve gerar cerca de 50 empregos,
mas o que anima os americanos é que mais de 80% da aeronave está de acordo com
a Lei do "Buy American Act", que exige um conteúdo local superior a
50%, para os produtos comprados fora dos EUA", comentou uma fonte do setor
de defesa. Os sistemas aviônicos do Super Tucano serão produzidos pela unidade
da israelense Elbit nos EUA. A empresa é parceira da Embraer no Brasil através
da AEL, com quem tem uma joint venture, a Harpia.
Inconformada com a sua eliminação da concorrência,
a Hawker Beechcraft divulgou que pretendia entrar com uma petição no Tribunal
de Ações Federais dos EUA, em repúdio à decisão do governo americano de não
revisar o protesto da empresa sobre a exclusão da aeronave AT-6 da competição
da Usaf.
Na sexta-feira, o CEO da Hawker, Bill Boisture,
afirmou, em comunicado, que não houve transparência da Força Aérea na
concorrência e que a empresa continuará a contestar a decisão.
Aguiar disse que a Embraer prefere não comentar a
reação da concorrente, pois está mais preocupada em fazer as coisas
acontecerem. "Cumprimos a legislação americana. Nosso objetivo, agora, é
entregar os aviões no prazo combinado, sem olhar para o lado", disse.
FINANÇAS
Bancos derrubam tarifas para ganhar funcionário público
Carolina Mandl e Sérgio Ruck Bueno | De São Paulo e de
Porto Alegre
A partir de hoje, os cerca de 13 milhões de
servidores públicos brasileiros vão poder escolher livremente o banco no qual
querem receber seus salários. É o início de uma disputa entre instituições
financeiras que já dá pistas de que pode chegar ao bolso dos correntistas.
Para enfrentar o assédio dos concorrentes sobre sua
clientela e para conquistar novos correntistas, os bancos já montam pacotes de
serviços com redução de tarifa. Hoje, o Santander coloca no ar uma campanha com
promoções, que incluem tarifa zero e cartão de crédito sem mensalidade para os
assalariados. No Rio, o Itaú Unibanco já faz contrapropostas para os 460 mil
servidores estaduais que passaram hoje a ter conta no Bradesco - que,
procurado, preferiu não se pronunciar. O Banrisul, que tem uma base de 500 mil
funcionários públicos, também monta novas tarifas. E a Caixa vai isentar de
tarifas na cesta básica de serviços por um ano os servidores que optarem por
receber pelo banco.
Não é um público qualquer que está em questão. São
trabalhadores que ganham R$ 2,3 mil por mês, enquanto a média brasileira é de
R$ 1,6 mil, segundo dados do Ministério do Trabalho. Só em crédito consignado,
aquele com desconto direto na folha de pagamento dos trabalhadores, os
servidores consomem R$ 136 bilhões de uma carteira total de R$ 160 bilhões.
"Acho que vai ter uma competição muito
acirrada daqui para a frente", afirmou Roberto Setubal, presidente do Itaú
Unibanco em entrevista recente ao Valor. "A hora que você permite essa
competição mais direta, o beneficiário maior será o correntista, que poderá
receber ofertas mais agressivas dos bancos."
Para as instituições, está claro que o preço das
tarifas vai cair. Porém, o menor preço que os clientes vão pagar não
necessariamente pode se reverter em queda de receitas para as instituições.
Além do custo das transações, os bancos avaliam que também vão contar outros
quesitos, como qualidade do serviço e oferta de crédito. "Se prestarmos um
bom serviço, vamos gerar mais resultado". Não estamos pensando em
reduzir", disse Pedro Coutinho, diretor-executivo de varejo do Santander.
Essa nova competição que começa em torno dos
clientes não significa, porém, que os bancos ficarão completamente livres de uma
outra disputa, que se dá nos leilões promovidos por Estados e municípios por
suas folhas de pagamento. A percepção dos executivos ouvidos pelo Valor é que
essas disputas milionárias vão se reduzir, mas não acabar. Isso porque ter o
cadastro do cliente, com renda, telefone e endereço facilita a conquista dele.
Mesmo não garantindo que o cliente manterá o dinheiro na conta depois de o
banco pagar milhões ao Estado ou município, dados valiosos estão em jogo. Mas
que podem passar a valer menos com o início da portabilidade.
E não é só isso. Muitas vezes, só quem ganhou a
folha de um determinado local pode instalar agências e caixas eletrônicos
dentro da repartição pública. "Quando se trata de pessoas físicas, estar
fisicamente perto do cliente é importante", disse Sérgio Nazaré, diretor
de clientes do Banco do Brasil.
Apesar disso, o Banco do Brasil não está disposto a
entrar em novos leilões de folhas de pagamento neste momento. Dono da maior
carteira de servidores do país, com 6,7 milhões de correntistas, vai se
concentrar agora na manutenção da clientela que já tem ou na conquista dela.
A retenção dos correntistas também inquieta o
Banrisul, banco que detém as folhas de pagamento do governo estadual e de 85%
das 496 prefeituras do Rio Grande do Sul. "A portabilidade preocupa, mas
temos produtos e serviços diferenciados para os servidores", afirmou Jone
Pfeiff, diretor comercial do Banrisul. Num universo de 3 milhões de clientes,
quase 500 mil são funcionários públicos que recebem seus salários pelo banco,
sendo 354 mil estaduais e 140 mil municipais. Só a folha do governo do Estado -
que controla o Banrisul - chega, em média, a R$ 1,1 bilhão brutos por mês.
Neste mês, segundo Pfeiff, a instituição começou a
enviar correspondências com ofertas para esses clientes, incluindo limites mais
altos de cheque especial, financiamento imobiliário e de veículos com prazos e
taxas especiais, empréstimos consignados e cartões de crédito sem anuidade e
com juros mais baixos.
Ninguém acredita, porém, que de uma hora para a
outra milhares de clientes vão mudar de banco só por causa do início da
portabilidade. "Funcionários da iniciativa privada já podem fazer isso,
mas poucos efetivamente tiram proveito dessa alternativa. Precisa de um tempo.
É como aconteceu com o celular", disse Coutinho, do Santander,
referindo-se à portabilidade dos números de telefones entre as diferentes
operadoras.
Em Minas, governo renova contrato com BB
Marcos de Moura e Souza | De Belo Horizonte
Em Minas Gerais, o governo do Estado aproveitou a
entrada em vigor das novas regras para renegociar o contrato que tinha com o
Banco do Brasil. Para continuar sendo o banco pagador da folha salarial do
Estado, o BB aceitou um novo contrato, com validade de cinco anos, pelo qual
remunera o Estado em R$ 1,4 bilhão. Pelo acerto anterior, a remuneração era de
R$ 1,23 bilhão.
"A minha oportunidade de fazer negócio com o
Banco do Brasil era agora", disse ontem ao Valor o secretário estadual da
Fazenda, Leonardo Colombini. O contrato anterior ainda tinha mais dois anos de
validade. Os novos termos foram assinados no mês passado.
Colombini diz que se deixasse para renegociar com o
BB daqui a dois anos, muitos servidores poderiam até lá ter optado receber por
outro banco. E se isso ocorresse, o BB provavelmente não estaria tão disposto a
pagar mais ao Estado por uma carteira menor de servidores clientes.
O que também ajudou o Estado na negociação é que em
2012 outra regra, relacionada ao acordo de Basileia, entra em vigor. O banco
que comprar, a partir do ano que vem, uma folha de pagamento de funcionários
públicos, terá de fazer um destaque de capital no valor do contrato. Isto é,
não poderá contar com aquele valor em seu patrimônio, o que faz diferença em
qualquer operação que o banco queira fazer. "Se o BB deixasse para renovar
o contrato depois, teria de destacar de seu patrimônio o valor do contrato.
Neste ano, ainda não precisou fazer isso."
A vantagem do BB em refazer o contrato é que além
de ter como clientes uma massa enorme de servidores, é o único banco que pode
instalar agências e caixas automáticos nos prédios do governo. E na disputa por
outros contratos com o Estado, o BB tem a preferência em caso de empate.
"O BB para perder o servidores tem de ser incompetente", diz o
secretário.
O Estado tem 580 mil servidores, mas hoje - embora
não seja obrigado por lei - o Banco do Brasil já transfere para outros bancos o
pagamento de 20% dos servidores. O Itaú, o Bradesco e outros bancos, segundo
Colombini, já estão trabalhado para conquistar os servidores mineiros. O Itaú,
disse o secretário, foi uma das instituições que tentaram ficar com o novo
contrato que o Estado acabou assinando novamente com o BB.
O banco paulista tem um vantagem na estratégia de
atrair servidores mineiros a partir de 2012: por ter comprado o Banco do Estado
de Minas Gerais (Bemge), que por anos fez o pagamento dos salários dos
servidores, possui o cadastro dos funcionários - o que facilita numa campanha
de busca por novos clientes.
Euro perde valor, mas se sustenta apesar da crise
Alice Ross | Financial Times
O euro caiu ao menor nível em dez anos em relação
ao iene na sexta-feira, reforçando a prolongada condição de porto seguro da
moeda japonesa em meio às turbulências que atingiram os mercados financeiros
mundiais em 2011.Ampliar imagem
A moeda comum europeia chegou a cair 0,7% em
comparação ao iene, sendo negociada a 99,97 ienes no último dia útil do ano.
Foi a primeira vez que ela caiu abaixo da marca dos 100 ienes desde junho de
2001. Em comparação ao dólar, o euro terminou 2011 com uma queda de 2,9% desde
o começo do ano.Analistas de câmbio estão alertando que o euro poderá continuar
se enfraquecendo neste ano, em meio a perspectivas econômicas sombrias para a
zona do euro. A queda ocorre no fim de um ano que desnorteou os analistas, que
tiveram dificuldades para explicar a força relativa da moeda única.
O euro vem sendo negociado em uma faixa apertada,
em meio a uma série de notícias ruins para a zona do euro, desprezando um
segundo socorro financeiro à Grécia, um corte nas taxas de juros pelo Banco
Central Europeu (BCE) e um pico nos rendimentos dos bônus emitidos pelos
governos da Espanha, Itália a França.
Foi preciso o fracasso de uma reunião de cúpula da
União Europeia no começo de dezembro para se chegar a um acordo sobre uma
mudança no tratado da zona do euro para derrubar o euro para menos de US$ 1,30
pela primeira vez desde janeiro.
Várias explicações têm sido dadas para o vigor do
euro. Durante a maior parte do ano, os investidores em renda fixa mudaram dos
bônus soberanos de países problemáticos da periferia do bloco, como Itália,
Espanha e Grécia, para os papéis da França, de Nicolas Sarkozy, e da Alemanha,
de Angela Merkel, o que levou os rendimentos dos títulos alemães a níveis
recordes de baixa, ao mesmo tempo em que o euro permaneceu em alta. Acredita-se
no mercado que bancos centrais de mercados emergentes, diversificando suas
aplicações para o euro, também teriam estimulado a demanda.
Os fundos de hedge passaram a maior parte do ano
apostando contra o euro, com muitos perdendo dinheiro no processo. Com os
especuladores já vendidos a descoberto, ficou mais difícil para o euro perder
mais terreno à medida em que o noticiário sobre a Europa foi piorando.
Analistas acreditam que o Banco Central Europeu
embarcará em algum tipo de afrouxamento quantitativo da política monetária
neste ano, em meio ao agravamento da situação econômica da Europa. Em seu mais
recente comunicado, o BCE prevê um crescimento de 0,3% para a zona do euro em
2012. Qualquer forma de estímulo monetário exercerá uma pressão adicional de
baixa sobre o euro.
Muitos apontam para uma mudança no padrão de
negociação do euro, o que poderá pressionar mais a moeda única. As correlações
entre o euro e as moedas mais arriscadas de mercados emergentes são menores no
momento do que eram há poucas semanas.
O real brasileiro foi uma
O euro caiu ao menor nível em dez anos em relação
ao iene na sexta-feira, reforçando a prolongada condição de porto seguro da
moeda japonesa em meio às turbulências que atingiram os mercados financeiros
mundiais em 2011.
A moeda comum europeia chegou a cair 0,7% em
comparação ao iene, sendo negociada a 99,97 ienes no último dia útil do ano.
Foi a primeira vez que ela caiu abaixo da marca dos 100 ienes desde junho de
2001. Em comparação ao dólar, o euro terminou 2011 com uma queda de 2,9% desde
o começo do ano.
Analistas de câmbio estão alertando que o euro
poderá continuar se enfraquecendo neste ano, em meio a perspectivas econômicas
sombrias para a zona do euro. A queda ocorre no fim de um ano que desnorteou os
analistas, que tiveram dificuldades para explicar a força relativa da moeda
única.
O euro vem sendo negociado em uma faixa apertada,
em meio a uma série de notícias ruins para a zona do euro, desprezando um
segundo socorro financeiro à Grécia, um corte nas taxas de juros pelo Banco
Central Europeu (BCE) e um pico nos rendimentos dos bônus emitidos pelos
governos da Espanha, Itália a França.
Foi preciso o fracasso de uma reunião de cúpula da
União Europeia no começo de dezembro para se chegar a um acordo sobre uma
mudança no tratado da zona do euro para derrubar o euro para menos de US$ 1,30
pela primeira vez desde janeiro.
Várias explicações têm sido dadas para o vigor do
euro. Durante a maior parte do ano, os investidores em renda fixa mudaram dos
bônus soberanos de países problemáticos da periferia do bloco, como Itália,
Espanha e Grécia, para os papéis da França, de Nicolas Sarkozy, e da Alemanha,
de Angela Merkel, o que levou os rendimentos dos títulos alemães a níveis
recordes de baixa, ao mesmo tempo em que o euro permaneceu em alta. Acredita-se
no mercado que bancos centrais de mercados emergentes, diversificando suas
aplicações para o euro, também teriam estimulado a demanda.
Os fundos de hedge passaram a maior parte do ano
apostando contra o euro, com muitos perdendo dinheiro no processo. Com os
especuladores já vendidos a descoberto, ficou mais difícil para o euro perder
mais terreno à medida em que o noticiário sobre a Europa foi piorando.
Analistas acreditam que o Banco Central Europeu
embarcará em algum tipo de afrouxamento quantitativo da política monetária
neste ano, em meio ao agravamento da situação econômica da Europa. Em seu mais
recente comunicado, o BCE prevê um crescimento de 0,3% para a zona do euro em
2012. Qualquer forma de estímulo monetário exercerá uma pressão adicional de
baixa sobre o euro.
Muitos apontam para uma mudança no padrão de
negociação do euro, o que poderá pressionar mais a moeda única. As correlações
entre o euro e as moedas mais arriscadas de mercados emergentes são menores no
momento do que eram há poucas semanas.
O real brasileiro foi uma das moedas que mais
sentiram a crise externa. A perda de valor da moeda brasileira em relação ao
dólar foi de 10,89% em 2011. O real só não teve resultado mais fraco do que
moedas como o peso mexicano (-11,98%) ou o rand sul-africano (-19,02%).
(Colaborou Fernando Travaglini)
INVESTIMENTO
Reestruturação da Lupatech deixa dúvidas no mercado
Por Natalia Viri | De São Paulo
Os investidores não podem acusar a Lupatech de ter
encerrado o ano sem um plano para garantir a solvência da empresa.
Mas a fabricante de equipamentos para o setor de
petróleo e gás começará 2012 devendo respostas ao mercado, que tenta entender
como se dará o aumento de capital de até R$ 700 milhões anunciado pela empresa
em 28 de dezembro.
O comunicado divulgado pela empresa deixou claro
que uma injeção de capital de R$ 350 milhões está garantida - o que dá alguma
folga a seu balanço combalido.
A Lupatech fechou setembro com uma dívida líquida
de R$ 1,2 bilhão, 17 vezes superior à sua geração de caixa anual. Pelos
cálculos da Moody"s, a empresa precisaria de cerca de R$ 400 milhões para
ganhar tempo e recuperar sua geração de caixa.
Como já era esperado, Petros e BNDESPar - segundo e
terceiro maior acionistas, com participações de 15% e 11,5%, respectivamente -
entrarão com a maior parte dos recursos, em um aporte conjunto de R$ 300
milhões.
Os outros R$ 50 milhões virão com o retorno do GP
Investments à companhia. Foi o fundo que preparou o terreno para a abertura de
capital da Lupatech em 2006.
O acordo incluirá ainda a incorporação da San
Antonio Brasil, empresa que produz sondas de perfuração e fornece serviços para
poços de petróleo e está entre os investimentos da GP.
O valor atribuído à San Antonio foi de R$ 150
milhões - sendo R$ 100 milhões em dívidas.
As certezas constantes no comunicado param por aí.
Procurada, a Lupatech não atendeu ao pedido de entrevista e afirmou, por meio
de sua assessoria de imprensa, que esclarecerá os termos do acordo amanhã, em
teleconferência.
A principal dúvida diz respeito à divisão do aporte
de R$ 300 milhões entre BNDESPar e Petros.
Segundo apurou o Valor, o BNDES estaria menos
disposto do que o fundo de pensão a fazer um aporte em dinheiro.
Petros e GP, é certo, entrariam com a injeção de
capital em dinheiro. Se o aporte desses dois investidores, somado à
participação de minoritários e à adesão de novos acionistas na chamada de
capital, superar os R$ 350 milhões tidos como piso, o BNDES pode não entrar com
dinheiro na operação e aumentar sua participação por meio da conversão de
debêntures em ações.
O braço de investimentos do banco detém 90% de uma
emissão de debêntures conversíveis da Lupatech, que totalizou R$ 230 milhões em
julho de 2009.
O preço a que seria realizada essa conversão, no
entanto, é alvo de controvérsia. A escritura de emissão das debêntures prevê
que a conversão se dê a um preço mínimo de R$ 17,50.
O valor estabelecido para o aumento de capital é
77% menor, de R$ 4 por ação - deságio de 18,8% em relação à média dos 20
pregões anteriores ao dia 26.
Outra incerteza diz respeito à incorporação da San
Antonio. Um analista que acompanha o setor disse acreditar que a operação seja
favorável para a Lupatech.
Porém, segundo ele, os comunicados não informam
quais ativos operacionais a empresa da GP possui no Brasil, nem esclarecem o
plano de negócios da companhia, essencial para a atração de investidores para o
aumento de capital.
Em meio às inúmeras questões, é certo que os
minoritários terão sua participação fortemente diluída com o aumento de
capital.
Pelos cálculos do analista Artur Delarmo, da Ativa
Corretora, apenas a injeção de capital mínima de R$ 350 milhões garantida por
BNDES, Petros e GP já implicaria uma diluição de 67%, caso não haja a adesão
por parte dos demais investidores.
Esse, no entanto, seria um "mal
necessário". "A diluição do minoritário compensa a mitigação do risco
de falência da companhia", afirmou o analista em relatório. (Colaboraram
Marcelo Mota, Cláudia Schüffner e Juliana Ennes, do Rio)
CVM abre exceção e agentes autônomos poderão distribuir
fundos de mais de uma instituição
Marcelo Mota | De São Paulo
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) derrubou a
exclusividade na contratação de agentes autônomos para a distribuição de fundos
de investimento. A decisão foi motivada por pleitos apresentados por
participantes de mercado e pela Associação Brasileira das Entidades dos
Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
A exclusividade continuará valendo para a
distribuição direta de títulos e valores mobiliários, mas a CVM reconheceu que,
para distribuir cotas de fundos, o cuidado não se justificava. "A
distribuição de fundos de investimento está sujeita a riscos diferentes
daqueles a que está sujeita a realização direta de operações em bolsa, seja por
causa da própria dinâmica das operações, seja porque o processo de distribuição
de fundos está associado a mecanismos de controle e de documentação próprios,
já consolidados", ponderou a autarquia, em comunicado ao mercado.
Diferente da distribuição direta de ativos, no
setor de fundos há a figura do administrador, que permite o acompanhamento mais
rigoroso e maior controle da carteira, tanto pela CVM quando pela Anbima, no
papel de autorregulador do mercado.
Entre as razões apresentadas para rever o trecho da
instrução 497, que trata da exclusividade, a CVM cita o "consenso sobre a
necessidade de diversificação das estruturas de distribuição para a indústria
de fundos de um modo geral e não apenas no que tange aos produtos destinados a
investidores qualificados". Como estava escrita, a regra abria exceção
apenas para a distribuição a essa classe de investidores.
RESUMO:
AGRONEGÓCIOS
Um ano novo 'menos positivo' para o campo
Por Fernando Lopes | De São Paulo
Após atingir resultados recordes em alguns de seus
principais indicadores em 2011, o agronegócio brasileiro prepara-se para um ano
"menos positivo". As rachaduras na economia do mundo desenvolvido e
seus reflexos em países emergentes, na demanda global por alimentos e nos
preços das commodities tendem a provocar a desaceleração do ritmo de
crescimento do setor no país. Mas, de acordo com analistas, produtores,
agroindústrias e governo, nada capaz, no cenário atual, de impedir novos
avanços em 2012, ainda que em menor velocidade.
E os números que poderão ser superados são
expressivos. A colheita de grãos da safra 2010/11, por exemplo, somou 163
milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab),
quase 10% mais que em 2011/12. Isso apesar de a área plantada ter aumentado
"apenas" 5%, para 50 milhões de hectares. O valor bruto da produção
(VBP) agropecuária, conforme estimativa da Confederação da Agricultura e
Pecuária do Brasil (CNA), ultrapassou R$ 318 bilhões no ano passado, 8% acima
de 2010.
As exportações do agronegócio, de acordo com dados
da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pelo Ministério da
Agricultura, chegaram a US$ 87,6 bilhões de janeiro a novembro, 24,4% mais que
em igual intervalo de 2010 - e cerca de US$ 5 bilhões embarcados em dezembro
ainda vão entrar na conta. Nesse contexto, o Produto Interno Bruto (PIB) do
setor, incluindo todos os elos das cadeias produtivas, é calculado pela CNA em
R$ 823 bilhões em 2011, um incremento de mais de 6% na comparação com o ano
anterior.
LEGISLAÇÃO & TRIBUTOS
Banco quer esclarecer efeitos de decisão que ampliou ação
coletiva
Maíra Magro | De Brasília
O Itaú Unibanco recorreu da decisão do Superior
Tribunal de Justiça (STJ) segundo a qual os ministros entenderam que as
sentenças das ações civis públicas podem ter abrangência nacional e ser
executadas no domicílio da pessoa beneficiada. O entendimento foi adotado em
outubro pela Corte Especial do STJ, formada pelos 15 ministros mais antigos, e
representou uma reviravolta no entendimento do tribunal.
Até então, a jurisprudência do tribunal definia que
as sentenças das ações civis públicas só teriam validade no território de
atuação da Corte que a proferiu. Uma decisão do Tribunal de Justiça de São
Paulo (TJ-SP), por exemplo, só se aplicaria ao Estado. Agora, o STJ alterou seu
posicionamento. Assim, se o pedido inicial da ação civil pública envolver
beneficiários em todo o país, uma sentença favorável do TJ-SP terá efeitos em
todo o território nacional.
"A antiga jurisprudência do STJ deve ser
revista para atender ao real e legítimo propósito das ações coletivas, que é
viabilizar um comando judicial célere e uniforme", afirmou em sua decisão
o relator do caso, ministro Luis Felipe Salomão.
Tomada pelo mecanismo do recurso repetitivo, a
decisão passou a servir de modelo para os demais tribunais do país,
representando uma mudança significativa no tratamento dos direitos coletivos no
Brasil.
O Itaú entrou com embargos de declaração pedindo
explicações sobre a extensão dos efeitos do julgamento. "A intenção não é
mudar a decisão, mas saber como ela caminha", diz a advogada responsável
pela área jurídica do Itaú, Claudia Politanski. "Dada a importância da
decisão, achamos por bem ter o máximo de esclarecimentos em relação a alguns
pontos, como a partir de quando ela se aplica". A entidade envolvida no
processo original é o antigo Banestado, comprado pelo Itaú. A ação foi movida
por um poupador de Londrina para se beneficiar de uma sentença coletiva que
determinava a correção da inflação durante planos econômicos do fim da década
de 1980.
O banco faz dois pedidos no recurso. Um deles é de
que o STJ module os efeitos da decisão - dizendo que ela não teria efeitos
retroativos, valendo apenas para ações movidas após a publicação do acórdão com
o novo posicionamento. O argumento é que, se aplicada a processos já em curso,
a decisão causaria insegurança jurídica, por alterar as regras no meio do jogo,
gerando dúvidas, por exemplo, sobre a abrangência de sentenças passadas.
Outro pedido diz respeito aos tipos de direito
abrangidos pela ação civil pública, usada para defender, em um só processo,
direitos comuns a um grupo - como questões de consumo, saúde e meio ambiente. O
Itaú argumenta que, se esses direitos puderem ser medidos individualmente,
então a sentença da ação civil pública só poderia ter eficácia no território de
atuação da Corte que a proferiu.
A intenção do banco é estabelecer uma exceção para
os direitos que podem ser definidos e calculados individualmente - no jargão
técnico, eles são chamados de direitos individuais homogêneos. O caso em
discussão trata de uma situação desse gênero: a correção da inflação durante os
planos econômicos, que afetou poupadores individuais em quantias diferentes.
Para o Itaú, a abrangência nacional só poderia valer para os direitos coletivos
e difusos, dos quais não é possível identificar diretamente o beneficiário, e a
reparação não pode ser calculada individualmente - como questões relativas ao
ambiente e à segurança pública. O banco alega que, nesses casos, a abrangência
da sentença dependeria da extensão do dano a ser reparado.
Por trás da discussão está o artigo 16 da Lei da
Ação Civil Pública, segundo o qual a sentença terá eficácia "nos limites
da competência territorial do órgão prolator". Desde que inserido na
legislação em 1997, esse artigo vem sendo criticado por alguns teóricos, para
quem ele prejudica a garantia de direitos coletivos. A decisão do STJ, na
prática, afastou as restrições definidas nesse artigo.
Ao fazer isso, os ministros se basearam em trechos
do Código de Processo Civil e do Código de Defesa do Consumidor - entre os
quais o que diz que a sentença da ação coletiva terá eficácia "para
todos".
Mas o Itaú argumenta que o STJ não poderia ter
afastado o artigo 16 da Lei da Ação Civil Pública, pois isso significaria uma
declaração expressa de sua inconstitucionalidade, o que dependeria do voto da
maioria dos 33 integrantes da Corte.
O novo aviso prévio proporcional
Amauri Cesar Alves
Após mais de 20 anos de injusta e injustificada
espera, tem o trabalhador brasileiro consolidado o seu direito constitucional
ao aviso prévio proporcional. Desde 1988 a Constituição da República traz em
seu artigo 7º inciso XXI o direito ao "aviso prévio proporcional ao tempo
de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei".
O Congresso Nacional elaborou e aprovou, bem como a
presidenta da República sancionou, no dia 11 de outubro, a Lei 12.506, de 2011,
que embora não seja um primor de técnica legislativa, regulamenta o que o texto
constitucional preconiza desde 1988.
Não há, imediatamente, que se falar em aumento de
custos para o empregador, mas, sim, do prazo que deverá ser observado entre a
comunicação da intenção rescisória e a data da efetiva rescisão contratual.
Vale lembrar que o aviso prévio, como o nome indica, é em essência ato de
comunicação formal da resilição por uma das partes contratantes (empregado ou
empregador).
Nos termos da lei nova que regulamenta direito
antigo, o empregado com um ano de serviço continuará tendo 30 dias de aviso
prévio. A partir de tal marco serão acrescidos três dias no período do aviso
para cada ano de contrato. Assim, com dois anos, 33 dias; com três anos, 36
dias, e sucessivamente até o prazo máximo de 90 dias. Medida simples e de
equidade.
A proporcionalidade é direito do trabalhador e não
se estende ao empregador
Remanescem alguns aspectos polêmicos sobre a nova
Lei do Aviso Prévio, como sua retroação aos contratos findos, sua
proporcionalidade casuística e sua inaplicabilidade aos casos de demissão.
Inicialmente destaco entendimento no sentido de que
excepcionalmente os efeitos da lei nova devem retroagir aos contratos antigos
findos antes de sua publicação. O fundamento é constitucional.
O Supremo Tribunal Federal, em julgamento recente e
que forçou o Congresso Nacional à edição da norma, já reconheceu o direito à
proporcionalidade do aviso prévio a ex-empregados que ajuizaram mandado de
injunção (943, 1010, 1074 e 1090), do que resulta a extensão do mesmo direito
aos demais empregados. Faltava apenas a fixação do quantum da proporção.
Ademais, a regra constitucional do artigo 7º,
inciso XXI é de 1988 e, por se tratar de direito fundamental, deve ter
aplicação imediata e eficácia horizontal independentemente de regra
infraconstitucional.
É possível então entender que o empregador tem o
dever de observar os direitos fundamentais do cidadão trabalhador, ainda que
não expressos na específica legislação trabalhista. Assim, desde 1988 é direito
fundamental dos trabalhadores a proporcionalidade do aviso prévio, devendo
aqueles que foram dispensados antes da publicação da Lei 12.506 buscar em juízo
os efeitos da lei nova.
Independentemente de eventual regulamentação da
nova lei, penso que deve haver o que denomino inicialmente de proporcionalidade
casuística. As perguntas que vêm sendo feitas são as seguintes, em síntese
exemplificativa: um empregado dispensado após um ano e 11 meses de contrato de
emprego deve ter 30 ou 33 dias de aviso prévio? Se o contrato teve vigência de
dois anos e meio, qual será a proporcionalidade?
Embora não haja previsão legal para tanto, com base
no princípio da norma mais favorável, entendo que deve haver um dia a mais de
aviso prévio para cada quatro meses de trabalho, em interpretação da regra
legal que dispõe que serão acrescidos três dias no período do aviso para cada
ano de contrato. Assim, um contrato que teve duração de um ano e 11 meses
deverá ensejar 32 dias de aviso prévio, e não apenas 30 dias. O contrato com vigência
de dois anos e meio ensejará 34 dias de aviso prévio.
Com relação aos casos de ruptura contratual por
iniciativa do empregado (demissão), entendo que o prazo do aviso prévio
continua sendo de 30 dias.
O direito ao aviso prévio proporcional está
inserido dentre os direitos constitucionais dos trabalhadores (e não dos
empregadores) no artigo 7º da Carta da República. A lei nova normatiza direito
constitucional do empregado e sua redação permite inferir que não consagra a
proporcionalidade em favor do empregador.
Os defensores da extensão da proporcionalidade
também ao empregador sustentam o caráter sinalagmático do contrato de emprego,
que deverá ensejar direitos e obrigações recíprocos.
Discordo, entretanto, por ser óbvio que o caráter
sinalagmático do contrato não confere ao empregador os direitos sociais do
empregado previstos no artigo 7º da Constituição da República, como proteção
contra a dispensa injusta (inciso I), FGTS (inciso III), 13º salário (inciso
VIII) ou repouso semanal remunerado (inciso XV), não sendo também aplicável a
regra de seu inciso XXI.
É claro, então, que a debatida proporcionalidade,
que tem matriz constitucional e configura-se como direito social dos
trabalhadores, não se estende ao empregador, sendo certo que o prazo do aviso
prévio na demissão (ato rescisório do trabalhador) será sempre de 30 dias, nos
termos do artigo 487 da CLT.
Amauri Cesar Alves é mestre e doutorando em direito
pela PUC-MG, professor da Fundação Pedro Leopoldo e da PUC-MG.
Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do
jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser
responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza
em decorrência do uso dessas informações
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