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Isolados
Temporais destroem pontes e acessos, impedindo ou
tornando precária a ligação com várias comunidadesEnquanto o maior volume de
chuva se deslocou para o Leste, atingindo principalmente Governador Valadares e
Caratinga, na Região Central e Zona da Mata cidades ainda sofrem para atender
populações presas pelos alagamentos em bairros e distritos. Na Grande BH, estão
fechadas as saídas de Mário Campos para Betim e Brumadinho, que também têm
áreas inacessíveis, assim como Moeda, Juatuba, Jeceaba, Congonhas, Ouro Preto,
Conselheiro Lafaiete e várias outras. Nos municípios mais castigados, escolas e
igrejas estão cheias de desabrigados e desalojados das 3.301 casas danificadas
e 101 derrubadas.
Verba de Pernambuco é o triplo da de Minas
No orçamento de 2012 do Ministério da Integração
Nacional estão destinados para prevenção de desastres naturais R$ 81,4 milhões
(11,5% do total) ao estado do ministro Fernando Bezerra e apenas R$ 27,7
milhões (3,9%) para Minas. Petrolina (PE), base eleitoral de Bezerra, receberá
38% das 60 mil cisternas plásticas compradas pelo ministério para o Nordeste e
Minas
EDITORIAL
NOVAS CHUVAS, DRAMA ANTIGO
Cheias ajudam a piorar ainda mais as rodovias que cortam
Minas
O fato de se repetir todos os anos não faz do
estrago em rodovias causado pelas chuvas uma coisa normal, aceitável. Além de
previsíveis, as chuvas são inevitáveis e, na verdade, bem-vindas,
indispensáveis ao clima da região e à fertilidade do solo. Os feriadões do
tempo seco reforçam ao longo do ano a constatação de que o país há anos vem
tratando mal um de seus patrimônios mais valiosos: milhares de quilômetros de
estradas asfaltadas, pontes, túneis, passagens rasgadas em colinas e elevados
que serpenteiam montanhas. As estatísticas macabras são patrocinadas não apenas
pela imprudência do motorista deseducado como pelas más condições de
conservação e falta de atualização de vias que, de canais de escoamento da
produção e de aproximação do desenvolvimento, tornam-se corredores da morte.
O que a chuva faz com as estradas é, na maioria dos
casos, transformar o abandono e desleixo em fissuras, erosões, desabamentos e
impedimentos por inundação.
Às tragédias e transtornos que causaram mortes e destruição a mais de 70 cidades mineiras, somam-se números também impressionantes de problemas de toda ordem nas rodovias que cortam o estado. Dono de ampla malha de estradas que garantem capilaridade ao transporte de passageiros pelo interior de Minas, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER/MG) informa que até ontem pelo menos 96 trechos estavam com problemas, sendo que em 14 deles o trânsito foi totalmente impedido. É verdade que em muitos casos se trata de vias não pavimentadas, o que as torna naturalmente mais precárias. Ainda mais consequente é a situação das rodovias federais de Minas. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) divulgou ontem relatório apontando problemas provocados pela chuvarada em 24 estradas federais. A maioria delas, nada menos do que 19, estão em Minas. É o caso da BR-356, próximo a Ouro Preto e Itabirito, com pelo menos três ocorrências que provocaram interrupções parciais, e em Ervália, com trânsito totalmente impedido. As BRs 534, em Campo Belo, 040, em Conselheiro Lafaiete, a 393 e a 116 (Rio-Bahia), na região de Além Paraíba, tiveram queda de barreiras e afundamento da pista.
Às tragédias e transtornos que causaram mortes e destruição a mais de 70 cidades mineiras, somam-se números também impressionantes de problemas de toda ordem nas rodovias que cortam o estado. Dono de ampla malha de estradas que garantem capilaridade ao transporte de passageiros pelo interior de Minas, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER/MG) informa que até ontem pelo menos 96 trechos estavam com problemas, sendo que em 14 deles o trânsito foi totalmente impedido. É verdade que em muitos casos se trata de vias não pavimentadas, o que as torna naturalmente mais precárias. Ainda mais consequente é a situação das rodovias federais de Minas. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) divulgou ontem relatório apontando problemas provocados pela chuvarada em 24 estradas federais. A maioria delas, nada menos do que 19, estão em Minas. É o caso da BR-356, próximo a Ouro Preto e Itabirito, com pelo menos três ocorrências que provocaram interrupções parciais, e em Ervália, com trânsito totalmente impedido. As BRs 534, em Campo Belo, 040, em Conselheiro Lafaiete, a 393 e a 116 (Rio-Bahia), na região de Além Paraíba, tiveram queda de barreiras e afundamento da pista.
E, para não deixar saudade dos velhos problemas, o
Anel Rodoviário de Belo Horizonte, para o qual se reclamam a tanto tempo obras
de ampliação e atualização para tirá-lo da condição de matadouro asfaltado, não
ficou de fora. O piso sofrido e as obras de arte envelhecidas não resistiram a
mais essa prova do tempo. A chuvarada não encontrou resistência para fazer
estragos e agravou a situação das trincas na pista próxima ao Viaduto São
Francisco, que passa sobre a Avenida Antônio Carlos. As trincas estão recebendo
um selamento de emergência, mas todo mundo sabe que a situação do Anel
Rodoviário não comporta mais maquiagens. Assim como os mais experientes sabem
que o sol que brilhou ontem em Belo Horizonte não veio para encerrar a
temporada de chuvas em Minas, ninguém se arrisca a dar respostas a pelo menos
duas perguntas que não querem calar: o que mais falta para piorar as rodovias
que cortam Minas, com ou sem chuva? Os atuais estragos podem pelo menos servir
para mover o governo federal a uma nova postura em relação a esse patrimônio
deixado ao relento?
POLÍTICA
Risco grande, verba curta
Com o maior número de municípios no país, Minas receberá
quase um terço das verbas reservadas pelo ministro da Integração ao estado dele
Amanda Almeida
As chuvas de 2011 em Minas Gerais mataram 23
pessoas, afetaram 216 municípios e tiraram 40 mil moradores de suas casas, mas
não foram capazes de equiparar o estado às maiores verbas do Ministério da
Integração Nacional para 2012 destinadas a obras preventivas a desastres. Minas
receberá quase três vezes menos do que Pernambuco, estado do responsável pela
pasta, Fernando Bezerra. O estado com mais municípios no país é apenas o sétimo
no ranking dos recursos do Programa de Gestão de Riscos e Respostas a
Desastres.
Aprovada pelo Congresso, a Lei Orçamentária Anual
2012 prevê R$ 27.700.000, ou 3,9% do total, do recurso para obras preventivas
em Minas. Pelo mesmo programa, estão destinados R$ 81.407.796, ou 11,5% do total,
para Pernambuco. Se a comparação com a verba de outros estados não é animadora,
a execução do orçamento é ainda menos. No ano passado, foram gastos apenas R$
314.053,79 em obras do Programa Prevenção e Preparação para Desastres, valor
que nem era do orçamento de 2011, mas de restos a pagar de outros anos. Com
pouco investimento em prevenção, o governo federal acabou gastando R$ 78,7
milhões em recuperação de cidades atingidas em 2011.
O Programa de Gestão de Riscos e Respostas a
Desastres é novo na pasta. Até o ano passado, as ações relativas aos desastres
naturais eram focadas pelos programas Prevenção e Preparação para Desastre e
Resposta aos Desastres e Reconstrução.
O Ministério da Integração Nacional não é a única
pasta que destina verba para prevenção de enchentes. O Ministério das Cidades
também tem programas do tipo. Mas, como mostrou o Estado de Minas ontem, a
execução do orçamento da pasta passou longe do previsto. Fechou 2011 com apenas
R$ 7,9 bilhões gastos frente à previsão que destinava R$ 19 bilhões para pasta.
Já a Integração Nacional privilegiou Pernambuco.
Entre as ações previstas pela Integração Nacional
em 2011, foram incluídas no orçamento 34 propostas dos estados e municípios
afetados pela chuva, totalizando R$ 218 milhões. Oito dos projetos aceitos
vieram de Pernambuco, que conseguiu reservar R$ 98 milhões dos cofres da União.
Minas Gerais conseguiu aprovar apenas uma proposta, garantindo R$ 10 milhões em
ação preventiva, fora do Programa de Prevenção e Preparação para Enchentes.
Desastre de volta antes das obras
Alice Maciel
Atingidas pelas águas neste janeiro, 26 cidades
mineiras que integraram a lista das 109 em estado de emergência em 2011 ainda
não tiveram as obras para recuperação dos desastres causados pelo período
chuvoso anterior concluídas. Quatro delas, incluindo Ervália, que voltou
à lista de alto risco da Defesa Civil, ainda não receberam recursos do estado
sequer para dar início às obras. Outras 10 só foram autorizadas a iniciar os
trabalhos ontem. Até o momento, foram efetivamente aplicados apenas R$ 39,6
milhões dos R$ 70 milhões anunciados em fevereiro de 2011 pelo ministro da
Integração Nacional, Fernando Bezerra e pelo governador Antonio Anastasia
(PSDB) para os municípios atingidos pelas chuvas. O valor já investido equivale
a 56,5% do previsto.
Ontem, representantes da Defesa Civil estadual se
reuniram com agentes do governo federal pressionando-os para agilizar os
procedimentos de reconhecimento, por parte da União, de situação de emergência
nos municípios mineiros mais afetados pelas chuvas neste ano. A expectativa é
facilitar a liberação de recursos da União para as cidades.
Hoje, o ministro volta a se reunir com o governador
mineiro para discutir o tema. Ele encontrará uma situação bem semelhante à de
2011: já são 87 cidades em situação de emergência e oito mortes. Bezerra estará
acompanhado do ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos. Conforme uma
fonte ligada a Anastasia, que não quis ser identificada, o governador quer pelo
menos R$ 200 milhões do governo federal para atender as cidades prejudicadas.
Quando fez o acordo com Bezerra no ano passado,
Anastasia destacou que o dinheiro – R$ 50 milhões do ministério e R$ 20 milhões
do estado – seria aplicado na recuperação da infraestrutura das cidades
atingidas, como vias públicas, estradas, pontes e casas. Entretanto, das 109 em
emergência, apenas 30 tiveram as obras concluídas. Em 65, os trabalhos ainda
estão em andamento e em 10 tiveram início ontem e em quatro nem sequer foram
iniciados. Em entrevista na terça-feira, o governador creditou a demora ao
"ritmo próprio" das empreitadas públicas.
Durante o encontro com o tucano no ano passado, o
ministro Fernando Bezerra também garantiu que além dos recursos repassados para
o trabalho de recuperação das cidades, outras ações seriam realizadas pelo
governo federal. Entre elas, ele destacou a construção de casas para as
famílias atingidas, além de ações de prevenção. Entretanto, Minas não recebeu
nenhuma verba de prevenção pelo Ministério da Integração em 2011. As chuvas que
arrasaram os municípios mineiros foram esquecidas pelo ministro. Ele não
retornou a Minas depois de fevereiro para anunciar novas ações ou vistoriar
como estava sendo aplicado o dinheiro liberado pela pasta. (Com A.A.)
Retorno em meio ao tiroteio
A presidente Dilma Rousseff antecipou o fim do
período de férias na Base Naval de Aratu, em Salvador, e voltou para Brasília
na tarde de ontem. De calça jeans e camisa preta, ela desembarcou do
helicóptero no Palácio da Alvorada, com a mãe, Dilma Jane, e uma tia (foto). A
presidente havia chegado à Bahia em 26 de dezembro e previa voltar à capital
federal somente na terça-feira. Assessores do Palácio do Planalto afirmaram que
a mudança de planos já era avaliada desde a semana passada e que não há relação
com a situação das chuvas no Sudeste nem com os questionamentos ao ministro
Fernando Bezerra (Integração Nacional). Mas ainda ontem a ministra da Casa
Civil, Gleisi Hoffmann, se encontrou com a presidente e relatou providências
que estão sendo tomadas para reduzir o impacto das enchentes. Antes do encontro
com Dilma, que retornou de férias, Gleisi teve reunião com Bezerra e com o
ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos.
Retorno em meio ao tiroteio
A presidente Dilma Rousseff antecipou o fim do
período de férias na Base Naval de Aratu, em Salvador, e voltou para Brasília
na tarde de ontem. De calça jeans e camisa preta, ela desembarcou do
helicóptero no Palácio da Alvorada, com a mãe, Dilma Jane, e uma tia (foto). A
presidente havia chegado à Bahia em 26 de dezembro e previa voltar à capital
federal somente na terça-feira. Assessores do Palácio do Planalto afirmaram que
a mudança de planos já era avaliada desde a semana passada e que não há relação
com a situação das chuvas no Sudeste nem com os questionamentos ao ministro
Fernando Bezerra (Integração Nacional). Mas ainda ontem a ministra da Casa
Civil, Gleisi Hoffmann, se encontrou com a presidente e relatou providências
que estão sendo tomadas para reduzir o impacto das enchentes. Antes do encontro
com Dilma, que retornou de férias, Gleisi teve reunião com Bezerra e com o
ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos.
Hélio Costa sente dor e é internado
Isabella Souto
O ex-senador Hélio Costa (PMDB) foi submetido ontem
a um cateterismo para desobstruir uma artéria do coração. Ele sentiu um dor
forte no peito na noite de quarta-feira e foi levado pela família ao hospital,
onde foi diagnosticado com um quadro de angina. Depois do procedimento o
peemedebista foi internado na unidade de tratamento intensivo (UTI) do Biocor,
em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e apresenta quadro
estável.
Os médicos diagnosticaram o entupimento de uma
artéria secundária e foi feito o cateterismo com implante de um stent, um
pequeno tubo feito de uma malha de metal posicionado na artéria para mantê-la
aberta, garantindo o fluxo. No meio da tarde, Hélio Costa usou as redes sociais
para falar sobre a doença. Em sua página no microblog Twitter, informou que
passava bem e aguardava a liberação dos médicos para voltar para casa.
"Ontem não me senti bem e vim ao Biocor. Foi
diagnosticado quadro de angina e recomendado cateterismo, o que foi feito com
sucesso", postou. O político ainda agradeceu a todos que manifestaram
desejo de melhoras e à equipe médica do hospital, que o atendeu com "eficiência
e carinho".
Em nota divulgada no início da noite, a assessoria
de imprensa do Biocor informou que Costa continuará em observação. "O
ex-senador se submeteu a uma bateria de exames. Contudo, a família informa que
ele está consciente e passa bem. Adiantamos que até o momento não há nenhuma
intervenção cirúrgica prevista e também não há previsão de alta."
Hélio Costa foi eleito senador por Minas Gerais
pelo PMDB nas eleições de 2002 e três anos depois deixou a cadeira para
comandar, até 2010, o Ministério das Comunicações no governo do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nas eleições de 2010 para o governo mineiro foi
derrotado por Antonio Anastasia (PSDB). Ele se candidatou a governador
outras duas vezes, em 1990 e 1994, mas não foi eleito.
ECONOMIA
BH registra a segunda maior alta na cesta básica em 2011
Tomate fechou o ano 96% mais caro e foi o principal vilão
do indicador, que subiu 11,75% na capital entre janeiro e dezembro. Café, óleo
de soja e leite também se destacaram
Paula Takahashi
A cesta básica em Belo Horizonte só não subiu mais
que a de Vitória (ES), ao longo de 2011. Segundo dados do Dieese, os 13 itens
que compõem o indicador fecharam o ano cotados em R$ 264,01 na capital mineira,
elevação de 11,75% em relação a 2010. O resultado supera em quase 80% a
inflação de 6,55% esperada para o período. A variação não é tão alta desde
2008, quando chegou a 12,43%. Das 17 capitais que integram a Pesquisa Nacional
da Cesta Básica, em três a escalada de preços superou os 10%. Em 2010, porém, o
cenário foi compartilhado por 14 capitais, mostrando, por outro lado, um certo
arrefecimento no último ano.
Boa parte da pressão veio do café e do óleo de
soja, que tiveram aumento de preço em todas as cidades pesquisadas. Foi em Belo
Horizonte que preço do café ficou mais salgado em 2011, com alta de 34,89%. A
forte demanda asiática e a quebra de safra em importantes países produtores,
como o Vietnã, estão entre as principais justificativas para a supervalorização
do produto nos mercados interno e externo.
"Houve também problemas climáticos que
atrasaram a floração dos cafezais. A seca prolongada no inverno foi a
responsável pelo atraso da florada", explica o economista do Dieese-MG
Carlindo Rodrigues de Oliveira. Maior produtor nacional de café, Minas Gerais
foi amplamente afetado tanto pela atração exercida pelo mercado mundial, quanto
pela influência do clima na produção.
O maior consumo no Oriente também ajudou a
impulsionar os preços do óleo de soja. Segundo análise técnica do Diesse,
"estoques mais reduzidos de soja e demanda expressiva da Índia, onde houve
quebra da safra em função de forte calor, e da China contribuíram para o
crescimento interno dos preços".
Mas nem café, nem óleo de soja, reinaram na
primeira colocação como o produto que mais encareceu em 2011 em BH. A posição
foi ocupada pelo tomate, que praticamente duplicou de preço, subindo 96% no
período. O forte reajuste se repetiu em outras 15 capitais em todo o Brasil,
com uma única exceção: Natal. Na capital do Rio Grande do Norte, o produto
ficou 18,50% mais barato. "O tomate é muito sensível a variações
climáticas. Sol demais, chuva demais ou seca demais afetam sua produção e
qualidade", pondera Carlindo.
LEITE O fator clima, no entanto, não afetou apenas
o tomate. Em 14 capitais brasileiras, o leite ficou mais caro em 2011, entre
elas Belo Horizonte. Com alta de 9,95%, o produto apresentou a terceira maior
elevação de preço no período, impulsionado principalmente pelas secas
prolongadas que atingiram o estado entre os meses de julho e setembro. As
previsões para 2012, porém, são mais animadoras. Relatório técnico do Dieese
avalia que "como o período de verão é quando há maior produção de leite,
caso a chuva dê trégua, pode haver estabilidade e até queda no preço nos
próximos meses." Assim como o leite, a carne sofreu as consequências das
intempéries climáticas que dificultaram a engorda do gado. O resultado foi alta
de preços em 15 capitais.
Mínimo ideal
O Dieese estima que, para suprir as despesas das
famílias brasileiras com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário,
higiene, transporte, lazer e previdência, o salário mínimo necessário em
dezembro seria de R$ 2.329,35. O valor corresponde a 4,27 vezes o mínimo
vigente até então, de R$ 545. No mesmo mês de 2010, os rendimentos mensais
deveriam corresponder a R$ 2.227,53, segundo o Dieese, para suprir as
necessidades básicas.
Usiminas investe em nova indústria
Subsidiária da empresa vai produzir vagões em Congonhas
Marta Vieira
Com o firme propósito de disputar fatia
significativa do aquecido mercado de vagões ferroviários no Brasil, a Usiminas
Mecânica, fabricante de bens de capital do grupo Usiminas, anunciou, ontem, o
projeto da sua segunda unidade fabril no segmento. A empresa vai colocar em
operação as instalações de uma antiga fábrica de estruturas metálicas e vagões
que estava desativada havia cerca de dois anos em Congonhas, na Região Central
de Minas Gerais. A nova capacidade instalada será de 3 mil vagões por ano,
volume que pode até superar a meta inicial, se confirmada a forte demanda pelo
produto esperada no país, informou o diretor executivo da Usiminas Mecânica,
Guilherme Muylaert.
Os serviços de infraestrutura da fábrica ficarão a
cargo da empresa RCC Holding, que assinou acordo com a coligada do grupo
Usiminas e investirá R$ 32 milhões. As instalações industriais foram arrendadas
por 15 anos, com possibilidade de renovação. Serão gerados 180 empregos na
etapa inicial da fábrica, que, no pico da operação, chegará a empregar 600
pessoas. O negócio foi uma solução estratégica para a Usiminas Mecânica se
consolidar no mercado de vagões ferroviários, num curto prazo, já que a unidade
industrial deverá entrar em funcionamento entre junho e julho.
"Entramos há alguns anos nesse negócio,
investimos recentemente na fundição de peças e agora vamos fornecer vagões
completos, com maior valor agregado. A demanda no Brasil promete ser grande e
temos acordos encaminhados", afirmou Guilherme Muylaert. Projeções da
Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer) indicam potencial de
vendas internas anuais de 4,5 mil vagões nos próximos 10 anos. A Usiminas
Mecânica está trabalhando com uma carteira de pedidos superior a 700 vagões
para a Eldorado Celulose e a Vale, que estão sendo fabricados na unidade
mantida pela empresa em Santana do Paraíso, no Vale do Rio Doce, mesma região
onde opera a usina siderúrgica do grupo.
A fábrica de Congonhas ocupará 11 mil metros
quadrados de área construída. O aço consumido na unidade será fornecido pela
fábrica de Ipatinga e boa parte dos componentes – travessas, laterais, hastes
de ligação, engates e braçadeiras – sairão da linha de moldagem inaugurada em
dezembro na fundição da Usiminas Mecânica, com investimentos de R$ 50 milhões.
Produção volta a ter expansão
Depois de registrar taxas negativas nos três
últimos meses, a produção industrial brasileira cresceu 0,3% em novembro, na
comparação com o mês anterior, com ajuste sazonal, segundo pesquisa divulgada
ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ano, a
produção tem alta de 0,4% e, em 12 meses, de 0,6%. Apesar de o resultado ter
sido positivo, a queda acumulada nos três meses anteriores não foi recuperada,
segundo o IBGE. Foram registradas quedas de 0,1% em agosto, 1,9% em setembro e
de 0,7% em outubro, segundo dado revisado.
Na comparação mensal, 18 tipos de atividade
apontaram crescimento na produção, com destaque para máquinas e equipamentos
(4%), "recuperando parte da perda de 9,3% assinalada nos dois últimos
meses" e veículos automotores (1,5%), edição e impressão (3,4%), produtos
de metal (3,9%), farmacêutica (3,3%), outros produtos químicos (1,6%),
vestuário (9,4%) e indústrias extrativas (1,7%).
Águas de dique alagam um bairro
Cheia do Rio Muriaé, em Campos, no Rio de Janeiro, destroi
represa e expulsa 1,2 mil famílias de suas casas
Campos – As cerca de 4 mil pessoas que vivem na
localidade de Três Vendas – cerca de 1,2 mil famílias –, em Campos dos
Goytacazes (RJ), precisaram abandonar ontem suas casas às pressas para fugir de
uma inundação causada pelas águas do Rio Muriaé. Para chegar à comunidade, a
água destruiu um trecho de 30 metros da rodovia BR-356, que fica a cerca de 600
metros do bairro. A estrada funcionava como um dique para represar o rio,
embora, segundo o órgão que a administra, não tenha sido projetada nem adaptada
para exercer essa função.
O Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes (Dnit) e o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) trocaram acusações
sobre a responsabilidade pelo alagamento. Assim que a rodovia foi rompida, na
altura do km 119, a Defesa Civil de Campos, bombeiros e o Exército foram
mobilizados para auxiliar os moradores a deixar a comunidade. Segundo a
Prefeitura de Campos, até no começo da noite de ontem, quando o volume de água
em Três Vendas chegava a cerca de 40 centímetros, aproximadamente 300 das 1 mil
famílias haviam deixado o local rumo a três abrigos oferecidos pela prefeitura.
Outras famílias se mudaram para a casa de parentes
ou amigos, e mais 300 haviam decidido ficar em seus imóveis, porque temem que
eles sejam saqueados. As casas desse grupo estão situadas em áreas mais altas
da comunidade, onde a chance de alagamento é menor. A previsão da Defesa Civil
é de que, ao se acumular, a água atinja dois metros de altura.
"Coloquei os móveis e meus dois cachorros no
segundo andar. Minha mulher foi para a casa de amigos, mas eu vou
continuar", afirmou o carpinteiro Pedro Cordeiro, de 51 anos. Já o
soldador Noel Bonifácio, de 41 anos, preferiu sair de Três Vendas. "É
melhor deixar minha família segura, e os móveis eu coloquei em cima da
laje", contou.
Ao longo da rodovia havia móveis espalhados por moradores
que aguardavam veículos para ajudar a transportá-los. O mercado do comerciante
Carlos Augusto de Araújo foi um dos primeiros imóveis alagados. "Consegui
salvar muita coisa, mas o prejuízo mesmo estará no tempo sem trabalho, porque
as contas continuarão chegando", afirma.
Enquanto isso...
Sol castiga o Sul
Mais de 650 mil pessoas do Rio Grande do Sul e de
Santa Catarina já foram afetadas pela estiagem que atinge a região desde
dezembro do ano passado, segundo dados da Defesa Civil de cada estado. No Rio
Grande do Sul, 47 municípios já decretarem estado de emergência e o número de
vítimas da estiagem chega a 282.861. Outros 28 municípios já entregaram à
Defesa Civil a Notificação Preliminar de Ocorrência (Nopred). Em Santa
Catarina, mais de 130 municípios estão no foco da estiagem e entre eles 44
cidades decretaram situação de emergência e 375.246 pessoas foram afetadas pela
falta de chuvas. No Paraná, sete municípios já mandaram a Nopred. Segundo a
Defesa Civil, a seca prejudica principalmente a agricultura da região e ainda
não há número de moradores afetados.
Tempo ainda ruim para os capixabas
Vitória – No Espírito Santo, 25 municípios foram
afetados pelas chuvas. Segundo o balanço da Defesa Civil, até a manhã de ontem
201 pessoas estavam desabrigadas e 758, desalojadas. No estado, 569 edificações
foram danificadas ou destruídas. Ibatiba, Domingos Martins e Itarana decretaram
situação de emergência.
Desde dezembro de 2011 as chuvas causam danos ao
Espírito Santo. Segundo o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e
Extensão Rural (Incaper), a previsão é de chuva até o fim de semana.
A chuva forte continua trazendo transtornos e
prejuízos para os moradores de Vitória e Cariacica, na Grande Vitória. No
Bairro Jardim Camburi, na capital, várias ruas ficaram alagadas depois da chuva
que caiu na noite de quarta-feira. Pedestres e motoristas tiveram dificuldades
em passar pelo local.
Na rodovia Norte-Sul, na capital, também teve
alagamento. Muitos motorista passaram em cima do canteiro, da ciclovia ou
retornaram na contramão para fugir da água. Em Cariacica, a rodovia José Sette
ficou embaixo d"água em frente ao Terminal de Itacibá. Os ônibus
continuaram entrando e saindo sem dificuldades, mas para muitos motoristas e
pedestres foi um problema transitar pela rodovia.
No Norte do estado, a chuva ainda não deu trégua.
Em Rio Bananal, as propriedades rurais foram severamente castigadas pelas
águas. Algumas lavouras de café e outras plantações inteiras estão alagadas. Os
produtores rurais estão preocupados com o excesso de chuva. O município deve
gastar R$ 100 mil para recuperar os danos provocados pelas chuvas. A prefeitura
informou que os reparos nas estradas começam a ser feitos assim que a chuva
parar e que 100 pessoas continuam desalojadas em Rio Bananal.
Acima do nível O nível do Rio Doce, em Colatina,
atingiu a cota de inundação. Segundo a prefeitura do município, na medição de
ontem, o índice era de 627 centímetros acima da cota, que é de 520 centímetros.
Foi emitido um alerta aos moradores e comerciantes das áreas próximas.
Cerca de 100 pessoas estão desabrigadas em Ibatiba,
no Sul do Estado. Segundo a Defesa Civil, 40 famílias estão desalojadas e 700
pessoas estão impossibilitadas de sair de suas residências. Ao todo, mais de
três mil pessoas foram afetadas pelas chuvas em Ibatiba.
GERAIS
Como sair?
Enchentes e destruição de estradas, ruas, pontes e casas
isolam moradores de muitos municípios na região metropolitana, Zona da Mata e
Região Central
Paola Carvalho, Thaís Pacheco e Luiz Ribeiro
Os temporais que castigam Minas Gerais deixaram uma
triste herança de destruição e sofrimento: inundações, estradas e ruas
interditadas, queda de pontes, deslizamento de encostas, crateras, muito
prejuízo, moradores isolados em vários regiões, seja pelas enchentes, seja pela
impossibilidade de voltar para casa. Desde outubro, são oito mortes no estado
em decorrência da chuva. Pelo menos 37 municípios estão com abastecimento de
água comprometido ou precisam de reforço no atendimento médico. O drama se
espalha principalmente pela Grande BH, Zona da Mata e Região Central. São
tristes histórias de quem perdeu tudo e precisa retomar a vida normal. A
situação é dramática em Guidoval, na Zona da Mata, engolida pela cheia do Rio
Xopotó.
Em Mário Campos, na região metropolitana, cerca de 60 famílias estão "presas" fora de suas casas e se abrigam em escolas e lares de conhecidos. O nível do Rio Paraopeba começa a baixar, mas ainda fecha passagens e inunda casas. "As saídas para Betim e Brumadinho foram interrompidas pelas águas", informou Maria Efigência Mendonça, da Defesa Civil. Empresas não recebem produtos nem conseguem entregar mercadoria.
Em Mário Campos, na região metropolitana, cerca de 60 famílias estão "presas" fora de suas casas e se abrigam em escolas e lares de conhecidos. O nível do Rio Paraopeba começa a baixar, mas ainda fecha passagens e inunda casas. "As saídas para Betim e Brumadinho foram interrompidas pelas águas", informou Maria Efigência Mendonça, da Defesa Civil. Empresas não recebem produtos nem conseguem entregar mercadoria.
Na vizinha São Joaquim de Bicas, a chuva deixou a
família do comerciante Waldeci dos Santos, de 44 anos, ilhada em sítio próximo
de ribeirão que deságua no Paraopeba. "O rio encheu, deu retorno e
transbordou. No caminho que costumo fazer, a água subiu quase um metro. De três
saídas sobrou uma, bem mais longe e em péssimas condições. Eu corri risco para
sair de lá, mas deixei minha esposa e filha para trás em segurança",
disse.
Perto dali, em Brumadinho, muita gente foi
resgatada de barco. Vinte e quatro horas sem comida e sem água foi a situação
enfrentada por 20 famílias, no limite entre o Bairro de Farofas, em São Joaquim
de Bicas, e o Fecho do Funil, trecho da estrada que liga Mário Campos a
Brumadinho. A chuva arrastou as casas na beira do Paraopeba. O técnico de
programação Guilherme Moreira viu a água subir acima do muro de sua casa, com
três metros de altura. Até ontem, não podia ir para o trabalho porque a chuva
inundou a estrada. Ontem, ficou em casa para limpar o barro.
No único posto de gasolina que não foi invadido
pela água, dos 14 funcionários, apenas dois conseguiram trabalhar entre segunda
e ontem. Um deles ficou no local desde o início da chuva e só foi para casa
hoje pela manhã, quando a água baixou a ponto de liberar o acesso.
A chuva também provocou estragos no Leste do
estado. Em Governador Valadares, o Rio Doce subiu mais de três metros e inundou
vários bairros. Mais de 200 pessoas estão desabrigadas ou desalojadas. E a
previsão para os próximos dias é de que o nível do rio suba mais.
ISOLADOS Em Congonhas, na Região Central, a
inundação do Rio Maranhão, afluente do Paraopeba, 500 famílias estão
desalojadas. São duas pontes e cerca de 20 ruas interditadas por deslizamentos,
informou o secretário de Gestão Urbana, José Vicente Santana. Em Belo Vale,
várias casas também ficaram submersas. Uma família teve de ser resgatada por
helicóptero.
Em Moeda, também na Região Central, a enchente
alagou casas e nos 11 quilômetros que ligam o Centro da cidade à BR-040 são 35
desmoronamentos de encostas, segundo o prefeito Jânio Acir Moreira (DEM).
"Estamos com máquinas nas estradas rurais para abrir acesso à população,
pois ainda há localidades ilhadas", disse. Em Juatuba, na Grande BH, a
MG-050 foi interditada no sentido Betim. Um bairro virou rio e tem gente usando
caiaque para chegar em casa.
Em Conselheiro Lafaiete, 50 famílias estão em
escolas e no ginásio poliesportivo e há 12 pontos de alto risco, de acordo com
o prefeito José Milton de Carvalho Rocha (PSDB). A comunidade de Gage, longe do
Centro da cidade, ficou ilhada, pois a ponte que leva até lá caiu. O povoado,
que fica entre o rio e a linha férrea, é acessado por uma composição de
manutenção, cedida por uma empresa de logística. "O vagão leva comida,
medicamento, fraldas e traz pessoas", disse.
Nos municípios atendidos pela Copasa, 10 cidades
ainda estão com o abastecimento de água prejudicado pelos problemas causados
pela chuva: Astolfo Dutra, Belo Vale, Dores do Turvi, São João do Manhuaçu,
Guaraciaba, Guidoval, Guiricema, Visconde do Rio Branco, Itapiriçu e Cisneiros.
O serviço foi restabelecido em Divinópolis, Barão de Cocais, Ubá e Cataguases.
A Secretaria de Estado da Saúde informou que
intensificou o atendimento em 27 municípios. Foi liberado hipoclorito de sódio
(cloro) para desinfecção de água para consumo humano, enviado soros para
atendimento emergencial.
Ouro Preto sem gua e energia
A sina da professora universitária Sílvia
Gonçalves, de 28 anos, que tentava deixar Ouro Preto, na Região Central, rumo a
BH, já dura quatro dias e ilustra como a chuva deixou bairros e distritos
praticamente isolados, sem água para beber e cozinhar, energia elétrica, gasolina
ou ônibus. O pior efeito foi o deslizamento de encosta na entrada da cidade que
matou dois taxistas e soterrou parte da rodoviária na terça-feira. "Moro
em BH, mas sou de Ouro Preto. Minha casa fica a um quilômetro da rodoviária e
tenho de dar tantas voltas que levo 20 minutos para chegar de táxi, por causa
das ruas interditadas e caminhos fechados por barrancos", conta Sílvia.
Ontem, ela conseguiu comprar passagem de ônibus e foi avisada pela companhia
que levaria cinco horas de viagem passando por um desvio em Santa Bárbara, pela
BR-381. "Tentei ir embora na segunda-feira, mas a BR-356 estava bloqueada.
Na terça e na quarta caíram barreiras na BR-040 (Itabirito) e na MG-129 (Ouro
Branco). Estou perdendo aulas de mestrado na UFMG e por isso vou arriscar ir
embora hoje", disse.
Embarques e desembarques estão sendo feitos no
pequeno terminal turístico, antes do bloqueio. Desde o Natal o aposentado Almir
Lourenço Alves, de 75 anos, sofre com os transtornos trazidos pelo deslizamento
de um barranco de cerca de 80 metros sobre a Rua 13 de Março. "O poste
caiu e ficamos sem luz. A água faltou e estão arrumando, mas falta direto.
Amanhã mesmo (hoje), disseram para guardar porque vai faltar. Ônibus nenhum
passa mais por aqui", reclama.
A comunidade do seu bairro, também chamado 13 de
Março, numa das áreas mais íngremes de Ouro Preto, também sofre. Para chegar ao
Centro, eles levavam 20 minutos de ônibus antes do bloqueio. "Hoje a gente
fica uns 40 minutos descendo as pirambeiras a pé. Para voltar, é só subindo morro
que não acaba mais. Se for de carro, precisa fazer um desvio que leva quase uma
hora", afirma o mestre de obras José de Oliveira, de 59.
As obras de reparos da rodoviária tiveram de cortar
o fornecimento de água no Centro Histórico e no Bairro São Cristóvão. Um
desmoronamento de encosta interrompeu o fornecimento para os distritos de
Cachoeira do Campo e Amarantina. De acordo com a prefeitura a expectativa é de
que hoje o fornecimento seja normalizado. (Mateus Parreiras)
INTERNACIONAL
Cortes na Defesa
Obama declara que redução do orçamento militar não vai
impedir que os EUA mantenham a superioridade mundial
Renata Tranches
Brasília – Depois de uma década de guerra, o presidente
Barack Obama quer 10 anos de redução no orçamento da Defesa dos Estados Unidos.
Ao anunciar a nova estratégia do setor, o líder afirmou que o foco da política
externa norte-americana sai do Oriente Médio e se volta para a Ásia e para o
Pacífico. Apesar das grandes reduções aventadas, Obama garante que seu país
manterá a superioridade militar. Contemporâneo ao início do processo eleitoral
nos EUA, o plano deixou claro que a atual administração apostará todas as
fichas na economia, castigada por um orçamento doméstico apertado e tema
favorito dos opositores republicanos na corrida para tirar o democrata da Casa
Branca.
Em uma rara aparição na sala de imprensa do
Pentágono, o presidente defendeu a estratégia militar que se afasta dos
conflitos da era George W. Bush – guerras do Iraque e do Afeganistão – e
enfatiza o poderio naval e aéreo no Pacífico e no Estreito de Ormuz, a fim de
contrabalançar China e Irã. Com este último, os EUA vivem atualmente uma troca
de ameaças que analistas têm considerado uma espécie de "Guerra
Fria". Teerã ameaçou fechar o estreito, principal rota marítima do
petróleo mundial, e conduziu uma série de exercícios militares na região.
Washington reagiu, mantendo a navegação de seus porta-aviões por Ormuz, rumo a
suas bases no Kuweit.
Segundo a estratégia anunciada, o orçamento do
Pentágono deve ser cortado em cerca de US$ 487 bilhões no prazo de 10 anos e se
refletirá na redução do número de soldados. "Mas o mundo inteiro deve
saber: os Estados Unidos vão manter sua superioridade militar, com Forças
Armadas que serão ágeis, flexíveis e prontas a reagir ao conjunto de
circunstâncias e ameaças possíveis contra os interesses do país", disse o
presidente. O plano de cortes será detalhado em um projeto a ser apresentado
este mês.
FUTURO Em carta que acompanhou o anúncio da nova
estratégia, Obama deixou claro que sua preocupação é priorizar os desafios da
economia norte-americana. Ao mesmo tempo, garantiu que os EUA "não
repetirão os erros do passado, quando suas forças armadas foram mal preparadas
para o futuro". A declaração foi uma resposta às críticas dos
republicanos, que acusam-no de sucatear o setor. Segundo ele, o Pentágono
passará por reformas e dará ênfase no combate ao terrorismo, na proliferação
nuclear, na proteção ao território norte-americano e na "detenção de
qualquer potencial adversário". Áreas como ciberespaço, forças de
operações especiais e inteligência não sofrerão cortes.
Desde 11 de setembro de 2001, os gastos com Defesa
nos EUA tiveram um grande salto. Obama afirmou ontem que o fim da guerra do
Iraque e a redução de tropas no Afeganistão foram uma oportunidade para
reequilibrar as despesas. Enquanto briga pela reeleição, o presidente tenta
impulsionar o crescimento econômico e reduzir o nível de desemprego no país, que
ameaça seu segundo mandato. Ontem, o líder pôde comemorar a informação de que
os pedidos de auxílio-desemprego nos EUA tiveram queda de 15 mil na semana
passada – sinal de que o mercado de trabalho pode estar melhorando.
O foco na região Ásia-Pacífico já havia sido
antecipado pelo presidente durante visita à Austrália, em meados de novembro.
"As reduções orçamentárias não ocorrerão às custas desta região
crucial", afirmou o presidente. Na opinião do major-general Edward
Atkeson, veterano em estratégia militar e ex-chefe dos serviços de inteligência
dos Estados Unidos, a decisão foi acertada. "Os EUA têm sido, há um bom
tempo, o país mais poderoso militarmente do mundo e, agora, essa supremacia
pode ser desafiada pela nova potência chinesa", explicou, em entrevista.
"Não vejo nenhum conflito se desenvolvendo entre esses dois países hoje,
mas poderá (ocorrer) no futuro."
Para o estrategista, é importante que os Estados
Unidos "deem um passo de cada vez" para não afrontarem Pequim ou
outros países da região. Por isso, ele elogia a decisão de enviar "poucos
(250) marines" à base norte-americana na Austrália, no ano passado.
"Apenas para lembrar que os EUA são o país mais poderoso do mundo",
afirmou o general.
Moradores de Nasiriyah choram a perda de parentes
na explosão que atingiu peregrinos xiitas
Máquina enxuta
490 mil
Total de soldados que serão dispensados da ativa,
segundo o plano de Barack Obama. Hoje, existem 1,445 milhão de militares nas
Forças Armadas dos EUA
US$ 450 bi
Total de cortes que serão feitos no Orçamento do
Pentágono. Mais US$ 500 bilhões poderão ser reduzidos, dependendo do Congresso.
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