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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

10 de janeiro de 2012 - CORREIO BRAZILIENSE


PRIMEIRA PÁGINA
Plano emergencial para tirar Bezerra da chuva
O governo deu demonstração de que o ministro da Integração Nacional continua prestigiado, apesar das denúncias de usa de verbas públicas para favorecer reduto eleitoral. Em Brasília, ele se prontificou a depor no Congresso e foi o escolhido para anunciar um pacote de medidas contra as tragédias provocadas pelas chuvas, que ontem causaram 12 mortes em cidades do Rio de Janeiro e de Minas.

Silicone da Holanda sob investigação
A Anvisa confirma que recebeu reclamações sobre as próteses de seios da marca Rofil. O material, como o da francesa PIP, corre risco de ruptura

Conta de luz dispara com taxas extras
Uma série de tributos, a maioria desconhecidos pelos consumidores, encarece a tarifa de energia. Somados, esses encargos chegarão a R$ 19,2 bilhões neste ano

OPINIÃO
Amizade sob suspeita

Rodrigo Craveiro

Qual seria o real interesse de Mahmud Ahmadinejad em cortejar o presidente venezuelano, Hugo Chávez? Sob a condição de anonimato, uma fonte diplomática garantiu-me que o iraniano planeja construir uma base de lançamento de mísseis terra-terra na costa da Venezuela, a 200km da Colômbia, e buscar urânio no país sul-americano para acelerar seu programa nuclear. Além de enviar uma mensagem aos Estados Unidos de que existe um risco real e iminente em seu "quintal", Teerã estaria de olho em alternativas viáveis de mercado, no momento em que sofre pesadas sanções internacionais. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) coloca a Venezuela no topo da lista de países com as maiores reservas do mundo, com 296,5 bilhões de barris. O Irã vem em terceiro lugar, com 151,17 bilhões.
Segundo a mesma fonte diplomática, a usina nuclear de Isfahan não funciona bem e fracassa em obter yellow cake — tipo de pó de urânio concentrado, entre 70% e 80% puro. Daí o interesse nas reservas de 50 mil toneladas de urânio (dados de 2009) de Chávez. O embaixador do Irã em Brasília, Mohsen Shaterzadeh Yazdi, sustenta que as relações entre os dois países se baseiam somente na esfera comercial e não envolvem qualquer tipo de material ligado ao programa atômico. Segundo o diplomata, Teerã é autossuficiente nesse setor. Mohsen explicou que o Irã produz carros na Venezuela e mantém duas fábricas de cimento e de farinha no país de Chávez. Ao mesmo tempo, porém, reconhece que o programa nuclear iraniano é motivo de orgulho nacional e descarta suspendê-lo.
O tour de Ahmadinejad pela América Latina coincide com a intensificação da retórica belicista por parte do Irã. Os recentes testes com mísseis e a ameaça de fechamento do Estreito de Ormuz, principal corredor do petróleo do Oriente Médio para o Ocidente, elevaram a tensão entre Washington e Teerã. Por isso, além do suposto componente nuclear, a viagem possui forte teor ideológico. O mandatário iraniano recorre a uma espécie de aliança antiamericanista, ao incluir no roteiro a Nicarágua, de Daniel Ortega, e Cuba, de Raúl e Fidel Castro; líderes esquerdistas com histórica oposição aos Estados Unidos que quase levou seus países às vias de fato com Washington.
A condenação à morte de um americano preso no Irã sob a acusação de trabalhar para a Agência Central de Inteligência (CIA) adiciona mais um elemento perturbador nas relações entre os dois países. Pode ser essa a desculpa a mais que a Casa Branca precisava para lançar uma ofensiva contra Teerã e tentar anular o programa de enriquecimento de urânio dos iranianos.

POLÍTICA
Doadores contratados
» ERICH DECAT,  VINICIUS SASSINE

Doadores de campanha do deputado federal Fernando Coelho Filho (PSB-PE) aparecem na lista de empresas contratadas em 2011 com recursos da cota de gabinete do parlamentar. Filho do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, o parlamentar recebeu dinheiro para campanha de empresas com sede em Pernambuco, curral eleitoral da família. As firmas vão do ramo do aluguel de automóveis à advocacia. Cruzamento feito pelo Correio nas declarações prestadas pelo parlamentar ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e nos gastos do gabinete revela que a empresa de aluguel de automóvel Olegário Pereira Lacerda Júnior ME doou pelo menos R$ 1 mil para a campanha do parlamentar. A empresa recebeu em troca R$ 32,5 mil entre agosto e dezembro do ano passado. O aluguel dos carros ocorreu, segundo ele, para que transitasse em Pernambuco.
Outro doador agraciado com dinheiro da cota parlamentar de Fernando Filho é o escritório de advocacia Paulo Santana Advogados Associados, que fez uma doação de campanha de R$ 2 mil. Em contrapartida, fechou contratos pagos com a verba de gabinete num total de R$ 15 mil, entre abril e julho do ano passado. Ao Correio, Fernando Filho alega que não houve favorecimento às empresas doadoras. "Não fica caracterizada a devolução do dinheiro. Não vejo favorecimento. Pelo volume doado, se quisesse fazer isso, não precisaria pagar pelos vários meses que contratei as empresas." O parlamentar disse ainda que não se lembra da ocasião em que ocorreram as doações, mas que elas fizeram parte de um jantar para levantar fundos para a candidatura na campanha de 2010. "Não me lembro direito, mas acho que o ingresso era de R$ 500. Dessa forma, o Olegário comprou dois e o Paulo Santana, quatro."
Requerimentos
Desde o primeiro mandato, iniciado em 2007, Fernando Filho atua em benefício de projetos de irrigação no Vale do São Francisco, região onde a família mantém negócios diretamente beneficiados por esses projetos.
Em 2009 e 2010, o deputado enviou requerimentos a sete ministros — entre eles a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff — cobrando medidas para o setor de fruticultura. É essa a área de atuação de irmãos do ministro no São Francisco. Antes de o pai assumir o Ministério da Integração Nacional, Fernando Filho solicitou o fim da cobrança de duas tarifas incidentes sobre projetos de irrigação administrados pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). O deputado não foi atendido.
Uma emenda apresentada pelo parlamentar intencionou ampliar o tamanho das áreas passíveis de arrendamento por estrangeiros no semiárido nordestino. Ele também já relatou, favoravelmente, um projeto de incentivos fiscais à agricultura irrigada. Neste ano, Fernando Filho foi o relator do projeto que altera a Lei de Responsabilidade Fiscal para tornar obrigatórias as despesas com prevenção de desastres e enchentes. O projeto está na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara e o relatório do deputado é favorável à proposta.

Isolado, Lupi reassume a presidência do PDT
Mesmo sem força política para liderar a sigla, e impossibilitado de negociar com o Palácio do Planalto, ex-ministro volta ao comando da legenda sob protestos de opositores

» KARLA CORREIA,  PAULO DE TARSO LYRA

O ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi retornou ontem à presidência do PDT menor politicamente do que o Lupi fanfarrão de dois meses atrás, quando desafiava correligionários e fazia juras de amor à presidente Dilma Rousseff, em declarações que beiravam o deboche. Pouco tempo depois de deixar a pasta, desgastado pela saraivada de denúncias a respeito de irregularidades em contratos firmados com organizações não governamentais, Lupi se torna um presidente de partido sem forças para negociar os rumos da própria legenda, principalmente com o Planalto.
"Lupi saiu queimado do ciclo de escândalos e vai demorar a se reconstruir politicamente", sintetiza o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força. O protesto feito por militantes pedetistas em frente ao prédio da Fundação Alberto Pasqualini, no Rio de Janeiro, onde ocorreu a reunião que marcou o regresso de Lupi ontem, deu o tom do clima que o ex-ministro enfrentará no PDT.
Apesar de manter sua influência sobre a maioria dos membros do diretório nacional, Lupi enfrenta uma oposição interna barulhenta, com trânsito no governo e disposta a mantê-lo isolado, especialmente para preservar o lugar da legenda na Esplanada. A definição da pasta que caberá ao PDT, hoje uma das principais preocupações da sigla, é também tema de mais uma cizânia no partido.
Com um presidente alijado do relacionamento com o Planalto, a tarefa de negociar o retorno do PDT à equipe da presidente Dilma Rousseff caberá a um grupo formado pelo secretário-geral da sigla, Manoel Dias; pelo vice-presidente do partido, André Figueiredo; mais os deputados Brizola Neto (RJ) e Giovanni Queiroz (PA); além do senador Acir Gurgacz (RO). Lupi defende que o partido aceite uma nova pasta e não reassuma o Ministério do Trabalho. Quer, com isso, jogar terra nas investigações em torno de sua gestão e enfraquecer a parte da ala "rebelde", que se identifica com Paulinho da Força.
A hipótese é impensável para o sindicalista. "Nós sempre tivemos uma tradição trabalhista", diz Paulinho. Nesse cenário, Manoel Dias, Brizola Neto e o deputado Vieira da Cunha (RS) surgem como os mais cotados, dentro da legenda, para uma eventual indicação a uma pasta oferecida pela presidente. Desse grupo, tanto Brizola Neto quanto Vieira da Cunha aparecem mais afinados com a ala de resistência a Lupi. Também são vistos internamente como nomes mais próximos de Dilma Rousseff.
O neto de Leonel Brizola — fundador do partido — foi beneficiado diretamente por Dilma, que articulou com o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), a nomeação do deputado Sérgio Sveiter (PDT-RJ) para a Secretaria Estadual de Trabalho e Renda fluminense, abrindo caminho para Brizola Neto, seu suplente, ocupar uma cadeira na Câmara. Amigo do ex-marido da presidente, Vieira da Cunha ainda mantém bom relacionamento com Dilma.

Surpresa
Opositor a Lupi, Brizola Neto se disse surpreso com a decisão do correligionário em retomar o comando do PDT antes do encontro do diretório nacional marcada para 30 de janeiro. "Foi acertado que seu eventual retorno à presidência do partido dependeria de uma reunião do diretório nacional", conta Brizola Neto.
Na avaliação do parlamentar, ao reassumir a presidência antes do posicionamento do diretório, Lupi rompeu a trégua que tinha firmado com setores de oposição, "movido pela sua ansiedade incontrolável de enfeixar em suas mãos o controle absoluto do partido", disse Brizola Neto.

PT nega namoro com PSD
Petistas tratam como especulação a ideia de Kassab indicar um pessedista para a chapa de Haddad na disputa pela prefeitura paulistana. Mas sigla não descarta a aliança

Paulo de Tarso Lyra

O PT não vê, pelo menos nesse momento, o caminho para uma aliança com o PSD nas eleições municipais de São Paulo. O partido trata como mera especulação a proposta feita pelo prefeito Gilberto Kassab de uma possível chapa tendo o petista Fernando Haddad como candidato a prefeito e um nome do PSD como vice. A oferta teria sido feita na semana passada, durante um encontro de Kassab com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O PT não pode alterar seu planejamento eleitoral com base em especulações", disse o presidente estadual do PT, deputado Edinho Silva, sem, contudo, descartar a possibilidade.
Edinho lembrou que, em diversos estados, existem perspectivas de alianças formais entre as duas legendas. Mas, em São Paulo, o cenário torna-se um pouco mais complicado. "Até o momento, todas as notícias envolvendo o PSD de São Paulo mostram a perspectiva de uma candidatura própria ou, no máximo, de uma aliança com o PSDB de José Serra", destacou o presidente estadual do PT.
No entanto, isso não representaria um empecilho caso o PSD demonstre, de fato, disposição para uma conversa. "O PT é um partido democrático e não podemos recusar, de antemão, nenhuma conversa com qualquer legenda que queira nos procurar", completou Edinho, acrescentando que, até o momento, nem o ex-presidente Lula nem emissários de Kassab enviaram qualquer sinal político para a abertura de um diálogo.
No círculo mais próximo do ministro Haddad, a avaliação é de que o PSD está querendo usar o PT para passar um recado ao PSDB. Segundo um interlocutor do titular da Educação, o gesto dado por Kassab na semana passada serviria para "mostrar aos tucanos que, se eles demorarem muito em consolidar a aliança, o PSD teria autonomia para procurar outros atores políticos na capital paulista". Esse aliado também disse que seria muito difícil explicar para a militância petista uma possível parceria com o PSD em São Paulo, já que Kassab sempre esteve ligado ao DEM e ao tucano José Serra no estado. "Estamos buscando alianças com partidos mais próximos de nosso campo político", completou um articulador do PT.
O líder do PSD na Câmara, Guilherme Campos (SP), considerado um dos políticos mais próximos de Kassab na estrutura partidária, não confirma — tampouco desmente — a possibilidade de conversar com o PT. "Pela deliberação do nosso Congresso Nacional, não existem vetos a negociações ou alianças com nenhuma legenda. Mas tudo isso ainda está em fase de construção. Não há, até o momento, qualquer tipo de definição sobre os nossos parceiros em outubro", comentou.
Complicação
A situação do PSD em São Paulo não é fácil. O partido, nascido da articulação pessoal do prefeito da capital, Gilberto Kassab, inicia 2012 sem um nome de fôlego para disputar a prefeitura paulistana. O candidato considerado mais forte no partido é o atual vice-governador, Guilherme Afif Domingos. Mas nas últimas três pesquisas de intenção de votos realizadas por diversos institutos, Afif não passou dos 3%. Empresário conhecido em São Paulo, Afif já avisou ao partido que não se lançará em uma "aventura" para disputar uma eleição sem a mínima chance de êxito.
Além de patinar na intenção de votos, o PSD também tem contra si a incerteza se contará com tempo de televisão razoável para o pleito de outubro. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda não decidiu a questão, embora análises de consultores do próprio tribunal deem ganho de causa ao partido, acrescentando que o PSD teria direito também ao Fundo Partidário.
O PSD ainda contaria com uma carta na manga: o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Ele foi uma das principais estrelas do lançamento, em dezembro, da fundação Espaço Democrático, destinada ao estudo e ao debate de grandes questões do país. Durante o evento, Meirelles expôs os avanços econômicos nos últimos oito anos e as perspectivas de futuro para o Brasil. "Ele ainda não desencarnou do governo Lula", brincou um dirigente partidário, que acrescentou, no entanto, algo mais grave: "Meirelles também ainda não demonstrou apetite para ser candidato".

Lula trabalha após sessão de radioterapia
Depois de descansar no fim de semana, o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva passou ontem pela quarta sessão de radioterapia, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. E, após o procedimento, trabalhou por quatro horas em seu escritório na capital paulistana. O tratamento radioativo, que deve se estender até perto do carnaval, é a última etapa do combate ao câncer na laringe, diagnosticado em outubro. Amanhã está prevista uma nova sessão de quimioterapia complementar, prática que deve ser adotada semanalmente até o fim da radioterapia. Ontem, após o tratamento, o ex-presidente recebeu o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) e o presidente da Central Única dos Trabalhadores, Artur Henrique — na semana passada, Lula também foi visitado por políticos no hospital. Na quarta, primeiro dia do tratamento radioterápico, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, esteve no Sírio-Libanês. No dia seguinte, foi a vez do ministro da Educação e pré-candidato do PT na eleição municipal paulistana, Fernando Haddad. Na sexta, Lula recebeu o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP).

ECONOMIA
O homem do não embolsa R$ 51 mil
Servidor conhecido por negar verbas e bloquear reajustes de vencimentos dos funcionários públicos tem os ganhos mais elevados da Esplanada

» ANA D,ANGELO
» CRISTIANE BONFANTI

Ele realmente é o homem do dinheiro. Segundo na hierarquia do Tesouro Nacional, o subsecretário de Política Fiscal, Marcus Pereira Aucélio, é mais conhecido como a autoridade que de fato diz não aos pedidos de recursos de parlamentares e até de ministros para todo tipo de despesa, incluindo reajustes salariais para servidores públicos. Tão potente quanto o poder da sua canetada é o tamanho do seu contracheque. Engenheiro florestal e analista de controle do Tesouro Nacional de carreira, Aucélio embolsa por mês R$ 51 mil por causa do cargo, quase o dobro do teto do funcionalismo previsto na Constituição, atualmente de R$ 26.723,13.
É bem mais que os salários recebidos por ministros, que abocanham remunerações de até R$ 45,7 mil, conforme mostrou o Correio no domingo. O contracheque é inflado por jetons, recebidos pela participação em conselhos de estatais e de empresas privadas com capital da União. O salário do subsecretário do Tesouro é de R$ 23,7 mil, mas ele ganha mais R$ 27,3 mil de dois conselhos — da Petrobras e da AES Eletropaulo — e do Comitê de Auditoria do Banco de Brasília (BRB). Mas seus vencimentos podem chegar a R$ 70 mil num mês. Basta que ele participe de uma reunião mensal do Conselho Fiscal da Vale, do qual é suplente, caso o titular não possa comparecer.

Participações
Decreto presidencial determina que os representantes da União nessas companhias só podem receber por, no máximo, dois conselhos. Procurado, o Ministério da Fazenda se negou a informar quais entidades o subsecretário do Tesouro integra e a base legal para que ele embolse jetons de três delas. Da AES Eletropaulo, em que a União tem uma participação minoritária, o segundo homem do Tesouro ganha R$ 3,8 mil brutos por mês. Pela participação no Conselho Fiscal da petrolífera, embolsa outros R$ 7.090. O que lhe rende mais, no entanto, é o trabalho na auditoria do BRB, R$ 16.405,78 brutos.
Embora também receba um megassalário, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ganha um pouco menos que Aucélio, seu subordinado. A participação nos conselhos da BR Distribuidora e da Petrobras elevou os rendimentos de Mantega de R$ 26,7 mil para R$ 40,9 mil. O mesmo ocorreu com sua colega do Planejamento, Miriam Belchior. O advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, embolsa, no total, R$ 38,7 mil. Ele engorda o salário de R$ 26,7 mil de ministro em mais R$ 12 mil ao participar da administração das empresas privadas Brasilprev e Brasilcap. Celso Amorim, da Defesa, é agraciado com R$ 45,7 mil, com o conselho da Itaipu. O secretário executivo da Fazenda, Nelson Barbosa, abocanha R$ 41,1 mil brutos mensais.


R$ 19,2 bi em tributos pesam na conta de luz
Governo embute uma série de encargos nas faturas mensais. A maioria nem sequer sabe o que está pagando e para onde vai o dinheiro

SÍLVIO RIBAS

A conta de luz vai ficar mais cara em 2012, mas quase metade (45%) do valor a ser pago em média pelo consumidor não será eletricidade, mas tarifas disfarçadas por meio de siglas que a grande maioria da população sequer sabe que o que significa e para o que serve. As empresas do setor calculam que esses encargos totalizarão R$ 19,2 bilhões neste ano, um salto de 7,9% em relação a 2011. Em tese, tais penduricalhos deveriam ser usados para investimentos que evitassem o colapso no fornecimento de energia e estimulassem a inovação tecnológica. Boa parte desses recursos, porém, acaba servindo à meta de superavit primário — economia de gastos do governo para pagar juros da sua dívida — e até para cobrir perdas de receita tributária dos estados do Norte.
As entidades que representam distribuidores, grandes consumidores e agentes do mercado reclamam ano após ano das pesadas cobranças e das limitações aos investimentos. "A tarifa de energia é a forma mais fácil e garantida de arrecadar impostos. Cabe à sociedade pressionar para garantir a aplicação esperada das verbas arrecadadas e ainda impedir a criação de novas taxas", diz Nelson Leite, presidente da Associação Brasileira das Distribuidoras de Energia Elétrica (Abradee).
Segundo ele, enquanto o peso dos encargos aumenta na conta da luz, a participação das companhias do setor na conta recua — está hoje em 24%. O percentual chega a ficar abaixo do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), cobrado por governos estaduais e que varia de 21% a 30% da fatura imposta aos consumidores. "Além de limitar os gastos com infraestrutura pelo próprios agentes, a montanha de recursos obtidos também não chega ao destino esperado", sublinha.
Um exemplo é a taxa de fiscalização, com impacto de 0,28% sobre a conta de luz e destinado à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Apesar dos R$ 465 milhões arrecadados em 2011, o órgão gastou efetivamente cerca de R$ 150 milhões, graças ao cortes orçamentários. O último relatório de prestação de contas da Aneel lista queixas em razão das limitações, incluindo adiamento da contratação de 186 servidores prevista em 2010.
"Como o setor elétrico é organizado e chega a quase todos brasileiros, o Estado se aproveita para fazer dele a galinha dos ovos de ouro. Isso explica a razão pela qual o poder público centraliza na área a cobrança excepcional de impostos e encargos, para engordar o Tesouro", reclama Maurício Corrêa, diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel). Para o executivo, ainda falta muito para tornar a equação mais justa. "Não se justifica que a carga tributária do setor, incluindo encargos, ultrapasse a metade do valor da conta", ressalta.
A falta de transparência dificulta até o cálculo das empresas dos valores arrecadados e que são revertidos ao setor. "O grande problema dos encargos, além do custo maior da tarifa para os consumidores, é não deixar claro quanto se ganha e se aplica", destaca Fernando Umbria, assessor da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace).  "Jogamos dinheiro no lixo ao não se buscar eficiência", acrescenta.

Muitas críticas
Cálculos do Instituto Acende Brasil mostram que os consumidores pagaram R$ 63,5 bilhões em 2011 com 12 tributos e 11 encargos setoriais embutidos na conta de luz. Do valor estimado por uma consultoria com base nos dados de empresas, 26% foram destinados à geração, 5% ficaram com a transmissão e 45% para os cofres públicos (federal, estadual e municipal). "É uma cobrança perversa, porque não se trata de algo supérfluo", comenta Cláudio Sales, presidente da entidade. Ele cita como "algo que não deveria existir mais" a Reserva Global de Reversão (RGR), encargo previsto para acabar em 2010, mas foi renovado por mais 25 anos via medida provisória.

Material escolar supertaxado

Os gastos com material escolar comprometem o orçamento de grande parte das famílias. O que poucos sabem é que uma significativa fatia do montante gasto com a lista apresentada pelas escolas — parte importante das despesas com educação — é abocanhada pelo governo por meio de pesados impostos. Conforme levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), de 19 itens pesquisados, em 17 a carga tributária é superior a 34%.
Dentre os produtos, a caneta, com preço médio de R$ 0,50, foi a que apresentou a maior parcela de impostos: 47,7%. Não fossem as taxas, o custo seria de R$ 0,26. De acordo com o diretor do IBPT, Fernando Steinbruch, o peso dos tributos sobre uma atividade essencial como a educação equivale ao de produtos supérfluos. "As taxas cobradas sobre eletrônicos, como um aparelho de DVD, variam de 47% a 50%. É evidente que o material escolar deveria ter uma carga bem menor", explica.
A relação dos itens mais taxados inclui régua (44,65%), agenda escolar e borracha (ambas com 43,19%), cola branca (42,71%), estojos (40,33%) e pastas plásticas (40,09%). Na mão inversa, os produtos com menor incidência de tributos são encabeçados pelos livros. Do valor cobrado, 15,52% vai para o Fisco. Steinbruch explica que isso se deve à isenção de impostos sobre os itens exclusivamente didáticos. "O que acaba sendo aplicado são taxas como a previdencária, cobrada sobre a folha de pagamento das empresas", diz.
O tributarista Ilan Gorin afirma que, para diminuir ainda mais o valor das publicações, o ideal seria desonerar as gráficas que publicam material didático. "Uma opção é cobrar a taxa previdenciária sobre o faturamento e não sobre os gastos com pessoal", diz. No caso dos outros materiais da lista, Gorin ressalta que não acredita em redução das taxas. "O ideal seria que a educação tivesse uma tributação baixa em todos os itens. O problema é que não dá para saber se uma régua ou uma caneta vai ser comprada por um aluno ou um arquiteto", assinala.

Transparência
Para o diretor do IBPT, o consumidor não tem muitas opções, pois os pais são obrigados a comprar os materiais escolares pedidos. "O que o contribuinte pode fazer é se manifestar, mostrar a inconformidade com a carga tributária alta em produtos de extrema necessidade", afirma. Ele também recomenda que a Receita Federal seja mais transparente e informe aos contribuintes as taxas que estão sendo cobradas. "Um pai paga a conta do material escolar sem ter a menor noção de que está arcando com tantos tributos. O valor exato arrecadado pelo governo deveria ficar mais explícito", completa.

BRASIL
Anvisa confirma queixas de nova prótese
A agência não divulga o número das reclamações referentes aos produtos da holandesa Rofil. Segundo a sociedade internacional de cirurgiões plásticos, assim como os da PIP, eles têm um risco maior de vazamento

Grasielle Castro

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) confirmou ontem que recebeu reclamações com relação às próteses mamárias de silicone preenchidas com material irregular da marca holandesa Rofil. Segundo a Sociedade Internacional de Estética e Cirurgia Plástica (Isaps), o produto, assim como o produzido pela empresa francesa Poly Implant Prothese (PIP), corre risco de ruptura prematura. Em reportagem publicada pelo Correio no último sábado, a agência afirmou que, por razões sigilosas, não poderia revelar a existência de queixas relacionados à prótese holandesa. Ontem, a assessoria de imprensa da agência disse que recebeu "algumas reclamações" e afirmou que os técnicos analisam a documentação do produto com relação à comercialização e produção.
Até a última quinta-feira, a Anvisa havia recebido 94 queixas sobre próteses mamárias. Dessas, 12 tinham sido registradas contra a empresa PIP, que forneceu matéria-prima à Rofil. A Isaps, sediada nos Estados Unidos, recomenda a remoção de implantes das duas marcas. Já a Anvisa indica apenas uma avaliação médica às pessoas que utilizam a prótese da PIP.
A agência brasileira também não sabe informar quantas próteses da Rofil foram comercializadas no país. Em 2004, deu aval para a distribuidora Andema Comercial e Importadora trabalhar com essa marca no mercado nacional. E, em 2008, a Phamedic Pharmaceuticals passou a ser a responsável pelo produto no país. "Acredito que por volta de 50 pares de próteses foram comercializados", estima o gerente comercial da Pharmedic, Adriano de Paiva.
De acordo com ele, a empresa parou de trabalhar com esse produto em 2009 devido ao alto custo. "O valor agregado era muito alto, não tinha como importar. O par era vendido, na época, por R$ 2,5 mil. A venda foi decaindo e a empresa não importou mais", explica Adriano de Paiva. O caso é diferente do da PIP, em que os implantes eram conhecidos por serem os mais baratos do mercado. Custavam em média R$ 1,8 mil. Na época, próteses tinham preço médio de R$ 2 mil. Hoje, o valor caiu para R$ 1.500.
Adriano garante que, durante o período em que a Pharmedic comercializou o produto, a empresa não recebeu queixas. "Foram zero casos", pontuou. Segundo o advogado da Pharmedic, Marcelo Piacitelli, a importadora foi acionada na Justiça de São Paulo uma única vez por uma mulher que teve problemas na prótese. Porém, de acordo com ele, na época em o implante foi realizado, a Pharmedic não era responsável pela distribuição do material, e sim a Andema. "O representante era outro. Não sabemos como eles haviam armazenado nem trazido esse material", argumenta.
Procurados pela reportagem do Correio para comentar o caso, os representantes da Andema não retornaram às ligações. Na semana passada, o gerente comercial da empresa, Pedro Lozer Filho, informou que não sabia quantos implantes haviam sido comercializados nem se existiam reclamações sobre o produto da Rofil. Segundo ele, apenas o presidente da Andema, que está em viagem até a próxima semana na Nova Zelândia, poderia passar as informações.
Amanhã, o presidente da Anvisa, Dirceu Barbano, vai se reunir com representantes do Ministério da Saúde e das sociedades Brasileiras de Cirurgia Plástica e de Mastologia para discutir a situação dos implantes mamários no país.

Espalhadas pelo mundo
Seis países já recomendaram a remoção preventiva do implante da PIP. O movimento começou na França e já conta com a Alemanha, República Tcheca, Bolívia, Venezuela e Portugal. Países como a Inglaterra, que não indicam a remoção, alegam que ainda faltam informações com relação aos reais riscos do produto. A estimativa é de que cerca de 300 mil mulheres em 65 países tenham recebido implante da PIP.

CIDADES
Tragédia reforça a tolerância zero
Polícia avalia que motorista envolvido na morte de adolescente de 15 anos assumiu o risco de provocar a fatalidade ao dirigir supostamente alcoolizado. Casos semelhantes, no entanto, apontam que a Justiça tende a amenizar as penas

» LUIZ CALCAGNO
» ADRIANA BERNARDES

O mais recente caso de motorista alcoolizado envolvido em acidente de trânsito reacende a polêmica sobre o rigor da punição para os responsáveis por tragédias. O supervisor de vendas Ademir Vogel, 39 anos, está preso desde a última sexta-feira, quando bateu na traseira de um carro e matou um adolescente de 15 anos, mas a defesa dele entra hoje com o pedido de liberdade provisória. Ademir acabou indiciado por homicídio com dolo eventual e três tentativas de homicídio contra os demais ocupantes do veículo. Porém, o entendimento da Polícia Civil do DF, de que ele assumiu o risco ao pegar o volante após beber, não é garantia de que ele será levado a júri popular — se isso ocorrer, a condenação pode chegar a 50 anos de prisão.
Na maioria das vezes, a Justiça resiste em aceitar denúncias de dolo em casos de acidentes de trânsito, mesmo quando o teste do bafômetro atesta a embriaguez e desrespeita a lei seca. Quando não há a medição do teor alcoólico, como é o caso de Ademir, alguns magistrados argumentam que o limite fixado na Lei nº 11.705/08 impede até mesmo a abertura de processo pelo crime de dirigir alcoolizado. Tramita ainda na Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados um projeto de lei que pode garantir punições mais rigorosas, pois acaba com a necessidade do exame de alcoolemia.
No DF, por exemplo, o caso do caminhoneiro Márcio Carlos Batista Fontenele, condenado a 22 anos de prisão por homicídio doloso no trânsito, é uma rara exceção. Ele estava alcoolizado e provocou um acidente com três vítimas. Já o professor David Silva da Rocha atropelou e matou Giovanna Vitória de Assis Mota, 5 anos, e acabou condenado a cinco anos e 10 meses de detenção por homicídio culposo (sem intenção de matar). O teste do bafômetro de Rocha também deu positivo (leia Memória).
O Correio consultou dois especialistas sobre o caso do supervisor de vendas Ademir Vogel. Ambos citam que, para o Supremo Tribunal Federal (STF), dirigir alcoolizado não implica intenção de matar. "O STF tem méritos julgados dizendo que não é apenas o fato de estar embriagado para configurar o homicídio doloso. Além disso, não há sequer provas. O meu entendimento como jurista é que o mero fato de ele estar embriagado não configura a intenção de matar", diz o advogado e conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal (OAB-DF), Délio Lins e Silva Júnior.
Na avaliação da professora de direito penal e constitucional da Universidade Católica de Brasília Soraia da Rosa Mendes, o futuro de Ademir dependerá de dois fatores: das provas produzidas pela polícia e do entendimento do juiz. "Não acho que o direito penal seja a melhor alternativa para a solução das diversas questões de trânsito. Todavia, com o nível de informações disponíveis e a responsabilidade que temos ao volante, ao dirigir embriagada, a pessoa assume o risco", avalia a também pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB).

Recomeço
No caso da morte do adolescente Bruno Fonseca de Almeida, 15 anos, existe um auto de constatação da Polícia Militar dizendo que Ademir estava alcoolizado no momento do acidente, além de dirigir em alta velocidade. A vítima estava no banco de trás do Corsa atingido na traseira pelo Palio do acusado e morreu no hospital.
Os familiares de Bruno se reuniram ontem na casa do garoto, em Vicente Pires, para organizar os pertences do jovem para doação. Na tentativa de aliviar a dor, pais, tios e avós iniciaram uma reforma no quarto do estudante. O irmão mais novo da vítima, de 13 anos, sobreviveu ao acidente, mas não consegue dormir no quarto que dividia com Bruno. O pai, o funcionário de televendas Lúcio Marcos de Almeida, 39, tem dificuldades para olhar aos pertences do filho. A mãe, a manicure Elisângela Fonseca, 35, revela estar com "uma cicatriz incurável".
Ela conversou com Ademir no dia do acidente. Segundo ela, ele teria admitido a ingestão de álcool. "Ele estava visivelmente bêbado. Estava com bafo e repetia as coisas o tempo todo. Assumiu que tinha bebido e disse que o seguro pagaria os danos materiais", contou. Lúcio não esconde a revolta. "Ele matou o meu filho e, com isso, acabou com a vida de uma família. Os meus meninos eram colados. Agora, como vamos ficar? Como vai ficar o meu caçula, com saudades do irmão?", questiona.
O advogado do acusado, Wilton Leonardo Marinho Ribeiro, disse que o cliente e a família dele estão "sensibilizados com os pais de Bruno" e prestarão toda a assistência aos parentes da vítima. "Ele (Ademir) tem um filho da idade do estudante morto. É um trabalhador que tem família, casado há 16 anos, sem problemas anteriores com a polícia. É uma pessoa de bem", diz. Wilton defende que o cliente responda ao processo em liberdade.
A delegada Renata Vianna, da 3ª Delegacia de Polícia (Cruzeiro), responsável pelo caso, acredita na responsabilidade do condutor. "Temos que brigar em casos de embriaguez com morte. Ele era uma pessoa esclarecida e, mesmo assim, bebeu sabendo que ia dirigir, assumiu o risco e se negou a fazer o bafômetro. Estava com o carro da empresa que trabalha", explica.

Sinais
Caso o condutor se recuse a fazer o teste do bafômetro, o policial militar ou o agente de trânsito pode emitir um auto de constatação de sinais de embriaguez. Caso o motorista apresente hálito alcoólico, dificuldades motoras e olhos avermelhados, por exemplo, a autoridade lavra um documento e, que atesta as evidências. O documento serve como prova no processo contra o infrator.

Flagrados por embriaguez
Blitzes realizadas na noite de sábado na BR-070, em Ceilândia, e na noite de domingo, na BR-040, no Recanto das Emas e em Santa Maria, resultaram na autuação de 33 motoristas por embriaguez, com três prisões em flagrante. Mais de 1,3 mil veículos foram abordados nas ações. Do total, 261 motoristas acabaram autuados e 100 carros, enviados ao depósito. Também foram flagrados 41 condutores sem a habilitação. A ação conjunta do Departamento de Trânsito (Detran), das polícias Civil e Militar, do Corpo de Bombeiros, do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) e da Polícia Rodoviária Federal faz parte da Operação Funil.

Vias terão mais 100 pardais
 Além do Eixão, que ganhou oito equipamentos, a EPTG, a Epia e a EPNB receberão reforço na fiscalização dentro de três meses. Será um equipamento a cada 3,7km de pista administrada pelo DER. Medida divide a opinião dos especialistas

» FLÁVIA MAIA

Dentro de três meses, os brasilienses terão de conviver com 100 novos radares de fiscalização eletrônica nas rodovias distritais. O aumento ocorrerá no Eixão e nas estradas parque Taguatinga (EPTG), Núcleo Bandeirante (EPNB) e Indústria e Abastecimento (Epia). A quantidade de pardais subirá de 350 para 450 nos 1,7 mil quilômetros das 80 vias administradas pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER), o que dá uma média de um aparelho a cada 3,7km. Por enquanto, apenas oito novos pardais do Eixão estão em funcionamento, mas o órgão garante que, em 90 dias, os outros 92 estarão em pleno funcionamento.
Para a instalação dos equipamentos, o DER prioriza as vias e os trechos com mais ocorrências de acidentes fatais. No Eixão, por exemplo, oito pessoas morreram no ano passado. Por isso, a quantidade de pardais pulou de 23 para 31. A próxima via a receber mais fiscalização é a EPTG, que terá 35 na pista expressa e 15 nas marginais, totalizando 50 em 12,6km de extensão. A estrada, que custou R$ 306 milhões e foi entregue inacabada à população há mais de um ano com diversas falhas, como no sistema de drenagem pluvial, terá um radar a cada 800 metros, em média. A EPNB e a Epia também terão mais radares, mas o DER não definiu quantas unidades serão instaladas em cada uma.
A medida é controversa. Muitos motoristas desaprovam e, entre os especialistas, há os que defendem a instalação de pardais para conter as mortes no trânsito e os que dizem que, sem vir acompanhada de intervenções sérias nas condições das vias, a decisão servirá apenas para o governo arrecadar mais.
Segundo o superintendente de trânsito do DER, Murilo de Melo Santos, a sinalização que indica a presença da fiscalização continuará nas rodovias, porém os novos pontos não serão comunicados ao motorista. Isso atende à nova Resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), publicada em 13 de dezembro, que desobriga a instalação de avisos antes dos pardais ou barreiras eletrônicas.
Os 100 novos pardais fazem parte do pacote contratado pelo DER em 23 de dezembro do ano passado com a Engebrás. A empresa cuida da fiscalização das vias distritais e ganhou outra licitação. No novo contrato, ela trocará todos os 350 pardais e instalará os outros 100. O órgão pagará R$ 600 mil mensais à firma pelos serviços.
A professora Kaelly Ornelas, 39 anos, moradora da região de Sobradinho e motorista, não concorda. "Não faz sentido encher as ruas de radares se não for para fazer dinheiro. Isso não vai diminuir os acidentes. Tem é que conscientizar os motoristas, não puni-los", reclamou ela.

Multas
Murilo Santos, do DER, diz que um estudo feito pelo órgão reforça a necessidade de instalar novos equipamentos. "Uma indústria precisa de matéria-prima. No caso de uma indústria de multas, o infrator é a matéria-prima. Se ele não existir, ela não existe. Por isso, para nós, interessa zero multas. As pessoas precisam acabar com essa ideia", avaliou. Em 2011, o DER emitiu 300 mil multas por excesso de infrações nas vias distritais.
Segundo o professor de Engenharia de Tráfego da Universidade de Brasília (UnB) Paulo César Marques, as rodovias administradas pelo órgão são expressas e com poucas intervenções, como semáforos. Por causa disso, os novos radares são uma boa alternativa para diminuir os acidentes e a gravidade deles. "Acredito que os motoristas andarão na velocidade da via e perceberão que não perderam tempo cumprindo os limites impostos", opina.
O especialista em transportes Artur Morais acredita, no entanto, que a medida tem de vir acompanhada de outras ações. "Não existe uma solução única. O aumento da fiscalização das vias por meio dos pardais e dos agentes é benéfico. Mas é preciso investir em sinalização, pavimentação decente, sistemas de escoamento de água e outros pontos que contribuem para melhorar o trânsito", ressaltou o pesquisador da Universidade de Brasília (UnB).
Para Dickran Berberian, especialista em patologia de estruturas da UnB, os pardais só devem ser instalados em último caso. "Antes disso, o governo tem de tratar os problemas de sinalização e infraestrutura das vias. Sem trabalhar esses fatores, o aumento da fiscalização eletrônica é mais para faturar do que para disciplinar o trânsito", ressaltou.

Táxis na faixa de ônibus
A faixa exclusiva para ônibus na Estrada Parque Núcleo Bandeirante (EPNB) deve ser aberta para táxis e veículos escolares a partir de 8 de fevereiro. A previsão, do Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans), é de que a concessão coincida com o início das aulas. O corredor está em funcionamento desde 27 de dezembro e, segundo o órgão, passa por período de ajustes para "melhorar a fluidez do trânsito naquela via". O DFTrans acrescentou que, por enquanto, nenhum veículo está sendo multado por trafegar na faixa exclusiva.
Colaborou Lucas Tolentino

Promessa de recursos para as favelas do DF

Para melhorar as condições de vida nas favelas do Distrito Federal, o governo vai investir em obras de infraestrutura, com a construção de rede de drenagem, pavimentação e edificação de casas populares. Como o Correio mostrou na edição de ontem, há 36 loteamentos de baixa renda na capital federal e, em todos eles, faltam benfeitorias e serviços públicos. Ao todo, 133 mil brasilienses vivem nessas condições. Muitos dos investimentos serão feitos em parceria com o governo federal, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Os moradores também cobram mais celeridade na regularização fundiária das áreas.
O Setor Sol Nascente, em Ceilândia, é a segunda maior favela do Brasil, de acordo com dados do Instituto de Geografia e Estatística (IBGE). Hoje, 56.483 pessoas vivem na região, que sofre muito com a falta de infraestrutura. O governo conseguiu captar R$ 220 milhões da União para urbanizar a área, mas o GDF terá que investir outros R$ 10 milhões, como contrapartida.
Parte desses recursos será usada para a construção das redes de esgoto do Setor Sol Nascente. Essa é uma das obras mais urgentes, de acordo com a comunidade do local. No bairro, há ruas com esgoto a céu aberto, já que as fossas não suportam o volume de dejetos produzido pelos milhares de moradores. As equipes do governo começaram as obras do sistema de esgotamento em 9 de dezembro e o trabalho deve durar 21 meses.
Inicialmente, serão beneficiados os domicílios dos trechos 1 e 2. Para fazer a rede de esgoto do trecho 3, será preciso aguardar o processo de licenciamento ambiental. A implantação do sistema está orçada em R$ 8,7 milhões. Serão construídas ainda 2.150 casas populares no Sol Nascente, das quais 245 devem ser entregues até junho. Famílias que estão em áreas de risco terão que ser realocadas dentro do próprio bairro.

Escrituras
Outra região classificada como favela pelo IBGE, a Vila Estrutural, foi regularizada no fim de 2011. Agora, falta apenas a liberação das escrituras, processo que deve ser concluído ainda no primeiro semestre, segundo o GDF. Também está prevista para este ano a abertura de uma escola técnica e de um centro de ensino integral. Mas a comunidade está preocupada com o crescimento desordenado da área. "As novas invasões não param. Assim fica difícil fazer obras na cidade, porque vira uma bola de neve", reclama o presidente do Conselho das Prefeituras Comunitárias da Vila Estrutural, João Joaquim Batista, que denuncia o surgimento de 2 mil novos barracos.
Na Vila Rabelo, onde vivem 1.726 pessoas, um dos grandes problemas está nas áreas de risco. No ano passado, 163 famílias que moravam em locais com chances de desmoronamento foram removidas e ganharam novos lares. Agora, todos receberão os termos de concessão de uso — documento que autoriza a liberação de alvará de construção.
Além das obras de infraestrutura, outra aposta para melhorar a vida de quem vive em favelas no Distrito Federal é o programa DF sem Miséria, cujo objetivo é erradicar a extrema pobreza até 2014. Entre os trabalhos desenvolvidos está a unificação dos cadastros dos programais sociais, para evitar fraudes, além da construção de centros de assistência social.


Expansão custará quase R$ 14 milhões

» Thaís Paranhos

Mais quatro obras vão se somar ao projeto de expansão da Universidade de Brasília (UnB). O vice-reitor, João Batista de Sousa, assinou ontem os contratos para a reforma da Casa do Estudante e dos anfiteatros 4, 10, 11 e 17, dando sinal verde também para a construção do Laboratório de Ensino de Graduação da Faculdade de Ciências da Saúde e do Centro de Convivência Multicultural dos Povos Indígenas, chamado de Maloca. Os trabalhos começam na próxima semana e, juntos, terão um custo de quase R$ 14 milhões. Além dessas obras, quatro tiveram o contrato assinado em dezembro do ano passado e seis estão em fase de licitação.
A reforma da Casa do Estudante custará R$ 9,2 milhões. De acordo com o diretor interino do Centro de Planejamento Oscar Niemeyer (Ceplan) da UnB, Cláudio Arantes, os recursos sairão de emendas parlamentares, do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) e da própria universidade. "A Casa do Estudante é da década de 1970 e pela primeira vez vai passar por uma grande reforma", indicou. O prazo para entrega do espaço reformado é de 360 dias. "É uma obra bastante esperada pelos estudantes, tem uma simbologia para nossa universidade por ser um espaço de moradia, mas também de convivência, de luta pelo espaço", reforçou a decana de Assuntos Comunitários da UnB, Carolina Santos.
O Laboratório de Ensino de Graduação da Faculdade de Ciências da Saúde custará R$ 1,8 milhão e deverá ficar pronto em seis meses. "Vai dar suporte ao aumento de vagas que já proporcionamos", comemorou a diretora da Faculdade de Ciências da Saúde, Lilian Marly de Paula. Para o vice-reitor da UnB, as obras devem atender a um processo de expansão que ocorre em todas as universidades do país. "Tudo isso é para aumentar o acesso dos jovens ao ensino superior de qualidade e gratuito", justificou.

Desocupação
A desocupação da Casa do Estudante provocou conflitos entre os moradores e a administração da UnB. Alguns se recusaram a deixar os apartamentos mesmo após o prazo estipulado pela universidade ter encerrado. Eles alegaram que as opções oferecidas para abrigar e custear o transporte e a alimentação durante as obras não eram suficientes. Em junho do ano passado, dois estudantes chegaram a ser presos após discussões.

PMDF tem novo comandante
 Após mudança na chefia do Corpo de Bombeiros, governo anuncia troca na Polícia Militar. O combate à violência com um maior número de policiais nas ruas é o principal desafio da gestão, que será iniciada oficialmente hoje

» RICARDO TAFFNER

Para aumentar a sensação de segurança dos brasilienses a ordem é destacar mais homens no policiamento ostensivo em todo o Distrito Federal
O novo chefe da Polícia Militar do Distrito Federal, coronel Sebastião Davi Gouveia, toma posse hoje com a missão de colocar o efetivo nas ruas da cidade. Um dos mais antigos da corporação e com experiência na área operacional, o oficial chega ao topo máximo da instituição, aos 53 anos e 30 de profissão, com o objetivo de mostrar números significativos no combate à violência e, principalmente, para passar sensação de segurança à população brasiliense. Ele assume o cargo no lugar do coronel Paulo Roberto Witt Rosback. A cerimônia está marcada para ocorrer, às 10h, no Salão Nobre do Comando Geral da PM-DF.
A nomeação do comandante foi publicada ontem no Diário Oficial do DF. O coronel Sebastião Gouveia chefiava o Departamento Operacional da instituição e foi indicado para a nova função pelo vizinho e amigo Patrício (PT). O presidente da Câmara Legislativa articulou a substituição do comando, definida desde o fim do ano passado pelo governador do DF, Agnelo Queiroz (PT). Essa foi a segunda troca deste ano na cúpula da segurança pública. Na quinta-feira passada, o coronel Gilberto Lopes da Silva assumiu o comando do Corpo de Bombeiros em substituição ao coronel Márcio de Souza Matos. A indicação foi também de um distrital, Aylton Gomes (PR).
No entanto, o secretário de Segurança do DF, Sandro Avelar, nega interferências políticas nas indicações e afirma ter usado critérios técnicos para as escolhas. "Alguns nomes me foram apresentados, entre eles o do coronel Sebastião Gouveia. Ele comandou unidades importantes no DF e tem a experiência necessária para assumir o comando", afirma Avelar. Segundo ele, o critério antiguidade também pesou na escolha, assim como o relacionamento do coronel com os colegas. "O fato de ele ter um bom trânsito com a tropa e entre os comandantes foi levado em conta", disse. Além dos postos máximos, os primeiros e segundos escalões das corporações também serão trocados nos próximos dias por pessoas de confiança da nova chefia.
O secretário explica que as trocas são naturais devido ao desgaste demandando pelo exercício da função. Sandro Avelar diz que o novo comandante chega para dar continuidade ao trabalho iniciado pelo coronel Rosback e afirma não haver qualquer tipo de insatisfação com o ex-titular do cargo. "Não existe isso porque ele fez um trabalho muito importante e esperamos que o coronel Gouveia também possa fazer o mesmo", diz o secretário. Segundo ele, a missão principal será a de aumentar a visibilidade da PM. "Ele vai dar continuidade a esse trabalho de policiamento ostensivo, colocando os policiais militares qualificados nas ruas."
Patrício compartilha da opinião de Avelar. "O coronel Rosback foi muito importante para o início de governo, para dar garantia de tratamento humano e democrático e mostrar à corporação que não haveria arrocho. Mas tivemos problemas, como um orçamento não implementado", afirma o distrital. Segundo o petista — que também tem origem na Polícia Militar e exerce forte influência na instituição e no Palácio do Buriti —, as indicações não podem ser apenas políticas e devem visar a segurança para a Copa do Mundo de 2014. "O primeiro ano foi para testar, agora é resultado. O comandante tem de ir à rua, conversar com a tropa, estabelecer metas e mostrar à sociedade os resultados", diz Patrício.

Inovação
O coronel Gilberto Lopes da Silva, 47 anos, 28 na corporação, é o primeiro comandante a ter iniciado a carreira como praça, soldado do Corpo de Bombeiros. Ele foi empossado na última sexta-feira. A nomeação foi articulada pelo distrital Aylton Gomes (PR), que, apesar de sempre ter votado com o governo local, chegou a anunciar a saída da base. Gomes também tem origem no Corpo de Bombeiros, principal reduto eleitoral do deputado.

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