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American negocia dívida de quase US$ 1 bi com o BNDES
O pedido de recuperação judicial da American
Airlines (AA), feito nos Estados Unidos em 29 de novembro, foi uma má notícia
para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A
companhia americana, uma das maiores da aviação comercial do mundo, deve ao
banco estatal brasileiro cerca de US$ 900 milhões, segundo estimativas do
mercado. O BNDES financiou mais de 200 aviões fabricados pela Embraer, modelos 135,
140 e 145, entregues à empresa entre 1998 e 2002. Do valor inicial do
financiamento, de US$ 3 bilhões, a American já pagou aproximadamente 70%, ou
US$ 2,1 bilhões.
Críticas ao novo IPI
Dieter Zetsche, presidente da Mercedes-Benz, diz
que "não está feliz" com a alta do IPI dos carros importados, que
atinge até caminhões da marca que começam a ser feitos em Juiz de Fora
Fundo de servidor sem verba no Orçamento
O Orçamento da União de 2012, aprovado pelo
Congresso, não prevê os recursos necessários para o funcionamento do fundo de
previdência complementar dos servidores públicos federais, o Funpresp. Assim,
mesmo que sua criação seja aprovada no primeiro semestre, como é intenção do
governo, o fundo não terá como iniciar suas operações de imediato
EDITORIAL
Financiar as contas externas vai exigir um pouco mais de
esforço
Apenas na primeira semana do ano o Brasil captou no
mercado internacional US$ 2,6 bilhões. Os recursos foram levantados em três operações,
do Tesouro (US$ 825 milhões), da Vale (US$ 1 bilhão) e do Bradesco (US$ 750
milhões). O dinheiro não só estava disponível como custou pouco. O Tesouro
pagou pelos bônus de dez anos a menor taxa de todos os tempos, 3,449% ao ano,
metade dos 7% que têm custado à Itália rolar sua dívida.
Animadas pela excepcional receptividade, outras
empresas preparam-se para testar as águas internacionais. Mas esse clima
auspicioso no mercado de captações certamente não será a característica do ano
todo. Tudo indica que o resultado das contas externas será neste ano bem
diferente do que foi em 2011. De acordo com os números do movimento de câmbio,
que acabam de ser divulgados pelo Banco Central (BC), o fluxo de capital para o
Brasil foi de US$ 65,279 bilhões em 2011, o segundo melhor da história, depois
dos US$ 87,5 bilhões de 2007, e duas vezes e meia o obtido em 2010.
Pela conta comercial, que inclui comércio exterior,
inclusive o financiamento dessas operações, entraram US$ 43,95 bilhões; e pela
financeira, US$ 21,329 bilhões. O desempenho da balança comercial surpreendeu.
No início de 2011, esperava-se que o saldo do ano ficasse em US$ 8 bilhões, mas
ele chegou a US$ 29,8 bilhões, turbinado principalmente pelo aumento dos preços
das commodities, que representam dois terços das exportações.
Um quadro mais detalhado será conhecido ao fim do
mês, quando o BC divulgar as contas externas de 2011. Mas os números
disponíveis até novembro explicam boa parte da história. Além do efeito da
melhoria dos termos de troca na balança comercial, as contas externas foram
beneficiadas pelo crescimento do investimento estrangeiro direto (IED). Até
novembro, o déficit em conta corrente de 2011 estava em US$ 45,8 bilhões,
equivalente a 2,03% do Produto Interno Bruto (PIB), um número recorde,
compensado pela entrada igualmente recorde de US$ 60,1 bilhões de investimento
estrangeiro direto. Os empréstimos externos e captações com títulos de longo
prazo somaram mais US$ 44,7 bilhões.
Mas o aprofundamento da crise internacional
aconselha cautela nas previsões para este ano. Com o planeta crescendo menos, o
comércio internacional tende a diminuir e os preços das commodities perderão a
sustentação, afetando o desempenho da balança comercial. Até a China, principal
importador do Brasil, vai crescer menos. Na previsão do BC, o saldo da balança
comercial deve ser de US$ 23 bilhões neste ano; para outras fontes, pode ficar
abaixo de US$ 20 bilhões.
Além disso, a crise tende a aumentar as remessas de
lucros e dividendos para cobrir as dificuldades das matrizes de empresas
estrangeiras e a reduzir a entrada de investimento estrangeiro. O mercado de
câmbio já mostra essa tendência. Desde outubro, a conta financeira fecha no
vermelho, totalizando saldo negativo de US$ 3 bilhões no quarto trimestre. As remessas
de lucros e dividendos ao exterior somaram de janeiro a novembro US$ 33,4
bilhões, 33,6% a mais do que em igual período de 2010, e devem ter fechado o
ano em US$ 38 bilhões.
Outro sinal de alerta vem das próprias captações
externas, motivo de euforia na semana passada. Os recursos obtidos com
empréstimos e a venda de títulos no exterior somaram US$ 44,4 bilhões em 2011
até novembro, 21,7% a menos do que em igual período de 2010. Mais da metade
desse dinheiro foi captado no primeiro trimestre, minguando depois que o
governo passou a aplicar o IOF nas transações de curto prazo para desestimular
o "carry trade" que estava derretendo a cotação do real.
O próprio Banco Central exibiu previsões cautelosas
nas projeções do balanço de pagamentos divulgadas no Relatório de Inflação de
dezembro. Para o BC, o déficit em conta corrente chegará a US$ 65 bilhões neste
ano, equivalente a 2,4% do PIB; e, pela primeira vez em 11 anos, não será
coberto pelos investimentos estrangeiros diretos, previstos em US$ 50 bilhões.
No mercado financeiro há previsões de um déficit em conta corrente de até US$
70 bilhões e de investimentos estrangeiros de US$ 45 bilhões.
No passado, previsões como essas poderiam
convulsionar os mercados. Não é o caso agora, quando o Brasil tem outras
alternativas de financiamento das contas externas, sem falar nas reservas de
US$ 352 bilhões, que cobrem com sobra a dívida externa total de US$ 301,5
bilhões, em novembro, dos quais apenas 15% vencem em um ano. Mas cautela nunca
é demais em se tratando de balanço de pagamentos.
OPINIÃO
Saúde e protecionismo
Edmar Bacha
Em entrevista ao Valor em 30 de dezembro, o
ministro da Saúde anunciou que, em breve, o governo pretende instituir uma
margem de proteção de 25% para os produtores nacionais de bens e serviços
adquiridos pelo Ministério da Saúde. Ou seja, o governo se dispõe a pagar 25% a
mais por esses bens, desde que sejam produzidos em território nacional e não
importados. O argumento que o ministro apresenta é que o déficit comercial do
setor de saúde é grande e está crescendo, ou seja, importamos mais do que
exportamos equipamentos hospitalares, medicamentos e outros itens relacionados.
A matéria no Valor também revela que quem articula
o lobby da indústria da saúde é o ministro da Saúde do governo anterior. Teria
sido ele quem concebeu a política de proteção aos produtores locais, mas não a
teria conseguido implantar devido ao pouco entusiasmo do presidente Lula. Pelo
que se depreende da notícia, essa falta de entusiasmo não contagia a atual
presidente da República.
A confirmar essa notícia, ficaria caracterizada uma
situação extraordinária na área da saúde pública. O governo reclama que não tem
recursos para melhorar o atendimento da população, apesar de o orçamento do Ministério
da Saúde ser, em 2012, 16,2% superior ao de 2011 - o maior salto entre os
principais ministérios. Infelizmente, entretanto, o governo parece estar
disposto a gastar mais desse dinheiro para a "criação de musculatura na
indústria brasileira", segundo os técnicos do governo ouvidos pelo Valor.
Ou seja, vai gastar dinheiro para obter a mesma coisa, ou coisa pior ainda,
pois nada garante que os similares nacionais terão a mesma qualidade dos
produtos importados.
O argumento do déficit setorial entre importações e
exportações não é cabível. Não estamos mais na década de 1950, quando a
escassez de dólares tornou imperativa a substituição de importações. Nem na
década de 1970, quando os choques do petróleo ameaçaram inviabilizar a economia
brasileira.
Hoje em dia, não há falta de dólares. Ao contrário
de tempos passados, o governo hoje é um credor internacional, tem mais reservas
que dívida externa. Além disso, em 2011, produzimos um superávit comercial
expressivo e o Banco Central intervém regularmente no mercado cambial, para
impedir que a avalanche de dólares produza uma valorização excessiva do real.
Por que, nessas condições, o item "medicamentos", ou o item
"equipamento hospitalar", teria que ter superávit comercial?
O apoio governamental à indústria tem, pois, que se
basear em outros critérios que não os de economia de divisas. Dentre esses
critérios, a modicidade de preços e a qualidade dos produtos precisam ser
priorizados, especialmente no setor saúde, tão crítico para a população.
Os instrumentos para desenvolver uma indústria
competitiva de saúde no país estão à disposição de quem a eles quiser se
candidatar: isenções tributárias para a importação de bens de capital e a
instalação de novas unidades em diversos estados da federação; financiamentos generosos
do BNDES; mercado local amplo e em crescimento. Se o governo quiser dar mais
incentivos, basta garantir que, em igualdade de condições de preços e
qualidade, dará preferência à indústria nacional. Mas não é aceitável que o
país gaste recursos da arrecadação de impostos para pagar mais caro pela saúde
que já tem, quando há tantas deficiências na área.
Diz a matéria do Valor que o déficit comercial do
complexo da saúde alcançou US$ 11 bilhões em 2011. Digamos que o governo queira
eliminar esse déficit, estando para isso disposto a pagar 25% a mais para
substituir as importações. Trata-se de um gasto de US$ 2,75 bilhões, os quais,
ao câmbio atual, somam R$ 5 bilhões. Em lugar de gastar esse dinheiro com
substituição de importações, o Ministério da Saúde poderia usá-lo mais
produtivamente para expandir o programa da saúde da família, cuja cobertura
está estagnada em torno de 60%, deixando ao desabrigo uma parcela importante da
população que não tem planos de saúde. Alternativamente, poderia dedicar-se a reduzir
a mortalidade infantil no país, que ainda se situa num patamar excessivamente
alto, de 15 por mil nascidos vivos, enquanto que no Chile, por exemplo, essa
taxa é de 8 por mil nascidos vivos. Ou então, dedicar-se a reduzir a taxa de
mortalidade materna que, de acordo com os próprios dados do Ministério, estão
estacionados em níveis elevados desde 2002. Ou seja, prioridades relevantes não
faltam. O que parece faltar é vontade política de enfrentar os problemas.
Recentemente, o lobby da saúde montou uma ampla
campanha para tentar ressuscitar a CPMF na regulamentação da Emenda 29, que
destina recursos à saúde. O argumento era que, com os recursos atuais, o SUS
não consegue cumprir seu mandato constitucional, de prover saúde de qualidade
para toda a população brasileira. Isso é verdade. Na letra da Lei, o Brasil tem
o sistema de saúde mais estatizado do mundo. Na prática, entretanto, nosso
sistema de saúde é ainda mais privatizado do que os EUA. E, como fica claro nas
pesquisas de opinião pública sobre o assunto, o que a população mais anseia é
ter um bom plano de saúde, para se livrar das filas do SUS.
Não há dúvida, pois, que o país precisa melhorar
muito a saúde pública. Felizmente, entretanto, o Congresso resistiu às pressões
para ressuscitar a CPMF. Pois é melhor manter a rédea curta do que ampliar os
recursos, quando o que aparenta querer o ministro da Saúde é aumentar os custos
e não melhorar a saúde pública no país.
Edmar Bacha é diretor do Instituto de Estudos de
Política Econômica da Casa das Garças. Organizou, com Simon Schwartzman,
"Brasil: A Nova Agenda Social" (LTC Editora, 2011).
POLITICA
Ala do PT do Paraná defende ida de Paulo Bernardo para
Itaipu
Por Raymundo Costa e Fernando Exman | De Brasília
Com o fim das férias da presidente Dilma Rousseff,
retorna à pauta do Palácio do Planalto a reforma ministerial programada para
este mês. No fim do ano passado, a própria presidente alertou que as mudanças
decepcionariam aqueles que esperam uma ampla reforma no primeiro escalão do
governo. Se depender do PT e dos partidos aliados, porém, a renovação do
gabinete não será tão acanhada. Nos últimos dias, a Pasta que entrou na mira
foi o Ministério das Comunicações, atualmente comandado pelo ministro Paulo
Bernardo (PT).
A ideia de uma ala do PT paranaense é deslocar
Paulo Bernardo para a diretoria-geral da usina hidrelétrica de Itaipu no lugar
de Jorge Samek, que transferiu seu domicílio eleitoral para Foz do Iguaçu e
aguarda uma decisão de Dilma para lançar-se à disputa pela prefeitura do
município. O plano, se levado adiante, reforçaria a presença do partido no
Paraná e daria à presidente mais uma carta para manejar, caso Dilma agora
decida promover uma dança das cadeiras menos limitada.
O recado já foi enviado ao Palácio do Planalto.
Integrantes do grupo político de Paulo Bernardo trataram do assunto com o
ministro Gilberto Carvalho, chefe da Secretaria-Geral da Presidência da
República. E também chegou aos ouvidos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva.
Um parlamentar petista disse a Lula que Samek
pretendia candidatar-se a prefeito de Foz de Iguaçu, mas recebeu como resposta
um sorriso irônico de quem sabe com detalhes a remuneração mensal do
diretor-geral de Itaipu. Integrantes da cúpula petista também duvidam que Samek
deseje deixar seu cargo na estatal criada pela parceria dos governos de Brasil
e Paraguai na década de 1970.
"É uma alternativa que a presidenta Dilma vai
ter, aí vai depender dela", comentou um integrante do grupo político de
Bernardo e entusiasta da mudança.
Petistas alegam ainda que a mudança teria como
ponto positivo reduzir a pressão sobre a família do ministro, que é casado com
a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. No entanto, na avaliação de
interlocutores do casal, a articulação deve-se a uma estratégia do PT: a
substituição de Samek por Paulo Bernardo abortaria as disputas dentro do
partido e entre os aliados pela presidência de Itaipu. Além disso, a jogada
renderia propaganda gratuita à futura candidatura do atual diretor-geral da
estatal e, diante da possibilidade de Gleisi candidatar-se a governadora do
Estado, obrigaria Bernardo a se dedicar integralmente a fazer política no
Paraná com vistas a tirar os tucanos do poder local em 2014.
Bernardo e Gleisi atuaram efetivamente em favor da
candidatura a prefeito de Curitiba do ex-deputado Gustavo Fruet, que
recentemente deixou o PSDB e filiou-se ao PDT. O PT também tem candidaturas
promissoras em Londrina e outras cidades paranaenses importantes. Para
dirigentes do partido, Samek tem grandes chances de eleger-se, pois, durante o
período em que ocupou a direção-geral de Itaipu pelo lado brasileiro, a empresa
estatal patrocinou diversas atividades em Foz do Iguaçu.
A saída de Paulo Bernardo do comando do Ministério
das Comunicações pode ainda dar novo impulso ao debate dentro do governo sobre
a regulação da mídia. Bernardo herdou do governo Lula uma proposta sobre o
assunto, mas, apesar das pressões do PT, impediu que o projeto avançasse. Outro
argumento citado por pessoas próximas a Bernardo é que o ministro das
Comunicações e ex-titular do Ministério do Planejamento durante parte do
governo Lula ainda tem "missões e metas a cumprir" em seu atual
cargo.
Coincidentemente, os petistas tentam chegar a uma
conclusão sobre o prazo de que Samek precisa para se desincompatibilizar e
poder disputar a Prefeitura de Foz do Iguaçu por conta do caráter excepcional
de Itaipu, uma empresa binacional. Assim, em vez de ter de deixar a função em
abril como outros presidentes de estatais e ministros, Samek poderia pedir
demissão em junho, prazo fixado para os servidores públicos em geral. A dúvida
ainda não foi dirimida pela justiça eleitoral.
Proposta de Kassab irrita petistas e tucanos
Por Cristian Klein, Raphael Di Cunto e Vandson Lima | De
São Paulo
A proposta do prefeito de São Paulo, Gilberto
Kassab (PSD), de formar uma chapa para sua sucessão com o pré-candidato do PT e
ministro da Educação, Fernando Haddad, e um vice do PSD, desagradou a petistas
da capital paulista, que são oposição ao prefeito, e tucanos que negociam uma
aliança com os pessedistas e veem na movimentação de Kassab uma tentativa de
forçar o acordo.
O aceno para o PT ocorreu na quarta-feira, em
visita de Kassab ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Hospital
Sírio-Libanês, em São Paulo, onde o petista realiza tratamento radioterápico
para curar um câncer de laringe. O provável nome para compor a chapa seria o do
ex-presidente do Banco Central no governo Lula, Henrique Meirelles, que
filiou-se ao PSD em outubro.
"Era só questão de tempo para ele [Kassab] dar
a facada no PSDB. Sempre falei isso, mas muita gente no partido achava que não
aconteceria", afirmou o presidente estadual do PSDB, Pedro Tobias, crítico
à parceria com o prefeito paulistano. "O Kassab não sabe ficar fora do
poder. Ele está se aproximando [do PT] para ver se sobra algum ministério para
ele", diz o tucano.
Apesar do convite feito a Lula, Kassab já manifestou
publicamente o interesse em formar chapa com o PSDB. A ideia do prefeito é ter
o vice-governador Guilherme Afif Domingos (PSD) como candidato, com um tucano
de vice. Em troca, Kassab apoiaria a reeleição do governador Geraldo Alckmin
(PSDB). O prefeito teria como contrapartida a garantia de ser o candidato do
grupo político ao Senado, em 2014.
Pressionado pelos quatro pré-candidatos tucanos que
disputam as prévias, o governador tenta atrair outros partidos para a aliança e
deixar o PSD como vice.
Menos crítico, o presidente do diretório municipal
do PSDB, Julio Semeghini, afirmou que "a notícia é chata" para o
partido, mas que continuará insistindo na coligação com o PSD. "O prefeito
Gilberto Kassab deve estar estudando as possibilidades e as alternativas do
PSD, mas ainda acreditamos numa ampla aliança", disse o tucano, que é
secretário de Planejamento e Desenvolvimento Regional de Alckmin.
Orientados pelo diretório municipal a não atacar o
prefeito, o que poderia inviabilizar a aliança, o deputado federal Ricardo
Tripoli e o secretário de Meio Ambiente, Bruno Covas, pré-candidatos do PSDB,
também minimizaram o aceno de Kassab para o grupo adversário e ainda se
disseram dispostos a procurar o prefeito em busca de apoio.
"Quando você parte para um projeto eleitoral,
procura se aproximar de partidos que tenham a mesma ideologia e identidade que
você. E acho que nisso ele [Kassab] se aproxima mais da gente", disse
Tripoli. Os outros pré-candidatos tucanos, os secretários estaduais de Cultura,
Andrea Mattarazzo, e de Energia, José Aníbal, preferiram não se manifestar.
No PT, a aproximação com Kassab foi recebida com
descrença e alguma indignação. "Seria uma traição ao nosso eleitorado e
aos movimentos sociais que nos apoiam. Somos oposição a Kassab e sua
administração é uma continuidade do projeto de José Serra na prefeitura",
afirma o vereador Chico Macena. "Acredito que Kassab deixou vazar essa
história para pegar carona na popularidade de Lula, já que a dele está
baixa", acrescentou.
Para o vereador José Américo, "Kassab está
tentando pressionar o PSDB, fazê-los decidir por uma candidatura logo ou
aceitar o candidato do PSD como cabeça de chapa". Líder do partido na
Câmara de Vereadores, Ítalo Cardoso foi o único petista a falar com o Valor que
não se opôs à chapa. "Acho improvável, porque embora Kassab tenha feito
acenos ao governo da presidente Dilma Rousseff [PT], aqui na capital temos
muitas críticas à sua gestão. Mas não considero que a formação de uma aliança
seria o fim do mundo", avalia.
Até o ex-ministro da Casa Civil e deputado federal
cassado José Dirceu (PT) resolveu se manifestar a respeito. Em seu blog, o
petista pôs em dúvida a veracidade da história, mas pontuou que "a
proposta do prefeito Kassab, real ou não, é um retrato do isolamento e da
confusão em que vive a oposição tucana e seus atuais e ex-aliados - neste caso
de ex, o prefeito paulistano".
Braço-direito de Kassab na criação do PSD, o
secretário-geral da legenda, Saulo Queiroz, afirmou que, em "nenhum
momento, ninguém no partido ventilou uma aliança com o PT" na capital
paulista. No entanto, ele diz que, se Kassab deu declarações a respeito da
coligação, "ele deve ter suas razões". "Ele é mais esperto que
todos nós juntos. E se disse isso quer dar um recado. Mas não é para esta eleição
[municipal]. É para a de 2014. Os tucanos querem ficar sozinhos agora? Então
fiquem", afirmou Queiroz.
O dirigente do PSD disse que "o PSDB é
complicado até para escolher vice", e citou o imbróglio, em 2010, que, por
fim, apontou o ex-deputado federal Indio da Costa (então no DEM, hoje
presidente estadual do PSD fluminense) para compor a chapa de Serra à
Presidência. "Eles [os tucanos] acham que são o Pai e o Espírito Santo em
qualquer hipótese. E o Filho é o vice. Mas, por enquanto, tudo é farofa no ventilador",
completa Queiroz, numa indicação de que as negociações podem ter idas e vindas.
Já a prefeita de Ribeirão Preto, Dárcy Vera (PSD),
mostrou-se entusiasmada com a possibilidade de aliança com o PT na capital
paulista. Candidata à reeleição em sua cidade, Vera deve contar com o apoio do
PT na eleição e enfrentar um candidato tucano, ainda não definido. "Acho
que é o momento do PSD de buscar novos caminhos", afirmou. Vera avaliou
como "soberba" a indefinição do PSDB em decidir um nome para a
disputa ou discutir a possível composição com o PSD.
BRASIL
Nakano vê mais dez anos de recessão no mundo
Por Arícia Martins e João Villaverde | De São Paulo
A recessão mundial vai se prolongar ao menos por
mais dez anos, avalia o economista Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de
Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), para quem a atuação do Federal
Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) e do Banco Central Europeu
(BCE) é focada apenas na resolução dos problemas financeiros, ignorando o
crescimento econômico e, em especial, o crescente desemprego.
"Não há demanda por crédito, uma vez que as
famílias estão endividadas, e o desemprego é alto. As taxas de juros nos EUA e
na União Europeia vão continuar baixas por muitos anos", disse. Para ele,
o Brasil será diretamente envolvido neste cenário. "O mercado consumidor
do mundo para nossas exportações continuará depreciado."
Um dos principais conselheiros do ministro da
Fazenda, Guido Mantega, Nakano abriu ontem o Latin American Advanced Programme
on Rethinking Macro and Development Economics (Laporde 2012), seminário
promovido pela FGV em parceria com a Universidade de Cambridge (EUA).
Segundo Nakano, a crise dos países desenvolvidos
marca o fim da hegemonia econômica e política dos Estados Unidos e o início de
um período no qual há um vácuo não apenas de poder, mas também de ideologia e
consenso político. Nesse contexto, disse, há uma redistribuição de liderança na
economia mundial e os países emergentes ganham mais destaque, principalmente a
China, cujo PIB deve ultrapassar o dos EUA em 2018, na previsão de economistas.
Analisando o cenário interno, Nakano afirmou que o
Banco Central (BC) não será mais um obstáculo ao crescimento. "O BC e o
governo não têm mais apenas a inflação como meta. Esse é um avanço muito
importante." Ele acredita que, se o BC tiver a ajuda da política fiscal, a
taxa básica de juros da economia brasileira, pode chegar a um dígito ainda
neste ano.
Preços devem afetar saldo comercial em 2012
Por Marta Watanabe | De São Paulo
Em 2011, o volume de importações cresceu 9,4%, num
ritmo mais forte que os 3,9% das exportações, levando em conta o resultado no
acumulado até novembro, na comparação com o mesmo período de 2010. Apesar do
crescimento maior da quantidade de bens importados, a balança brasileira
terminou 2011 com superávit de US$ 29,8 bilhões.
O saldo positivo foi obtido porque o preço médio da
exportação brasileira no acumulado até novembro subiu 24,4%, variação bem
superior à alta de 14,5% no preço dos desembarques. Os dados são da Fundação
Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex).
O efeito preço, variável que contribuiu de forma
decisiva para um saldo positivo em 2011, porém, perdeu fôlego ao fim do ano,
retirou parte da rentabilidade das exportações acumulada e abre 2012 gerando
incerteza sobre a evolução dos termos de troca e seu impacto no resultado da
balança.
Há economistas que acreditam numa relativa
estabilidade dos termos de troca e numa queda menor do superávit em 2012 - para
algo em torno de US$ 20 bilhões a US$ 25 bilhões -, enquanto outros apontam
para o retorno da relação entre preços de exportação e de importação aos
patamares de 2010. Nesse caso, o resultado seria uma queda mais abrupta do
saldo, para menos de US$ 5 bilhões.
No ano passado, a evolução bem mais acelerada do
preço médio da exportação brasileira foi propiciada pela alta das commodities
agrícolas e metálicas. Os produtos básicos correspondem hoje a 47,8% da
exportação brasileira e tiveram aumento de preço em dólar extraordinário no ano
passado. No acumulado até novembro, o preço médio do produto básico subiu
33,7%. Os semimanufaturados tiveram elevação de 21,9%, e os manufaturados, de
14,3%. Os termos de troca terminaram o ano em nível alto e favorável às
exportações brasileiras, com aumento de 8,7%, também levando em conta o
acumulado até novembro.
"É uma boa variação levando em consideração a
base alta de comparação", diz Rafael Bistafa, economista da Rosenberg e
Associados. Ele lembra que, em 2010, os termos de troca encerraram o período em
patamar elevado, com alta de 15,9% na comparação com 2009. Bistafa acredita que
em 2012 essa relação de preços terá uma pequena queda, devolvendo parte da alta
obtida no ano passado.
A pequena queda nos termos de troca, acredita ele,
acontecerá como resultado de preços de importações praticamente estáveis e
queda nos preços das exportações, principalmente dos básicos. Segundo
estimativa da Rosenberg, as médias dos preços de commodities agrícolas devem
cair de 10% a 15% em 2012, na comparação com 2011. As metálicas vão no mesmo
sentido, com redução de 15% a 20%. Os preços de importação, explica, não devem
ter, no geral, tendência de alta em função da oferta, que deverá continuar
farta em 2012.
"Mesmo assim, o termo de troca ficará em
patamar alto", diz Bistafa. Isso contribuirá para uma queda no superávit
comercial de 2012, para US$ 19 bilhões a US$ 20 bilhões, estima o economista.
No ano passado, o saldo foi de US$ 29,8 bilhões.
Fabio Silveira, sócio da RC Consultores, também
acredita que a queda de preços deve afetar a exportação brasileira neste ano.
Para ele, a redução do valor de negociação das commodities deve jogar para
baixo a exportação total do Brasil. Silveira estima que em 2012 as exportações
brasileiras cairão para US$ 240 bilhões. Ou seja, US$ 16 bilhões a menos que no
ano passado. Mesmo assim, acredita que haverá superávit em torno de US$ 20
bilhões.
Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria,
defende uma visão um pouco mais otimista, com um pequeno crescimento no valor
das exportações e um superávit de US$ 25 bilhões. Ele lembra que a queda de
preço das exportações nos últimos meses do ano passado tirou um pouco da
rentabilidade acumulada em 2011 nas vendas ao exterior.
Em novembro do ano passado, a redução de preço fez
com que o índice de rentabilidade na exportação chegasse a ter queda de 2,5% em
relação a outubro. O resultado acumulado até o mês ainda ficou positivo, com
7,2% de alta em relação ao mesmo período de 2010. No fim de 2011, lembra Campos
Neto, os preços das commodities exportadas ficaram muito voláteis, com
resultado líquido de queda.
O economista acredita que, na média, os preços
devem manter nos próximos meses o patamar encerrado em 2011. A expectativa,
porém, é que haja uma reação no segundo semestre, com a acomodação da zona do
euro e uma reação melhor da economia americana. Para Campos Neto, os preços
permanecerão voláteis, mas não terão necessariamente, no acumulado de 2012, uma
média mais baixa que a de 2011. A tendência mais esperada, diz ele, é de
estabilidade com possibilidade de recuperação no segundo semestre.
José Augusto de Castro, presidente em exercício da
Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), acredita que a crise na zona
do euro terá um impacto muito maior na exportação brasileira e na demanda
internacional. Castro estima que os termos de troca devem devolver, em 2012, o
ganho obtido no ano passado e chegar ao patamar de 2010. Mesmo assim, lembra
ele, a relação de preços será favorável à exportação brasileira e em patamar
elevado.
O efeito da queda de preços, porém, acredita
Castro, contribuirá para reduzir o superávit a US$ 3 bilhões. A grande perda
será das exportações que, em suas contas, terão redução de US$ 20 bilhões em
relação a 2011. "Isso, se não houver agravamento da crise na União
Europeia e no mercado americano."
Apesar de algumas divergências nas perspectivas de
curto prazo para os termos de troca e a balança comercial, os economistas
convergem quando se trata das medidas necessárias para o longo prazo, como a
redução da dependência dos produtos básicos na pauta de exportação e a
necessidade de estimular o embarque de manufaturados. Isso reduziria o impacto
de eventuais reduções de preços de commodities na balança brasileira e na
situação fiscal do país.
Nesse sentido, os economistas são unânimes em citar
mudanças estruturais que gerem menor custo de produção, como melhor
infraestrutura e menor carga tributária. Para isso, porém, dizem, é preciso
deixar de se concentrar em medidas pontuais de estímulo à exportação e enxergar
bem além do horizonte de 2012.
Estados podem excluir setores de benefício na importação
Por Guilherme Serodio | Do Rio
O Espírito Santo está preocupado com a
possibilidade de uma redução rápida da alíquota interestadual do Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre produtos importados. Para
evitar a derrota no Congresso e a perda de R$ 750 milhões em impostos, o
governador Renato Casagrande (PSB) busca a união dos Estados que oferecem
benefícios fiscais nas importações e aposta em um acordo com o governo no
começo do ano. Além da redução gradativa do imposto interestadual, o governador
defende, para facilitar um acordo, a exclusão de alguns setores da pauta de
incentivos na importação, como têxtil, aço e petroquímico.
A busca de uma alíquota única de ICMS para as
operações interestaduais de mercadorias importadas está prevista no Projeto de
Resolução nº 72, de autoria do líder do governo no Senado, Romero Jucá
(PMDB-RR). Na proposta, a maior parte do ICMS seria cobrada somente no destino da
mercadoria porque haveria redução do imposto cobrado na transferência a outro
Estado. Atualmente uma mercadoria importada pelo Espírito Santo e transferida
para São Paulo paga 12% de ICMS. O imposto vai para a Fazenda capixaba. Com a
proposta em discussão, a alíquota cairia para 4%. Ou seja, haveria queda no
imposto recolhido pelo Espírito Santo.
No ano passado, a chamada "guerra fiscal dos
portos" - a redução de ICMS sobre importação em alguns Estados para atrair
a movimentação de mercadorias - esteve no cerne da discussão acerca da
competitividade da indústria brasileira e entre as preocupações do Ministério
da Fazenda. Para evitar a aprovação do projeto sem que seu Estado receba
contrapartidas, Casagrande vem tratando do tema com o ministro Guido Mantega. E
diz perceber uma sensibilidade do governo em dialogar.
O governador defende a redução gradual do ICMS
interestadual, com o corte de um ponto percentual a cada ano até a alíquota
única ficar entre 6% e 7%. Para ele, com a alíquota proposta pelo governo
federal (4%), os municípios capixabas perderiam em torno de R$ 500 milhões, e o
Estado, cerca de R$ 250 milhões.
O projeto de Jucá pode levar a uma debandada de
empresas no Espírito Santo. "Alguma delas deixariam de operar no Estado
porque fazem um desvio logístico", diz o governador. O destino principal
dos produtos desembarcados no porto capixaba é São Paulo, para onde vão mais de
50% das mercadorias. Outros destinos são Rio de Janeiro e Minas Gerais. Casagrande
mantém diálogo com os governadores de Santa Catarina, Goiás, Mato Grosso do
Sul, Ceará, Amazonas e Pernambuco, "Estados que, de uma forma ou outra,
têm algum mecanismo de incentivo ao comércio internacional", diz.
Os Estados incentivadores, diz Casagrande, querem
dialogar e propõem excluir alguns setores da pauta de incentivos, como têxtil,
aço e petroquímico. "Topamos retirar esses setores por compreender que a
União tem mérito nessa discussão, tem razões em relação à proteção da indústria
nacional."
Para o presidente do Instituto Aço Brasil (IABr),
Marco Polo de Mello Lopes, a proposta não equaciona a questão. Falando em nome
das associações da indústria do aço, têxtil, de brinquedos, calçados,
petroquímica e metal-mecânica, que criaram uma associação informal para debater
o problema, Marco Polo afirma que "a indústria brasileira não tem
condições de acompanhar o artificialismo do sistema de importações" dos
Estados, que "gera evasão de produtos e de empregos".
No ano passado, as importações de aço somaram 8,49
milhões de toneladas, pouco mais de um terço do consumo aparente no período (25
milhões de toneladas), segundo previsões do IABr. "Cerca de 60% do aço
importado vem por esses portos", diz Marco Polo, referindo-se aos Estados
incentivadores. Pelos mesmos Estados entraram 44% das importações de têxteis
entre janeiro e outubro de 2011, segundo a Associação Brasileira da Indústria
Têxtil e de Confecção (Abit). O Brasil consome 2,5 milhões de toneladas de
têxteis e confeccionados.
Em 2011, o Espírito Santo arrecadou R$ 2,4 bilhões
em ICMS sobre importações, equivalente a 28% da arrecadação do Estado com o
imposto. Quase 50% da economia capixaba está vinculada ao comércio exterior.
Desde 1971, o Espírito Santo conta com o Fundo de Desenvolvimento das Atividades
Portuárias (Fundap), programa que inclui financiamento do ICMS devido pelo
importador no desembaraço de mercadorias. O Fundap é considerado um benefício
fiscal de ICMS. Dos 12% do ICMS interestadual sobre importados, 3% ficam com os
municípios e 2% com o Estado. Os 7% restantes, segundo o governo capixaba,
voltam como incentivo às empresas. Em 2011, a conta permitiu a arrecadação de
R$ 600 milhões aos municípios e R$ 400 milhões ao governo estadual. As empresas
ficaram com R$ 1,4 bilhão. O financiamento é subsidiado com 1% de juro anual.
Desarticulação pública atrasa combate ao crack
Por Samantha Maia e Luciano Máximo | De São Paulo
As políticas públicas voltadas para o tratamento de
viciados em drogas avançaram no Brasil com a extinção dos hospitais
psiquiátricos e a difusão, a partir de 2003, dos Centros de Atenção
Psicossocial-Álcool e Drogas (Caps-AD). A investida dos governos municipal e
estadual de São Paulo no combate ao crack no centro paulistano, contudo, expôs
contradições e erros do modelo adotado na grande maioria das cidades do país,
na opinião de especialistas ouvidos pelo Valor. O maior problema do Brasil no
combate ao crack, concordam muitos deles, é a desarticulação entre as políticas
de segurança, saúde e assistência social. E essa desarticulação, dizem, não é
exclusividade de São Paulo.
Em 2011, o Ministério da Saúde estima que foram
feitos cerca de 3 milhões de atendimentos nos Centros de Atenção Psicossocial-Álcool
e Drogas, localizados em todas as capitais e na maioria das cidades médias e
grandes. Para os especialistas, as cenas cotidianas de consumo de crack nas
ruas do centro de São Paulo e, mais recentemente, de policiais militares
reprimindo usuários na Cracolândia, sem a retaguarda de profissionais da saúde
e do serviço social do poder público, escancaram a ineficiência do Estado no
combate ao consumo da pedra de pasta de cocaína refinada com bicarbonato de
sódio que afeta a vida de mais de 200 mil brasileiros.
No caso paulistano, o psiquiatra Marcelo Ribeiro,
diretor de ensino da Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp-Uniad) e autor do recém-lançado livro "O
Tratamento do Usuário do Crack" (editora Artmed), avalia que a premissa da
ação da polícia - de reprimir ostensivamente o consumo para provocar a
abstinência e a consequente procura por cuidados - não tem embasamento
científico e contribuiu para "bagunçar o trabalho de anos" de ONGs e
de agentes das secretarias municipais de Saúde e Assistência Social na
Cracolândia.
"Claro que é preciso coibir o consumo livre na
rua, mas isso não pode ser feito só sob a ótica da segurança. O usuário não foi
considerado na ação. Autoridades não conversaram, a polícia não ouviu quem
estava lá fazendo um trabalho. O resultado da desarticulação é que acaba com um
problema e surge outro, ninguém tem noção do segundo e terceiro passos",
analisa Ribeiro.
"Há muita gente trabalhando de forma isolada,
de ONGs a universidades, em secretarias municipais diferentes, e fica um samba
do criolo doido, porque a articulação é muito precária", diz Dartiu Xavier
da Silveira, psiquiatra e coordenador do Programa de Orientação e Assistência a
Dependentes (Proad) da Unifesp.
A situação não é exclusividade de São Paulo. Os
dois especialistas da Unifesp não conhecem, no país, exemplos de diálogo
afinado entre autoridades da segurança, saúde e assistência social para a
formulação de um planejamento eficiente para enfrentar o crack. Ribeiro sugere
que a "diversidade de modelos" adotada em Rivertown, bairro no sul de
Londres que pode ser comparado à Cracolândia, é uma ferramenta importante para
lidar com o problema. "[São ações] de baixa e alta exigência, com oferta
de serviços de apoio básico até o tratamento para a abstinência por equipes
multidisciplinares."
O Ministério da Saúde informa que o novo plano
federal de combate à droga, "Crack, é possível vencer", é baseado em
investimentos de R$ 2 bilhões em equipamentos e no desenvolvimento de ações coordenadas.
A iniciativa prevê a abertura de 13.614 novos leitos para usuários de álcool e
drogas até 2014. Serão 1.400 nos Caps, 3.600 em enfermarias especializadas e
8.600 em unidades de acolhimento transitório. Em três anos, serão criados 41
novos Caps, passando para 175 unidades. A Secretaria Nacional de Políticas
sobre Drogas (Senad) do Ministério da Justiça, que responde pelo programa, não
se manifestou.
O problema da ausência de articulação pública na
formulação de políticas de abordagem a viciados em crack e outras drogas é
ampliado pela falta de serviços de atendimento aos dependentes. "O Brasil
vem melhorando na abordagem de combate ao vício. Há 15 anos, havia três ou
quatro ambulatórios dentro de universidades, hoje em dia os Caps cumprem função
importante, mas falta a estrutura intermediária que se vê nos países
desenvolvidos", avalia Ribeiro. Ele se refere a serviços de moradia
assistida, enfermarias, espaços para ação de grupos de autoajuda.
O Proad começou há 25 anos com os primeiros
trabalhos de redução de danos no país, que consistem na identificação dos
usuários nas ruas e na busca de soluções individuais. "Identificamos que o
que está levando as pessoas a se tornarem dependentes, não é só o acesso à
droga. Fica dependente aquele que, além do acesso, fica privado de direitos
fundamentais, como moradia, educação, saúde", diz Silveira.
Por causa disso, segundo Silveira, as ações de
assistência médica precisam ser casadas com outras políticas públicas que
combatam a vulnerabilidade social da população. "É um equívoco focar a
política na droga, porque daí começa a se vender uma imagem de que aquela
situação de miséria da Cracolândia é decorrente da droga, e, na verdade, a
droga é consequência da miséria", diz ele.
Para o psiquiatra, a ação da prefeitura paulistana,
de repressão ao tráfico na Cracolândia e de dispersão dos usuários, atrapalha
esse trabalho do Proad e do próprio governo. "A repressão vai contra todo
o trabalho de redução de danos, dos educadores de rua, dos consultórios de rua,
e pode pôr a perder anos de trabalho de formiguinha."
O grupo entra em contato com as mais diversas
realidades e, segundo o coordenador do Proad, nem sempre a retirada da droga é
a primeira indicação. "Uma situação emblemática foi de uma adolescente de
rua que nos disse que usava crack, porque, para sobreviver, ela tinha que se
prostituir, e para isso precisava estar drogada, senão não aguentava a dor.
Você vai dizer que para essa menina a droga é um problema? É uma solução de
sobrevivência. Impedir o acesso dessa menina às drogas é colocar um problema a
mais." A indicação nesse caso, segundo ele, foi buscar o contato de uma
tia que podia cuidar da jovem.
Força-tarefa vai apoiar ações contra desastres naturais
Por Yvna Sousa | De Brasília
O governo federal anunciou ontem a criação da Força
Nacional de Apoio Técnico de Emergência, que deverá atuar na prevenção de
desastres e dar assistência aos municípios e populações afetados por chuvas e
enchentes. A força-tarefa pretende coordenar medidas tomadas pelos diversos
ministérios para responder aos danos provocados pelas intempéries.
O anúncio foi feito depois de reunião
interministerial, convocada pela presidente Dilma Rousseff, na qual foi
apresentado um balanço das medidas tomadas até ontem.
O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra
Coelho, afirmou que a primeira ação será o envio de 35 geólogos e 15 hidrólogos
para as regiões de alto risco de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Os profissionais vão identificar as áreas sujeitas a deslizamentos e inundações
e alertar a Defesa Civil para que as famílias sejam retiradas dos locais com
antecedência.
Dilma também determinou que o trabalho dos centros
de atenção e monitoramento montados provisoriamente nessas regiões seja mantido
até março. Segundo Bezerra, isso será feito "não só para apoiar as ações
em campo, em conjunto com as defesas civis estaduais e municipais, mas também
para que possam ser identificadas ações de médio e longo prazos a serem
implementadas dentro de uma política de investimentos na área de reconstrução
e, sobretudo, na área de prevenção".
Entre as novas medidas anunciadas está ainda envio
de 800 quilos de kits de remédios ao Espírito Santo, que se somam às 12
toneladas já entregues aos outros Estados atingidos.
A presidente decidiu enviar representantes do
governo para acompanhar os trabalhos "in loco". Ainda ontem, o
secretário nacional de Defesa Civil, Humberto Viana, e o comandante do
Exército, Enzo Peri, seguiram para Sapucaia (RJ), onde aconteceu um
deslizamento de terra ontem de manhã, durante a reunião no Palácio do Planalto.
Bezerra e o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio
Passos, foram para o Espírito Santo e hoje visitam Campos dos Goytacazes (RJ) e
Sapucaia. O ministro Alexandre Padilha, da Saúde, seguiu para Minas Gerais.
O governo estima que 2,5 milhões de pessoas já
foram afetadas diretamente pelas chuvas. As próximas 48 horas vão exigir
atenção especial dos órgãos de resgate e prevenção. O Centro Nacional de
Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) prevê chuvas intensas
até quarta-feira e emitiu alerta de risco para a Grande Belo Horizonte, Juiz de
Fora, Ouro Preto, Grande Vitória, e região serrana do Rio. A Agência Nacional
de Águas (ANA) também divulgou alerta de inundação para a bacia dos rios Doce,
Muriaé e para o baixo Paraíba do Sul.
Depois da reunião, os ministros afirmaram que o
governo federal tem melhorado sua ação contra desastres e atuado
preventivamente. "Essa talvez seja uma das vezes que nós estamos
trabalhando de forma mais preparada junto com os Estados e municípios", disse
a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Ela ressaltou que "evitar
mortes é a prioridade número um" do governo.
Segundo o ministro da Integração Nacional, muitos
dos desastres ainda são reflexo da falta de investimentos em mobilidade,
saneamento e habitação nas décadas de 80 e 90. "Nós vamos enfrentar sempre
dificuldades nos períodos de chuva, porque serão necessários crescentes
investimentos nas áreas de prevenção. Mas eles estão ocorrendo e vão ocorrer
com cada vez mais intensidade para que a gente possa virar esse jogo",
afirmou Bezerra.
INTERNACIONAL
Esquerdista modera tom e quer ser Lula mexicano
Por Nacha Cattan | Bloomberg, da Cidade do México
Andrés Manuel López Obrador enfrentou a oposição da
comunidade empresarial mexicana em 2006, quando perdeu a eleição presidencial
por menos de 1 ponto porcentual. Neste ano, ele tenta voltar à disputa atraindo
seus antigos críticos.
Saíram os lemas de campanha do tipo "Pelo bem
do México, primeiro os pobres" e entraram as promessas de equilibrar o
orçamento e proteger a independência do banco central.
O candidato esquerdista, que seis anos atrás
bloqueou a maior avenida comercial da Cidade do México por semanas para
protestar contra sua derrota, agora diz querer imitar o ex-presidente brasileiro
Luiz Inácio Lula da Silva, favorável aos investidores.
A estratégia vem mostrando certo sucesso,
especialmente com líderes empresariais no cinturão industrial no norte do país,
atingido mais duramente por uma onda de violência ligada às drogas que provocou
47 mil mortes desde a declaração de guerra do presidente do México, Felipe
Calderón, às gangues de traficantes.
"Ele percebeu que não se pode consertar o
mundo com socialismo", afirmou Alejandro Gurza, dono de uma concessionária
no Estado fronteiriço de Coahuila e ex-vice-presidente da associação de
concessionárias do país. "Os empresários temiam que ele expropriasse as
suas propriedades. Vimos que ele mudou."
A campanha se desenrola enquanto a maior economia
da América Latina depois do Brasil mostra resistência em meio à desaceleração
mundial. O Produto Interno Bruto (PIB) do México expandiu-se cerca de 4% em
2011, e o governo prevê crescimento de 3,3% neste ano.
López Obrador fez acusações de fraude em 2006,
quando perdeu para Calderón após liderar a maioria das pesquisas meses antes.
Agora, a menos de seis meses da eleição, em 1º de julho, ele está atrás de
Enrique Peña Nieto, do Partido Revolucionário Institucional (PRI), por uma diferença
de 29 pontos percentuais, de acordo com a mais recente pesquisa da Consulta
Mitofsky.
O ex-prefeito da Cidade do México, no comando de
uma coalizão que inclui o seu Partido da Revolução Democrática (PRD), teve
apoio dos 16% dos consultados, entre 21 e 27 de novembro, pela empresa de
pesquisas com sede na Cidade do México. Peña Nieto teve a preferência de 45% e
Josefina Vázquez Mota, do Partido Ação Nacional (PAN), de 20%.
"Haverá segurança para todos os que
investem", disse López Obrador, de 58 anos, em entrevista durante comício
na Cidade do México, em 22 de dezembro.
Embora Peña Nieto seja o candidato a ser batido,
sua liderança não é insuperável, disse Enrique Krauze, historiador mexicano e
diretor de revistas, em entrevista na Cidade do México.
Peña Nieto, 45, ex-governador do Estado do México,
precisa convencer os eleitores de que representa uma ruptura com o populismo e
corrupção que mancharam a imagem de seu partido, que ficou 70 anos no poder de
forma ininterrupta, até o ano 2000, afirmou Gabriel Casillas, economista-chefe
do J.P. Morgan na Cidade do México.
No início da campanha, Peña Nieto deu munição aos
críticos, como o escritor Carlos Fuentes, para quem a "ignorância" do
candidato o torna inadequado para comandar o país.
Em 3 de dezembro, questionado em uma feira
literária, ele teve dificuldade de indicar três livros que o influenciaram
para, ao final, citar a Bíblia e atribuir a Krauze um livro escrito por
Fuentes.
Uma semana depois, em entrevista ao jornal espanhol
"El País", ele não soube dizer o preço das "tortillas" e
justificou-se afirmando que ele não era "a mulher da casa".
Posteriormente, disse que se referia ao seu contexto familiar e que as
declarações não deveriam ser interpretadas como um ataque às mulheres.
Desde outubro, López Obrador, conhecido
popularmente pelas inicias AMLO, encontrou-se com centenas de empresários,
prometendo não "tirar dos ricos" e transformar o México em uma
"república amorosa".
Em 16 de novembro, López Obrador disse à rádio
local Noticias MVS que gostaria de ser o Lula mexicano, embora ressaltando que
cada líder tem suas próprias características.
"O discurso mais moderado de López Obrador
definitivamente o torna um candidato forte", disse Casillas, em entrevista
por telefone. Ainda assim, o resultado da eleição dependerá em grande parte de
quem Calderón, do Partido Ação Nacional (PAN), indicar para as primárias, em 5
de fevereiro.
Críticos, como Krauze, dizem que a remodelação de
López Obrador é um estratagema e que ele ainda é um perigo. Apontam para o site
de sua campanha, www.gobiernolegitimo.org.mx, que faz referências ao governo
paralelo criado por ele, após recusar-se a reconhecer a Presidência de
Calderón.
Os críticos também dizem que suas políticas estão
fora de compasso com as necessidades econômicas do México. López Obrador foi um
dos principais oponentes da proposta de Calderón de abrir a estatal Petróleos
Mexicanos (Pemex) a mais investimentos privados, medida que economistas dizem
ser necessária para reanimar a indústria petrolífera do país.
Caso eleito, López Obrador diz que reduzirá as
compras de eletricidade estrangeira pelo governo porque os preços são muito
altos, de acordo com vídeo da campanha. Também defendeu, em vídeo no YouTube
colocado em 17 de outubro de 2010, o "resgate" da riqueza mineral
mexicana, que ele diz ter sido cedida ilegalmente às mineradoras entre 1988 e
2006.
"Haverá muitas pessoas que acreditarão em
López Obrador", disse o historiador Krauze, que cunhou o termo Messias
Tropical para descrever o candidato, num ensaio em 2006. "Ele não está
mais no ataque, ele está se encontrando com empresários, mas eu acho que suas
ideias concretas não mudaram."
Ahmadinejad na América Latina
O presidente Mahmoud Ahmadinejad, do Irã, visitou
ontem o venezuelano Hugo Chávez, em Caracas, na primeira escala de sua viagem à
América Latina (foto). Sob intensa pressão internacional, sobretudo dos EUA,
pelo controverso programa nuclear do país, e em meio a crescente tensão militar
no Golfo Pérsico, Ahmadinejad tenta mostrar que o Irã não está totalmente
isolado e que ainda possui aliados. Além de Chávez, ele se reunirá esta semana
com Daniel Ortega (Nicarágua), Raúl Castro (Cuba) e Rafael Correa (Equador),
todos líderes antiamericanos. A visita inclui promessas de investimentos, como
numa hidrelétrica no Equador. Mas o Irã ainda não cumpriu compromissos
assumidos em viagens anteriores de Ahmadinejad, como a construção de um porto
na Nicarágua e de uma refinaria no Equador. A Agência Internacional de Energia
Atômica disse que o Irã começou a enriquecer urânio numa nova usina, sob uma
montanha. O país nega fins militares e alega que é para uso pacífico.
American deve quase US$ 1 bi ao BNDES
Por Francisco Góes | Do Rio
A recuperação judicial da American Airlines (AA),
uma das maiores empresas de aviação comercial dos Estados Unidos, interessa
diretamente a um grande credor brasileiro - o BNDES. O banco financiou mais de
200 aviões da Embraer, modelos 135, 140 e 145, à aérea americana, que recebeu
as aeronaves brasileiras entre 1998 e 2002. Estimativas de mercado apontam que
cerca de US$ 900 milhões, ou 30% do valor inicial do financiamento do BNDES à
American, ainda precisam ser pagos pela companhia. Os outros 70%, ou US$ 2,1
bilhões dos cerca de US$ 3 bilhões financiados pelo banco, segundo as projeções
do setor, foram quitados.
É sobre essa parte da frota com empréstimos
vigentes que vão se concentrar, nos próximos meses, as negociações entre
American e BNDES e que também vão envolver a Embraer. O processo está no início
e ainda não há registro de default, o que significa parcela vencida e não paga.
Até entrar em recuperação judicial em 29 de novembro do ano passado, amparada
pelo Capítulo 11 da Lei de Falências dos Estados Unidos, a American vinha
cumprindo religiosamente os compromissos com o BNDES.
Fontes do setor aeronáutico dizem que o Capítulo 11
dá segurança ao BNDES de que outros credores não terão tratamento privilegiado
em relação ao banco na renegociação das dívidas. As primeiras reuniões de
negociação ainda serão marcadas. O pagamento dos próximos vencimentos, em 2012,
depende dessas negociações. Ao entrar em recuperação judicial, a empresa ganhou
esse direito da corte junto aos seus credores e fornecedores.
Nas negociações, existe, porém, a possibilidade de
o BNDES ter que assumir, como credor, parte das aeronaves da Embraer hoje em
poder da American para recolocar estes aviões no mercado, seja com empresas de
leasing, seja com companhias aéreas. Até hoje houve somente um caso de default
que obrigou o BNDES a retomar a aeronave financiada e recolocá-la no mercado.
Um observador disse que esse é um indicador de que a carteira do banco para o
setor aeronáutico é saudável, com boa geração de receitas e de margens, apesar
dos riscos. Nessa carteira, há mais de 40 companhias, entre empresas aéreas e
de leasing financiadas pelo banco. O BNDES informou, via assessoria de
imprensa, que tomou conhecimento da recuperação judicial da American Airlines,
foi contatado pela empresa e está em negociação. O banco não faz outros
comentários sobre o caso, nem cita valores envolvidos.
O ponto de partida da negociação entre American,
BNDES e Embraer será a proposta da aérea aos credores nem seu plano de
reestruturação. O banco, segundo fontes próximas das negociações, sente-se
confortável por considerar que o processo de reorganização da aérea vai permitir
à empresa sentar com todos os credores e apresentar um plano de negócios para o
futuro. Uma fonte disse que o BNDES também conta com garantias extras, além das
aeronaves, no financiamento. O pedido de proteção, feito à Corte de Falências
do distrito sul de Nova Iorque, partiu da AMR Corporation, controladora da
American Airlines e da American Eagle.
Em comunicado aos credores e locadores de
aeronaves, em 29 de novembro de 2011, o vice-presidente de desenvolvimento
corporativo e tesoureiro da companhia, Beverly Goulet, reconheceu que a empresa
não podia se dar ao luxo de manter todos os aviões atuais nas suas frotas nem
da American Eagle nas taxas atuais. A American considerou, na ocasião, não ter
alternativa a não ser negociar reduções substanciais no custo das aeronaves
retidas. E admitiu que durante um período garantido pela Lei de Falências
planejava pagar o aluguel e a parte principal e juros de hipotecas somente de
uma parte da frota de aeronaves.
A análise da empresa de que precisará reestruturar
a frota considera as encomendas de novos aviões feitas à Boeing e Airbus. Está
claro que a empresa tem necessidade de acelerar a renovação de aeronaves. Como
resultado, não deverá requerer todas as aeronaves atualmente em poder da
companhia. Segundo sua informação, a frota combinada soma 900 aeronaves. Os
modelos 135, 140 e 145 da Embraer, com capacidade de 37 a 50 passageiros, são
aeronaves que têm nicho em rotas menores para substituir turbo-hélices, disse
fonte do setor.
No início, as mais de 200 aeronaves adquiridas da
Embraer tinham o financiamento atrelado à American Eagle. Depois o contrato
financeiro e as aeronaves foram transferidos para a controladora. Daí que hoje
o devedor do BNDES seja diretamente a companhia aérea americana. "Hoje as
aeronaves da Embraer são de propriedade da American, não estão em
leasing", disse uma fonte.
O vice-presidente da Embraer para o mercado de
aviação comercial, Paulo César de Souza e Silva, disse que a American tomou a
decisão de pedir proteção ao Capítulo 11 da Lei de Falências porque tinha o
maior custo entre as chamadas "majors" do setor e era a única, entre
essas grandes companhias americanas, que ainda não havia seguido esse caminho.
Em 2010, United e Continental, anunciaram acordo de fusão.
Para Souza e Silva, quando sair da recuperação, a
American deverá ter um custo bem mais baixo, em linha com as demais empresas, e
poderá competir e investir de forma a se tornar novamente uma das principais
companhias aéreas do mundo. "Ainda não sabemos ao certo quantas aeronaves
regionais permanecerão na sua frota [da AA], mas acreditamos que seja a
maioria. Poderá haver também novas oportunidades de negócios, com jatos
maiores, como os E-Jets [da Embraer]. Teremos que aguardar para saber os planos
da AA", disse o executivo em e-mail enviado ao Valor.
A American reconheceu no comunicado aos credores de
29 de novembro que a substancial desvantagem de custos da empresa em relação
aos principais concorrentes, os quais também reestruturaram dívidas e custos
via Capítulo 11, tornou-se cada vez mais insustentável devido o impacto
acelerado da incerteza econômica global. Esse cenário, apontou, resulta em
instabilidade de receita, preços de combustíveis voláteis e crescentes e
intensificação dos desafios de competitividade.
Fontes do setor aeronáutico não acreditam que a
American Airlines vá desaparecer. Pelo contrário, apostam que a empresa poderá
sair mais forte do processo de reorganização pelo qual deverá apresentar um
plano de negócios que tende a incluir a devolução de aeronaves alugadas e a
renegociação de contratos da frota própria.
EMPRESAS & TECNOLOGIA
Volks alega à SDE ter direito sobre desenhos de peças
Por Juliano Basile | De Brasília
A Volkswagen apresentou defesa à Secretaria de
Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça no processo em que as
montadoras são acusadas de prejudicar as fabricantes de autopeças.
No documento, a montadora alega que está defendendo
um direito industrial ao entrar com ações na Justiça contra empresas que
fabricam para-choques, retrovisores, lanternas, capôs e outros componentes dos
carros, copiando o design de seus produtos.
"Essa proteção é importante, pois protege a
marca Volkswagen", diz o texto assinado pelo advogado José Del Chiaro. A
companhia informou que não detém os registros de desenho industrial com o fim
de "engavetá-los" e impedir o acesso a outras empresas. Os registros
são obtidos "com o fim objetivo de subsidiar a competição por
diferenciação de produtos, realidade inafastável no mercado
automobilístico".
O caso deve ser uma das investigações mais
controversas de 2012. De um lado, a Volks, a Ford e a Fiat querem evitar que
empresas independentes de peças de reposição para veículos copiem seus
desenhos. De outro, a Associação Nacional dos Fabricantes de Autopeças (Anfape)
reclama que as montadoras entram com ações na Justiça para impedir as empresas
independentes de vender peças para veículos de suas marcas no mercado de
reposição.
"A nossa posição é a de que existem abusos
cometidos por algumas montadoras no mercado de reposição de autopeças e esses
abusos devem ser investigados, bem como as consequências para o consumidor
final", afirmou Leonardo Ribas, advogado da Anfape. Segundo ele, em muitos
países, o mercado independente de autopeças é legitimo. "No Brasil, isso
não acontece, pois se coloca uma pecha de clandestinidade."
Já a tese da Volks é a de que as montadoras
investem para produzir as peças e, ao fazê-lo, mantêm a competição e os
investimentos no setor. "Imagine a situação do Gol, um carro extremamente
vendido e, por isso, muito sujeito às cópias", exemplificou a Volks.
"Caso seja liberada a atuação das fabricantes independentes de autopeças,
poder-se-ia visualizar nas ruas uma série de Gols com lanternas escurecidas ou
amareladas, porque seriam de má qualidade, ou para-choques com pintura ruim ou
desgastada." O exemplo foi descrito para mostrar que, ao ver um veículo
nas ruas, o consumidor não consegue saber se a peça é original ou não e, diante
de peças de má qualidade, as marcas Volks e Gol "sofreriam considerável
deterioração" perante o público.
A Volks diz ainda que, se fosse licenciar seus
designs, "certamente exigiria padrões de qualidade de seus licenciados,
protegendo sua marca e os consumidores". A Ford e a Fiat também devem
apresentar as suas defesas à SDE até o fim de janeiro.
O caso vem sendo investigado desde 2007, quando a
SDE entrou com uma representação na secretaria. Um ano depois, a SDE arquivou a
denúncia por considerar que não se tratava de um problema antitruste a ser
analisado pelos órgãos do governo, mas sim, uma disputa privada entre
fabricantes independentes e montadoras. Em dezembro de 2010, o Cade determinou
a reabertura das investigações. O objetivo é verificar se as ações contra as
fabricantes independentes podem levar a aumentos nos preços das autopeças.
No Brasil, acordos beneficiam clientes
Por Cibelle Bouças | De São Paulo
Os bancos brasileiros gastam em média R$ 2 bilhões
por ano para se proteger dos crimes cibernéticos. Ainda assim, as perdas giram
em torno de R$ 900 milhões por ano, de acordo com o último estudo elaborado
pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Não existe uma legislação
específica para regulamentar esse tipo de crime no país, bem como a conduta a
ser adotada pelos bancos. As instituições financeiras avaliam em cada caso se
arcam com o prejuízo ou não.
"De modo geral, os bancos fazem uma avaliação
interna de cada caso e tomam a decisão, que pode responsabilizar o cliente ou o
próprio banco", afirma Marcos José Gomes Faim, gerente de divisão da
diretoria de gestão da segurança do Banco do Brasil. Diferentemente do que é
visto nos Estados Unidos, não há o compartilhamento do prejuízo - ou o banco
fica com todo o prejuízo, ou o cliente.
Quando o cliente informa ao banco que sua conta foi
movimentada por um cibercriminoso, o banco abre um processo administrativo para
apurar se houve falha de segurança do site do banco ou não. Nos casos mais
comuns, os cibercriminosos atacam o computador do cliente - por invasão ou
infecção com um software que permite ao criminoso acessar o computador à distância
e roubar seus dados bancários.
Uma fonte de um grande banco brasileiro, que
prefere não se identificar, afirma que não é incomum a instituição financeira
assumir a perda, mesmo concluindo na análise interna que houve falha da parte
do cliente. "Na maioria dos casos, o cliente tem sua máquina infectada por
descuido, não há má-fé. Dependendo do histórico do correntista é preferível
arcar com esse prejuízo e manter a boa relação com o cliente do que acusá-lo de
autofraude", diz a fonte.
Faim, do Banco do Brasil, observa que são raros os
casos que chegam à Justiça; a maioria é solucionada entre o banco e o cliente.
"Não há muito interesse na contenda judicial", afirma. No país, mais
de mil pessoas já foram presas em casos relacionados a cibercrimes, diz Renato
Opice Blum, coordenador do curso de Direito Digital da Fundação Getúlio Vargas
(FGV) e presidente do Conselho de Segurança da Informação da Fecomércio.
Blum tem uma explicação para o desinteresse dos
bancos em levar os casos à Justiça: esses processos exigem a realização de uma
perícia técnica para constatar que o roubo de dados se deu a partir do
computador do usuário. "O processo pode custar mais caro ao banco do que o
prejuízo que ele teria ao fazer um acordo com o cliente", explica o
advogado.
Além de encarecer o processo, a perícia técnica, em
muitos casos, é inconclusiva. Isso porque muitos cibercriminosos cometem
fraudes usando provedores de acesso à internet ou provedores de e-mails que têm
os dados guardados em centros de dados de outros países. O rastreamento dos
dados além das fronteiras brasileiras acaba inviabilizado. "O
cibercriminoso deveria ser responsabilizado e punido pelo crime, mas ainda é
difícil reunir provas técnicas que identifiquem o bandido ou a quadrilha",
afirma Patricia Peck, sócia da PPP Advogados.
Atualmente, a Justiça adota o Código Penal como
referência para o julgamento desse tipo de processo. Entre os crimes mais
comuns estão o de falsidade ideológica (quando o criminoso se passa pela
vítima); crimes contra o sistema financeiro; interceptação de dados; quebra de
sigilo bancário e furto mediante fraude ou estelionato. As penas podem variar
de dois anos a 20 anos de prisão.
O projeto de Lei 84/99, que regulamenta os crimes
na internet, tramita no Congresso há 12 anos e ainda não há previsão de quando
será sancionado. O projeto define os tipos de crimes na web e suas penas, e
estabelece responsabilidades aos donos de sites e provedores, como a de guardar
informações de acesso dos usuários por um prazo determinado para uso da Justiça
e da Polícia Federal em investigações criminais.
Cassi planeja ter 1 milhão de beneficiários em 2015
Por Beth Koike | De São Paulo
A Cassi, operadora de plano de saúde dos
funcionários do Banco do Brasil, quer chegar em 2015 com 1 milhão de
beneficiários, o que representa aumento de cerca de 30% em relação à carteira
atual.
"Queremos ter um porte maior para ampliar
nosso poder de negociação com clínicas, hospitais e laboratórios", disse
Hayton Jurema da Rocha, presidente da Cassi, em sua primeira entrevista à
imprensa desde que assumiu o cargo há dois anos.
O projeto de expansão chega após uma reestruturação
na operadora, que fechou 2006 com déficit de R$ 22 milhões. Após esse resultado
negativo, o Banco do Brasil fez um aporte de R$ 300 milhões distribuídos entre
2007 e 2010. Nesse período, a Cassi aprimorou sua gestão e tornou-se mais
rigorosa na administração das despesas. Os funcionários passaram a pagar 30% do
valor da consulta e 10% dos exames a fim evitar uso excessivo do convênio
médico. Além disso, o Banco do Brasil aumentou sua parcela de contribuição de
3% para 4,5% sobre o valor do salário do funcionário para pagamento do plano de
saúde.
Já em 2007, a Cassi voltou a ter resultados
positivos. Em 2010, a operadora registrou receita bruta de R$ 2 bilhões e
superavit de R$ 194 milhões. Mas o resultado final do balanço é fortemente
beneficiado pelas receitas de aplicações financeiras que somaram R$ 111,2 milhões.
A Cassi tem reservas financeiras de aproximadamente R$ 1,3 bilhão. Uma das
exigências da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) é que os planos de
saúde tenham reservas. A previsão é que em 2011, o faturamento da Cassi tenha
atingido R$ 2,2 bilhões.
Nessa nova fase, a estratégia da operadora de saúde
do Banco do Brasil é crescer por meio do Cassi Família - convênio médico
voltado para os dependentes de segundo e terceiro graus dos funcionários e dos
aposentados do banco. Hoje, esse contingente é formado por 281 mil pessoas e a
meta é saltar para 500 mil nos próximos três anos. O valor do Cassi Família
varia de R$ 186 (até 18 anos) até R$ 1.200 (acima de 59 anos).
Os funcionários, dependentes diretos e aposentados
do BB, que representam 490 mil beneficiários, têm um outro plano de saúde em
que o titular paga 3% do salário. "Queremos crescer com o Cassi Família
porque não podemos depender apenas de novas contratações do banco para aumentar
nossa carteira", explicou.
De acordo com o presidente da Cassi, muitas pessoas
com familiares que trabalham ou se aposentaram pelo BB desconhecem que podem
ter o plano de saúde do banco. O BB possui 103 mil funcionários ativos e 83 mil
aposentados. Para reverter esse desconhecimento, a Cassi inicia neste mês uma
campanha de divulgação e um programa em que o usuário do plano de saúde que
indicar uma pessoa ganha 5 mil dotz, moeda de programa de fidelidade.
Fabricante busca apoio de banco público
Por Francisco Góes | Do Rio
As dificuldades da American Airlines, empresa que
tem na frota modelos dos principais fabricantes de aeronaves, coincidem com as
incertezas no cenário econômico internacional. O cenário de crise econômica
deve levar as agências oficiais de crédito à exportação da Europa, Estados
Unidos, Canadá e Brasil a darem um maior apoio às vendas de aeronaves
comerciais da Airbus, Boeing, Bombardier e Embraer em 2012 como ocorreu depois
da crise de 2008.
A maior participação dessas agências no
financiamento à exportação de aeronaves costuma ocorrer em momentos de falta de
liquidez, quando os bancos privados restringem o acesso às linhas comerciais de
financiamento. Em 2009 e 2010, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) participou com 27% e 50%, respectivamente, nas vendas de
aeronaves comerciais da Embraer. Em 2008, a participação do banco no apoio às
exportações da empresa havia sido de 15%. E em 2011 ficou em 36%.
No caso da Airbus, Boeing e Bombardier o apoio do
Estado também cresceu após a crise de 2008. Em 2011, o BNDES-Exim, braço de
exportações do BNDES, financiou as vendas de aeronaves comerciais da Embraer
com um pouco mais de US$ 1 bilhão. O BNDES financia diretamente os compradores
das aeronaves da Embraer.
Paulo César de Souza e Silva, vice-presidente
executivo da Embraer para o mercado de aviação comercial, disse que entre 2004
e 2007 a empresa não precisou se financiar com o BNDES e utilizou como fontes
linhas de bancos comerciais, investidores e companhias de leasing. O executivo
disse que a atratividade da aeronave também ajuda a explicar uma maior ou menor
dependência das empresas aéreas dos financiamentos dos bancos oficiais.
Silva reconheceu que a crise tende a aumentar a
participação das agências de crédito à exportação nas vendas de aeronaves, caso
do BNDES no apoio à Embraer, das agências europeias - Hermes, ECGD e Coface - à
Airbus, do U.S. Exim à Boeing e da EDC à Bombardier. "No começo de 2011, a
situação não era essa, mas o cenário na Europa se complicou. Bancos alemães,
ingleses e franceses que financiavam aeronaves se retiraram do mercado, que
está mais seco [em termos de linhas de crédito]", disse o executivo da
Embraer.
Ele afirmou que a empresa está sempre olhando a
diversificação das linhas de financiamento e, nesse contexto, tem prestado mais
atenção à Ásia, em geral, e à China, em particular. "Com o crescimento dos
países emergentes, a Embraer analisa também contar com fontes de recursos que
podem vir dos países asiáticos."
Marc Meloche, vice-presidente de operações
estruturadas da Bombardier, concorda que a crise tende a colocar mais estresse
para os bancos comerciais financiarem aeronaves. "Como consequência, a
expectativa é de que as agências de crédito à exportação preencham essa lacuna
[deixada pelos bancos comerciais]", disse Meloche. Ele afirmou que os
dados do apoio da EDC à Bombardier são confidenciais e disse desconhecer as
estimativas de mercado que apontam para percentuais de participação da agência
de crédito canadense nas vendas da Bombarider acima de 80% desde 2009.
Meloche vê um efeito dominó em relação aos custos
dos financiamentos uma vez que as agências oficiais de crédito à exportação
usam os bancos comerciais como referência para os seus termos e condições de
financiamento. À medida em que as linhas comerciais se tornam mais caras, o
crédito dado pelas agências também tende a subir.
Ele afirmou que o acordo setorial aeronáutico, no
âmbito da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
passou por revisão em 2011. O acordo fixa termos e condições para operações de
crédito. E fixa compromissos segundo os quais as agências têm que cobrar um
juro mínimo representativo de uma média dos custos de mercado praticados na
ocasião do financiamento.
A Boeing informouo, por e-mail, que o apoio do U.S.
Exim à empresa em 2011 deve ter ficado em cerca de US$ 12 bilhões. Em 2010,
esse valor foi de US$ 7,9 bilhões. A empresa ainda não divulgou previsões sobre
2012, mas disse que com os crescimentos nas taxas de produção de aeronaves (da
Boeing e da Airbus) o apoio das agências de crédito à exportação deve ser maior
este ano do que foi em 2011.
A Boeing continua a ver forte demanda para as
aeronaves comerciais da empresa e informou que mantém carteira recorde de
pedidos, com 3.771 unidades. Já a Airbus mostrou-se confiante que o mercado de
aviação comercial vai sustentar o crescimento da empresa nos próximos anos
apesar do enfraquecimento do ambiente macroeconômico, em especial das economias
europeias. O financiamento de curto prazo, segundo a Airbus, está plenamente
assegurado. A empresa disse que as agências de crédito à exportação têm
permitido à aviação comercial ter aeronaves mais modernas e eficientes do ponto
de vista ambiental.
ANTT revê tarifas das concessionárias
Por Rafael Bitencourt | De Brasília
O governo federal resolveu, com mais de 15 anos de
atraso, submeter as concessionárias de ferrovias ao seu primeiro ciclo de
revisão tarifária. Ontem, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT)
divulgou a proposta de novos tetos tarifários para o transporte de cargas nos
onze trechos concedidos a partir do processo de desestatização, iniciado em
1996.
Ao longo da vigência dos contratos, as tarifas das
concessionárias foram reajustadas sem análises mais aprofundadas sobre o
transporte de cargas no país. A agência reguladora realizou apenas correções de
preços anuais, pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI).
Já o processo de revisão tarifária está previsto para ocorrer a cada cinco
anos. Neste caso, a ANTT também considera o cálculo das receitas necessárias à
cobertura dos custos tributários, operacionais e a remuneração adequada das
concessionárias pelo capital investido.
A falta de revisão provocada pelas "lacunas
regulatórias", segundo os relatórios da agência, levou a reduções do teto
tarifário que variam de 10,9%, para a Ferrovia Teresa Cristina, a 69,9%, para
Estrada de Ferro Carajás, da Vale. A parcela fixa de transporte de minério de
ferro nesta ferrovia, por exemplo, está estimada em R$ 1,95 a tonelada. Os
valores de cada concessionária entraram em consulta pública - para receber
críticas e sugestões do setor - até o dia 10 de fevereiro.
O superintendente de Serviços de Transportes de
Cargas da ANTT, Noboru Ofugi, disse que haverá alteração dos números apenas se
houver uma justificativa plausível das concessionárias. Ele prevê que, ao
término da consulta pública, o órgão regulador deve levar mais um mês para
analisar as contribuições e finalmente aprovar os valores de referência.
A primeira revisão tarifária do setor está inserida
em um conjunto de ações adotadas pelo governo desde o ano passado com o
objetivo de obter maiores ganhos de produtividade nas ferrovias brasileiras,
associados a mecanismos de integração e compartilhamento da malha.
Ao analisar os desafios do setor, a ANTT constatou
que o transporte de cargas ferroviário tem mais de 80% da sua produção voltada
para mercadorias com destino à exportação ou a importação de insumos utilizados
na produção agrícola.
A agência também identifica forte concentração no
setor. "Quase a totalidade do controle acionário das ferrovias é exercido
por duas companhias: a Vale exercendo o controle das ferrovias Estrada de Ferro
Carajás, Estrada de Ferro Vitória a Minas, Ferrovia Centro Atlântica, Ferrovia
Norte Sul e 40% de participação na MRS Logística". A segundo companhia de
peso no setor é a ALL, que detém o controle das ferrovias ALL Malha SUL, ALL
Malha Norte, ALL Malha Oeste e ALL Malha Paulista.
Os representantes do setor ainda não se
manifestaram sobre as tarifas propostas pela ANTT. A Associação Nacional dos
Transportadores Ferroviários (ANTF) informou que as empresas ainda analisam as
informações apresentadas pela agência.
AGRONEGÓCIOS
Amendoim com preço mais salgado neste ano
Por Fabiana Batista | De São Paulo
O amendoim que tão bem acompanha o chope ou que
deixa mais crocante o chocolate está mais caro. Os preços no mercado
internacional estão disparando para deleite dos produtores no Brasil. Apesar da
estiagem que atinge parte do sul do Estado de São Paulo, a previsão é de que o
país colha neste ano a maior safra desde 1981.
O plantio, iniciado em setembro passado, foi de 115
mil hectares, 15% mais do que no ciclo anterior, estima a Coplana, a maior
cooperativa de amendoim do país, com sede em Jaboticabal (SP). O Estado de São
Paulo representa cerca de 80% dessa área, graças à parceria com os canaviais,
cuja renovação é feita com amendoim.
Preços elevados vêm sendo registrados há alguns
anos, fruto, em grande parte, do aumento da população da China. Apesar de ser o
maior produtor mundial de amendoim com mais 13 milhões de toneladas, o país
asiático perdeu para a Argentina o posto de maior exportador e deve, em um
futuro próximo, tornar-se importador.
Mas em 2011, foi a quebra na safra de amendoim dos
EUA - e também da Argentina - que fez os preços internacionais dispararem (veja
texto abaixo). Para o Brasil, que exporta 25% de sua produção, essa alta traz
um certo alívio, sobretudo porque, a grande safra que deve ser colhida a partir
de fevereiro no país traz incertezas sobre o comportamento dos preços. "As
grandes indústrias estão abastecidas, pois compraram com antecedência. O que
elas adquirirem este ano será residual", diz o superintendente da Coplana,
José Arimatéa Calsaverini.
A estimativa da cooperativa é de que o país vai
colher em 2011/12 até 350 mil toneladas da leguminosa, 55% mais do que os 225
mil toneladas do ciclo passado. Na lista dos maiores produtores mundiais, o
Brasil está na 17ª posição, atrás de China, Índia e Estados Unidos, além da
Argentina. Segundo a holandesa B&F Trade Agency, o Brasil é hoje o quinto
maior exportador da leguminosa no mundo.
Se for confirmada, a produção no Brasil nesta safra
será a maior desde 1981, quando o país produziu 354,9 mil toneladas.
O auge do amendoim no Brasil foi na década de 1970.
O pico da produção nacional foi em 1972: 956,2 mil toneladas. A oleaginosa era
largamente usada na produção de óleo comestível, papel que a partir dos anos
1980 passou a ser da soja. A matéria-prima perdeu espaço depois que um fungo, a
aflatoxina, quase dizimou as lavouras de amendoim do país.
Atualmente o amendoim do Brasil tem qualidade para
atender desde a indústria de "snacks", que exige grãos inteiros e
claros, até a de doces de menor valor agregado, como paçocas. Uma pequena parte
é esmagada para produção de óleo e ração.
Desde o "renascimento" do amendoim no
Brasil, a partir de 2000, a produção cresceu mais de 75% e a produtividade
avançou 60% com uso de mais tecnologia.
No entanto, por ainda não ser uma commodity, a
leguminosa não tem formação de preço em bolsa. Essa equação é uma mistura das
produções argentina, americana e do consumo europeu, explica Calsaverini.
A Coplana, cuja sigla remete à atividade canavieira
(Cooperativa dos Plantadores de Cana da Zona de Guariba), prevê que seus mais
de 160 produtores associados colham 65 mil toneladas de amendoim em casca nesta
safra. Cerca de 26 mil toneladas devem ser exportadas. "Do total de
embarques, 60% estão com preços fixados a valores próximos de US$ 2,3 mil a
tonelada", diz o executivo.
Ele estima que o país todo deve exportar 65 mil
toneladas de amendoim no ciclo atual, 18% mais do que as 55 mil toneladas da
temporada passada.
Hoje, o maior cliente do Brasil é o maior
importador mundial de amendoim, a União Europeia, que compra por ano, de todos
os seus fornecedores no mundo, 825 mil toneladas. Depois da UE, os maiores
importadores são Japão, Rússia, Indonésia, Canadá e México.
Ministério promete fortalecer socorro contra estiagem
Por Tarso Veloso | De Brasília
Em meio a crescentes perdas em lavouras do Sul
provocadas pela estiagem deflagrada pelo fenômeno La Niña, o Ministério da
Agricultura promete criar novas ferramentas de proteção à renda dos produtores
rurais que sofreram perdas em virtude de situações de emergência e intempéries
climáticas, além de fortalecer as já existentes. Os esforços do governo federal
deverão se concentrar em procedimentos para apressar renegociações de dívidas e
dar celeridade às indenizações por meio de seguro rural.
O ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro,
sinalizou ao Valor que o governo tentará acelerar os trâmites envolvendo seguro
rural e ajudará quem não tem condições de quitar os empréstimos tomados. Para
isso, informou, quer um levantamento detalhado e atualizado sobre os danos às
lavouras devido ao clima.
Esse estudo, de acordo com o ministro, deverá ser
amplo para que as medidas alcancem todos os produtores. "Temos que fazer
um levantamento de quanto houve de quebra, qual o tamanho das propriedades,
qual a facilidade de pagamento de cada produtor e auxiliar os que tiverem mais
dificuldades em quitar as parcelas. Vamos buscar todas as formas de acelerar os
procedimentos para ajudar o produtor".
Levantamento preliminar dos danos da estiagem na
região Sul do país, realizado pelo Ministério da Agricultura e pelo Banco do
Brasil, aponta que já houve 32% de quebra na safra de milho no Rio Grande do
Sul, 19% em Santa Catarina e 17% no Paraná.
"A quebra de milho no Rio Grande do Sul deve
ser mais sentida do que em outros Estados, mas ainda não temos motivos para
acreditar que haverá um resultado ruim em todo o país. Ainda existem vários fatores
a serem analisados", diz Mendes Ribeiro.
Em reunião na manhã de ontem na Casa Civil, Mendes
Ribeiro, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, o ministro da Integração
Nacional, Fernando Bezerra, e o ministro interino da Fazenda, Nelson Barbosa
discutiram a criação de novos mecanismos de ajuda aos produtores. Após a
definição das frentes de ação, algumas decisões devem começar a sair via
Conselho Monetário Nacional (CMN).
O Banco do Brasil também anunciou que permitirá
novos vencimentos de dívidas da linha BB Giro Rápido, de micro e pequenas
empresas, e prorrogação de dívidas de produtores rurais. Além disso, o BB
também vai suspender o envio de títulos para cartório e dispensar os encargos
de faturas de cartões de crédito pagas com atraso.
Contrato de Vale e ADM é ampliado
Por Fernando Lopes | De São Paulo
Quase 2 milhões de toneladas de produtos agrícolas
originados ou processados pela ADM no Brasil serão escoadas pela malha
logística da Vale em 2012. No ano passado, segundo a mineradora, os volumes
movimentados para a multinacional americana somaram 615 mil toneladas. Em
negociações concluídas recentemente, foi acordado o incremento de 215% do
total.
Segundo Elton Pássaro, gerente-geral comercial da
Vale, as cargas que serão transportadas incluem soja, milho e farelo de soja. O
contrato, esclarece a empresa, "prevê a utilização de soluções que
interliguem linha férrea e terminais ferroviários aos complexos portuários de
Ponta da Madeira (MA), Santos (SP) e Tubarão (ES). Os detalhes financeiros da
transação não foram divulgados.
"Trata-se do aumento da participação de um
cliente considerado importante pela Vale", diz Pássaro. Antes do novo
acordo, a ADM usava apenas um dos corredores de escoamento da Vale - de
Araguari, no Triângulo Mineiro, até o porto de Vitória (ES). Agora, a múlti
também utilizará o corredor que liga Araguari ao porto de Santos e o que une
Colinas (TO) até Ponta da Madeira.
Com esse último trecho, destaca a Vale, a ADM volta
a transportar soja no Sistema Norte, pela Ferrovia Norte-Sul. "Com o
terminal de grãos no porto de São Luís [Tegram, em fase de elaboração de
projeto], esse trecho norte vai crescer", diz Pássaro. No trecho entre
Araguari e Santos, o contrato também representa, para a Vale, movimento
agrícola novo em um ramo sem operações com produtos do setor no ano passado.
Procurada, a ADM não se pronunciou sobre o novo
contrato com a Vale. A múlti é uma das maiores tradings de grãos do mundo. No
Brasil, a soja é o carro-chefe dos negócios. A empresa tem quatro unidades de
processamento da oleaginosa no país, com capacidade conjunta para 4 milhões de
toneladas por safra. Além disso, exporta o grão.
Em todas as suas áreas de negócios, incluindo
fertilizantes e cadeias como a sucroalcooleira, transporta mais de 15 milhões
de toneladas por ano. Em informações divulgadas recentemente ao Valor, a
empresa realçou que, além do transporte fluvial pelas hidrovias Tietê-Paraná e
Paraguai-Paraná, seu escoamento contava com o suporte de operações próprias nos
portos de Santos, Tubarão, Paranaguá (PR), São Francisco do Sul (SC), Rio
Grande (RS), Ponta da Madeira e Aratu (BA).
No Brasil, acordos beneficiam clientes
Por Cibelle Bouças | De São Paulo
Os bancos brasileiros gastam em média R$ 2 bilhões
por ano para se proteger dos crimes cibernéticos. Ainda assim, as perdas giram
em torno de R$ 900 milhões por ano, de acordo com o último estudo elaborado
pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Não existe uma legislação
específica para regulamentar esse tipo de crime no país, bem como a conduta a
ser adotada pelos bancos. As instituições financeiras avaliam em cada caso se
arcam com o prejuízo ou não.
"De modo geral, os bancos fazem uma avaliação
interna de cada caso e tomam a decisão, que pode responsabilizar o cliente ou o
próprio banco", afirma Marcos José Gomes Faim, gerente de divisão da
diretoria de gestão da segurança do Banco do Brasil. Diferentemente do que é
visto nos Estados Unidos, não há o compartilhamento do prejuízo - ou o banco
fica com todo o prejuízo, ou o cliente.
Quando o cliente informa ao banco que sua conta foi
movimentada por um cibercriminoso, o banco abre um processo administrativo para
apurar se houve falha de segurança do site do banco ou não. Nos casos mais
comuns, os cibercriminosos atacam o computador do cliente - por invasão ou
infecção com um software que permite ao criminoso acessar o computador à
distância e roubar seus dados bancários.
Uma fonte de um grande banco brasileiro, que
prefere não se identificar, afirma que não é incomum a instituição financeira
assumir a perda, mesmo concluindo na análise interna que houve falha da parte
do cliente. "Na maioria dos casos, o cliente tem sua máquina infectada por
descuido, não há má-fé. Dependendo do histórico do correntista é preferível
arcar com esse prejuízo e manter a boa relação com o cliente do que acusá-lo de
autofraude", diz a fonte.
Faim, do Banco do Brasil, observa que são raros os
casos que chegam à Justiça; a maioria é solucionada entre o banco e o cliente.
"Não há muito interesse na contenda judicial", afirma. No país, mais
de mil pessoas já foram presas em casos relacionados a cibercrimes, diz Renato
Opice Blum, coordenador do curso de Direito Digital da Fundação Getúlio Vargas
(FGV) e presidente do Conselho de Segurança da Informação da Fecomércio.
Blum tem uma explicação para o desinteresse dos bancos
em levar os casos à Justiça: esses processos exigem a realização de uma perícia
técnica para constatar que o roubo de dados se deu a partir do computador do
usuário. "O processo pode custar mais caro ao banco do que o prejuízo que
ele teria ao fazer um acordo com o cliente", explica o advogado.
Além de encarecer o processo, a perícia técnica, em
muitos casos, é inconclusiva. Isso porque muitos cibercriminosos cometem
fraudes usando provedores de acesso à internet ou provedores de e-mails que têm
os dados guardados em centros de dados de outros países. O rastreamento dos
dados além das fronteiras brasileiras acaba inviabilizado. "O
cibercriminoso deveria ser responsabilizado e punido pelo crime, mas ainda é
difícil reunir provas técnicas que identifiquem o bandido ou a quadrilha",
afirma Patricia Peck, sócia da PPP Advogados.
Atualmente, a Justiça adota o Código Penal como
referência para o julgamento desse tipo de processo. Entre os crimes mais
comuns estão o de falsidade ideológica (quando o criminoso se passa pela
vítima); crimes contra o sistema financeiro; interceptação de dados; quebra de
sigilo bancário e furto mediante fraude ou estelionato. As penas podem variar
de dois anos a 20 anos de prisão.
O projeto de Lei 84/99, que regulamenta os crimes na
internet, tramita no Congresso há 12 anos e ainda não há previsão de quando
será sancionado. O projeto define os tipos de crimes na web e suas penas, e
estabelece responsabilidades aos donos de sites e provedores, como a de guardar
informações de acesso dos usuários por um prazo determinado para uso da Justiça
e da Polícia Federal em investigações criminais.
Cartórios podem registrar empresas
Por Laura Ignacio | De São Paulo
Mal entrou em vigor, a Lei nº 12.441, de 11 de
julho, que criou a possibilidade de instituição da chamada Empresa Individual
de Responsabilidade Limitada (Eireli), já começou a gerar dúvidas. Uma delas
foi resolvida recentemente por nota da Coordenação-Geral de Tributação (Cosit)
da Receita Federal. A nota esclarece que sociedades consideradas simples pelo
Código Civil, que na prática são as formadas por autônomos ou profissionais
liberais - como cabeleireiros, dentistas e contadores -, também podem ser
registradas em cartório. As demais continuam a ser abertas pelas Juntas
Comerciais.
Com a lei, em vigor desde ontem, é possível a
abertura de um negócio por uma única pessoa, que só responderá com seus bens
por eventuais problemas depois de esgotado o patrimônio da empresa. Em tese, se
um funcionário entra com processo trabalhista contra uma empresa individual, a
conta bancária do empresário só poderá ser bloqueada após penhoradas as
máquinas e demais bens do empreendimento.
Por meio da nota, a Cosit orienta os funcionários
do setor de cadastro da Receita Federal a expedir o CNPJ de Eireli que tenha
sido registrada em cartório, se for sociedade simples. "Não é competência
da Receita esclarecer isso, mas como a lei não é clara se o registro só deve
ser feito nas juntas, cartório civil ou em ambos, se a sociedade for simples, a
Receita aceitará o registro em cartório", afirma Andréa Brose Adolfo,
coordenadora substituta de contribuições previdenciárias, normas gerais,
sistematização e disseminação da Cosit.
A Coordenação-Geral de Tributação emitiu a nota em
razão de um pedido de esclarecimentos do Instituto de Registro de Títulos e
Documentos e de Pessoas Jurídicas do Brasil (IRTDPJ Brasil) e da Associação dos
Notários e Registradores do Brasil (Anoreg-Brasil). "Não queríamos ter que
enfrentar dificuldades na hora de tirar o CNPJ da Eireli registrada em
cartório", explica Graciano Pinheiro de Siqueira, do IRTDPJ Brasil. Um
manual sobre como fazer o registro em cartório consta no portal do instituto
(www.irtdpjbrasil.com.br).
Ontem mesmo, o responsável pelo departamento legal
da Solução Contabilidade, Eliezer Martins da Costa, formalizou a abertura de
uma empresa de importação e exportação individual de responsabilidade limitada.
"A abertura será feita como Eireli porque no caso de empresa individual
comum os patrimônios pessoal e empresarial confundem-se", afirma. O que
também chamou a atenção do empresário é não precisar de um sócio "faz de
conta" só para cumprir a legislação.
Pelo menos dez clientes do escritório Machado
Associados, entre eles multinacionais, estão analisando se vão entrar com ação
na Justiça contra o Departamento Nacional de Registro do Comércio (DNRC), que
impede empresas de serem titulares de Eireli. "Senão, já estaríamos
protocolando o registro dessas empresas", afirma a advogada Maria Cristina
Braga e Silva, do Machado Associados. "São companhias que não precisariam
mais manter um segundo sócio com participação societária de 0,01%, só para ser
de responsabilidade limitada." A advogada orienta a entrar com ação porque
a lei não estabeleceu essa restrição.
OAB fará ato em defesa do Conselho Nacional de Justiça
Por Juliano Basile | Valor
BRASÍLIA - A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)
vai fazer um ato público em defesa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O ato
foi marcado estrategicamente para o próximo dia 31, véspera da abertura do Ano
Judiciário.
"O CNJ é fundamental para dar transparência à
Justiça brasileira, que, entre todos os Poderes, ainda é o mais fechado de
todos", afirmou Ophir Cavalcante, presidente da OAB. Na avaliação dele, o
CNJ ainda não avançou como deveria, pois "ainda há resistências nos
tribunais superiores". "Isso precisa ser vencido pela força da
sociedade para que o Judiciário tenha mecanismos de transparência", completou
o presidente da OAB.
O Supremo Tribunal Federal (STF) deverá julgar se o
CNJ pode avocar para si as investigações contra juízes que tramitam lentamente
nos tribunais dos estados. Esse julgamento deve ser realizado a partir de
fevereiro. O Ano Judiciário será aberto no dia 1º de fevereiro em cerimônia na
sede do STF, em Brasília.
Em dezembro, o ministro Marco Aurélio Mello
concedeu liminar em ação da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) para
proibir o CNJ de iniciar procedimentos contra juízes antes de o caso ser
investigado pelas corregedorias dos tribunais estaduais.
Para o presidente da OAB, a ação da AMB é
corporativa. "A correção dos desvios ético-disciplinares é fundamental
para a credibilidade da Justiça brasileira", disse Ophir.
(Juliano
Basile | Valor)
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